Pandemia é chance para país desenvolver tecnologia de saúde, diz Monica de Bolle

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Para economista, Brasil tem potencial para ser referência em mundo no qual convivência com vírus será permanente

Eduardo Cucolo – Folha de São Paulo, 15/03/2021

Mundo pandêmico

A realidade que a gente tem pela frente não é uma realidade em que vai poder declarar um fim da pandemia. A fase aguda da pandemia vai passar, a gente não vai ficar no estágio em que está agora, mas esse estado de alerta permanente vai continuar conosco. Isso tem implicações em como os países, as pessoas e a economia vão se adaptar. Mercado de trabalho, ambiente de trabalho, aglomerações de todos os tipos, como eventos esportivos, viagens, todas essas coisas estão alteradas, e a gente não vai voltar ao que tinha antes.

No segundo semestre de 2021, a gente vai relaxar medidas restritivas, medidas sanitárias, em várias partes do mundo. Mas, supondo que todas essas vacinas deem conta dessas variantes, as que existem e as que vão surgir, a gente só consegue ter um contingente no mundo vacinado em quantidade suficiente para conseguir respirar com algum alívio, com certo otimismo, lá para o final de 2022.

Eu passei os últimos dois anos fazendo uma série de especializações em medicina em Harvard e calhou da pandemia acontecer. Para mim, pela natureza desse vírus, ele vai permanecer entre nós. A gente vai ter de se adaptar a conviver com isso, passar por surtos, por várias vacinas que vão ter de ser atualizadas recorrentemente e continuar com algum grau de cautela nas nossas vidas. Você vai ter sempre um repositório de Sars-Covid-2 em algum lugar do mundo sofrendo mutações.

Mudança na economia

O setor de serviços vai ter de se reinventar. Já havia uma pressão para se pensar novos modelos de trabalho e na pandemia isso teve de acontecer. Você pode pensar pelo lado negativo, algumas pessoas vão perder permanentemente os empregos que tinham porque eles vão desaparecer. Por outro lado, há mudanças que geram uma flexibilidade maior, muitas pessoas não voltarão aos escritórios, e isso gera um ganho de eficiência enorme.

Para um país poder se sair melhor que outro vai ter de investir muito na área de saúde. Em tudo: testagem, equipamento de proteção pessoal, capacidade de vigilância genômica, que requer vários laboratórios com equipamentos de ponta e uma rede que converse entre si e esteja rastreando no país inteiro.

Nova agenda para o Brasil

A agenda para mim no Brasil hoje, se tivesse um governo com visão estratégica, seria a saúde pública. É onde a gente tem uma vantagem natural, pelo sistema de saúde que a gente tem.
Você vê a Índia exportando vacina para muitos países e também exportando medicamente, produtos químicos. A China, a mesma coisa. A Rússia está tendo o mesmo tipo de posicionamento. Se você olhar para esses países [do Brics], tirando o B [de Brasil], o resto dos Brics estão todos fazendo esse reposicionamento. O Brasil teria uma posição muito privilegiada para fazer isso. Já fomos grandes produtores de medicamentos e vacinas, mas abrimos mão dessa vantagem.

A agenda de longo prazo deveria ser essa. Dessas coisas começam a vir inovações, tecnologias, inserção global, capacidade de estar mais envolvido nas cadeias de produção globais, tudo pela via da saúde pública.

Quais são as reformas que a gente precisa fazer para alcançar esses objetivos? Aí você faz as reformas com esses objetivos em mente. Vamos fazer uma reforma administrativa que atenda a esse objetivo, uma reforma tributária de modo a alcançar esse objetivo.

Estados Unidos da América

Colocar a saúde pública no centro das discussões faz com que essas oportunidades fiquem mais visíveis e você começa a mudar um pouco o debate no Brasil. Aqui nos EUA, vai acontecer a mesma coisa. O setor de saúde aqui tem uma precariedade que o Brasil não tem. Tem muitas escolas de medicina de ponta, mas o sistema de saúde vai ter de ser reinventado.

O envelhecimento populacional é outro aspecto importante do porquê investir em saúde pública. E tem as sequelas da própria Covid. O número de pessoas que vão precisar dessa área para continuar sendo produtivas… Algumas vão ter sequelas para sempre, que as torna dependentes de centros de reabilitação.

Aqui nos EUA, todos os hospitais têm centro de reabilitação para quem teve Covid. A gente já tinha essa realidade de envelhecimento populacional somada a uma carga de doenças crônicas cada vez maior. Agora, além disso, tem o efeito que vem com as sequelas da Covid.

A triste solidão da educação brasileira, por Débora Garofalo.

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Precisamos discutir um processo qualificado, igualitário e comprometido

Débora Garofalo
Mestra em educação, é professora na rede pública de São Paulo; em 2019, foi a primeira sul-americana a disputar o Global Teacher Prize, sendo considerada uma das dez melhores professoras do mundo

Folha de São Paulo, 18/03/2021

Temos vivido tempos difíceis na educação. O agravamento da pandemia e a ausência de uma coordenação do Ministério da Educação para os problemas em diferentes regiões do nosso país fazem com que uma das queixas recorrentes dos educadores seja lidar com a falta de infraestrutura, além do sentimento de solidão na sala de aula —não observado apenas neste ambiente, mas sim em todo o processo educativo.

Com o início da pandemia, vimos a educação parar no chão da escola. O que pensávamos que duraria poucas semanas foi substituído por um longo e angustiante período que já soma um ano, com consequências graves à aprendizagem de crianças e jovens e nos colocando no topo do ranking dos países que não conseguem controlar a pandemia e com o maior tempo de escolas fechadas. A epidemia de Covid-19 não só aumentou as desigualdades, mas a evidenciou de uma maneira brusca.

A escola não pode ser vista apenas como um local para aprendizagem. Muitas vezes ela é a extensão da casa dos estudantes, que cumpre e integra a rede de proteção da infância e adolescência nos papéis de garantir alimentação, convívio social, assistência médica e psicológica; ou seja, é reconhecida a necessidade de caminharmos para uma educação com valores integrais.

Há um ano com aulas mediadas por tecnologia ou distribuição de materiais didáticos, podemos destacar que a educação brasileira está solitária. Assistimos à inércia do MEC e à ausência de orientações para aulas no formato híbrido, além da falta de ações para o retorno presencial seguro e o fomento a políticas públicas, como o investimento em programas como o Educação Conectada. Fatores que deveriam ser prioridade para a elaboração de diretrizes básicas, com o objetivo de orientar redes e governos.

O novo Fundeb aprovado no final do ano passado, não será suficiente para superar os desafios e assegurar o retorno seguro e híbrido das aulas presenciais. Constantemente sofremos com ameaças de corte na pasta da Educação, mostrando ausência de diálogo e prioridade no setor. Erros que se somam ao passado recente e que novamente afetarão milhares de crianças e jovens.

No centro do processo, deve-se destacar o protagonismo docente, que materializou o planejamento e a gestão das ações nas unidades escolares, mostrando o importante papel social de construir saberes e o desenvolvimento integral que fundamenta a sociedade. Para planejar e executar as reaberturas das unidades escolares são necessários investimentos e, mais do que isso, fomentar diálogos com o território educativo e com quem faz a educação na ponta —gestores, professores e estudantes, com construção de protocolos locais, constituídos de maneira democrática.

