Ventos intervencionistas

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Nos últimos anos a situação da economia internacional vem degradando de forma acelerada, com impactos sobre todas as regiões do mundo, levando a incertezas, aumento dos riscos dos países e piora dos indicadores macroeconômicos. Depois da crise financeira internacional de 2008, a chamada crise Imobiliária nos Estados Unidos, o mundo sentiu na pele uma forte degradação financeira na Europa, levando vários países a quase bancarrota, culminando na saída da Inglaterra da União Europeia. Somando a esse cenário de crises financeiras, destacamos ainda, a pandemia do coronavírus, que vitimaram mais de seis milhões de pessoas na sociedade mundial, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, com fortes impactos nos preços internacionais e o incremento da inflação, gerando instabilidades e volatilidades. Atualmente, estamos, novamente, vivenciando uma nova crise financeira global, cujos impactos ainda são impossíveis de fazer previsões, seus contágios, seus desdobramentos e seus impactos para todas as economias.

Neste cenário, de possível crise financeira internacional, os cenários estão confusos e pouco visíveis, mas percebemos que os agentes econômicos estão se movimentando ativamente para agilizar o socorro para as instituições bancárias, como fizeram anteriormente, despejando trilhões de dólares para proteger os investidores e evitar que acumulem perdas substanciais, que poderiam inviabilizar seus ganhos e seus patrimônios.

Essa crise, como em todas as outras que impactaram o sistema econômico e produtivo mundial, nos mostra claramente, que quando os grandes agentes econômicos e políticos solicitam proteção do Estado, os grandes incentivos monetários e subsídios financeiros crescem rapidamente, sem transparência, sem atrasos e sem mixarias, dispendendo fortunas que, se fossem canalizados para investimentos produtivos, seus retornos sociais seriam muito maiores, garantindo ganhos substanciais para toda a comunidade, aumentando o emprego, melhorando o salário e as rendas agregadas, vislumbrando um cenário propício para o crescimento econômico.

Neste cenário de possível crise financeira global, os governos se colocam numa condição de paradoxo crescente, dispendem trilhões de dólares para socorrer os investidores incautos, acenando positivamente para os setores financeiros, despejando recursos com pouca transparência, com ausência de governança e acenam para a redução dos investimentos públicos em políticas sociais, cujos retornos são maiores e auxiliariam na construção de um ambiente mais propício para a recuperação das economias.

A crise nos mostra, que ao contrário dos liberais, que advogam a ausência do Estado, todos os grandes conglomerados privados contaram com os recursos públicos, direto ou indiretamente, para se constituir, se consolidar e prescindem de seu apoio político e financeiro, protegendo-os, expandindo-os e fortalecendo-os para que seus lucros cresçam de forma acelerada. Na verdade, ao investigar os grandes conglomerados econômicos e produtivos percebemos que a parceria entre Estado e Mercado sempre existiu. A economista italiana Mariana Mazzucato, autora do livro O Estado Empreendedor, destaca os mais variados exemplos de parcerias exitosas entre governos e empresas, desde o financiamento a fundo perdido, auxílios institucionais, compras governamentais, proteção geopolítica, isenções tarifárias, dentre outras.

Neste cenário de incertezas e instabilidades crescentes no ambiente internacional, marcados por preocupações econômicas, polarizações políticas e o crescimento de crises sociais em todas as regiões, percebemos o incremento das parcerias entre Estados e Mercados, onde países desenvolvidos estão injetando trilhões de dólares para fortalecer setores econômicos estratégicos, nações desenvolvidas estão barrando empresas de países vistos como adversários e impedindo a compra de empresas nacionais por concorrentes externos. Neste ambiente de fortes concorrências, as nações desenvolvidas estão olhando mais fortemente para seus interesses imediatos, internalizando cadeias produtivas, fortalecendo suas empresas e consolidando setores nacionais.

Internamente, estamos desindustrializando, vendendo empresas estratégicas e acreditamos que somos contemporâneos. Será?

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 22/03/2023.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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