Suicídio, Depressão e as dores da alma da sociedade contemporânea

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A sociedade mundial vem passando por grandes transformações nos últimos trinta anos, modelos anteriormente responsáveis por forte crescimento econômico, geração de emprego e melhora nas condições de vida da população estão sendo substituído por paradigmas caracterizados por crises econômicas constantes, desemprego, desesperanças generalizadas e sentimentos de medo e melancolia, levando os indivíduos a medidas extremas, assustadoras e que pioram a situação de forma acelerada.

Neste ambiente de grande conflagração, percebemos um crescimento das violências em todos os grupos sociais, as famílias vivem momentos de grandes dificuldades, as empresas se encontram marcadas por medos e preocupações com novas tecnologias e aumento de despensas de funcionários, os governos vivem instantes de inquietações devido a acordos internacionais e pressões sociais e políticas, o mundo do século XXI é realmente um mundo de grandes preocupações, medos e desesperanças.

Diante destas crises e incertezas, as pessoas estão cada vez mais propensas a desatinos, os suicídios estão crescendo de forma acelerada, a cada quarenta segundos uma pessoa se suicida no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), gerando graves constrangimentos em seu entorno, desequilibrando familiares e gerando um ambiente de desespero e inseguranças, muitos recorrem a estas medidas extremos acreditando que assim vão conseguir fugir de suas dores, acreditando que conseguirão resolver suas dificuldades, esquecem-se de que o suicídio é o maior crime que o ser humano comete contra si, abrindo mão de seu corpo físico e fugindo de uma oportunidade que recebe para evoluir e se desenvolver, tal como nos mostra a lei de Deus.

Como este problema afeta milhares de pessoas em toda a sociedade internacional, o mês de setembro foi escolhido para a prevenção do suicídio, este mês recebeu a designação de Setembro Amarelo, uma forma de conscientização da sociedade dos males causados por este gesto insano e altamente irresponsável, onde o desespero do ser humano e a total falta de equilíbrio o leva a tirar a sua própria vida e mergulhar em choros e desajustes generalizados.

A mobilização da sociedade pode ser o caminho encontrado pelas instituições para reduzir os suicídios, campanhas de conscientização estão ganhando força e encantando as comunidades, peças de teatro falando sobre a temática, aplicativos que vasculham as redes sociais em busca de pensamentos ou frases que possam estimular o suicídio e identificar pessoas depressivas ou comunidade de indivíduos que são mais propensos a este gesto insano, a tecnologia pode auxiliar no atendimento e na reflexão sobre este tema tão atual, assustador e responsável por dores, constrangimentos e perturbações.

A Doutrina Espírita nos traz grandes informações sobre a temática do suicídio, nos mostrando através de uma literatura imensamente rica e variada as dores que acometem os indivíduos num momento como este, mesmo compreendendo que o indivíduo que se suicida está envolto em grande desespero, nos mostra que, muitos destes irmãos, ainda estão sendo acompanhados por entidades infelizes que o estimulam ao ato extremo, são irmãos doentes da alma, cujos corações se veem cercados por negatividades e ressentimentos, atuando para levar estes indivíduos mais incautos e desequilibrados, antecipando encontros revestidos em mágoas, ressentimentos e rancores.

A Doutrina nos relata as aflições e as agruras que esperam todos que optam pelo suicídio, escolhendo um caminho escuro e sem luz, uma escolha terrível com graves consequências, levando o indivíduo, rapidamente, a perceber que suas escolhas foram equivocadas e a fuga encontrada foi muito mais uma ilusão passageira do que uma solução para as verdadeiras dificuldades que o levaram até este gesto insano e altamente degradante.

A obra de Yvonne do Amaral Pereira dialoga com as questões ligadas ao suicídio e nos mostra o acordar do suicida no mundo espiritual, suas lembranças corroendo seu coração e pairando fortemente sobre sua mente, suas dores físicas e principalmente os remorsos que se avolumam na alma, criando medos, ressentimentos e uma forte sensação de desampara e desesperança, sentimentos que corroem a alma e transborda para seus irmãos encarnados de uma forma bastante intensa e insana.