Problemas educacionais também são problemas de desigualdade social. Promover a inclusão e a democracia digital a professores e estudantes é essencial para criar vínculos e pertencimento com o cognitivo, além da necessidade de ressignificar a educação. Caminhar para a educação híbrida é essencial para atender e cumprir os protocolos de saúde e de distanciamento social para o retorno gradual e, em paralelo, contribuir para a recuperação da aprendizagem.

Um dos maiores aprendizados desta pandemia é o de que nada substitui as aulas presenciais. E, para reinventar o processo educacional, é necessário se guiar de ações pertencentes, que envolvam a comunidade escolar e contemplem o risco de evasão —muitos jovens foram obrigados a emergir no mundo informal do trabalho. Não só a economia deve ser priorizada, mas também a educação.

Conseguimos descobrir a vacina para a Covid-19. Agora é preciso reunir esforços para transformar e priorizar a educação brasileira. O caminho passa pelo trabalho coletivo, escuta ativa, investimentos relevantes e aposta na educação como transformação da sociedade. Não basta apenas tecer discussões sobre voltar ou não, precisamos discutir a partir da crise: como não termos um processo isolado, mas sim qualificado, igualitário, comprometido com a aprendizagem e com políticas factíveis para todos.

Desagregação familiar, pandemia e neoliberalismo

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A pandemia está desnudando as grandes dificuldades existentes em todas as sociedades, em todas as nações estamos percebendo desafios assustadores, desequilíbrios emocionais, desagregações familiares, angústias e preocupações crescentes, exigindo políticas públicas para reconstruir as convivências sociais e a reconstrução dos laços afetivos e emocionais, num momento marcado pelas políticas sociais se fragilizando e o pensamento neoliberal, mesmo perdendo forças, ainda é hegemônico.

A pandemia está mostrando as pobrezas das sociedades, os desajustes econômicos e sociais estão num crescente, a consolidação do individualismo, da concorrência desigual, do crescimento do mito da meritocracia, medos e desesperanças que levam os indivíduos às depressões e às ansiedades, muitos deles mais fragilizados e desequilibrados recorrem ao suicídio, como forma de fuga das desesperanças, acreditando que este caminho o levará para acalmarem seus sentimentos mais íntimos e pessoais.

As famílias estão desagregadas, os lares estão devastados pelos desequilíbrios financeiros, as perspectivas são preocupantes, a pandemia está desnudando as estruturas. Os seres humanos estão no limite, de um lado, percebemos desequilíbrios emocionais centradas na ausência da inteligência emocional e, de outro lado, as perspectivas financeiras são assustadoras, as alterações no mundo do trabalho geram preocupações crescentes, gerando conflitos internos, conflitos familiares e medos generalizados.

Neste ambiente, percebemos o crescimento de movimentos fundamentalistas e religiosos, que estimulam os cultos e os rituais exteriores, marcados pelas interações centradas em falas superficiais e bem orquestradas, que estimulam o empreendedorismo e os negócios, marcados pela busca do enriquecimento, pelo entesouramento e o crescimento da meritocracia. Estes movimentos crescem de forma acelerada, transformando antigos espaços fechados de cinemas ou estruturas industriais desativadas de cidades médias e grandes em locais de cultos e louvações religiosas.

O mundo do trabalho passa por alterações crescentes, as atividades impactadas pelas tecnologias não mais se restringem aos trabalhos repetitivos e mecanizados, impactando para variadas atividades profissionais liberais, com isso, os movimentos de degradação dos trabalhadores da classe média, gerando perdas de rendas e das riquezas, fragilizando a classe média, cuja importância na sociedade sempre foi relevante e imprescindível.

Destacamos ainda, a fragilização das famílias, muitas degradadas por problemas financeiros e monetários, sem fontes de recursos adicionais acabam abandonando os convênios médicos e as escolas particulares, impactando vários setores da economia, fragilizando escolas e setores de saúde que perdem recursos e precisam fechar suas instalações ou aceitar promessas pouco atraentes pelos grupos maiores e mais estruturados. As famílias, acossados pelas crises financeiras, se entregam aos empregos existentes e, nesta busca acelerada pela sobrevivência com alguma dignidade, se percebem desintegrados, seus filhos cresceram, os espaços de convivência familiar se reduziram, os recursos monetários diminuíram e as surpresas negativas crescem, gerando decepções, medos e desesperanças.

Destacamos o incremento das drogas e as más companhias, que geram preocupações dos pais e dos familiares, crianças que cresceram e se transformaram em adolescentes, cheios de conflitos e desequilíbrios, criando constrangimentos com os pais, muitos deles se entregam aos pequenos furtos para bancar seus consumos internos, muitos, mais audaciosos e arrojados, começando negócios maiores, se aventurando no mundo das drogas e da delinquência. Estes relatos são naturais na sociedade contemporânea, onde as crises dos valores crescem aceleradamente, onde as religiões perdem a capacidade de construir novos espaços de sociabilidade, onde as escolas se limitam a construção de consumidores e os mercados se reduzem a locais do consumismo, da vaidade e de hedonismo.

No mundo da pandemia, as realidades são destrutivas, as famílias se entregam a conflitos abertos, os divórcios crescem de forma acelerada, as violências nos lares aumentam, gerando conflitos abertos entre pais e filhos, levando a assassinatos, agressividades e violências, as famílias perderam os laços de solidariedade, de respeito e de construções sociais, emocionais e afetivas.

A desagregação das famílias está impactando fortemente nas escolas e nas instituições de ensino, de um lado percebemos o abandono dos adolescentes pelas famílias, que mergulham nas atividades cotidianas de trabalho e justificam suas atitudes de descaso e de abandono, para trabalhar e conseguir acumular recursos monetários para garantir escolas de qualidade e a compra de bens, produtos e mercadorias para satisfazerem os desejos e as necessidades dos filhos. Os resultados imediatos estão sendo sentidos nos anos posteriores, desequilíbrios crescentes, desajustes emocionais, imaturidades e inseguranças, adultos imaturos e incertos sobre os rumos futuros e, muitas vezes, altamente dependentes dos pais e de seus familiares.

Neste momento de degradação, percebemos a hegemonia da ideologia neoliberal, centrada nos conceitos da redução do papel do Estado na sociedade, visto como o grande agente gerador de degradação e da putrefação da sociedade. Pelo pensamento neoliberal, quanto menor intervenção do Estado na sociedade, melhor para o crescimento econômico que, segundo este pensamento, os grandes indutores do desenvolvimento devem estar sempre centrados nos mercados e nos investimentos privados, sempre mais eficientes e produtivos para a coletividade.

O pensamento neoliberal se difunde pelos pensadores do capital, indivíduo ou pessoas que pensam através dos preceitos do capital, difundindo para a toda a coletividade as teses da aversão ao intervencionismo do Estado. Defendendo a competição e a busca crescente da concorrência, como a única forma de estimular o sistema ao desenvolvimento. Para o neoliberalismo os investimentos acreditam ou difundem para a coletividade que o grande responsável pelo desemprego da sociedade é o alto emaranhado de leis e regras que limitam o empreendedorismo, diante desta análise, a forma de estimular o mercado de trabalho é a redução dos benefícios trabalhistas, reduzindo os custos trabalhistas e estimulando novos investimentos. Seguindo estes preceitos, em novembro de 2017 a Reforma Trabalhista entrou em funcionamento e, ainda não gerou todos os benefícios para a coletividade, as promessas foram inúmeras, mas as realizações não aconteceram. Hoje o Brasil amarga mais de 14% de desempregados, se somando os subempregados e os desalentados, os números ultrapassam mais de 30%.

