Recuperação da economia só é viável com proteção social, diz Monica de Bolle

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Economista defende estratégias ousadas, com resultados mais imediatos, para retomar crescimento

Monica de Bolle

[RESUMO] Economista defende que retomar o crescimento demandará não apenas medidas de efeito de médio ou longo prazo, como a reforma da Previdência, mas também estratégias criativas e ousadas com resultados mais imediatos, que atendam aos desempregados e vitimados pela desigualdade.

Somos peritos em crises, nossa experiência é vasta. Já passamos por hiperinflações, moratória de dívida externa, crises bancárias, crises cambiais —à exceção da moratória, o resto merece o tratamento no plural, pois as vivemos em diversos momentos, às vezes até simultaneamente. Contudo, mesmo com nossa vasta experiência em matéria de crises econômicas, jamais passamos pelo que testemunhamos hoje, espécie de crise sem crise.

Temos uma crise, pois a economia brasileira não cresce, ou cresce pouco. Não temos uma crise tradicional, pois a armadilha de crescimento baixo não é acompanhada ou mesmo causada por uma crise financeira, como no passado. O freio brasileiro está engatado a muito tempo e não resulta somente da grande recessão de 2015-2016.

Como analisei em meu livro, “Como Matar a Borboleta-Azul: Uma Crônica da Era Dilma” (Intrínseca, 2016), a tragédia do crescimento baixo reflete anos de descaso com os efeitos de contas públicas desarranjadas, de políticas insustentáveis de crédito para aumentar o consumo, do protagonismo indevido do BNDES, responsável por grandes distorções financeiras, da ausência de medidas para aumentar a competitividade do país.

Tais erros na condução da economia começaram no segundo mandato de Lula e continuaram com Dilma. Para resolver o acúmulo de entraves ao crescimento, não bastará a reforma da Previdência. Ela abrirá um importante espaço fiscal no médio prazo, é claro, mas isso é insuficiente. No ritmo atual de crescimento, não conseguiremos reduzir o desemprego e a desigualdade e flertaremos com o risco crescente de uma grave crise social.

Penso que, como ocorre em vários países avançados, o Brasil padece da chamada estagnação secular. O termo foi originalmente concebido em 1938 pelo economista e ex-professor da Universidade Harvard Alvin Hansen, para descrever o que ele acreditava ser o destino da economia norte-americana após a grande recessão dos anos 1930: um freio sustentado do crescimento econômico causado por uma demanda agregada deprimida e tendências demográficas adversas.

Em versão atualizada pelo economista Larry Summers, outro ex-professor de Harvard, a estagnação secular ocorre quando a produtividade para de crescer, a demografia passa a ser um ônus e a demanda agregada perde fôlego de forma sustentada.

No Brasil, a produtividade —seja a que conhecemos por produtividade total dos fatores ou a produtividade dos trabalhadores— está estagnada há décadas. Nossa taxa de crescimento populacional é hoje menor que a dos EUA e a da França, igualando-se à da Bélgica. Todos esses países estão sob risco de contrair a estagnação secular.

O crescimento da população é importante para as tendências de longo prazo das economias, pois garante que, no futuro, haverá gente suficiente para formar a força de trabalho sem a qual os países não crescem, por mais que existam robôs. Os robôs, afinal, não só são confeccionados por alguém, como também são operados por gente.

Por fim, a demanda no Brasil está inequivocamente deprimida. Basta observar o ritmo médio de expansão do consumo nos últimos anos —pouco mais de 1%— e a trajetória periclitante do investimento. A taxa de investimento brasileira fixou-se há tempos em pouco mais de 15%, patamar bem mais baixo do que o observado em nossos pares latino-americanos. A urgente reforma da Previdência não irá alterar esse quadro.

Se o Brasil preenche as condições para a estagnação secular nos quesitos acima, outro critério também é atendido: a taxa de juros real está em nível historicamente baixo e não dá sinais de que irá subir. Hoje, tomando a inflação 12 meses à frente projetada pelo mercado, ela está em cerca de 2,5%.

Diante do quadro econômico decepcionante e da ausência de pressões inflacionárias no horizonte, há quem defenda a redução da Selic pelo Banco Central, o que parece razoável, sobretudo após a aprovação das novas regras da Previdência. Nesse caso, e supondo que a inflação se mantenha ao redor dos 4% projetados pelo mercado, a taxa de juros real poderia ser ainda mais baixa.

Por que é possível projetar uma taxa de juros real permanentemente baixa à frente, sobretudo em comparação com a média de cerca de 3,5% nos últimos dois anos do primeiro mandato de Dilma?

Antes de responder, eis uma digressão: embora a taxa de juros real neste período estivesse em nível baixo comparado ao passado, era claro que tal patamar fora alcançado permitindo que a inflação ficasse, recorrentemente, bem acima da meta de 4,5% e que, por esse e outros motivos, aquele nível do juro real não seria sustentável, como de fato se viu posteriormente. Abordei esse tema em detalhe no meu livro.

Voltando à pergunta sobre os motivos de a taxa de juros real permanecer baixa agora, remeto os leitores aos resultados de artigo que escrevi em 2015 para o Peterson Institute for International Economics, sobre o papel do BNDES e o impacto de seus empréstimos.

Na ocasião, apresentei exercício empírico no qual mostrava que a farra do crédito subsidiado durante o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma havia distorcido as taxas de empréstimos no mercado de crédito, além de ter exercido pressão considerável sobre os juros reais.

Calculei que, se os empréstimos do BNDES deixassem de ser feitos a taxas subsidiadas e retornassem aos patamares observados no início dos anos 2000, isto é, caindo de uns 4% do PIB para algo em torno de 1% do PIB, a taxa de juros real poderia cair em até 1,3 ponto percentual.

A introdução da TLP (taxa de longo prazo) durante o governo Temer removeu o componente subsidiado dos empréstimos do BNDES. Além disso, os desembolsos do banco foram reduzidos de R$ 190 bilhões em 2013 para R$ 69 bilhões em 2018, ou, precisamente, para 1% do PIB. Nesse mesmo período, a taxa de juros real caiu da média de 3,5% observada em 2013-2014 para 2,5% hoje, em linha com os cálculos que havia feito em 2015.

A taxa de juros real reflete o custo do capital para as empresas. Portanto, uma taxa permanentemente mais baixa proveniente das mudanças na atuação do BNDES deveria incentivar a alta dos investimentos privados. Contudo, não é isso o que se vê. Observa-se precisamente o que ocorreria em situação de estagnação secular: a taxa de juros real menor já não é capaz de estimular a economia.

E o consumo, componente mais importante da demanda privada e motor dos gastos que incentivam as empresas a produzir? Para falar sobre ele, é preciso não só reconhecer a alta taxa de desemprego, mas destrinchar o que vem ocorrendo com a desigualdade.

Em análise recente, o especialista no tema Marcelo Medeiros mostra que a retomada lenta da economia brasileira tem sido profundamente desigual, que a desigualdade de renda voltou a crescer em 2016, após longo período de queda e posterior estabilidade.

De um lado, o aumento da desigualdade não surpreende: resulta diretamente da grande recessão de 2015-2016, ela própria decorrente dos desmandos macroeconômicos que analisei em meu livro sobre a era Dilma. De outro, há sinais de que a alta da desigualdade total esteja em processo de aceleração.

Segundo Medeiros, dados do Imposto de Renda mostram que há migração dos investimentos daqueles que têm renda mais alta para aplicações financeiras. Isso significa que recursos são transferidos das áreas de produção, que naturalmente criam empregos, para títulos públicos e outros ativos financeiros sem impacto direto na geração de vagas.

Portanto, à frente, a desigualdade poderá aumentar mais em razão de altas no desemprego ou da criação de empregos precários, que não dão a segurança devida ao trabalhador para que ele volte a consumir.

Outro fator importante é a mudança metodológica de 2016 na Pnad Contínua, a pesquisa nacional por amostras de domicílios do IBGE. Naquele ano, a pesquisa passou a incorporar rendas que antes não estavam refletidas nos dados de rendimentos do trabalho —a saber, o 13º salário e o pagamento de comissões. Há quem tenha visto aumento na renda do trabalho e o tenha atrelado à recuperação econômica sem se dar conta da alteração na metodologia.

Ainda mais importante é a constatação de que a parte da renda do trabalho que aumenta é proveniente das comissões e do 13º. Esses rendimentos são, evidentemente, frágeis para o consumidor, pois comissões são variáveis e o 13º é sazonal.

Por essas razões, rendas provenientes dessas fontes não têm o mesmo poder de aumentar o consumo como teria a elevação do salário para aqueles com empregos seguros. E a economia brasileira hoje está sem fôlego para criar empregos que deem segurança aos consumidores.

Diante do diagnóstico apresentado, isto é, de que a economia brasileira não tem dinamismo para crescer acima das taxas observadas no médio e longo prazo e de que as tendências de curto prazo contribuem para agravar as tensões sociais, é possível elaborar algumas soluções.

Para devolver o dinamismo econômico ao país, a atual agenda de reformas é correta: precisamos de uma reforma da Previdência, precisamos de uma reforma tributária, precisamos de privatizações. Precisamos, também, abrir a economia brasileira ao comércio e ao investimento externos, o que passa não apenas por medidas de redução de tarifas de importação mas por atuações nas diversas áreas regulatórias em que o Brasil está severamente atrasado em relação a outros países latino-americanos.

A convergência regulatória para equiparar o país às boas práticas internacionais não só abriria espaço para negociar acordos de facilitação de comércio ou de livre-comércio como também reduziria o protecionismo que torna o Brasil um dos países mais isolados do mundo. Transferências tecnológicas por meio da abertura comercial ajudariam a aumentar a produtividade, junto com outras reformas, como a tributária.

A estratégia para tirar o Brasil da estagnação secular passa, portanto, pelas reformas que Paulo Guedes tem defendido e por uma agressiva abertura comercial. É claro que o desenho das reformas deve ser cuidadoso para que elas não tenham consequências indesejáveis, como o esgarçamento da rede de proteção social. Contudo, a estratégia de médio e longo prazo parece clara.

Menos clara e menos debatida é a estratégia de curto prazo para a economia brasileira. A esse respeito, o atual governo não tem plano. Tudo se resume, no curto prazo, à aprovação da reforma da Previdência. Embora a agenda Guedes não se limite a ela, todos os efeitos das reformas propostas estão circunscritos ao médio ou longo prazo.

Eis, portanto, o manifesto: para atender aos milhões de desempregados e de consumidores afogados em incertezas e vitimados pela desigualdade, é preciso desenhar políticas de curto prazo para retirar a demanda do Estado catatônico. Tais políticas não podem se resumir ao recente flerte de Paulo Guedes com a liberação do FGTS —como vimos no governo Temer, essa medida tem fôlego curto e não ameniza a aceleração da desigualdade de renda em curso. É preciso pensar de forma mais criativa e ousada.

Há tempos venho propondo o uso das reservas internacionais brasileiras para dar um alívio à economia. Antes de prosseguir, advirto: a ideia seria usá-las após a aprovação da reforma da Previdência, quando parte da incerteza fiscal de médio prazo terá sido resolvida. Vender reservas é ideia que encontra muitas resistências, pois há quem argumente, não sem razão, que o nosso amplo estoque de US$ 380 bilhões é o que mantém o Brasil distante de crises mais agudas.

No entanto, hoje não temos mais vulnerabilidades externas relevantes. Conseguimos reduzir nosso déficit externo para pouco mais de 1% do PIB, não temos dívida externa em montante relevante e nossa dívida pública está praticamente toda denominada em moeda local. Isso significa que não temos riscos no balanço de pagamentos, o que nos abre um espaço importante.

De acordo com os cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil dispõe hoje de cerca de US$ 140 bilhões de reservas excedentes, isto é, de recursos acima do necessário para lidar com pressões externas. Ou seja, temos uma poupança que não está sendo utilizada. Neste momento de extrema fragilidade interna, deveria ser empregada para reduzir a insegurança econômica que impede o consumidor de consumir e a empresa de investir.

Uma ideia seria usar as reservas excedentes para abater a dívida pública, o que diminuiria os juros pagos pelo governo e o déficit nominal, abrindo espaço para algum aumento de gastos —por exemplo, com programas sociais para enfrentar a aceleração da desigualdade.

Vejam: esse uso das reservas possibilitaria o aumento de gastos, porém de maneira bastante indireta. Precisa-se de cautela para não desestabilizar o mercado de câmbio: a rápida conversão de dólares em reais tenderia a apreciar a moeda brasileira, prejudicando as exportações.

As reservas excedentes poderiam também ser usadas, como alguns economistas já haviam sugerido, para constituir fundo cujo objetivo seria o de financiar investimentos em áreas como infraestrutura. Josué Pellegrini, economista da Instituição Fiscal Independente (IFI), analisou essa possibilidade, além do emprego das reservas excedentes para abater a dívida pública, em nota técnica publicada pela IFI em agosto do ano passado.

Para além das dificuldades apresentadas por Pellegrini, tenho menos simpatia por esse uso das reservas, pois não atenderia às necessidades imediatas das famílias e dos consumidores aqui expostas, além de não ajudar a solucionar o drama do aumento da desigualdade.

A terceira possibilidade, bem mais controvertida e próxima de um flerte com a heterodoxia, seria a transferência das reservas excedentes, ou de parte delas, para o Tesouro Nacional, atendendo às restrições abordadas na nota de Pellegrini. Uma vez em poder do Tesouro, os recursos seriam destinados a aumentar diretamente a capacidade de elevar os gastos com programas sociais para reduzir a desigualdade e a insegurança econômica dos mais atingidos pela lenta recuperação.

Essa ideia difere do uso das reservas para abater dívida, pois os recursos transferidos para o Tesouro não seriam gastos primeiro para esse fim, mas diretamente em programas sociais. Mais uma vez, insisto: tal medida seria feita apenas após a aprovação da reforma da Previdência, sem a qual essa ideia provavelmente seria tiro pela culatra.

