A “Indústria Americana” e o novo modelo de trabalho

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Neste período de pandemia, instabilidades, incertezas e crescentes conflitos econômicos entre as maiores economias internacionais, o filme A Indústria Americana, ganhador do melhor documentário no Oscar deste ano, analisa grandes mudanças nas estruturas organizacionais das empresas, de um lado encontramos os modelos adotados nos países asiáticos e de outro os modelos que dominaram quase todo o século XX, mas perdeu centralidade no cenário internacional, mostrando impactos culturais das organizacionais dos grandes atores da economia global, para muitos, este será o grande conflito ou geopolítico contemporâneo.

Estamos num momento de novos conflitos geopolíticos, neste momento percebemos o crescimento da China na economia internacional, uma economia que, desde os anos 1980, vem ganhando centralidade na economia global. Inicialmente, percebemos uma economia produtora de produtos de baixo valor agregado, como produtor de grandes escalas produtivas, marcados com preços reduzidos e uma gigante capacidade produtiva, levando o país a ganhar espaço na indústria global. De um crescimento econômico com mais de 10% ano nos últimos quarenta anos, o país angariou grandes somas de recursos monetários internacionais, com isso, é atualmente o grande detentor das maiores reservas mundiais, em torno dos US$ 4 trilhões, recursos que a China está dianteira das grandes aquisições em todas as regiões, desde os negócios no continente africano, na América Latina, no Oriente Médio e no continente Europeu, temendo seus concorrentes e possibilitando novas possibilidades de negócios rentáveis.

O documentário mostra um impacto dos modelos organizacionais dos dois grandes atores internacionais, um conflito cultural, econômico, político e geopolítico. O filme destaca a compra de uma planta industrial da General Motors em Dayton, Ohio, depois pela crise de 2008, que levou a empresa norte-americana a fechar a fábrica e mandar embora mais de 2,8 mil funcionários, gerando grandes impactos pelos trabalhadores e em toda a cidade, com incremento no desemprego, queda na renda das famílias e o crescimento da desesperança, gerando indicadores sociais negativos para toda a coletividade.

O documentário tem uma peculiaridade interessante, dentre os investidores deste filme está o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a ex-primeira dama Michele Obama, que patrocinaram a ideia e levou a película para o prêmio mais importante de Hollywood, levando a estatueta e garantiu o Oscar de melhor documentário de 2020.

O filme destaca os primeiros períodos da compra da planta industrial da General Motors, adquirida pela empresa multinacional chinesa Fuyal, responsável pela produção de vidros automotivos, cujos métodos de produção e sua estrutura organizacional entram em conflitos, mostrando a precarização crescentes, a exploração dos trabalhadores, a aversão pelos sindicatos e os novos modelos de exploração industrial centrados nas chamadas empresas da indústria 4.0.

Neste filme, A Indústria Americana, percebemos que grande parte dos trabalhadores são norte-americanos, permeados por trabalhadores oriundos da própria China, com seus modelos de organização, centrado na disciplina, na rigidez, na hierarquia, no trabalho duro e os turnos elevados, salários reduzidos e sem cobertura sindical, cuja diretoria deixa claro para todos os empregados americanos que são contrários a sindicalização, que incorreria em custos elevados de produção e o corte de funcionários, aumentando o desemprego.

Percebemos que a diretoria da Fuyal, uma grande produtora de vidros automotivos, enxerga o projeto da planta industrial nos Estados Unidos como um grande desafio para a multinacional, uma forma de mostrar para as autoridades americanos como os chineses conseguem produtos com alta qualidade e com baixos preços reduzidos, colocando-a como no nível de produtividade das plantas industriais de outras regiões do mundo e, principalmente, da produtividade da empresa chinesa.

No decorrer do documentário, percebemos os conflitos organizacionais e os modelos produtivos, destacando as diferenças dos trabalhadores destes dois países, os asiáticos são magros e ágeis, flexíveis, trabalhando em cargas crescentes e disponíveis a aceitar salários reduzidos, muitos destes trabalhadores são oriundos da China, ficam distantes de suas famílias, seus pais, seus filhos e não conseguem acompanhar o crescimento de seus descendentes. De outro lado, percebemos trabalhadores norte-americanos, vistos como obesos, lerdos e poucos ágeis, sem iniciativas limitadas e descontentes com seus salários, vistos como uma remuneração baixa e cargas excessivas de trabalhos.

No decorrer do documentário, um dos funcionários americanos critica a remuneração reduzida paga pelo empregador chinês, cujos salários giram em torno de US$ 12,2 ao dia, um valor muito a quem dos salários pagos pela General Motors, ex-dona da planta industrial de Dayton, cujos valores giravam em torno de US$ 29,2 ao dia. Estes recursos monetários garantia uma qualidade de vida maior para os trabalhadores e perspectivas melhores para seus familiares, possibilidades de estudos, alimentação mais dignas e esperanças de um futuro mais promissor, todos buscando o sonho americano.

O documentário mostra como as empresas estão cada vez mais centradas em novas tecnologias, nas fábricas percebemos uma redução significativa dos empregos e, ao mesmo tempo, um incremento da produtividade e o crescimento dos lucros. Dentro da dependência, os gestores da empresa Fuyal, criticam o excesso de horas de trabalho dos trabalhadores norte-americanos, que na cultura organizacional foram contratados para cargas de trabalho de oitos horas de segunda a sexta, visto como excessivo e dispendioso, quando comparamos com as cargas na China, cujos trabalhadores possuem apenas um dia de descanso no decorrer do mês, um modelo altamente degradante e humilhante nos colaboradores.

A globalização impulsionou a economia internacional no século XX, principalmente o final da segunda guerra mundial, período marcado pelo incremento da hegemonia dos Estados Unidos, neste período os norte-americanos se transformaram no país hegemônico da economia global, criando as bases da estrutura econômica, concentrando a força industrial, além do poder financeiro baseado na moeda, na força bélica e pelo soft power, centrados na força da cultura e das instituições americanas, a democracia, da livre concorrência e da busca constante do sonho liberdade.

            Este modelo criado pelos Estados Unidos foi responsável pelo empoderamento da economia norte-americana, ganhou espaço nos países socialistas, fragilizou os interesses hegemônicos do Japão e sente a força de outro país asiático, percebendo que a China é o maior rival para a predominância da hegemonia dos Estados Unidos, levando-o a adotar políticas que sempre contestaram em outros países ou regiões, recorrendo a políticas protecionistas contra empresas concorrentes, com isso, percebendo que os ideários liberais são adotados quando lhe convém e são rechaçados quando os ameaçam frontalmente.

O documentário, mostra claramente que os Estados Unidos encontraram seu maior adversário, além de desbancar empresas norte-americanos no cenário internacional, as empresas chinesas estão ganhando espaço internamente, instalando em solos americanos, implantando as estruturas organizacionais asiáticas, adotando modelos de organizacionais do trabalho, a ojeriza pela organização sindical, o alto crescimento das horas trabalhadas, a queda dos direitos trabalhistas e salários reduzidos. Neste novo modelo organizacional, adotado pela Fuyal em solo norte-americano, percebendo um novo modelo de trabalho e estrutura laboral, com cargas rigorosas de trabalho, diminuição dos modelos hierárquicos, alta rotatividade de funcionários, redução das conversas entre os funcionários e rigorosa fiscalização dos gestores.

No documentário A Indústria Americana, destaca um momento em que uma trabalhadora negra norte-americana chora diante dos gritos e das ordens de chefes chineses, neste momento percebemos que os asiáticos descrevem os trabalhadores americanos como “preguiçosos”, trabalhando menos que os chineses e são substituídos pelos empregadores quando percebem a inaptidão do cargo, sendo trocados por trabalhadores importadores diretamente da China, mais aptos pela cultura organizacional asiática.

O documentário mostra as perseguições pelos empregadores chineses, as demissões constantes, os assédios são crescentes, principalmente para que os trabalhadores não vinculassem os sindicatos, para evitar estas organizações sindicais os chineses adotaram inúmeras medidas para pressionar os funcionários americanos, principalmente os mais novos, para que não os trabalhadores aceitem a intermediação com os sindicatos.

O modelo de trabalho destacado no documentário é assustador, ao analisar os modelos laborais nos Estados Unidos, percebemos que não é nenhum modelo de organização virtuoso para os trabalhadores, muito ao contrário. Nos Estados Unidos, o modelo é marcado por pouca regulação do trabalho, onde boa parte das pessoas realiza o trabalho intermitente (pagamento por horas trabalhadas permitindo mais de um emprego), muitas horas de trabalho, sem acesso à saúde e educação pública, e com muita restrição ao direito de livre organização sindical.  A sociedade brasileira precisa se atentar com as mudanças no mercado de trabalho, o modelo norte-americano está no horizonte das mudanças implementadas na Reforma Trabalhista de novembro de 2017, baseadas nos ideários norte-americanos, com mais redução dos custos de trabalho, facilidade da contratação e da dispensa dos trabalhadores e, principalmente, numa redução abrupta do Estado como intermediário dos conflitos entre capital e trabalho.

O documentário A Indústria Americana mostra claramente que os modelos preconizados pelos conglomerados produtivos chineses são piores e excludentes para os trabalhadores, as cargas de trabalhos são elevadas, o controle interno é crescente, os benefícios e os salários são reduzidos, as folgas são pequenas e a facilidade de demissão são mais altas, um ambiente preconizado são instáveis e incertos, gerando ambiente de desesperança e medo elevados, vivemos um ambiente de inseguranças crescentes.

O documentário não destaca uma crítica mais consistente nos modelos de trabalho que crescem em todas as regiões, o capitalismo está criando um rastro de destruição em todos os continentes, os trabalhadores estão sem proteção e percebemos um discurso de que os sindicatos são incapazes de garantir ganhos para os trabalhadores, mas percebemos que a ausência destes instrumentos de defesa aos trabalhadores apenas facilitam o controle das classes dominantes do capitalismo contemporâneo e o incremento da degradação das classes trabalhadores, com salários reduzidas, benefícios menores e cargas de trabalhos cada vez maiores. O ambiente da Indústria 4.0 poderia ser um novo momento de melhoria de todos os grupos sociais, levando-os todos a participarem dos ganhos desta nova sociedade, mas o que percebemos, é que estamos gestando uma sociedade mais segregada, desigual e centrada na exclusão social.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

‘Pandemia é resposta biológica do planeta’, diz físico Fritjof Capra

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 Autor de “O Tao da Física” relaciona desigualdade social, economia predatória e devastação ambiental ao surgimento do novo coronavírus

Fernanda Mena – folha de São Paulo, 10/08/2020

Ícone do pensamento sistêmico, o físico e ambientalista austríaco Fritjof Capra, 81, interpreta a pandemia da Covid-19 como uma resposta biológica da Terra diante de emergências sociais e ecológicas amplamenta negligenciadas. J

Segundo Capra, as mudanças de paradigma necessárias a essas emergências já são possíveis, tanto do ponto de vista do conhecimento quanto do desenvolvimento tecnológico. “Teremos a vontade política que falta?”, provoca ele, em entrevista à Folha por e-mail.

Autor de best-sellers internacionais como “O Tao da Física” e “Ponto de Mutação” (Cultrix), entre outros, o Capra articulou a física moderna a uma visão holística da vida no planeta e dos fenômenos naturais, inserindo a humanidade e suas ações nos ciclos de transformação da vida no planeta.

Capra é uma das estrelas deste ano do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, cujo tema – Reinvenção do Humano – implica um debate de múltiplas variáveis que, na visão do físico austríco, são sempre indissociáveis e interdependentes.

Diretor do Centro de Alfabetização Ecológica, com sede em Berkeley, na Califórnia (EUA), Capra desenvolveu uma pedagogia da ecologia a ser aplicada no ensino formal, primário e secundário.

Convertido em ambientalista por sua própria pesquisa, o austríaco há décadas denuncia o caráter predatório da economia global capitalista extrativista e a captura corporativa da política, que sucumbe a interesses econômicos em detrimento dos recursos naturais do que chama de Gaia —a Mãe-terra da mitologia grega que batizou uma visão do planeta como um imenso organismo vivo.

Para ele, estão equivocadas as atuais métricas do desenvolvimento baseadas no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) a partir de uma cultura de excessos, que implica em perdas sociais e econômicas.

Em quais aspectos o momento presente pode redefinir a condição humana?

Na minha visão, o coronavírus deve ser visto como uma resposta biológica de Gaia, nosso planeta vivo, à emergência social e ecológica que a humanidade criou para si própria. A pandemia emergiu de um desequilíbrio ecológico e tem consequências dramáticas por conta de desigualdades sociais e econômicas.

Cientistas e ativistas ambientais há décadas vêm alertado para as terríveis consequências de sistemas sociais, econômicos e políticos insustentáveis. Mas até agora as lideranças corporativas e políticas teimaram em resistir a esses alarmes. Agora eles foram forçados a prestar atenção, já que a Covid-19 trouxe os avisos de antes para a realidade de hoje.

Quais paradigmas a humanidade precisa mudar e por quê?

Com a pandemia, Gaia nos trouxe lições valiosas capazes de salvar vidas. A questão é: teremos a sabedoria e a vontade política necessárias para ouvir essas lições? Mudaremos do modelo de crescimento econômico indiferenciado baseado no extrativismo para outro de crescimento qualitativo e regenerativo? Vamos substituir combustíveis fósseis por formas renováveis de energia que dêem conta de todas as nossas necessidades? Vamos substituir nosso sistema centralizado de agricultura industrial com uso intensivo de energia por um sistema orgânico de agricultura regenerativa, familiar e comunitária? Vamos plantar bilhões de árvores capazes de retirar o CO2 da atmosfera e de restaurar diferentes ecossistemas do mundo?

Nós já temos o conhecimento e a tecnologia para embarcar em todas essas iniciativas. Teremos a vontade política que falta?

Num momento em que o valor do conhecimento científico biológico e tecnológico se mostram tão importantes, qual é o papel das humanidades?

Isso está diretamente relacionado a sua pergunta anterior. Se temos todo o conhecimento científico e tecnológico para construirmos um futuro sustentável, porque não o fazemos simplesmente?

Quando refletimos sobre essa questão crucial, rapidamente percebemos que o nível conceitual não conta toda essa história. Nós também precisamos lidar com valores e éticas, e é por isso que as ciências humanas são mais importantes do que nunca. Literatura, filosofia, história, antropologia podem todas nos imbuir do compasso moral que tanto falta à política e à economia atuais.

Índices de desmatamento têm aumentado na Amazônia brasileira. Quais são os incentivos para isso?

Esses crimes são uma consequência direta da obsessão com o crescimento econômico e corporativo. A devastação de grandes áreas de florestas tropicais é impulsionada pela ganância de corporações multinacionais do setor de alimentação, que buscam incansavelmente lucro e crescimento.

Se o que chamamos de progresso foi atingido às custas de danos ao meio ambiente, nossa ideia de progresso está errada?

A crença em um progresso contínuo e, em particular, a obsessão de nossos economistas e políticos com a ilusão de um crescimento ilimitado em um planeta finito constituem o dilema fundamental que permeia nossos problemas globais.

Isso equivale ao choque entre o pensamento linear e os padrões não lineares da nossa biosfera —a interdependência dos sistemas ecológicos e os ciclos que constituem a teia da vida. Essa rede global altamente não linear contém inúmeras alças de retroalimentação por meio das quais o planeta se regula e se equilibra.

Nosso sistema econômico atual, ao contrário, parece não reconhecer a existência de limites. Nele, um crescimento perpétuo é perseguido incessamente através da promoção do consumo excessivo e de uma economia do descarte que usa de maneira extravagante tanto recursos como energia, aumentando a desigualdade econômica.

Esses problemas são exacerbados pela emergência climática global, causada pelas tecnologias de uso intensivo de energia e baseada em combustíveis fósseis.

Com a pandemia, projeções apontam para o aprofundamento das já marcantes desigualdades sociais de nosso tempo. O que as produziu e como reverter esse processo?

O aprofundamento das desigualdades é uma característica inerente ao sistema econômico capitalista de hoje. O chamado “mercado global” é, em verdade, uma rede de máquinas programadas de acordo com o princípio fundamental segundo o qual ganhar dinheiro tem primazia sobre direitos humanos, democracia, proteção ambiental.

Valores humanos, no entanto, podem mudar porque eles não são leis naturais. A mesma rede eletrônica de fluxos financeiros pode ter nela embutidos outros valores. O ponto crítico não é a tecnologia, mas a política.

Há sinais de mudanças neste sentido na política de hoje?

Uma nova liderança começou a emergir recentemente em uma série de movimentos jovens muito potentes, como Sunrise Movement, Extinction Rebellion, Fridays for Future, entre outros.

