Desenvolver tecnologias

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A pandemia está transformando a sociedade, desnudando suas limitações e mostrando as dificuldades mais intensas das sociedades, no caso do Brasil, percebemos que a situação é assustadora, de um lado percebemos muitas limitações estruturais que não foram criadas pela pandemia, mas está mostrando como o país vem perdendo espaço na sociedade global, como sua economia está perdendo na economia global, que os problemas sociais estão ficando cada vez mais assustadores e as perspectivas futuras são preocupantes.

Nos últimos anos a estrutura produtiva vem perdendo espaço na economia internacional, a indústria nacional perdeu dinamismo e estamos nos concentrando em setores que criam produtos de baixo valor agregado, gerando empregos com remunerações reduzidas e perdendo profissionais altamente qualificados, que passam a buscar novas oportunidades em outros países, diante disso, estamos perdendo cérebros fundamentais para o fortalecimento das estruturas produtivas, diminuindo a dependência dos mercados globais de produtos de valor alto agregado e estimulando o dinamismo da economia nacional.

As universidades têm um papel central na coordenação de novas estratégias de desenvolvimento, organizando setores dinâmicos, motivando investimentos produtivos e extraindo dos setores mais empreendedores da sociedade espaços de inovação, na construção de novas tecnologias, investindo em pesquisas científicas e tecnológicas, introduzindo nas escolas, nas faculdades e centros de pesquisas mentalidades do desenvolvimento de novos conhecimentos. Estas estratégias exigem que desenvolvamos novas tecnologias e não apenas nos concentremos apenas no consumo destas tecnologias, criando salários melhores e profissionais mais motivados, dinamizando o mercado interno, fortalecendo o crédito e estimulando o crescimento econômico e culminando no tão sonhado desenvolvimento.

A coordenação deste modelo deve ser feita pelo governo, juntando todos os eixos em prol do desenvolvimento tecnológico, os setores passarão a construir internamente, via planejamento, setores dinâmicos, ocupando profissionais altamente qualificados, cobrando das universidades a formação de profissionais mais capacitados, estimulando inovações científicas, pesquisando e garantindo para os estudantes e, posteriormente, profissionais formados, espaços para que surjam novos empregos, melhor remuneração, maior empregabilidade e gerando desenvolvimento.

Neste momento, devemos buscar exemplos exitosos do desenvolvimento econômico, como o da Coréia do Sul que, nos anos 50 era produtora de mercadorias de baixo valor agregado, dependentes de outras economias e uma sociedade pobre, marcada pela miséria e sem perspectivas de desenvolvimento. Atualmente, percebemos uma situação altamente complexa em sua estrutura econômica, produtora de tecnologias, máquinas e desenvolvimento científico, com atuação conjunta dos dois grandes grupos sociais da sociedade, o Estado e do Mercado.

O desenvolvimento prescinde de planejamento a longo prazo, construindo um ecossistema econômico centrado na inovação, no conhecimento e na pesquisa científica, fortalecendo instituições independentes e eficientes. Este projeto deve unir todos os setores da sociedade, investindo em setores fundamentais para a economia, estimulando o agronegócio, reconstruindo a indústria nacional, investindo e melhorando o capital humano, preservando o meio ambiente, desta forma, o país conseguirá enfrentar os grandes desafios do mundo contemporâneo, reduzindo as deficiências educacionais, garantindo oportunidades para todos os grupos sociais e consolidando os sonhos de muitos brasileiros e estrangeiros ilustres de que o Brasil é o país do futuro.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre e Doutor em Sociologia/Unesp Araraquara, Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 20/01/2021.

Corporações são importantes demais para ficar na mão de homens de negócios, diz pesquisadora

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Hélène Landemore, professora titular de Yale, afirma que democracia já estava em coma nos EUA antes de Trump

Ana Estela de Sousa Pinto – FSP, 19/01/2021

A democracia já estava em coma antes mesmo da eleição de Donald Trump, e o poder só voltará a ser “pelo povo e para o povo” sob novas estruturas políticas, afirma a cientista política Hélène Landemore, professora da Universidade Yale. Ela defende assembleias de não políticos escolhidas por sorteio, como a que decidiu mudanças na Constituição da Islândia e a que fórmula política ambiental na França.

Também é preciso mudar a esfera privada, diz Landemore, 45, que no ano passado lançou o “Manifesto do Trabalho” com outras oito pesquisadoras. Segundo ela, em vez de propalar a ideia de que é preciso gestores à frente da política, o fundamental é levar a política para as empresas. “Corporações são importantes demais para ficar nas mãos de homens de negócios”, afirma.

A professora, que se define como “democrata radical”, diz acreditar que é hora de mudar a forma como decisões são tomadas: “Houve quase um golpe nos EUA. Quão mais baixo teremos que descer antes de tentar algo mais radical?”.
Para ela, a invasão ao Congresso só fracassou porque o presidente americano não estimulou seus partidários até o extremo, e a mensagem que ficará para outros líderes populistas do mundo será a de que “não é preciso ter medo de estimular explicitamente a violência”.

A derrota de Trump é um alívio para quem via a democracia dos EUA em risco?
Não creio. Mesmo que Trump seja impedido, há uma nova forma de populismo, com novos seguidores e gente como [o senador republicano] Ted Cruz pronta para seguir esse caminho. talvez de forma mais perigosa, por mais planejada.

Por que seria um populismo “novo”?
Nos EUA não houve nada semelhante há décadas. Mas, de fato, não há nada de novo em demagogos usando tropas populistas. Alguns dos meus colegas, como [o professor de filosofia de Yale] Jason Stanley, chamaram isso de fascismo desde o começo, sob críticas dos que viam em Trump apenas um palhaço querendo aumentar sua visibilidade.

É exagero ver fascismo em Trump?
Não acho que ele tivesse um projeto fascista no começo. Mas tem sede de sangue, é um “bully” [assediador, vive a intimidar os que considera vulneráveis]. Sem encontrar qualquer resistência, principalmente entre os republicanos, o fascismo foi crescendo dentro dele. Ele percebeu que isso lhe traria mais poder. Por que ele pararia? Sua personalidade autoritária, chauvinista, sexista vicejou num ambiente republicano que achou que seria capaz de controlá-lo, mas não foi.

Como e quando se percebe que o limite foi ultrapassado?
Com assediadores, nunca é cedo demais para reagir. Nós deixamos que Trump prosseguisse porque fomos complacentes. O alerta máximo deveria ter acendido já nos debates eleitorais com Hillary Clinton, quando ele disse que não aceitaria uma derrota nas eleições. Deixou claro que não tinha intenção de seguir as regras.

