O processo de globalização intensificou a integração e a interdependência entre as nações, aumentou a competição entre os atores econômicos e aumentou as incertezas e as instabilidades na sociedade global, surgiram novas oportunidades e desafios, exigindo novos comportamentos, inaugurando modelos de negócios, exigindo novas qualificações para o capital humano e aumentaram os riscos econômicos e produtivos.
A pandemia nos trouxe novos desafios e, ao mesmo tempo, abriu novas oportunidades, novas empresas surgiram, setores esquecidos ganharam relevância e a mão de obra precisou se reinventar e se tornar mais flexível, sob pena de serem alijados de um mercado altamente competitivo e centrados em novas tecnologias que, infelizmente, não dominamos, mas sabemos que é fundamental para sobrevivermos na nova sociedade global.
Neste momento, a sociedade mundial percebe conflitos militares, crises financeiras e instabilidades generalizadas, cujos impactos para a sociedade brasileira são imprecisos, mas sabemos que os desequilíbrios globais impactam sobre a economia nacional, principalmente num momento de incertezas, proximidade eleitoral, constrangimentos internos, desorganização econômica e produtiva, além de indicadores sociais sofríveis.
Um possível conflito militar pode gerar graves constrangimentos para a comunidade internacional, acirrando ressentimentos, gerando instabilidades nas cadeias produtivas, com impactos sobre custos e incrementos de preços fundamentais para a economia global, além de criar instabilidades financeiras, elevação das taxas de juros, aumento de preços internacionais e redução dos investimentos produtivos, com isso, o cenário de recuperação econômica tende a demorar, gerando graves desequilíbrios sociais.
Os movimentos econômicos, financeiros, militares e políticos internacionais, além da pandemia que ainda mostra forte resiliência, estão gerando grandes instabilidades para empresas, nações e trabalhadores. Para superarmos o ambiente adverso, percebemos a importância de construirmos consensos internos para atravessarmos as incertezas do cenário internacional, evitando conflitos desnecessários, criando falsos dilemas e mostrando os rumos que queremos trilhar para que o país alcance números mais consistentes de sucesso econômico, garantindo oportunidade para todos os cidadãos e aspirando a um espaço entre as grandes nações da comunidade internacional.
Os desequilíbrios produtivos globais levaram os preços das mercadorias as alturas, a escassez de chips retardou a recuperação das economias e os governos entraram em campo para auxiliar na oferta de chips, despejando trilhões de dólares para estimular os setores privados para aumentar a produção deste produto de grande relevância para a quarta revolução industrial. Neste momento, as nações desenvolvidas mostram suas forças, usam recursos públicos para superar esta dificuldade produtiva, estimulando a indústria de semicondutores, os chamados chips, deixando de lado os pudores da intervenção governamental em prol de políticas de planejamento estatal, auxiliando na redução dos riscos produtivos e garantindo o fornecimento de um produto central na economia da informação.
De outro lado, percebemos que o ambiente financeiro tende a passar por grandes incertezas com o incremento nos juros norte-americanos, com isso, os países dependentes destes ativos devem passar por momentos de instabilidades financeiras, com fortes impactos sobre todo o sistema econômico, com juros maiores para atrair ativos e fechar suas contas externas, garantindo uma estabilidade ilusória.
Os efeitos imediatos desta política é a contração dos investimentos produtivos, o aumento dos recursos canalizados para a especulação financeira, a redução nos níveis de emprego e a degradação social, mostrando claramente a dificuldade de construirmos um ambiente mais propício para a retomada do crescimento econômico, fundamental para superarmos o subdesenvolvimento que nos aflige.
Os desafios da sociedade brasileira contemporânea são enormes e exigem maturidade, planejamento e estratégias bem definidas, sem elas dificilmente conseguiremos sobreviver numa sociedade centrada nas instabilidades e nas incertezas generalizadas.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 23/02/2022.