Há também a ascensão de uma nova geração de políticos, curiosamente formada por mulheres, como a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinta Arden, a primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, ou a congressista [democrata] norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez.

A crise atual prescreve nossa percepção de soberania e de globalização? Como?

Com certeza absoluta! Para prevenir o alastramento da pandemia, agora e no futuro, teremos de reduzir densidades populacionais excessivas, como ocorre no turismo de massa e em condições de vida marcadas pela superlotação. Ao mesmo tempo, necessitamos de cooperação global.

A justiça social se torna uma questão de vida ou morte durante uma pandemia como a da Covid-19. E ela só pode ser superada por meio de ações coletivas e cooperativas.

Seu trabalho explorou a interconectividade entre as ciências e os conceitos e filosofias considerados não-científicos. Como esse diálogo complexifica nosso entendimento do planeta e da humanidade?

Eu me formei como físico e fiquei fascinado pelas implicações da física quântica, que nos mostra que o mundo material não é uma máquina gigante mas uma rede inseparável de padrões de relações. Durante os anos 1980, minha pesquisa virou para a área das ciências da vida, da qual tem emergido um novo conceito sistêmico que confirma a fundamental interconectividade e interdependência de todos os fenômenos naturais.

Quando nós entendemos que compartilhamos não apenas as moléculas básicas da vida, mas também princípios elementares de organização com o restante do mundo vivo, percebemos o quão firme estamos costurados em todo o tecido da vida.

O que você aprendeu com a pandemia?

Tem sido incrível para mim ver como o coronavírus expôs tantas injustiças ecológicas, sociais e raciais omitidas por décadas pelas mídias de massa.

Também fiquei espantado de ver como, em um curto espaço de tempo, a poluição quase desapareceu da baía de São Francisco, na Califórnia (EUA), onde eu vivo, assim como ocorreu em várias das grandes cidades do mundo. Isso me encheu de esperança quanto à capacidade da Terra de se regenerar.

 

A desigualdade e o mito de que qualquer um pode virar trilhardário

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Livro ‘Capital e Ideologia’, de Thomas Piketty, tem pesquisa de alcance histórico e geográfico maior que seu título anterior

Folha de São Paulo, 08/08/2020

Ninguém tira de Thomas Piketty o condão de ter posto a desigualdade no centro do debate econômico. Publicado em 2013, “O Capital no Século 21” foi traduzido para 40 línguas e vendeu 2,5 milhões de exemplares. Veio para ficar.

Com mais de mil páginas, centenas de gráficos e tabelas, cifras de tirar o fôlego, e escrito com objetividade, o livro deu sentido ao progresso. A saber: depois de um século de genocídios e revoluções, de um incremento tecnológico nunca visto antes, a concentração do capital é hoje a mesma da belle époque. Regredimos.

O século das guerras mundiais, às quais se seguiram a Guerra Fria e a implosão soviética, resultou num mundo semelhante ao da década que precedeu os tumultos. A concentração da riqueza é igual à dos anos 1910 —riqueza essa produzida por bilhões de miseráveis e remediados em benefício de um pugilo de nababos.

Piketty volta à carga com “Capital e Ideologia” (ed. Intrínseca, 1.053 págs.). É uma sequência do livro anterior, mas com uma pesquisa de alcance histórico e geográfico maior. Vai-se da Revolução Haitiana à Guerra Civil Americana e ao New Deal; da independência indiana ao pós-comunismo e aos governos do PT.

O primeiro “O Capital”, o de Marx, começa com a produção —o primeiro capítulo é sobre a mercadoria— para depois investigar a sua circulação e chegar ao sistema capitalista. Já “Capital e Ideologia” se centra na distribuição do capital, na desigualdade, e põe em xeque o ideário que a legitima.

A desigualdade é analisada na Revolução Francesa; em sociedades escravistas e coloniais; no pós-Guerra do século 20; e na atualidade. Social-democrata, Piketty concluiu sua pesquisa com uma receita: taxação
pesada dos ricos, de suas propriedades, lucros e heranças.

Não é preciso concordar com o receituário para usufruir do livro. Ele funciona como uma série de monografias sobre situações diversas no tempo e no espaço —algumas convincentes e outras não. Em todas, se procura investigar como um grupelho de proprietários disseminou a crença que a desigualdade é não só natural como positiva.

O pilar ideológico da crença é a meritocracia —para Piketty um “conto de fadas”. Trata-se do mito que, no capitalismo, qualquer um pode virar trilhardário. No altar-mor da devoção fica a santíssima trindade de Mark Zuckerberg (Facebook), Jeff Bezos (Amazon) e Bill Gates (Microsoft).

A meritocracia despreza o colossal esforço humano, o empenho social secular e a legislação em causa própria que permite aos novos paxás o acúmulo astronômico de capital.

Enfatiza os indivíduos, as garagens na Califórnia onde seres iluminados descobriram a pedra filosofal do dinheiro que gera dinheiro. E sublinha a sua filantropia, a generosidade com que jogam migalhas aos desvalidos. Como são bonzinhos. Desde que não lhe toquem no tesouro.

A mitificação dos megarricos —que no Brasil se manifesta no culto brega a Jorge Paulo Lemman, o maioral escutado como um sábio até quando manda um zé mané lhe engraxar os sapatos— só existe devido a mecanismos financeiros que espoliam o planeta.

O primeiro deles é a desregulamentação do lucro e a sua livre circulação. Ele foi obra do arraso neoliberal de Reagan e Thatcher —louvados em prosa e verso por economistas e devotos do livre mercado, ambos muito bem pagos.

O mecanismo é complementado pelos paraísos fiscais. Offshores, bancões e banquinhos fraudam fiscos nacionais numa boa. Papéis do Panamá, contas secretas na Suíça, ações e derivativos que pulam de Bolsa em Bolsa garantem sombra e água fresca —e jatinhos, helicópteros e apartamentos na Flórida— aos donos da cocada preta.

Piketty nota que a ideologia meritocrática não está isenta de preconceitos. Os bilionários ocidentais são tidos por empreendedores afortunados. Já os russos são chamados de oligarcas; os africanos, de cleptocratas; os árabes, de sheiks. E assim se fermentam disputas nacionais por mercados.

Em outros termos, que “Capital e Ideologia” não usa: a burguesia é internacional, mas com raízes nacionais. Elas estão cravadas em territórios onde multidões extraem riqueza material, de cujo trabalho a classe dominante se apropria.

Distributivista, Piketty também não tem no seu léxico o verbete “exploração”. Acredita que uma reforma tributária radical e internacional poderá construir uma nova ordem, a do “socialismo participativo”. Ele não está à vista. A alternativa mais evidente é a pauperização, o salve-se quem puder. Quem viver verá.

Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de “Notícias do Planalto”.

 

Uberismo é a total desumanização das relações trabalhistas, por Esther Solano.

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Carta Capital, 02/08/2020.

Há palavras cuja sonoridade é aparentemente inócua, cuja grafia parece inocente, insuspeita, mas basta ir um pouco além da fisionomia ortográfica para entender os infernos que escondem. Uberismo seria uma das mais recentes formas de exploração da forma de trabalho, consistente numa hiperexploração dos trabalhadores por meio de plataformas. Um emaranhado algorítmico pensado para arrancar direitos trabalhistas na forma de startup jovem, de sucesso, vibrante, lucrativa. Recomendo a leitura atenta do que escreve o professor Ruy Braga, da USP, excelente pesquisador na área sobre as ameaças brutais da “plataformização” do trabalho ou a tirania à qual as novas tecnologias digitais submetem a vida dos trabalhadores mais precarizados.

É a total desumanização das relações trabalhistas. Não há um patrão de carne e osso, não existe um departamento de recursos humanos, muitos sindicatos rejeitam representar essas categorias. O contato com o “cliente” resume-se, muitas vezes, a uma entrega rápida e insensível, com um portão com grades no meio de dois indivíduos, que no momento estão a centímetros de distância, mas cujas mãos apenas se tocam e cujas vidas se tocam menos ainda. Não há direitos, não há humanidade.

Um país como Brasil é o ambiente perfeito para esse processo de uberização da vida. Milhões de trabalhadores informais, uma pauperização crescente, um exército de jovens sem formação, a volta da miséria, o desmonte incessante dos direitos trabalhistas desde o governo Temer e agora a tragédia bolsonarista. No Brasil, a carne do trabalhador precarizado se vende barata. Muito barata.

Uber, Ifood, Rappi, o mundo do trabalhador escravizado pelo algoritmo que, em tempos de crise, absorve, engole milhões de profissionais sem expectativas. São os descartáveis. Mas, paradoxos de uma vida fortuita, os descartáveis viraram essenciais na pandemia. O número de entregadores antes do coronavírus era de 280 mil. Depois da pandemia, passaram a 500 mil. São números impressionantes: 500 mil indivisíveis que entregam comida, mas cujas famílias passam fome ou convivem com ela. São 500 mil. Mais gente, menos lucro.

O estudo “Condições de Trabalho de Entregadores Via Plataforma Digital Durante a Covid-19” identificou as jornadas de trabalho maiores e a queda nos rendimentos de 58,9% dos entregadores. Segundo a pesquisa, cerca de metade recebia até 520 reais por semana antes da pandemia. Depois, 71,9% declararam receber até 520 reais, e 83,7% até 650 reais. “É possível aventar que as empresas estão promovendo uma redução do valor da hora de trabalho dos entregadores em plena pandemia”, descreve o relatório. E ainda tem gente que diz que o coronavírus é democrático, afeta igual a ricos e pobres. Contem-me outra piada.

Não se preocupe. O entregador é microempresário, empreendedor. Não é pobreza, é um processo de sucesso individual. Os entregadores não são trabalhadores, são “parceiros” das plataformas. Os jovens que se endividam para comprar uma moto investem no seu futuro. Num país como Brasil, o discurso da meritocracia mata, assim como matam as motos dos entregadores cansados de trabalhar durante mais de dez horas por dia. Entre março e maio deste ano, 87 morreram na capital paulista.

“Agora dão duas opções para quem é pobre, morrer na rua de corona ou em casa de fome. Entre morrer em casa e morrer na rua, eu prefiro nenhuma das duas.” Esta sentença demolidora do Rap dos Informais é a que melhor define a situação da população mais pobre no Brasil. Drama por todos os lados. Em casa, fora dela, na moto, sem ela.

Mas a exploração tem seus limites. Os explorados também explodem. Os invisíveis se cansam da invisibilidade. As greves de entregadores e a formação dos Entregadores Antifascistas são focos de luz nas trevas. Entre as exigências dos trabalhadores estão reajuste de preços, entrega de EPIs para trabalhar com mais segurança durante a pandemia, fim dos bloqueios indevidos, demanda de auxílios ou licenças de saúde e acidente, questionamentos com relação a programas de pontos realizados por algumas plataformas. Dignidade para os que são tratados com indignidade. É a revolta dos de baixo, dos que passavam despercebidos e hoje se tornaram essenciais.

Todo o meu respeito, todo o meu apoio.

#BrequeDosApps.

Basta que o capital pense: a vida não vale o preço de uma entrega.

 

O MEC não sai do lugar, por Arnaldo Niskier.

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Folha de São Paulo, 04/08/2020.

Tragédia anunciada: sem planejamento e gestão, os resultados serão pífios

Estamos com um número incrível de analfabetos. O Ministério da Educação, teoricamente, tem uma Política Nacional de Alfabetização (PNA), mas, na prática, o assunto não evoluir. Ainda discutimos questões de método, debatendo virtudes ou defeitos do que chamamos de fônico, que é um modelo que privilegia a associação entre letras e fonemas.

Há mais de 40 anos não havia essa dúvida. O programa do livro didático aprovou uma cartilha, com o nome de “Davi, meu amiguinho”, de autoria da professora Eunice Alves, produzida pela Bloch Editores, que adotava, com muito sucesso, o método fônico. Depois disso, o processo sofreu uma tremenda regressão. Em consequência, nossas crianças chegam ao 3º ano do ensino fundamental com sinais claros de que não haviam sido devidamente alfabetizadas. Nada evoluirá corretamente sem a participação devida de estados e municípios, hoje ausentes do processo. A capacidade de coordenação do MEC é praticamente nula.

Temos no papel o chamado “Plano Nacional de Educação”. É inacreditável como os seus 20 temas estão sendo desconsiderados nos meios oficiais, como se pudessem navegar neste mar revolto sem bússola. A alfabetização é apenas um dos itens, de maior ou menor relevância, mas temos outros para pautar. Com o pormenor agravante, depois da pandemia de Covid-19, de que os recursos, que já eram escassos, vão rarear ainda mais.

Vamos precisar de um robusto Plano Marshall para a nossa recuperação econômica. Mas o curioso é que, do grupo constituído pelo governo Jair Bolsonaro, não são conhecidos os grandes especialistas que cuidarão da educação, como se ela não tivesse importância.

Como se dará a transição para a fase em que se deverá adotar um sistema híbrido de ensino, harmonizando o presencial com o virtual? Haverá professores para isso tudo? Bem preparados?

Não existe uma política de formação docente sistêmica. Na verdade, falta minimamente articulação entre secretarias estaduais e municipais de Educação e os órgãos do MEC envolvidos no assunto, como é o caso do Inep. Tudo é levado de forma periférica, sem o aprofundamento devido.

O atendimento a deficientes se faz de modo precaríssimo, e a formação de professores para atender ao ensino médio é uma das nossas grandes vulnerabilidades. Sem o planejamento e a gestão devida, mesmo que se consiga o milagre de levantar recursos financeiros, do jeito que as coisas caminham os resultados serão pífios. Uma tragédia anunciada.

Arnaldo Niskier. Professor, jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do Conselho de Integração Empresa-Escola Rio (CIEE-RJ)

Desemprego, desestruturação econômica e concentração de renda

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Recentemente a Organização Não Governamental Oxfam divulgou um relatório destacando que os bilionários brasileiros tiveram um incremento de suas fortunas em US$ 34 bilhões, com isso, a pandemia nos mostra como a sociedade brasileira se chegou a uma situação de extrema desigualdade e exclusão social, onde metade da população está recebendo o auxílio emergencial do governo federal, que garantiu R$600 reais para aqueles que sofreram os impactos negativos da pandemia, sem este auxílio muitos indivíduos teriam grandes dificuldades de sobrevivência e seus constrangimentos sociais seriam mais acentuados, gerando mais degradação social, mais incremento na violência urbana e desesperanças generalizadas, vivemos num momento temerário de medos e instabilidades crescentes.

A pandemia está gerando grandes dificuldades na sociedade mundial, as quedas econômicas se espalharam em todas as regiões, nos Estados Unidos a queda de 32% do PIB foi histórica, as quedas na Europa foram na casa ultrapassou os 10%, com isso, o  covid-19 acentuou as dificuldades econômica global, levando os países a uma recessão, um incremento no desemprego, aumento nas dívidas públicas, endividamento das empresas privadas, falências generalizadas e dificuldades políticas, levando a impactos preocupantes.

O CEO e criador da Amazon, Jeff Bezos, bilionário norte-americano registrou no mês passado o maior aumento de riqueza que um indivíduo já viu na Terra em apenas um dia, sua fortuna cresceu US$ 13 bilhões, se continuar assim, ele se tornará o primeiro trilionário do mundo em 2026, um recorde histórico e ainda mais, quando percebemos que o capitalismo contemporâneo está gerando um exército global de pobres, miseráveis e desigualdades crescentes em todas as regiões, desde os países ricos até nos países pobres.

No caso brasileiro, percebemos os impactos econômicos são violentos e assustadores, exigindo uma união de todos os entes federados, desde o governo federal, os governos estaduais e os entes municipais, sem esta união, a reconstrução trará mais instabilidades e incertezas, com repercussões sobre o emprego, gerando mais desemprego e subemprego, com isso, percebemos desajustes na arrecadação de impostos e pressões sobre os gastos públicos, como forma de reduzir os problemas sociais para toda a coletividade.

O crescimento do desemprego pode ser visto como um dos maiores desafios da sociedade contemporânea, no caso brasileiro, percebemos que o desemprego cresce de forma acelerada desde 2016, com poucas ações ativas e estruturadas para reverter este ambiente, muitos acreditam que o espírito empreendedor deve ser o instrumento mais efetivo para retirar a economia nesta situação, mas num ambiente marcado por grandes limitações estruturais e conjunturais, a reversão deste desemprego se mostra muito lento e pouco efetivo.

A crise do covid-19 deve levar a maior queda do padrão do poder de renda do país desde a década de 1940, quando começou a série histórica acompanhada pelo IBGE. Segundo os dados do instituto, neste ano a queda esperada será de 6,7% do produto interno bruto, com isso, percebemos que mais da metade dos brasileiros perceberam que está em uma situação pior do que antes da pandemia, até então, o maior recuo havia em 1981, nesta pandemia estamos percebendo que o governo está conseguindo fazer história.