Trump é admirado por outros líderes, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Que mensagem fica da invasão ao Congresso e da reação a ela? Desencorajam tentativas de golpe?
Não. O que líderes como Bolsonaro vão aprender é que Trump não foi ousado o suficiente. Como é um oportunista, fez um cálculo para manter aberta a possibilidade de voltar em 2024. Incitou o golpe, mas não foi até o fim.
A lição para Bolsonaro é que não é preciso ter medo de estimular explicitamente a violência. Se Bolsonaro decidir que a única estratégia é ser ousado e queimar todas as pontes, como poderia recomendar Maquiavel —escolha um objetivo e vá com tudo—, o Brasil terá problemas, porque é muito fácil arrebatar o poder. Veja quão pouca polícia havia no Capitólio. Como as pessoas se juntaram para invadi-lo. Quão rapidamente havia gente pronta a apoiar o golpe, que falhou por pouco.

O fracasso do golpe não mostra que as instituições funcionaram?
Sou muito pessimista. Para mim, os rebeldes não foram ao extremo porque Trump não lhes ordenou isso explicitamente. Mas, se ele tivesse ido ao limite, o que teria acontecido? É um contrafactual, difícil de imaginar, mas preocupa. E o que pode acontecer em países em que o desespero ou a tolerância à violência são maiores?

Alguns políticos falam em diálogo com o outro lado para cicatrizar a polarização. É viável nesse ambiente de ódio “ao outro” dos dois lados da mesa?
Não vai acontecer por meio de estruturas políticas clássicas. Os líderes partidários estão colocando gasolina na fogueira, porque a polarização os beneficia. Eu começaria com algum tipo de assembleia cidadã com poder para ter suas decisões implementadas, por exemplo, sobre políticas de imigração ou como sair da crise da Covid-19.
Só não vejo bem como ultrapassar 40 anos de polarização, que acompanha quase perfeitamente o aumento da desigualdade. Reduzir a desigualdade é precondição, porque ela gera muito ressentimento, e isso inflama o populismo. O que os números sobre o Congresso americano nos dizem? Que ele é controlado pelos 10% mais ricos para os 10% mais ricos, especialmente para o 1%. A ideologia da classe dominante foi fingir que isso continua sendo democracia, quando é uma plutocracia, uma elitocracia fantasiada de democracia. As pessoas começam a pensar “se isso é democracia, não estou interessado; prefiro um líder autoritário que combata a corrupção e reduza o abismo”.

O que a sra. está dizendo é que a democracia já estava em coma? É um passo além dos alertas de que ela corre risco de morrer envenenada por dentro, como argumenta [o professor de Harvard Steven Levitsky?
Levitsky e [Daniel] Ziblatt [autores de “Como as Democracias Morrem”] têm uma definição mínima do que é democracia. Resume-se ao Estado de Direito e às normas constitucionais. Não se trata do poder exercido pelo povo para o povo. Para eles é satisfatório que seja exercido em nome da maioria e beneficie o povo. Talvez a barreira do aceitável tenha descido demais. A desregularização e a desindustrialização foram rápidas e brutais demais. A democracia, além de não ser pelo povo, deixou de ser para o povo. E a esquerda foi cúmplice. Também viraram um partido para os 10%, de democratas-caviar. Os trabalhadores preferiram Trump, que ao menos fala a língua deles.

Como a sra. se situa politicamente?
Como social-democrata. Mas talvez seja mais correto falar em procedimentalista radical, ou democrata radical, porque não foco mais políticas públicas e acho que eleições não bastam; é preciso mudar a forma como decidimos. As pessoas a quem estamos dando poder nunca vão ousar ultrapassar certos limites. Não há bem que venha de um Congresso em que 82% dos membros representam os 10% mais ricos. Defendo assembleias cidadãs com poder de decisão, cujas decisões sejam implementadas pelo governo. Não é uma solução perfeita, mas vale a pena tentar. Estamos num momento em que houve quase um golpe nos Estados Unidos. Quão mais baixo teremos que descer antes de tentar algo mais radical?

A sra. faz parte de um grupo que acaba de lançar um manifesto pela democratização do trabalho. É outra tentativa mais radical?
Uma das frases mais fortes do [senador republicano] Mitt Romney quando concorreu contra Barack Obama na eleição de 2012 foi “sou um gestor, um homem de negócios, por isso devo assumir o governo”. Trump também usou esse argumento: “Sei como administrar uma empresa, saberei administrar o país”. O neoliberalismo produziu homens de negócios que pensam que são mais capazes de governar que os políticos. É preciso dar meia-volta. Corporações são importantes demais para ficar nas mãos de homens de negócios, principalmente com o impacto que elas têm na esfera pública.
Precisamos que as corporações sejam orientadas por pessoas que entendem as condições democráticas para a vida política, que façam as empresas assumirem suas responsabilidades. Em vez de colocar gestores na política, temos que colocar políticos nos negócios. Democratizar a economia. É impossível haver democracia política se não houver empresas democráticas em que os trabalhadores têm poder, ou famílias democráticas em que seus membros têm poder.
A crítica será a de que é preciso ser lucrativo, viável economicamente. Sim, mas a sociedade pode construir as condições. Leis, regulações, mecanismos financeiros podem apoiar. Nosso próximo passo será trabalhar com companhias dispostas a tentar novas formas de governança. Já há executivos que entendem que a democracia só estará a salvo se o mundo corporativo também mudar.

Vocês se descrevem como um grupo de pesquisadoras mulheres. O gênero faz diferença?
Não foi algo proposital, mas esse é um grupo realmente colaborativo, não movido por egos. Algumas de nós têm alguma visibilidade, mas desde o começo foi um projeto coletivo. Gênero importa, no fim, porque mulheres acabam sendo, por necessidade, mais colaborativas.
Mas um integrante masculino seria rejeitado? Manteremos o grupo de nove mulheres porque está funcionando bem, mas já trabalhamos em colaboração com homens. Não chegamos a teorizar isso, mas, no fundo, não queríamos acabar reféns dos atores tradicionais desse campo, que são homens, e ter um homem representando o grupo. Não queremos ninguém nos representando. Queremos só ser um grupo.

Hélène Landemore, 45
Professora titular de ciência política da Universidade Yale desde 2009. Franco-americana, tem mestrado em ciência política pela Sciences-Po (Paris) e em filosofia pela Sorbonne-Paris 1 e doutorado em ciência política pela Universidade Harvard. Pesquisa teoria democrática, filosofia da economia e democracia do ambiente de trabalho, entre outros temas.
É autora de “Open Democracy” (Princeton University Press 2020, sem tradução no Brasil), em que defende novas formas de representação democrática baseadas em sorteio, e cofundadora do movimento Democratizing Work (democratizando o trabalho, em inglês).

Nova década perdida

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O final de 2020 marcou o término da segunda década do século XXI, um período marcado por inúmeras crises políticas e econômicas, com repercussões negativas para grande parte da sociedade, levando trabalhadores a perda de algumas conquistas históricas sociais, o incremento da instabilidade gerada pela pandemia que assola a comunidade internacional, o aumento no desemprego, o endividamento das nações e das desesperanças.

