Socorro e assistência espiritual aos irmãos desencarnados  

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A morte sempre esteve no centro das discussões mais íntimas dos seres humanos, as reflexões sobre o significado da vida, o que existe depois da morte? Para onde vamos?…São perguntas feitas todos os momentos na intimidade, neste espaço mais íntimo surgem reflexões que dificilmente podem ser debatidas e discutidas em público, mas fazem parte das indagações humanas a séculos, quem sabe milênios e, para a grande maioria, tende a demorar muitos séculos para serem discutidas e analisadas mais racionalmente.

As religiões, em sua grande maioria falharam em explicar e responder as perguntas acima, muitas delas evitam de comentar sobre estes assuntos e criam dogmas e verdades que não devem ser contestadas, com isso, os indivíduos se veem perdidos e sem explicações mais sólidas e consistentes, afastando muitas pessoas das fileiras religiosas, principalmente no atual momento da sociedade global, marcado por indagações e reflexões constantes, onde a ciência ganha adeptos e busca respostas mais diretas, enquanto muitas religiões se limitam a estimular dogmas e aceitações cegas e unilaterais dos fiéis.

A Doutrina dos Espíritos, codificada por Hippollyte Leon Denizard Rivail, posteriormente conhecido como Allan Kardec (1857), trouxe novas informações sobre a vida, seus significados, seus sentidos mais íntimos e nos revelou que a morte não existe e somos frutos de muitas existências sucessivas, onde nascemos, desencarnamos e retornamos novamente, em busca da perfeição e do crescimento espiritual. Esta nova doutrina não se restringe apenas a uma visão religiosa do mundo, suas análises são muito maiores, mais amplas e significativas, contemplando análises científicas e filosóficas.

Algumas visões religiosas acreditam que existem apenas uma única existência, por esta visão a morte é o fim de tudo, quando morremos deixamos o palco da vida e tudo se faz fumaça. Outras convicções religiosas acreditam severamente que quando morremos permanecemos dormindo até o fim do mundo, quando seremos acordados e julgados, se condenados seremos enviados ao fogo eterno, enquanto se formos absolvidos neste julgamento seremos levados ao céu, local onde vão os justos e os herdeiros de Deus.

A Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, nos traz uma visão bastante diferente das anteriores, mostrando-nos que a morte não existe, apenas alteramos nossas energias e migramos para um novo local, onde não mais teremos o corpo material, este local é conhecido como o mundo espiritual, onde nos encontraremos em espírito, o verdadeiro componente eterno da existência, mais sútil, mais dinâmico e mais consistente.

Por esta visão, quando morremos perdemos os invólucros materiais e nos percebemos espíritos, num primeiro momento a grande maioria das pessoas se encontra em situação de choque, dominados pelo medo e pelas dificuldades de compreensão e de adaptação. O médium mineiro Francisco Cândido Xavier nos relata, que a grande maioria daqueles que retornam ao mundo espiritual não conseguem se desapegar da matéria e permanecem levando a vida como anteriormente, ou melhor, querendo e achando que continuam levando a vida como em momentos anteriores, ignorando os claros sinais de que algo diferente aconteceu, como quando são ignorados pelos familiares ou por outras pessoas na sociedade.

Ao chegar no mundo espiritual todos os indivíduos pegam caminhos diferentes, cada pessoa apresenta sua história pessoal, seus méritos e merecimentos, suas vivências e seus trabalhos, seus sentimentos e valores mais íntimos, tudo isso deve ser analisado e levado em consideração neste momento, diante disso, percebemos que todos os nascimentos são diferentes enquanto todos os desencarnes também são diferentes, tudo vai depender dos nossos merecimentos.

No filme Nosso Lar, conhecemos a trajetória de André Luiz, que quando acordou no mundo dos espíritos estava num ambiente bastante assustador, tenebroso e degradado, marcado por gritos, desequilíbrios, choros e violência, este local recebeu a denominação de Umbral. Ao acompanhar a história do médico desencarnado, tomamos contato com uma realidade preocupante e aterrorizante, afinal de contas o ambiente era desolador e nele André Luiz permaneceu durante mais de sete anos, passando fome, frio e muitos medos. No momento do resgate, depois de anos vivendo em condições deletérias, a primeira pergunta feita para o socorrista no momento do resgate foi: Porque vocês demoraram tanto tempo para me socorrer neste ambiente assustador? A resposta do socorrista Clarêncio foi direta e enfática: Estávamos aqui o tempo todo, você que não nos deu a atenção necessária.

Através desta resposta podemos perceber que os socorristas estavam ao lado de André Luiz durante todos estes anos, mas infelizmente, as energias eram bastante diferentes, enquanto os socorristas vibravam em um diapasão superior, mais sublime e equilibrado, as vibrações do médico desencarnado eram densas e marcadas por ressentimentos, mágoas e constrangimentos.  A mesma experiência percebemos na obra Memórias de um suicida, psicografia de Yvonne Pereira e ditado pelo espírito Camilo Castelo Branco, nesta obra percebemos como os socorristas do Instituto Maria de Nazaré, a Legião dos Servos de Maria, não conseguiam se aproximar do escritor desencarnado, ainda muito materializado, isto porque as energias e os pensamentos eram bastante diferentes, sem esta integração a aproximação não se efetiva o socorro.

Estas obras nos mostram como os irmãos trabalham cotidianamente no mundo espiritual, se desdobrando para auxiliar todos que passam por dificuldades variadas, dentre estes destacamos aqueles que auxiliam os recém desencarnados, aconselham, conversam e instruem estes irmãos despojados dos corpos materiais, mas ao mesmo tempo, tão atrelados a matéria, tão centrados em energias físicas e tão ignorantes sobre os verdadeiros valores da vida.

No mundo contemporâneo, marcado por um forte materialismo, pelos prazeres do dinheiro, do sexo e das benesses do poder político e econômico, muitos desencarnados chegam ao outro lado da vida sem conhecimento sobre o mundo espiritual, são irmãos que dedicaram toda uma encarnação para a matéria, ignoravam os saberes do espírito e se viram, logo após o desencarne, em condição de materialismo extremado. Segundo os bons espíritos, na atualidade, estes casos se repetem com uma grande constância, a grande maioria dos desencarnados não sabe que não possuem mais corpos materiais, acreditam-se vivos e com saúde, e preferem ficar ao lado de familiares causando nestes graves constrangimentos, mesmo não querendo fazer o mal, a ignorância e o desconhecimento das Leis de Deus os levam a constranger e prejudicar aqueles que mais amam.

São muitos os espíritos socorristas que se dedicam ao auxilio dos irmãos desencarnados, muitos deles resgatam aqueles que se encontram em situação de desespero e desesperança, muitos se refugiam em regiões abissais e são detidos por entidades trevosos que lhes causam graves torturas e se comprazem com as dores infligidas aos semelhantes, vivendo em uma simbiose de dominação, rancores e ressentimentos.

São muitas as obras da literatura espírita que destacam a existência de colônias no mundo espiritual, são cidades organizadas e estruturadas que foram construídas para socorrer e auxiliar os desencarnados e, ao mesmo tempo, dar trabalho e ocupação para os espíritos, todas estas atividades garantem aos trabalhadores uma remuneração, os chamados bônus horas, que servem para adquirir produtos necessários para a ‘sobrevivência’ neste novo local. Nos relatos de pesquisadores espíritas, principalmente nas obras do Dr. Inácio Ferreira, o mundo material é uma cópia muito imperfeita do mundo espiritual, somos mais influenciados pelos espíritos do que nós, na nossa ignorância, imaginamos.

Nestas obras o Dr. Inácio Ferreira nos narra suas experiências depois da morte, seus novos trabalhos e as atividades desenvolvidas, nela percebemos uma constante busca por conhecimentos, leituras e estudos, tudo isto para compreender melhor o significado da existência e alcançar o progresso que todos almejamos. O livro Nosso Lar destaca os mais variados trabalhos de André Luiz no mundo espiritual, depois de anos no Umbral, quando chega a colônia espiritual acredita que está em condição de trabalhar como médico, profissão de sua última experiência no mundo material, mas percebe que a medicina deste lado da vida é muito diferente daquela desempenhada no mundo físico.

No mundo espiritual devemos buscar atividades todos os momentos, a perspectiva de descanso depois da morte, como muitos indivíduos acreditam, não passa de mais uma das ilusões que cultivamos, o mundo imaterial nos possibilita uma grande infinidade de trabalhos, estudos, capacitações e aprendizados, com isso, nos capacitamos para uma posterior reencarnação na matéria plena em êxito e sucesso, como almejamos.

Os trabalhadores que se dedicam ao trabalho, como dona Laura, mãe de Lísias, da obra Nosso Lar nos relata que aqueles, como ela, que trabalham com as crianças, evangelizando e educando, no mundo espiritual recebem bônus hora dobrado, isto porque estão preparando aqueles que, brevemente, retornarão ao mundo físico, contribuindo para que estes pequenos tenham maior chance de êxito nesta nova oportunidade.

Os mundos espirituais nos proporcionam oportunidades variadas, encontramos nestes locais todas as instituições que percebemos existirem no planeta Terra, a organização social e política é exercida por espíritos evoluídos e dotados de grandes sentimentos de justiça e de valores elevados, nestes locais não existem indicações nem proteção de amigos e familiares em detrimento de outros, existem a verdadeira meritocracia, onde todos são habilitados para o progresso, as oportunidades são dada para todos e o progresso espiritual ocorre através das energias emanadas diretamente de cada indivíduo, não existindo os chamados apadrinhamentos que distorcem os verdadeiros valores da sociedade.

A morte como os indivíduos a conheciam ganhou um novo contorno com o surgimento do Espiritismo, com esta revelação enviada por Deus e encaminhada pelos espíritos superiores, passamos a compreender melhor como se dá quando somos despojados do corpo material e nos encontramos em espírito, neste momento descobrimos a grandiosidade da obra divina e como devemos agir para merecermos o progresso espiritual. Diante da codificação trazida para a humanidade por Allan Kardec, percebemos que não mais podemos alegar ignorância com relação as coisas e os ensinamentos da vida, basca que busquemos compreender estas leis tendo em mente que somos todos irmãos e todas as nossas atitudes contam no processo de evolução e desenvolvimento do espírito.

Economia Brasileira, recuperação e superação do subdesenvolvimento

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Vivemos em uma sociedade marcada por grandes transformações estruturais, os setores econômicos e produtivos estão sendo redesenhados pelas novas tecnologias, o mundo do trabalho está em constante alteração e as perspectivas econômicas do capitalismo global são assustadoras, levando muitos economistas a previsões pessimistas e assustadoras.

Neste ambiente de instabilidades no capitalismo global, a economia brasileira se encontra em um momento de reestruturação econômica depois de uma queda acentuada de mais 8% no produto interno bruto e desemprego de mais de 12% da população, uma recuperação tão sonhada, mas cada vez mais distante, com impactos ainda mais preocupantes.

Depois de oito meses do governo atual, toda e qualquer culpabilidade com relação as questões econômicas seriam, no mínimo, uma grande incoerência, afinal em tão pouco tempo dificilmente as autoridades econômicas conseguiriam reverter uma situação de degradação que nos encontramos desde 2014, com grandes impactos sociais e políticos, mesmo sabendo que o governo não pode ser o único culpado, a paciência da sociedade e dos mercados estão diminuindo, as pesquisas mostram uma queda consistente na popularidade do presidente Jair Bolsonaro.

Mesmo assim, os sinais emitidos pelo governo se mostram insuficientes para que a economia volte ao seu fluxo de crescimento, percebemos uma agenda liberal bastante necessária para o país, mas insuficiente para a recuperação afetiva da economia, muitos são os problemas que precisamos superar e não conseguiremos sem um Estado forte e eficiente. Entendemos por Estado forte não uma instituição gigante, mas uma instituição dinâmica e flexível, que tenha consciência de suas responsabilidades e se posicione numa posição para impulsionar o crescimento econômico e levar o país ao tão sonhado desenvolvimento.