Segundo os levantamentos da Conferência Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de 2011 a 2020, o PIB per capita deve recuar 8,2% ante uma alta de 28% na década anterior, marcado pelo boom dos preços dos commodities, como a soja e o petróleo, que impulsionaram o crescimento econômico do país, aumentando a inclusão social e um incremento de políticas públicas que transformaram a sociedade brasileira.

Outro dado relevante divulgado pelo Instituto Locomotiva, a pedido do jornal O Estado de São Paulo, mais de 54% dos brasileiros afirmaram que o padrão de vida piorou, seis em cada dez deles estimam que vão levar mais de um ano para reconquistar o que tinham. Outros dados divulgados nestes dias nos levam a grandes instabilidades e incertezas, os planos de saúde perderam mais de 285 mil clientes, ficando com 46,8 milhões de usuários, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), dados preocupantes, estas pessoas migram diretamente para o Sistema Único de Saúde (SUS), impactando diretamente sobre os gastos de saúde e piorando os serviços, num momento de pandemia, crescimento de infectados e desesperanças.

O setor da educação, percebemos um incremento na inadimplência em todas as instituições privadas, aumentando o desligamento de professores e profissionais ligado ao ensino, desde as escolas infantis, do ensino médio e superior. Nas escolas da cidade de São Paulo, segundo os dados do Sindicatos dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Seeesp), percebemos um aumento na inadimplência era de 32,1%, impacto direto no aumento do desemprego e da redução de salários dos pais, levando seus filhos a matricular-se em escolas públicas, sabidamente mais atrasados das escolas privadas, fragilizando a formação de seus filhos e reduzindo as chances do mercado de trabalho, marcados por um ambiente mais competitivo e centrado na tecnologia, no conhecimento e no desenvolvimento científico.

O desemprego é um verdadeiro flagelo para a sociedade, são recursos produtivos que estão sendo inutilizados, pessoas que perdem suas dignidades, sem empregos formais, sem direitos decentes os indivíduos são obrigados a se sujeitarem a péssimas condições de vida, sobrevivendo a custas de migalhas e perpetuando uma condição de indignidade, sem oportunidades e desesperanças. Em pleno século XXI, um país como o Brasil, extremamente rico e dotado de riquezas variadas, esta condição de desemprego e de subemprego impede o indivíduo a viver uma cidadania ativa, sem direitos mínimos. Neste ambiente, a pandemia nos mostra claramente como estamos cultivando um genocídio com nossa população, uma ferida que cresce de forma acelerada e cujos impactos seriam sentidos nos próximos anos e todos somos responsáveis por este morticínio.

Uma discussão sobre a questão do desemprego no Brasil nos leva a perceber claramente o fosso social que existe entre os diferentes tipos de empregos e da rentabilidade do setor público. Como destaca Marcos Mendes analisando dados de 2013, percebemos que o Judiciário brasileiro é o que mais gastam no mundo: US$ 130 por habitante, contra US$ 35 no Chile, US$ 19 na Argentina e US$ 16 na Colômbia. O poder é tão flagrante no caso judiciário brasileiro, que os advogados do setor público, detentores de estabilidade e de salários elevados e garantidos, conseguiram, através da Lei 13.327/2016, estendeu as práticas dos “honorários de sucumbências”, mais um privilégio que garantiu mais de R$ 550 milhões em 2019, com isso, percebemos castas dotadas de grandes salários, uma pequena parte do funcionário público federal ganha remunerações absurdas em detrimento de uma grande parte dos trabalhadores, que ganham salários reduzidos e arrochados, desta forma fica claro a distância entre as remunerações no funcionários do judiciário e do Legislativo e dos outros setores da União.

As políticas desenvolvidas pelo governo federal em prol do emprego são tímidas e limitadas, concentrando seus argumentos nas dificuldades do setor público nacional, com isso, reduz os investimentos públicos e limita os gastos em obras, infraestrutura e novas políticas públicas, principalmente neste momento de pandemia, adotando uma austeridade que dura muitos anos, matando os grupos mais fragilizados da sociedade, aumentando o contingente de trabalhadores desempregados, crescendo o subemprego e a informalidade, com números elevados de excluídos, sem planejamento econômico e sem perspectivas de combate a desigualdade crescente na sociedade brasileira.

Neste ambiente de pandemia, crises sanitárias, recessão econômica e crescimento da desigualdade social, faz-se necessário uma política de investimentos públicos nas mais variadas áreas e setores da sociedade, sem estes investimentos liderados e capitaneados pelo governo federal e em concomitância com os governos estaduais e municipais, e das empresas estatais, marcados por planejamento público, com ampla atuação dos bancos públicos, não apenas na Caixa Econômica Federal, mas também direcionado e fomentado pelo Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição fundamental e imprescindível para fomentar os investimentos governamentais e na construção de um ambiente de cenários positivos nos anos vindouros. O Banco do Brasil também tem um papel central e fundamental, sua capacidade de investimentos na sociedade nacional, auxiliando setores dinâmicos como o agronegócio são imprescindíveis, além de impulsos nos setores da classe média, atolada em dívidas e carentes de recursos novos para gastos importantes para movimentar os setores produtivos, atuando nas empresas micros, pequenas e médias, responsáveis por mais de 90% dos empregos na sociedade nacional.

Uma política ambiciosa deve constar os investimentos nas áreas educacionais, novos créditos para as faculdades e universidades, além de escolas do ensino médio e fundamental, setores que passam por grande insolvência, sem créditos e sem perspectivas, cujos recursos não estão chegando, levando muitos empresas educacionais a bancarrota, matando um setor importante para o desenvolvimento da sociedade nacional, responsáveis por empregos qualificados, altamente qualificados e de mão-de-obra marcados pela criatividade e pela flexibilidade, palavras centrais para um momento caracterizado pela Quarta Revolução Industrial.

Desde os escritos de John Maynard Keynes, o mundo passou a conhecer novos instrumentos de recuperação econômica, naquela época os manuais tinham dificuldades na geração de novos empregos para o soerguimento da economia. Com o economista inglês e seus escritos, o mundo percebeu a importância dos investimentos públicos para alavancar a economia nacional, neste instante, percebemos que não vamos conseguir retirar a economia deste imbróglio sem os gastos públicos, as obras infraestruturas, nos empréstimos para os setores produtivos e estímulos para os grupos nacionais necessitados e carentes de recursos monetários. O ambiente é propício para um planejamento nacional, onde os setores devem somar esforços para a recuperação da sociedade nacional, sem esta atuação contínua dos grupos nacionais e uma política geral de integração dos grupos produtivos, as faturas aparecerão de forma acelerada com crescimento das desigualdades, da exclusão social, no desemprego crescente e o enterrando do sonho de sermos o país do futuro.

 

 

 

 

 

 

 

Ganhos materiais e alterações fundamentais..

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O Brasil vive um momento de grandes incertezas e instabilidades nos próximos meses, o crescimento no desemprego e no subemprego geram desafios enormes na sociedade, constrangendo a nação e colocando o governo no centro das discussões. De um lado encontramos o governo federal ganhando os louros com o auxílio emergencial, aumentando os apoios nos grupos mais carentes, disponibilizando R$ 600,00 para uma parcela imensa da sociedade, mostrando-nos que os indicadores de pobreza e desigualdade são assustadores. De outro lado, percebemos que o governo está restringindo a gestão da saúde, da educação, dos serviços assistenciais, das políticas urbanas de moradia, das ações no campo cultural, entre as principais, encontram-se em estado deplorável. Melhoras nos programas sociais são positivas e urgentes, mas faz-se necessário, que venham acompanhadas de melhorias das políticas públicas e dos investimentos sociais, algo que nos parece distante dos pensamentos dos grupos que comandam os formuladores das políticas econômicas.

O país das reformas…

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O governo insiste nas chamadas reformas estruturais para reativar a economia brasileira, desde os anos 90 os mais sucessivos governos estão buscando implementar novas políticas e reformas econômicas, estimulando as Privatizações nos anos 90, as Reformas Previdenciárias, as Reformas Trabalhistas, as Reformas Tributárias, dentre outras. Todas estas medidas são necessárias e urgentes, mas os resultados são sempre tímidas e insignificativas, diante disso, passou da hora de termos uma discussão mais civilizada, revendo os impostos e canalizam mais tributação para os grupos que mais ganham, desonerando a produção e o consumo e canalizando esforços nos tributos nos rendimentos, nas heranças e nas rendas, desta forma se consegue melhorar o perfil dos contribuintes e criando novos espaços para uma diminuição das desigualdades, um dos países mais desiguais do mundo.

Nova cédula de Real

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Em pleno decurso do século XXI onde surgem novas moedas virtuais, robôs e tecnologias no mercado financeiro e novos instrumentos de pagamentos, o Banco Central do Brasil está colocando em circulação uma nova cédula, está nascendo a nota de R$ 200,00, mas uma forma de entender a sociedade, sempre na liderança do atraso e no flerto com o saudosismo.

 Educação e Economia para o mundo contemporâneo

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A economia mundial nos últimos anos está cada vez mais centrado nas questões utilitaristas, criando necessidades nos indivíduos diretamente ligadas ao consumo de bens, serviços e mercadorias, criando novos interesses cotidianos e desejos imediatos. Neste momento da contemporaneidade, deixamos de lado o planejamento da vida e da organização das relações sociais, somos cada vez mais direcionados e estruturados dentro das noções daquele que chamamos de mercado, agentes que dominam o mundo contemporâneo, controlando os recursos financeiros, materiais e monetários, o poder político, os gostos e comportamentos, transformando os indivíduos em marionetes de grandes econômicos e políticos, dotados de grande força de convencimento e de dominação.

Na sociedade mundial, todos os momentos ouvimos discursos bem estruturados e grande capacidade de emoção, estimulando o espírito empreendedor e a visão transformadora, agregadora e de grande potencial de liderança, um discurso imensamente bem sucedido e nos trará um sucesso no mercado, com produtos ou serviços diferenciados. Neste discurso, muitos absorvem este pensamento e conseguem angariar recursos e transformando suas vidas e de todos que convivem com estes, passando a ser exemplo vivo do potencial do empreendedorismo.

A visão dominante está centrada nos valores do utilitarismo e do imediatismo, estes valores estão transformando a educação da contemporaneidade, estamos vivendo um sistema educacional baseado nas apostilas, nos resumos e nas resenhas, como se vivêssemos em uma sociedade onde os especialistas estão estudando as orelhas dos livros, nada de conhecimentos mais elaborados e estruturados, encontramos uma visão mínima dos conhecimentos cotidianos, sem leituras consistentes e olhadas cotidianas nos materiais de autoajuda e romance água com açúcar, sem enredo e sem capacidade de reflexão.

Nesta chamada época do Conhecimento, as escolas estão se esforçando para oferecer mais cursos e mais variados, com valores monetários cada mais acessíveis para rechear os currículos dos profissionais, vários destes cursos devem ser vistos como obscuros e sem importância, vendem apenas diplomas e certificados para garantir alguns parcos salariais, sendo que, na maior parte das empresas estes cursos são desconsiderados como forma de evolução profissional. Nesta sociedade, a educação se torna cada vez mais um grande produto comercializável por empresas de diploma e certificações, sem entender nada de educação, liderados por empreendedores, gestores com visão de liderança e forte capacidade de agregação e ampla capacidade de comunicação, gerando este negócio em espaços altamente lucrativo e rendável, com ações nas Bolsas nacional e internacional, e recursos gigantescos, crescente rapidamente, comprando outras escolas e faculdades, no início nos centros das capitais e, na atualidade, crescem de forma acelerada das escolas e universidades nas cidades do interior, monopolizando e controlando os mercados do chamado conhecimento.

                A economia contemporânea está dominando todos os setores da vida, suas visões estão comandando as mentes e transformando os valores do capital em valores dominantes. A gestão, instrumento criado para organizar as atividades econômicas e sociais da sociedade, vem transformando a sociedade, seus valores estão centrados no imediatismo, no egoísmo e na ganância, estimulando os comportamentos e os sentimentos mais reacionários e negativos dos indivíduos, com isso, percebemos uma sociedade cada vez mais degradante economicamente e marcados pela desigualdade, pela exclusão e pelas violências que espalham para todos os países e nações do mundo, desde os países mais pobres até os países desenvolvidos e industrializados.

A mentalidade dominante da gestão está centrada no imediatismo, as técnicas visam sempre o incremento da rentabilidade, os ganhos materiais, os lucros estratosféricos, recursos que se concentram em uma pequena parte da sociedade, para absorver estas somas abundantes, os grupos mais abastados se utilizam nos grupos intermediários, trabalhadores que estão nas camadas médias da coletividade, pessoas treinadas e remuneradas para sentir e vivem como se fossem parte da elite, infelizmente são apenas capachos dos grupos dominantes, defendem ideias e valores que estão distante de suas vidas, recebem uma remuneração considerável e com estes recursos compram seus valores e seus pensamentos críticos, acabando com sua capacidade reflexiva, defendem uma ideia equivocada e se esquecem dos seus iguais, seus grupos sociais e suas identidades sociais, perpetuando a exploração da sociedade contemporânea.

Nestes grupos encontramos gestores, profissionais liberais, advogados, economistas, administradores, engenheiros, professores, dentre outros, são grupos mais capacitados intelectualmente, ou melhor, pessoas dotados de maiores conhecimentos na sociedade contemporânea, estudam mais que a população e, diante disso, acreditam ser diferentes, mais éticos, conscientes e se veem como pessoas de bem, cultivam um ignorância e hipocrisia inomináveis, com isso, contribuem para a perpetuação das desigualdades sociais e as exclusões e ausência das cidadanias.

As escolas, as universidades e as faculdades estão inseridas neste ambiente, a educação que para muito é um instrumento de ascensão e social e de transformação, perdeu a capacidade de renovação da sociedade, os professores perderam o brilho da reflexão, nestas andanças percebemos professores pouco capacitados, ausentes nas conversações cotidianas, as leituras inexistem, muitos deles nunca carregam um livro, não compram novos livros e correm para as bibliotecas antes dos alunos quando querem ler alguma obra, gastam muitos recursos em quinquilharias desnecessárias e deixam de lado uma aquisição, desconhecendo os autores mais renomados, se capacitando apenas em apostilas ou em resumos escolhidos num site de busca, estamos caminhando a passos largos para a catástrofe e para insignificância como civilização.

Desde os primórdios do capitalismo industrial, século XVIII, centrados na meritocracia e na ascensão social, sempre evocado pelos seus defensores, que viam a educação como o instrumento fundamental para angariar nosso crescimento social, seu incremento salarial e seus rendimentos monetários perdem espaço no mundo contemporâneo. Na sociedade, a ascensão social está sendo colocada em xeque, fragilizando o conceito de meritocracia, deixando uma parte dos grupos sociais mais fragilizados distante da ascensão social, como propagandeavam os defensores da meritocracia. Neste sociedade, percebemos que os setores dominantes da sociedade, dotados de recursos financeiros e influências políticas, perpetuam nos lugares de comando, comandando os grandes cargos da estrutura e das instituições governamentais, os cargos do judiciário, do legislativo e empresas estatais, com isso, percebemos um poder concentrado em poucas mãos, perpetuando as desigualdades e as explorações, incrementando o racismo estrutural, as pobrezas e as destruições sociais.

O discurso dominante sempre legitimou os defensores do sistema capitalista e da concorrência, onde os melhores conseguem os melhores postos na sociedade, são os ganhadores nas estruturas sociais, os esforços são recompensados pelos membros da classe média, investem seus rendimentos no estudo de seus filhos nas escolas privadas e, garantem vagas nas universidades de ponta, garantindo oportunidades num futuro vantajoso, formando uma classe média despolitizada, imediatista e fortemente reacionária, transformando-os em grupos radicais e agressivos, sem capacidade de discernir que a defesa destas gerará novos constrangimentos num futuro próximo.

De outro lado, percebemos uma massa crescentes de pessoas que percebem que os ensaios de ascensão social e a meritocracia estão cada vez mais distantes, sem saneamento básico, sem ruas asfaltadas, sem escolas, sem internet e sem professores pouco capacitados, sem perspectivas de um futuro melhor, sem oportunidades de sonhar e na perpetuação crescentes de um horizonte sombrio, sem brilho e sem dignidade.