No caso brasileiro, percebemos que a sociedade vem passando por grandes instabilidades e reduzido crescimento econômico nos últimos quarenta anos, saindo de um momento de euforia no período entre os anos 1930 e 1980, que colocou o país dentre as economias que mais cresciam no cenário global, elevando o país entre as 10 maiores economias do mundo. Este cenário se transformou desde o começo dos anos 1980, motivados pelos desajustes econômicos, gerados pelo crescimento da inflação e o aumento na dívida externa, além de grandes conflitos políticos não resolvidos, condenando o país a grandes instabilidades políticas, desindustrialização, aumento da pobreza e da exclusão social.

A década atual (2011-2020) está sendo a pior em termos de crescimento econômico dos últimos 120 anos, período pior do que os anos 1980, conhecido na literatura econômica como “década perdida”. Observando os dados industriais do IBGE, percebe-se que, atualmente, a indústria está 15% abaixo de 2011, gerando uma queda do contingente empregado neste setor. A pior consequência deste período de fraqueza da atividade econômica é o alto desemprego e a situação do mercado de trabalho, com dezenas de milhões de brasileiros numa situação de vulnerabilidade social, com impacto sobre a recuperação econômica e piora das condições sociais.

Neste período de quase quarentas anos o Brasil passou por grandes instabilidades econômicas, moratória, hiperinflação, movimentos sociais, inúmeros planos econômicos, endividamentos públicos, crises cambiais, dois impeachments, inúmeras crises políticas, degradações da democracia, operações de combate a corrupção, rivalidades políticas, ativismo judicial, dentre outras. Neste ambiente de crises constantes, onde os grupos sociais se degradam uns aos outros, onde os grupos econômicos criticam a atuação do Estado Nacional e, ao mesmo tempo, constantemente batem nas portas deste mesmo Estado para angariar proteção e a manutenção dos seus privilégios.

Neste ambiente nos esquecemos dos conceitos de desenvolvimento econômico, centrados no planejamento e na supervisão governamental, onde todos os grupos econômicos devem dar sua contribuição, com a integração do Estado e do Mercado, sem rivalidades e degradações, trabalhando juntos e de forma integrada, cada um desempenhando seus papéis. Como foi feito por todos os países que conseguiram alçar suas estruturas econômicas a patamares mais elevados, melhorando as condições sociais da população, aperfeiçoando os serviços públicos para todos os grupos sociais, garantindo saúde, educação e segurança para todos os cidadãos, não apenas aos poucos grupos privilegiados.

Num ambiente marcado pelo crescimento da competição e da concorrência entre os agentes econômicos, onde o desenvolvimento prescinde de novos atores econômicos centrados em novas indústrias, baseados em conhecimento, em pesquisa científica e tecnologia, onde o capital humano se transformou no grande ativo da sociedade contemporânea. Neste ambiente, todas as nações que negligenciarem estes ativos intangíveis, deixando de lado o conhecimento, as pesquisas científicas e as universidades, ficarão mais atrasados nesta competição global, inviabilizando o desenvolvimento econômico, empobrecendo a sociedade e condenando a população a momentos sombrios para toda a coletividade.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre e Doutor em Sociologia/Unesp Araraquara, Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 13/01/2021.

Juventude, angústias e desequilíbrios espirituais

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Recentemente, os institutos de pesquisa publicaram informações relevantes para compreendermos os rumos perigosos da juventude nacional, os desafios dos jovens, os medos e as dificuldades emocionais, econômicas, sentimentais e espirituais. Neste momento, marcados por crises generalizadas da sociedade que se repercutem sobre as famílias, os jovens são fortemente impactados, exigindo de atenções de políticas públicas, autoridades e gestores públicos, para se antecipar aos desequilíbrios futuros, cujos custos são elevados, não apenas econômicos, mas sociais, políticos e sentimentais.

Esta pesquisa destacou o aumento do desemprego dos jovens brasileiros, indicando que mais de 38% destes estavam sem emprego, sendo que uma parcela significativa deste contingente nem trabalhavam e nem estudavam, com estes dados nos mostra uma situação de grande preocupação, exigindo políticas efetivas para reverter a situação. Ao analisar esta pesquisa, percebemos que o investimento na juventude deve ser feito imediatamente, evitando que as condições sociais deste grupo social se degradem de forma rapidamente e gerem constrangimentos para o futuro da sociedade.

A doutrina espírita nos traz uma grande quantidade de livros que abordam esta temática, mostrando a importância deste período do espírito, neste momento o indivíduo passa a viver inúmeros conflitos, desde emocionais, físicos, sentimentais e psicológicos, muitos desequilíbrios se fazem mais evidentes e intensifiquem as dificuldades, exigindo atenção de seus familiares, principalmente dos pais e familiares mais próximos, sob pena dos jovens sucumbirem aos excessos do mundo material, principalmente, desordem, sexo descontrolado, drogas, malversação de recursos financeiros, dentre outros.

As transformações da sociedade contemporânea colocam no centro os prazeres materiais e a busca por recursos financeiros, marcados pelo hedonismo, levam muitos jovens a adotarem medidas equivocadas e, posteriormente, vão se deparar com problemas futuros, gerando graves constrangimentos financeiros e emocionais. Ao mesmo tempo, percebemos que o mundo está se caracterizando por inúmeras transformações, cujos impactos são complexos, as famílias perdem espaço na sociedade, os conceitos estão priorizando os indivíduos em contrapartida ao conceito de coletividade, levando as pessoas a buscarem seus interesses em detrimento dos seus ganhos imediatos. Estamos vivendo um mundo, onde os intelectuais destacam a chamada disrupção, onde as estruturas anteriores estão perdendo espaço e uma nova está em franco surgimento, uma sociedade que ainda não mostrou suas características mais íntimas, num momento, percebemos muitos conflitos e desequilíbrios.

Nesta sociedade marcada por disrupção, os novos jovens estão surgindo, marcados por grandes oportunidades, desafios, dúvidas e dificuldades, sem terem referenciais de orientações, neste momento, percebemos que este grupo está caminhando sem rumo, sem bússola e sem orientação, o resultado é o crescimento dos conflitos. Neste momento, as famílias mais abastadas terceirizam seus filhos para os especialistas, os psicólogos e psicoterapeutas são chamados para resolver estes conflitos do mundo contemporâneo.

A doutrina espírita busca fortalecer as bases da família, os papéis dos pais são centrais e imprescindíveis, esta função não pode ser terceirizada para profissionais e mostra que as falências das criações criam marcas que perpassam inúmeros vidas, muitos pais negligenciam a educação de seus filhos e, quando retornam ao mundo espiritual, sentem na pele os equívocos do processo educativo, neste momento, percebem que as dores e os arrependimentos ficam cada vez mais intensa no mundo imaterial, lembrando dos erros, das dificuldade e dos ressentimentos.

O fortalecimento da família é fundamental para diminuir os desequilíbrios dos seres humanos, reconstruindo os laços de amor e solidariedade entre os seres humanos, o espiritismo nos mostra que os pais atuais são responsáveis pelos filhos, que em outras oportunidades foram nossos pais, num constante e contínuo ir e vir no desenvolvimento dos seres humanos em prol do crescimento espiritual, emocional e sentimental. O discurso em prol da família contemporânea deve evitar chavões como os que ouvimos nos círculos religiosos, que usam da subserviência, da repressão e do medo como forma de criar pessoas desprovidas da capacidade de reflexão e sentimento, deixando de construir a empatia, o respeito e a solidariedade.

