A economia brasileira está passando por momentos de incertezas, marcados pelos impactos crescentes da pandemia, que diminuiu o crescimento econômico, aumentou as instabilidades e gerou quebras nas cadeias produtivas e, para piorar, estamos percebendo os ecos do incremento dos preços, a tão preocupante inflação, cujos constrangimentos perduraram até os anos 90.
O crescimento dos preços é patente para todos os grupos sociais, cujos impactos são maiores sobre os setores de baixa renda, cujos rendimentos crescem menos do que os preços e aprofundam os indicadores negativos, contribuindo para piorar as condições sociais, aumentando a pobreza, a fome e a exclusão social.
O aumento dos preços é um fenômeno global. A recuperação das economias desenvolvidas, motivadas pelos auxílios governamentais, monetários e fiscais de seus respectivos governos, além da aceleração da vacinação, levando estes países a normalidade econômica, incrementando as compras externas e impulsionando os sistemas econômicos e produtivos, com fortes pressões dos preços relativos. Neste ambiente de recuperação econômica, as compras crescem e, impactam diretamente sobre as commodities, beneficiando os exportadores de produtos agrícolas e de extração mineral.
No caso brasileiro, percebemos outros fenômenos que estimulam as pressões dos preços, onde destacamos o incremento das vendas externas motivadas pelo câmbio favorável. A desvalorização cambial aumenta os produtos exportados e pressiona os preços dos produtos importados, impactando sobre a inflação e a renda da população.
Para combater o aumento dos preços o governo utiliza a política monetária para diminuir a quantidade de moedas em circulação, aumenta as taxas de juros e reduz o crédito, levando a economia a reduzir a atividade econômica, piorando o cenário dos setores produtivos e melhora os indicadores financeiros dos rentistas, elevando os ganhos das aplicações financeiras e atraindo uma grande quantidade de moedas estrangeiras, recursos que buscam ganhos rápidos e imediatos, sem compromissos maiores para a estabilidade do país, visando apenas os ganhos financeiros e monetários. Neste momento, os rendimentos financeiros dos pequenos grupos afortunados crescem de forma acelerada em detrimento de grande parte da sociedade, gerando empregos precarizados, insuficiência de investimentos produtivos, degradação do ambiente de negócios e retardando a recuperação mais efetiva da economia.
Alguns analistas financeiros acreditam que a recuperação da economia está em curso, as vendas externas estão crescendo, a situação fiscal está melhorando e as perspectivas de crescimento estão se elevando, criando perspectivas positivas. Para muitos, estamos num momento de boom de commodities, cujos impactos para o agronegócio nacional serão positivos, garantindo recuperação da economia.
A recuperação econômica é incerta e prematura, de um lado percebemos as melhoras fiscais, mas ao mesmo tempo percebemos que a melhora está diretamente ligada ao crescimento da inflação, que turbina as receitas do Estado. De outro lado, percebemos que os indicadores sociais de emprego e renda são negativos e sem perspectivas de melhoras, o desemprego está em ascensão, rendas em queda, falência crescentes de micros e pequenas empresas, sem estas melhoras a recuperação, se vier, será passageira e limitada para poucos setores, com pouco potencial de geração de empregos.
A economia prescinde de credibilidade e de confiança. A recuperação econômica exige ambientes consistentes e investimentos produtivos, precisamos incrementar a vacinação, reduzir a transmissão do vírus, proteção financeira para os mais fragilizados e uma ampla discussão social para o período pós pandemia. Sem atuação do Estado Nacional, sem investimento público, sem planejamento econômico, sem investimento em capital humano, sem investimentos em pesquisa e sem reconstrução dos setores produtivos, estaremos condenados a sonhar que somos eternamente o país do futuro.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 23/06/2021.