O uso direto de parte das reservas excedentes para turbinar programas sociais sem a âncora da mudança na Previdência seria visto por muitos economistas como espécie de populismo econômico, criando turbulência nos preços de ativos e prejudicando a atividade. Contudo, uma vez aprovada a reforma, penso que usos menos ortodoxos, como o sugerido, deveriam ao menos ser contemplados. O país não está em situação de poder se dar ao luxo de nada fazer no curto prazo.

Reafirmo esse ponto relembrando aos leitores as experiências de alguns países que tentaram fazer ajustes em suas economias sem qualquer base de apoio para o curto prazo. Os casos mais recentes não foram em países emergentes como o Brasil, mas em alguns europeus após a crise de 2008. Todos passaram por intensas turbulências políticas e sociais em razão das políticas de arrocho a que foram submetidos, o que possivelmente prolongou a saída da crise que sobre eles se havia abatido.

O caso mais emblemático é o da Grécia, mas Portugal e Espanha também viveram seus próprios infernos particulares, ainda que pudessem desfrutar do apoio financeiro das instituições europeias criadas para resolver a crise, do Banco Central Europeu e do FMI.

Para além desses exemplos, o próprio Brasil já demonstrou para si que a viabilidade das reformas só pode ser garantida com redes de proteção que evitem o caos social. O Plano Real, que completa 25 anos neste mês, e as reformas que o sucederam só foram possíveis porque a abrupta redução inflacionária removeu o ônus que impossibilitava o bom funcionamento da economia e recaía brutalmente sobre as camadas mais vulneráveis da população.

Basta olhar indicadores de pobreza e de desigualdade de renda para constatar que o Plano Real foi um grande equalizador, impedindo que uma situação de caos social e político ainda mais grave.

Volto, portanto, ao parágrafo inicial deste artigo. Por razões diversas, descuidos e desprezos de longa data, o Brasil está hoje preso numa armadilha de crescimento baixo que tende a agravar os problemas políticos, econômicos e sociais. Para sair dessa armadilha, é premente fazer reformas econômicas na linha das propostas pelo governo, ainda que alterações sejam necessárias para evitar danos às redes de proteção social.

Também é preciso ter o foco correto nas áreas de educação —sem um plano para tal não haverá aumento de produtividade—, de treinamento dos trabalhadores —principalmente com as mudanças tecnológicas em curso—, do meio ambiente. O descaso ambiental pode piorar ainda mais os rumos da economia brasileira no longo prazo, como revelam os diversos estudos acerca dos impactos econômicos perversos da negação da realidade.

Ao prevalecer a guerra ideológica nessas áreas, o governo presta um desserviço para si e para o país. Afinal, as reformas econômicas terão impacto diminuído caso se insista em ignorar a importância desses temas ou seguir na contramão do que revelam as evidências científicas. Mas mesmo isso já não basta.

Para que o Brasil tenha alguma chance de recuperar a segurança econômica, os gestores precisam reconhecer a importância de criar uma rede de sustentação no curto prazo. Para isso, será necessário resgatar o espírito criativo e inovador sem o qual estaríamos hoje ainda presos à hiperinflação.

Nossa crise atual é inédita. Esse ineditismo requer que tanto os que gerem a economia quanto os que dela entendem e sobre ela debatem saiam das suas zonas de conforto e parem de rotular à revelia. Há ideias ortodoxas que não funcionam, como as contrações fiscais sem sustentação social. Do mesmo modo, há ideias heterodoxas que resultaram em sucessos espantosos, como o Plano Real.

Fica o manifesto por um debate sem as amarras ideológicas que impedem a criatividade em momento tão crítico.

Monica de Bolle, economista, é diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins  University (EUA) e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics.

Os jovens, a juventude e seus medos contemporâneos

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O mundo contemporâneo pode ser descrito como um mundo de contrastes e contradições, marcados por intensas concorrência e competição, nele encontramos riquezas extraordinárias, produtos altamente sofisticados, tecnologias de ponta, viagens espaciais, prazeres acelerados convivendo ao lado de prazeres alucinantes, drogas complexas e misérias existenciais, além de medos generalizados

Nesta sociedade contemporânea que, para muitos é descrita como pós-moderna, outras a descrevem como pós-industrial, nela encontramos medos e desesperanças em decorrência de vivermos em uma sociedade marcada por degradação ambiental, conflitos étnicos e raciais, xenofobismos, violências generalizadas, fragilidade democrática e intensos conflitos comerciais, onde as potências se degradam e os trabalhadores são obrigados a aceitar, sob pena de desemprego, uma condição de subalternidade e degradação de suas condições sociais e econômicas.

Diante destes inúmeros desafios, percebemos um incremento no suicídio de jovens e de idosos, além de um grande desalento dos indivíduos e das comunidades, todos amedrontados com os rumos que caminha a humanidade e as condições de vida num futuro muito próximo, onde filhos e herdeiros se sentem esquecidos por um sistema que cobra uma dedicação irracional, gerando mais instabilidades e inseguranças, motivando violências nas mais variadas áreas e setores.

O suicídio cresce de forma acelerada entre varias faixas etárias da sociedade, levando os profissionais da saúde e os gestores de políticas públicas a falarem de uma verdadeira epidemia, com impactos generalizados sobre a população mundial, este fenômeno assusta e ao mesmo tempo força os grupos sociais a repensarem a forma de vida e de organização da estrutura produtiva global.

Os idosos estão se suicidando porque perderam a capacidade de produzir e de se sentirem úteis nesta nova sociedade, como não mais dispõem de força física numa sociedade utilitarista, se sentem a margem da estrutura social, muitos deles se enxergam como um grande peso para seus familiares, preferindo se suicidar acreditando que, com isso, acabam com o suposto problema.

De um dos lados encontramos jovens perdidos, desanimados e vivendo alienados e como verdadeiros zumbis, nesta nova realidade da juventude global percebe-se um medo generalizado com relação ao futuro, com as mudanças no mundo do trabalho e as novas concepções do emprego, os jovens se encontram amedrontados, o medo de decepcionar os familiares e a sociedade está levando este grupo social a intensos e severos desequilíbrios emocionais e espirituais.

Com o advento das redes sociais, encontramos uma nova geração de jovens e adolescentes que vivem diuturnamente conectados, são indivíduos que perderam a noção das relações reais e se veem constantemente vivendo ou sobrevivendo no mundo digital. Esta geração que vive conectada, conversando via internet, namorando pelas redes sociais, se relaciona via WhatsApp, faz sexo virtual, goza e tem prazer no ambiente digital, se utilizando de aplicativos de paquera e de encontros afetivos, estes indivíduos estão se tornando cada vez mais frios, materialistas e racionais, deixando de lado sentimentos nobres, emoções e equilíbrios espirituais e energéticos.

Muitos trazem fortemente escrito em suas mentes a necessidade de avançar profissionalmente quando comparados aos seus pais e familiares, estes desafios motivavam muitas famílias que viam nesta possibilidade uma forma de estimular seus jovens a uma vida centrada em estudos e reflexões, buscando melhores oportunidades de emprego e trabalho com melhores remunerações, estes estímulos hoje são vistos como verdadeiros calvários por jovens e adolescentes que perderam a motivação desta concorrência salutar, os tempos contemporâneos são auspiciosos, trazem desafios e poucas oportunidades, levando muitos deles a depressão, a ansiedade e, no limite, ao suicídio.

A juventude atual se estrutura em uma sociedade marcada pela fragilização da família, a primeira grande célula social da sociedade, muitos jovens e adolescentes vivem em famílias desequilibradas e desestruturadas, famílias degradadas pelas drogas, pelo tráfico e pela pouca atenção de pais e de familiares, isto sem mencionarmos uma sociedade cuja religião perde força e capacidade de influência, vitimada por desequilíbrios intensos, desde pedofilia, exploração e denúncias de corrupção e desvios de recursos. A fragilização das religiões convencionais enfraquece as referências que antes moldavam os jovens e adolescentes, levando-os a uma visão mais materialista, sem os preceitos religiosos os indivíduos se entregam aos prazeres do mundo contemporâneo, centrados principalmente na adoração do dinheiro e em uma vida caracterizada por um intenso hedonismo.

As bases sociais estão sendo destruídas pelo mundo pós-moderno, a escola e as universidades que sempre foram vistas como centro do conhecimento perderam espaço para as novas mídias sociais e para as tecnologias da informação e do conhecimento, as famílias se encontram num verdadeiro caos, de modelos tradicionais de famílias encontramos na contemporaneidade uma infinidade de modelos diferentes e contraditórios, relacionamentos novos, variados e descritos como modernos estão levando os mais jovens a uma intensa confusão mental, emocional e espiritual, além de medos, dramas e inseguranças, colocando em xeque seus desejos e necessidades mais íntimas.

Destacamos ainda que vivemos em uma sociedade marcada por intensa competição entre as pessoas, as comunidades, as empresas e os Estados Nacionais, gerando uma diminuição exponencial da solidariedade, do respeito e de valores morais mais sólidos, esta sociedade acaba levando os indivíduos a uma busca por lucros e remunerações monetárias crescentes, muitas delas acumuladas através da exploração e da degradação das condições de vida dos indivíduos e das comunidades, além de uma violência e uma exclusão social em ascensão.

Neste mercado contemporâneo, cada indivíduo é visto de acordo com seus valores monetários, sua colocação econômica e financeira define seu status social, seus valores estão sempre atrelado a recursos amoedados, quem os tem percebe portas abertas da sociedade e se encontra com o luxo e com a acumulação de riquezas agora, quem não possui estes recursos são colocados a parte e passam a ser explorados e condenados a uma condição de subalternidade, sempre vitimados por violências e exclusões crescentes.

Deste ambiente marcado por contradições e desequilíbrios crescentes, encontramos jovens e adolescentes morrendo cada vez mais cedo, muitos passam a trabalhar com o tráfico de entorpecentes, são aliciados para o mundo das drogas e atuam de forma equivocada para conseguir os recursos necessários para sobreviver e ostentar uma vida cheia de riquezas, aparências e valores monetários, conquistados as custas de muita dor, pilhagens, desequilíbrios familiares e degradação social. Como em casa ação encontramos uma reação, o futuro destes jovens e adolescentes que enveredam pelo mundo das drogas e dos entorpecentes já está escrito na nossa sociedade, ou serão presos e condenados ou serão mortos pelos comparsas ou em confronto com as polícias.

Neste ambiente de constante competição entre os agentes econômicos e políticos, onde os jovens e adolescentes mais prescindem de pais e familiares, é que encontramos uma presença física cada vez menor de familiares, muitos terceirizando para a escola uma função que deve ser exercida apenas pela família, com isso, sobrecarregam as escolas e seus professores e fazem com que ofereçam serviços de qualidades questionáveis, numa sociedade que demanda das escolas um papel central na construção do capital humano para competir e gerar riquezas para a sociedade contemporânea.

O suicídio cresce de forma acelerada entre os jovens e os adolescentes em várias regiões do globo por uma infinidade de motivos, o estudo não mais garante uma melhor condição futura para o indivíduo, a simples presença em uma universidade ou a detenção de um diploma de curso superior, que anteriormente garantia um trabalho melhor e mais consistente, atualmente não mais garante uma profissão sólida e consistente, em todos os países e regiões do mundo a previdência social vem sendo colocada em xeque, nesta sociedade percebemos que estamos vivendo mais, com mais conhecimento e com melhores condições de vida e com perspectivas futuras saudáveis, graças aos avanços da ciência dos últimos cinquenta anos que grandes ganhos trouxeram para a medicina, para a biologia e várias outras áreas.

Cabe a sociedade contemporânea construir novos capítulos na vida destes jovens e adolescentes, seus medos são, na verdade, um grito generalizado de todos os setores e grupos sociais, um grito que tem suas raízes na alma de cada indivíduo e cada ser vivo, que enxerga um futuro sombrio pela frente, sem investimentos sociais crescentes na construção de novos espaços sociais, dificilmente conseguiremos angariar novos e conscientes cidadãos para os desafios que se erguem na sociedade contemporânea.

A construção de bases sólidas para o futuro demanda uma política integrada entre vários atores sociais e políticos, a sociedade civil deve se organizar e capacitar os jovens para um futuro cheio de desafios imediatos, aos governantes deve se priorizar políticas públicas inclusivas que garantam a todos os indivíduos nesta faixa etária, condições dignas e decentes de sobrevivência autônoma, em uma sociedade centrada no lucro, altamente competitiva e concorrencial, marcada por momentos de selvageria e de irracionalidade.

Sem políticas públicas e um olhar privilegiado para os jovens e para os adolescentes, a sociedade vai continuar fornecendo uma grande massa de marginais para o crime organizado, munindo-os de mão de obra barata e cheia de rancor e de ressentimentos de uma sociedade que sempre os degradou, sempre os humilhou e sempre os maltratou, deixando-os a margem da sociedade, neste ambiente não se pode esperar uma reação serena ou equilibrada, mas uma reação centrada na vingança e no revanchismo.

Cabe a esta sociedade, garantir uma estrutura educacional mais consistente, escolas em tempo integral, recursos monetários e infraestrutura capacitadas, além de um ampla aparato esportivo, com aulas de vários esportes para estimular as múltiplas habilidades dos estudantes, centros esportivos e complexos culturais, com dança, teatro, música e os mais variados elementos culturais, todos voltados para a construção de cidadãos conscientes e capacitados para a constituição de um mundo melhor, mais harmônico e marcado pelo humanismo, pelo amor e pela solidariedade, valores e sentimentos nobres que dão a todas as sociedades desenvolvidas uma maior solidez e solidariedade.

Os desafios contemporâneos são cada vez maiores e mais complexos, a revolta e a revolução armadas devem ser deixadas de lado e esquecidas por completo, em seu lugar devem ser colocados os investimentos nos jovens e nos adolescentes, estes são os agentes do futuro, se falharmos nesta empreitada estaremos condenando nosso futuro a um ambiente de instabilidade e desequilíbrios crescentes mas, se conseguirmos melhorar as condições destes grupos sociais, vamos conseguir colher, num futuro próximo, grandes vitórias que trarão de volta novas esperanças e perspectivas melhores para todos os grupos sociais.