A pandemia expõe as nossas misérias sociais mais íntimas, neste ambiente deveria ser construída uma união social em prol dos interesses coletivos, fortalecendo o significado do conceito de nação, percebemos grupos defendendo pensamentos individualistas, egoístas e imediatista, radicalizando uma ideologia degradante e ultrapassada, numa crítica constante da ciência e da defesa da radicalidade. Sem argumentos científicos e defensores de fake News, levando-nos a um ambiente de obscuridade, de mortes e de degradações. Neste ambiente, estamos caminhando para mais de 100 mil óbitos, num ambiente de medos constantes e de desesperanças que levam seus familiares a enterrar seus mortos, abrindo mão de momentos fundamentais de proximidade, sem memórias, sem lembranças e com fortes cargas de angústias crescentes.

Neste ambiente de caos generalizado, as instituição que regulam e fiscalizam as entidades educacionais estão sendo degradadas, os controles são emitidos por entidades privadas, ou melhor, controlados por grandes grupos educacionais, mais abastados e mais dotados de recursos monetários e financeiros, com isso, atuam de forma a consolidar o setor educacional como um dos mercados mais rentáveis e lucrativos, sem exigências de qualidade, sem professores qualificados e sem titulações, substituindo os professores experientes e capacitados por robôs e inteligência artificial. Neste ambiente, percebemos o aumento dos exércitos de professores desempregados ou subempregados, os poucos que conseguem manter seus empregos nas escolas e nas universidades devem ter seus rendimentos reduzidos imensamente, com cargas elevadas de trabalho, ambientes marcados pelo estresse, pelas cobranças crescentes, alunos desanimados, além de marcados pela depressão, pela ansiedade, pelos transtornos emocionais e psicológicos. Sem educação de qualidade, sem professores capacitados, sem condições de trabalho digno e decente e de remuneração condizente, nossa ferida educacional e nossa história de exploração e de exclusão social, se perpetuará para o século XXI.

No século XXI, num momento de grandes instabilidades e incertezas, a economia se torna um farol obscuro para conduzir os rumos da sociedade contemporânea, neste interesse percebemos o poder dos interesses dos donos do capital, comprando os ativos materiais, os valores das coletividades e as mentes dos formadores de opinião, embora percebemos que este poder está cada vez mais consolidado, com uma estrutura dominada por poucos grupos econômicos, que controlam os filmes, as notícias, os costumes e os comportamentos das pessoas de todas regiões do mundo. Neste momento de pandemia, os dados nos mostram que as fortunas dos grandes milionários brasileiros cresceram mais de US$ 34 bilhões neste período de isolamento e quarentena, diante disso, os dados nos mostram que nesta sociedade, os donos do dinheiro não mais precisam das outras pessoas da sociedade, seus rendimentos crescem de forma acelerada, seus ganhos são oriundos dos investimentos de títulos públicos e de aplicações nos produtos financeiros pagos pelo Tesouro Nacional, com isso, percebemos como suas agendas no pós-pandemia estava sempre centradas nas reformas tributárias, como forma de dividir os gastos para a recuperação da economia, as privatizações como forma de angariar patrimônios da sociedade em prol dos interesses destes afortunados, desta forma, percebemos que os rumos do século XXI para a sociedade brasileira são sombrias, uma sociedade onde as pessoas buscam seus interesses imediatos, seus valores individuais e seus sentimentos cada mais egoístas, uma sociedade que caminha a passos rápidos para a degradação enquanto civilização.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elite da administração pública atua em causa própria, por Marcos Mendes.

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Uma das várias dimensões do nosso atraso, ela faz do Estado um pagador de rendas

Folha de São Paulo, 01/08/2020.

Uma das várias dimensões do nosso atraso é a forma como a elite da administração pública atua em causa própria.

Os auxílios, adicionais e “pagamentos de atrasados” brotam ao sabor da criatividade, gerando rendas muito acima do padrão de vida nacional.

O artigo 168 da Constituição, que instituiu a autonomia orçamentária dos Poderes, foi regulamentado de modo a garantir orçamentos sempre crescentes, nos três níveis de governo, para o Judiciário, Ministério Público, defensorias públicas, tribunais de contas e legislativos.

Luciano da Ros mostra dados de 2013 que situam nosso Judiciário entre os que mais gastam no mundo: US$ 130 por habitante, contra US$ 35 no Chile, US$ 19 na Argentina e US$ 16 na Colômbia.

Na advocacia privada, a parte perdedora em um processo paga “honorários de sucumbência” à vencedora, a título de ressarcimento. Tal verba remunera os advogados dos vencedores. A Lei 13.327/2016 estendeu a prática aos advogados públicos em causas da União.

Advogados do setor público já têm salário garantido e estabilidade no emprego, não têm custos de instalação e manutenção de escritórios e não precisam disputar clientes no mercado: são monopolistas da representação judicial da União. Não faz sentido que recebam essa verba. Segundo um site jurídico, em 2019 foram pagos R$ 550 milhões.

O Ministério Público da União se colocou contra esse pagamento. Em ação no STF, a ex-procuradora-geral Raquel Dodge afirmou que a prática ofende os “princípios da isonomia, impessoalidade, moralidade, razoabilidade e da supremacia do interesse público”.

Mas o próprio MPU não se furta a batalhar por seus vencimentos, buscando brechas para furar o seu teto e construir “jurisprudência” para sucessivas ampliações.

A emenda constitucional do teto de gastos fixou um limite específico para cada poder e órgão autônomo. Desde então, acabou a facilidade de aumentar os próprios salários e jogar a conta para outros pagarem: para dar aumento de salários, tem que cortar outras despesas do próprio órgão.

Em 2018, o MPU chegou a convencer o TCU a isentar do teto despesas financiadas por suas receitas próprias. A área técnica se pronunciou contra a interpretação criativa, mas o plenário do TCU determinou o aumento do orçamento do MPU. O Congresso se recusou a votar a autorização.

O MPU retornou ao TCU, com nova tese: alegou que seu teto de gastos havia sido calculado erroneamente em 2016, com a exclusão de R$ 105 milhões, referentes a seu auxílio-moradia. O TCU, dessa vez com maior fundamentação legal, determinou a elevação do teto do MPU. O Executivo acatou e fez o ajuste a partir de 2019.

O MPU passou a demandar “ressarcimento dos atrasados” de 2017 e 2018. Ou seja, transformou um teto de gastos —limite máximo— em direito de gastar.

O TCU, por sua vez, ignorou que orçamento é uma peça de vigência anual e garantiu o “direito” ao auxílio-moradia retroativo.

Os militares seguem a cartilha: usam o seu maior protagonismo no atual governo para obter previdência benevolente, gratificações e vantagens exclusivas. Já propuseram fixar o orçamento da defesa em 2% do PIB. Serão autônomos, como os demais Poderes.

A perda para o país vai além do custo financeiro das prebendas. Está no exemplo vindo de cima. Os excessos da elite reforçam o discurso dos populistas: se há para os grandes, tem que gastar com todos. O Estado vira um grande distribuidor de benefícios e salários. As finanças quebram e não sobra dinheiro para prover serviços públicos. A economia não cresce. A desigualdade aumenta.

É possível mudar: construir consenso político em torno das prioridades nacionais, ter pesos e contrapesos para frear o uso abusivo de poder. O ponto de partida é um claro limite do que pode ser gasto. Sem isso, sempre haverá espaço para oportunismo.​

Marcos Mendes

Pesquisador associado do Insper, é autor de ‘Por que É Difícil Fazer Reformas Econômicas no Brasil?’

Tomarei todas! por Paola Minoprio.

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Grupos contrários à vacina anticoronavírus ganham terreno em meio a falácias

Folha de São Paulo, 27/07/2020

Parece que o povo brasileiro está num mato sem cachorro. Sem estratégia e intervenção claras do Ministério da Saúde, informações errôneas sobre a transmissão do coronavírus e um presidente que não dá exemplo, ainda se ouve que os impactos da Covid-19 serão sentidos por até dois anos!

Não bastasse a chegada do vírus, a ideia de conspirações invade as redes sociais e um movimento perigoso ganha terreno—o dos anti-vaxxers, ou anti-vacinas. Uma relação parece existir entre acreditar em complôs e não querer se vacinar… Mas essa falácia não é uma característica nossa.

A revista Lancet, renomada no mundo científico, mostrou que 26% dos franceses eleitores da esquerda e da extrema direita, não tomariam vacina contra o vírus. Esse descalabro tem paralelo nas crenças ideológicas da Itália e da Polônia.

A Universidade de Oxford revelou numa recente publicação que as crenças conspiratórias com o vírus e a desconfiança com as diretrizes do governo levam 12% dos ingleses a recusar uma vacina e 18% a desaconselhar familiares a tomá-la.

Nos EUA, 30% dos americanos não veem utilidade na vacinação e 38% dos alemães se recusariam a tomar uma vacina que seja imposta pelo governo.

Nas manifestações verde-amarelas em prol do fim do isolamento, não se vê ninguém clamando por vacinas! Entretanto, só as vacinas levarão à imunidade coletiva e libertarão o país deste vírus infernal!

Há 15 dias havia no mundo pelo menos 147 candidatos vacinais. A GAVI, aliança pública-privada mundial para o desenvolvimento de vacinas, com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, OMS, Banco Mundial e Unicef, se comprometeu a comprar milhões de doses para países pobres garantindo que comunidades vulneráveis sejam salvas.

Um acordo foi assinado com a farmacêutica britânica AstraZeneca para fornecimento de 300 milhões de doses da vacina de Oxford que, com a maior chance de sucesso, tem previsão de disponibilidade dentro de um ano. Hoje, sete outras preparações vacinais da China, Suíça, Estados Unidos ou da França estão em testes clínicos e predizem uma produção comercial entre o 2° e o 4° bimestres de 2021.

Para que uma imunidade de rebanho seja atingida será necessário vacinar 60-90% da população mundial, ou seja, pelo menos de 4 a 7 bilhões de pessoas. Se todas essas vacinas funcionarem e forem produzidas a todo vapor, apenas 1,5 bilhão de doses seriam disponibilizadas e seis meses seriam necessários para uma campanha de vacinação.

É consenso mundial que a infecção pelo coronavírus provoca uma resposta imunológica que não é duradoura. Então, independente de quais vacinas serão bem sucedidas, o importante é que além de estimular a produção de anticorpos e células tóxicas ao vírus, elas induzam uma “memória” imunológica que seja desencadeada a cada nova infecção.

Desde a vacinação de Louis Pasteur, com o vírus da raiva atenuado, e a variolização de Edward Jener, com as pústulas de varíola bovina, as vacinas evoluíram muito.

Por exemplo, na vacina de Oxford, o gene do spike, aquele espinho que ajuda o coronavírus a entrar nas células humanas, foi inserido no material genético de um adenovírus de resfriado que leva a vacina para o trato respiratório.

A vacina alemã e a americana são baseadas no gene inteiro do spike ou em apenas seus fragmentos. A chinesa, por sua vez, usa o vírus inativado em cultura de células de rim de macaco. A novidade é que todas as vacinas em teste induzem respostas rápidas de anticorpos e de células que limpam o tecido infectado.

Assim, pessoal, com ou sem cachorro no mato, plagiando Erney Plessmann de Camargo, professor da Universidade de São Paulo, “respeitados os intervalos necessários, eu tomarei todas, chinesas, inglesas, americanas e alemãs.”

Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

 

As transformações na sociedade em decorrência da pandemia

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A sociedade mundial passa por um momento de grandes incertezas geradas pela pandemia do coronavírus, deixando um rastro de mais de 15 milhões de infectados, com seus impactos imediatos sobre todas as regiões e países do globo, desde as economias mais pujantes e desenvolvidas até os países pobres e miseráveis, levando uma leva de mortes, desesperanças e instabilidades econômicas, desajustes políticos e sociais, além de um caos generalizado na questão sanitária e de saúde pública.

Neste ambiente de medos crescentes, encontramos visões das mais variadas sobre o flagelo da pandemia, uns acreditam que vivemos um momento de um castigo divino, nestes crises percebemos graves constrangimentos para as civilizações; enquanto outras pessoas, enxergam neste episódio, um instante sublime de renovação global, onde todos devem dar seus relatos como forma de viver uma renovação espiritual, a pós-pandemia abrirá espaço para uma nova sociedade, onde os indivíduos tendem a perceber que os valores devem ser reestruturados com coletividade universal.

As pandemias não devem ser vistas como um momento inédito na sociedade internacional, são inúmeras epidemias globais se espalharam para todos os rincões no mundo, levando a óbito uma parcela imensa de pessoas, gerando muitas dores, tristezas e desesperanças e, posteriormente, novas situações transformando a sociedade, renovando atitudes e comportamentos e abrindo caminho para novos sentimentos e valores mais consistentes. No começo do século XX, a gripe espanhola, que foi causada pelo vírus influenza, assolou a sociedade internacional entre janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou mais de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial, gerando tristezas e saudades crescentes em grande parte das famílias mundiais.

A Doutrina Espírita nos traz inúmeros instrumentos para refletir sobre este momento da contemporaneidade, ao analisar o livro A Gênese, no capítulo XVII, Allan Kardec nos mostra que a sociedade mundial passaria por um grande momento, marcados por mudanças de valores estruturais. Como somos um país de provas e expiações e estamos em constantes progressos espirituais, em prol de uma melhoria mais consistente e duradoura. Acreditar que estas mudanças são necessárias e impulsionariam o crescimento do mundo é fundamental e premente, mas todas estas transformações geram rastros de ranger de dentes, com dores generalizadas e deste momento surgirá uma nova comunidade internacional, em bases e valores mais sólidos e verdadeiros mais puros e espiritualizados.

Os espíritas acreditam que estamos passando por um momento de transição de mundos, de um mundo conhecido como o de expiação e de provas para um mundo marcado por um mundo de regeneração, neste último muitos vícios que trazemos nos nossos íntimos serão deixados para trás, a renovação nos levará a um novo ser humano, mais solidário, mais consciente, empático e mais harmonizado com valores mais evoluídos e desenvolvidos,  integrados com os espíritos superiores que vivem em ambientes mais sublimes.

Neste momento encontramos uma sociedade mais capacitada em termos científicos e tecnológicos, diante deste desafio a comunidade internacional deve se juntar, pesquisadores das mais diferentes regiões do mundo devem se unir, unindo esforços hercúleos em prol de uma solução emergencial. Laboratórios públicos e privados devem se unir na busca de uma vacina que resolva a cura dos infectados, pesquisadores e intelectuais devem ser estimulados a compreender a sociedade na pós-pandemia, os ajustes que devem ser construídos para que os indivíduos possam crescer e se desenvolver com os medos gerados pela pós-pandemia, seus novos comportamentos e valores, visando a construção de uma sociedade mais integrada no ser, nos sentimentos e nos valores mais consistentes, deixando de lado este mundo centrado pelos valores do ter, da posse, das imagens e da acumulação dos recursos materiais e do consumo. Se a pós-pandemia trouxer novas valores para os indivíduos e para a coletividade global, este momento terá trazido um grande progresso para toda a comunidade internacional.

A chegada desta pandemia na sociedade internacional deve transformar os indivíduos a momentos de reflexão, a sociedade global deve parar para repensar valores consolidados, comportamentos cotidianos e relacionamentos degradantes. O momento de renovação espiritual, as pessoas devem compreender que o Planeta Terra é uma grande escola, um momento de vivências constantes em prol de um crescimento espiritual, levando-nos a mundos mais evoluídos, convivendo com espíritos mais elevados, sublimes e mais generosos e desenvolvidos, absorvendo sentimentos maiores e valores mais conscientes de nosso papel social na vida.

Ao observar as dificuldades dos países nas mais variadas regiões do mundo, percebemos como a pandemia está levando indivíduos ao óbito em condições que poderiam ser evitadas, pessoas morrem sem água encanada, sem alimentos e sem condições de dignidade, gerando pessoas infelizes, criando ambientes marcados por energias negativas, com isso, a atmosfera se mostra marcada por escuridão, medos e desesperanças, eternizando a pobreza espiritual e material. No continente africano, mais de 700 milhões de irmãos vivem em condições de indignidade, sem água e sem sabão, em condições degradantes de saúde e de higiene pessoal, cultivando doenças primárias que levam a morte que seriam evitadas facilmente.

A Doutrina Espírita nos mostra uma visão social muito mais ampla do que outras visões religiosas, o espiritismo nos mostra que o mundo está caminhando para um momento de grandes renovações e este crescimento é imposto e inexorável, todos devem aceitar e trabalhar em prol da coletividade, abraçar nossas responsabilidades e criam ambiente mais salutares, criando sentimentos mais sublimes e nos conscientizarmos de que a evolução está sendo conduzida pelo governador do Planeta Terra, Jesus Cristo, condutor e timoreiro destes momentos da sociedade internacional.