A sociedade precisa construir novos espaços de sociabilidade e coletividade, estimulando o sentimento dos diferentes, estimulando espaços de empatia e acolhimento, construindo pontes entre os indivíduos e deixando de lado o desenvolvimento de novos muros de segregação, como percebemos na sociedade contemporânea, marcada por conflitos, desequilíbrios e desesperanças. O jovem tem um papel central na coletividade, cabendo aos dirigentes, os gestores públicos, a intelectualidade, a academia e os grupos dominantes se convencerem da importância deste grupo social para os anos posteriores, momento crucial para melhorarmos a sociedade, sem estas políticas centradas nos jovens caminharemos para a incivilidade e para a degradação.

As angústias dos jovens crescem constantemente, o desemprego cresce de forma acelerada, muitos países estão percebendo as crises crescentes na juventude, as cobranças do mundo material, a busca por ocupações, os medos do futuro e as baixas perspectivas de sucesso, levam inúmeros jovens a sucumbirem ao desespero, muitos estão assolados pela depressão e pela ansiedade, recorrendo a ansiolíticos e remédios para dormir e relaxar, neste ambiente, o suicídio cresce de forma acelerada, gerando degradações para todas as famílias, levando desespero e indignação.

A doutrina espírita nos auxilia na compreensão dos valores da vida, nos traz um conjunto de reflexões que colocam os seres humanos no centro das dificuldades da sociedade, disponibilizando uma grande quantidade de livros de estudo, de reflexão e de aprendizagem, mostrando-nos a importância de colocarmos no centro de nossas colheitas, somos seres em constantes evoluções, vivemos inúmeras vidas, passando por muitas vivências, momentos felizes e construímos infelicidades, somos frutos de nossas escolhas, sentimentos e pensamentos. Se estivermos passando por momentos de dificuldades, faz-se necessário refletirmos sobre nossas escolhas, tudo que sentimos, o que nos atrai, sem esta reflexão, dificilmente teremos condições de superarmos estes momentos de dificuldades e trilharmos horizontes mais saudáveis e com esperanças.

‘Se desigualdade cresce, há erro nas instituições’, diz escritor polonês

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Para autor de ‘Crises da Democracia’, eleição de Biden é esperança de que sistemas podem sobreviver
Entrevista com Adam Przeworski

Fernanda Simas, O Estado de S.Paulo – 10 de janeiro de 2021

A invasão do Congresso americano por extremistas pró-Donald Trump no dia em que o Senado confirmaria o democrata Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos jogou luz à discussão sobre a solidez da considerada a maior democracia do mundo. Para Adam Przeworski, autor do livro Crises da Democracia, agora os EUA não podem mais “se vender como bastião da democracia”.

A invasão do Congresso mostra fragilidade das instituições americanas?
Acredito que a insurreição mostra mais sobre polarização na sociedade, a existência de uma fatia fanática considerável dentro da direita política. As regras das eleições americanas são incoerentes e incompletas, mas foram suficientes no passado. O que é novo é o candidato derrotado se recusar a ceder o poder, e isso abriu um conflito em torno dessas regras.

O sr. acredita que a democracia nos EUA está em perigo?
A democracia sempre foi fraca nos EUA, em grande parte por conta da exclusão de grandes segmentos da população das instituições políticas. Os efeitos dessa crise são difíceis de prever. Por um lado, o governo Biden não será visto como legítimo por boa parte da sociedade. Por outro, deve haver uma forte coalizão bipartidária de centro para unificar o país.

Qual o impacto do que ocorreu em outros países?
Os Estados Unidos já haviam perdido muito de seu “soft power” por causa de Trump e, particularmente, de sua maneira em lidar com a pandemia. Agora, os EUA não têm mais condição de se vender como bastião da democracia, certamente não como um sistema que deva ser seguido por outros países.

É possível a coexistência entre democracia e capitalismo?
Muitas pessoas desde o século 17 pensavam que não, pelo fato de o capitalismo ser um sistema de economia desigual e a democracia, de igualdade política. Pensavam que a democracia era uma ameaça letal ao capitalismo. Mas, no fim, isso se provou não ser verdade. Temos 13 países no mundo nos quais o capitalismo e a democracia coexistiram por mais de 100 anos de forma relativamente pacífica. A relação sempre será tensa, haverá conflitos entre os sistemas de produção e distribuição de renda, mas a coexistência é possível.

E com o socialismo?
Em princípio, acho que é possível, acreditei toda minha vida que sim. Mas tivemos vários exemplos, principalmente em meados dos anos 60, que não funcionaram. Se por socialismo você se refere à centralização de recursos, não vimos um experimento que tenha sido bem-sucedido.

Existe um ponto em comum entre crises democráticas de diferentes países?
Democracia para mim é um sistema de resolução temporária de conflitos por meio de eleições. Para que esse sistema funcione, algo deve estar em jogo na eleição, mas não muita coisa. Se perder é muito doloroso para os perdedores e os vencedores não dão aos perdedores temporários uma chance de vitória no futuro, então as eleições não funcionam como um mecanismo, os conflitos saem das instituições e vão para as ruas.

E isso tem ocorrido?
Alguns pensam que o aborto nunca deve ser legalizado, outros que ele deve ser permitido até os três meses. São visões diferentes, mas a questão é o que fazer quando há uma discordância. O que ocorre em diversos países, como nos Estados Unidos e no Brasil nos últimos 20 anos, é que a hostilidade também aumentou. As pessoas se olham como inimigas. A hostilidade está dentro dos empregos, das famílias. As pessoas não conseguem conversar sobre política.

Essa polarização leva ao surgimento de “outsiders”?
Nos EUA, no Brasil, na Itália, isso é verdade. Nos anos 80, pessoas votavam, os governos mudavam e a vida das pessoas não, principalmente das classes mais baixas. Então surgem aqueles que oferecem soluções mágicas, os famosos “curandeiros”. Esse é o cenário de Trump, do 5 Estrelas na Itália. E isso justifica o colapso dos tradicionais partidos de centro-esquerda e centro-direita. Veja o PSDB, está colapsado.

É possível acabar com a crise da democracia?
Acho que na maioria dos países a democracia não está em perigo. Nos últimos 20 anos, mais ou menos, houve um aumento claro de partidos radicais de direita, mas parece que o apoio para esse tipo de radicalismo de direita fica sempre na faixa de 20% a 25%. O fato é que as instituições representativas tradicionais não funcionam muito bem. Se você é uma pessoa pobre no Brasil, no México, na Espanha, na Grécia, e se pergunta o que essas instituições fizeram por você ao longo da vida, a resposta será “muito pouco”. Desigualdade em alta é sintoma de algo errado com as instituições. Acho que essa crise veio para ficar, mas não ameaça a existência da democracia na maior parte dos países. De alguma forma, a eleição nos EUA é uma esperança, a democracia estará mais fraca, mas vai sobreviver.