Depois de ano de recessão e baixa recuperação econômica, o desemprego chegou a indicadores desesperadores, temos no país atualmente mais de quarenta milhões de desempregados, subempregados e trabalhadores na informalidade, cujas perspectivas de retorno ao mercado ou aquisição de um emprego formal são reduzidas, com isso, temos um sistema econômico se movimentando aquém das suas potencialidades.

Alguns especialistas defendem uma atitude mais agressiva do governo federal, mesmo sabendo que a crise fiscal é muito severa e a regra de ouro ou mesmo a política de teto dos gastos limita a capacidade fiscal do Estado, faz-se necessário a adoção de uma política mais efetiva, afinal temos um contingente de trabalhadores que estão sem perspectivas a algum tempo, um setor da sociedade que precisa de uma atenção maior por parte das autoridades.

O grande problema que o país enfrenta no campo econômico está diretamente ligado ao esgotamento fiscal deste modelo, depois de gastos crescentes nas últimas décadas, o Brasil precisa de um forte ajuste fiscal que contemple a redução dos gastos, para isso, é necessário uma reversão do crescimento das despesas que crescem de forma acelerada nas ultimas décadas, este modelo precisa ser reconstruídos para que o setor público volte a ter protagonismo no desenvolvimento, o que na atualidade não esta acontecendo.

Depois dos ajustes iniciados em 2014, o setor público reduziu rapidamente seus investimentos e retirou algumas instituições que sempre foram fundamentais para financiar o crescimento econômico, como a saída do BNDES, da Petrobrás e das instituições bancárias federais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, dentre outros…

Estas instituições, historicamente, sempre financiaram o crescimento dos investimentos, principalmente no período 1995/2013, quando foram responsáveis por parte considerável dos dispêndios financeiros e monetários, desde os gastos com programas das áreas da habitação, infraestrutura, construção civil, energia, petróleo e gás, dentre outros. Com as políticas ora em curso, baseadas nos preceitos de abertura econômica, liberalização e desestatização, onde o Estado está saindo dos investimentos de longo prazo e abrindo espaço para a iniciativa privada, os dispêndios se reduziram e o retorno ainda não se percebe no médio prazo, gerando perspectivas negativas para todo o sistema produtivo, sem os gastos governamentais os recursos privados não se efetivam na mesma rapidez e na mesma direção, reduzindo as perspectivas futuras da economia.

Para que o modelo liberal proposto pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha o mínimo de sucesso no longo prazo, faz-se necessário que as instituições reguladoras estejam atuando de forma sólida e responsável, sem as interferências dos setores políticos e sem as indicações de pessoas desqualificados para as diretorias. Com as nomeações de apaniguados e asseclas incompetentes, pouco conseguiremos num futuro muito próximo, apenas transferiremos para a iniciativa privada empresas públicas, dando lhes um poder demasiado que pode gerar graves constrangimentos para a democracia brasileira, aumentando a concentração da renda e o poder de grandes grupos financeiros transnacionais.

Nestes oitos meses de governo, poucas políticas efetivas foram adotadas pelo ministério da Economia, alguns destacam a Reforma da Previdência, cuja necessidade poucos contestam, mas sabemos que o governo federal teve pequena participação na aprovação desta medida, o maior responsável foi o presidente do Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Outra medida defendida pelo governo federal no campo econômico ainda está envolta em incertezas e desconhecimentos, refiro-me o projeto denominado Liberdade Econômica, cujas medidas de desburocratização e incremento dos negócios, onde muitas medidas de incentivo ao empreendedorismo e a inovação estão sendo gestadas. Neste ambiente de busca pela liberdade econômica, devemos buscar o equilíbrio nestas medidas, auxílio aos empreendedores e empresários devem existir e ser estimuladas pelo governo, mas estas medidas devem também contemplar os trabalhadores e os consumidores, agindo dos dois lados do negócio, o lado da oferta e o lado da demanda, quando atua apenas de um lado, baixando custos e facilitando a demissão de funcionários, os resultados esperados nem sempre acontecem no prazo esperado e os custos futuros podem ser proibitivos.

Outro ponto importante que devemos destacar é que a economia internacional se aproxima de uma recessão, os negócios estão em queda e as perspectivas estão bastante negativas, de um lado a guerra comercial entre Estados Unidos e China está gerando desaceleração e trazendo os primeiros impactos de queda dos fluxos comerciais, os preços dos produtos e mercadorias estão aumentando nos Estados Unidos, gerando inflação e queda na renda e nos salários dos consumidores norte-americanos, com impactos nas vendas das empresas, gerando questionamentos políticos e críticas intensas ao presidente Donald Trump.

A Argentina, um parceiro fundamental para a economia brasileira, se encontra em uma situação preocupante, com a aproximação das eleições presidenciais e a perda de popularidade do atual mandatário, Maurício Macri. Os ventos econômicos são decepcionantes, ainda mais sabendo que os concorrentes mais consistentes são peronistas, como a ex-presidente Cristina Kirchner, responsáveis por gestões anteriores de pouco sucesso e, para muitos, os responsáveis por levar a economia argentina a beira do caos e da recessão, com graves custos sociais, políticos e econômicos.

Neste ambiente de crise econômica e de aproximação de uma recessão internacional, os movimentos econômicos brasileiros devem ser feitos de forma estratégica, as privatizações em curso podem trazer grandes investimentos para a economia brasileira, neste ambiente de instabilidade global as decisões podem trazer grandes recursos para os cofres públicos, mas para isso, o governo federal precisa melhorar sua articulação política no Congresso Nacional, isto porque muitas destas medidas liberalizantes necessitam de apoio e aprovação do legislativo federal, área que o governo tem tido grandes dificuldades na atualidade, haja vista as perdas recentes nas votações parlamentares.

No campo econômico, encontramos muitas medidas sendo gestadas pela equipe econômica, são medidas que atuam no lado da oferta, mas apresentam pouca efetividade no lado da demanda, com exceção das políticas heterodoxas de estimulo a demanda via liberação dos recursos do FGTS/PIS-PASEP que estão sendo costuradas atualmente, mas que apresentam pouco potencial na recuperação da economia no curto prazo.

Outra medida que parece estar sendo discutida no seio do governo e do Congresso Nacional é a Reforma Tributária, medida fundamental para repensar o nosso sistema tributário, marcado pela alta burocracia, ineficiência e cumulatividade, além de ser um sistema altamente regressivo e concentrador de renda, onde os grandes grupos financeiros e os grandes investidores pagam poucos impostos, com a somatória de isenções e subsídios, enquanto a classe média é altamente onerada e os grupos mais pobres fortemente tributados. O grande problema desta medida é que muitos são os entraves para uma reforma desta magnitude, obstáculos maiores do que os da reforma previdenciária, a reforma tributária envolve uma ampla gama de interesses difusos e fantasmas obscuros, para ter êxito nesta medida o governo federal precisa mostrar para a sociedade sua alta capacidade de negociação e organização, que nos parece distantes do que aconteceu nestes últimos oito meses, quando o governo se mostrou fraco nas negociações e incompetente na sua organização interna, com falas desnecessárias e acúmulo de inimigos imaginários em excesso.

Alguns especialistas propõem medidas mais consistentes no lado da demanda, onde destacamos o economista-chefe do banco suíço UBS, Tony Volpon, dentre estas medidas destacamos a retomadas de obras públicas paradas e gastos em infraestrutura, calcula-se que o país tenha mais de sete mil obras paradas, estes negócios poderiam vir acompanhados de recursos privados que seriam remunerados de forma atrativa, com estas medidas muitos setores seriam estimulados e os empregos seriam impulsionados com fortes benefícios para os trabalhadores.

As políticas econômicas devem atuar diretamente para estimular o sistema econômico, no cenário atual percebemos um incremento das incertezas, o câmbio está em forte desvalorização, fenômeno este mais atrelado aos desequilíbrios globais do que as fraquezas internas, neste cenário externo negativo percebemos uma deterioração da balança comercial, mesmo sendo números pouco expressivos, podem sinalizar desajustes futuros maiores e mais consistentes.

O ambiente contemporâneo da economia brasileira está centrado nas incertezas e na insegurança econômicas, as promessas anteriores tiveram grande repercussão nos mercados e na sociedade com um todo, levando o candidato Jair Bolsonaro a ganhar o cargo mais alto da sociedade brasileira. Depois de oito meses estas medidas estão gerando inquietação na sociedade, os investidores estão assustados com o fraco crescimento econômico brasileiro, a população está cansada com as promessas de forte crescimento e melhores condições de emprego, o grande problema é que, depois de alguns meses estas promessas não estão sendo cumpridas e as perspectivas para a economia estão longe de se efetivar, enquanto isso, milhares de famílias ficam no desalento e na indignidade, vendendo o almoço para comprar a janta, neste cenário o país se afasta efetivamente do tão sonhado e desejado desenvolvimento econômico.

 

Algumas comentários e considerações sobre o filme Kardec

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Nos últimos anos a temática espírita vem fazendo sucesso nos cinemas nacionais, desde que Nosso Lar chegou aos cinemas e arrebatou uma grande quantidade de pessoas, outras obras foram levadas aos cinemas como As mães de Chico Xavier, A vida continua e Chico Xavier. Recentemente estreou nos cinemas brasileiros o filme “Kardec”, que mostra a trajetória do codificador da Doutrina Espírita, responsável pela decodificação de uma doutrina que se atribui uma visão religiosa, filosófica e científica sobre questões fundamentais para a humanidade, um filme bem feito e marcado por muita sensibilidade.

O filme Kardec estreou nos cinemas brasileiro no mês de maio de 2019, foi produzido pelo cineasta Wagner Assis, baseado no livro de Marcel Souto Maior, destacando a importância do biografado para a Doutrina Espírita, mostrando ainda a perseverança como instrumento de compreensão das dificuldades e a confiança nesta mensagem como um novo momento que se abria para toda a humanidade, um momento de reflexão, estudo e busca pelo conhecimento, onde se descortina a existência de um novo mundo, o mundo dos espíritos.

Para aqueles que não conhecem a trajetória deste grande homem, Hipollyte Leon Denizard Rivail, posteriormente chamado de Allan Kardec, descrito como um sujeito respeitado na sociedade francesa da época, pedagogo influente e bastante conceituado na área da educação, discípulo de Pestalozzi, responsável pela publicação de várias obras de referência sobre educação, pedagogia e a reforma do ensino na sua terra natal, a França.

No início dos anos 1850, as elites econômicas e políticas da capital francesa estavam em polvorosa, as revelações trazidas pelas chamadas mesas girantes eram motivo de encontros, festas e convescotes reunindo a nobreza, a intelectualidade, os empresários e os inúmeros céticos, todos querendo entender um fenômeno novo e revolucionário que reunia inúmeras pessoas ao redor de uma mesa para ouvir as revelações e as previsões dos “espíritos”.

Como destaca o filme, inicialmente o pedagogo não acreditava nos fenômenos espirituais que se difundiam entre as classes mais abastadas da Europa, zombava de todos aqueles que ousassem comentar e defender tais novidades, destacando a ausência de comprovações científicas, vistas por ele como as limitações deste pensamento. Mesmo cético com o movimento e as reuniões, foi convencido a assistir uma sessão, o que o levou a alterar suas convicções, tornando-se o grande divulgador do pensamento espírita, responsável por trazer ao mundo a chamada Terceira Revelação, segundo a qual, a morte não existe e estamos sempre em companhia de espíritos, que mesmo não possuindo corpos materiais, podem influenciar na nossa vida muito mais do que imaginamos, muitas vezes até mesmo nos controlando.

Allan Kardec foi o nome utilizado por Hipollyte Leon Denizard Rivail, este pseudônimo foi usado para diferenciar toda a obra anterior do pedagogo francês, dos novos escritos relacionados a doutrina espírita. Este nome lhe foi revelado em uma reunião espírita, segundo as entidades que assessoravam os trabalhos, este era seu nome em uma de suas encarnações anteriores, quando estava encarnado como um druída, na região conhecida como as Gálias.

