Sobre Santidades, Medianeiros, Missionários e homens comuns

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A humanidade sempre concedeu a algumas pessoas uma importância fundamental, deram-lhes títulos e responsabilidades adicionais, vendo nestes habilidades para conversar e se relacionar com forças superiores, eram homens e mulheres ungidos para missões especiais, dotados de sensibilidades e uma grande capacidade de conversação com entidades abstratas e imateriais, antigamente eram os feiticeiros, bruxos e pitonisas e, na atualidade, são conhecidos como pastores, missionários e médiuns, todos dotados de um elevado poder espiritual e grandes estruturas moral e carisma, sendo vistos como exemplos a serem seguidos por suas comunidades.

Estes indivíduos eram vistos como pessoas especiais, dotados de uma grande capacidade de comunicação, carisma e empatia, eram seres enviados pelas forças superiores para auxiliar os indivíduos nas duras lutas existentes no mundo material, ajudando-os a superar as dificuldades e angariar valores para seu amplo crescimento espiritual, todas as religiões e crenças traziam em suas fileiras pessoas com estes dons divinos.

Nos escaninhos da humanidade, estes indivíduos desempenhavam um papel central, se dotados de bons sentimentos auxiliavam as comunidades e seus cidadãos a uma reflexão mais íntima e a atitudes mais salutares, angariando informações e consolidando valores muitas vezes esquecidos, em um mundo marcado pelas brutalidades e por tendências de violentas e de agressividade. Agora, se fossem marcados por sentimentos menores e por uma ambição descontrolada, eram responsáveis por atitudes de dominação e controle, levando muitos indivíduos a se perpetuarem em situações degradantes e constrangedoras.

Com o passar do tempo, muitos líderes religiosos passaram por momentos de contestação e foram desmascarados pela sociedade, muitos deles se mostraram mais intimamente, como nos dizia Maquiavel, quer conhecer os homens, dê a eles poder. Muitos se misturaram com os prazeres do mundo e se deixaram levar pelas paixões mundanas e imediatistas, deixando de lado seus compromissos espirituais e se entregando aos gozos sexuais e aos supostos prazeres do álcool, tendo seus caminhos e jornadas alteradas e, em muitos casos, até interrompidas pelo plano espiritual para que seus equívocos não fossem maiores e suas dificuldades posteriores não lhes impusessem esforços descomunais.

No Espiritismo, muitas são as obras que retratam casos de degradação e abandono de ideais superiores em prol de prazeres materializados, dentre eles destacamos o livro Trilhas da Libertação, escrito pelo médium Divaldo Pereira Franco e ditado pelo espírito Manuel Philomeno de Miranda, uma obra central para que entendamos as paixões e os desejos que levam muitas pessoas a abandonar ideais construídos no mundo espiritual em busca de caminhos suspeitos e equivocados, cujos constrangimentos futuros são intensos e as dores posteriores marcam a trajetória do espírito.

Os médiuns devem ser vistos como seres humanos, dotados de valores e sentimentos como qualquer indivíduo, tendo como única diferença, uma maior sensibilidade e uma abertura maior com o mundo espiritual. Muitos deles passam a ser divinizados por uma sociedade doente e carente de cultos e personalidades, estes sensitivos sentem prazer nesta bajulação e, aos poucos, se afastam de ideais e de valores mais sólidos e consistentes, sentindo uma maior atração pelos prazeres da carne, que tem levado os indivíduos a uma vida marcada pela ilusão e pela insignificância moral, trazendo-lhes um grande vazio interior, levando muitos deles a patologias, ansiedades e depressão.

Os presentes e os mimos passam a ser constantes, os beneficiados pelos seus auxílios se sentem agradecidos e passam a presentear estes médiuns e passam a confundir seus chamados dons, concedendo-lhes títulos e vendo-os como seres especiais, ungidos por Deus e dotados de poderes que estes não possuem, tudo isto contribui para que estes médiuns passem a se sentir seres especiais, passem a acreditar que são possuidores de poderes e forças diferenciadas, neste momento passam a se afastar dos verdadeiros ideais de progresso espiritual e se entregam aos prazeres da bajulação e das tietagens, estampando capas de revistas e matérias em jornais e documentários televisivos.

As religiões nos trazem inúmeros exemplos de pessoas vistas como diferenciadas, dotados de poderes sobrenaturais, que se envolveram em episódios destrutivos e suas imagens foram destruídas, desde padres e bispos católicos pegos e denunciados em pedofilia, passando por pastores e lideres evangélicos que se comprazem com os prazeres do dinheiro público e se empanturram na política para defender seus interesses e de seus rebanhos, até médiuns espírita que se utilizam de um falso poder para enganar e degradar os valores e sentimentos de pessoas incautas e ignorantes, os exemplos são muitos e não se restringem a uma única religião ou grupo religioso.

Os prazeres do mundo espiritual são inúmeros e são estimulados por entidades que querem fragilizar o médium e boicotar seu trabalho, são inimigos espirituais do próprio médium ou da religião que estes professam, são irmãos que ora estão centrados em vingança e em ressentimentos, infelizmente se comprazem com a degradação e elegem como inimigos e fazem de tudo para destruí-los, impedindo que as luzes difundidas pelos conhecimentos religiosos reduzam seus poderes e angarie adeptos para suas fileiras religiosas.