O que o sr. pensa de política e religião estarem lado a lado?
O que me impressiona é que a religião permeie a política nos EUA e no Brasil atualmente. Os valores tradicionais da família foram ameaçados e alguns partidários de Bolsonaro, por exemplo, defendem a família tradicional. Se você olhar nas pesquisas dos EUA, uma das grandes diferenças na forma de votar está no fato de as pessoas serem casadas ou não. Isso é o que está em jogo. As pessoas se sentem ameaçadas em seu “jeito tradicional de levar a vida” e a religião é uma espécie de linguagem com a qual esses valores são transmitidos. Essa é uma nova divisão. As diferenças religiosas sempre existiram, mas nunca foram colocadas à venda.

Tirar líderes autoritários do poder demanda o que?
É uma questão de educação, mas também de organização, mobilização. O problema na maioria dos países é que as oposições estão extremamente divididas. Parte do motivo de ser tão difícil remover alguns líderes é a oposição rachada, como na Venezuela, no Brasil.

Falando de alguns países, como o sr. classifica a situação de Cuba?
Cuba é um caso muito, muito particular. É uma relíquia do passado, que de alguma forma sobreviveu. Antigos países comunistas ou colapsaram ou passaram por reformas gerais, como a China e Vietnã de forma bem sucedida. Cuba não teve uma reforma, ou teve muito pequena, e de alguma forma sobreviveu. Acredito que parte da situação atual é responsabilidade dos EUA. Acho que Cuba não tem muita opção. Se eles se abrem, vão ter uma injeção massiva de capitalismo, desigualdade, racismo vindo dos EUA e dos cubanos emigrantes. Então, não acho que eles tenham muita opção. Existiram momentos de abertura e quando ocorreram houve uma tentativa de reforma, mas acho que é uma situação impossível.

E a China?
Eu não sou tão anti-China como muitos são. É um governo brutal, um governo autoritário. O que fazem com os muçulmanos é brutal. A repressão aos ativistas é brutal, mas é um país de 1,4 bilhão de pessoas no qual as pessoas comem cada vez mais e as pessoas não se matam.Quando começo a pensar em China X Índia, os chineses brutalmente mantêm a prosperidade e a segurança e acho que são bem sucedidos nisso. Eu acredito na democracia, no direito de as pessoas se expressarem, escolherem seus governos, mas os chineses foram bem sucedidos em diversos de objetivos que não compartilhamos.

Você sabe com quem está falando? por Marcos Lisboa.

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Grupos organizados se recusam a serem tratados como a maioria da sociedade

Folha de São Paulo, 10/01/2021

A reação contra a proposta do governo de São Paulo de reduzir benefícios tributários ilustra a dificuldade com a agenda de reformas no Brasil.

O problema não se resume à falta de vontade política. Nos últimos anos, foram muitas as tentativas de diminuir privilégios e distorções, mas encontraram violenta resistência dos grupos beneficiados.

Em ao menos um caso, a reação ultrapassou os limites da legalidade. O governador Paulo Hartung fora eleito em 2014 alertando sobre o descontrole das contas públicas do Espírito Santo e promoveu diversas reformas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias com servidores.

A Polícia Militar reagiu e iniciou um movimento que retirou das ruas a segurança pública. Foram semanas de horror, e a taxa de homicídio dobrou em fevereiro de 2016. O governador, contudo, enfrentou a greve ilegal, que terminou com policiais condenados.

Existem outras histórias de gestores que procuraram reformar muitas regras que garantem privilégios a empresas privadas e a categorias de servidores públicos. Alagoas e Rio Grande Sul, por exemplo, têm conseguido reduzir algumas dessas distorções.

Em São Paulo, como escrevi aqui em 24/10, há uma lista impressionante de produtos beneficiados com isenção de ICMS ou alíquotas bem menores das que pagam os demais.
Bulbo de cebola, pós-larva de camarão e cavalos puros-sangues, desde que não do tipo inglês, são apenas alguns exemplos dos bens favorecidos. A renúncia com essas desonerações passa de R$ 40 bilhões por ano, bem mais do que o governo federal gasta com o Bolsa Família.

As lideranças do setor privado, porém, defendem reformas desde que não afetem seus próprios privilégios. A proposta do estado incluía tributar em 4,14% bens que nada pagam atualmente, mas ainda muito abaixo da alíquota padrão de 18%. Em outros casos, a alíquota passaria de 7% para 9,4%, ou de 12% para 13,3%.

A pequena redução dos benefícios provocou reações indignadas e “tratoraços”. Esses produtores não aceitam ser tratados como a maioria da sociedade.

Em 2011, Branca Vianna contou, na revista Piauí, a notável história do geólogo iraquiano Farouk Al-Kasim.

A vida no seu país não era fácil em meados do século passado. “No cinema, por exemplo, as crianças gostavam de se sentar na primeira fila. Mas, se a família do chefe de polícia tinha o mesmo gosto e encontrava as poltronas ocupadas, todos tinham que se levantar para dar-lhes lugar.”
Farouk acabou por fugir para a Noruega, onde revolucionou o setor de petróleo.
No Brasil da meia-entrada, tem muito empresário que ainda se acha com direito à primeira fila no cinema.

Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

Mortes, arrependimentos e pandemias

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A pandemia em curso na sociedade internacional está trazendo à tona uma discussão sobre a importância de conversar sobre o tema da morte, as incertezas existentes na vida física e os desafios gerados pelo momento da morte material. Para alguns um momento de descansar, se reencontrarmos com seres mais próximos, rever pessoas amadas e familiares, se encontrar com aqueles que morreram; para outros um momento de incertezas, medos, desesperanças e instabilidades, onde ninguém volta para contar como foi seu falecimento, seu desprendimento físico ou melhor, poucos acreditam dos relatos daqueles que escreveram na morte do desencarne.

A literatura espírita sempre trouxe um grande refrigério para todos os indivíduos que pensam sobre o assunto, pessoas que buscam compreender o momento do desencarne e indaga sobre o acontece depois da vida material. Dentre os livros que destacam esta temática, podemos elencar a coleção André Luiz, a vida no mundo espiritual, sendo que o livro mais conhecido para a sociedade foi Nosso Lar, ditado pelo médico André Luiz e psicografado por Francisco Cândido Xavier, que traz inúmeras reflexões sobre como se dá a vida no mundo espiritual, os dilemas, as dificuldades e os desafios para o espírito.

Um dos livros mais relevantes da doutrina espírita para tentar responder o momento do desencarne é a obra Voltei, obra ditado por Frederico Figner e psicografado também por Francisco Cândido Xavier, nesta obra o autor se utiliza do pseudônimo de irmão Jacob. Neste livro percebemos inúmeras reflexões fundamentais para compreender o momento do desencarne, as dores, os medos, as esperanças e as reflexões mais íntimas e pessoais, uma obra que deveria ser lida e estudada por todas as pessoas, mesmo aqueles que não se professam de espíritas.