O filme mostra a importância de sua esposa Amélie Gabrielle Boudet na divulgação de todo o pensamento espírita, uma mulher a frente de seu tempo, bastante inteligente, dedicada e apaixonada, auxiliou Kardec desde o início e contribuiu diretamente para a divulgação de uma nova forma de encarar a realidade social e espiritual, eram realmente um casal de destaque, sem a presença e dedicação da esposa, dificilmente Hipollyte Leon Denizard Rivail, depois Allan Kardec, seria hoje conhecido como o codificador da doutrina Espírita.

O filme Kardec mostra ainda as dificuldades financeiras do casal, os esforços para cumprirem seus compromissos financeiros e garantirem a sobrevivência, mesmo assim ambos eram dedicados trabalhadores, viviam em perfeita harmonia e possuíam um respeito elevado da comunidade da época, como professores ambos engordavam o orçamento com aulas particulares, um movimento natural e bastante conhecido no século XIX.

Nestas comunicações os espíritos informaram que o trabalho seria muito árduo e geraria grandes defecções, críticas e ameaças generalizadas, pessoas que se diziam amigas e confidentes se afastariam e os trairiam, ameaças seriam constantes, críticas e comentários maldosos aconteceriam em todos os espaços e as recompensas demorariam tempos, mas a mensagem teria que ser trazida para a humanidade, os tempos eram chegados para que o mundo conhecesse as realidades do mundo espiritual e, se por um acaso, Allan Kardec recusasse a empreitada, ou falhasse no intento, outros estariam sendo preparados para a missão.

No período retratado pelo filme Kardec nada nos é informado sobre a infância de Hippolyte Léon Denizard Rivail, iniciamos com o personagem em seu ofício mais nobre, professor e pesquisador, inquieto e competente acompanhamos seu comportamento, suas dúvidas e reflexões, passando pelas descobertas referentes a Doutrina, as acusações, as perseguições, até sua prisão, mostrando nos que, todos que se comprometem com o bem e com a verdade, embora recebam sempre o apoio e a proteção dos bons espíritos, são perseguidos e agredidos pelos espíritos ora marcados pelo mal e pelos seus asseclas encarnados, uma leva de indivíduos que se acreditam homens de bem e são, na verdade, grandes detratores da verdade e do conhecimento.

Ao analisar a história de Hippolyte Léon Denizard Rivail, percebemos que sua missão como codificador da Doutrina Espírita só teve início quando este completou cinquenta anos, nascido em 1804 e desencarnado em 1869, foi apenas em 1854 que o pedagogo francês começou suas investigações sobre as novas revelações, isto acontece porque foi justamente neste período que a espiritualidade maior percebe que os ventos da inquisição estavam se fragilizando na Europa e abrindo espaço para novas visões religiosas, mesmo assim, o filme destaca os vários problemas que Allan Kardec teve com o catolicismo, cujas ideias do codificador eram vistas como heréticas e desprovidas de significado e coerência, sendo por isso muito perseguido pela Igreja, que o via como uma ameaça e o excomungava como um herege.

A vida do codificador sempre foi pautada pela honra e sensatez, conhecido por todos como um grande intelectual, membro ativo da comunidade científica francesa, suas novas ideias e pensamentos foram muito contestadas por intelectuais da época, mesmo tendo a força para seguir em frente, sentindo o amparo e a proteção dos bons espíritos, todas estas críticas eram por ele muito sentidas. Como membro ativo de intelectuais e pesquisadores, viu seus escritos ignorados e sua presença contestada, sendo convidado a se retirar da Academia de Ciências, onde seus pares nem o deixaram refletir sobre os motivos que o levaram a esta conversão e muito menos analisar seus métodos de pesquisa e investigação, mostrando a intolerância e as dificuldades dos homens da ciência de entabular um debate fiel e respeitoso quando confrontado com novas ideias, novas teses e novos movimentos religiosos e científicos.

Hippolyte Léon Denizard Rivail como um homem da ciência, buscou desde o início de suas pesquisas o desenvolvimento de um método de análise, uma metodologia que pudesse dar as teses nascentes um caráter mais científico e menos religioso, para isso, desenvolveu um método de investigação onde abordava inúmeros médiuns sobre os mesmos temas, estes médiuns eram sensitivos de vários países e regiões diferentes da Europa, depois destas inquirições o codificador analisava as respostas e percebia as semelhanças, com isso redigia suas obras e trazia para a humanidade a Terceira Revelação, com informações relativas ao sentido da vida e a missão de cada um dos indivíduos.

A codificação foi possível graças ao trabalho desinteressado de muitos médiuns, todos dedicados a uma nova forma de encarar as realidades da vida, eram pessoas comuns, crianças, jovens e mulheres de mais idade que se comprometeram a conversar com Allan Kardec sobre os contatos cotidianos com espíritos, vozes e seres invisíveis. Dentre as médiuns destacamos as irmãs Julie Baudin (15 anos) e Caroline Baudin (18 anos), Ruth Japhet e Aline Carlotti (20 anos), todas retratadas no filme foram essenciais para a codificação do pensamento espírita, suas mediunidades eram de grande impacto para a época e, por trazer para a sociedade revelações que contrariavam interesses, foram perseguidas, humilhadas e detratadas.

Uma delas, Ruth Japhet, se rebelou contra Allan Kardec quando não viu seu nome na primeira publicação, O Livros dos Espíritos, mesmo com as explicações dadas pelo professor e as justificativas por ele apresentadas, preferiu se isolar e não mais participar dos trabalhos. Neste caso percebemos a vaidade e o personalismo presente e, com certeza, influências espirituais negativas para que a médium deixasse o trabalho de codificação, limitando os encontros, as pesquisas, as inquirições e os conhecimentos posteriores.

Com a publicação de O livro dos Espíritos, as ideias espíritas passaram a ser conhecidas por várias partes do mundo, as publicações iniciais foram implementadas pelo editor Pierre Paul Didier, muitos livros foram vendidos e muitas conferências foram realizadas com o intuito de difundir e divulgar a nova revelação. Do sucesso inicial, percebemos as reações da Igreja Católica, detentora ainda de um grande poder na região, que manda prender e queimar muitas caixas com livros espíritas, uma verdadeira política de censura ao pensamento livre emanados pela Revolução Francesa, baseadas no Liberdade, Igualdade e Fraternidade e pelo iluminismo, mensagem esquecida pelo clero católico, centradas em interesses autoritários, arrogantes e imediatistas que, embora exitoso num primeiro momento, estimulou uma grande curiosidade da população na leitura daquelas obras, gerando uma imensa publicidade a nascente Doutrina Espírita.

O filme Kardec destaca a perseverança de Allan Kardec que, nos últimos quinze anos de vida, foi um fiel divulgador da Doutrina Espírita, sendo responsável pela publicação de obras imprescindíveis para a consolidação do espiritismo, desde O Livro dos Espíritos. O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno e O que é o Espiritismo, todas estas obras mais a publicação da Revista Espírita e inúmeros artigos e documentos referentes a doutrina, um trabalho incansável e de grande relevância para a comunidade internacional, um homem a frente de seu tempo, cujos escritos mostraram ao mundo a existência do chamado mundo dos espíritos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensamento, crescimento espiritual e desenvolvimento moral.

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O pensamento sempre foi visto como um agente transformador da vida cotidiano e do indivíduo, responsável desenvolvimento dos seres humanos e pela criação de riqueza e de progresso, quando bem utilizadas, ou para a destruição e para a pobreza, dependendo dos indivíduos e da forma como se relacionam consigo próprios e com seus fantasmas interiores.

A Doutrina dos Espíritos nos mostra efetivamente que o pensamento é fonte de criação e de consolidação de uma vida melhor e mais consistente, desde que aprenda a controlar seus pensamentos, suas vontades e seus desejos mais íntimos, para isto faz-se necessário, grandes reflexões, treinamento e um autoconhecimento que todos devemos buscar como forma de atrair boas energias e caminhar mais rapidamente para o progresso espiritual e para o desenvolvimento moral.

A Doutrina dos Espíritos nos traz grandes informações para que compreendamos a importância do pensamento na coletividade, quando nos entregamos para pensamentos deselegantes e rasteiros atraímos para nosso lado espíritos com os mesmos interesses e sintonia, somos aquilo que pensamos e atraímos o que nossa sintoniza íntima e pessoal, por isso a importância de controlarmos nossos pensamentos cotidianos.

Temos no espiritismo uma vasta literatura falando a respeito do tema, estes livros destacam a importância do pensamento como forma de atrair energias mais consistentes e destacam ainda, como os maus pensamentos podem nos gerar graves constrangimentos, pois atraem energias que nos enfraquecem e nos tira do caminho do progresso. Com esta bibliografia não mais podemos alegar desconhecimento, como os teóricos da autoajuda sempre enfatizam, se acreditarmos em algo e trabalharmos intensamente para que este algo se materialize, temos grandes chances de obter sucesso nessa empreitada.

Muitas são as histórias de espíritos atraídos por pensamentos levianos, entidades que ora se comprazem com estas energias, sentem necessidades desta sintonia e busca pessoas que pensam como ela, que desejam as mesmas coisas e vibram no mesmo diapasão, criando uma verdadeira simbiose com males dos mais nefastos possíveis e imaginados.

Encontramos nas reuniões mediúnicas uma grande leva de espíritos que nos relatam suas experiências de vampiros espirituais, são irmãos que desencarnaram e tem esta consciência e passam a utilizar esta invisibilidade para se aproximar de irmãos mais fracos e atrelados aos poderes da bebida e do álcool, nesta relação ambos bebem o mesmo elixir e satisfazem, criando uma verdadeira simbiose entre estes dois seres, um vivendo no mundo material, encarnado e dependente do álcool e do vício, enquanto outro está no mundo dos espíritos, desencarnado e também fortemente dependente da bebida, ambos não se conheciam, apresentam trajetórias diferentes, mas se unem para satisfazer os vícios do álcool e da dependência da bebida.

A morte do corpo físico não transforma nenhum dos seres humanos, o espiritismo sempre nos mostrou de forma detalhada esta questão, somos o que somos no mundo material e quando nos transferimos para o mundo espiritual, permanecemos da mesma forma, dotados dos mesmos sentimentos, dos mesmos valores e das mesmas necessidades. Se apresentamos desejos indiscriminados pelo álcool, se sentimos necessidade de beber vamos continuar com estes desejos quando retornarmos para o mundo dos espíritos.

Embora entendamos que a morte é uma passagem para a vida imaterial, para o mundo invisível, a Doutrina Espírita destaca que nossos avanços são patrimônios que carregamos por toda nossa existência, todos os tesouros vinculados ao conhecimento, a moral e a ética, nos acompanharão por toda nossa trajetória e nos habilitarão para o crescimento espiritual que deveríamos buscar com afinco e dedicação.

A integração entre os dois mundos, o material e o imaterial, é intensa. Estamos todos os instantes ao lado de irmãos em outros planos da vida, nesta integração somos influenciados por eles e nos deixamos ser influenciados pelos irmãos do mundo espiritual, se nossos interlocutores são bons e dignos estes nos auxiliam em nosso progresso, nos transmitem energias de paz e de equilíbrio e nos inspiram nas atividades do cotidiano. Agora, quando estes irmãos estão ainda dominados pelos sentimentos menores, pelas mágoas ou pelos ressentimentos, ao nos vincularmos a estes irmãos sentimos estas energias nos acercando, nos influenciando e, muitas vezes, nos dominando.

As energias que atraímos estão intimamente ligadas aos momentos da vida que vivemos, aos pensamentos que cultivamos, aos desejos que alimentamos e as nossas ações no cotidiano. Se nos deixarmos levar pelo desânimo e pela chateação atraímos irmãos nas mesmas condições e temos estas energias se fortalecendo dentro de nós, moldando nossos gestos, nossas atitudes e nossos comportamentos.

Muitas vezes encontramos irmãos mergulhados no sexo desvairado, buscando prazeres e gozos físicos desequilibrados, transformam sua existência em uma busca por prazeres sexuais, deixando de lado uma vida mais consistente e estruturada. Na sociedade contemporânea, a indústria do sexo gera bilhões de dólares anualmente e fazem a fortuna de seus detentores, que estimulam a sexualidade precoce de jovens e crianças e os prazeres da sexualidade distorcida, estes irmãos quando voltarem ao mundo espiritual, depois do desencarne, vão compreender que as riquezas da vida são muito maiores e mais importantes para o crescimento dos indivíduos do que os prazeres do sexo.