Na sociedade contemporânea, percebemos um incremento vertiginoso do suicídio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada quarenta segundos uma pessoa se suicida no mundo, estes indivíduos para cometer estes gestos insanos devem estar em momentos de grande desespero, atentar contra a própria vida deve ser visto como uma atitude extrema que causa dores fortes e indescritíveis na alma e no coração das pessoas.

Além do suicídio, percebemos um crescimento acelerado da depressão e da ansiedade, somente esta primeira acomete mais de quatrocentas milhões de pessoas na comunidade internacional, gerando sentimentos degradantes e medos generalizados e obrigando as autoridades mundiais a repensarem muitas das políticas que se disseminaram pela sociedade nos últimos trinta anos, marcadas pela crescente competição entre pessoas, empresas e países e uma busca alienada por bens e recursos monetários que acaba transformando tudo em mercadorias comercializáveis nos mercados internacionais.

Os vazios dos indivíduos, a superficialidade das relações sociais, a competição selvagem e degradantes, as dificuldades de ascensão social, o poder do dinheiro e os medos com os rumos da sociedade, estão levando os indivíduos a caminhos perigosos. A busca pelo possuir, pelo ter e pelo comprar está escondendo da natureza dos relacionamentos o verdadeiro eu de cada indivíduo, as razões da existência e os sentidos da vida, culminando em seres cada vez mais imediatistas, materializados e altamente instáveis, se comportando igualmente ao sistema econômico dominante da sociedade internacional.

O modelo econômico dominante na sociedade internacional gera um incremento na instabilidade e nas incertezas nas pessoas, possibilitando graves desequilíbrios nos indivíduos, obrigando setores ligados a saúde a aumentarem os investimentos em pesquisas e em novas drogas, com isso percebemos que os dispêndios destes setores estão nos níveis mais elevados dos últimos anos, levando a criação de drogas e medicamentos que dopam os indivíduos e os tiram da realidade social, evitando uma maior reflexão sobre as causas desta insanidade coletiva que, ao mesmo tempo, que incrementa as descobertas científicas e tecnológicas, levam os indivíduos a acelerarem as dores da alma e os desajustes emocionais e psicológicos.

As fugas e os medos atemorizam os indivíduos, somados à convicção de que a vida é única e pessoal, levam cidadãos incautos a comportamentos imediatistas, deixando de lado a construção de relacionamentos mais sólidos e serenos, boicotando o meio ambiente, a preservação da vegetação e deixando de lado a ética e a moral, tudo isto ajuda a compreender como estamos desolados e, como seres humanos, perdidos em um mundo cujas estruturas estão em franca destruição e novas bases estão sendo construídas, cabendo a cada indivíduo uma busca pelo seu equilíbrio interior sob pena de perder a razão e se entregar para uma sociedade degradante e patologicamente afetada.

Na sociedade contemporânea os indivíduos estão cada vez mais vazios e cheios de pobreza espiritual, concentram-se em valores transitórios e confundem conceitos fundamentais, se entregam as facilidades materiais e deixam de lado os valores do espírito, da imortalidade da alma e da continuidade da vida. A Doutrina dos Espíritos nos traz uma outra forma de enxergar a realidade, desde a publicação de O Livro dos Espíritos (1857), uma nova realidade foi revelada para a sociedade mundial, enfraquecendo os valores materiais e deixando claro que a vida transcende a matéria, somos espíritos estagiando em corpos materiais, a verdadeira vida está no mundo dos espíritos, a matéria é transitória.

Vivemos um mundo de grandes transformações de todas as naturezas, todas as bases que sustentam esta nova sociedade estão em franca modificação, se compararmos com as sociedades anteriores centradas nas famílias, nas escolas e nos locais de trabalho, percebemos mudanças extraordinárias com impactos generalizados sobre todos os indivíduos. As famílias estão sendo alteradas, os modelos tradicionais estão dando espaço para novas configurações, transformando as noções de gêneros e de relacionamentos. As escolas que sempre foram vistas como o local do conhecimento e dos conteúdos intelectuais estão perdendo seu pedestal, na atualidade outras arenas estão surgindo e alterando os modelos escolares, como as redes sociais, as plataformas de palestras e aulas, como educação a distância, youtube, plataformas de streamings… dentre outros.