O momento da morte Jacob mostra as dificuldades do desprendimento dos laços materiais, um momento que pode ser muito delicado e agressivo, vai dependendo dos merecimentos individuais. Neste momento, aqueles irmãos dotados de grandes merecimentos, acumulados em atividade no bem, centrados em amor e em solidariedade, são acometidos de auxílios dos espíritos mais elevados, transformando este desprendimento em um momento menos doloroso, enquanto aqueles que não acumularam seus merecimentos, no caminhar na vida espiritual, terão maiores dificuldades neste instante de grande apreensão e incertezas.

A morte é um momento único, nenhum desencarne é igual entre os indivíduos, em alguns casos encontramos semelhanças, mas cada pessoa tem seus merecimentos, suas vivências e aprendizados. Neste momento, muitos ressentimentos, mágoas e tristezas vem à tona, levando os encarnados e desencarnados a construírem vínculos perenes, de sentimentos de amor e solidariedade, os vínculos crescem e perduram com o tempo. Quando estes vínculos são negativos, marcados por mágoas e ressentimentos, estes sentimentos criam negatividades e constroem proximidades que podem durar anos, séculos ou milênios.

Outro assunto que o autor destaca de forma intensa no decorrer da obra, é: “Não se acreditem quitados com a Lei, atendendo a pequeninos deveres de solidariedade humana”. Nesta passagem, é importante analisar que as pessoas, muitas vezes, adotam procedimentos de auxílios reduzidos e acreditam que, estas atitudes, os garantem uma consciência maior e pontos positivos no mundo espiritual. Todos estes donativos espirituais e materiais são imprescindíveis no auxílio dos mais necessitados, mas ao mesmo tempo, temos que compreender que a conversão ao bem e a solidariedade humana é o único caminho do crescimento espiritual.

A doutrina espírita nos auxilia na compreensão de valores mais consistentes, mostrando-nos que todos somos espíritos, uns no mundo material e outros no mundo espiritual, mas estão próximos e estamos sempre em busca do crescimento e do desenvolvimento. As afinidades são fundamentais nesta convivência humana, neste momento percebemos como somos seres pequenos e limitados, passamos por grandes desafios, mas ao mesmo tempo, sempre recebemos muitas oportunidades de progresso pelos bons espíritos, para construirmos nossas estratégias de soerguimentos, diante disso, faz-se necessário nos sintonizar com espíritos que nos auxiliam no nosso melhoramento.

Num momento de pandemia, onde milhões de pessoas estão morrendo em decorrência do Covid-19, os indivíduos devem refletir sobre os comportamentos mais íntimos, observar nossos interiores, seus sentimentos e as suas atividades cotidianas, percebendo se estamos contribuindo para o desenvolvimento da sociedade ou se estamos contribuindo apenas para acumular seus ganhos imediatos? Neste desafio gerado pela pandemia, todas as atividades são importantes para auxiliar na reconstrução da sociedade, os interesses imediatos podem nos garantir grandes somas financeiras e monetárias, mas lembremos que, posteriormente, seremos chamados para prestar contas a suas atividades mais íntimas, neste momento não temos como terceirizar nossas responsabilidades e nossa passagem pela vida material.

A pandemia deve ser vista como um momento de desenvolvimento e de ensinamentos, os indivíduos devem deixar de lado a competição degradação e da concorrência crescente e de juntar esforços entre todos os povos e civilizações, unindo conhecimentos científicos, materiais e tecnológicos em prol de todos os seres humanos, inaugurando um novo momento da humanidade, criando uma verdadeira civilização, centrado no amor, no respeito e na solidariedade.

Desastres inevitáveis

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O mundo vem passando por grandes catástrofes humanas e naturais, exigindo reflexões constantes. Vivemos um período de desastres e agressividades para a toda sociedade, vitimando milhões de pessoas em todos os continentes, deixando um rastro de tristezas, melancolias, desesperos e destruições familiares. Desagregando laços afetivos e emocionais, incrementando as depressões, as ansiedades e os suicídios, impactando sobre todos os grupos sociais.

Neste momento de variados desastres, podemos definir três grandes catástrofes sobre a sociedade humana: uma delas são criadas pela ação dos seres humanos, uma outra podemos chamar de desastres naturais e uma terceira podemos chamar de catástrofes mistas, que tem suas origens nas ações dos seres humanos, mas ao mesmo tempo, são ações involuntárias e não intencionais.

No primeiro caso podemos destacar os desastres gerados por grandes guerras, conflitos militares ou crises financeiras, que levam a sociedade a destruições variadas, levando as coletividades a milhões de mortes e falências generalizadas, com impactos humanos, monetários e materiais muito agressivos. São desastres criados pelos seres humanos e trazem variadas consequências para a sociedade e exigem das nações altos investimentos de reconstrução das estruturas sociais e econômicas. Na primeira metade do século XX, o mundo passou por inúmeras destruições geradas por conflitos militares, as duas grandes guerras mundiais vitimaram mais de 100 milhões de pessoas, gerando catástrofes humanas e destruições materiais.

Uma das outras causas dos grandes desastres da sociedade são os fenômenos naturais, aquilo que Nietzsche chamou de “estupidez cósmica”, como um terremoto, um tsunami, uma tempestade agressiva e duradoura, dentre outras, gerando milhares de mortes e destruições generalizadas. Impactando as nações, regiões e coletividades, levando a adoção de políticas de reconstrução, gerando planejamento estratégico e coordenação política e atuação de todos os grupos sociais e econômicos, objetivando a reconstrução da sociedade, investindo altas somas monetárias.

A terceira grande destruição pode ser classificados pelos desastres criados pelo ser humano de forma intencional, ou seja, as raízes deste desastre é a ação dos seres humanos, mesmo sabendo que as pessoas não tiveram intenção desta destruição. Neste caso, podemos destacar os desastres gerados pelo rompimento de barragens e acidentes nucleares. Atualmente podemos citar o desastre gerado pela Covid 19, o chamado coronavírus, cuja destruição está se espalhando na comunidade internacional, afetando todas as regiões, povos e comunidades.

O desastre gerado pelo coronavírus está diretamente ligado a ação dos seres humanos, a adoção de um modelo econômico que degrada a natureza e gera impactos agressivos ao Meio Ambiente, extraindo recursos de forma insustentável, degradando rios e criando um rastro de destruição, poluindo o ar, aumentando a temperatura, degradando florestas e o derretimento das geleiras. Os impactos da devastação do meio ambiente estão empurrando os animais de seus habitats naturais, reduzindo seus espaços de sobrevivência, alterando seus alimentos naturais e espalhando doenças e vírus para os seres humanos e, numa economia globalizada, os produtos são espalhados para todas as regiões.

Os desastres crescem todos os anos e impactam sobre a coletividade, algumas dessas catástrofes são inevitáveis e são geradas pela própria natureza, mas outras podem ser evitadas, desde que os seres humanos consigam compreender sua importância e centralidade na civilização, construindo laços de respeito e de solidariedade.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre e Doutor em Sociologia/Unesp Araraquara, Professor Universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 06/01/2021.