O mundo contemporâneo vive momentos de grandes inquietações, medos e desesperanças, as famílias sentem os impactos econômicos, políticos e culturais, levando as pessoas a instabilidades e incertezas crescentes, que demandam atenções maiores para evitar constrangimentos e convulsões em todos os países. O predomínio do econômico é um grande equívoco da sociedade, o enfoque do lucro e do enriquecimento geram cobranças crescentes, levando os indivíduos a desequilíbrios emocionais e psicológicos, levando a sociedade reconstruir os laços de afetividade e solidariedade, sem estes, o caos pode crescer e os desajustes conjunturais tendem a crescerem e se tornarem estruturais.

Vivemos momentos de grandes dificuldades em todos os quadrantes do mundo, os desafios são crescentes, as desigualdades crescem de forma acelerada, as famílias estão desestruturadas, o consumo e a acumulação estão se transformando em uma religião, a política está sendo criminalizada, os setores financeiros dominam a sociedade e adota sua agenda, defendendo seus interesses imediatos, diante isso, a sociedade precisa repensar seus interesses e preservar os valores que fazem dos seres humanos um indivíduo melhor e mais solidário, sem repensarem nossos caminhos e as escolhas, estaremos se afastando dos verdadeiros valores que constroem uma coletividade melhor.

Desigualdades

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Um dos grandes legados da pandemia que assola a sociedade brasileira é o quadro de desigualdades generalizadas com impactos para todos os grupos sociais, políticos e econômicos, estamos num momento de inflexão, as escolhas existentes podem criar novas oportunidades para o país ou pode contribuir para perpetuar desequilíbrios crescentes e estruturais que, sem uma resolução plausível, podem levar o país ao colapso, com grandes dificuldades de governabilidade e uma convulsão social, que podem levar a sociedade a fragilização democrática.

Neste momento de grandes desigualdades, a sociedade brasileira está começando a conhecer as entranhas das dificuldades de grande parte da população, pessoas que vivem sem proteção do Estado, sem empregos dignos e altamente degradados, sem acesso a educação de qualidade, sem atendimentos médicos e hospitalares e de proteções sociais. A pandemia está desnudando a desigualdade nacional, as dificuldades de acesso as tecnologias, os instrumentos de interação social são precários, as deficiências do ensino remoto se mostram mais claras e as pessoas estão morrendo pela falta de oxigênio, vivemos uma verdadeira tempestade perfeita, mostrando incompetência e degradação moral.

A pandemia está nos mostrando o tamanho da economia informal nacional, estamos percebendo a degradação do mercado de trabalho, onde milhões de trabalhadores estão rastejando em empregos precários e degradantes, sem proteção social, sem benefícios trabalhistas, sem rendas e sem perspectivas. Numa sociedade que sonha com a modernidade e com o desenvolvimento econômico, é imprescindível garantir para seus cidadãos condições dignas de sobrevivência, ainda mais num momento de crescimento dos desequilíbrios sociais, das incertezas econômicas e das degradações políticas e culturais. O mercado de trabalho está degradado, sem um acordo entre todos os agentes econômicos e na construção de consensos políticos consistentes, a economia nacional tende a continuar rastejando em recessões e depressões continuadas.

Outro ponto interessante que deve ser destacado, é a grande incapacidade dos governos de construir novos espaços de solidariedade, de confiança e de credibilidade, precisamos desenvolver eixos de empatia entre as elites econômicas e políticas com a população, que sofre de formas diferenciadas e aumenta a insatisfação social que podem criar conflitos que poderiam criar constrangimentos para toda a coletividade. A sociedade contemporânea prescinde de confiança e de credibilidade, sem elas o mundo dos negócios perde legitimidade e reduzem os investimentos produtivos, sem estes a economia não se reproduz e os indicadores macroeconômicos se degradam. Sem confiança na sociedade, os atores econômicos e sociais tendem a fragmentação e ao descontentamento com a classe política, levando ao crescimento das instabilidades e das incertezas, possibilitando o surgimento de outsiders, cujas consequências são desconhecidas.

Vivemos inúmeros dilemas contemporâneos, as instabilidades crescem de forma acelerada e a degradação política aumenta e retroalimenta as instabilidades na estrutura econômica e produtiva. Necessitamos de líderes capacitados e conscientes das dificuldades contemporâneas, sem resolvermos os desequilíbrios políticos e acalmarmos os conflitos que cresce em todos os momentos, não conseguiremos reconstruir as bases da economia nacional e as dificuldades sociais tendem a prevalecer e os conflitos podem ser avolumar. A pandemia nos mostrou as pobrezas materiais e as limitações espirituais, os desafios são imensos e os espaços de reconstrução nacional são reduzidos, neste momento novas lideranças devem aparecer, mostrando os rumos, mostrando as dificuldades e orientando para a reconstrução de novos espaços. Como nos mostrou o primeiro-ministro Winston Churchill britânico, um dos maiores líderes do século XXI: “A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações”.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 17/03/2021.

‘Desertificação da política é o legado da Lava Jato’, diz cientista político

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Para cientista político, operação ‘morre’ pelos próprios erros, como ações ‘messiânicas’ e querer ‘salvar o País’
Luiz Werneck Vianna

Wilson Tosta, O Estado de S.Paulo – 13/03/2021

Rio – Depois que o ministro Edson Fachin, do Suprema Tribunal Federal, anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e considerou a 13.ª Vara Federal em Curitiba incompetente para julgá-lo, o cientista político Luiz Werneck Vianna afirmou ao Estadão que a Lava Jato “morreu de morte morrida”. Para o professor da PUC-Rio, a ação dos procuradores da força-tarefa e do então juiz Sérgio Moro tinha objetivo “messiânico” – mudar o País pelo Código Penal –, durou demais e deu errado. Vianna descartou ainda a possibilidade de Moro ser candidato à Presidência, e disse que o combate à corrupção será tema “lateral” em 2022.

Que balanço faz desse processo, com a decisão de Fachin?
Demorou muito. Não é a primeira vez que a Justiça tarda e falha. Mas o fato é que a decisão é inatacável do ponto de vista jurídico. A Lava Jato não podia assimilar todos os casos de corrupção que estavam ocorrendo no País. Desde o começo, foi um erro monumental, em que juízes e procuradores jovens, eu diria provincianos, assumiram o papel de salvadores do País. Andaram estudando a operação que transcorreu na Itália (Mãos Limpas) e aplicaram aqui. Fizeram uma leitura descontextualizada da situação italiana. E mobilizaram a mídia como peça de sustentação. Acho que foi um erro.

Mas tudo que o STF está revendo foi aprovado pelo próprio STF. Por que a mudança agora?
Não creio que tenha sido uma manobra conspiratória. A Lava Jato… ela durou demais. Nasceu de uma concepção abstrusa, em que um pequeno núcleo de procuradores e juízes assumiu um papel messiânico, de salvação da política.

