O mundo contemporâneo nos traz inúmeros desafios e oportunidades, a economia carece de investimentos produtivos, o mundo do trabalho se transforma com grande dinamismo exigindo dos trabalhadores uma constante reinvenção, que pressupõem grandes investimentos na formação e na qualificação constantes, ao mesmo tempo, a pandemia nos mostra a necessidade premente de estimularmos a solidariedade, a cooperação e o compartilhamento do progresso e o desenvolvimento de sentimentos mais fraternos entre todos da comunidade.
Vivemos momentos de grandes inquietações, as guerras crescem em variadas regiões, a pandemia gerou milhões de mortos em todas as nações, a inflação acelera em todas as regiões, os preços dos alimentos e dos combustíveis estão em forte ascensão, levando os governos a aumentarem as taxas de juros que degradam a maior parte da sociedade, aumentando os custos financeiros, degradando a renda da comunidade, elevando o endividamento das famílias, das empresas e dos governos, além de postergar os investimentos produtivos e reduzindo a geração de emprego, ao mesmo tempo, que impacta na informalidade da mão de obra, precarizando o emprego e a degradação social.
Neste momento, a comunidade internacional vive momentos de grandes desafios. A pandemia levou os governos mais desenvolvidos a investirem recursos públicos e privados em pesquisas científicas com o intuito de construir novas vacinas, mostrando que neste ambiente centrado na concorrência e na competição, existem esperanças de que a solidariedade pode sobrepor os interesses imediatos do capital e da acumulação. Mas, infelizmente, a solidariedade tão sonhada nos parece tímida e limitada, a pandemia deveria elevar os padrões morais da sociedade, deixando exemplo de solidariedade entre povos, nações e comunidades.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) nos mostra que grande parte das nações ainda não receberam as doses de vacinas que tendem a reduzir a mortalidade gerada pelo covid-19, embora existam doses disponíveis nos países desenvolvidos as vacinas não foram enviadas para muitas nações da comunidade internacional, países miseráveis cuja mortalidade da população é elevada, que não possuem pesquisa científica e, principalmente, pela ausência de solidariedade que deveria crescer na sociedade global.
Para superarmos os momentos de tensão da sociedade contemporânea, precisamos construir instrumentos coletivos para resolvermos as dificuldades que foram construídas durante décadas de descaso. Segundo a Organização das Nações Unidas quase 9% da população mundial passa fome, milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária para sobreviver. Os recursos para reverter esta situação não existem para os humildes, mas sobram para os donos do poder, com subsídios e isenções tributárias.
Outro dado alarmante é o crescimento dos preços de alimentos que tendem a colocar na marginalidade e na exclusão social milhões de indivíduos, segundo a ONU a inflação de alimentos chegou a 66%, levando os governos a aumentarem os juros e degradar mais as condições econômicas, levando nações a insolvência fiscal e ao risco de uma nova crise da dívida, piorando as perspectivas econômicas e degradando a economia global.
Numa sociedade integrada e interdependente, as crises econômicas nas nações periféricas aumentam os fluxos de imigração que impactam negativamente sobre países desenvolvidos, aumentando o caos social, as instabilidades políticas e a degradação econômica.
Os momentos atuais são tensos e preocupantes, guerras, pestes, conflitos políticos, intolerância, racismo estrutural e violências generalizadas, os desafios são elevados e os perdedores devem aumentar assustadoramente, com isso, percebemos ainda que, neste instante, estamos presenciando os ecos da contemporaneidade que caminham a passos largos para a barbárie coletiva e nos afastando rapidamente para a civilização e ainda, percebemos pessoas que acreditam que somos seres racionais….
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental (Unyleya), Mestre, Doutor em Sociologia (Unesp) e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 04/05/2022.