A pandemia deve mostrar a todos os indivíduos a importância da natureza, o respeito aos valores dos animais, das florestas, das matas e dos vegetais, de todos os povos, dos indígenas, dos negros e dos asiáticos. Neste momento de instabilidades e incertezas, cabe aos países mais desenvolvidos, coletividades mais abastadas de recursos monetários e mais capacidades tecnológicas e científicas, usando-as em prol da sociedade internacional, desde seus povos até seus irmãos de outras regiões do mundo. Neste momento devemos ser mais solidários e empáticos, renovando comportamentos marcados por valores materiais e construindo valores mais espirituais.

Segundo Chico Xavier a sociedade mundial está caminhando para o mundo de regeneração, deixando para trás o mundo de provas e expiações, que acontecerá depois de 200 anos da codificação de O Livro dos Espíritos, algo em torno de 2057. Neste momento, a sociedade internacional tem que ter consciência deste momento que passamos no Planeta Terra, um momento de mudanças, que exigem dos cidadãos valores mais amplos e consistentes, enxergando o mundo contemporâneo como uma grande escola, uma universidade de vivências, de experiências e de evoluções.

Nas questões econômicas percebemos inúmeros conflitos em curso na sociedade, de um lado percebemos uma discussão entre economia e saúde, um conflito equivocado, afinal o que vai acontecer para a economia se as pessoas não tiver saúde? Como será o consumo se as pessoas não existirem mais? A economia é fundamental na sociedade, o emprego, a renda e o consumo são cruciais para o sistema econômico, mas antes de tudo, os seres humanos precisam preservar a sua saúde e suas condições de vida para poder trabalhar e auxiliar no progresso social, sem saúde a economia entra em colapso.

A pandemia pode estimular uma mudança na mentalidade de empresários e pessoas que possuem mais recursos, mas para isso, faz-se necessário que as pessoas busquem informações sobre as necessidades das pessoas, contribuindo para os donativos, deixando recursos monetários para aqueles que possuem nada, doando alimentos, roupas e produtos de consumo pessoal, desta forma, as pessoas começam a desenvolver a empatia, a solidariedade e sentimentos para com os outros. Estas mudanças não acontecem de uma noite para o dia, algumas demoram uma vida, estão sempre presas em comportamentos egoísticos, em seus interesses e seus valores, mesmo assim, numa outra vida os cidadãos vão perceber valores que estão atualmente esquecidos.

A pandemia deveria levar a sociedade internacional a refletir sobre o mundo do trabalho, levando a sociedade a repensar sobre a importância e a centralidade do trabalho na civilização, deixando de lado este ambiente de competição e de concorrência acelerados, voltando a centralidade do mundo do trabalho não como acúmulo de recursos e entesouramento, mas uma instrumento de desenvolvimento social e econômico, como agente de sobrevivência, de incremento de direitos políticos, cidadania e respeitabilidade, estimulando valores de coletividade e de solidariedade, valores diferentes dos que encontramos na sociedade contemporânea, sempre centrado na concorrência desigual e a preservação de ganhos dos mais abastados.

A Educação deve ser vista não apenas como uma forma de agregar as pessoas para o mercado de consumo, mas deve ter um caráter mais amplo, a educação deve ser vista como uma forma de renovar seus valores do mundo, conhecendo várias áreas, estimulando a formação da cidadania, seus direitos e seus deveres, conhecendo as ciências, a literatura, a filosofia, as artes, a sociologia, a história, as religiões, o direito, a antropologia e os comportamentos humanos. Infelizmente, na sociedade contemporânea, a educação está fortemente centrada nas leituras superficiais, sem aprofundamentos maiores, com leituras de orelhas de livros e leituras de resenhas superficiais, formando pessoas pobres intelectualmente, com leituras reduzidas e, mesmo assim, com opiniões constantes nas redes sociais, para que sejamos vistos como especialistas em assuntos variados, opinando sobre todos os temas, entrando na conversas, gerando fakes News, gerando ignorância e espalhando constrangimentos. .

O mundo da matéria é fundamental, todas as experiências são valorosas para a busca do progresso espiritual, as vivências servem para entender as necessidades mais íntimas do progresso do ser humano, nesta pandemia devemos entender que aqueles que possuem mais devem auxiliar aqueles que tem menos. Neste momento de incertezas na sociedade internacional, todos seremos chamados para dar sua parte do auxílio deste momento de dificuldade, todos seremos responsabilizados por aquilo que deixamos de fazer em prol da coletividade. A conscientização das pessoas é fundamental para seu progresso espiritual, neste instante estamos num momento de renovação e de esperanças, esses sentimentos devem animar os corações de todos os indivíduos, levando conforte e serenidade para todos que mais necessitam, transformando esta pandemia em um momento de novos horizontes e crescimentos espirituais.

 

 

 

 

 

 

Depressão, Pandemia e desequilíbrio emocional

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Os intelectuais e estudiosos da sociedade contemporânea tem grandes dificuldades de compreender como se caracterizar um mundo depois da pandemia que assola a comunidade internacional, uns acreditam que a nova sociedade se mostrará mais solidária e responsável socialmente, de outro lado, encontramos mais céticos para o pós-pandemia, mesmo passando por um momento de grandes instabilidades e medos crescentes, os seres humanos não estão preparados para mudanças sociais, ainda reina nos corações a concorrência e a competição, onde os interesses materiais e financeiros ainda estão centrados nos indivíduos, mesmo sabendo que não podemos precisar como será o novo mundo, haverá grandes renovações e instabilidades crescentes.

Sabemos que vivemos num mundo dominado pelos interesses da matéria, estamos centrados nos valores subjetivos do capital, a ética se concentra no imediatismo, nas riquezas e do consumo, neste ambiente, percebemos os impactos do meio ambiente, o degelo está em expansão, os mares, os rios e os lagos estão sentindo o peso agressivo dos homens, as florestas e as vegetações percebem as degradações, no Brasil percebemos as terras indígenas estão sendo atacadas por grileiros, garimpeiros e madeireiros, cujos impactos estão se mostrando cada vez mais acelerados, gerando movimentos nacionais e internacionais em defesa este matrimônio global, cuja destruição estenderá para todas as regiões do mundo, levando países a submergir dos oceanos, destruindo países, localidades e a migração de populações destas nações.

Ao mesmo tempo, percebemos movimentos de defesa do Planeta Terra, campanhas que levam a junção de empresas das mais variadas regiões e comunidades, governos nas mais diferentes matizes ideológicas, etnias e coletividades se unem em prol das necessidades de todos os povos, a pressão pode trazer beneficiar e podem criam novos movimentos de defesa da natureza e do Meio Ambiente e outras campanhas e bandeiras que devem ser abraçadas pela comunidade internacional, como o trabalho escravo, os tráficos de drogas e de pessoas, das guerras religiosas, dentre outros temas que impactam em todos os povos e nacionalidades.

Destacamos ainda o incremento da depressão, do suicídio, da ansiedade e dos transtornos crescentes em todos os países e coletividades, diante disso, percebemos que os desequilíbrios que assolam a sociedade global devem ser vistos como um tema de saúde pública. As raízes para estes desajustes são inúmeras, de um lado percebemos questões econômicas, como o rápido do crescimento da concorrência, das exigências do mercado de trabalho e as grandes mudanças no mundo do trabalho, levando as pessoas a sentir na pele as novas exigências do mercado. Neste ambiente de crescimento da competição, percebemos uma nova sociedade, com alterações estruturais, de um mercado centrado em produtos tangíveis para a uma nova sociedade centrada em bens intangíveis, onde o conhecimento e a tecnologia são os maiores criadores de riquezas e de acumulação, deixando de lado os grupos menos capacitados, menos escolaridades, com isso, aumentando o exército de marginalizados, de esfomeados e de excluídos em todos os países, antes eram apenas encontrados em países pobres e miseráveis, atualmente, os encontramos em todos as regiões do globo, até mesmos as nações desenvolvidas e industrializadas.

A depressão é vista como o mal do século XXI, vitimando uma leva gigantesca de mais de 400 milhões de pessoas ao redor do mundo, se somarmos os vitimados pelas ansiedades e  pessoas que sofrem de transtornos variados, que a ciência psicológica não sabem identificar, chegamos facilmente em mais de 2 bilhões de pessoas da sociedade mundial, cujas pessoas acometidos destes moléstias crescem de forma acelerada, gerando impactos econômicos em todos os países, vitimizando famílias e criando embaraços em todas as coletividades.

Nestas crescentes instabilidades emocionais e psicológicas que crescem em todos os países, estamos percebendo as grandes mudanças na coletividade internacional, o incremento das tecnologias traz novas melhoras econômicas, aumentando a produtividade e reduzindo os custos produtivos e elevando os lucros monetários, força no mercado e dominação política, mas ao mesmo tempo, percebemos uma absorção menor da mão de obra, gerando um aumento no desemprego, não apenas conjuntural mas o desemprego estrutural, onde inúmeros trabalhadores estão sendo substituídos por máquinas e equipamentos, além de novos modelos de gestão, marcada por tecnologias da informação e técnicas modernas de gerenciamento de cadeias produtivas, os impactos são cada vez maiores, gerando levas de ganhadores e, uma quantidade gigante de desafortunados, excluídos, desassistidos e descartáveis.

As novas tecnologias exigem estudos constantes, as atualizações são cotidianas, levando os indivíduos a entender as novas tecnologias, as redes sociais e as novas plataformas, novos aplicativos, tudo exige dos trabalhadores estudos crescentes e ininterruptos, neste ambiente, percebemos o surgimento de novos cursos de graduação, novos cursos técnicos, novas realidades produtivas e de interconectividades, com isso, estamos cada vez mais dependentes das novas tecnologias, novos produtos, novos empresas, tais como as startup cujos valores de mercados passam conglomerados antigos e arraigados na sociedade internacional. Um exemplo de empresas novas e revolucionária é a Tesla, montadora norte-americana que se transformou na maior montadora do mundo, deixando para trás empresas transnacionais que possuem mais de 50 anos de experiência do mercado global. Empresas como Volkswagen, Toyota e General Motors produziram mais de 10 milhões de automóveis no ano passado e seus valores de mercado ultrapassaram mais de 200 bilhões de dólares, valores menores do valor de mercado da Tesla, que gira em torno de US$ 280 bilhões, mesmo sabendo que, no ano passado, a empresa líder produziu “apenas” trezentos mil automóveis no mercado mundial, apenas 3% da capacidade produtiva das suas concorrentes.

Neste ambiente, caracterizado por uma sociedade internacional devemos destacada a alta desigualdade e da exclusão social, onde 1% da população mundial, um contingente em torno de 70 milhões de afortunados internacionais, absorveram mais de 82% da riqueza de 2018, enquanto os outros 99% da população global, algo em torno de 6,9 bilhões de pessoas amealharam mais de 18% da riqueza global, aumentando a concentração da renda e o incrementando os estoques destas famílias. Estas pessoas são os grandes donos da sociedade internacional, concentram em suas mãos as maiores empresas, os grandes bancos, as emissoras e os fluxos de informações, os provedores de internet, os grandes laboratórios mundiais, agentes responsáveis pelos recursos das campanhas, os financiadores dos deputados, dos senadores e dos presidentes da repúblicas, com isso, os donos do poder concentra todos os valores da sociedade, impondo seus valores, seu imediatismo e suas ambições, suas taras e seus desejos mais íntimos e pessoais.

Nesta pandemia, percebemos grandes transformações, dentre elas, destacamos os impactos sobre as finanças públicas, os recursos orçamentários e os gastos públicos, sua análise nos leva a compreender, de forma detalhada, como se dá o poder dos grandes grupos privados, sua força econômica e a adoção de seus interesses imediatos. De um lado, percebemos como os agentes governamentais se esforçam para levar recursos públicos para os setores privados, fazendo que os fundos públicos cheguem rapidamente para os grandes bancos e setores financeiros, recursos monetários com taxas de juros reduzidos e prazos cada vez mais dilatados, com isso, seus balanços financeiros e patrimoniais crescem de forma acelerada. De outro lado, percebemos como as micros, médias e pequenas empresas, responsáveis por mais de 98% do mercado nacional, grande agente gerador de emprego e renda para a coletividade, são incapazes de acesso aos fundos públicos, os recursos existem e foram canalizados para os bancos mas, estes recursos não chegam aos setores mais carentes, o resultado imediato é mais de 700 mil empresas em falências e um números assustador do desemprego, que devem chegar a mais de 20 milhões de pessoas, além de subempregos e informais, uma verdadeira selva marcada por degradação econômica, falências e desequilíbrios variados, cujos resultados imediatos devem levar o país a um colapso generalizado.

O horror gerado pela pandemia do coronavírus na sociedade internacional está deixando a sociedade num ambiente de depressão crescente, os valores imediatistas do capital estão absorvendo os corações e as mentes dos indivíduos, as éticas foram deixadas de lado, os recursos materiais estão se sobrepondo nas famílias contemporâneas, os prazeres e os gozos do consumo estão alterando as convivências das pessoas, as conversas familiares, as amizades e os relacionamentos, todos estão se transformando num ambiente de relações imediatas, marcadas por prazeres sexuais, sem conquistas, conversas estruturadas e sentimentos apaixonados. Vivemos uma sociedade que beira ao caos, os novos fluxos de informações e as novas plataformas aproximam as pessoas e ao mesmo tempo os distanciam as pessoas, vivemos um mundo estranho, estamos pertos e ao mesmo tempo, os prazeres são limitados e os prazeres são imediatos e os encontramos numa loja, num shopping e num café, mesmo sabendo que estes locais, tão prazerosos, estão fechados ou abertos parcialmente em decorrência da crise gerada pela crise sanitária que nos assola e nos amedronta, gerando ranger de dentes e medos crescentes.

Vivemos um mundo marcado por grandes depressões, depois de crescentes depressões econômicas, com estamos nos aproximando, as crises geradas pelas depressões emocionais, neste ambiente nos comportamos como verdadeiros zumbis, robôs ou autômatos, num ambiente marcado pela inteligência emocional, onde conhecemos nossas inteligências como a Aura, a Alexia, a Bia, entre outras, são os verdadeiros “indivíduos” que pululam os cotidianos dos indivíduos, trocando as pessoas físicas por e substituindo as inteligências do ambiente virtual, muitos se casam com estas inteligências, amam as tecnologias modernas e deixam de refletir sobre os valores da sociedade contemporaneidade. São robôs que levam os cidadãos se entregam em vidas medíocres, fútil e sem sentido, sem importância aparente, deixando de viver e se aventurar sobre o significado da imensidade da vida, das relações sociais, dos amores e da solidariedade. Torcemos para que a pandemia e este momento de isolamento e reflexão, sirvam para acordar valores fundamentais e sentimentos que se encontram escondidos nos seres humanos.

 

 

 

 

 

 

 

Classe média contribui para relações bárbaras de trabalho, diz sociólogo

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Pesquisador sobre classe média brasileira, Jessé Souza diz que trabalhador no Brasil passa por desconstrução institucional

Paula Soprana – Folha de São Paulo, 24/07/2020 

Pesquisador sobre a classe média brasileira, o sociólogo Jessé Souza, doutor pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, considera a emergente mobilização de entregadores consequência de uma política ampla de desconstrução institucional do trabalhador.

Para ele, o pano de fundo da popularização do modelo de negócio dos aplicativos, que não pressupõe vínculo empregatício, é uma classe média que autoriza que relações trabalhistas sejam fragilizadas.

“A precarização do trabalho foi montada a partir de programas políticos”, diz ele, referindo-se aos governos de Michel Temer (MDB), que aprovou a reforma trabalhista, que ele se opõe, e do presidente Jair Bolsonaro.

“Setenta por cento da classe média votou em uma pessoa com esse perfil, você celebra a desconstrução institucional do trabalhador e aí, obviamente, ele perde vínculos, emprego e aparece na vida dessas pessoas como se elas não tivessem nenhuma relação com isso”, diz.

Para Souza, a classe média contribui para uma relação “bárbara” de consumo.

Como o sr. avalia a relação entre a classe média consumidora e os entregadores de apps, que estão no centro de uma discussão sobre trabalho na pandemia?

Da forma 
que se dá no Brasil, perpetua 
uma relação de exploração próxima à escravidão. A questão é a desigualdade montada pela herança da escravidão. Não é só dizer formalmente que escravidão acabou quando você pode produzir escravos, entre aspas, num contrato de fome, com preço vil. O trabalho é reduzido a um esforço corporal —o trabalho da faxineira, da doméstica, do entregador que roda 13 horas de bicicleta para entregar a pizza quentinha. É uma relação de exploração econômica da classe média, e o fato de as pessoas serem destituídas de direito faz com que a classe média possa abusar disso.

Muitos alegam que esses aplicativos são uma forma de sustento para desempregados. 