Querer fazer política pelo Judiciário é um caminho ruim. E foi o que a “República de Curitiba” tentou. Pelo processo formal, os processos não deveriam ser vinculados a Curitiba, mas à Justiça Federal. Houve um erro humano.

Desqualificou-se a política, os partidos, e ficamos em um deserto. O legado da “República da Lava Jato” é a desertificação da política.

Qual foi o ponto de virada, no qual se notou que a Lava Jato estava indo além do que poderia?
Foi um processo. Começa com a revisão da política da chamada condução coercitiva. Havia as prisões demoradas, a que eram submetidos os indiciados nas ações, ações cercadas de espetaculosidade. A mídia participou disso, de uma forma inteiramente franca e aberta. Não existiria “República de Curitiba” sem a mídia.

Essas prisões prolongadas muitas vezes foram confirmadas pelo Supremo…

Mas de outras vezes, não. A sociedade também não estava atenta ao que se passava, na medida em que a luta contra a corrupção encontrou guarida na alma popular. Encontrou legitimidade nos anseios escondidos, ocultos, da sociedade.

Os integrantes da Lava Jato atendiam a uma demanda social?
É, eles foram levados à desgraça pelo sucesso. Foi um grande sucesso, não é? Chegou-se até a especular uma candidatura de Moro a presidente da República.

Isso está afastado?
Está. Moro sai desse processo inteiramente desqualificado como juiz. Ele foi parcial.
Que saldo fica?

O saldo primeiro, para mim, é o de que não se deve combinar ação política com ação judiciária. São duas dimensões: a política é uma coisa, a Justiça é outra. Houve essa combinação esdrúxula, e deu no que deu.

Mas isso, de certa forma, continua, não? Porque agora, com a decisão de Fachin, a Justiça também interveio na política…

Ah, continua. Isso agora faz parte do nosso DNA. A política se judicializou no Brasil. Por falta de política, falta de partido. Não se veem medidas judiciais interferindo na questão sanitária brasileira? Na compra de vacina? No lockdown? Isso foi trazido para a política pelos erros da própria política. E agora dificilmente sai.

Quais são as consequências do retorno de Lula à política?
O fato é que, para escapar da polarização extremada, Bolsonaro e Lula, seria preciso que as forças do centro tivessem outra capacidade de interferir nos acontecimentos. Mas o centro está fraco também!

Existe centro na política, com chances de sucesso eleitoral?
Não sei se o centro vai se reconstituir. Ele pode se reconstituir para ter um papel marginal. Penso que, se o PT tiver maior lucidez, não vai ser o protagonista da sucessão. Seria, nessa minha projeção utópica, o construtor de uma frente de centro-esquerda. Ele participaria, evidentemente, ativamente. Agora, sem o papel principal. É possível? Ele não tem história disso. Sempre procurou ser o protagonista. E ficou claro, no discurso de Lula, que isso vai persistir.

Voltando à Lava Jato: a postura messiânica do Ministério Público e da Justiça acabou?
A Lava Jato está acabada. Morreu de morte morrida.

Não foi de morte matada?
Não.

Não foi o STF que matou?
Pode ter sido um golpe de misericórdia, mas estava morta. Passou da conta. Foi um projeto messiânico de salvação do Brasil pela reparação da criminalidade, pela punição, pela extirpação do crime. Isso é uma proposta fora de sentido. Os males do Brasil não são esses. Tem corrupção, sempre teve. É necessário que se combata a corrupção de outra forma, não de uma forma que comprometa todo o tecido político, como se fez. Queriam salvar o País por mecanismos judiciários, pelo Código Penal. Não é por aí.

Em 2022, um candidato com a bandeira do combate à corrupção seria então enfraquecido?
Olha, a bandeira da luta contra a corrupção não fará parte da próxima sucessão eleitoral de forma protagônica. Vai ser um tema adjetivo, lateral.

Mulheres criam filhos, acumulam plantões e limpam a casa na folga, por Drauzio Varella

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O que a sociedade oferece em troca dessa generosidade e dedicação? Salários baixos e condições precárias

Drauzio Varella – Folha de São Paulo, 14/03/2021

Deu no que deu. É a crônica de uma tragédia anunciada: caminhamos para perder 3.000 brasileiros por dia.

Não temos estrutura hospitalar para dar conta dos que procuram os pronto-socorros e superlotam nossas enfermarias e UTIs, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, passando por São Paulo, o estado mais rico.

É a consequência das ações e atitudes da autoridade máxima do país, que desde o início da epidemia fez de tudo para combater as medidas de prevenção, da irresponsabilidade demagógica de muitos governadores e prefeitos incapazes de impor restrições à movimentação nas cidades nos momentos cruciais e do egoísmo fraticida dos nossos conterrâneos que decretaram por conta própria o fim da epidemia, comemorado com desfaçatez perversa nas festas e aglomerações.

Quem teve o privilégio de nunca haver entrado numa UTI com todos os leitos ocupados não faz ideia do inferno vivido pelas equipes de plantão. As emergências e as solicitações são ininterruptas, atender a todas é humanamente impossível quando há 20 ou 30 pacientes em estado crítico e um punhado de
profissionais para cuidar deles.

Enquanto todos se mobilizam para socorrer um paciente em parada cardíaca, outro fica mais grave porque o aparelho de ventilação mecânica deixou de ser ajustado, ao mesmo tempo em que uma senhora inconsciente aspira o próprio vômito e o monitor de um dos leitos dispara o alarme para indicar queda da pressão arterial.

Quem já viveu situações como essas sabe que há horas nas quais nos sentimos tão estressados e impotentes, que dá vontade de sair correndo para nunca mais voltar.

A demanda crescente por plantonistas nas UTIs leva à contratação de profissionais que nem sempre receberam treinamento adequado. Para piorar, os salários baixos obrigam muitos a trabalhar em mais de um hospital.

A insegurança financeira, o medo de contrair o vírus e infectar os familiares, o cansaço físico, a sucessão de noites mal dormidas, a frustração por não conseguir realizar o melhor atendimento e o convívio com a morte onipresente causam impactos psicológicos que nem todos conseguem suportar.

Outro dia, ouvi o desabafo de um colega que, ao sair de um plantão no qual precisou dobrar o turno, para cobrir o horário de um companheiro que havia que havia morrido de Covid, passou por um bar na Vila Madalena lotado de gente sem máscara. “Senti vontade de descer do carro e esbofetear um por um aquele bando de imbecis.”

Nesta semana seguinte à do Dia da Mulher, quero fazer uma homenagem àquelas que estão na linha de frente do atendimento de pacientes com Covid. São enfermeiras, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, farmacêuticas, faxineiras, psicólogas, nutricionistas, médicas, atendentes e outras mulheres que constituem no mínimo 60% a 70% da força de trabalho dedicada aos cuidados com os doentes e seus familiares. Não fossem elas, o que seria de nós?

Essas figuras anônimas criam filhos sozinhas, gastam duas horas para ir e mais duas para voltar do trabalho, acumulam plantões em outras unidades de saúde para cobrir as despesas da família, cuidam das lições dos filhos, da saúde dos pais e ainda cozinham, fazem compras e limpam a casa nas horas em que deveriam descansar.