A mente é fonte criadora, nossos pensamentos podem conspirar ao nosso favor ou podem nos gerar constrangimentos atrozes, isto porque atraímos para nosso lado entidades e energias compatíveis com nossos pensamentos e estas facilitam a aproximação de espíritos que possuem os mesmos pensamentos, criando vínculos muitas vezes de difícil separação.

A Doutrina Espírita nos mostra que quando nos conscientizamos de nossos deveres espirituais e buscamos, verdadeiramente, as energias necessárias para concretizar estes deveres, atraímos para o nosso lado, entidades habilitadas a nos auxiliar, estas entidades são amigos espirituais especializados neste trabalho, que nos inspiram e nos auxiliam neste empreendimento, dando-nos as energias necessários para que o projeto se desenvolva e os resultados  sejam promissores, basta que queiramos e nos dediquemos que seremos auxiliados, motivados e estimulados para que o trabalho tenha êxito.

Muitos pesquisadores descobrem a cura de doenças ou desenvolvem tecnologias que tendem a auxiliar no desenvolvimento da humanidade nos próximos anos, muitas pesquisas tomam rumos novos e impensados inicialmente, isto acontece porque muitos dos pesquisadores se abrem para a inspiração de entidades desencarnadas, que auxiliam para o bem comum. Muitos desconhecem que, no mundo espiritual, os espíritos trabalham cotidianamente, o trabalho é uma benção de Deus e todos devemos trabalhar em prol da coletividade, auxiliando no progresso e no bem-estar das comunidades.

Muitas pessoas se deixam levar por pensamentos negativos, atraem pensamentos menores de desânimo e de negatividade, acreditam que nunca vão conseguir alcançar seus intentos, nunca vão poder usufruir de uma vida mais confortável e promissora, como seus colegas ou conhecidos, mesmo trabalhando estão sempre vendo suas dificuldades aumentarem, estas pessoas precisam aprender a cultivar hábitos mais saudáveis de pensamento, pensar em progresso, viver o progresso e, com isso, tendem a atrair energias desta natureza.

Educar o pensamento nos auxilia muito em nosso progresso espiritual, emocional e moral, quando tomamos a consciência de que nossos pensamentos contribuem ativamente para nosso desenvolvimento, observamos mais o que passa pela nossa cabeça e buscamos educar nosso pensar, controlando as energias que atraímos e trilhando um caminho mais consistente, sem educação do pensamento agimos como se fossemos uma antena que capta energias variadas das mais diferentes áreas e locais, desta forma nos abrimos para que outros nos controlem, nos dominem e monitorem nossas vidas, nossos comportamentos e nossos desejos.

Para que consigamos esta educação do pensamento precisamos desenvolver uma disciplina mental muito grande, analisar todos os pensamentos e ideias que passam pela nossa cabeça no cotidiano, neste momento de análise devemos perceber como alimentamos estas energias e como elas nos influenciam no dia a dia, um exercício artesanal que deve ser feito com constância, desta forma passamos a conhecer nossos pensamentos.

Analisar nossas inclinações também nos ajuda imensamente, todos podemos analisar o que tem dentro de nossos corações, nossos desejos, nossas vontades e pensamentos. Quando somos dominados por sentimentos materializados em excesso, quando sentimos afinidade com o sexo desregrado ou com a ambição desmedida, devemos compreender que não estamos no caminho correto, neste momento a melhor decisão é mudar nossas atitudes e alterar nossos pensamentos, pois se continuarmos no caminho anterior tendemos a colher desequilíbrios, incertezas e constrangimentos, além de choro e ranger de dentes.

Na sociedade em que vivemos, somos todos os momentos estimulados a buscar uma educação mais aprimorada e mais consistente, as novas tecnologias estão nos impulsionando ao estudo e ao conhecimento, passamos parte substancial de nosso tempo nos capacitando e nos aprimorando, mas nos esquecemos de nossa saúde emocional e espiritual, restringimos nossa vida a uma atividade material e imediatista e nos esquecemos de que o verdadeiro ambiente de progresso e desenvolvimento dos indivíduos está no mundo dos espíritos, somos espíritos habitando corpos materiais e não o contrário. Nesta viagem pelo mundo exterior nos esquecemos de nosso mundo interior, nossos conflitos, nossos desejos e nossas necessidades, deixando de encarar as dificuldades e de resolver nossos desequilíbrios mais íntimos, com isso ficamos mais suscetíveis para as influencias externas, deixando nossos pensamentos desprotegidos e atraímos irmãos desencarnados mais propensos ao mal, que nos causa constrangimentos variados.

O pensamento é uma fonte de crescimento e desenvolvimento espiritual, nossa mente possui instrumentos fantásticos para nos conduzir ao progresso, mas para isso temos que nos conscientizar da importância do pensamento na condução de energia e na consolidação de nossos interesses, a Doutrina dos Espírito nos mostra como o pensamento pode nos impulsionar para o progresso ou nos conduzir diretamente para caminho nem tão agradáveis, cabe a cada indivíduo se atentar para esta realidade e construir as pontes necessárias para seu progresso, deixando nossos pensamentos agiram para atrair bons espíritos e boas energias para construirmos nosso desenvolvimento espiritual.

 

‘Pais têm receio de assumir o papel de careta da família’, diz Rosely Sayão

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Rosely Sayão faz convite para pensar a educação dos filhos

Júlia Marques, O Estado de S. Paulo 01/09/20192019.

SÃO PAULO – Formada em Psicologia há mais de 40 anos, Rosely Sayão já dialogou com diferentes gerações de pais sobre a educação dos filhos. Ela não hesita em avaliar que hoje está mais difícil. Pesam sobre os adultos mais exigências de performance – que transferem às crianças – e há dificuldades em pôr limites, sem cair no exagero de regras. Em meio a isso, está a tecnologia, mensageira de um volume de informações difícil de processar. Se os desafios aumentaram, cresce a necessidade de pensá-los. No próximo domingo, Rosely estreia uma coluna quinzenal no Estado, um verdadeiro convite para refletir sobre a vida em família e as relações com os filhos.

A composição das famílias mudou e a tecnologia chegou para ficar. Está mais difícil educar?

Hoje é muito mais difícil educar os filhos. A própria palavra educar não era usada antes pelos pais: era “criar”, que significava tomar cuidados necessários para que o filho crescesse. Educar tem uma complexidade que levou pais e mães a quase se profissionalizar. Ao passar por muitas transformações de mundo, a família foi sofrendo interferências. Os adultos deixaram de ocupar o lugar central na família e os filhos é que passaram a ocupá-lo. Outra questão é que é preciso ser feliz a qualquer custo. Não posso educar, dizer não. Cerco de cuidados para que seja feliz e isso impede a boa educação.

A composição das famílias mudou e a tecnologia chegou para ficar. Está mais difícil educar?

Hoje é muito mais difícil educar os filhos. A própria palavra educar não era usada antes pelos pais: era “criar”, que significava tomar cuidados necessários para que o filho crescesse. Educar tem uma complexidade que levou pais e mães a quase se profissionalizar. Ao passar por muitas transformações de mundo, a família foi sofrendo interferências. Os adultos deixaram de ocupar o lugar central na família e os filhos é que passaram a ocupá-lo. Outra questão é que é preciso ser feliz a qualquer custo. Não posso educar, dizer não. Cerco de cuidados para que seja feliz e isso impede a boa educação.

Falta a adultos colocar limites?

Os pais têm receio de assumir o papel de “careta” da família. Não querendo ser “caretas”, ultrapassados, querem ser mais próximos dos filhos, quase para trocar confidências. Fica difícil determinar limites e, quando determinam, são exagerados. Há regra em demasia na vida das crianças.

Sobre o fato de o pai ter medo de ser “careta”, qual a origem?

No nosso valor sociocultural de que é preciso ser jovem para sempre. Se o pai e a mãe assumem seu papel, é como se estivessem envelhecendo, e isso não é bom para eles.

As crianças têm celulares, tablets. Os pais lidam bem com esses recursos?

Tenho visto dificuldades. Oferecer objeto tecnológico é legal para os pais porque a criança fica hipnotizada. Os pais estão com pressa. Ao mesmo tempo, dizem que é inevitável a tecnologia. Sim, assim como é inevitável que os filhos vão dirigir carros, mas na época certa. Quanto mais tarde, melhor. Tem muito mundo real para a criança descobrir.

É importante que as crianças tenham a vivência do concreto?

Para conseguir lidar bem com o virtual, é preciso conhecer o real e saber fazer a transposição. Vejo crianças com ausência de relacionamento com outras que têm canal no YouTube. É difícil porque elas não têm muitos relacionamentos para entender o que chama a atenção, o que pode magoar.

Vivemos um momento de desconfiança em relação à escola. Qual a importância dela?

Antes de ir à escola, a criança tem contato com alguns espaços públicos, mas sempre mediado pela família. As crianças crescem e têm de assumir seu jeito de estar no espaço público e a escola é fundamental. Se queremos que os mais novos evoluam e melhorem esse mundo, não podemos restringir a escola em seus ensinamentos. Eles têm o direito de conhecer o lado B que a família não quer saber. É isso que dá liberdade, a possibilidade de fazer escolhas.

Chamam a atenção questões como depressão, bullying e até automutilação entre crianças. Esses problemas estão crescendo ou tem se falado mais sobre? Partem da dificuldade dos pais?

As crianças têm trânsito absolutamente livre no mundo adulto, mas ele, com todas suas mazelas, é um tanto quanto incompreensível para as crianças. Como pode um pai matar o filho? Como um pai mata a mãe? Não têm estratégia pessoal para fazer frente a uma informação dessas. São coisas que caem sobre os ombros das crianças e, na impossibilidade de lidar bem com isso, transformam em sintomas. Além disso, tem a pressão desmedida da sociedade sobre os pais e dos pais sobre os filhos por uma boa performance.

É preciso proteger as crianças dessas informações?

É impossível impedir o acesso. O que podemos fazer é minimizar, explicar de modo simples. E tentar oferecer o melhor da infância possível. Mais idas às praças para que tenha contato com natureza. E deixar brincar, na areia, no barro, na água.

Fala-se do diálogo com crianças, mas como fazer isso?

Todo mundo confunde diálogo com persuasão. Não se trata de convencer. O diálogo com os filhos é mais escuta do que fala. Diálogo é discutir a partir do ponto de vista deles.

A senhora fala sobre um excesso de informações, perturbando a vivência dos pais. O que planeja para as colunas? Será espaço para mais dados ou reflexões?

Mais reflexões. A educação dos filhos acontece no momento em que estão dormindo ou sossegados, que é quando penso. Quero promover o espaço de pensar. Será que não estou exagerando no que quero para meu filho? Estou querendo demais por ele? Sendo muito severa ou não estou ocupando plenamente o lugar de pai? Quero questionar o que temos exigido dos mais novos, refletir sobre a falta de companhia adulta que adolescentes sentem. Vamos falar sobre relacionamento familiar, considerando a família maior, ascendentes, descendentes. E vou questionar muito a escola.

 

 

Sérgio Abranches: ‘Bolsonaro nasceu no extremo, sempre foi o que é hoje’

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Para cientista político, presidente não tem sido capaz de buscar a conciliação em um ambiente de crise política iniciada em 2014.

Entrevista com: Sérgio Abranches, cientista político e sociólogo

Paulo Beraldo, O Estado de S. Paulo – 01/09/2019

Em um cenário de crise política, que não acabou com a eleição, o presidente Jair Bolsonaro não tem sido capaz de buscar uma “conciliação” e dialogar com demais setores da sociedade. A análise é do sociólogo e cientista político Sérgio Abranches, autor de, entre outros livros, Presidencialismo de Coalizão – Raízes e Evolução do Modelo Político Brasileiro.