Neste ambiente de degradação crescente, cabe a sociedade definir um outro olhar para os jovens e para os adolescentes, sabendo de sua importância para a sociedade, precisamos definir o que queremos para nosso futuro imediato, se continuarmos deixando este ativo social na condição de degradação e marginalidade, com certeza, estaremos construindo um futuro sombrio e desesperador, marcados por choro e ranger de dentes.

 

Stiglitz: hora de enterrar um sistema fracassado

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Nobel da Economia sugere que basta: em 40 anos, neoliberalismo provou ser incapaz tanto de promover justiça quanto de criar riquezas. Para afastar os riscos de degradação e fascismo, precisamos de uma nova esquerda democrática

Por Joseph Stiglitz | Tradução: Felipe Calabrez

Que tipo de sistema econômico é mais propício ao bem-estar humano? Essa questão definirá nossa época, porque, após 40 anos de neoliberalismo nos Estados Unidos e em outras economias avançadas, sabemos o que não funciona.

O experimento neoliberal — impostos mais baixos para os ricos, desregulamentação dos mercados de trabalho e de produtos, financeirização e globalização — tem sido um fracasso espetacular. O crescimento é menor do que era no quarto de século após a Segunda Guerra Mundial, e a maior parte acumulou-se no topo da escala de renda. Depois de décadas de renda estagnada ou mesmo em queda para aqueles abaixo dos mais ricos, o neoliberalismo deve ser declarado morto e enterrado.

Lutando para sucedê-lo há pelo menos três grandes alternativas políticas: nacionalismo de extrema direita, reformismo de centro-esquerda e esquerda democrática (com a centro-direita representando o fracasso neoliberal). E, no entanto, com exceção da esquerda progressista, essas alternativas permanecem em dívida com alguma forma de ideologia que expirou (ou deveria ter expirado).

A centro-esquerda, por exemplo, representa o neoliberalismo com um “rosto humano”. Seu objetivo é trazer as políticas do ex-presidente dos EUA Bill Clinton e do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair para o século XXI, fazendo apenas pequenas revisões dos modos predominantes de financeirização e globalização. Enquanto isso, a direita nacionalista renega a globalização, culpando migrantes e estrangeiros por todos os problemas de hoje. No entanto, como demonstrou a presidência de Donald Trump, não é menos comprometida — pelo menos em sua variante norte-americana — com cortes de impostos para os ricos, desregulamentação e encolhimento ou eliminação de programas sociais.

Em contraste, o terceiro campo defende o que chamo de sistema econômico progressista, que prescreve uma agenda econômica radicalmente diferente, baseada em quatro prioridades. A primeira é restaurar o equilíbrio entre mercados, Estado e sociedade civil. O crescimento econômico, a crescente desigualdade, a instabilidade financeira e a degradação ambiental são problemas nascidos do mercado e, portanto, não podem e não serão superados pelo mercado por si só. Os governos têm o dever de limitar e moldar os mercados por meio de leis ambientais, de saúde, segurança ocupacional e outros tipos de regulamentação. É também tarefa do governo fazer o que o mercado não pode ou não irá fazer – como investir ativamente em pesquisa básica, tecnologia, educação e saúde de seus constituintes.

A segunda prioridade é reconhecer que a “riqueza das nações” é o resultado da investigação científica – aprender sobre o mundo ao nosso redor – e de formas de organização social que permitam que grandes grupos de pessoas trabalhem juntos para o bem comum. Os mercados ainda têm um papel crucial na facilitação da cooperação social, mas só atendem a esse propósito se forem regidos pelo Estado de Direito e submetidos ao crivo democrático. Caso contrário, os indivíduos podem ficar ricos explorando os outros, extraindo riquezas por meio do rentismo, em vez de criar riqueza por meio de genuíno esforço. Muitos dos ricos de hoje tomaram a rota de exploração para chegar onde estão. Eles foram bem servidos pelas políticas de Trump, que encorajaram o rentismo enquanto destruíam as fontes subjacentes de criação de riqueza. O sistema econômico progressista procura fazer exatamente o oposto.

Isso nos leva à terceira prioridade: enfrentar o crescente problema do poder do mercado concentrado. Ao explorar as vantagens da informação, comprando potenciais concorrentes ou criando barreiras à sua entrada, as empresas dominantes acabam se envolvendo numa busca de renda em larga escala, que prejudica todos os demais. O aumento do poder das corporações, combinado com o declínio do poder de barganha dos trabalhadores, explica muito por que a desigualdade é tão alta e o crescimento é tão morno. A menos que o governo assuma um papel mais ativo do que prescreve o neoliberalismo, esses problemas provavelmente se tornarão muito piores, devido aos avanços na robótica e na inteligência artificial.

O quarto item chave na agenda progressiva é cortar a ligação entre poder econômico e influência política. Juntos, ambos reforçam-se mutuamente e se autoperpetuam, especialmente onde os indivíduos e corporações ricas podem gastar sem limite nas eleições. À medida em que países como os EUA se aproximam cada vez mais de um sistema fundamentalmente antidemocrático de “um dólar um voto”, o sistema de freios e contrapesos, tão necessário para a democracia já não é capaz de se sustentar: nada consegue restringir o poder dos ricos. Este não é apenas um problema moral e político: economias com menos desigualdade têm um desempenho melhor. Reformas progressistas, portanto, têm que começar reduzindo a influência do dinheiro na política e reduzindo a desigualdade de riqueza.

Não será possível reverter o dano causado por décadas de neoliberalismo em um passe de mágica. Mas uma agenda abrangente, construída com base nas linhas esboçadas acima pode fazê-lo com certeza. Muito dependerá de os reformadores serem tão enérgicos no combate a problemas (em especial) o poder excessivo de mercado e a desigualdade) quanto o setor privado o é ao criá-los.

Uma agenda abrangente deve enfocar a educação, a pesquisa e outras fontes verdadeiras de riqueza. Deve proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas com a mesma vigilância que os defensores do Green New Deal, nos EUA, e a Extintion Rebellion no Reino Unido. E deve propor políticas públicas para garantir que a nenhum cidadão seja negado os requisitos básicos de uma vida decente. Isso inclui segurança econômica, acesso ao trabalho e salário digno, assistência médica e moradia adequada, aposentadoria segura e educação de qualidade para seus filhos.

Esta agenda é eminentemente acessível. Na verdade, não podemos nos dar ao luxo de não executá-la. As alternativas oferecidas por nacionalistas e neoliberais assegurariam mais estagnação, desigualdade, degradação ambiental e amargura política, levando potencialmente a resultados que nem sequer queremos imaginar.

O capitalismo progressista não é um oximoro. Pelo contrário, é a alternativa mais viável e vibrante para uma ideologia que claramente falhou. Como tal, representa a melhor chance que temos de escapar do nosso atual mal-estar econômico e político.

No original, Stiglitz usa o conceito “progressive capitalism”, ou “capitalismo progressista”. No entanto, como o leitor notará, as bases de sua proposta são radicalmente distintas daquilo a que se denominou “capitalismo” no Brasil (em especial nas últimas quatro décadas). Por isso – e acima de tudo para preservar a potência política do texto – optamos por substituir a expressão por “sistema econômico progressista”

 

Seguimos como sonâmbulos e estamos indo rumo ao desastre, diz Edgar Morin

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Para um dos maiores filósofos vivos, humanidade deve tomar consciência da incerteza do futuro e de seu destino comum

Úrsula Passos Folha de São Paulo, 24 de junho de 2019.

SÃO PAULO 

Edgar Morin é um dos mais importantes e relevantes pensadores vivos. Prestes a completar 98 anos, em julho, segue escrevendo e expondo ideias em conferências em universidades e eventos.

O francês de origem judaica é um grande intelectual público, sempre disposto a participar do debate, seja ele sobre o conflito na Palestina, cinema, transgênicos, aquecimento global ou imigração.

Morin deve boa parte de seu sucesso ao pensamento complexo, conceito defendido por ele segundo o qual o conhecimento só é possível pela transdisciplinaridade.

Essa ideia impactou o pensamento sobre educação no mundo todo. Tanto que, em 1999 foi convidado pela Unesco a escrever um livro explicitando as modificações que julga necessárias na educação: “Os Sete Saberes Necessários à Educação no Futuro”, disponível em português.

Morin conversou com a Folha em São Paulo, onde esteve na semana passada para uma conferência sobre prazer estético e arte no Sesc. Ao longo da entrevista, acompanhado por uma caipirinha, sorriu bastante e bateu na mesa em momentos de indignação.

O senhor frequentemente fala da prosa e da poesia na vida, sendo a prosa a sobrevivência, o cotidiano do que somos obrigados a fazer, e a poesia, as relações de afeto, o jogo. O espaço da poesia está diminuindo e a prosa está ganhando? 

Ela não poderá jamais vencer totalmente, mas eu diria que a prosa fez progressos consideráveis com a industrialização não só do trabalho mas da vida, com a burocratização que encerra as pessoas num pequeno espaço especializado, com a técnica, que se serviu tanto dos homens quanto dos materiais.

Mas há uma resistência da poesia na vida privada, nas relações amorosas, de amizade, nos afetos, no prazer do jogo, no futebol, por exemplo. Há momentos de ambiguidade e devemos resistir a esse progresso enorme da prosa, que significa uma degradação da qualidade de vida.

O senhor tem uma conta bastante ativa no Twitter; ela é uma ferramenta de divulgação de seu trabalho? 

É uma forma de me expressar, de expressar ideias que me ocorrem, reações que tenho frente a acontecimentos e de uma forma muito concentrada. É um exercício de estilo, que permite que eu expresse e comunique aos outros o que penso e vejo em diferentes momentos do dia.

O senhor fala de um mundo padronizado, uniformizado. Como ficam o pensamento e a arte? 

Vivemos uma crise do pensamento. Aprendemos em nosso sistema de ensino a conhecer separando as coisas de maneira hermética segundo disciplinas. Os grandes problemas, porém, requerem associar os conhecimentos vindos de disciplinas diversas. Isso não é possível dada a lógica que comanda nosso modo de conhecer e de pensar.

Temos uma crise do pensamento que se manifesta no vazio total do pensamento político, ainda que, há coisa de um século, houvesse pensadores políticos que, mesmo quando se equivocavam, tentavam compreender o mundo, como Karl Marx e Tocqueville.

Meu esforço nas minhas obras é tentar efetivamente esse pensamento. O que estamos vivendo? O que está acontecendo? Para onde estamos indo? Claro que não posso fazer profecias, mas vejo o risco nas possibilidades que se abrem diante de nós.

Qual o maior desafio do ensino? 

Não inserimos no programa temas que podem ajudar os jovens, sobretudo quando virarem adultos, a enfrentar os problemas da vida. Distribuímos o conhecimento, mas não dizemos que ele pode ser uma forma de traduzir a realidade e que podemos cair no erro e na ilusão.

Não ensinamos a compreensão do outro, que é fundamental nos nossos dias, não ensinamos a incerteza, o que é o ser humano, como se nossa identidade humana não fosse de nenhum interesse. As coisas mais importantes a saber não se ensinam.

O senhor disse em uma conferência recente que a democracia ficou rasa e que a consciência democrática está degradada. Esse diagnóstico vale para o mundo todo? Como chegamos a isso?

Chegamos progressivamente, primeiro porque as antigas concepções políticas se deterioraram e chegamos a uma política da urgência e do imediato. E, como sempre digo, ao sacrificar o essencial pelo que é urgente, acaba-se por esquecer a urgência do essencial.

A crise da democracia se deve aos enormes poderes do dinheiro terem levado a casos de corrupção em todo lugar. O vazio do pensamento, somado a essa corrupção, leva a uma perda de confiança na democracia, e isso favoreceu os regimes neoautoritários, como vimos na Turquia, Rússia, Hungria e como vemos agora na crise da democracia no Peru e no Brasil.

A regressão histórica começou muito fortemente com os anos Thatcher e Reagan, que no fim do século passado impuseram a regra do liberalismo econômico absoluto, como se as leis da concorrência pudessem regrar e melhorar todos os problemas sociais, mas isso só favoreceu a especulação e a força do dinheiro, que controla a política.

A crise da democracia é o controle do poder político pelo poder financeiro, que é cego, que vê só os interesses imediatos, não tem consciência do destino da humanidade. A prova é a degradação da biosfera, que é evidente, e que vemos na degradação da Amazônia ou na poluição das cidades, por exemplo, mas que é ignorada em detrimento de um benefício imediato. Assim, damo-nos conta de que vivemos em uma época de cegueira e de sonambulismo. Isso participa na crise da democracia.

Eu vivi —sou muito velho, como sabe— nos anos 1930 e 1940, um período da ascensão da guerra, vínhamos de uma época em que acreditávamos estar em paz, mas numa crise econômica enorme que provocou a chegada de Hitler ao poder por vias democráticas.

Vivemos esse período como sonâmbulos, sem saber que íamos em direção ao desastre. Continuamos como sonâmbulos e estamos indo rumo ao desastre, em condições diferentes. O que é certo é o desastre ecológico, e o desastre dos fanatismos.

A menos que as pessoas tomem consciência da comunidade de destino dos humanos sobre a Terra, as pessoas se fecharão em suas identidades religiosas, étnicas etc. Vivemos um período obscuro da história, a única consolação é que esses períodos obscuros não são eternos.

Vemos hoje uma política das identidades. Como conciliar a democracia, o espírito republicano e as lutas identitárias? 

Uma nação é sempre a unidade de diversidades. Se não se vê a unidade, ela se empobrece e perde sua diversidade, e se só se vê a diversidade, ela perde a unidade. O comunitarismo é uma forma degenerada da diversidade necessária, é uma forma fechada para uma demanda  justa de se manter ligado a suas origens. Infelizmente hoje perdemos a noção de unidade. Quando as comunidades se tornam importantes, elas esquecem a unidade nacional na qual se encontram.

Estamos numa época de interdependência. Concordo que as nações devam seguir soberanas, mas com soberania relativa, e não absoluta. Desde que haja um problema que diga respeito a toda a espécie humana, as nações deveriam subordinar seus interesses ao interesse coletivo.

O senhor já disse algumas vezes que o sul global, como chama, representa um pensamento anti-hegemônico. Ainda é o caso com a globalização?