Desastres, Pandemias e Espiritismo

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A Doutrina Espírita tem grande capacidade de auxiliar a sociedade internacional no momento que estamos vivenciando, neste instante marcado pela pandemia, que nos gera assombros, medos e preocupações, levando as pessoas a desesperanças, incertezas e instabilidades. Neste ambiente, os números de depressão crescem de forma acelerada, a ansiedade está presente em grande parte dos indivíduos, levando a um incremento do suicídio, pois muitos acreditam que a forma de resolver as dificuldades e reduzir as depressões está do suicídio, criando novos desequilíbrios, gerando escuridões e incertezas crescentes.

O Espiritismo nos mostra outras formas de reflexão sobre as dificuldades que vivemos, alguns acreditam que a pandemia está diretamente ligada a um grande castigo imposto pela humanidade por Deus, nesta tese, amplamente aceita por grandes partes dos pensamentos religiosos, um ser superior envia a pandemia para que as pessoas paguem por seus inúmeros débitos, ressarcindo suas dívidas e, para aqueles que sobreviverem, viverá melhor e mais equilibrado. A doutrina dos espíritos tem uma forma diferente de refletir sobre o momento de pandemias que estamos vivenciando, para o espiritismo todo o momento, as dores, as dificuldades estão, todas, diretamente atreladas as escolhas humanas, os caminhos que foram trilhados pela civilização. Diante disso, o mundo colhe as consequências de escolhas anteriores, muitas delas são intencionais e, em muitos casos, estas escolhas são conscientes e nos mostram nossa imaturidade.

No começo da segunda década do século XXI, o ser humano está sentindo na pele as muitas mudanças geradas pela pandemia, o surgimento deste flagelo, causado pelo coronavírus ou covid-19, está alterando as formas de sobrevivência, alterando os comportamentos, hábitos de consumo, o mundo do trabalho e da ocupação e modificando os relacionamentos humanos, com impactos sentimentais, espirituais e emocionais.
Olhando historicamente os registros de outras pandemias parecidas foram vivenciados a mais de 100 anos atrás, entre janeiro de 1918 a dezembro de 1920, quando o mundo sentiu na pele as agruras da pandemia gerada pela gripe espanhola. A espanhola infectou na casa dos 500 milhões de pessoas, sendo que as mortes ficaram entre os 17 milhões a 50 milhões, outros relatos contabilizaram quase 100 milhões de mortes. A gripe espanhola tornou-se a epidemia mais mortal da história da humanidade, se espalhou para todas as regiões, gerando desagregações familiares, conflitos emocionais e desestruturações sociais.

O mundo vem passando por grandes catástrofes humanas e naturais, exigindo reflexões constantes. Vivemos um período de desastres e agressividades para toda sociedade, vitimando milhões de pessoas em todos os continentes, deixando um rastro de tristezas, melancolias, desesperos e destruições familiares. Desagregando laços afetivos e emocionais, incrementando as depressões, as ansiedades e os suicídios, impactando sobre todos os grupos sociais.

Neste momento de variados desastres, podemos definir três grandes catástrofes sobre a sociedade humana: uma delas são criadas pela ação dos seres humanos, uma outra podemos chamar de desastre natural e uma terceira podemos chamar de desastres mistos, que tem suas origens nas ações dos seres humanos, mas ao mesmo tempo, são ações involuntárias e não intencionais.

No primeiro caso podemos destacar os desastres gerados por grandes guerras, conflitos militares ou crises financeiras, que levam a sociedade a destruições variadas, levando as coletividades a milhões de mortes e falências generalizadas, com impactos humanos, monetários e materiais muito agressivos. São desastres criados pelos seres humanos e trazem variadas consequências para a sociedade e exigem das nações altos investimentos de reconstrução das estruturas sociais e econômicas. Na primeira metade do século XX, o mundo passou por inúmeras destruições geradas por conflitos militares, as duas grandes guerras mundiais vitimaram mais de 100 milhões de pessoas, gerando catástrofes humanas e destruições materiais.

No livro Nosso Lar, psicografia de Francisco Cândido Xavier e ditado pelo espírito André Luiz, o espírito nos mostra como a cidade espiritual se organizou para receber os desencarnados em decorrência da segunda guerra mundial. Neste momento, percebemos a organização da comunidade neste momento de desafio, marcado pela chegada de milhares de pessoas em condições adversas, necessitando de auxílio e solidariedade. As guerras podem ser descritas como um dos mais severos e violentos flagelos do ser humano, os indivíduos não foram criados para a destruição e para a desagregação, os seres humanos foram criados pelo amor, pela solidariedade e pela caridade.

Uma das outras causas dos grandes desastres da sociedade são os fenômenos naturais, como um terremoto, um tsunami, uma tempestade agressiva e duradoura, dentre outras, gerando milhares de mortes e destruições generalizadas. Impactando as nações, regiões e coletividades, levando a adoção de políticas de reconstrução, gerando planejamento estratégico e coordenação política e atuação de todos os grupos sociais e econômicos, objetivando a reconstrução da sociedade, investindo altas somas monetárias.

As devastações em curso na sociedade são motivadas por movimentações da natureza, muitas delas são geradas por placas tectônicas existentes no interior da Terra, diante disso, muitas pessoas podem indagar se estas movimentações que vitimam milhares de mortes foram geradas pela ira de uma entidade superior, como um Deus, por exemplo? A doutrina dos espíritos acredita que muitas movimentações podem gerar destruições causadas pelas imperícias dos seres humanos, muitos morrem destas movimentações, enquanto outras pessoas sobrevivem e continuam vivendo por muitos períodos, neste caso, os estudos sistemáticos da reencarnação nos auxiliam a compreender o paradeiro das pessoas.

A terceira grande destruição pode ser classificados pelos desastres criados pelo ser humano de forma intencional, ou seja, as raízes deste desastre é a ação dos seres humanos, mesmo sabendo que as pessoas não tiveram intenção desta destruição. Neste caso, podemos destacar os desastres gerados pelo rompimento de barragens, os acidentes nucleares. Atualmente podemos citar o desastre gerado pela Covid 19, o chamado coronavírus, cuja destruição está se espalhando na comunidade internacional, afetando todas as regiões, povos e comunidades.

O desastre atual gerado pelo coronavírus está diretamente ligado a ação dos seres humanos, a adoção de um modelo econômico que degrada a natureza e gera impactos agressivos ao Meio Ambiente, extraindo recursos de forma insustentável, degradando rios e criando um rastro de destruição, poluindo o ar, aumentando a temperatura, degradando florestas e o derretimento das geleiras. Os impactos da devastação do meio ambiente estão empurrando os animais de seus habitats naturais, reduzindo seus espaços de sobrevivência, alterando seus alimentos naturais e espalhando doenças e vírus para os seres humanos e, numa economia globalizada, os produtos são espalhados para todas as regiões.