Não acho. O que se cria é uma sociedade, primeiro, que desorganiza as relações de trabalho. Setenta por cento da classe média votou em uma pessoa com esse perfil, você celebra a desconstrução institucional do trabalhador e aí, obviamente, ele perde vínculos, emprego e aparece na vida dessas pessoas como se elas não tivessem nenhuma relação com isso. Basta fazer uma cadeia causal para saber que a classe média compra isso, apoia esse tipo de modelo. Você tem uma relação de classe média bárbara e selvagem.

A popularização desses apps é global. Alguns países regulam de forma diferente, mas ela também é anterior ao governo Bolsonaro…

Cada país 
lida de forma distinta. Na Alemanha, não vejo pessoas correndo de bicicleta para entregar rápido, não é assim que funciona. Tem maquininha que carrega produtos no supermercado, o trabalho muscular é diferente. Entre nós existe uma naturalização que é exploradora e espoliativa.

Qual seria a alternativa para a classe média que evita sair de casa? Que modelo seria justo ao trabalhador?

Garantindo direitos a esse trabalhador, 
que foram retirados 2016. A precarização de relação de trabalho tem relação com isso e 
isso foi montada a partir de programas políticos, tanto com 
Temer como com Bolsonaro. O que está por trás é uma 
concepção de sociedade. Setores da classe média querem que essas relações sejam fragilizadas. Esse é o ponto fundamental. De resto, vamos acabar discutindo aspectos pitorescos e fragmentados.

Alguns entregadores defendem CLT, mas a maioria quer maiores taxas e tem reivindicações pontuais. Essa mobilização pode influenciar novas manifestações?

Espero que isso aconteça porque as pessoas foram jogadas nesse mercado. Não podemos colocar isso como uma escolha, há uma precarização geral que é maior que uma decisão individual. Você ainda dificulta que elas possam se organizar politicamente. Não existe debate midiático plural que pode informar essas pessoas —acho incrível que tenham conseguido se organizar coletivamente. Proteção legal é desejável, mas a classe média não se preocupa muito com o pobre.

RAIO-X

Jessé Souza, 60, foi presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2015 e 2016, durante o governo de Dilma Rousseff. É autor de uma série de livros, como “A Ralé Brasileira” (2009), “Batalhadores Brasileiros (2010) e “A Guerra contra o Brasil” (2020). ​

 

Bolsonaro com Covid pode até causar ganho político a ele, mas efeito seria limitado, diz cientista político.

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Professor da UFMG Leonardo Avritzer lança livro Política e Antipolítica: a Crise do Governo Bolsonaro

Naief Haddad – Folha de São Paulo, 18/07/2020.

Há uma chance de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha benefícios políticos depois de ser infectado com Covid-19. Mas esse eventual ganho de popularidade teria efeito bastante limitado.

Essa é a avaliação do professor titular de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Leonardo Avritzer, que está lançando o livro “Política e Antipolítica: a Crise do Governo Bolsonaro” (editora Todavia).

“A população, em geral, está muito mais arisca, confia muito menos nele do que antes”, afirma Avritzer.

Com base em pesquisas realizadas nos últimos anos pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, do qual faz parte, o cientista político acredita que em 2020, “pela primeira vez desde 2014, temos elementos de recuperação de práticas democráticas”.

O pesquisador dá como exemplo dessa mudança de patamar o aumento da confiança da população no Congresso Nacional e no STF (Supremo Tribunal Federal). “Nossos levantamentos têm fortes convergências com pesquisas que o Datafolha realizou durante a pandemia.”

À Folha Avritzer explica por que a “fase cordata” do presidente tende a durar pouco e comenta os fatores que impulsionaram Bolsonaro ao centro do poder, um dos temas do seu novo livro.

Do ponto de vista político, como avalia o fato de o presidente ter sido diagnosticado com o novo coronavírus?

É mais um momento lamentável nessa sequência de episódios do presidente ligados à Covid-19. Mesmo que o diagnóstico signifique uma alteração radical da postura dele em relação ao enfrentamento da pandemia, o que parece duvidoso, seria uma mudança que vem demasiadamente tarde e vem de uma pessoa que mostrou pouquíssima sensibilidade e capacidade de gerar empatia com a população.

Pode haver algum benefício político?

É difícil pensar em algum ganho nesse sentido, mas não impossível. Basta lembrar que Bolsonaro se beneficiou demais do atentado [a facada em setembro de 2018], embora ele tenha sido um dos políticos que mais incentivaram a violência durante a campanha eleitoral.

Pode haver, sim, um efeito [de maior adesão] entre os grupos bolsonaristas e entre aqueles que abandonaram recentemente o apoio ao presidente. Mas a população, em geral, está muito mais arisca, confia muito menos nele do que antes.

No início do seu novo livro, o senhor fala que “Bolsonaro passou de um político marginal ao centro da política”. Quais os fatores principais para levá-lo a esse novo patamar? 

São três. O primeiro é o colapso do governo de esquerda, com o qual ele adquire protagonismo. Todos devem se lembrar do voto de Bolsonaro durante a sessão da Câmara dos Deputados que autorizou o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

Em segundo lugar, o fracasso do governo Michel Temer. Houve uma operação desastrada das forças de centro ao retirar uma presidente de esquerda para botar o governo nas mãos de Temer, que articulava todo o sistema de desvios de recursos públicos.

Um terceiro ponto é a Lava Jato, que talvez opere numa raia própria na crise brasileira. De um lado, defendeu o que os brasileiros querem, a punição da corrupção no sistema político. Por outro, destruiu quase a totalidade do centro político.

O senhor também escreve que “o colapso do bolsonarismo não ocorre subitamente, mas pela primeira vez desde 2014 temos elementos de recuperação de práticas democráticas”. O que o leva a acreditar nessa recuperação? 

Em março de 2018, nós, na UFMG, participamos da realização de uma pesquisa nacional, e os resultados foram catastróficos. O apoio às instituições políticas era baixíssimo, apenas cerca de 10% confiavam no Congresso Nacional. O apoio à democracia tem que ser, evidentemente, um apoio às instituições democráticas.

Naquela pesquisa, os brasileiros confiavam principalmente nos militares e nas igrejas.

Tivemos recentemente [pesquisa em junho deste ano] certa recuperação da confiança nessas instituições. A confiança no Congresso não é enorme, mas melhorou. Houve aumento ainda no caso do STF.

Também é importante que os brasileiros tenham se manifestado a favor do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. A democracia precisa de políticas públicas, de objetivos claros, e era isso que Mandetta apresentava nas entrevistas que concedia no ministério. E o bolsonarismo faz o quê? Desorganiza a política e surge com uma solução mágica.

De acordo com a pesquisa mais recente do Datafolha, 75% expressam apoio à democracia, o maior índice da série histórica. Como avalia esse resultado?

É uma boa notícia, claro, mas isso, por si só, não resolve o problema do apoio à democracia.

Seria preciso também perguntar às pessoas se elas concordariam em romper com a democracia em certas situações. Uma coisa é dizer “eu acho a democracia um bom sistema de governo”, outra é “em todas as situações, eu vou ser democrata e me comportar democraticamente”.

Na verdade, esse resultado de 75% é mais significativo pelo que revela de contraste com a posição do presidente, que participou de uma série de manifestações em que ideias de golpe ou intervenção militar foram levantadas.

O governo tem se aproximado nos últimos meses dos partidos do centrão. Isso será suficiente para sustentá-lo no poder?

Há dois problemas. Um é que a base bolsonarista é altamente anticentrão. O movimento que o presidente faz nessa direção o torna vulnerável diante do bolsonarismo como movimento.

E existe um segundo problema: os políticos que apoiam Bolsonaro agora, como Ciro Nogueira (PP), Valdemar Costa Neto (PL) e Gilberto Kassab (PSD), são aqueles que estiveram ao lado da ex-presidente Dilma no segundo mandato dela. Eles não foram capazes de segurar a Dilma, não é?

O centrão pode oferecer uma estabilidade mínima no Congresso, mas não te ancora completamente. O que segura mesmo um governo é a opinião pública, são as ruas, os níveis de aprovação e o Poder Judiciário, na medida em que tem a capacidade de colocar o Executivo em xeque.

O senhor diz que a gente vive um equilíbrio precário.

Vivemos numa conjuntura de equilíbrio catastrófico, eu diria, com um presidente que não é democrata e que tem um apoio significativo da população. Quando se pergunta aos brasileiros se querem a renúncia ou o impeachment, a sociedade aparece bastante dividida.

Aparecem menções ao cesarismo ao longo do livro. Do que se trata?

É um termo que a ciência política usou muito no século 19 e no começo do século 20. Está associado a líderes que acumularam apoio militar (o termo vem de César, em Roma) e foram progressivamente assumindo controle completo da política. Conseguem transferir esse carisma militar para o sistema político.

Entre os líderes cesaristas importantes, estão Napoleão 3º, na França, e Bismarck, na Alemanha.

Bolsonaro pode se tornar um deles?

Acho que não. Não acredito que tenha carisma no Exército como um todo, ele tem entre aqueles de baixa patente. Não é um líder inconteste do Exército brasileiro. Pelo contrário, aliás.

Quando pôde, o Exército o reformou. Há uma série de características prezadas pelas Forças Armadas, como hierarquia e disciplina, que Bolsonaro não segue.

O senhor escreve que “Bolsonaro em versão cordial é uma ficção que não atrai os apoiadores que ele quer mobilizar contra as principais forças políticas do país”. Isso quer dizer que essa fase aparentemente mais moderada, que acompanhamos nas últimas semanas, terá vida curta?

Tendo a achar que sim. Qual é o problema desse Bolsonaro cordato, que fala da importância do STF e que passa dias sem agredir jornalistas? Ele não faz sucesso na sua base, não faz sucesso nem mesmo entre os próprios filhos.

Existe uma contradição do bolsonarismo como movimento e o bolsonarismo como governo. O bolsonarismo como movimento precisa desse Bolsonaro que chuta tudo, que compartilha fake News. Mas ele tem problemas para governar. Ao se comportar dessa maneira, sofre derrotas no Congresso e no STF.

Já o Bolsonaro cordato pode completar o seu mandato, mas dificilmente vai se reeleger ou vai continuar sendo líder de um movimento.

Tenho a impressão de que ele é muito mais feliz à frente de um movimento antidemocrático, falando as coisas que costuma falar na cerquinha do Alvorada do que indo ao Congresso conversar sobre políticas públicas.

Pode haver uma conciliação entre o Bolsonaro líder de um movimento e o Bolsonaro da governabilidade?

São coisas muito diferentes. Grande parte das pessoas que o apoiam nas redes sociais não estão interessadas na governabilidade. Acreditam numa luta ideológica, que é preciso tirar a educação brasileira das mãos dos comunistas, que é preciso combater o globalismo no plano internacional.

O bolsonarismo é um movimento muito forte porque é radical, não busca um meio termo, especialmente nas redes sociais.

LEONARDO AVRITZER, 61

 

Economia Brasileira: desafio, reestruturação e reconstrução nacional

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A sociedade brasileira está passando por grandes desafios em período de pandemia, crescimento no desemprego, redução dos salários e queda na renda, levando os trabalhadores a momento de forte desesperança, medos generalizados e grandes incertezas e instabilidades, enfrentando o maior desafio para a sociedade brasileira, com mortes crescentes, falências de empresas e uma bancarrota de fábricas, lojas e bares e restaurantes, o futuro comum é sombrio.

A economia está passando por um momento de grande desagregação, os indicadores econômicos são assustadores, o fechamento das empresas é elevado, os pequenos, médios e grandes empreendimentos estão caminhando rapidamente para a bancarrota, os recursos estão abarrotados no sistema financeiro, as demandas dos empresários são elevados, mas o dinheiro não está sendo irrigado para o sistema econômico, com isso, as perspectivas na economia nacional são sombrias são crescentes. Os investidores fogem da economia brasileira, com receio das políticas ambientais, os investimentos se assustam como os comportamentos e as atitudes hipócritas e a desonestidade crescem de forma acelerada, colocando-nos como um país pária, onde muitos países e regiões da sociedade global não mais adquirem produtos brasileiros,  somos vistos como um país vitimado, com isso, os reflexos sobre o comércio exterior tende a perder espaços consideráveis.

A educação brasileira, descrita como um dos mais caóticos setores da sociedade, percebemos a inexistência de um verdadeiro projeto nacional, neste ambiente, percebemos a inabilidade política dos titulares ministros, mais interessados em discussões menores, como a chamada escola sem partidos, dentre outras pautas ideológicas e conservadoras, deixando questões muito mais prementes, tais como o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEP), que tende a terminar no final deste ano e, sem ele, aumentará os problemas educacionais com impactos degradantes para a sociedade, principalmente nas cidades menores e menos providas de recursos para os investimentos na área da educação, deixando rastros de perdas salariais e degradantes das instituições nacionais.

Ainda falando sobre a questão educacional, percebemos que os desafios na arena educacional são imensos, desde os ensinos públicos até as escolas privadas. Sem linha de crédito e lentidão dos socorros financeiros, muitas empresas tendem a bancarrota, desde escolas pequenas de até 300 alunos até escolar maiores, que carecem de recursos para os dispêndios cotidianos e para os investimentos em infraestrutura. Com estas escolas desassistidas, muitos contingentes de escolares serão retirados das entidades privadas e deslocadas para as instituições públicas, pressionando o aumento das salas de aulas, materiais e uniformes escolares, exigindo novos gastos em manutenção, além de novos investimentos de infraestrutura, contratações emergenciais, tudo isso tende a impactar sobre os gastos públicos e as pressões sobre os tetos dos gastos, medida adotada pelo governo Temer que congela os gastos durante algumas décadas, estas medidas estão degradando de forma acelerada a educação nacional, com isso, degradam fortemente as esperanças sociais, levando a um cenário mais sombrio, elevando os péssimos indicadores sociais, econômicos e políticos.

Neste ambiente de grandes incertezas e instabilidades crescentes, percebemos uma enxurrada de lives em canais de internet e redes sociais, todos estão encontrando uma solução mais consistente para a superação, visando auxiliar este ambiente de forte degradação da educação nacional. Dados mostram o crescimento do abandono das crianças, jovens e adolescentes das escolas estaduais, nestes indicadores percebemos que grande parte daqueles cidadãos que abandonam a escola, algo em torno de 79% dos estudantes, são negros e brancos pobres, com isso, a pandemia nos mostra mais claramente os indicadores de degradação social de uma parte da sociedade brasileira, levando o país a um futuro degradante e suprimindo as oportunidades de uma parte crescente da sociedade brasileira.

Nesta semana que estamos terminando, a sociedade global se viu assustada com as políticas degradantes no meio ambiente pelo governo brasileiro, redução crescente nos investimentos na preservação da Amazônia, diminuição das multas e de queda dos funcionários de instituições como IBAMA, FUNAI e INPE, que atuam diretamente na preservação, no controle e na vigilância, além de dados negativos disponíveis destacando uma maior devastação das florestas, levando fundos financeiros internacionais, detentores de mais de 17 trilhões de dólares em administração. A redução dos investimentos estrangeiros no Brasil são muito negativos para a imagem internacional, ainda mais num momento de grandes instabilidades e crescentes incertezas nacionais, cujos recursos seriam bastante bem alocados para a economia nacional, num momento de grande devastação gerada pelo coronavírus, cujos rastros foram muitos negativos nas cidades, no interior e nas comunidades indígenas e das comunidades urbanas mais pobres, degradados e miseráveis.

Os dados referentes a economia brasileira são assustadores, o crescimento no desemprego é gritante, no começo de junho percebemos, segundos os dados do IBGE, mais de 1,3 milhão de empresas estavam fechadas ou temporariamente encerradas, deste número, quase 40% estão fechando definitivamente, mais de 522,7 mil empresas foram a bancarrota em decorrência da pandemia. Nestes números, 99,2%, eram de empresas de pequeno porte, até 49 funcionários.  Outros números mostram que 4,1 mil empresas de porte intermediário, de 50 a 499 empregados e 110 empresas de grande porte, acima de 500 funcionários. Destes números assustadores, mais de 258 mil empresas eram de setores de serviços, 192 mil empresas de setor comercial e 38 mil empresas do setor de construção e 33 mil para o setor industrial, mostrando que a pandemia está gerando uma verdadeira destruição no sistema econômico e produtivo, gerando um incremento do desemprego, da informalidade e do subemprego, com isso, os efeitos generalizados se disseminam para todos os trabalhadores, aumentando as, já péssimas, situações sociais e econômicas.