“Ele nasceu no extremo. Sempre foi o que é. Está na direita, bem lá na ponta”, disse em entrevista ao Estado. Segundo Abranches, a perda de popularidade de Bolsonaro é “preocupante”. “Qualquer fagulha pode pegar fogo”. O sociólogo afirmou ainda que a polarização minou a centro-esquerda e empurrou o PT, principal partido de oposição, para uma esquerda de “posições que já deveria ter abandonado”, enquanto PSDB e DEM foram puxados para a direita.

“Está vazia uma centro-esquerda e até um centro mais moderado, com uma visão mais social, um posicionamento contemporâneo, reformista, que tenha consciência da crise dos empregos, dessa nova economia, que entenda que a globalização é inevitável e que o mundo hoje é mais cosmopolita”. Abaixo, a entrevista completa.

Por que, com apenas oito meses de um novo governo, já se fala em cenários para 2022?

O Brasil está em uma crise política desde o início do segundo mandato de Dilma Rousseff. A crise não foi superada. O impeachment agravou a crise e aguçou a polarização. Michel Temer também não conseguiu superar a crise, que, depois, virou paralisia de governo no momento em que ele precisou obter o veto para impedir que fosse processado no Supremo. A polarização que continuou no governo Temer desaguou nas eleições de 2018, que foram disruptivas, mas pouco construtivas.

Pesquisa divulgada na segunda-feira mostrou que a desaprovação pessoal do presidente Bolsonaro subiu de 28% para 53%. Isso é motivo de preocupação?

Há razões para ficar preocupado. A crise não acabou com o fim da eleição. Continua sendo um governo no contexto de uma crise política, que se agravou porque o presidente tem uma atitude de confrontação. Ele não é capaz de um movimento de conciliação, de uma abertura para setores da sociedade e do mundo. É muito fechado. Em geral, quando o presidente perde rapidamente popularidade, temos um quadro de instabilidade da própria governança. Isso pode produzir um tipo de conflito que não seria positivo para o momento atual.

E o que, na sua avaliação, tem mitigado a crise?

É o desempenho do Congresso que tem conseguido manter um ritmo de produção legislativa relevante. Isso cria um espaço de normalidade política que ajuda. Imagine se estivéssemos em um processo de paralisia do Legislativo, sem a aprovação da reforma da Previdência, se nada passasse? Aí sim estaríamos em um quadro mais grave.

Mas se olharmos no detalhe, há claramente uma  tensão entre Executivo e Legislativo. O governo tem perdido muitas decisões, toda hora há atritos. É uma relação ciclotímica por causa dessa atitude mais acintosa do presidente, que decidiu ser um presidente minoritário e não formar coalizão.

Há uma discussão em torno da fusão de partidos, notadamente entre DEM, hoje representado pela figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e pelo PSDB. liderado pelo governador João Doria. Como avalia essa possibilidade?

É muito provável que haja esse processo de fusão de partidos à medida que vamos nos aproximando de 2020, a não ser que o Congresso revogue a proibição de coligações proporcionais, o que seria muito ruim. O movimento natural é que aqueles com certa afinidade de valores e comportamentos se fundem. O PSDB se moveu para a direita, é natural que se funda com o DEM. São partidos de centro-direita. João Doria, Alexandre Frota (expulso do PSL), as novas relações foram movendo o partido mais para a direita, ainda que haja uma facção mais à esquerda, claramente minoritária, e candidata a buscar outra legenda.

O sr. entende que Bolsonaro foi empurrado para o extremo? 

Não, ele nasceu no extremo. Sempre foi o que é. Ele até andou tentando maquiar a posição dele, dizendo que é de centro-direita, mas ele é de direita mesmo, lá na ponta.

E quem vai ocupar o espaço do centro na política nacional?

O espaço que está ficando vazio na política hoje é a centro-esquerda. O PT está na sua própria crise e não consegue formular uma nova posição, mais contemporânea e alinhada com os desafios do século 21. Há uma parte importante da centro-esquerda sem representação. Com a polarização, o PT foi empurrado para uma esquerda de posições que já deveria ter abandonado, retrógradas. Já outros partidos foram sendo puxados para a direita.

Está vazia uma centro-esquerda e até um centro mais moderado, com uma visão mais social, um posicionamento contemporâneo, reformista, que tenha consciência da crise do emprego, dessa nova economia, que entenda que a globalização é inevitável e que o mundo hoje é mais cosmopolita.

O apresentador de TV Luciano Huck e o ex-governador do Espírito Santos Paulo Hartung tem mostrado disposição de entrar no jogo político. Eles poderiam ocupar esse espaço?

Conheço a trajetória do Paulo Hartung. É um candidato claro a ser um protagonista na formação de um pensamento social-democrata. Começou na prefeitura de Vitória com uma aliança PSDB-PT pouco provável. Ele tem uma visão que permite isso. O Luciano Huck não sei como pensa. Mas, claramente, Paulo Hartung é um político que tenta gravitar e construir uma alternativa nesse perímetro entre a centro-esquerda e o centro.

Onde vê o ministro Sérgio Moro em um cenário eleitoral?

Politicamente, hoje não consigo ver. Ele tomou uma decisão muito custosa, abandonou uma carreira de juiz segura, estável, previsível, por um cargo muito incerto, sujeito a chuvas e trovoadas. O Ministério da Justiça sempre foi um espaço de muito conflito. Todo ministro é demissível a qualquer momento. É um cargo muito precário. Foi uma escolha de muito risco e, para tomar esse risco, ele deve ter algum mecanismo de proteção, um acordo para voltar para a magistratura em um cargo de nomeação, ou mesmo uma perspectiva de entrar na vida política. O que vejo é que foi uma troca do certo pelo incerto.

Como as disputas locais de 2020 ajudarão a definir as nacionais?

As lógicas são muito diferentes, são sistemas partidários distintos. Partidos importantes no Rio não necessariamente têm força em capitais do Nordeste ou do Sul. A qualidade de vida das cidades é muito próxima do cidadão, os temas locais predominam. Mas, ciclicamente, tem havido momentos em que as eleições municipais coincidem com o debate nacional.

O discurso se repete quando o quadro está muito polarizado, em uma crise como a de agora. Se o discurso não mudar, teremos um debate, sobretudo nas capitais, muito mais nacionalizado. Mas entendo que a escolha do eleitor continuará sendo baseada em questões locais.

Como vê o STF no cenário político, cujo presidente, ministro Dias Toffoli, chegou a participar em maio de um “pacto” proposto pelos chefes dos Três Poderes? 

A ideia de que o presidente do STF participe de reuniões políticas e se envolva numa espécie de pacto entre Poderes é um desvirtuamento da função jurisdicional, sobretudo num momento de muita judicialização da política. A Corte deveria se manter razoavelmente impermeável a pressões políticas. Claro que não existe despolitização completa, mas há um limite a partir do qual a politização se torna danosa para a isenção do processo jurisdicional.

O STF é a última palavra, a última instância. Houve um avanço excessivo de decisões autocráticas que minam o espírito do colegiado, que é um mecanismo de freio e contrapeso significativo. Ter a participação de juízes de gerações diferentes, nomeados por fontes políticas diferentes e com visões doutrinárias diferentes dá um certo equilíbrio ao processo. Quanto menos colegiado e quanto mais autocracia houver, pior o papel do Supremo como um ponto de equilíbrio.

Como avalia que a interferência do presidente da República na autonomia de instituições como a Política Federal e o COAF afeta a qualidade da democracia brasileira? 

É um risco importante. O que a sustenta a democracia é um equilíbrio entre os Poderes. Esse desmonte das instituições de fiscalização e controle coloca em xeque boa parte da estrutura dos mecanismos de freios e contrapesos. A investida mais danosa é contra o Ministério Público Federal.

O Executivo e o Legislativo são muito permeáveis a pressões, então é preciso uma regulação independente para coibir abusos. No momento em que vivemos, de sociedade e economia digitalizadas mas política ainda analógica, é preciso começar a pensar em freios e contrapesos para fazer a passagem do analógico para o digital. A lavagem de dinheiro, hoje, é claramente digital.

Nas últimas semanas o Brasil se viu em uma crise diplomática e no centro das atenções com o aumento dos incêndios da Amazônia. Paralelamente, o presidente deseja nomear o filho, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para embaixada em Washington. Um levantamento do ‘Estado’ mostra que o Senado resiste. Há risco de ele ser barrado?

Quando a votação é secreta, sempre há risco. Para o bem e para o mal. O mais importante é o fato de que essa polêmica ambiental incendiou as relações diplomáticas do Brasil com a França e com a União Europeia. Já a questão da nomeação de um filho para uma embaixada tão importante representa o desmonte da diplomacia brasileira. A diplomacia funciona como um amortecedor das paixões pessoais, colocando as razões de Estado em primeiro plano, que são permanentes. O Brasil tem tradição de uma diplomacia profissional muito significativa, que fez com que o País, sem grandes poderes econômicos e militares, sempre tivesse protagonismo. Toda essa qualidade é colocada em xeque (com essa escolha).

A história da desigualdade no Brasil, segundo Pedro Ferreira de Souza

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José Roberto Castro, 21 de julho de 2019 – NEXO Jornal

Na mais completa pesquisa sobre distribuição de renda no Brasil, pesquisador Pedro Ferreira de Souza analisa nove décadas de concentração entre os mais ricos.

O Brasil é um país extremamente desigual, mas nunca foi muito melhor ou pior do que é hoje. Esta é uma das conclusões de “Uma história de desigualdade”, livro do pesquisador do Ipea Pedro Ferreira de Souza que analisa a concentração de renda no país entre 1926 e 2013. A obra é a adaptação da tese de doutorado do pesquisador, premiada pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e pela Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) em 2017 e aclamada entre estudiosos do tema.

O sociólogo Celso Rocha de Barros, por exemplo, chamou “Uma história de desigualdade” de “o melhor trabalho produzido pelas ciências sociais no país nos últimos anos”. Além de analisar a desigualdade no Brasil por um longo período, a obra de Ferreira de Souza tem inovações.

O pesquisador seguiu uma tendência recente no mundo de utilizar dados do imposto de renda para ajudar a medir a concentração de renda entre os muito ricos – o principal foco do estudo. No passado, se utilizava apenas pesquisas por amostragem como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que têm dificuldades de medir a renda no topo da pirâmide.

Um levantamento de um período tão longo utilizando também dados do imposto de renda é inédito no Brasil. E algumas das conclusões a que o pesquisador chegou contrariam o que se pensava antes.

Para Ferreira de Souza, a concentração no Brasil “não obedeceu modelos pré-definidos: não houve a história de primeiro crescer pra depois distribuir, nem é verdade que a desigualdade está sempre piorando”. Uma das polêmicas do estudo é afirmar que a desigualdade não caiu drasticamente durante o governo Lula, mesmo que os programas de transferência de renda tenham tirado milhões da pobreza.

A pesquisa também percebeu que o país vive ondas de concentração de renda e que os dois piores períodos para a desigualdade aconteceram nas duas ditaduras do período analisado: o Estado Novo e a ditadura militar. Durante todo o período, a renda do 1% mais rico variou em torno dos 25% do total. Já o 0,1% mais rico ficou com algo próximo de 10% da renda nacional.

Pedro Ferreira de Souza conversou com o Nexo sobre as conclusões do livro, sobre a influência do Estado na concentração de renda e sobre as possibilidades de o Brasil se tornar um país menos desigual no futuro. A seguir, os principais trechos.

Qual a origem histórica da desigualdade no Brasil?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA A gente aprende desde muito cedo que a colonização é o que determina o que a gente é, que a gente está até hoje pagando o preço de ser fundado na escravidão e na grande propriedade. Recentemente passou a se perceber que no início do século 20 a desigualdade da América Latina era muito parecida com a da Europa e lá mudou muito rapidamente. Então a questão não é só entender os motivos pelos quais a América Latina é assim, mas também os motivos pelos quais ela continua assim, por que perdeu o bonde da história. Os resultados da tese dão algum apoio a essa hipótese de que não era tão diferente no início do século 20. Claro que há ressalvas, estimativas de distribuição de renda são complicadas em uma sociedade em que uma parte grande da população é escrava. É uma desigualdade qualitativamente diferente que não pode ser ignorada. Mas o que a gente consegue ver é que mesmo países que naquele momento eram muito desiguais e que pareciam que não mudariam, conseguiram ser diferentes em 20 anos. Então no Brasil podemos dizer que a desigualdade foi estruturada muito alta a partir desse processo de colonização, mas também o país perdeu diversas oportunidades de entrar numa via diferente. A origem pode estar lá atrás, mas as saídas que a gente não tomou foram muitas. A própria interrupção da normalidade democrática contribuiu para isso.