Quando vejo prestarem homenagens aos “médicos da linha de frente”, acho merecido, é claro, mas sinto falta do reconhecimento a essa legião de mulheres que administram os medicamentos prescritos, dão banho nos acamados, levam ao banheiro os que ainda conseguem andar, trocam as roupas de cama e as fraldas dos incontinentes, dão comida na boca, consolam os que se desesperam, seguram as mãos dos aflitos e ainda amparam os parentes inconformados, alguns dos quais transmitiram o vírus ao ente querido.

O que a sociedade oferece em troca dessa generosidade e dedicação aos mais frágeis? Salários baixos, condições precárias de trabalho e de assistência social. Quando perdem a vida por causa do vírus contraído no emprego, os filhos e os que dependem financeiramente delas ficam desprotegidos.

O que leva tantas mulheres a exercer uma profissão que lhes impõe tamanhos sacrifícios, renúncias, tristezas e frustrações para cuidar de pessoas que podem lhes transmitir um vírus capaz de pôr em
risco a vida delas e das pessoas que mais amam é um dos mistérios da alma feminina.

Degradação Econômica

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A pandemia está confirmando todas as previsões catastróficas feitas anteriormente pelos especialistas, vivemos num momento de degradação em todas as áreas, culminando no ambiente sombrio de desesperança e de incertezas. Em pleno século XXI, onde as tecnologias comandam a sociedade, aproximam as pessoas e estimulam a comunicação, estamos envoltos em medos, instabilidades e na ausência de empatia, nos sentimos inseguros, amedrontados e carecemos de lideranças e direcionamentos.

Recentemente, o governo divulgou os dados do produto interno bruto do ano passado, uma queda de 4,1%, pior indicador desde o começo dos anos 90, com sérios impactos sobre a sociedade, aumento no desemprego, queda do consumo, redução do investimento produtivo e degradações sociais. Os dados nos mostram que a economia brasileira está devastada, sem capacidade de recuperação, exigindo atuação de todos os agentes econômicos, num verdadeiro acordo entre todos os grupos sociais, deixando as críticas de lado e construindo novos consensos políticos, sem estes os números da degradação tendem a piorar.

A gestão econômica é caótica, os resultados positivos estão sempre adiados, as promessas de emprego não se efetivam, o crescimento do subemprego é patente, as esperanças do empreendedorismo crescem, mas num ambiente de negócio cada vez mais degradado, as esperanças inexistem. Os dados econômicos mostram uma piora em muitos setores produtivos, levando muitas empresas a deixarem o mercado nacional, como grandes conglomerados internacionais que estão de saída, como a Ford, a Sony, a Mercedes e a Audi, aumentando o desemprego, a informalidade e espalhando um caos generalizado.

Os dados divulgados recentemente mostram ainda, que a queda seria mais acentuada se o governo não atuasse mais efetivamente para estabilizar a queda na renda agregada, adotando políticas públicas como o auxílio emergencial, o programa de apoio às pequenas e médias empresas (Pronampe), o programa de preservação de empregos formais e a recuperação da economia internacional, cujos impactos foram positivos. Mais uma vez devemos destacar que, sem políticas públicas efetivas, transparentes e universais, não conseguiremos sair deste imbróglio econômico, social e político.

A pandemia desnudou as condições sociais existentes na sociedade brasileira, a pobreza se mostrou mais nítida e evidente, as limitações econômicas ficaram mais expostas e passou a exigir, de forma estratégica, a reconstrução do tecido industrial. Vivemos um momento de inquietação e incertezas, marcados pelas degradações sanitária e econômica, os investimentos em ciência e em tecnologia são fundamentais e inadiável, como forma de garantir a soberania nacional, reconstruir as bases da indústria nacional, estimulando a cooperação entre os setores produtivos e capacitando os trabalhadores para empregos mais dignos e decentes, dinamizando as demandas internas e incrementando a produtividade da economia.

Precisamos construir um projeto de nação, ressuscitando as ideias de desenvolvimento econômico, observando exemplos exitosos de outras economias, reorganizando os setores produtivos, estimulando os setores mais dinâmicos da economia nacional, reconstruindo os grupos mais vulneráveis da sociedade, investindo em ciência e tecnologia, deixando de lado discursos de curto prazo e construindo novas narrativas contemporâneas. Estamos num momento decisivo, precisamos de sinergias entre todos os setores, capacitando a sociedade para os embates que crescem numa sociedade marcada por instabilidades, inseguranças e incertezas generalizadas.

No momento necessitamos construir confiança e credibilidade, sem estes não teremos investimentos produtivos, gerando as sementes de crescimento da economia e contribuindo para o desenvolvimento econômico. Os indicadores divulgados mostram que, neste momento estamos, sem confiança, sem projeto econômico e sem consenso político, o país ruma rapidamente para o caos, para a degradação econômica e para a convulsão social.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno de Economia, 10/03/2021.

Profissão, qualidade e desenvolvimento econômico

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A sociedade vem passando por grandes transformações nos últimos anos, com impactos generalizados para toda a comunidade, levando as empresas a repensar seus modelos de negócios, os indivíduos estão perdendo os espaços no mundo do trabalho e os governos estão buscando novos instrumentos de desenvolvimento, com isso, numa sociedade em constantes transformações todos os agentes econômicos se mostram ansiosos e assustados com estas mudanças.

Estamos vivendo a quarta revolução industrial, desde o final do século do XVIII, o mundo passou por mudanças assustadoras, as estruturas foram destruídas e outras formas de sobrevivência nasceram e desenvolveram, desde então os indivíduos perderam seus eixos de comparação, estimulando as capacitações e qualificações constantes como forma de sobrevivência. Estas alterações impactam para todos os indivíduos, as empresas e o Estado Nacional, construindo novas concorrência e novos espaços de competitividade, reduzindo momentos de ociosidade e aumentando o tempo de qualificação, deixando uma diminuição crescentes das horas em convivência familiares.

Com o incremento da revolução industrial, novas ocupações e profissões surgem para impulsionar o desenvolvimento industrial, exigindo novos escolas e universidades na capacitação dos profissionais, surgindo novos cursos e modelos de negócios, impulsionando novos negócios na educação, crescendo e se consolidando na esteira das novas demandas do mercado do conhecimento. Novas ciências nascem neste intuito de estimular a consolidação das pesquisas e reflexões sociais, exigindo professores qualificados e remunerados, diminuindo até acabar com modelos de ensinos nas casas e nas residências, crescendo os investimentos em escolas públicas e particulares, se transformando a educação em um negócio muito atrativo e interessante para os donos do capital.

Setores educacionais crescem e impulsionam novos investimentos e atraindo setores privados e garantindo espaços na construção de conteúdos e metodologias. Estes investimentos contribuíram para o crescimento de estruturas educacionais e garantindo empregos e remunerações para professores e profissionais da educação, impulsionando novos setores que estão integrados para o setor educacional, angariando vários investimentos correlatos e deixando claros a importância dos setores educacionais e formação profissional.

Os setores educacionais foram fundamentais para impulsionar o crescimento das economias, levando economias ao caminho do desenvolvimento econômico, capacitando profissionais e contribuindo para o bem-estar social da sociedade, melhorando o salário da população, incrementando a renda, o consumo de todos os grupos sociais.