Neste ambiente de crise econômico, a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos traz números negativos e preocupantes. Segundo o estudo, a população ocupada somava 83,4 milhões em maio, ante 93,5 milhões no mesmo mês de 2019 – queda de 10,7%, recorde na série histórica iniciada em 2012. Entre os trabalhadores informais, a redução da ocupação foi de 15,1%, contra recuo de 6,7% dos formais. Nesta pesquisa percebemos uma situação de forte degradação no emprego da sociedade brasileira, muitas pessoas tendem a piorar rapidamente com a volta do isolamento social e também à garantia de uma renda mínima pelo auxílio emergencial concedido pelo governo federal, a volta desses trabalhadores à procura por uma ocupação deve pressionar a taxa de desemprego nos próximos meses, transformando o emprego na sociedade brasileira se tornar mais precário no curto prazo, pressionando o governo a adoção de políticas públicas mais efetivas para o combate desta situação, nestas medidas, a piora da condição social e econômico tendem a se degradar mais rapidamente.

Os resultados econômicos do combate a pandemia, por parte do governo federal, foram desanimadores e preocupantes, as autoridades econômicas estão conseguindo colocar na economia recursos para os agentes produtivos, principalmente para as micro e médias empresas, os recursos existem e foram distribuídos para os setores bancários mas, ao mesmo tempo, foram incapazes de garantir que estes recursos chegassem aos setores mais necessitados, com isso, o desemprego cresceu de forma acelerada, inúmeras empresas foram à bancarrota e os contingentes de desassistidos cresceu de forma assustadora, da recessão estamos caminhando para uma depressão de impactos econômicos pouco sentido internamente e a recuperação deverá ser por muitos anos.

Neste momento de pandemia, as atuações do Estado Nacional são fundamentais para a reconstrução nacional, investimentos governamentais são imprescindíveis para evitar o colapso da sociedade, os recursos emergenciais são cruciais, mas é preciso pensar em novas estratégias de emprego e de renda, com contratações de trabalhadores para dinamizar a economia e abrir oportunidades de sobrevivência das famílias. Os gastos devem ser liderados e planejados pelos agentes públicos, novos fontes de dispêndios devem ser utilizados para gerar empregos mais consistentes, ao mesmo tempo, cabe aos agentes públicos a repensarem as políticas públicas no setor industrial, somando aos esforços das universidades e centros de pesquisas, espaços centrais para o desenvolvimento de ciências e tecnologias, sem estas, o Brasil continuará mais de cócoras aos grandes centros internacionais de conhecimento. A pandemia deixa claro como a pesquisa é fundamental para a construção da soberania de um país, temos mais de sessenta universidades federais de excelência, mais uma grande quantidades de universidades e centros de pesquisas estaduais, além dos institutos federais e faculdades tecnológicas e escolas técnicas, estes ativos devem ser valorizados e estimulados para que seu objetivos sejam efetivados para a reconstrução de uma economia que, nos últimos anos, perderam o espaço global e de respeitabilidade dos centros de conhecimento universal.

A redução de Estado deve ser pensada como uma política maior, como a construção de um projeto nacional mais amplo e consistente, vender patrimônio nacional deve ser uma política marcada por ampla discussão que envolve todos os agentes públicos, onde todos os canais da sociedade podem participar destas discussões, deixando de lado as políticas autoritárias, limitadas e parciais, de grupos que degradam as empresas nacionais e degradem estas instituições e seus profissionais e, posteriormente, são os primeiros agentes que fazem lances reduzidos para o controle acionários, transformando em empresas monopolistas com lucros elevados e forte poder política e capacidade de articulação.

A discussão referente a privatização deve ser feita de forma transparente por todos os setores interessados, mas devemos tomar cuidado com o momento apropriado desta discussão, como sabemos, estamos em meio de uma pandemia assustadora, os valores arrecadados nesta desestatização será muito reduzido e seus retornos são pouco significativos, o grande problema desta alienação do patrimônio estatal podemos perceber que a privatização pode levar a construção de mercados cada vez maiores monopolistas ou oligopolistas, cujos prejuízos serão mais negativos para a população nacional, cabe ao governo perceber o momento exato destas vendas e estamos percebendo que o governo está antecipando uma discussão muito parcial e desequilibrada, os resultados desta política de desestatização são ruins e seus efeitos não devem demorar, gerando maior mal-estar para toda a coletividade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Estado de mal-estar social, por Oscar Vilhena Vieira.

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Folha de São Paulo – 18/07/2020.

Não é preciso ser Piketty para saber quem ganha com a concentração de renda

O estado de bem-estar social, que teve sua origem na Europa, foi uma resposta direta à eclosão da “questão social”, no final do século 19. O medo da revolução, a preocupação em assegurar a coesão nacional, associada à crescente indignação com as condições de vida dos trabalhadores, levou liberais, progressistas e mesmo conservadores, como Bismarck, na Alemanha, a uma inesperada convergência. Era necessário transferir ao Estado maiores responsabilidades para regular a economia e propiciar a melhoria das condições de vida de uma massa de trabalhadores dilacerada pela Revolução Industrial.

Com a cisão entre sociais-democratas e marxistas, no início do século 20, e o afastamento dos democratas cristãos do fascismo, após a Segunda Guerra, a coordenação democrática dos conflitos distributivos, com o objetivo de gerar o pleno emprego e o bem-estar da população, tornou-se o modelo predominante nas economias desenvolvidas.

Esse consenso começa a esmorecer em meados dos anos 1980, em face de suas diversas contradições internas, mas também do fim da ameaça comunista e do surgimento de uma nova ideologia que se tornaria dominante entre as elites globais, pautada nas virtudes míticas do individualismo e do livre mercado.

Nosso ensaio social-democrático, expresso no pacto de 1988, surge, assim, no contrapé da história. A Constituição buscou substituir diversos arranjos sociais corporativistas e excludentes do período Vargas por políticas públicas baseadas em direitos universais à saúde, educação, assistência e previdência social, além de incorporar novas demandas como a proteção do meio ambiente e o reconhecimento de direitos de grupos vulneráveis e tradicionalmente discriminados.

A realidade demonstrou que não tem sido simples colocar em prática o compromisso de criar uma “sociedade mais livre, justa e solidária”, como previsto no artigo 3º da Constituição Federal. Apesar de avanços sensíveis em esferas como educação, saúde e assistência social, os beneficiários da desigualdade resistem na defesa de seus privilégios, subsídios, isenções, regressividades tributárias e outros achegos que, ao longo de décadas, foram sendo entrincheirados no ordenamento jurídico.

Nesse contexto o debate em torno do ajuste fiscal, desvinculação de receitas, reforma tributária e teto de gastos não pode ser tomado ingenuamente.

Se é imperativo controlar o déficit público para recuperar a capacidade de investimentos em educação, saúde, infraestrutura, segurança, pesquisa e tecnologia, essenciais ao bem-estar da população e à sustentabilidade da economia, não se deve esquecer da voracidade e competência comprovada do 1% e especialmente do 0,01% da população de se arvorar sobre recursos públicos ou reconfortar com um sistema tributário que lhe foi tecido sob medida.

Não é preciso ser nenhum Thomas Piketty para saber quem ganha e quem perde e quais mecanismos têm fortalecido uma obscena e persistente concentração de renda no Brasil. Basta abrir a janela ou olhar no espelho para saber.

Certamente não é a vinculação de receitas para investimentos em educação e saúde a principal responsável pelo desequilíbrio fiscal brasileiro, muito menos as despesas com mecanismos de assistência social.

Desvincular e lançar recursos hoje destinados aos mais pobres para que sejam livremente disputados na atroz arena do conflito distributivo brasileiro, chamada Orçamento, não será um passo rumo a liberação do Estado brasileiro, mas sim um salto em direção à consolidação de um perigoso estado de mal-estar social.

Oscar Vilhena Vieira

Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP.

Pandemia, Planejamento, Reindustrialização e sociedade em degradação

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Nestes momentos de pandemia, a sociedade global se encontra em momentos de grandes instabilidades, medos e desesperanças, todos esperando pelo surgimento de uma vacina com potencial de imunização em escala planetária, levando os indivíduos a um momento de normalidade cotidiana, mesmo sabendo que a normalidade total nunca vai retornar, a noção de fragilidades humanas e das fraquezas sociais e emocionais tendem a rever comportamentos e pensamentos que, sem uma situação de pandemia e finitude, os cidadãos dificilmente serão levados a estas reflexões, se surgirem estas reflexões coletivas esta epidemia global terá impacto positivo para a coletividade mundial.

Nesta pandemia, percebemos a ausência generalizada da cidadania, uma palavra de grande importância, muitas vezes são utilizados constantemente, seu significado é sublime e expressivo, mas sua efetividade prática está sendo colocada ao lado, percebemos os consumidores e deixamos de lado os cidadãos. Neste momento de isolamento social, marcado pelo afastamento social, visto como os cientistas e estudiosos como a única forma de diminuir as infecções e evitar que os casos cresçam de forma incontroladas, levando um aumento dos óbitos e uma grande destruição social e econômica.

A cidadania está centrada em uma sociedade marcada por baixos graus de desigualdade social, onde os indivíduos apresentam condições de sobrevivência dignas, marcados por empregos e remunerações decentes, estes elementos estão distantes de nossa sociedade. Percebemos um país marcado pela ausência da cidadania, pessoas excluídas da sociedade de consumo, indivíduos em situação de degradação, indígenas em condições insalubres, negros e homossexuais em condição de abandono, marcados pelos mínimos princípios de civilizacionais, neste ambiente estamos vivendo um caos generalizado, neste ambiente somos mais de 60 mil brasileiros chorando pelos seus familiares e sem condições de viver seus lutos, seus sofrimentos, vazios emocionais e espirituais.

Neste ambiente percebemos que os laços de solidariedade entre os indivíduos se limitam de forma crescente, empresas fecham as suas portas sem recursos financeiros para honrar seus compromissos financeiros, famílias se encontram em situação de falência generalizada, indivíduos que sentem na pele as dores do desemprego, a falta de expectativas futuras positivas, levando desesperanças crescentes a aumento das depressões e das patologias sociais, aumentando os suicídios, as ansiedades e violências generalizadas.

Na sociedade, durante séculos, as instituições sociais e políticas construíram estruturas para garantir estabilidades e equilíbrios para seus cidadãos, criando Estados de Bem-Estar social para proteger os mais desprovidos e fragilizados, neste momento percebemos a importância da solidariedade, do amparo dos que possuem mais em detrimento daqueles que nada possuem, estes valores humanos mostram a importância daquilo que chamamos de civilização. Estes valores são fundamentais para a construção de uma sociedade de sucesso que sobrevivem ao lado do caos e da destruição, neste momento, percebemos os verdadeiros valores morais da sociedade, sem estes valores de equidade e solidariedade, a sociedade se degradará por muitos anos, gerando destruições e degradações, esta nos mostra muito claro na sociedade brasileira contemporânea.

Na pandemia, percebemos na sociedade mundial a adoção de políticas centradas nos Estados Nacionais, seu papel ficou mais imprescindível para o bem-estar social, cabendo aos governos o incremento de políticas sociais e públicas nas áreas de saúde, educação e infraestrutura, além de investimentos sociais em segurança pública e logísticas, investimentos no combate a pandemia, organização e gestão dos setores sociais e coordenação de políticas nacionais com as organizações estatais e privadas, além de órgãos e setores do terceiro setor, visando um combate eficiente e reestruturação produtiva, pensando na coordenação no período pós-pandemia, uma união entre todos os agentes dos entes federativos.

Internamente, percebemos na sociedade brasileira, grandes dificuldades dos agentes públicos e fragilidades de gestão, neste momento não temos um Ministro da Saúde a quase dois meses e, a poucos dias estamos substituindo no ministério da Educação, os dois maiores orçamentos do governo federal encontramos sem ministros titulares, com isso, percebemos como estamos num momento de caos generalizados e desorganização, com quedas consideráveis nos recursos nestas áreas centrais, levando o Tribunal de Contas da União (TCU), em relatório recente, a destacar a incompetência do governo federal na gestão da pandemia, colocando-nos nos piores posições, dentre as sociedade mundial, no combate a pandemia.

No ambiente econômico percebemos problemas terríveis, um primarismo gigante, um Ministro da Economia obcecado com privatização e aberturas econômicas, adotando políticas de redução das políticas sociais e proteção dos trabalhadores. Um conjunto de políticas liberalizantes que estão em curso desde a Reforma Trabalhista e, posteriormente, a Reforma Previdência, cujos motes eram na questão fiscal, reduzindo mais os déficits públicos e desequilíbrios do governo federal. Os discursos estão sempre centrados na redução do Estado, que advogam na redução do governo como forma de estimular o empreendedorismo nacional, sem Estado os investidores nacionais e estrangeiros serão retomados e a economia se expandisse de forma crescente, gerando novos empregos, incremento da renda, dos salários e uma melhora nas condições de vida da classe trabalhadora.

Os discursos da equipe econômica são belos e encantadores, marcados pela racionalidade e eficiência e efetividade, levando as elites econômicas nacionais e internacionais a se compraz de seus retornos, infelizmente, os resultados não se efetivam, desde a aprovação das reformas trabalhistas os empregos não se foram efetivados, os desempregados aumentaram de forma acelerada e os benefícios foram aos pequenos grupos detentores de mais recursos financeiros e especulativos, mostrando-nos que em nosso país, os ganhadores mais são aqueles que vivem de riquezas crescentes sem precisarem de passar pela produção e dos empregos das classes trabalhadores.

Neste modelo pensado pela equipe econômica não se sustenta para a economia brasileira, pela lógica do governo com menos atuação e intervenção no mercado de trabalho só gera mais empregos, investimentos e crescimento econômico, neste raciocínio sem atuação do governo as relações serão rapidamente para as relações entre capital e trabalho. Neste cenário, os investimentos na economia brasileira serão feitos pelas empresas privadas, este sim os grandes estimuladores da produção, da geração de empregos, das rendas e, com conseguinte, o agente fomentador do crescimento econômico.

A lógica do pensamento liberal é atraente, o Estado é o agente burocrático e ineficiente, sua retirada da economia será o grande agente estimulador do desenvolvimento econômico. Na história econômica brasileira este pensamento não se efetivou, sem os investidores governamentais a sociedade nunca se transformou no século passado, principalmente entre 1930/1990, quando os investimentos estatais foram fundamentais, devidos aos riscos acelerados e crescentes  dos investidores privados, além das dificuldades de maturação dos investimentos, no Brasil, os investidores privados estão sempre esperando os investidores governamentais, aguardando a diminuição dos dispêndios dos Estados, posteriormente, somados por investimentos privados nacionais e internacionais.

Sem investidores do Estados na coordenação da economia brasileira, somados a uma abertura do país, os impactos seriam generalizados, incrementando nossa desindustrialização e uma reprimarização da estrutura econômica e estrutura, consolidando o país como um país mais dependente e marcados por uma menor soberania, cujos impactos sobre o emprego seriam altamente negativos para a sociedade, aprofundando o modelo chamada de uberização, com altas cargas de trabalhos, sem proteção trabalhista e degradação social. Estamos num momento de grandes desafios enquanto civilização, instituindo nosso modelo de subcidadania, violências, pobrezas, explorações e exclusão social.

Os recursos destinados pelo governo federal foram significativos, mas cujos impactos sobre a economia foram reduzidos, com isso, percebemos que as quebradeiras sobre as empresas, principalmente pequenas e empresas, cresceram rapidamente. Embora os recursos foram canalizados pelos canais governamentais, a demora da liberação de recursos foi elevada, as garantias para os empréstimos foram reduzidas e dificultaram a chegada nas empresas, com isso, muitos empregos foram perdidos, empresas foram para a falência, reduzindo as arrecadações públicas e ampliando os déficits dos governos municipais e estaduais, incrementando os desequilíbrios dos setores públicos.

Na economia brasileira contemporânea, encontramos alguns desafios crescentes, um governo caracterizado pelo pensamento fiscalista e liberal, caracterizado pelo discurso da austeridade fiscal e pela redução dos repasses dos governos. Estamos próximos de termos o maior déficit público da nossa história econômica, estamos aproximando de um déficit de 1 trilhão de reais, um recorde histórico. Quando o assunto é o déficit público deste ano, muitos argumentos dos defensores dos pensamentos liberais estão perdendo força, ou seja, os economistas ortodoxos que muitos anos alardearam que o Estado Nacional estava quebrado e que o dinheiro tinha acabado, percebemos que a conjuntura econômica está se mostrando que existem mais espaços fiscais. O Estado não está falido como muitos querem demonstrar, cabendo aos gestores públicos utilizarem os recursos para investimentos mais planejados e bem estruturados, com melhores retornos sociais, políticos e econômicos fundamentais, numa conjuntura marcado por pandemia generalizada e desagregação social.