Há alguma relação entre democracias e ditaduras com a concentração de renda no topo?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA Há uma relação. Acho que a história é mais complexa do que simplesmente dizer que democracia é menos desigualdade e ditadura é mais. Mas em última instância tem sim uma relação. No Brasil, e em outros países a gente também vê isso, a ditadura foi bem mais eficiente em piorar a desigualdade do que a democracia foi boa para reduzir. No geral, o aumento rápido em períodos de ditadura é muito nítido. Na Alemanha nazista, no Chile de Pinochet também houve aumento de concentração no topo. Mas há outros fatores. No caso do Estado Novo, acho que a guerra foi muito importante para aquele aumento da desigualdade. Na ditadura militar, o aumento é contínuo nos dez primeiros anos, mas até ali houve um limite, o que mostra que em nenhum lugar a desigualdade seguiu crescendo para sempre. No governo Geisel começa inclusive uma preocupação com a redução da desigualdade. Nos anos 1980, com crise e inflação, a desigualdade inclusive piora. Nos anos 90 tem uma queda provavelmente associada ao controle da inflação. Mas nos últimos anos, olhando só a concentração de renda no topo, na melhor das hipóteses ela está estável.

É possível identificar como o Estado brasileiro operou no aumento ou redução da desigualdade?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA O Estado é um agente central da vida em sociedade. Justamente dessa coincidência de flutuação da desigualdade conforme eventos políticos marcantes veio o empurrão para eu tentar interpretar os resultados sob essa luz. Obviamente não dá para avaliar empiricamente tudo, mas dá para tentar entender quais foram as políticas e quais os efeitos plausíveis sobre a distribuição de renda. São abundantes exemplos de políticas que obviamente favorecem mais alguns grupos do que outros. Nas duas ditaduras, há exemplos caros. No Estado Novo, o fechamento total do regime foi um fechamento à direita, anticomunista, e com uma aliança muito forte com fatias do empresariado – aliado a severa restrição de manifestação fora do aval do regime. A CLT foi promulgada sem os trabalhadores rurais, que eram a maioria. E mesmo assim, com vários direitos trabalhistas já efetivados, durante a guerra houve a suspensão desses direitos em várias indústrias que seriam estratégicas. No fundo, era um momento de complicação no comércio mundial, não tinha como importar matéria prima, mas tinha demanda até por manufaturados. A solução foi explorar ao máximo a capacidade instalada, inclusive a força de trabalho, com arrocho salarial. Assim como em 1964 houve um movimento parecido. Perseguição a todos os movimentos de oposição, uma interferência profunda no mercado de trabalho determinando regras de reajuste de salário mínimo e de acordos coletivos. A política oficial, reconhecida só depois de forma meio envergonhada, era dar reajustes bem abaixo até mesmo da inflação. E esse tipo de arranjo também é possível em determinados momentos até em democracias. O Estado está o tempo todo dando vantagens e desvantagens para diferentes grupos, não é à toa que o Brasil dos últimos anos é uma grande fila de empresários batendo na porta de gabinete.

Sua tese conclui que a desigualdade se mexeu muito pouco nas últimas décadas. Mas falando sobre a renda e sobre as condições de vida dos mais pobres, houve alterações?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA Houve mudanças, é importante separar as coisas. O que entusiasmou todo mundo era que o Brasil estava tendo um momento de crescimento, com redução da pobreza e redução da desigualdade. Uma coisa inédita e que parecia fantástica. O que aconteceu foi que tivemos crescimento de renda, com certeza a pobreza diminuiu bastante. Em medidas de desigualdade a mudança até existe, mas ela é bem mais fraca do que a gente imaginava. É uma mudança modesta. Quem avançou muito foram os mais pobres e os muito ricos, o topo e a base da pirâmide avançaram mais do que quem está no meio. Então quem está no meio, no sentido estatístico mesmo do termo, acabou sendo apertado. Viu os pobres chegarem mais perto e os ricos ficarem um pouco mais longe. Embora, em termos absolutos, em real no bolso, todo mundo tenha tido algum ganho. A pobreza diminuiu muito até o início da crise, com políticas desde os anos 1990, nos anos 2000 mais ainda. É uma melhora significativa, é muito importante. Na desigualdade é que a mudança é menor do que se imaginava antes.

Há algum tipo de indício sobre os efeitos da crise de 2014 na desigualdade no Brasil?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA A resposta definitiva vai demorar alguns anos, até por um certo azar de não podermos comparar períodos diferentes porque o IBGE fez uma mudança metodológica nas pesquisas, já estava prevista há anos. Interrompe a série, não se compara 2017 com 2011. Mesmo antes da crise, mesmo nos dados mais otimistas que não contavam o Imposto de Renda, já havia uma queda mais lenta da desigualdade, uma leve estacionada. Com a crise, o cenário mais provável é que houve algum aumento da desigualdade e certamente um aumento da pobreza. Mas a desigualdade não deve ser também explosiva porque todo mundo empobreceu com essa crise, foi muito pesada. Catastrófica é a queda da renda média, na desigualdade devemos medir alguma piora. Para desigualdade, mais do que os efeitos do auge da crise, pode ser importante ver como vai se dar a recuperação dessa crise. Sobre isso a gente não sabe nada ainda e isso vai ditar as perspectivas dos próximos anos, do que vai ser o novo normal.

Taxar mais os mais ricos seria o principal mecanismo de diminuição da desigualdade? Quais seriam os parâmetros e os mecanismos adequados?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA A tributação é a bola da vez do debate. O Brasil tem problema fiscal, precisa aumentar a arrecadação ou cortar gastos, pode pelo menos distribuir de um jeito mais justo o fardo da arrecadação. Para tentar diminuir a desigualdade, a reforma tributária é a ferramenta mais óbvia – desde que a gente entenda que não vai ser isso que vai resolver magicamente nossos problemas de distribuição de renda. Se fizer uma boa reforma – que aumente tributação de renda e patrimônio, que desonere o consumo dos mais pobres e diminua as distorções econômicas causadas pelos impostos indiretos – provavelmente o país vai melhorar. Mas isso sozinho não transforma o Brasil na França. O governo federal poderia mexer no imposto de renda, que funciona muito bem, mas os parâmetros podem ser muito melhorados para fazer do imposto mais progressivo. Aumentar a base do que é rendimento tributável é a primeira coisa. Hoje há uma anomalia de que o tributável é a menor parte da renda dos mais ricos – esses têm muito rendimento isento ou muito rendimento que é tributado na fonte numa alíquota muito menor, como investimentos financeiros. Os rendimentos de capital são cada vez mais importantes para os mais ricos. Resolvido isso, há espaço para mexer nas alíquotas. A primeira aproximação seria manter as alíquotas atuais e criar novas acima de 27,5%. Outros países parecidos com o Brasil têm alíquotas entre 35% e 40%, não seria nada revolucionário chegar nisso. Outra possibilidade seria mexer nas deduções, dedução ilimitada com saúde, por exemplo. Há pessoas que só de dedução de plano de saúde têm mais do que o Estado gasta com dez famílias. Os estados podem mexer na tributação de heranças, os municípios podem criar progressividade no IPTU, que alguns já tentaram e a Justiça barrou. É politicamente difícil, mas poderia fazer o imposto ser mais bem usado. Arrecada-se menos com IPTU do que com IPVA no Brasil, tem o ITR que praticamente não existe em um país que tem um agronegócio extremamente produtivo. São debates às vezes muito técnicos e politicamente difíceis.

O seu estudo afirma que ‘não há casos bem conhecidos de países que tenham partido de um grau tão alto de concentração de renda no topo [caso do Brasil] e avançado de forma tranquila e gradual até percentuais próximos aos de um país europeu típico’. E, ainda, que ‘é razoável postular que a democracia pode servir mais para conter um aumento da nossa desigualdade do que para reduzi-lo’. Por meio de que mecanismos então você acha que pode ocorrer uma mudança relevante nesse quadro geral?

PEDRO FERREIRA DE SOUZA Não sei se sou pessimista ou cético demais. Mas dado que a gente não quer que nenhuma catástrofe aconteça, óbvio, é muito difícil um cenário em que a gente consiga uma evolução europeia em uma ou duas gerações. Acho que podemos melhorar, bastante, mas isso dependeria de algum tipo de coalizão política capaz de juntar interesses que são tão diversos no eleitorado numa única direção de reduzir muito a desigualdade. Isso parece muito pouco provável, considerando os grupos mais organizados no Congresso, por exemplo. São ligados a setores específicos da economia, corporações, grupos de interesse que não têm nenhuma receptividade a uma pauta dessas. E isso é dificultado pela própria desigualdade. A força de trabalho é tão heterogênea, é difícil achar bandeiras comuns muito explícitas. Por isso, toda eleição é promessa de genérica, não se vê alguém dizendo que vai defender um interesse específico e quem vai perder é o outro grupo. E isso não é uma exclusividade da democracia brasileira. Aqui parece um jogo de soma zero. Se por um lado se cria um programa que tem um bom resultado para uma clientela mais pobre aqui, por outro um outro grupo que se sente prejudicado vai lá e consegue reverter alguma regulação acolá. E assim vai seguindo. Não vejo o Brasil saindo do patamar de hoje e chegando daqui 30 anos num nível europeu, que também é desigual. Não é realista, pelo menos nada sugere que isso vá acontecer. As grandes transformações que o mundo viu no século 20 aconteceram em cenários extremos, como nas duas guerras. Essas mudanças não têm a ver só com a destruição que a guerra causa, com a inflação e destruição de capital.  Tem a ver também com o fato de que os governos precisaram chamar boa parte da população para ir para o campo de batalha e morrer, mobilizar. E isso tem um preço, precisa de compensação. Os próprios impostos sobre renda e herança nasceram basicamente ligados a uma ideia de que todos tinham que contribuir para o esforço de guerra. Em alguns países houve limitação de quanto as empresas podiam lucrar durante a guerra. E essa era também acabou, com a tecnologia uma guerra não demanda de 10% a 15% da população.

Privatizações, abertura e liberalismo: a nova agenda nacional

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Depois de uma forte recessão e um aumento do desemprego com graves implicações econômicas e políticas, a economia brasileira ensaia um lento movimento de recuperação econômica, neste ambiente de preocupações constantes as ideias de privatização de empresas estatais e de abertura econômica surgem como forma de dinamizar o sistema produtivo, atrair novos investimentos e alterar, de forma estrutural, o modelo do capitalismo nacional, marcado pelo alto intervencionismo do Estado na economia e em toda estrutura produtiva.

Inicialmente as propostas privatizantes dos governos anteriores eram ainda muito tímidas, os governantes demonstravam desejos de desestatização do grande estoque de empresas estatais, mas desistiam de levar a frente estas políticas de privatização quando percebiam uma rejeição da população, que temiam demissões em massa e enxugamento de empresas, medidas que seriam implementadas pelos gestores privados logo que efetivassem a compra e todos os trâmites burocráticos fossem encerrados.

A privatização de empresas estatais deve ser encarada como uma política bastante importante, a desestatização do patrimônio público deve ser feita com muito cuidado e transparência, caso contrário muitos questionamentos serão feitos e muitas dificuldades podem advir destas medidas. Devemos destacar ainda, que mesmo acreditando e defendendo a desestatização, devemos observar quem serão os compradores destas empresas, as suas origens e analisar a idoneidade dos grupos compradores, para que, posteriormente, não tenhamos problemas em setores essenciais para a economia do século XXI.