Nos últimos anos, ao analisar o caso brasileiro, perdemos o incremento acelerado de investimentos em setores educacionais, desde que o governo estimulou o crescimento destes setores, surgindo novos fundos de investimentos, criando grandes grupos econômicos, que despejaram recursos na aquisição de escolas, faculdades e universidades em todas as regiões do país. Estes investimentos contribuíram para aumentar a inclusão de estudantes nas universidades. Devemos destacar ainda, que este crescimento deve ser creditado pelas políticas públicas do governo federal, com investimentos maciços do setor educacional, onde devemos destacar o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o crescimento do FIES, que abriu espaços para negros, pobres e marginalizados socialmente a entrarem nas universidades. Além desta política, devemos destacar o incremento do governo federal de novas universidades federais em variadas regiões e o incremento dos institutos federais, criando novos campis em todas as comunidades, contratando professores e garantindo espaços para cidadãos que, sem estes investimentos, dificilmente teríamos condições de ter acesso ao ensino superior ou cursos de nível técnico de qualidade e excelência.

Estes movimentos foram interessantes e aumentaram a qualificação da população, garantindo muitos grupos sem recursos financeiros e condições de demandar espaços no ensino superior, destacando nomes de relevo da intelectualidade e de empreendedores sociais, tais como destacamos Silvio Almeida, Djamila Ribeiro, autora dos livros “Lugar de fala”, “Quem tem medo do feminismo negro?” e “Pequeno manual antirracista”, dentre outros livros. Devemos destacar o intelectual e professor Silvio Almeida, advogado, professor universitário e jurista, autor dos livros “Racismo Estrutural” e “Racismo sem racistas”. Estes autores que fazem sucesso nas discussões contemporâneas só podem ser compreendidos através de políticas públicas que angariaram espaços para muitos negros e indígenas nos bancos escolares e das universidades, aumento a inclusão nas universidades públicas e fortalecimento a democracia, dando espaços para várias vozes e construindo novas oportunidades de ascensão social.

O papel da educação é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, nenhum país se transforma em uma sociedade desenvolvida sem estudos de qualidades, empregos mais dignos e salários decentes, nestes países percebemos a importância dos investimentos educacional, desde os ensinos fundamental, ensino médio e ensino superior. Devemos salientar que a educação é fundamental para todo este crescimento, mas precisamos destacar que se faz fundamental da adoção de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. Sem estes investimentos no conhecimento, na pesquisa científica e na melhora educacional, perceberemos que teremos uma sociedade com quantidade de bacharéis sem empregos dignos, levando uma leva de trabalhadores altamente qualificados para se vender aos empregos precarizados, sem carteira de trabalho assinados, sem FGTS, sem férias, sem descanso semanal, como estamos percebendo os novos empregos no mundo contemporâneo, como aqueles atrelados com os da Uber, os chamados uberizados.

Destacamos ainda, que cabe aos investimentos em educação a construção de uma sociedade desenvolvida e qualificada, onde as universidades públicas e privadas precisam formar indivíduos capacitados e conscientes dos desafios da sociedade do conhecimento, a educação é uma concessão pública e devem ser cobradas das empresas privadas a entrega de uma mercadoria de qualidade, queremos educação de qualidade para todos os setores econômicos, sociais e políticos, desde que cumpram com seu papel de serviço de alta qualidade, não apenas setores que buscam lucros e crescimentos econômicos elevados, sem preocupações com a formação profissional, acadêmica e moral da sociedade.

Dowbor lê Mariana Mazzucato

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Livro da economista italiana mostra as engrenagens do rentismo. Desvinculado da economia real, deforma a noção de riqueza de países. Por emaranhados de instituições financeiras, acossa Estado e o setor produtivo — e endivida milhões de famílias…

Ladislau Dowbor

Outras Palavras – 04/-3/2021

Conhecemos bem Mariana Mazzucato pelo seu excelente estudo sobre o papel do Estado na economia moderna (O Estado Empreendedor), mas o presente livro, The Value of Everything: Making and Taking in the Global Economy (PublicAffairs, 2018), cujo subtítulo podemos traduzir como “produzir e extrair na economia global”, é mais amplo, e sistematiza de forma clara e muito organizada as transformações do capitalismo nas últimas décadas.

Em termos econômicos, produzir e extrair constituem dinâmicas diferentes. Os magnatas das arábias se entopem de dinheiro vendendo o petróleo que nunca tiveram de produzir, inclusive repassando para corporações transnacionais a tarefa da extração, comercialização e transporte. Estão vendendo o futuro dos seus países, dilapidando recursos naturais de que as próximas gerações irão precisar. O petróleo alimenta não só os sheiks, como um mundo de acionistas pelo mundo afora, que dizem “investir” o seu dinheiro, e que passam a aumentar o seu capital à medida que o capital natural do planeta vai se esgotando. No Nordeste usam a imagem de “festa com o chapéu dos outros”, e a expressão traduz rigorosamente o que em economia chamamos de rentismo, que extrai valor sem aumentar ou contribuir para a produção. Quem produz, no sentido de produzir efetivamente coisas úteis para a sociedade, tem lucro, que vai permitir que a pessoa aumente a sua ‘renda’. Quem extrai dinheiro apenas drenando o que outros produzem é um rentista, e o dinheiro extraído é “renta”.

O livro de Mariana Mazzucato, The Value of Everything, analisa precisamente a diferença entre “Making and Taking” na economia global. Por que é tão importante? Porque o capitalismo atual gerou um mundo de parasitas que extraem renta por meio de um emaranhado de mecanismos de intermediação financeira, de pedágios sobre qualquer transação, permitindo fortunas absurdamente elevadas nas mãos de gente esperta, mas que trava a economia. “Renta – considerada como renda não ganha – foi classificada como uma transferência do setor produtivo para o setor improdutivo, e era em consequência excluída do PIB.”

Entender como se alimentam as maiores fortunas do planeta, e se agrava a desigualdade mundial, em proveito de gente que não só não produz como essencialmente descapitaliza a economia, é essencial para resgatar os rumos de uma economia que funcione. São os mecanismos que permitem entender como, em plena pandemia, com a economia em plena crise (com exceção da China), 42 bilionários no Brasil aumentaram suas fortunas em 34 bilhões de dólares, equivalentes a 180 bilhões de reais, seis anos de Bolsa Família, em praticamente quatro meses (entre março e julho de 2020), sem precisarem produzir, simplesmente cobrando juros, dividendos e outros ganhos financeiros. Inclusive ver a Bolsa subir enquanto a economia cai, é significativo.

Outro exemplo: a publicação Valor Econômico: Grandes Grupos apresentou em dezembro de 2020 a evolução dos 200 maiores grupos econômicos do país. Baseado em dados de 2019, portanto antes do impacto da pandemia, o estudo constata que “dos quatro setores analisados, apenas o setor de Finanças registrou aumento no lucro líquido (27,1%). Comércio (-6,8%), Indústria (-7,8%) e Serviços (-34,8%) caminharam para trás”. Trata-se não do conjunto da economia, mas dos grandes grupos, onde as finanças predominam, mas é impressionante. O estudo ressalta “o bom desempenho da área financeira, sobretudo bancos, cuja fatia no lucro líquido consolidado dos 200 maiores aumentou de 37,7% para 48,9%” (p.12). Traduzindo, o que rende é ser banco, e de preferência grande; não é produzir, é cobrar pedágio de quem produz. E quanto mais os intermediários financeiros extraem, menos sobra para o investimento produtivo.

