Recessão à vista

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A economia brasileira vem convivendo com baixo crescimento econômico desde meados dos anos 1980, com impactos generalizados para toda a estrutura produtiva, impulsionando a desindustrialização, piorando os indicadores sociais, fragilizando os trabalhadores e contribuindo para a construção de um ambiente centrado na baixa confiança, nas perdas econômicas e nas desigualdades crescentes.

Neste ambiente, a economia brasileira perdeu espaço precioso na economia internacional, chegamos a ser a sexta maior economia global e, atualmente, perdemos grande potencial econômico e produtivo, nos colocando como a décima quarta na economia mundial. Perdemos espaços na indústria global, estamos distantes das grandes discussões da Indústria 4.0, fragilizamos nossa indústria da saúde e nos tornamos um importador de máquinas e equipamentos médicos e hospitalares, demonstrando nossa fragilidade produtiva, nos tornamos dependentes de produtos importados, como vimos no período da pandemia, quando para suprir as demandas internas tivemos que recorrer ao mercado mundial.

Desde o Plano Real, a economia brasileira se acostumou com juros elevados, que limitam os investimentos produtivos, impedindo a geração de emprego, aumentando o endividamento das famílias, incrementando a inadimplência e aumentando os ganhos dos rentistas, que ganham recursos com a intermediação financeira, gerando poucos empregos e contribuindo para que sejamos vistos como um verdadeiro paraíso fiscal, até mesmo recentes autoridades governamentais mantém recursos substanciais em paraísos fiscais, driblando a legislação nacional, uma verdadeira excrescência, garantindo ganhos elevadíssimos, fugindo da tributação e inviabilizando os investimentos produtivos.

Neste momento, a economia brasileira caminha para uma recessão técnica, com taxas de juros elevadas, incertezas no ambiente internacional, quebradeira de empresas nacionais, como vimos no caso das Lojas Americanas, que acendeu um alerta para toda a economia, impactando sobre o crédito e afetando todo o sistema econômico, inviabilizando a sobrevivência de muitas empresas e novos modelos de negócios, como fintechs, cooperativas de créditos e novos empreendimentos, criando um cenário sombrio para o decorrer do ano, com um aumento do desemprego e degradação da renda.

A recente discussão econômica brasileira se concentrou nas elevadas taxas de juros, com este patamar a economia tende a caminhar a passos largos a uma recessão, asfixiando as empresas, levando-as à bancarrota e inviabilizando-as, aumentando os degradantes números de desemprego e, principalmente, numa economia com um cenário de incertezas e lentidão econômica. A fragilização econômica das empresas e dos consumidores terão impactos para todo o sistema financeiro, gerando fortes prejuízos para o setor bancário que, como não é bobo, está começando a pressionar para uma redução da taxa de juros, evitando que a recessão não se aprofunde, degradando os setores produtivos e aumentando o desemprego.

Neste cenário a recuperação econômica será muito mais dispendiosa e seus custos políticos e monetários serão mais elevados, inviabilizando o governo e elevando as instabilidades, as incertezas e aumentando as polarizações políticas. As crises recentes, como a das Lojas Americanas tendem a degradar o mercado de crédito, levando outras empresas e conglomerados a situações de insolvência, aumentando os custos financeiros e inviabilizando novos investimentos produtivos.

Antes os riscos da economia brasileira, segundo os analistas da mídia corporativa e dos economistas liberais, eram os riscos fiscais do Estado, agora, com as fraudes financeiras das Lojas Americanas, que prejudicou parte da confiança dos bancos, aumentando a inadimplência, reduzindo o poder de compra dos consumidores, levando muitos conglomerados a mostrarem suas fragilidades econômicas. A recessão da economia brasileira trará grandes prejuízos para a estrutura produtiva, mas quando essa recessão gera fortes constrangimentos financeiros para o sistema bancário, com certeza, a redução dos juros deve começar imediatamente.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 15/03/2023.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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