O mundo do trabalho em constante transformação está alterando rapidamente o emprego e as ocupações dos indivíduos, exigindo uma intensa qualificação, cursos e novas capacitações e, mesmo assim, não mais garantem que estes indivíduos consigam se posicionar no mercado de trabalho, gerando medos e ansiedades em todos os grupos sociais, dentre eles os jovens e os adolescentes que percebem nestas mudanças uma grande dificuldade de progresso, levando-os, muitas vezes a depressões, ansiedades e nos extremos suicídios como uma forma de fugir das pressões sociais e familiares que os oprimem intensamente.

Percebemos nesta sociedade um grande distanciamento dos membros da família, os familiares pouco conversam, com o aumento das atividades as pessoas estão cada vez mais concentradas em seus afazeres do cotidiano, os pais estão envoltos em trabalhos e estudos que deixam seus filhos para segundo plano, muitos acreditam que o mergulho nas atividades profissionais tende a garantir recursos para satisfazer as necessidades pessoais dos filhos, esquecendo que estão deixando de lado a construção de relacionamentos muito mais sólidos e consistentes, o estar presente no cotidiano dos filhos, o conversar e o acompanhar diário tende a servir como um grande elixir contra vários vícios contemporâneos, auxiliando na construção dos anticorpos necessários para afugentar as crianças e os adolescentes de drogas, violências e a criminalidade crescentes.

O papel dos pais é fundamental para construir famílias mais sólidas e relacionamentos mais consistentes, quando este ente se distancia dos filhos e os deixa em segundo plano, muitos desajustes passam a acompanhar estes adolescentes, transformando a família e contribuindo para que vícios e desequilíbrios destruam as relações, cabe aos país ou responsáveis a criação e a educação dos seus filhos e não mais deixá-los de lado e terceirizar seu papel e sua responsabilidade no cotidiano dos menores e, muitas vezes, indefesos.

O livro Memórias de um suicida, de Yvonne do Amaral Pereira, nos mostra que a fuga das dificuldades não se dá via suicídio, muitos daqueles que se enveredaram por este caminho tiveram que encarar as agruras desta decisão deplorável e insana, passaram uma longa temporada em regiões trevosas, conviveram com as mazelas humanas, as dores mais íntimas e a degradação dos seres humanos, tudo isto serve de alerta para que os indivíduos repilam imensamente este caminho, cujos males se apoderam da alma e causam graves constrangimentos ao coração.

Vivemos em uma sociedade doente, as dores da alma acometem todas as classes sociais, não diferenciando países, crenças e nacionalidades, gerando mágoas e ressentimentos intensos, a raiz destes desequilíbrios está na ausência de Deus e dos valores verdadeiros da solidariedade, do amor e da família, somos indivíduos em constantes transformações, a busca do conhecimento não deve se restringir aos conhecimentos materiais, sempre imediatistas e superficiais, temos que nos enveredar também pela busca dos valores do espírito, que estão inseridos no íntimo de cada ser humano e foram inscritos pelas variadas experiência que tivemos e dos sentimentos que cultivamos, este mergulho é essencial e inadiável e deve ser feito de forma individual, sem este mergulho viveremos em um mundo superficial e continuaremos a culpar os outros indivíduos pelas inconsistências que vivemos e nos atrelamos intimamente.

A sociedade mundial está percebendo que estas patologias estão gerando graves constrangimentos para toda a sociedade, com o incremento da depressão, da ansiedade e do suicídio, o ambiente se sobrecarrega de energias negativas e contaminadas de incertezas e desequilíbrios, estas energias estão acometendo as pessoas e levando as comunidades a degradações morais que nos impedem de entender e de compreender os verdadeiros valores da vida, perpetuando dores intensas e misérias morais e limitações espirituais.

O suicídio, a depressão e a ansiedade são patologias que crescem de forma acelerada na sociedade contemporânea e nos mostra intimamente que os verdadeiros valores da vida são mais simples e modestos do que os indivíduos querem acreditar, a consciência tranquila, o coração carregado de paz e de solidariedade e o trabalho no bem nos levam a construir valores morais e éticos sólidos que tende a nos levam para caminhos mais seguros e eficientes, a dois mil anos recebemos estas informações de forma serena e equilibrada e, mesmo depois destes anos, ainda insistimos em buscar a felicidade em riquezas materiais e passageiras, com isso, mergulhamos em depressão, ansiedade e enveredamos para o suicídio.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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