A globalização é a hegemonia dos valores do norte sobre o sul, é a continuação, por meios econômicos, da colonização, que era política. O sul deve resguardar o que conseguir —como os modos de viver— como resistência à hiperforça da técnica, do lucro, do sucesso, e deve conservar a noção de poesia na vida, essa é a missão do sul.

Como fazer isso em países pobres, de democracias instáveis, países menos expressivos no jogo político global?

Não há uma receita. É preciso resguardar o que há de resistência, valores universalistas, humanistas e planetários, guardá-los enquanto preparamos tempos melhores.

Estamos num movimento perpétuo no qual há um conflito entre as forças de união, de abertura, de democracia, fraternidade, e as forças de luta, de desprezo, de degradação e de morte. Esse conflito, como dizia Freud, entre Eros e Tânatos, é um conflito que existe desde o começo do universo e vai continuar. A questão é saber de que lado se está. Essa é a única questão, o futuro ninguém conhece.

Como pensar modos de combater as fake news?

As fake news não têm nada de novo, sempre houve notícias falsas. Durante uma dezena de anos a União Soviética dava informações falsas sobre o que acontecia com ela, a China de Mao Tse-tung também, o sistema hitlerista escondeu os campos de concentração. As mentiras políticas e as notícias falsas não são novas, são banais, o novo é a internet, a difusão de notícias que podem vir de qualquer lugar.

O problema é que, se quisermos informar o mundo, precisamos de pluralidade de fontes de informação e pluralidade de opiniões. Precisamos de uma imprensa diversa, com opiniões diversas, para que possamos fazer escolhas. Quando a imprensa perde sua diversidade, quando ela é controlada pela força do dinheiro, há uma diminuição do conhecimento e da informação.

O senhor sempre menciona o deus espinosano, que é intrínseco ao mundo, e não exterior a ele. Mesmo com toda a técnica e ciência que temos, as pessoas seguem com suas crenças num deus transcendental…

Todas as sociedades, desde a pré-história, têm uma religião, uma crença na vida após a morte. A religião traz pela reza um sentimento que dá calma. Marx tinha razão ao dizer que a religião é o suspiro da criatura infeliz.

Com a morte do comunismo, houve um retorno das religiões. Temos o retorno dos evangélicos aqui no Brasil, do islamismo. Nos países árabes houve movimentos laicos enormes, mas tudo deu errado. A religião ganha onde a democracia falha, a revolução fracassa, o mundo moderno falha. A religião triunfa no fracasso da modernidade.

Como aceitar a incerteza e lidar com a angústia ou até mesmo o cinismo que advém disso?

Mais do que sucumbir à incerteza, que nos dá angústia e medo, e que nos leva a buscar culpados e bodes expiatórios, é preciso enfrentar a incerteza com coragem, com ideias humanistas de fraternidade. As ciências acharam formas de encontrar certezas em incertezas. Eu digo sempre que a vida é uma navegação num oceano de incertezas passando por arquipélagos de certezas. Assim é a vida, não se pode mascarar a realidade.

Às vésperas de completar 98 anos, o que o estimula a continuar escrevendo e dando conferências?

Há um demônio em mim, uma força no meu interior de intensa curiosidade. Eu conservei uma curiosidade da infância —eu tive um grande choque aos dez anos com a morte da minha mãe, eu envelheci muito, mas também isso me bloqueou na infância com a curiosidade e o amor pelo jogo. A sorte do mundo é cada vez mais incerta, não sabemos aonde vamos, então não podemos não estar preocupados com o futuro da espécie humana sobre a Terra.

Ainda há lugar para utopias?

Há duas utopias. A má e a boa. A má é sonhar com uma sociedade perfeita, totalmente harmonizada; isso não é possível. Mesmo numa sociedade melhor, sempre haverá conflitos. A perfeição não está no universo, não está na humanidade.

A boa utopia é sonhar com coisas impossíveis mas que são, de certa forma, possíveis intelectualmente.
Por exemplo, hoje há muita fome, mas poderíamos alimentar toda a humanidade, basta desenvolver as culturas, a agricultura orgânica. É possível criar uma sociedade nova com a paz sobre a Terra, podemos pensar no fim dos conflitos entre nações; essa é uma boa utopia. Um mundo que não seja totalmente dominado pelo poder econômico e que seja mais fraterno —é preciso ainda ter utopias.

 

 

“O Estado está se transformando em orientador da precarização do trabalho” Entrevista com Ludmilla Costhek Abílio.

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Em meio ao chamado de greve geral e possível aumento das revoltas sociais, o Brasilse acostuma com frequentes rodadas de reformas econômicas que atingem em cheio o mundo do trabalho. Mas, como demonstrou a greve global dos motoristas de Uber em 8 de maio, semana em que a empresa abriu capital na Bolsa de Nova York e atingiu US$ 82 bilhões de valor de mercado, trata-se de tendência mundial. Sobre este processo, conversamos com a socióloga Ludmila Costhek Abílio, pesquisadora da “uberização do trabalho”, em desdobramento a seu estudo sobre as revendedoras da Natura.

“Para sintetizar, uberização é uma nova forma de controle, gerenciamento e organização do trabalho. Resumindo para o lado do trabalhador, significa transformá-lo em nanoempreendedor de si mesmo. Na prática há uma série de formas de controle e gerenciamento sobre o trabalhador. É uma nova forma de organização onde se abolem as relações de emprego e todas as formas de proteção, segurança e garantias que vêm delas. E conta com uma nova formação subjetiva do trabalhador, o ‘gerente de si próprio’. No meio, entra o consumidor, a quem também está terceirizada uma parte do gerenciamento do trabalho”, explicou.

Sobre a greve internacional dos motoristas do aplicativo, Ludmila considera ter demonstrado a vigência da materialidade do trabalho mesmo na economia informacional-digital, e desmente a ideia de que tais novidades nos vínculos entre empregador e empregados trariam uma diminuição da intensidade das jornadas de trabalho.

“A greve se organizou exatamente no dia em que a Uber ia abrir seu capital na bolsa de valores. Veja que falamos em financeirização e a dificuldade de relacioná-la com a exploração do trabalho, mas esta greve mostrou que os trabalhadores estão no centro da acumulação da empresa. Ela não existe sem essa multidão. Se a multidão parar a empresa acaba”.

Além de aprofundar o debate sobre a chamada gig economy, conceito em expansão nos países centrais do capitalismo que não deve obscurecer o vasto histórico de informalidade do trabalho em países como o Brasil, a pesquisadora ressalta como tal tendência é anterior à “economia dos aplicativos”, e faz uma ligação com seu estudo anterior relacionado às revendedoras da Natura.

“200 mil pessoas por ano se dispondo a vender Natura quer dizer o quê? Quando vi os motoboys se uberizarem pelo trabalho em aplicativos, as coisas se conectaram e entendi ser uma tendência que atravessa o mundo do trabalho, com a perda das formas historicamente estabelecidas das ocupações. É quase como se estivéssemos rumando a uma generalização do trabalho-amador”.

A entrevista é de Gabriel Brito, publicada por Correio da Cidadania, 13-06-2019.

Eis a entrevista.

Seu trabalho mais recente é denominado “Uberização do trabalho: novas formas de controle, gerenciamento e organização do trabalho”. Em linhas gerais, o que isso significa?

O termo uberização busca nomear uma tendência do mundo do trabalho muito visibilizada pela atuação desta empresa, que entrou no mercado e em poucos anos formou uma multidão de trabalhadores e usuários. O termo é muito bom porque o Uberrealmente materializa e sintetiza tal tendência, mas devemos ter cuidado, pois o processo não começou com a atuação de tal empresa – e nem mesmo do que chamamos de plataformas digitais.

Temos de entender como um processo de décadas no mundo processo de décadas no mundo do trabalho, relacionado ao neoliberalismo à flexibilização do trabalho,  ao papel desempenhado pelos Estados na desregulação – ou novas formas de regulação – do trabalho… Há ainda os contextos nacionais, de acordo com a estruturação do mercado de trabalho e o lugar que cada sociedade ocupa na divisão internacional do trabalho. Tudo isso está em jogo.

Mas, para sintetizar, uberização é uma nova forma de controle, gerenciamento e organização do trabalho. Resumindo para o lado do trabalhador, significa transformá-lo em nanoempreendedor de si mesmo. Neste sentido, temos de nos livrar do termo empreendedor e pensar mais em termos de autogerenciamento. Ou seja, trata-se de transformar o trabalhador em uma figura autônoma, inteiramente responsável por seus meios de trabalho, custos, como carro e gasolina, além do próprio saber-fazer relacionado à atividade.

Este trabalhador não é contratado, não ocupa vagas limitadas de emprego. A Uber não estabeleceu um limite de 1000 motoristas, por exemplo. Se o trabalhador cumprir requisitos mínimos ele pode ser motorista da empresa. Basta aderi-la. E isso exige o autogerenciamento permanente. Trabalha-se como quer, na hora que se quer, com as estratégias que se quer. Entretanto, permanece-se subordinado.

E é uma subordinação mais difícil de mapear e reconhecer em seu modus operandi. É uma nova forma de organização, na qual a empresa aparece como mediadora da situação. A Uber diz mediar uma relação entre uma oferta de pessoas que querem ser motoristas e a demanda de pessoas que querem se locomover pela cidade pagando menos que no táxi tradicional.

No entanto, na prática há uma série de formas de controle e gerenciamento sobre o trabalhador. Basicamente, é uma nova forma de organização onde se abolem as relações de emprego e todas as formas de proteção, segurança e garantias que vêm delas. E conta com uma nova formação subjetiva do trabalhador, o “gerente de si próprio”, que garante sua sobrevivência em tal relação.

No meio, entra o consumidor, a quem também está terceirizada uma parte do gerenciamento do trabalho: executa-se o controle sobre o trabalho com o número estrelinhas que se dá ao prestador de serviços, ranqueamento, comentários na internet… Aparece como prestação de serviço, mas é uma avaliação do trabalhador. E a empresa detém todas as regras do jogo, sua utilização, distribuição, criação de formas de bonificação, metas… É uma nova forma de gerenciamento, na qual se transfere tal responsabilidade ao trabalhador, que por sua vez se mantém subordinado.

Como recebeu o evento que marcou o último dia 8 de maio, no qual motoristas do aplicativo Uber – e também Lyft, no caso dos EUA – pararam em todo o mundo, numa greve internacional considerada a maior até hoje na “gig economy”?

Recebi com alegria. Há muitos elementos importantes para entendermos tal greve, talvez a primeira de muitas. Foi um movimento inicial que falou até em organização mundial. Claro que está dando seus primeiros passos, mas devemos entender que toda forma de dominação, controle, geração de novas formas de desigualdade, gera consigo novas formas de resistência.

E é muito interessante, pois falamos em novas formas de subordinação, dificuldade de mapeamento das relações entre empregador e empregado, com todo um debate no campo do direito sobre como legislar a respeito e se é possível reconhecer vínculos e responsabilidades da empresa sobre riscos e custos assumidos pelo trabalhador. Está tudo isso em disputa pelo mundo.

“É muito imaterial, é só um aplicativo etc.”, costuma ser dito. Mas quando trabalhadores(as) se reconhecem como multidão de nanoempresários de si próprios, também podem se apropriar deste meio e criar novas formas de organização e resistência. Quando eles se reconhecem e afirmam como multidão há uma potência gigantesca. Imagine se eles quiserem parar as cidades. Eles conseguiriam.

E quando o fazem – a greve é interessante por vários ângulos – fica muito evidente a relação entre capital e trabalho. Desfaz-se a imaterialidade da relação e fica evidente como eles comunicam à empresa que “vocês nos subordinam e exploram. Exigimos condições mínimas de trabalho”. Veja que colocam questões básicas, mínimas, para sua sobrevivência e reprodução social. O movimento de organização desfaz a imaterialidade e evidencia a disputa entre trabalhadores e empresas.

Outro ponto interessante é que a greve se organizou exatamente no dia em que a Uberia abrir seu capital na bolsa de valores. Veja que falamos em financeirização e a dificuldade de relacioná-la com a exploração do trabalho, mas esta greve mostrou que os trabalhadores estão no centro da acumulação da empresa. Ela não existe sem essa multidão. Se a multidão parar a empresa acaba.

Portanto, é muito interessante como ficou evidente a relação capital-trabalho – e a financeirização no meio disso. É uma greve que temos de olhar com muita atenção, pois acho que foi um primeiro movimento de algo que talvez se torne mais comum, com potencial muito grande. E isso se acentua ainda mais por se tratar da esfera da circulação.

Por sinal, como compreender a chamada gig economy, que para alguns supõe uma diminuição na intensidade do trabalho? Você entende assim?

Teremos de tomar cuidado com o uso do termo gig economy, usado como sinônimo de uberização. Isso obscurece um pouco as coisas. Demanda mais pesquisa e apuração, a fim de saber como o conceito é usado e se aplica à realidade brasileira. Tal conceito surgiu nos EUA e Europa pra denominar um fenômeno que para nós não é uma novidade: a economia dos bicos.

O termo gig, em sua origem, se refere ao trabalho feito por músicos na noite, trabalho eventual. Começou a haver um crescimento de tal atividade na economia, a exemplo de iniciativas como AirBNB, Uber, e chegou-se ao termo gig economy para nomear todas as formas de trabalho e atividade – é até difícil definir o que são de fato – e suas pequenas participações nas economias.

Mas apesar de ser uma participação pequena, seu crescimento é acelerado, fenômeno que chama atenção. Quando trazemos o debate ao Brasil de forma irrefletida, começamos a obscurecer a realidade brasileira. Se olhamos o nosso mercado de perto, temos 50% da população com no máximo 1,5 salário mínimo e cuja trajetória de informalidade começou bem antes do Uber, na estruturação do mercado de trabalho do começo do século 20.

A vida dos trabalhadores brasileiros é de trânsito permanente entre tais trabalhos, formais e informais, com bicos etc. Em relação à outra pesquisa que conduzi, é a gestão da sobrevivência, em trânsito permanente. Ao chamar de gig economy, importamos um termo que está sendo usado para descrever o processo de informalização das relações de trabalho no centro do capitalismo. Portanto, temos de tomar cuidado para importar tal categoria, para não apagar nossa própria realidade.