A força do livro de Mariana Mazzucato é explicitar os mecanismos. “Hoje, o setor [financeiro] se expandiu muito além dos limites da finança tradicional, essencialmente atividades bancárias, para envolver uma imensa gama de instrumentos financeiros, e criou uma nova força no capitalismo moderno: gestão de ativos (asset management). O setor financeiro hoje representa uma parte significativa e crescente do valor agregado e dos lucros da economia. Mas apenas 15% porcentos dos fundos gerados vão para as empresas no setor de indústrias não-financeiras. O resto é negociado entre instituições financeiras, fazendo dinheiro simplesmente pelo dinheiro mudar de mãos, um fenômeno que se desenvolveu enormemente, dando lugar ao que Hyman Minsky chamou de “capitalismo de gestores de dinheiro” (money manager capitalism). Ou dizendo de outra maneira: quando as finanças fazem dinheiro ao servir não à economia ‘real’, mas a si mesmas” (p.136). O setor financeiro passou a “capturar uma parte crescente do excedente da economia” (p.124).

O sistema passou a drenar a capacidade de compra das famílias, o ritmo de investimento das empresas produtivas, e os investimentos públicos, pelo endividamento generalizado. As empresas abertas se veem drenadas na sua capacidade de expansão pelos dividendos cobrados pelos “investidores institucionais”. As fortunas dos mais ricos em vez de servirem para financiar atividades produtivas, passaram a ser geridas pela indústria de gestão de fortunas (wealth management). O comércio internacional de commodities passou a ser administrado por traders, grandes intermediários que criaram gigantes financeiros por meio dos chamados derivativos: o maior deles, a BlackRock, tem ativos da ordem de 8,7 trilhões de dólares, cinco vezes o PIB do Brasil. Desenvolveu-se a indústria de securitização, autêntica indústria de distribuição de riscos que levou em boa parte às crises sistêmicas, e que também cobra pedágios sobre as operações. As corporações financeiras são suficientemente poderosas para extrair parte dos nossos impostos por meio de suporte público direto (QE, Quantitative Easing) em volume que nos EUA superou 4 trilhões de dólares. O dreno é generalizado, os favorecidos nunca tiveram o trabalho de entrar numa fábrica, numa fazenda, num hospital. Administram papéis, hoje aliás simples sinais magnéticos.

Os bancos também cobram taxas impressionantes sobre o lançamento de ações de empresas (IPOs), e aplicam um conjunto de tarifas que oneram o setor produtivo. Financeirizar o ensino superior também se generaliza: temos hoje uma geração de jovens enforcados em dívidas que lhes permitiram aceder ao ensino superior, mas que eles irão carregar por décadas. Quando as contraíram lhes acenaram com os excelentes salários que iriam ganhar. A autora traz os diversos mecanismos que expandem a apropriação do excedente social por intermediários financeiros dos mais diversos tipos.

Um impacto indireto da financeirização é que ela deforma profundamente o nosso cálculo do PIB. Quando calculamos como aporte produtivo o que são custos adicionais de intermediários – obrigando-nos a sustentar uma imensa burocracia financeira privada – criamos uma falsa impressão de crescimento econômico. Contar os lucros dos atravessadores da atividade produtiva como aumento do PIB, portanto como expansão da própria produção, quando apenas aumentamos os custos com mais intermediários, constitui um absurdo ao qual Mazzucato dedica boa parte do livro.

Na realidade, trata-se de uma contabilidade simplesmente errada. Se eu tenho uma empresa produtiva, e tenho custos financeiros, esses serão incorporados no valor do meu produto final, fazem parte dos custos de produção. Mas se o dinheiro que eu transfiro para os bancos são igualmente contabilizados nos bancos como valor de produção, estou contando duas vezes a mesma soma no PIB. Na contabilidade tradicional, seriam deduzidos como “consumo intermediários”. Se eu produzo carros, e incorporo no meu custo final o que me custou o aço que comprei, em termos de contas, não posso contar como produto o aço da siderúrgica, pois já está incorporado no valor do carro.

Essa dupla contagem dos custos financeiros, uma vez no lucro dos bancos e outra vez no valor da produção final das empresas tomadoras dos serviços financeiros, é recente. “Durante grande parte da história humana recente, em radical contraste com o atual entusiasmo com o crescimento do setor financeiro como sendo um sinal (e estimulante) da prosperidade, os bancos e os mercados financeiros foram durante longo tempo considerados como o custo de fazer negócios. Os seus lucros refletiam o valor agregado apenas na proporção em que melhoravam a alocação dos recursos de um país.” (102) Mais recentemente, no entanto, “por meio de uma combinação da reavaliação econômica do setor e de pressões políticas exercidas, as finanças foram promovidas de fora para dentro das fronteiras produtivas – e no processo geraram o caos (havoc).” (105)

Assim, a partir da revisão do sistema de contabilidade nacional de 1993, os custos financeiros passaram a ser calculados como valor agregado, contribuindo para o PIB: “Isso transformou o que previamente era considerado como um custo, em uma fonte de valor agregado, da noite para o dia. A mudança foi oficialmente apresentada na conferência da International Association of Official Statistics de 2002, e incorporada na maioria das contabilidades nacionais bem a tempo antes da crise financeira de 2008. Os serviços bancários são naturalmente necessários para manter as rodas da economia girando. Mas isso não significa que os juros e outros encargos cobrados dos que usam os serviços financeiros sejam um ‘output’ produtivo” (p.108). “As contas nacionais agora declaram que estamos melhor quando uma massa maior da nossa renda flui para pessoas que “administram” o nosso dinheiro, ou que jogam (gamble) com o seu próprio dinheiro” (p.109). Para o Brasil, isso é muito significativo, pois os lucros dos intermediários financeiros, custos para a economia, permitem que o PIB apareça como “crescendo”.
Mazzucato apresenta uma série de exemplos de como isso deforma a economia, pelo fato de que custos de intermediários são apresentados como “produto”, aumento do PIB, portanto da prosperidade. Da mesma forma, os atravessadores que compram barato na mão do agricultor e revendem caro nos mercados poderiam apresentar os seus lucros como aumento do PIB, enriquecimento da sociedade. Na realidade, os fazendeiros recebem pouco dinheiro e podem investir menos na produção, e os consumidores irão comprar menos porque o produto está mais caro. O que acontece quando, como é atualmente o caso, expande-se a venda direta, online, do agricultor para o consumidor, é que os dois polos do ciclo, o produtor e o consumidor, ficam mais eficientes. Dizer que fragilizar o atravessador fragiliza a economia é absurdo.

Mas o que acontece nas formas como a economia analisa o processo? Mazzucato vai direto ao ponto: “Quando os custos da intermediação financeira se elevam em termos reais, nós celebramos o fortalecimento do setor vibrante e cheio de sucessos dos bancos e das seguradoras” (p.108). Na realidade, o que foi um setor que reunia poupanças e financiava atividades produtivas, fomentando a economia, transformou-se num dreno descontrolado, que torna claro como bilionários improdutivos, especuladores de Wall Street, banqueiros, no conjunto que Michael Hudson resume como FIRE (Finance, Insurances, Real Estate), especuladores imobiliários, traders internacionais – uma massa de intermediários improdutivos – controlam hoje tantas fortunas.