Os defensores da desestatização se apoiam na tese de que estas empresas são marcadas por grandes ineficiências e são responsáveis por grande parte da corrupção que envolve a sociedade brasileira, esta visão destaca ainda, que muitos dos funcionários públicos são verdadeiros marajás, cujos rendimentos e benefícios são bastante elevados e sua produtividade é bastante reduzida, diante disso, associa-se o setor público a ineficiência, ao desperdício e a corrupção. Diante desta visão, faz-se importante destacar que, embora acreditemos que exista muita ineficiência no setor público brasileiro, esta ineficiência não se restringe aos órgãos públicos, encontramos também no setor privado grande ineficiência e desperdício, que devem ser combatidos com uma melhora na produtividade do trabalhador brasileiro, só possível com maiores investimentos em educação, capacitação, qualificação e maiores oportunidades profissionais.

Temos setores no Estado brasileiro marcados por alta produtividade e eficiência, instituições como o Banco Central, a Receita Federal, a Polícia Federal, o Itamaraty, entre outras são descritas como órgãos de excelência e dotados de grande credibilidade no mercado internacional. Mas o que estas instituições apresentam de diferencial é a reduzida influência política, são instituições de Estado caracterizadas por uma legislação rígida que seleciona funcionários de excelência, bem treinados e altamente capacitados, com remuneração digna e carreiras sólidas e consistentes, distantes da influência de setores políticos tradicionais, este sim o grande responsável por parte considerável da ineficiência de muitos órgãos e empresas estatais.

Muito da ineficiência de empresas estatais está na gestão pouco profissional que sofrem cotidianamente, muitos cargos técnicos são preenchidos por comparsas de políticos sem a qualificação mínima exigida para o cargo, gerando um rastro de ineficiência e desperdício de recursos públicos, levando estas instituições ao descrédito perante a opinião pública. Embora acreditamos que existem muitas instituições e setores nas mãos do governo federal, é importante destacar que a forma como são geridas levam muitas delas ao descrédito, uma gestão séria e eficiente, sem a interferência da classe política traria resultados muito interessantes e contribuiria para uma melhora na reputação destas empresas, que historicamente foram importantes para o crescimento do capitalismo nacional, vistas na atualidade como a causa de todos os males da sociedade brasileira.

As empresas estatais brasileiras apresentam uma história bastante interessante, foram construídas em um ambiente de estímulo e intervencionismo do Estado na economia visando o desenvolvimento industrial, neste momento foram investidos elevados recursos públicos para que muitos setores estratégicos contribuíssem para a construção da indústria nacional, num cenário marcado por um modelo baseado na substituição de importações. Neste momento foram criadas centenas de empresas, como Petrobrás, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Eletrobrás, BNDE, Telebrás, Eletrobrás, além de estradas, portos, aeroportos…uma infinidade de empresas e uma ampla regulação em vários setores da economia, contribuindo diretamente para a construção do capitalismo nacional, fortemente centrado no poder estatal.

Outro ponto importante a se destacar, sobre o processo de estatização da economia brasileira é que, para construir estas empresas e seus instrumentos regulatórios, o Estado nacional foi fortemente pressionado pelos governos estrangeiros que queriam que os governo brasileiros abandonassem estas ideias, isto porque temiam uma maior competição das empresas brasileiras no cenário internacional e uma maior autonomia do país nos fóruns internacionais, além de perderem um amplo mercado consumidor de seus produtos, como era o mercado nacional. Mesmo tendo acumulado muitas críticas e até desavenças, o Estado brasileiro foi decisivo no processo de construção do capitalismo nacional, no início dos anos 80, relatórios do Banco Mundial destacavam que a estrutura industrial brasileira era a mais avançada e sofisticada dentre os países em desenvolvimento, uma vitória das políticas intervencionistas do governo federal, marcadas pelo planejamento econômico e medidas estratégicas em vários setores da economia.

Com o endividamento externo e o incremento na inflação, a economia brasileira passa a sofrer com a desaceleração econômica e com a perda de centralidade de sua estrutura industrial no mundo, levando muitos economistas a defenderem medidas liberalizantes em vários setores econômicos, estas medidas sofreram grandes resistências entre empresários que viam nelas uma forma de desnacionalizar as empresas privadas nacionais, isto porque, com a elevada proteção dada pelo Estado nacional, desde o início da industrialização, as empresas nacionais apresentavam grandes dificuldades para competir no cenário global. Dentre os grupos econômicos contrários a abertura destacamos as federações de defesa dos interesses do setor industrial e, principalmente, a mais expressiva delas, a Federação das Industrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Depois de quatorze anos de governos de centro esquerda, cujos resultados econômicos foram bastante contestados, com redução da pobreza e políticas sociais progressistas e exitosas, mas cujos resultados fiscais foram bastante negativos, gerando graves distorções que culminaram numa recessão elevada e grandes dificuldades de retomar o crescimento econômico, além de denúncias de corrupção e desvios de recursos públicos e a condenação de dirigentes e pessoas de grande poder em seus governos.

Com a ascensão de um governo sabidamente de direita, capitaneado pelo atual presidente Jair Bolsonaro, pela primeira vez um presidente é eleito prometendo medidas fortemente liberais no campo econômico e conservadorismo no campo dos costumes. A ascensão de governantes de perfil de direita deve ser vista como um fenômeno em curso em inúmeros países da comunidade internacional, as políticas liberalizantes, privatização, abertura econômica, desregulação, concessão pública, estas políticas estão voltando à tona e gerando novas discussões e debates no ambiente econômico, cujos grupos financeiros dominantes apoiam diretamente e levam as Bolsas de Valores a recordes de rentabilidade quando o governo anuncia a proximidade do programa de desestatização.

Neste momento as propostas de privatização são mais ambiciosas, envolvendo um universo de dezenove empresas, dentre elas destacamos: Correios, Ceagesp, Telebrás, Ceitec, Dataprev, Casa da Moeda, Serpro, Emgea, Codesp, dentre outras. Este anúncio agitou o mercado financeiro brasileiro e animou os investidores estrangeiros, levando a Bolsa de Valores a recordes de otimismo, gerando nos grupos financeiros momentos intensos de euforia e ansiedade, afinal, depois de muitos anos, a tão sonhada desestatização dá sinais claros de se efetivação.

Os mercados financeiros se entusiasmaram mais ainda com a possibilidade de privatização das chamadas “jóias da coroa”, dentre elas destaque para as cobiçadas Petrobrás e Banco do Brasil, mas para isso serão necessários grandes projetos políticos, fortes negociações econômicas e um bem elaborado estudo sobre o melhor modelo de desestatização, priorizando não apenas uma sólida arrecadação monetária e financeira, mas a construção de um novo modelo de regulação destes setores cuja importância para o país são indiscutíveis.

Segundo boletim oficial divulgado recentemente pelo governo brasileiro, o país apresenta um portfólio de 133 empresas estatais, das quais 87 subsidiárias de Petrobrás (34), Eletrobrás (30), Banco do Brasil (16), BNDES (3), Caixa Econômica Federal (3) e Correios e Telégrafos (1). Dentre estas empresas citadas, algumas estão sendo repassadas para a iniciativa privada através do plano de desinvestimentos da Petrobrás, sendo muito bem aceitas pelo mercado, devido ao potencial de ganhos futuros, vislumbrando boas perspectivas para um futuro muito próximo, enquanto outras devem ainda demorar algum tempo, pois exigem mudanças institucionais e regulatórias que devem ser produzidas pelo governo federal, através de uma legislação específica a ser enviada ao Congresso Nacional.

A ascensão do governo Bolsonaro à presidência do Brasil levou ao governo um conservadorismo nos costumes e um liberalismo na economia, além de uma forte ascensão dos grupos religiosos de perfil evangélico, fortes apoiadores do atual governo, uma fórmula que apresenta características explosivas, podendo, em algum momento levar a conflitos e gerar vários constrangimentos sociais, podendo culminar em rupturas políticas e fragilização da democracia, movimento este em curso em muitos países da comunidade internacional com a ascensão de governos com tendências xenofóbicas e excessivamente conservadores.

Apesar de vermos com bons olhos a privatização destas empresas, muitas questões devem ser discutidas na sociedade e no universo político, evitando que monopólios estatais em alguns setores sejam substituídos por monopólios privados, cujos prejuízos para a comunidade são visíveis e devem ser evitados no momento da construção dos melhores modelos de desestatização. Outro ponto a se destacar, com a privatização as agências reguladoras devem ser fortalecidas e protegidas das influências de lobbies organizados e poderosos, que atuam ativamente na capital federal e em outras localidades do país, visando o fortalecimento de interesses próprios e ganhos imediatos, uma característica inerente ao sistema capitalista brasileiro.

Outro ponto que deve ser ressaltado quando discutimos questões ligadas a privatização de empresas estatais é que, na economia brasileira atual, marcada por graves desequilíbrios fiscais e financeiros, a venda de empresas públicas não deve visar apenas os ganhos monetários, mais do que este objetivo, deve mirar um novo modelo econômico, com empresas mais consistentes, menos dependentes do Estado, com redução dos subsídios e das políticas protecionistas, com capital humano mais qualificado e perspectivas mais favoráveis de desenvolvimento, levando o país a uma posição de destaque no cenário internacional.

Além disso, faz-se importante evitar modelos de desestatização que gerem privilégios a grupos ou setores específicos, como nos mostra muitas das privatizações anteriores quando, para estimular a competição, muitos consórcios foram criados de forma equivocada, com grupos sem experiência nenhuma na área, este modelos gerou alguns constrangimentos para a economia brasileira que nos perseguem até os dias de hoje, como no caso da empresa OI, cujos imbróglio deve ser resolvido com urgência pelo governo atual depois de um pedido de recuperação judicial e dívidas alegadas de mais de 60 bilhões de reais.

Os projetos ora em curso na sociedade brasileira são bastante interessantes, embora alguns deles sejam ainda questionáveis e inoportunos, muitos deles trarão, no longo prazo, benefícios para a estrutura produtiva, a privatização de estatais e a abertura econômica devem ser estimuladas, as novas legislações que estão sendo criadas para aumentar o empreendedorismo também devem ser bem analisadas, encontramos ideias e teses sensatas que visam diminuir a burocracia e melhorar o ambiente de negócios para incrementar o investimento, fundamental para impulsionar o crescimento econômico. Embora muitas das medidas sejam sensatas, devemos destacar que todas elas se voltam para p lado da oferta, neste momento de insuficiência da demanda, faz-se necessário que o governo também adote políticas para impulsionar a demanda, deixar esta função apenas para a liberação do FGTS e do PIS/PASEP, nos parece uma medida limitada que não vai garantir os benefícios esperados pela equipe econômica, ainda mais quando temos um estoque de mais de 13 milhões de desempregados e uma recuperação lenta que dura mais de cinco anos com resultados medíocres.

No ambiente econômico global, países como Alemanha, Estados Unidos e China, estão adotando políticas intervencionistas, injetando dinheiro na economia, adotando políticas protecionistas, erguendo barreiras e alíquotas de importação, todas estas medidas são contrárias ao liberalismo apregoado por estes mesmos países em momentos anteriores, neste ambiente, devemos tomar cuidado com aberturas indiscriminadas e privatizações aceleradas que podem garantir grandes benefícios a grupos endinheirados e dotados de grande poder político e financeiro, estes grupos, na maioria estrangeiros vão levar empresas privatizadas e conduzir a economia a uma intensa desnacionalização, onde os poderes de planejamento e estratégia de grupos nacionais vão passar para as mãos de grupos estrangeiros, como no caso da Embraer, uma das poucas empresas brasileira de destaque no cenário internacional, vendida recentemente ao conglomerado norte-americano Boieng.

Na economia brasileira contemporânea, as políticas econômicas liberais vem ganhando adeptos e empolgando incautos, suas teses são claras e muito convincentes na teoria e podem trazer benefícios a muitos setores e grupos sociais, diante disso, é importante implementá-las com cautela e tomar consciência de que não resolverão todos problemas do país, devem agradar aos donos do capital, ao mercado financeiro e aos barões da Faria Lima agora, se este benefício vai chegar aos grupos menos favorecidos, só o tempo vai mostrar, pelos estudos do capitalismo contemporâneo, o liberalismo, apesar de sedutor, não está garantindo as melhoras apregoadas, quem sabe aqui os sábios governantes brasileiros tenham descoberto as fórmulas do sucesso da liberalização e da concorrência, vamos aguardar para ver o resultado desta sandice.