Em termos de intensificação do trabalho, qual a ideia que vem junto da uberização? Mais um passo na direção da flexibilização do trabalho. “O trabalhador tem liberdade, autonomia”, “ele trabalha onde quer e quando ele quer”, “se tiver um emprego e quiser desempenhar mais uma atividade ele pode decidir por isso”… Mas o que vemos é o contrário da diminuição da intensidade do trabalho. Aplicativos podem funcionar como vetor de sentido contrário.

Entrevistei uma motogirl na minha pesquisa: ela trabalha com CLT numa empresa terceirizada durante o dia; à noite entrega pizza como informal não registrada. Ela combina o trabalho no aplicativo com as demais atividades. Informalmente, ela intensifica seu próprio trabalho. E temos de olhar o que a mobiliza: ela aumenta seu rendimento, ela tem interesse nesta situação. Ninguém é burro, o trabalhador está pensando em sua sobrevivência. E assim a pessoa começa a combinar as entregas do aplicativo com o outro trabalho, preenchendo brechas em seu tempo com mais trabalho.

Outro exemplo de exploração/precarização é da Amazon: ela tem uma plataforma chamada Amazon Mechanical Touch, uma das maiores empregadoras de tais plataformas, como se vê na Europa, Ásia e EUA. Há uma legião de trabalhadores que ficam conectados desempenhando tarefas manuais, repetitivas, ofertadas nesta plataforma. Já há estudos sobre formas de adoecimento destes trabalhadores, uma vez que ficam conectados 24 horas, à espera de demandas que podem vir da China, de Londres, de qualquer lado.

Portanto, a ideia de que o trabalhador será livre, que tais meios automatizam o serviço e permitem que se trabalhe menos não se verifica, pelo contrário. É um vetor de perda da medida sobre o que é ou não é tempo de trabalho. E há formas variadas de intensificação do trabalho. Às vezes a intensificação se dá no sentido de que se preenche seu tempo de trabalho com as atividades ou ficando inteiramente disponível ao trabalho, cumprindo demandas pontuais. É uma discussão bem complexa.

No meio disso tudo, como lidar com informações de que a própria Uber não dá lucro, afirmações do próprio dono da Amazon, Jeff Bezos, sobre a necessidade de mudar a forma de operação da empresa, senão será questão de tempo falir? Enfim, com lidar com a impressão de que são empresas muito lucrativas, pois têm custos menores de reprodução da força de trabalho, mas na realidade não aparecem tão lucrativas e viáveis assim?

É uma questão muito séria. Até pessoas do campo marxista, que têm a tese de que o capitalismo chegou ao seu limite na extração de mais-valia, por não ser mais o valor que sustenta a reprodução do sistema, verão aí um exemplo: empresas que exploram ao máximo o trabalhador, com custos de produção próximos de zero, não dão lucro. Como explicar? É o dilema que está posto e inclusive é o próximo passo nas minhas pesquisas.

De saída, como leiga, que ainda não detém conhecimento profundo sobre isso, penso que devemos separar o joio do trigo: não é que a Uber não tem lucro. É que a atuação agressiva com a qual a empresa se impõe, tentando monopolizar o setor e quebrar a concorrência, custa muito caro. Ela tem todo um trabalho de marca. É preciso confiança do público na marca, que precisa se cultivar permanentemente. E aí a multidão de trabalhadores e até consumidores faz um excelente trabalho publicitário não pago. Tem também um gasto enorme com lobbies e negociações com legislações locais. Tudo isso deve entrar na conta. Mas ainda precisamos entender se há mais elementos, afinal, o horizonte declarado da Uber é eliminar a figura do motorista e usar o carro automático.

Por outro lado, devemos também entender que estamos entrando numa nova era da forma de organização e gerenciamento do trabalho e sua relação com o capital, na qual o mapeamento de dados, a vigilância e o controle estão andando juntos com o consumo e têm importância cada vez maior. Assim, há uma produção de dados sobre as cidades, consumidores, sua organização etc. que vale muito. Como será usado futuramente? Essa captação de dados tem muito a ver com a forma como se organizará o uso da inteligência artificial e seu impacto no mundo do trabalho.

São questões que ainda não estão claras e precisamos entender melhor. Onde está o lucro, por que tais empresas não se apresentam como superlucrativas? Eu não iria pelo caminho de que no cerne da história teria acabado a exploração do trabalho. Precisamos destrinchar melhor.

É possível existir uma economia exclusivamente informacional/digital?

Uma coisa que aprendemos bastante com o marxismo é: a questão não é a tecnologia. Esta é política. Não é que a tecnologia se desenvolve neutralmente e pode resultar em certo tipo de organização social. O próprio desenvolvimento tecnológico já é politicamente constituído. São determinados interesses que movem o desenvolvimento para um caminho. Temos a noção arraigada de que a tecnologia se desenvolve por si própria, através da possibilidade de tudo conhecer e criar. Não, pois isso é politicamente determinado. O que importa é sua utilização.

Podemos ter uma sociedade automatizada onde as pessoas vivam com mais tempo livre ou numa sociedade ainda mais desigual, com formas de exploração cada vez mais degradantes. A relação entre desenvolvimento tecnológico e precariedade é importante. Marx já mostrava como o desenvolvimento da máquina a vapor também aprofundou o trabalho nas minas de carvão.

Mas isso não é inevitável. Deve-se à forma pela qual tais sociedades se organizaram. O futuro do trabalho e da sociedade informacional dependerá de como as sociedades, em suas relações de desigualdade e exploração, se organizarão. Podemos tanto imaginar um futuro onde o trabalho seja livre da produtividade em favor da criatividade, da realização do ser humano, ou um futuro que vai aprisionar cada vez mais as pessoas.

tecnologia não paira de forma independente a isto, ela é parte do processo.

Como seu último trabalho dialoga com o Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos, que você publicou em 2014? O que pode ser sintetizado no que tange aos interesses dos trabalhadores?

É interessante, pois não cheguei na uberização por causa dos motoboys que começavam a trabalhar por aplicativo, mas por causa do trabalho destas revendedoras, o que ajuda a escapar um pouco da noção de se dar muita centralidade à tecnologia. Quando comecei minha pesquisa sobre as revendedoras, elas eram 200 mil. Quando terminei a pesquisa, eram 1 milhão.

Eu tinha como questão central saber como se dava a relação de trabalho entre empresas e a multidão de revendedoras. Primeiro porque não parecia trabalho. Segundo porque elas trabalhavam quando e como queriam. E terceiro porque havia uma heterogeneidade gigantesca no perfil social das revendedoras, desde diaristas a esposas de executivos de empresa.

Como uma multidão de informais trabalha para uma empresa só, sem que isso apareça como trabalho, sob vários riscos, custos, dedicando várias horas de suas vidas? Isso precedeu a plataforma digital. Ao vermos de perto, percebemos que as características centrais da flexibilização do trabalho estão muito relacionadas com o trabalho tipicamente feminino, com a indistinção entre o que é tempo de trabalho ou não é, a dúvida sobre classificar o trabalho da esfera doméstica, se este deveria ser mercantilizado, se participaria da reprodução social… Se olharmos bem, é um trabalho de mulheres muito comumente tornado invisível.

Na época da pesquisa, dizia que havia a generalização da adesão a tais formas de trabalho sem a forma-trabalho tradicional, ou seja, sem garantia de nada, totalmente desprotegida, sob autogerenciamento permanente; 200 mil pessoas por ano se dispondo a vender Natura quer dizer o quê? Quando vi os motoboys se uberizarem pelo trabalho em aplicativos, as coisas se conectaram e entendi ser uma tendência que atravessa o mundo do trabalho, com a perda das formas historicamente estabelecidas das ocupações. É quase como se estivéssemos rumando a uma generalização do trabalho-amador.

O que seria isso? Por exemplo: sou professora, estou na universidade, tenho meu crachá, holerite, horários definidos de trabalho, uma série de coisas que me instituem como professora. Mas e se trabalho numa plataforma que me encomenda um material didático sobre política pública para a semana que vem, e cabe a mim pensar se aceito ou não? Ou se dou aula a distância, online? É um deslocamento da minha definição de professora. O mesmo vale para os taxistas e o motorista de uber. O primeiro é profissional, sua ocupação está instituída. O segundo, apesar de também trabalhar, é amador. Isto é, trata-se de uma tendência de perda das formas do trabalho.

As coisas se conectaram. Se eu não tivesse estudado as revendedoras, só enxergaria na uberização uma nova forma de terceirização. Mas nas revendedoras de Natura eu consegui ver elementos em sua atividade que parecem desimportantes, socialmente invisíveis, que se generalizam agora.

Considerando no âmbito brasileiro as reformas liberalizantes, como a da terceirização e a trabalhista, o fim do Ministério do Trabalho e atual proposta de reforma da Previdência, o que devemos esperar de resultados econômicos e distribuição de renda?

É um momento gravíssimo, de ataques explícitos às forças do trabalho. E tais ataques já vêm de alguns anos. O mundo do trabalho está em permanente pressão. Há um cabo de guerra em torno de até onde vão os direitos do trabalho, sua regulação protetora, custos etc. É estruturante no capitalismo.

Nos últimos anos, desde a Reforma Trabalhista, vemos ataques às forças do trabalho, suas formas de organização e proteção historicamente construídas. E é muito refinado, ainda que brutal. A Reforma Trabalhista vai se ramificando por diversos aspectos do mundo do trabalho que constituem proteções ao trabalhador. A mesma lógica se vê na Reforma da Previdência.

E se pensamos que o mundo do trabalho brasileiro já é tão desigual, tão precarizado, com uma força de trabalho de valor tão rebaixado, por que se mobiliza um ataque tão articulado ao que já é precário? Precisamos incluir nos debates a realidade do mercado de trabalho brasileiro. A maioria da população brasileira não vive, mas sobrevive. E sobrevive sem garantias, mesmo o trabalho formal é de alta rotatividade. Ela está transitando pelo mercado, isso quando não combina formas diferentes ao mesmo tempo.

O Estado passa por uma mudança na sua colocação entre o capital e o trabalho. Ele passa a promover a informalização do trabalho. E se tivermos um sistema de capitalização aprovado através da Reforma da Previdência estará praticamente extinta a possibilidade do trabalho formal. O atual presidente declarou claramente que o trabalho informal é o modelo, com aquele discurso de estímulo ao empreendedorismo etc.

De fato, está tudo voltado à eliminação das mínimas garantias que orientam o mundo do trabalho. A Reforma Trabalhista age como se o trabalho informal não existisse no Brasil, como se não fosse necessário regular nada, ao passo que se criam dispositivos como “autônomo exclusivo”, isto é, legalização da Pessoa Jurídica (PJ).

Trabalhador intermitente, o que é isso? Um cara totalmente disponível ao trabalho que apesar de ter uma carteira assinada não tem ideia de quanto ganha por mês, quando tem férias remuneradas. Ele está lá, disponível. Só.

São mudanças pautadas pelo discurso do livre mercado. “Olha, empregador e trabalhador se encontram em condições iguais e negociam livremente”. Estamos formalizando o trabalho informal, com figuras jurídicas que não existiam. Se tudo seguir este caminho, em poucos anos teremos o rebaixamento do valor da força de trabalho, aprofundamento da desigualdade social e eliminação de direitos. Um rolo compressor.

 

Comunicação entre mundos e as manifestações dos espíritos

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A Doutrina dos Espíritos nos trouxe novas e relevantes informações sobre as relações existentes entre os dois planos da vida, mostrando-nos que os mundos material e espiritual conversam entre si de forma rigorosa e intensa, influenciando nossa vida, nossos comportamentos, nossos hábitos e nossos costumes do cotidiano, somos mais influenciados pelos espíritos do que imaginamos, muitas vezes somos por eles conduzidos.

Em O Livro dos Espíritos, 1857, escrito por Allan Kardec, pseudônimo do conhecido pedagogo francês Hippolite Leon Denizard Rivail, onde se discute a temática da Doutrina Espírita e lança as bases para uma nova visão do mundo, nos mostrando a coexistência entre os mundos material e espiritual. Nesta obra, percebemos que sempre fomos influenciados pelo mundo espiritual, pois a morte não existe da forma como imaginamos até então, o que morre verdadeiramente é a matéria, o espírito é imortal e revive em outros corpos, nos mostrando a grandeza de vida. Somos espíritos em processo de evolução constante, passamos pela matéria como forma de crescimento e desenvolvimento, expurgamos nossos equívocos e construímos bases mais sólidas para nossos espíritos.

Nestas revelações, nos foi mostrado que os inúmeros fenômenos de comunicação entre os dois mundos, é algo natural e necessário, funcionando como se fosse um canal de ligação que não deve nunca desaparecer, mas se aperfeiçoar e se desenvolver sempre, antigamente as comunicações eram mais rústicas e grosseiras enquanto na atualidade elas se dão de uma forma mais sutil e delicada.

Relatos antigos nos mostram como se davam as comunicações anteriormente, os movimentos eram bruscos, muitas vezes violentos e agressivos, levando animais a se assustarem, gerando uivos e latidos altos e intensos, levando as pessoas a medos e sustos constantes, acreditando na existência de animais exóticos, como a mula sem cabeça ou o boitatá. Eram manifestações importantes para a coletividade da época porque mostravam a existência de uma nova realidade da vida, muitas vezes desconhecidas pelas pessoas, que mesmo gerando sustos e preocupações levavam as pessoas a buscarem uma religião com explicações para suas aflições, seus medos e suas reflexões.

As religiões da época, na sua grande maioria, desdenhavam destes casos de comunicação entre os dois mundos, destacando que muitos deles eram, em realidade, coisa da imaginação das pessoas e da ignorância dos indivíduos, destacando em outros casos fenômenos e manifestações da chamada coisa ruim, entidades que se nutriam do mal e se compraziam dos desajustes, dos medos e dos desequilíbrios das pessoas e da coletividade.

