Os partidos de esquerda ou de centro esquerda apresentaram resultados pouco vistosos na última eleição, em alguns locais seu crescimento foi marginal, na maioria das vezes os ganhos foram pouco e inconsistentes, trazendo preocupações para estes grupos políticos, enquanto os partidos vulgarmente chamados de centrão, foram os grandes ganhadores no pleito municipal, notadamente o MDB e o PSD, cacifando-os para voos mais estruturados. Uma parte central deste crescimento está atrelado aos efeitos perversos do orçamento secreto, que injetou bilhões de reais nos grupos políticos de direita ou extrema direita, garantindo um naco maior de poder e de legitimidade a partir do próximo ano, um momento central e fundamental para a construção dos próximos candidatos aos governos estaduais e o governo federal.
Neste cenário, destacamos os conflitos existenciais dos partidos de esquerda, mesmo sabendo que o conceito de esquerda no século XXI está marcado por grandes dificuldades analíticas, vivemos num momento de grandes incertezas e instabilidades políticas. No front da esquerda, partindo do conceito de uma esquerda mais tradicional, destacamos uma grande dificuldade de compreender as grandes transformações do mundo do trabalho, um momento de fragilização dos sindicatos, o crescimento de novas formas de trabalho, novos modelos de negócios e alterações nas organizações sociais e produtivas, tudo isso, contribui enormemente para desestruturar os modelos anteriores, gerando medos, rancores e ressentimentos.
Destacamos ainda, as dificuldades de compreender as mudanças no mundo religioso, onde a Igreja Católica perdeu espaço para novos modelos de organização religiosa, com o fortalecimento das igrejas evangélicas, que passaram a arrebatar uma grande parte dos fiéis, com novos conceitos de religião, novas formas de estruturação social e coletiva, tudo isso, contribui imensamente para que entendamos as dificuldades dos grupos políticos mais à esquerda da sociedade.
Destacamos questões ligadas às famílias, sempre vistas como um agente imprescindíveis para as organizações sociais e que, vem passando por grandes alterações estruturais, novas formas de organização familiar, novas formas de estruturação e novos modelos de negócios, tudo isso, levou a uma erosão dos grupos de esquerda na compreensão da chamada família tradicional.
São muitos os desafios, mas gostaria de acrescentar mais um, as esquerdas estão com grande dificuldade de compreender as questões ligadas à segurança pública, perdendo espaço nas narrativas políticas e perdendo força na construção dos diagnósticos feitos pelos grupos mais à direita ou de extrema-direita.
Os desafios contemporâneos são elevados e prescindem de grandes discussões políticas, neste momento, cabem aos grupos de esquerda e de centro esquerda uma ampla reflexão para voltarem a ter influência e relevância no debate político quando o assunto está relacionado com a segurança pública, a família contemporânea, as questões religiosas e as grandes transformações no mundo do trabalho.
Os grandes desafios são imensos e precisam de grande maturidade, olhar internamente suas dificuldades, os medos e os ressentimentos mais íntimos e pessoais.