Nesta pandemia, percebemos uma discussão entre os economistas, uns advogam que a economia brasileira terá uma recuperação em V, ou seja, depois do fundo do poço a economia vai retomar o crescimento, com novos surtos de crescimento e investimentos produtivos estimulados pelos agentes econômicos privados. De outro lado, não estamos dando mostras de recuperação econômico, estamos próximos de um modelo L, ou seja, depois do fundo do poço vamos demorar muito para retomar o crescimento, com grande sofrimento para toda a sociedade, com levas de desempregados e subempregados, com incremento na informalidade, na queda da renda e dos salários.

Neste momento de pandemia, marcados por mais de 60 mil óbitos, os governos deveriam estar construindo uma nova estrutura nacional, repensando o planejamento e buscando a construção de um projeto de país, reestruturando os setores industriais, canalizando recursos do BNDES para uma reindustrialização, fortalecendo as estruturas econômicas, com fortes investimentos em ciência e tecnologia, estímulos crescentes para a inovação e para educação nacional, melhorando os indicadores educacionais, sem estas melhoras nas áreas do conhecimento, o futuro da sociedade brasileira vai ser mais medíocre, percebendo nossas desigualdades crescentes e uma piora dos indicadores sociais.

Vivemos um momento único para a sociedade global, neste momento de grandes instabilidades e incertezas, faz-se necessário uma atuação dos Estados Nacionais, deixando de lado críticas em erros e equívocos anteriores, sabendo que estes erros aconteceram e ainda acontecem, mas os sucessos anteriores também devem ser  destacados, mesmo assim, sua atuação devem ser necessárias e fundamentais para deixar em instante de dúvidas e medos dirimidos, auxiliando nossos futuros de um período de mais solidariedade, equilíbrio e bem-social.

A democracia vai fracassar se não pensarmos como cidadãos, por Martin Wolf

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Pandemia da Covid-19 pode ser choque transformador para sociedades ocidentais 

Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

07/07/2020 – Folha de São Paulo

LONDRES | FINANCIAL TIMES

“Está claro, então, que a melhor parceria em um Estado é aquela que opera através da classe média, e esses Estados em que a classe média é maior e mais forte, se possível, que as outras duas classes somadas, ou pelo menos, em que ela é mais forte que qualquer das outras duas isoladamente, terão todas as chances de ter uma Constituição bem gerida.”
​“Política”, de Aristóteles.

A covid-19 está sendo um choque global. Mas será um choque transformador? A resposta é que ela pode ser um evento transformador para várias sociedades ocidentais, especialmente os Estados Unidos e o Reino Unido.

Para as democracias liberais ocidentais, a era do pós-Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em dois sub-períodos. O primeiro, mais ou menos entre 1945 e 1970, foi a era de um consenso “social democrata”, ou, como os americanos talvez dissessem, um consenso “New Deal”. A segunda, que começou por volta de 1980, foi a do “mercado livre global”, ou “o consenso Thatcher-Reagan”.

Entre esses dois períodos houve um interregno –a década de 1970, marcada pela inflação alta. Parece que agora estamos vivendo outro interregno, que começou com a crise financeira global.

Essa crise prejudicou a ideologia do livre mercado. Mas esforços valorosos foram feitos em todo o mundo ocidental para restaurar o “ancien régime”, com o resgate do sistema financeiro, a adoção de regulamentação financeira mais rigorosa e a austeridade fiscal.

O coronavírus expôs fragilidades de nosso modelo econômico e social.

Na verdade, a ascensão do nacionalismo populista veio depois desta tentativa de restauração. Com seu protecionismo e bilateralismo, sua promessa de preservar a previdência social e a sua ênfase inicial (desde então esquecida) sobre a reconstrução da infraestrutura, Donald Trump tornou-se líder de seu partido justamente por não ser um republicano tradicional, defensor do livre mercado.

Com sua promessa de ajudar as regiões mais pobres e suas referências favoráveis ao “New Deal” de Franklin Delano Roosevelt, também Boris Johnson vem indicando um novo rumo a seguir.. Esses líderes enterraram Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

O coronavírus, agora, causou um retorno ainda mais dramático ao papel central do governo do que o que se viu com a crise financeira. Isso pode assinalar o fim do segundo período de transição do pós-guerra.

Em torno de qual ideia a política, a sociedade e a economia podem girar agora? A resposta deveria ser a cidadania, um conceito que remete às cidades-Estado dos gregos e de Roma. Isso é mais do que uma mera ideia política.

Como Aristóteles também disse, “o homem é um animal político”. Para ele, só somos plenamente humanos quando somos participantes ativos em uma comunidade política.

Em uma democracia, as pessoas não são apenas consumidores, trabalhadores, empresários, poupadores ou investidores. Somos cidadãos. Esse é o elo que vincula as pessoas em uma empreitada comum.

No mundo de hoje, a cidadania precisa ter três aspectos: lealdade às instituições políticas e legais democráticas e aos valores de diálogo aberto e tolerância mútua que as sustentam; preocupação com a capacidade de todos os concidadãos levarem uma vida realizada; e o desejo de criar uma economia que permita o florescimento dos cidadãos e de suas instituições.

A razão mais importante para se enfatizar a cidadania hoje é a que foi delineada por Aristóteles quase dois milênios e meio atrás.

Uma condição necessária à estabilidade de qualquer democracia constitucional é uma classe média robusta (é isso o que se quer dizer quando se fala das pessoas na parte do meio da distribuição de renda).

Na ausência dela, o Estado corre o risco de se converter em plutocracia, demagogia ou tirania.

Com o esvaziamento da classe média, até mesmo as democracias liberais arraigadas agora correm perigo. Como argumentam Eric Lonergan e Mark Blyth em “Angrynomics”, a combinação de novas realidades econômicas adversas e injustiças manifestas deixou muitas pessoas enfurecidas.

Em “Deaths of Despair and the Future of Capitalism” (mortes de desespero e o futuro do capitalismo), Anne Case e Angus Deaton argumentam que essas novas realidades também estão levando muitas pessoas a sofrer problemas graves de saúde.

Eles destacam que os índices de letalidade dos brancos americanos de classe média vêm subindo desde 2000. Algo semelhante parece estar ocorrendo mais recentemente no Reino Unido.

“As mortes provocadas pelo desespero”, eles sugerem, “são prevalentes entre aqueles que foram deixados para trás, cuja vida não se desenrolou como eles previam”.

Como foi que chegamos aqui? Como a Covid-19 se encaixa nisso? E de que modo nossas ideias e políticas públicas precisam mudar?

O acordo do pós-guerra funcionou bem por algum tempo. Era igualitário e economicamente dinâmico, especialmente em países que haviam sido devastados pela guerra.

Os governos ocidentais assumiram um papel ativo na gestão de suas economias domésticas e, ao mesmo tempo, ampliaram e liberalizaram o comércio externo.

Intelectualmente falando, essa deveria ser chamada a Era de Keynes. Mas ela morreu com a alta da inflação, que precipitou a insatisfação trabalhista e o desaquecimento econômico dos anos 1970.

A era keynesiana foi seguida pela de Milton Friedman, caracterizada pela globalização, os mercados liberalizados, impostos marginais baixos e foco sobre o controle da inflação.

Essa nova era levou a grandes conquistas, notadamente reduções na desigualdade global e na pobreza de massa. Foi também uma era de inovações importantes, especialmente na tecnologia da informação.

Não menos importante, também, ela foi a era em que o comunismo soviético desabou e o ideal de democracia se propagou pelo mundo.

No entanto, vários grandes pontos fracos vieram à tona. O crescimento econômico nos países de alta renda tendia a ser baixo em relação ao que foi conquistado na era do pós-guerra.

A distribuição de renda e riqueza foi ficando mais desigual. O valor econômico da mão de obra relativamente pouco instruída caiu em relação à de pessoas com formação universitária.

Os mercados trabalhistas ficaram mais “flexíveis”, mas os ganhos se precarizaram. Quanto mais desigual a sociedade, menor é a mobilidade social.

Nas culturas que enfatizam a obrigação de cada um cuidar de si, a desigualdade, enquanto tal, pode não ser tão social e politicamente desestabilizadora.

Mas a percepção de que as perspectivas que as pessoas têm para si mesmas e para seus filhos estão deteriorando tem muita importância. E um senso forte de injustiça, também.

É aqui que ganha relevância a ideia de “capitalismo manipulado” ou “fraudulento”. Um aspecto disso é o crescimento excessivo do setor financeiro.

Outro é a transição para a maximização do lucro dos acionistas como meta única das empresas e a tendência associada de recompensar os diretores de empresas em proporção com os preços das ações.

Outro aspecto é o declínio da concorrência, documentado, no que diz respeito aos EUA, por Thomas Philippon em seu livro. Também é relevante a sonegação de impostos, notadamente por corporações.

Permitiu-se que multinacionais americanas declarassem uma parte enorme de seus lucros no exterior em pequenas jurisdições onde os impostos são baixos.

Essas oportunidades e muitas outras em diferentes áreas não estão apenas sendo aproveitadas. Estão sendo criadas ativamente, por meio do trabalho de lobby.

Por mais conveniente que seja colocar a culpa em outros países, não são eles os culpados. O comércio internacional, especialmente o crescimento repentino das importações de bens manufaturados da China na primeira década deste século, provocou choques locais.

Mas o economista de Harvard Elhanan Helpman conclui uma revisão da literatura especializada dizendo que “a globalização, sob a forma de comércio externo e da transferência de operações de empresas para outros países, não contribuiu muito para a desigualdade crescente”.

Muito mais importante que isso vêm sendo as transformações tecnológicas. Tem sido especialmente significativo o aumento rápido da produtividade no setor manufatureiro, como argumenta Martin Sandbu em “The Economics of Belonging” (a economia do pertencimento). Outro fator importante tem sido a demanda crescente por mão de obra qualificada em relação à não qualificada.

O declínio do setor manufatureiro como fonte de emprego vem tendo efeitos adversos em cidades e regiões em que esse setor se concentrava.

Quando fábricas são fechadas ou demitem uma parte grande de sua força de trabalho, a economia local mais ampla também é adversamente afetada.

Essas regiões “deixadas para trás” viraram um elemento crucial nas coalizões dos insatisfeitos. Enquanto isso, as cidades, especialmente as grandes metrópoles, são centros dinâmicos que atraem pessoas altamente instruídas e novas atividades, como notou o economista Paul Collier, da Universidade Oxford.

A crise financeira global foi fruto da liberalização financeira no contexto dos desequilíbrios macroeconômicos crescentes, como argumentam Matthew Klein e Michael Pettis em “Trade Wars are Class Wars” (guerras comerciais são guerras de classe).

As consequências mais importantes foram o colapso econômico repentino, os resgates ao setor financeiro, a ênfase subsequente em frear os gastos governamentais e o desaquecimento do crescimento econômico pós-crise. Na zona do euro, isso tudo foi exacerbado pelo modo como os países credores pregaram sermões aos países em dificuldades, criticando-os por sua alegada irresponsabilidade.

Donald Trump tornou-se presidente dos Estados Unidos e Boris Johnson virou primeiro-ministro do Reino Unido porque conseguiram incorporar em suas coalizões conservadoras o ressentimento daqueles que se sentem “deixados para trás”. Isso, por sua vez, foi em parte uma reação de grandes setores das antigas classes trabalhadoras à transformação das legendas tradicionais da esquerda (Trabalhista, no Reino Unido, e Democrata, nos EUA) em partidos mais representativos dos eleitores cosmopolitas com instrução universitária e das minorias étnicas e culturais.

Alguns argumentam que enxergar essas mudanças políticas em termos econômicos é um erro.

Eles propõem que essas mudanças são reações a transformações culturais, como a imigração, o novo papel exercido pelas mulheres e os novos usos e costumes sexuais.

Isso não é muito convincente, por duas razões: primeiro, porque transformações culturais e econômicas não podem ser vistas em separado, e, segundo, porque a cultura não muda em tão pouco tempo.

O que precisa ser explicado são as mudanças no comportamento de eleitores. A resposta está nas lealdades mutantes de pessoas que passaram a sofrer de ansiedade em relação à sua própria situação –o medo de estarem vivendo à beira de um abismo econômico ou já estarem caindo nesse abismo.

No meio desta situação já tensa e difícil chegou a tempestade da Covid-19. Esta, por sua vez, vem tendo pelo menos cinco efeitos importantes.

Em primeiro lugar, ela causou um fechamento econômico para frear a propagação da doença. Isso se deu às expensas dos jovens, relativamente imunes aos efeitos do vírus, e em favor dos idosos, mais vulneráveis.

Em segundo lugar, a crise do coronavírus tende a atingir as mulheres mais fortemente que os homens, e os trabalhadores não qualificados mais que os qualificados.

Isso se explica pela relativamente alta participação de mulheres em alguns setores de serviços fortemente atingidos pela crise (e de alto risco) e pela capacidade de uma parcela maior de profissionais qualificados poderem trabalhar de suas casas, em segurança.

Em terceiro lugar, o coronavírus parece exacerbar muitas desigualdades anteriores. Parte do maior apoio foi dado ao setor financeiro, como aconteceu na crise financeira.

Em quarto lugar, a pandemia impôs gastos fiscais muitíssimo maiores, mesmo em comparação com a crise financeira. Isso agora levanta a pergunta de como essa dívida será administrada e quem vai pagá-la.

Em quinto lugar, o vírus mostrou o poder e os recursos disponíveis do Estado. Reagan costumava dizer que “as 9 palavras mais assustadoras da língua inglesa são: ‘eu sou do governo e estou aqui para ajudar’”.

Era a frase que resumia melhor a filosofia da era que ele ajudou a criar. Hoje está de volta a demanda não apenas de ajuda do governo, mas de ajuda de um governo competente.

Então o que pode significar um retorno à ideia da cidadania, neste novo contexto?

Não significa que o Estado não deve se preocupar com o bem-estar dos não cidadãos. Tampouco significa que o Estado enxerga o sucesso de seus próprios cidadãos como contrapartida do fracasso de outros.

Pelo contrário – ela busca relações mutuamente benéficas com outros países.

A ideia de cidadania não quer dizer que os países devem se isolar de intercâmbios livres e frutíferos com outras sociedades. Corretamente regulamentados, o comércio internacional, a circulação de ideias, a circulação de pessoas e a circulação de capital podem todos ser altamente benéficos.

Essa ideia não significa que os países devem evitar cooperar estreitamente com outros países para alcançar metas compartilhadas. Isso se aplica sobretudo às ações que visam proteger o meio ambiente global. O que ela significa é que a primeira preocupação dos Estados democráticos é o bem-estar de todos seus cidadãos. Para que isso vire realidade, determinadas condições devem estar presentes.

Cada cidadão deve ter a possibilidade razoável de alcançar uma educação que lhe permita participar o mais plenamente possível na vida de uma economia moderna altamente qualificada.

Cada cidadão também precisa desfrutar a segurança necessária para prosperar, mesmo que sofra o infortúnio da doença, deficiência física ou outros.

Cada cidadão precisa desfrutar a proteção no trabalho necessário para não ser sujeito a abusos, tanto físicos quanto mentais. Cada cidadão também deve poder cooperar com outros trabalhadores para a proteção de seus direitos coletivos.

Os cidadãos bem-sucedidos devem prever pagar impostos que sejam suficientes para sustentar essa sociedade. As corporações precisam entender que têm obrigações para com as sociedades que possibilitam sua existência.

As instituições políticas precisam estar abertas à influência de todos os cidadãos, não apenas dos mais ricos. As políticas públicas devem ter o objetivo de criar e conservar uma classe média vigorosa e ao mesmo tempo assegurar uma rede de segurança para todos.

Todos os cidadãos têm direito a tratamento igual, independentemente de raça, etnia, religião ou gênero.

Os cidadãos têm o direito de decidir quem é autorizado a vir para seus países e trabalhar neles e quem tem o direito de dividir com eles as obrigações e os direitos dos cidadãos.

A política deve tratar exatamente de como essas metas podem ser alcançadas. Mas isso não significa um retorno aos anos 1960. O mundo já se transformou profundamente demais desde então, na maioria dos aspectos para melhor.

Não vamos voltar para um mundo de industrialização em massa, onde a maioria das mulheres com instrução superior não trabalhava, onde havia hierarquias étnicas e raciais claras e onde os países ocidentais dominavam.

Ademais, além da mudança climática, enfrentamos a ascensão da China e a transformação do trabalho pela tecnologia de informação, desafios muito diferentes.

Mas algumas coisas continuam iguais. Os humanos precisamos agir coletivamente, além de individualmente. Em uma democracia, agir juntos significa agir e pensar como cidadãos. Se não o fizermos, a democracia vai fracassar. É dever de nossa geração assegurar que isso não aconteça.

Tradução de Clara Allain