Nas manifestações antigas, os fenômenos eram motivados por tentativas de comunicação entre os espíritos e as pessoas encarnadas, estes movimentos eram incentivados pelos espíritos superiores para mostrar para a coletividade que a vida não termina com a morte do corpo físico, eram movimentos mais rudes porque os indivíduos da época eram mais rudes e grosseiros, para “assustá-los” eram necessários que os fenômenos fossem mais materializados, secos e assustadores, em decorrência das energias e das vibrações dos encarnados, que eram dominados por energias mais atrasadas e grosseiras.

Estes fenômenos mais densos contribuíram para que muitas pessoas tivessem medo e pavor destas manifestações espirituais, em muitos casos uma verdadeira ojeriza, surgindo histórias variadas de desequilíbrios intensos, desajustes e muita comoção.

Estas manifestações perderam força na sociedade, depois de muitos sustos e comoções, as comunicações foram se aperfeiçoando, os trabalhos mediúnicos modernizaram estas mensagens, gerando novas e confiáveis formas de comunicação, onde alguns espíritos eram estimulados a se comunicar, trazendo seus medos, traumas e constrangimentos, dando a oportunidade sublime do auxílio, da conversação e da compreensão das dores deste irmão em desequilíbrio.

A inexistência de centros espíritas e locais preparados para estas comunicações, levavam as entidades a se manifestar ao ar livre, assustando animais, movimentando caixas e gerando medo das coletividades, para que estas pudessem dar atenção para suas demandas mais íntimas que, na maioria das vezes buscavam entender o que estavam acontecendo com eles, mostrando-nos um grande desconhecimento das leis e das verdades espirituais.

A Doutrina Espírita traz para a sociedade mundial grandes e relevantes informações, inicialmente ao nos descortinar as duras e importantes realidades da vida, ao nos mostrar que somos espíritos que animamos corpos físicos e que a morte é, na verdade, uma oportunidade sublime de retorno ao palco maior da vida, o mundo espiritual ou o mundo dos espíritos.

No momento do retorno ao mundo espiritual, percebemos como ainda somos despreparados para as realidades do espírito, nas manifestações antigas, estes irmãos se encontram assustados e amedrontados, as manifestações mais rudes são formas por eles encontradas de chamar a atenção e de buscar esclarecimentos, afinal, o que foi que lhes aconteceu?

Estes irmãos passam a ser atendidos em reuniões mediúnicas, neste momento eles começam a relatar suas dúvidas e preocupações mais íntimas, seus medos e ignorância, buscando o lenitivo e os esclarecimentos para suas mais intensas preocupações. Seus relatos são comoventes e esclarecedores, mostram-nos que as pessoas, mesmo próximas, não os enxergam mais, não os cumprimentam mais, não os acariciam mais e não o fazem porque estes irmãos não mais possuem o corpo material, desencarnaram e vivem com medos e, na maioria das vezes, em desequilíbrio esperando por um suposto juízo final, onde os justos serão exaltados e os injustos serão condenados ao fogo do inferno.

Nestes momentos temos a oportunidade de conhecer histórias de amor, desamor, ódios e ressentimentos, nestes relatos encontramos sentimentos verdadeiros e espíritos dissimulados e atrasados, ainda muito centrados em interesses materiais e imediatistas, muitos se colocam como vítimas e defendem seus gestos tresloucados e imaturos, acreditando que como não existem novas vidas a felicidade deve ser perseguida de todas as formas, mesmo quando esta felicidade representar a degradação de outros indivíduos.

As reuniões mediúnicas trouxeram um novo horizonte para os desencarnados, abrindo um novo espaço de comunicação, onde os relatos e os esclarecimentos auxiliam na compreensão de que a vida espiritual é o verdadeiro local da existência dos seres humanos, as encarnações são momentos sublimes de crescimento e de desenvolvimento, locais de expurgos e crescimentos, locais de educação e de reeducação dos equívocos anteriores.

Atualmente, percebemos uma redução considerável dos relatos anteriores de manifestações espirituais mais densas e grosseiras, como as ocorridas em sítios e em propriedades rurais. Os movimentos e as comunicações contemporâneas são mais sutis, nelas os espíritos sugestionam os médiuns, colocam-lhes ideias e pensamentos, estimulando leituras e reflexões, vivemos em uma sociedade mais avançada e os movimentos mais rudes e grosseiros perdem espaço e relevância.

Estas manifestações exigem uma preparação prévia, leituras edificantes, adotar a oração como hábito e a reflexão crítica, estas medidas nos auxiliam na construção de um ambiente mais propício para estas influenciações, onde somos motivados pelos espíritos superiores a auxiliar aqueles que sofrem, e são muitos irmãos em desajustes, e passam por momentos de medos, instabilidades emocionais e desequilíbrios psicológicos e espirituais.

As entidades que se manifestam nestas reuniões mediúnicas apresentam características variadas, desde aquelas marcadas por uma bagagem intelectual mais sólida e consistente, até aqueles mais rústicos e despreparados, mas encontramos entre eles uma semelhança capital, ambos os grupos estão distantes das inúmeras chamadas de renovação trazidas pelo mestre Jesus de Nazaré e que, atualmente, se materializaram nas obras da codificação espírita, trazidas para a humanidade pelo teórico francês Allan Kardec.

Encontramos ainda, comunicações de entidades ignorantes da vida física e da vida além túmulo, irmãos que viveram, morreram, renasceram e tornaram a morrer e não se interessaram pela compreensão do que lhes estava acontecendo, vivem sem refletir, erram sem se melhorar e fazem da viagem da vida uma grande jornada sem destino e sem rumos, perdendo tempo e oportunidade importantes para as grandes realidades do mundo.

As comunicações sempre existiram, os homens sempre viveram em comunidade, a relação entre os mundos físico e espiritual sempre existiram e vão continuar existindo, antigamente as religiões nos traziam poucas informações sobre a vida depois da morte, eram muito omissas nestas reflexões, muitas vezes traziam informações inconsistentes e afastavam de suas fileiras todos aqueles que ousavam perguntar e indagar, buscando respostas para suas inquietações mais íntimas e pessoais.

A Doutrina dos Espíritos veio para cobrir esta lacuna, responder esta indagação de muitas pessoas, trazendo-nos informações preciosas, consistentes e consolidadas sobre este tema central para todos os seres humanos, afinal, todos aprendemos desde tenra idade que a morte é certa, a hora é que é incerta. Ao nos trazer estas informações, descortinando conceitos e esclarecendo sobre a vida pós a morte, muitos viram na Doutrina Espírita uma inimiga de seus interesses, levando muitas pessoas a combatê-la enormemente, buscando em sua essência contradições, não encontrando foram buscar nos espíritas, denegrindo pessoas e fazendo com que muitas reputações fossem jogadas na lama.

Nestes mais de 160 anos, muitas críticas foram endereçadas a Doutrina dos Espíritos, algumas verdadeiras e consistentes e outras marcadas por interesses vulgares, neste período esta religião, descrita por seu codificador como além de religião, uma filosofia e uma ciência, ganhou espaço e se consolidou de forma efetiva, nos trazendo uma grande bibliografia, com títulos variados e edificantes que surgem para nos mostrar que a realidade da vida é muito mais simples do que as pessoas imaginam, nada de cálculos complexos e intimidadores, Jesus Cristo nos deu a dica do bem viver a mais de 2 mil anos ao dizer que a verdadeira lei é Amar a Deus sobre todas as formas e ao próximo como a si mesmo.

 

Ovoidização, conscientização e crescimento espiritual

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A sociedade contemporânea passa por momentos de grandes instabilidades, estruturas sociais antigas e consolidadas estão passando por mudanças variadas e os indivíduos se encontram assustados, suas referências também passam por crises, levando os indivíduos a incertezas e medos generalizados.

Neste mundo de grandes inquietações, as pessoas buscam a compreensão das dificuldades e ambicionam encontrar novos caminhos, novos conhecimentos e novas oportunidades, transformando suas vidas e entendendo melhor o funcionamento da sociedade, nestes caminhos muitos indivíduos se esbarram em buscas internas e reflexões pessoais, lembrando o mito da caverna, escrito por Platão, cujas informações são ainda imensamente contemporâneas.

Na obra, Platão descreve os esforços feitos para sair da caverna e visualizar a amplitude do mundo externo, as belezas então jamais vistas e as descobertas que levam os indivíduos ao crescimento material e intelectual. Estas descobertas não foram bem vistas pelas pessoas que preferiram se manter presos a caverna, embora o descobridor trouxesse novidades e relatasse a existência de um mundo novo, os nativos o ignoravam, o agrediam e o humilhavam, chamando-o de lunático e excêntrico, deixando claro que muitos preferem, a grande maioria, se fechar em seus mundos particulares e limitar suas visões a uma intensa mediocridade, cujos males serão sentidos durante muitos anos.

Estas descobertas têm caráter libertador e enriquece o ser humano, mostrando-lhe a existência de uma sociedade muito maior e mais complexa, um mundo que não se limita a questões materiais e imediatas. A doutrina Espírita, conhecida por seus adeptos como a terceira revelação, nos traz informações precisas sobre a sociedade e sobre a vida, o mundo que nos envolve, as dificuldades, levando-nos a refletir sobre questões que nos incomodam e que, muitas vezes, não conseguíamos compreender seus motivos e suas explicações.

Um dos pontos que a doutrina Espírita nos mostra de forma clara e consciente, levando-nos a uma reflexão mais consistente é com relação aos sentimentos negativos que mantemos em nossos corações, energias menores que cultivamos e alimentamos durante muitos anos, décadas e até séculos, estes sentimentos nos geram negatividades, limitam nosso crescimento e nos impelem para desequilíbrios generalizados e, mesmo assim, alimentamos e nos comprazemos de mantê-los intimamente.

Neste momento alimentamos mágoas, rancores e os transformamos em ódios, estas energias no corroem por dentro, limitam nossa capacidade de reflexão e fazem com que alimentemos uma monoideia, que acaba se transformando em auto obsessão e, posteriormente, em sentimentos mais agressivos, podendo transformar nosso períspirito, alterando-o formato.

Como no livro Ícaro redivivo, psicografia de Gilson Teixeira Freire, ditado pelo espírito Adamastor, que destaca a história do brasileiro Santos Dumont, nesta obra percebemos que o inventor do avião se sentia muito magoado e incomodado com o baixo reconhecimento que recebeu na sociedade pelas suas invenções, acreditava-se desprestigiado, escanteado, afinal suas descobertas foram muito importantes para a humanidade, esperava ser referenciado e sempre lembrado como um dos maiores inventores da sociedade mundial, coisa que, segundo ele, não acontecia e gerava em seu coração dores intensas.

Apesar de um papel importante na sociedade, Santos Dumont acreditava que merecia mais, esta ideia se transformou em uma grande obsessão na mente deste inventor que passa a cultivá-la intensamente, transformando este pensamento em uma autoobsessão, com o crescimento deste fenômeno, percebemos um ódio crescente contra a sociedade que não o reconhecia como ele acreditava que merecia, este ressentimento se transformou em ódio que, posteriormente, se tornou tão forte e agressivo, que acabou gerando impactos sobre seu perispírito, levando-o a vivenciar o fenômeno da ovoidização.

A ovoidização deve ser compreendida como um fenômeno que transforma o períspirito do indivíduo, alterando seu formato, levando-o a algo parecido com um ovo, este fenômeno acontece porque a pessoa passa a se deixar dominar por sentimentos de ódio, rancores e ressentimenos numa escala intensa, seus pensamentos e comportamentos se direcionam a uma ideia fixa e constante, com isto, os outros órgãos do períspirito perdem sua efetividade, levando-os a perder sua relevância.

O processo de ovoidização acontece em três ocasiões especiais, segundo Suely Caldas Schubert, no livro Obsessão e desobsessão: 1) O homem selvagem quando retorna após a morte do corpo denso, ao plano espiritual, sente-se atemorizado diante do desconhecido; 2) Desencarnado, em profundo desequilíbrio, aspirando a vingar-se ou portadores de um apego vicioso; 3) Os grandes criminosos, os pervertidos, os trânsfugas do dever, ao desencarnar, ver-se-ão atormentados pela visão repetida e constante dos próprios crimes, vícios e delitos, em alucinações que os tornam dementados.

No caso descrito acima, Santos Dummont se queixava de ter sido esquecido, segundo ele, suas descobertas foram fundamentais para o desenvolvimento da humanidade, com isso, esperava um reconhecimento que não veio em vida, com isso, ao desencarnar acabou cultivando sentimentos de vingança, materializando todo seu orgulho. Como o inventor do avião tinha alguns méritos, a espiritualidade intercede a seu favor, mostrando-lhe que, embora suas contribuições tenham sido fundamentais para a humanidade, ele esquecia que na sociedade e nas pesquisas científicas e tecnológicas, as descobertas são coletivas, embora buscasse o reconhecimento para sua obra, esquecia-se de que, muitos outros contribuíram direta e indiretamente para que aquelas descobertas se materializassem, pessoas que desenvolveram pesquisas e experimentos anteriores, além de mecânicos e engenheiros que foram pioneiros nestes estudos, ou seja, uma ampla quantidade de pessoas que se dedicaram a estas descobertas.

A obra nos mostra que todos somos peças constantes de um grande e complexo ambiente, vivemos juntos e evoluímos em coletividade, quando exaltamos nossos méritos e desqualificamos ou esquecemos os esforços empreendidos por outros indivíduos, deixamos claro nossa vaidade e nosso orgulho que, quando o cultivamos em demasia, acabam nos comprometemos intimamente com impactos negativos para nosso períspirito.

Num mundo baseado em constante competição, onde a cooperação perde força e efetividade, onde os holofotes materiais nos atraem de forma variada, somos constantemente estimulados a buscar os ganhos materiais, os recursos financeiros e os reconhecimentos que acreditamos justos e necessários. Muitas vezes estes méritos não são uma exclusividade nossa, somos uma peça de um grande instrumento da Criação, fazemos uma parte enquanto outros atores fazem outras, sendo o produto final uma obra coletiva.