Estes espíritos atuam fortemente sobre o médium, querem humilhá-lo e enfraquecer seus conhecimentos e desviar seu caminho, com isso, denigrem as religiões e levam o médium a humilhações, gerando constrangimentos variados e colocando a população da comunidade em rota de colisão com os adeptos da religião, neste ambiente de intolerância e de xenofobia, acabam gerando violências e atitudes equivocadas.

Em um livro recentemente publicado no Brasil No Armário do Vaticano, o escritor francês Frédéric Martel, destaca como a cúpula da Igreja Católica se degradou e passou a inviabilizar mudanças importantes, acumulando ilícitos de todas as naturezas, desde corrupção, passando por pedofilia, homossexualidade e variados desequilíbrios, gerando no movimento religioso graves constrangimentos morais e degradando os valores defendidos pelo Cristianismo e sempre divulgados em suas fileiras.

Quando analisamos estes fatos destacados no livro, percebemos que muitos grupos religiosos são caracterizados por discursos fortemente centrado na moral e nos bons valores e que, na intimidade cultivam atitudes e comportamentos diferentes, pregam valores que não possuem, exigem das pessoas e, principalmente, dos fiéis, comportamentos exemplares e atuam clandestinamente em movimentos de intolerância, defendendo uma limpeza espiritual incompatível com seus gestos e comportamentos.

A Doutrina dos Espíritos nos mostra claramente que a renovação moral deve ser o primeiro passo para que os indivíduos cresçam e se consolidem espiritualmente, para isto, faz-se necessário uma atuação constante no bem, o cultivo do hábito saudável da oração, da renovação e da reflexão, seguindo sempre a máxima de que fora da caridade não há salvação.

            Todos que levantam bandeira do bem e do equilíbrio espiritual são alvos dos espíritos desequilibrados, estes últimos se associam para destruir os trabalhos no bem, se utilizam da escuridão para constranger os trabalhadores do bem, para atuar na matéria controlam todos aqueles irmãos desequilibrados, utilizando-os para denegrir, humilhar, maltratar e gerar falsas notícias, distribuindo calúnias e difamação, sempre visando atingir e fragilizar os trabalhadores do bem. De outro lado, todos que cogitam trabalhar para o bem, devem cultivar hábitos saudáveis e vigiar sempre, suas energias e pensamentos devem estar sempre calibrados com os ideais do Cristo, com isso, atraem bons espíritos para a construção de um trabalho digno e edificante, tendo a proteção e o amparo de todos que se esforçam para que o mal, o rancor e o ressentimentos sejam transformados em energias de luz e de equilíbrio e possam retornar para a humanidade em forma de amor, caridade e bons sentimentos.

A Doutrina Espírita nos mostra que, quando um médium começa a adotar uma postura equivocada, os bons espíritos que o acompanhavam até então, acabam deixando o medianeiro, antes disto usam todos os instrumentos possíveis para auxiliá-lo e dissuadi-lo de seguir para um outro caminho, tentam instruí-lo no sono físico e colocam pessoas em seu caminho para que este lhe traga informações confiáveis para evitar que o médium altere o caminho planejado anteriormente, muitos fazem este planejamento no mundo espiritual e são lembrados constantemente sobre o projeto antes de reencarnar.

Os espíritos que querem desviar o caminho do medianeiro, se utilizam de um instrumento que, constantemente, gera um êxito aparente e desviam o médium de seu caminho anterior, estimulam a vaidade e a ambição do indivíduo e colocam pessoas para o elogio fácil e para a bajulação constante, concedendo-lhe uma falsa sensação de poder e superioridade, que o leva facilmente, isto se não manter seus interesses, pensamentos e valores blindados, a escolhas equivocadas e quedas bastante violentas, gerando dores e constrangimentos variados.

Francisco Cândido Xavier foi um exemplo completo de médium integral, sua mediunidade abarcava vários tipos e modelos, para fugir da vaidade e da bajulação adotava princípios e valores edificantes, a oração era presente frequente em suas atividades cotidianas, a companhia de seu mentor espiritual, Emmanuel, lhe trazia, muitas vezes a realidade da vida, sua dureza e perseverança foram fundamentais para que o nosso Chico Xavier conseguisse obter êxito máximo em sua vivência material, sendo que seu mentor espiritual, no momento do encontro definiu de forma intensa três palavras e conceitos fundamentais para a consolidação de seu mandato mediúnico: disciplina, disciplina e disciplina.

A sociedade busca constantemente a santidade das pessoas em todos os momentos e épocas e, ao mesmo tempo, se refestela quando os supostos missionários caem e são vítimas de humilhações e constrangimentos, transformando-os em escárnios e portadores de verdadeiras doenças contagiosas, o que os tornam mais humanos e os fazem mais parecidos com o cidadão comum, marcados por equívocos e limitações.

Somos todos imperfeitos e inconsequentes, a perfeição não existe neste mundo de provas e expiações, se aqui estamos temos muito trabalho a fazer, a Doutrina dos Espíritos e as outras religiões podem ser vistas como um instrumento para que encontremos o caminho, nenhuma religião sozinha garante a evolução espiritual mas podem auxiliar, desde que nos utilizemos deste instrumento para refletir e nos transformarmos intimamente, a evolução é inexorável e inadiável, uns evoluem mais rapidamente enquanto outros estão ainda esperando a chegado de um todo poderoso para lhes mostrar o caminho e, quem sabe, caminhar ao lado deles nesta estrada.

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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