Neste momento atual, está na hora da sociedade brasileira procurar seu caminho na economia mundial, entender suas peculiaridades e características inerentes, analisar sua história, sua trajetória e necessidades, está na hora de entendermos as demandas de sua população, copiar modelos de outras nações mostra claramente nosso subdesenvolvimento e nossa subserviência, nosso atraso e nossa incapacidade de construirmos um nação verdadeira, que esteja consciente de suas potencialidades e tenha claro na consciência que tipo de país queremos construir.

Desigualdade de chances no Brasil caiu, mas segue em nível lamentável, diz economista

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Fernanda Mena/ SÃO PAULO – 25/08/2019

Para Ricardo Paes de Barros, país precisa igualar oportunidades na primeira infância.

O Brasil construiu um sistema de políticas sociais de grande magnitude mas com foco errado: gasta muito com proteção social e pouco para igualar oportunidades.

A opinião é do especialista em desigualdade e educação Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.

“Sem nivelar o ponto de partida das pessoas, fica meio absurdo querer nivelar o ponto de chegada”, avalia ele, para quem o Brasil evoluiu muito na igualdade de oportunidades nos últimos 20 anos, seja na educação, no acesso à terra ou ao crédito. “Mesmo assim, nossa desigualdade de oportunidades ainda é lamentável”.

Crescimento econômico não reduz a desigualdade. Por quê?

O crescimento é naturalmente desigual. Ele tende a gerar desequilíbrios intersetoriais e inter-regionais. Uma parte vai crescer mais rápido que outra. Certas ocupações vão explodir, outras nem tanto. A área urbana vai crescer mais que a rural.

O crescimento, quando todas as demais variáveis são constantes, tem tudo pra gerar desigualdade. A China cresceu um monte nos últimos anos, e a desigualdade por lá cresceu loucamente. Já o Brasil cresceu bem menos e a desigualdade caiu. Os países ricos cresceram, mas a desigualdade também.

A vantagem do crescimento é que ele permite ao país criar políticas sociais. Um país mais rico pode ter um sistema de redistribuição de renda melhor porque há mais recursos fiscais para isso.

Quando o crescimento não gera desigualdade?

O fundamental é partir da igualdade de oportunidades. Ou seja, todo mundo pode adquirir competências, independente de sua origem familiar, e pode usar essas competências da melhor maneira possível. Um país em que uma parte da população tem acesso a boa educação, crédito e terra, e a outra parte não, vai ter desigualdade. Vai crescer quem teve acesso a essas coisas.

O Brasil tem feito investimentos em igualdade de oportunidades?

A desigualdade de oportunidade no Brasil caiu muito nos últimos 20 anos, na educação, no crédito ou no acesso à terra. Mesmo assim, estamos muito mal preparados para o crescimento porque nossa desigualdade ainda é lamentável.

Hoje, no Brasil, quase não há diferença no analfabetismo entre brancos e negros. Na educação superior, os negros estão encostando nos brancos. Mas, quando olhamos a pós-graduação, a diferença entre eles está aumentando.

E, como hoje o que vale é ter um MBA, percebemos que a gente equaliza oportunidade no que não é mais vanguarda, que não fará grande diferença.

As famílias mais ricas estão de olho naquilo que vai dar uma vantagem real.

Como equalizar essa vantagem real?

Se você ajustar na primeira infância, fica mais fácil. Porque é difícil dar igualdade de acesso à universidade para um cara que teve desigualdade na primeira infância. É um efeito dominó.

O país tem que garantir também a liberdade para que todo mundo possa usar as competências que desenvolveu. Não adianta um negro fazer medicina e depois não conseguir exercer porque a sociedade discrimina um médico negro.

Igualdade de oportunidade e liberdade são suficientes para reduzir a desigualdade?

Não. Porque isso é cada um por si. E a sociedade tem de remendar aquilo que o capitalismo não nasceu para fazer. Cada um teve sua renda —parabéns, mérito, seu—, mas agora é preciso taxar e distribuir para quem se aposentou, é muito pobre ou muito jovem.

Na Suécia, a desigualdade era bem alta. O capital na Suécia está extremamente mal distribuído. Mas o governo diz: “Sua profissão está muito valorizada, você desempenha muito bem. Parabéns! Agora, eu vou taxar uma boa parte disso”. A riqueza taxada é usada para beneficiar quem ficou fora desse desenvolvimento. É assim que se constrói uma rede de proteção social.

O Brasil tem uma rede de proteção social?

Gastamos cerca de 20% do PIB com política social. Mas alocamos mal porque gastamos mais com transferências e menos com equalização de oportunidades.

E não adianta só fazer o remendo a posteriori se eu não dei condições iniciais similares. Sem nivelar o ponto de partida fica meio absurdo querer nivelar a chegada.

Qual o tamanho da proteção social brasileira?

Ela é mega. O dinheiro que vai por meio de FGTS, seguro desemprego, Bolsa Família, abono salarial e salário família equivale a 50% da soma da renda do trabalho de metade dos trabalhadores mais pobres do Brasil.

Se o governo focasse esses recursos nos mais pobres, eles teriam, em vez de 12, nada menos que 18 salários por ano. Ou seja, daria para aumentar em 50% a renda de metade desses trabalhadores mais pobres.

Quais os problemas com o sistema atual?

Nossa rede é generosa, mas não muito inteligente. Tem aspectos inteligentes do Bolsa Família e do FGTS. No seguro desemprego não tem nada inteligente.

O importante seria juntar todos os benefícios numa única rede, ao invés de ter um amontoado de programas.

Quais as consequências disso? 

De que adianta dar proteção fantástica para alguém que não teve uma boa escola e foi discriminado a vida toda? Claro, depois de tudo isso, é melhor fazer a transferência [de recursos]. Mas, para as próximas gerações, o importante é equilibrar as oportunidades. Na primeira infância tivemos avanços com a expansão de creches. Avançamos nas questões racial e de gênero, mas temos um longo caminho.

Como podemos sair de um ciclo de alto desemprego, queda de renda e baixo crescimento? 

Eu não acredito em crescimento intervencionista, em que o governo vai dar dinheiro para o pobre, que vai comprar um monte de coisas. É uma coisa keynesiana, que gera crescimento do nada.

A falta de crescimento vem do fato de a sociedade brasileira gerar um ambiente de negócios desfavorável, com uma política tributária incompreensível, uma política trabalhista complicada, uma Justiça que, no lugar de ser uma garantia dos meus contratos, é mais incerta que os contratos que eu faço.

É preciso estabilidade política, trabalhista, fiscal e legal para gerar crescimento. E  estar na vanguarda tecnológica. É a capacidade empreendedora e inovadora de milhões de pessoas que faz o país crescer.

Como diminuir a desigualdade quando não há crescimento?

Os 10% mais pobres do Brasil têm 1% da renda ou menos. Vamos combinar que é muito fácil proteger 1% da renda, logo, é possível a um país que sofre uma crise proteger os 10% mais pobres.

Talvez isso esteja acontecendo no Brasil hoje. Com programas de alimentação, que atacam os 10% mais pobres, a renda deles fica garantida.

Mas a pobreza tem aumentado no país.

São novos pobres que podem não ter hoje cobertura da rede de proteção social. Quem não era pobre, como um trabalhador semi-qualificado da indústria que perdeu o emprego, pode ter entrado na pobreza e, por isso, sofreu mais que os velhos pobres. Mas, se dermos aos novos pobres assistência técnica, oportunidade de criar negócios, uma inclusão produtiva, no menor sinal de crescimento eles vão sair da pobreza. No meio tempo, temos de transferir renda para eles.

Sem o SUS, é a barbárie

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O Brasil foi ousado ao levar assistência médica gratuita a toda a população

Dráuzio Varella

“Sem o SUS, é a barbárie”. A frase não é minha, mas traduz o que penso. Foi dita por Gonzalo Vecina, da Faculdade de Saúde Pública da USP, um dos sanitaristas mais respeitados entre nós, numa mesa redonda sobre os rumos do SUS, na Fundação Fernando Henrique Cardoso.

Estou totalmente de acordo com ela, pela simples razão de que pratiquei medicina por 20 anos antes da existência do SUS.

Talvez você não saiba que, naquela época, só os brasileiros com carteira assinada tinham direito à assistência médica, pelo antigo INPS. Os demais pagavam pelo atendimento ou faziam fila na porta de meia dúzia de hospitais públicos espalhados pelo país ou dependiam da caridade alheia, concentrada nas santas casas de misericórdia e em algumas instituições religiosas.

Eram enquadrados na indigência social os trabalhadores informais, os do campo, os desempregados e as mulheres sem maridos com direito ao INPS. As crianças não tinham acesso a pediatras e recebiam uma ou outra vacina em campanhas bissextas organizadas nos centros urbanos, de preferência em períodos eleitorais.

Então, 30 anos atrás, um grupo de visionários ligados à esquerda do espectro político defendeu a ideia de que seria possível criar um sistema que oferecesse saúde gratuita a todos os brasileiros. Parecia divagação de sonhadores.

Ao saber que se movimentavam nos corredores do Parlamento, para convencer deputados e senadores da viabilidade do projeto, achei que levaríamos décadas até dispor de recursos financeiros para a implantação de políticas públicas com tal alcance.

Menosprezei a determinação, o compromisso com a justiça social e a capacidade de convencimento desses precursores. Em 1988, escrevemos na Constituição: “Saúde é direito do cidadão e dever do Estado”.

Por incrível que pareça, poucos brasileiros sabem que o Brasil é o único país com mais de 100 milhões de habitantes que ousou levar assistência médica gratuita a toda a população.

Falamos com admiração dos sistemas de saúde da Suécia, da Noruega, da Alemanha, do Reino Unido, sem lembrar que são países pequenos, organizados, ricos, com tradição de serviços de saúde pública instalados desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Sem menosprezá-los, garantir assistência médica a todos em lugares com essas características é brincadeira de criança perto do desafio de fazê-lo num país continental, com 210 milhões de habitantes,
baixo nível educacional, pobreza, miséria e desigualdades regionais e sociais das dimensões das nossas.

Para a maioria dos brasileiros, infelizmente, a imagem do SUS é a do pronto-socorro com macas no corredor, gente sentada no chão e fila de doentes na porta. Tamanha carga de impostos para isso, reclamam todos.

Esquecem-se de que o SUS oferece gratuitamente o maior programa de vacinações e de transplantes de órgãos do mundo. Nosso programa de distribuição de medicamentos contra a Aids revolucionou o tratamento da doença nos cinco continentes. Não percebem que o resgate chamado para socorrer o acidentado é do SUS, nem que a qualidade das transfusões de sangue nos hospitais de luxo é assegurada por ele.

Nossa Estratégia Saúde da Família, com agentes comunitários em equipes multiprofissionais que já atendem de casa em casa dois terços dos habitantes, é citada pelos técnicos da Organização
Mundial da Saúde como um dos mais importantes do mundo.

Pouquíssimos têm consciência de que o SUS é, disparado, o maior e o mais democrático programa de distribuição de renda do país. Perto dele, o Bolsa Família não passa de pequena ajuda. Enquanto investimos no SUS cerca de R$ 270 bilhões anuais, o orçamento do Bolsa Família mal chega a 10% disso.

Os desafios são imensos. Ainda nem nos livramos das epidemias de doenças infecciosas e parasitárias e já enfrentamos os agravos que ameaçam a sobrevivência dos serviços de saúde pública dos países mais ricos: envelhecimento populacional, obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, degenerações neurológicas.

Ao SUS faltam recursos e gestão competente para investi-los de forma que não sejam desperdiçados, desviados pela corrupção ou para atender a interesses paroquiais e, sobretudo, continuidade administrativa. Nos últimos dez anos tivemos 13 ministros da Saúde.

Apesar das dificuldades, estamos numa situação incomparável à de 30 anos atrás. Devemos defender o SUS e nos orgulhar da existência dele.

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.