O livro de Mazzucato desdobra o raciocínio para a compreensão do rentismo por meio de patentes, e fecha com a análise do “mito da austeridade”. Não há como não lembrar aqui a clareza de Conceição Tavares: “Rendemo-nos à financeirização, sem qualquer resistência… O Brasil virou uma economia de rentistas, o que eu mais temia. É necessário fazer uma eutanásia no rentismo, a forma mais eficaz e perversa de concentração de riquezas”.

Naomi Klein: Por que voltar à crise de antes da crise?

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Por trás do colapso da Saúde e dos lucros obscenos dos super-ricos na pandemia, o fracasso neoliberal e a urgência de uma economia sustentável e baseada no Bem-Estar. Mundo está em mudança – e até políticos como Biden parecem aceitá-la

Entrevista ao La Vanguardia, com tradução na Carta Maior – 01/03/2021

O mundo vive um grande incêndio e não o estamos apagando, afirma a popular ativista Naomi Klein (Montreal, 1970) em seu novo livro “En llamas” (Paidós). Para ela, no meio do fogo, seguimos presos a todos os tipos de telas e fazendo selfies como se não vivêssemos em meio à sexta grande extinção e como se a emergência climática não pudesse tirar nossas vidas.

Autora de “Sem logo” e “A doutrina do choque”, Klein propõe um “Novo Acordo Verde”, uma mudança tão copernicana como a de Roosevelt após a Grande Depressão, mas verde e inclusiva para todos.

Quem foi o ganhador do choque do coronavírus?
Os bilionários das empresas tecnológicas. Chegaram a esta pandemia obscenamente ricos e se aproveitaram extraordinariamente. Jeff Bezos [CEO da Amazon] é o que mais [lucrou], e o Google realizou enormes avanços em nossas escolas. É a herança do neoliberalismo. O Estado estava tão frágil antes da crise que a tornou pior e mortal, com hospitais e serviços sociais já colapsados previamente e com a capacidade de produzir vacinas dentro de nossos países erodida. E por essa fragilidade muitas empresas tecnológicas puderam entrar em cena, uma privatização pela porta dos fundos.

O Vale do Silício é, então, o grande ganhador?
E as farmacêuticas. Conseguiram um grande negócio, bilhões em dinheiro público para pesquisar e desenvolver vacinas, mas embora o público tenha pago por elas, não as possui, estão protegidas pela propriedade intelectual. Não faz sentido. A razão de existir patentes é pelo investimento que as empresas fazem, mas não foram elas que fizeram, mas nós. É a mesma lógica neoliberal que rejeita reivindicar direitos públicos sobre o que é essencial para manter as pessoas vivas.

Essa fragilidade do Estado faz com que o Ocidente administre pior a crise do que outros lugares?
Os piores surtos tendem a ocorrer nos setores mais desregulamentados, onde muitos trabalhadores precários sofriam abusos, em granjas ou depósitos da Amazon. A isto se soma o corte em hospitais públicos em nome da eficiência, pois cada leito vazio era visto como um fracasso. Houve exceções como a Nova Zelândia, que decidiu desobedecer a lógica neoliberal e cuidar das pessoas.

Nos Estados Unidos, não. E isso alimentou a reação violenta, que tem a ver com as companhias tecnológicas e a desinformação viral, mas que atingiu esse volume porque as pessoas se sentiam descartadas e há uma compreensível suspeita sobre as grandes companhias e os bilionários. Tudo isto criou essa sopa tóxica em que, nos Estados Unidos, um número incrível de pessoas não acredita que a Covid seja real, mas uma conspiração de Bill Gates, e acredita na conspiração QAnon e que as eleições foram roubadas. Uma amputação total da realidade.

Qual a sua opinião sobre a nova normalidade?
Nossa normalidade já era uma crise. Por que iríamos querer voltar a isso? Dá ânimo ouvir Joe Biden falar em não voltar à normalidade e usar esta crise como um catalisador para transformar, dá ânimo que fale que não existe somente uma crise de saúde pública, mas também climática, de desigualdade econômica e de injustiça racial.

O trabalho que fizemos nas décadas passadas, formulando como poderia ser a economia do futuro, era sobre como resolver múltiplos problemas ao mesmo tempo. Reconhecer que estamos em crises sobrepostas: devemos reduzir as emissões, lutar contra o racismo sistêmico e fechar a lacuna da desigualdade, tudo ao mesmo tempo. Por que voltar à crise de antes da crise?
Disse que o capitalismo não serve contra a crise climática, que é preciso mudar o sistema operacional.
A mudança não será trazida pelo mercado ou pelos bilionários. Bill Gates lança um livro esta semana, vai nos salvar. Nem com boas intenções funcionará, a mudança de sistema é tão ameaçadora para os que se beneficiam, que tentarão mudar sem mudar, isso é o que os leva a ideias como a geoengenharia ou a energia nuclear em grande escala. Com o capitalismo há um choque entre a necessidade de um crescimento econômico sem fim e a crise ecológica, da qual o clima é uma parte.
Nosso esgotamento do mundo natural é a crise central e precisamos de uma economia muito mais atenciosa, que comece perguntando o que é necessário para ter uma boa vida, respeitando os ciclos de regeneração do planeta. Como garantimos que todos tenham o suficiente dentro dos limites do planeta e construímos a partir daí. É uma pergunta diferente de como gerar crescimento econômico no próximo trimestre. Não digo que nisto não exista lugar para os mercados, mas não o podem guiar.

O que seria o Green New Deal (Novo Acordo Verde)? Envolve muitos sacrifícios?
Os princípios básicos de qualquer Green New Deal supõem seguir a ciência climática para que o aquecimento do planeta não ultrapasse 1,5 grau. E que seja guiado pela justiça: que as pessoas que fizeram menos para criar esta crise e estão na linha de frente de seus efeitos sejam as primeiras a receber apoio para a transição, tanto dentro dos países ricos como no que os países ricos devem aos do Sul.
Outros princípios são que os trabalhadores em setores de alto carbono não sejam deixados para trás. E ver em que áreas podemos nos permitir ter abundância. Não no consumo esbanjador, mas, sim, em áreas onde hoje há escassez: saúde, cuidado do lar, de crianças, de idosos, um setor baixo em carbono.
Devemos colocar a energia da recuperação pós-covid não em um, mas em milhares de Green New Deals em cada setor, que os especialistas de cada área projetem o seu. Já conseguimos uma grande vitória: Biden, que não é um radical, soa agora como um militante do movimento Sunrise. É a ideia de que necessitamos de uma resposta contra a mudança climática que tenha justiça social, crie trabalhos, repare injustiças e não diga às pessoas que precisam escolher entre alimentar suas famílias ou se preocupar com o meio ambiente.

É otimista em relação a Biden?
Não, em relação a nós. Ele foi político a vida toda e durou porque sabia qual vento soprava em cada momento. No neoliberalismo, ia com ele. Agora, reformula-se como o “novo Roosevelt”, não por ele, mas pelas forças que o empurram. Se ele pode mudar, qualquer um pode.

Trump seria presidente sem a pandemia?
É um pensamento terrível, mas provavelmente sim. Sua época foi de incansável vandalismo. A imagem de seus seguidores no Capitólio saqueando mostrou o que foram os anos de Trump: saquear o Estado à luz do dia.