Muitos médicos e cientistas se atribuem poderes de criação, muitos são aclamados e elevados a categoria de deuses, são excelentes profissionais, capacitados e dotados de grandes conhecimentos, embora possuidores de grande capacidade técnica, ignoram que o mundo espiritual os auxilia muito mais do que imaginam, muitas pesquisas são direcionadas por cientistas de outras esferas espirituais, muitas cirurgias são conduzidas por médicos desencarnados, levando-nos a acreditar que, num futuro muito próximo, os médicos serão dotados de mediunidade e perceberam que muito de seus méritos devem ser divididos com o dos médicos do mundo espiritual.

As relações entre os mundos material e imaterial são muito maiores do que as pessoas acreditam, os espíritos nos influenciam muito mais do que imaginamos, estão constantemente ao nosso lado, influenciam nossos pensamentos e nos inspiram ideias, pensamentos e comportamentos, quando temos uma conduta equilibrada e sadia, estes sentimentos são positivos e edificantes, agora, quando nossos comportamentos e energias deixam a desejar, nossos companheiros espirituais são aqueles ainda renitentes nos sentimentos menores.

Construir intimamente sentimentos melhores e mais conscientes nos ajudam na nossa evolução espiritual e nosso crescimento moral, com isso, atraímos companhias de espíritos mais equilibrados que nos protegem das intempéries da vida, a melhor forma de fazermos esta construção é ter sempre a consciência tranquila, adotarmos o hábito da oração e da reflexão crítica sobre nossos atos e comportamentos e nos melhorarmos como seres humanos, auxiliando os irmãos menos favorecidos, levando a todos sentimentos melhores e palavras edificantes, muitas vezes acreditamos que não temos condição de fazer caridade, associamos caridade com doações materiais e esquecemos que a caridade, em sua grande maioria, pode ser feita com uma oração, uma palavra amiga ou com uma atitude caridosa e desinteressada, o simples ouvir o depoimento de um irmão aflito pode servir como uma forma de caridade, neste simples ato muito males podem ser evitados, ainda mais numa sociedade marcada por intensa produtividade material e baixo equilíbrio espiritual.

O livro Ícaro redivivo nos traz informações relevantes sobre nosso comportamento, adoramos ser cultuados, reconhecidos e agraciados com honras e valores monetários, vivemos numa sociedade em que somos impulsionados a nos mostrar todos os momentos em redes sociais, sempre aparecendo felizes, realizados e bem sucedidos, mesmo que esta imagem não seja verdadeira precisamos cultivar e alimentar esta percepção social.

Como nos mostrou o sociólogo Zygmunt Baumann, valemos aquilo que podemos adquirir, nossos valores monetários estão sobrepondo outros valores muito mais sólidos e importantes, desenvolvemos tecnologias de alta geração, viajamos pelo espaço e mergulhamos em mares revoltos mas, infelizmente, postergamos uma viagem mais íntima e pessoal, uma viagem interior que pode nos gerar grandes decepções, emoções e muitas mágoas mas que é fundamental para que consigamos evoluir e entender que os valores da vida são intangíveis e imateriais, nesta jornada de retorno ao verdadeiro local da vida vamos perceber que muitos nobres, reis e autoridades serão colocadas em posições intermediárias, enquanto pessoas mais simples e humildes no mundo material vão se mostrar em evidência e em destaque no mundo espiritual.

Educação, aumento de produtividade e desenvolvimento econômico

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O Brasil passa por um período de forte degradação econômica, depois de uma queda de mais de 8% no produto interno bruto (PIB), a economia não conseguiu se recuperar e voltar a crescer de forma consistente, o resultado imediato desta situação é um incremento do desemprego, uma redução da renda e do consumo e perspectivas ainda muito frágeis de uma possível volta do crescimento econômico e melhores resultados no futuro.

São inúmeros os fatores que impedem uma volta mais rápida do crescimento econômico, para alguns economistas o pacto criador da Constituição de 1988 não se sustenta mais, fazendo-se necessário ajustes estruturais do modelo, sob pena da economia não resistir e entrar em um verdadeiro colapso, para estes economistas, o Estado brasileiro deve ser reduzido rapidamente e o setor privado deve ser estimulado a concorrer e trazer melhoras para a economia. De outro lado, encontramos economistas que defendem pensamentos diferentes, segundo estes, a economia parou de crescer e se mostrou ineficiente porque os juros pagos pelo governo são escorchantes e reduzem a capacidade de investimento do país, condenando-nos a um baixo crescimento econômico, além disso, nosso sistema tributário é muito regressivo, penaliza os mais pobres e a classe média, como estes setores estão envoltos diretamente nesta desaceleração econômica, estes se veem obrigados a reduzir seus consumos, deixando a economia sem tração para impulsionar o crescimento econômico.

Embora tenhamos muitas teorias para explicar as dificuldades e as limitações do crescimento econômico, a ausência dele está gerando uma taxa de desemprego em níveis elevados e assustadores, deixando mais de 28 milhões de pessoas sem emprego ou subempregados e com grandes dificuldades de cumprir com seus compromissos financeiros, nesta ambiente percebemos um incremento na marginalidade, na pobreza e um aumento considerável na população de moradores de rua, pessoas em situação degradante, sem perspectivas profissionais e com famílias beirando a insolvência e a indignidade.

O crescimento econômico aumenta as perspectivas da população de encontrar novas formas de emprego e de ocupação, abre novas possibilidades de profissionais e contribui para um maior dinamismo social, impulsionando regiões e incluindo pessoas e coletividades que estavam em condições precárias e, em muitos casos, se aproximando da marginalidade.

Para que tenhamos uma melhor condição econômica e encontremos o tão sonhado desenvolvimento econômico, o país precisa investir na qualificação de sua população, melhorar o perfil de seus trabalhadores e garantir condições dignas de sobrevivência, elevando a produtividade do trabalho que, como disse Delfim Neto, o “…desenvolvimento econômico se traduz pelo aumento da produtividade do trabalho”.

Para que consigamos elevar a produtividade do trabalho, faz-se necessário políticas fortes de investimentos maciços em educação, investimentos estes como foram feitos em países como Japão, Coréia do Sul e Israel, países descritos como exemplos de sucessos em dispêndios educacionais, embora saibamos que as condições destes países diferem diametralmente das condições brasileiras, todos estes contaram com grande auxílio financeiro, tecnológico e político dos governos norte-americanos que, por motivos variados investiram e protegeram, e ainda protegem, de forma acintosa estas economias.

Elevar a produtividade do trabalho requer políticas integradas de muitos setores, investimentos em qualificação, melhoras na infraestrutura e dispêndios maciços em pesquisa, ciência e tecnologia, garantindo uma melhor capacitação dos trabalhadores e, com isso, uma maior produtividade do trabalho. Para que tenhamos ideia de nosso atraso, em 1985, o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, na época professor em Chicago, fez uma pesquisa para levantar a produtividade dos trabalhadores de vários países, dentre eles destacamos três: Brasil, China e Estados Unidos. Nesta pesquisa, se descobriu que a produtividade do trabalhador norte-americano era cinco vezes maior que a produtividade de um trabalhador brasileiro e vinte e cinco vezes maior de que a de um chinês. Em 2015 esta pesquisa foi refeita e os dados mostram poucos avanços da produtividade dos trabalhadores brasileiros, através dela se descobriu que a produtividade do trabalhador norte-americano é quatro vezes maior do que a do brasileiro e a do trabalhador chinês é cinco vezes menor do que a do norte-americano.

A grande novidade desta pesquisa foi o avanço da produtividade do trabalhador chinês e a quase estagnação do trabalhador brasileiro, tudo isto fica bastante claro quando olhamos para os resultados das economias brasileira e chinesa, enquanto o Brasil entrou num período de forte estagnação, a China tomou um caminho diferente, passando de posições intermediárias para se tornar a segunda maior economia do mundo, com grandes perspectivas de se tornar a maior economia do mundo nos próximos dez anos.

O avanço da produtividade da economia brasileira deve ser visto como uma forma de incrementar o desenvolvimento econômico, melhorando as condições sociais e garantindo um fortalecimento da economia, capacitando-a para integrar cadeias produtivas em vários setores, garantindo a produção e a exportação de produtos de valor agregado maior, que se revertem em ganhos financeiros e monetários para toda a população.

Na economia brasileira, temos uma configuração setorial (produtividade entre setores) ruim, no sentido de uma perda de espaço da manufatura e um aumento do espaço do setor de serviços tradicionais. Mas temos ainda, grandes problemas na produtividade dentro dos setores, intra-setorial, no setor da agricultura familiar/subsistência temos 15% da população e na agricultura moderna temos 2% da população, enquanto nos países desenvolvidos ou ricos, esta população está na casa do 2% ou 3% total, com isso, percebemos que nossa produtividade na agricultura é muito baixa quando a comparamos com os países ricos.

Nossa baixa produtividade não se limita ao setor agrícola, nossa indústria também apresenta números degradantes quando a comparamos com os países ricos, o grosso dos produtos que produzimos são de baixa tecnologia enquanto os países ricos apresentam produtos de média e de alta tecnologia.

Outro setor que gera resultados decepcionantes em termos de produtividade do trabalho é o de serviços tradicionais, sendo uma grande quantidade de serviços ultra simples efetuados em favelas e regiões pobres no Brasil afora, cuja mão de obra é pouco qualificada e as atividades geram baixíssimo valor agregado para todo sistema econômico e produtivo. Todos estes dados nos auxiliam na compreensão do porque os salários dos trabalhadores são baixos na economia brasileira, a produtividade do nosso trabalhador ainda apresenta números bastante limitados, com isso, nossos salários são reduzidos quando o comparamos com o de outros países.

Nos setores de commodities apresentamos resultados empolgantes, neste setor somos bons (ocupamos 1% do emprego total) e no setor de serviços modernos também apresentamos bons resultados, mas este último setor ainda é bem pequeno do ponto de vista da geração de emprego, são setores que ainda empregam uma baixa quantidade de mão de obra e trabalhadores altamente qualificados e capacitados.

Para que consigamos competir na Quarta Revolução Industrial, a melhora da qualificação da mão de obra e um investimento em capital humano devem ser vistas como uma política para o futuro, uma forma de aumentar a capacitação do sistema produtivo e garantir a entrada em setores com valor agregado maior. Alguns países conseguiram dar este salto educacional imenso, enquanto muitos gestores perdem seu tempo viajando para países que conseguiram acelerar seu desenvolvimento, deveríamos valorizar experiências locais inovadores e de grande sucesso, como a da cidade de Sobral. Ceará, cujos dados crescem e colocam a cidade nos radares de todos que se interessam pelos avanços dos setores educacionais.

Dentre as políticas que foram implementadas em Sobral, não encontramos nenhuma grande inovação tecnológica, nada de um tablet ou computador por aluno, nada de infraestrutura sofisticada e nenhuma sala de aula sem professor. Na experiência da cidade, destacamos um currículo claro, com fortes investimentos em formação continuada de professores, materiais didáticos de apoio, avaliações unificadas que subsidiam os professores e os coordenadores sobre o aprendizado de cada aluno e, fundamentalmente, uma boa gestão escolar, sem ela os avanços não seriam tão precisos e intensos.

Desta experiência da cidade de Sobral, destacamos a importância de um bom gestor para o desenvolvimento do setor educacional, gestores capacitados e dotados de visão técnica, capacidade de liderança e dedicação exclusiva, com salário atraentes e boas perspectivas de crescimento profissional, devem nortear as escolhas dos atuais e futuros gestores públicos, deixando de lado as contratações de apaniguados políticos e eleitorais, na maioria das vezes medíocres e incapacitados para gerir projeto tão grandioso, que se utiliza do cargo para ascender a posições maiores na cidade ou na região, deixando a educação para segundo plano.

Aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro deve ser um projeto integrado, onde vários setores devem contribuir ativamente para capacitar a população, universidades, empresas, governos e organizações da sociedade civil, garantindo condições dignas e decentes para que a verdadeira meritocracia ganhe espaço na sociedade. Exemplos grandiosos como as transformações educacionais ocorridas na China nos últimos trinta anos nos mostram que a educação deve ser vista como um projeto nacional, uma prioridade crescente, transformando a educação não em um projeto de governo, mas de um projeto de Estado.

De todos os exemplos exitosos de países que conseguiram um grande desenvolvimento econômico e melhorias no bem-estar social da população, encontramos um incremento nos investimentos educacionais, todos tiveram em comum a capacidade de elevar a educação ao topo de suas prioridades e atualmente colhem grandes avanços na sociedade.

Outro ponto importante e fundamental para uma melhoria na educação nacional, é compreendermos a relevância e a centralidade do professor e do pesquisador para o desenvolvimento econômico e social, sem eles não adianta outros esforços, continuaremos nos apegando a pensamentos mesquinhos e imediatos e continuaremos a ser lembrados como Brasil: o país do futuro, uma obra de muito sucesso escrita pelo judeu austríaco Stefan Zweig.

Neste projeto de integração, os variados grupos devem assumir suas responsabilidades, as universidades devem se aproximar mais da sociedade e das empresas, pesquisando, publicando e construindo conhecimentos compartilhados com a coletividade. As empresas devem mirar em investimentos de longo prazo, auxiliando os agentes governamentais na gestão das políticas públicas e deixando de lado a limitada dicotomia entre Estado versus Mercado. No mundo contemporâneo, onde a concorrência e a competição ganharam relevância econômica, social e política, os países desenvolvidos conseguiram compreender que a junção das forças é fundamental para garantir novas oportunidades de progresso e de crescimento econômico, devemos aprender com estes países e construir, de forma democrática e inclusiva, um projeto nacional que objetive uma sociedade melhor e uma economia mais competitiva para que num futuro próximo alcancemos o tão almejado desenvolvimento econômico.

Aprendendo com quem transformou a educação no Brasil

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Folha de São Paulo, 07 de junho de 2019.

É necessário pôr fim à narrativa paralisante de que nada funciona no país

Todo ano, lideranças educacionais vão visitar a Finlândia, Singapura ou Xangai. Com a divulgação dos resultados do Pisa, o interesse pelo processo de ensino por trás do excelente desempenho dos jovens de 15 anos dessas economias aumenta o turismo em educação.

Faz sentido se inspirar no sucesso em qualquer área de atividade humana e replicar bons exemplos. No entanto, as diferenças de condições entre comunidades demandam certa contextualização de soluções e os mais céticos acabam atribuindo os resultados positivos à renda mais alta ou à cultura dos países que as abrigam.

Vale sempre a pena olhar com prioridade para o que dá certo no país e sair da narrativa paralisante de que aqui nada funciona. Há experiências educacionais de sucesso espalhadas em estados e municípios e certamente temos muito a aprender com elas.

Foi a partir disso que, ao criar uma rede de líderes educacionais fluminenses, a primeira ideia que ocorreu ao Ceipe, um centro da Fundação Getulio Vargas voltado à melhoria da política educacional no Brasil, foi levá-los ao município do interior do Ceará que conta com o melhor Ideb do país.

Sobral, uma cidade com um nível socioeconômico baixo e uma população de pouco mais de 200 mil habitantes, tem se destacado não só por assegurar aos alunos uma aprendizagem excepcional mas por continuar melhorando ao longo dos anos.

O que esse grupo de secretários e gestores educacionais pôde ver em reuniões, palestras e visitas, ouvindo relatos de técnicos, docentes e diretores de escola, foi um forte alinhamento de todos em torno de um receituário que funciona.

Há um currículo claro, investimento em formação continuada de professores, com bons materiais de apoio, avaliações unificadas que fornecem informações a todos sobre o que cada aluno está aprendendo e boa gestão escolar. O que não viram: salas de aula sem professores, infraestrutura sofisticada ou tablets com cada aluno.

Mas, em conversa com o prefeito de Sobral, ele me adiantou que havia, até bem pouco, duas coisas faltando para que essa educação de qualidade pudesse desenvolver plenamente os jovens e ajudar a resolver outros problemas do município.

Trata-se do ensino de habilidades socioemocionais e da presença de psicólogos em cada escola, para atuar junto a adolescentes com risco de abandono escolar. Foi o investimento mais recente.

Afinal, é necessário contar com um currículo que contemple as competências do século 21, entre as quais a empatia e a autorregulação, e evitar que jovens abandonem a sala de aula e engrossem os exércitos da economia paralela.

Que o estado do Rio possa, de fato, aprender com essa experiência!

Claudia Costin

Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

 

Mágoas, rancores e ressentimentos: as dores da alma

Vivemos em uma sociedade que atravessa um momento de grandes transformações estruturais e inquietações, com impactos generalizados sobre os indivíduos e causando constrangimentos íntimos e emocionais, as famílias estão em crise, as escolas estão em crise, o trabalho está em crise, o ser humano está em crise, a crise é generalizada e afeta todos os indivíduos e todas as regiões do mundo, gerando depressão, ansiedade, estresse, medos e muitos rancores e ressentimentos internos.

As crises são normais na sociedade, todos passamos por momentos de reflexão e questionamentos íntimos, elas servem como instrumentos de crescimento e de desenvolvimento espirituais, mas podem gerar sintomas de rancores e ressentimentos que devem ser combatidos para que estes não se transformem em sentimentos maiores e mais violentos, com impactos no ser humano que podem atravessar outras vidas e experiências pessoais.

A Doutrina Espírita nos mostra que estas crises estão antecipando momentos novos para a sociedade mundial, muitos desajustes e desequilíbrios estão sendo depurados, espíritos que durante muitos anos, décadas ou séculos estavam nas regiões mais abissais dos mundos inferiores estão sendo obrigados a reencarnar, mesmo relutando em retornar estão sendo obrigados a voltar ao mundo material, trazendo mágoas, rancores e ressentimentos em sua alma. Esta reencarnação compulsória é, na verdade, uma ultima chance para muitos irmãos que se acostumaram com sentimentos menores e trazem na alma uma forte predileção para a violência e para a destruição, neste momento estão tendo uma chance imperdível, se não aproveitarem esta oportunidade serão conduzidos a mundos mais atrasados que a Terra, onde suas energias estão mais integradas. A Terra precisa progredir, a mensagem já foi enviada e todos que estão impelindo seu crescimento serão retirados compulsoriamente e levado para outros mundos, mais atrasados moralmente e mais afeitos a seus valores éticos e morais.

Neste momento onde a tecnologia ganha espeço e relevância na sociedade, as pessoas estão se aproximam mais devido ao crescimento das redes sociais, dos aplicativos de mensagens, publicando fotos e imagens pessoais, se expõem buscando uma fama momentânea, sonhando com a possibilidade de se transformar em uma celebridade, ganhar dinheiro, poder e desfrutar de riquezas e de reconhecimento, acreditando que este caminho lhe trará a tão desejada felicidade e os cobiçados momentos de prazer e de alegria, como é retratado nas revistas de moda e de comportamento.

Vivemos em uma busca constante por riquezas e prazeres e nos iludimos depois que as conquistamos, muitas vezes esta conquista retira nossa paz e os nossos melhores sentimentos, nos tornando mais materialistas e interesseiros, acreditando que estas regras são aquelas que nos levarão a felicidade eterna. Vivemos em um engano crescente, acreditamos na felicidade e nos esquecemos de buscar tudo aquilo que nos auxilia nesta busca constante, deixamos os valores da alma e nos assenhoreamos dos valores monetários e como nos disse Jesus Cristo “…não dá para servirmos a Deus e a Mamon”.

Vivemos num mundo de escolhas crescentes, todos os dias somos impulsionados a tomar decisões e fazer escolhas, queremos os prazeres que a vida pode nos dar e, ao mesmo tempo, a consciência tranquila que nossas boas atitudes podem nos conceder, mesmo não percebendo que os caminhos traçados na atualidade vão nos levar a colheitas mais consistentes e verdadeiras, estas colheitas são fruto de nossas escolhas pessoais.

Nesta caminhada nos envolvemos com pessoas diferentes, nos relacionamos com espíritos diferentes, atraímos energias diferentes e, muitas vezes, não conseguimos controlar nossas ansiedades, acumulando sentimentos menores com relação a outros, que podem crescer e criar constrangimentos futuros, se transformando em mágoas, rancores e ressentimentos.

Todos nós temos estes sentimentos em nossos corações, relacionamentos fracassados, amizades desfeitas, conflitos profissionais e desequilíbrios antigos, muitas vezes que remontam a outras encarnações ou até mesmo desta experiência material, que embora não nos lembremos detalhadamente, traz inscrita em nossa mente e estamos sempre evocando em momentos de pouca vigilância.

Estes sentimentos negativos crescem dentro dos indivíduos, se transformam em raiva e em muitos casos levam a agressões e ressentimentos que são levados para outras vidas, diante disso, a Doutrina Espírita nos mostra a importância do perdão e da reconciliação, sabemos que, em muitos casos, este perdão é difícil e demorado, mas para toda grande caminhada temos que dar os primeiros passos.

O Espiritismo nos mostra que o melhor momento de nos reconciliarmos com nossos desafetos é agora, neste exato momento. Muitos acreditam que podem deixar esta conversa um pouco mais para frente, postergam este pedido de desculpas, acreditando que ao se desculpar estão se humilhando e se rebaixando. Ledo engano cometemos, a retratação e o pedido de desculpas sinceros auxiliam em nosso crescimento espiritual, evitando constrangimentos futuros enormes e dores das mais íntimas e pessoais.

Nos trabalhos mediúnicos, muitos são os espíritos que se comunicam com seus corações agredidos e ultrajados, muitos deles marcados por sentimentos de vingança, rancores e ressentimentos generalizados, irmãos que trazem estes sentimentos na alma, cultivando estas mágoas e criando os constrangimentos mais terríveis possíveis. Nesta situação, transformam suas vidas em uma constante perseguição visando destruir seus supostos algozes, adotando posturas agressivas e se comprazem com as quedas e as dores de seus perseguidos.

Esta perseguição constante atrasa seu crescimento e seu desenvolvimento espirituais, postergando momentos de progresso e a atração de sentimentos melhores e mais sólidos, deixando de construir valores morais e sentimentos mais consistentes que auxiliam no seu refazimento. A vingança, o ódio e o rancor são pesos pesados que os espíritos carregam em seu caminhar, são energias que os constrangem e repelem seu progresso e sua melhoria espiritual.

Muitos espíritos desencarnam e trazem para o mundo espiritual sentimentos desagradáveis, rancores e ressentimentos, estes irmãos incautos acabam cultivando durante muitos anos estas energias, deixando de conversar e de expor suas mágoas, remoendo-as com constância e fazendo com que, muitos melindres se transformem em agudos desajustes que se perpetuam no tempo, gerando medos, dúvidas e perseguições intensas.

Em outras situações, encontramos espíritos que se comunicam em sessões mediúnicas bradando rancores e ressentimentos, se dizendo vítimas de algozes agressivos e violentos, muitos destes irmãos se encontram tão perturbados que deixam a reflexão de lado, se colocando como vítimas e transformando sua caminhada em constante instrumento de vingança, se transformando em pessoas amargas e desagradáveis.

Muitos destes irmãos ao serem indagados sobre sua trajetória e os motivos da perseguição, se veem envoltos em grande confusão mental, seus sentimentos são de amor e saudade, sentindo-se traídos em vidas anteriores. Estes irmãos se acreditam vítimas de outros relacionamentos fortuitos, acreditando-se ultrajados em seus mais íntimos sentimentos. Estes companheiros não devem ser vistos como maldosos, cruéis ou violentos, muito pelo contrário, são corações feridos, amores agredidos e relacionamentos interrompidos que, por melindre ou vaidade, se transformaram em perseguidores que, com apenas uma conversa sincera, suas mágoas seriam resolvidas sem o acumulo de sentimentos menores.

Muitos irmãos se comunicam em trabalhos mediúnicos acreditando que foram vítimas de agressões, humilhação e despaupério maiores, colocam-se como vítimas e criticam intensamente seus algozes, descrevendo-os como maldosos e perseguidores, esquecem-se de que neste mundo não existem vítimas, quando nos colocamos nesta posição estamos contando para os outros apenas uma parte da história, na verdade estamos contando a parte que nos interessa, nos esquecendo que todos somos vítimas e algozes, muitos vivem nesta situação durante muitos anos, alguns por séculos e séculos, acumulando e cultivando sentimentos menores que nos conduzem a desequilíbrios frenéticos e acelerados.

Sabemos que, em muitos casos, o perdão se mostra difícil e demorado, em muitos casos para que sentimentos melhores sejam instalados, a espiritualidade maior programa uma nova encarnação, onde estes acabam se aproximando, em muitos casos na mesma família, como forma de dissipar os sentimentos menores e construir relacionamentos mais sólidos e consistentes, como vimos no caso de Segismundo, descrito em detalhes na obra Missionários da Luz, da coleção A vida no mundo espiritual, escrita por Francisco Cândido Xavier e ditada pelo espírito André Luiz.

Na sociedade em que vivemos atualmente, encontramos muitos sentimentos que sufocam os indivíduos, perdemos muitas vezes os referenciais de crescimento espiritual, deixamos de lado os ensinamentos que nos foram trazidos por Jesus Cristo e nos foram renovados com a Doutrina Espírita e nos deixamos conduzir por sentimentos de vingança e violência, esquecendo que tudo que fizermos para nossos semelhantes, sejam boas ou más ações, seremos responsáveis e as colheremos em algum momento de nossas vidas, sejam nesta experiência física ou em alguma outra de nossa evolução espiritual.

Outra situação que constantemente encontramos na sociedade, muitas pessoas veem irmãos caridosos, atenciosos e de bom coração passando por momentos difíceis, perseguições e obsessões, nesta situação bradam contra Deus e indagam porque estes, sendo justos e bons, estão passando por momentos de dificuldades? A Doutrina dos Espíritos nos mostra que estes irmãos são bons hoje, o que é um grande mérito, mas em experiências anteriores não foram tão bons assim, cometeram equívocos, arrebataram sentimentos e destruíram corações, gerando graves constrangimentos e dores naqueles que foram vítimas de suas vaidades.

Sendo bons na atualidade estes irmãos mostram que estão evoluindo, estas dificuldades serão vencidas e estes perseguidores serão orientados e disciplinados, com isso, sua melhora servirá para facilitar sua compreensão e evitar que este irmão cultivasse sentimentos menores com relação ao seu algoz, auxiliando seu progresso espiritual e, ao mesmo tempo, se melhorando como ser humano.

A Doutrina dos Espíritos nos mostra que a vida continua, a morte que amedronta a maioria das pessoas não existe, com isso, muitos relacionamentos desequilibrados, marcados por mágoas e ressentimentos devem ser reestruturados, estes sentimentos nos aproximam e nos levam a cultivar energias menores e dores intensas que duram muitos anos e séculos, gerando inimizades e agressões mútuas, onde os indivíduos se alternam dos dois lados da vida, cada um acreditando ser a vítima e agindo como um algoz tirano e ressentido.

Algumas pessoas vivem em constantes desequilíbrios, carecem de renovação espiritual, cultivam hábitos depreciativos, absorvem energias degradantes, desejam prazeres agressivos e vivem em constantes desequilíbrios internos, estes irmãos devem ser respeitados, devemos auxiliar da forma que pudermos mas devemos ter em mente que nosso auxílio deve vir acompanhado do esforço deste irmão, sem este esforço íntimo e pessoal, todo gesto que fizermos querendo auxiliá-lo podem gerar desajustes emocionais e nos causar graves constrangimentos posteriores.

Todos somos devedores, em nossas vivências cometemos inúmeros desequilíbrios, cultivamos hábitos e comportamentos inferiores que, constantemente aqueles que afetamos voltam para fragilizar nosso equilíbrio. Quando nos entregamos ao bem, oramos com sentimentos verdadeiros e cultivamos sentimentos saudáveis conseguimos a proteção para nosso progredir mais íntimo, com isso, entendemos as lições e agradecemos as oportunidades de crescimento que nos foram concedidas.

Remover de nossos corações sentimentos menores é fundamental para nosso progresso espiritual, absorver energias equilibradas e cultivar hábitos constantes de oração, leitura edificante e sentimentos melhores nos aproximam do progresso, dos bons espíritos e das boas energias, construindo uma estrutura de amor e solidariedade que nos conforta em momentos de desesperanças e medos e nos auxilia para que consigamos enxergar a luz e compreender as verdadeiras lições que recebemos todos os dias de nossa existência.