A terceiro forma de compreendermos os desastres da sociedade contemporânea, podemos debitar na conta dos seres humanos indiretamente, suas medidas foram imprudentes e os impactos são disseminados para toda a coletividade internacional e não se restringe a poucas pessoas, vitimando toda grande parte da civilização.

A exploração crescente da natureza tem impactos negativos para toda a sociedade, a sanha por acumulação monetária cresce nos anos atuais, o poder financeiro e os ganhos imediatos estão levando a sociedade a destruir o patrimônio comum, degradando o meio ambiente, aumentando a temperatura e aumentando os desequilíbrios do habitat natural, levando a novas epidemias, novos vírus e novas devastações.

Ao observarmos esta degradação do patrimônio do meio ambiente, o ser humano se esquece que somos espíritos estagiando nos corpos físicos, estamos encarnados, utilizamos corpos materiais para sobreviver no mundo físico e, posteriormente, retornamos ao mundo espiritual. Esta reflexão é fundamental, se destruirmos a natureza somos afetados por esta degradação, afinal estamos na matéria, mas brevemente estaremos no mundo espiritual nos preparando para voltarmos a matéria, desta forma devemos indagar: com esta destruição que patrocinamos como seres humanos, o que vamos encontrar no planeta Terra?

Muitos espíritos reencarnam em regiões inóspitas, atrasadas e degradadas, passando por inúmeras limitações financeiras, emocionais e existenciais em decorrência de vivências anteriores. São espíritos altamente inteligentes, brilhantes intelectualmente que reencarnam em situações marcadas por limitações sensoriais, mentais e fragilidades em todas as áreas, são espíritos brilhantes que utilizaram seus dotes intelectuais para a degradação da natureza, avarentos, egoístas e ambiciosos. São inúmeros indivíduos que se levaram para os ganhos monetários e financeiros, sua ambição cega os interesses coletivos e se concentram apenas na acumulação, sua riqueza e em seu entesouramento, acreditando que existem ainda uma única vida, justificando, assim seus interesses imediatos e seus prazeres do hedonismo.

A pandemia exige uma mentalidade nova como ser humano, neste momento devemos compreender que o responsável por esta dificuldade está dentro de cada pessoa, somos os grandes responsáveis pela degradação do meio ambiente, do ambiente tóxico centrado na competição e pela concorrência e na busca insana pelos prazeres materiais, diante disso, a pandemia deve ser compreendida como um momento de reflexão e de ensinamentos.

Os desastres crescem todos os anos e impactam sobre a coletividade, algumas dessas catástrofes são inevitáveis e são geradas pela própria natureza, mas outras podem ser evitadas, desde que os seres humanos consigam compreender sua importância e centralidade na civilização, construindo laços de respeito e solidariedade.

Política antiglobalista de Bolsonaro tem um preço, por Oliver Stuenkel.

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Com derrota da Donald Trump, Brasil fica ainda mais isolado em sua política radical e negacionista

O Estado de S.Paulo – 03/01/2021

Desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro executa uma política externa precisa e disciplinada, cujo objetivo é manter sua base mobilizada. Trata-se de uma postura internacional feita sob medida para a cozinha de casa, e não para o mundo lá fora. Atitudes como não parabenizar o novo líder argentino, alegar que Joe Biden venceu as eleições de maneira fraudulenta, atacar a ONU, Xi Jimping, Emmanuel Macron e quem mais aparecer pela frente integram uma retórica cuidadosamente articulada para atiçar os ânimos de sua torcida. Ter se aproximado do Centrão e se afastado do discurso anticorrupção e antissistema fez com que o presidente dependesse ainda mais desses comentários bombásticos para garantir a fidelidade de seus seguidores mais radicais.

Mas a política antiglobalista tem um preço. Em dois anos de mandato, Bolsonaro deteriorou praticamente todas as relações do País. A reputação nos quatro mercados mais relevantes para a economia brasileira – o chinês, o norte-americano, o europeu e o latino-americano – é a pior em décadas. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, a retórica antiambientalista fortalece aqueles que se opõem a uma aproximação com o Brasil. Em círculos diplomáticos europeus, fala-se abertamente que o presidente brasileiro é o pior inimigo da ratificação do acordo comercial com o Mercosul. Fora os nacionalistas da Hungria, Polônia e Eslovênia, não há um único chefe de Estado da União Europeia que receberia uma visita oficial de Bolsonaro hoje em dia.

Com a onda ambientalista que vem dominando a política europeia, cresce o risco de boicotes mais amplos contra os produtos daqui. Isso ocorre não só pelas escolhas problemáticas do presidente no campo interno, mas também porque Jair Bolsonaro abriu mão de uma arma poderosa da qual os governos anteriores dispunham. Ao rifar as relações externas para manter sua popularidade interna, o presidente atou as mãos de um dos Ministérios de Relações Exteriores mais sofisticados do mundo. Até poucos anos atrás, o Itamaraty servia de escudo para a reputação do País no exterior mesmo em momentos em que o governo brasileiro estava obviamente errado. Essa proteção foi crucial em crises como os massacres do Carandiru e da Candelária, em 1992 e 1993, ou quando as taxas de desmatamento tiveram uma aceleração, nos anos 1990 e 2000. Enquanto um chanceler normal mobilizaria as missões brasileiras no exterior para reagir à crise de reputação, o atual chefe do Itamaraty amplia o isolamento ao defender teorias conspiratórias, e faz tempo virou chacota mundial.

Se antes a atuação independente do Itamaraty ajudava a reparar os danos de catástrofes nacionais, hoje o órgão encontra-se escanteado por um governo que ofusca até o que deveria capitalizar. Avanços com a reforma da Previdência de 2019 foi o grande exemplo disso. Em vez de ficar calado e deixar que uma medida celebrada pelos mercados ganhasse visibilidade na imprensa especializada, Bolsonaro lançou uma bomba que deixou o assunto em segundo plano: a tentativa de emplacar seu filho como embaixador nos EUA.

Com a vitória de Biden, o risco econômico da política bolsonarista tende a aumentar ainda mais. As nomeações do democrata sugerem que o tema ambiental será um pilar de seu mandato tanto no âmbito interno quanto no externo. A futura secretária do Interior, Deb Haaland, tem sido uma das críticas mais ferrenhas da política ambiental do presidente brasileiro. O desmatamento da Amazônia foi citado por Biden ainda em campanha. Na ocasião, Bolsonaro foi ao Twitter dizer que a soberania nacional não seria negociada. O atrito dá uma amostra do que vem pela frente na relação com os EUA. Para piorar a situação, é provável que o governo Biden coordene sua política ambiental com a União Europeia.

A derrota de Trump deixa o Brasil ainda mais isolado em sua política radical e negacionista. Antes ofuscadas pela atuação do colega americano, as patacoadas de Bolsonaro devem ganhar ainda mais atenção negativa dos observadores internacionais. Tivemos uma prévia disso logo em dezembro, quando ele virou notícia internacional por ser o último líder de um país democrático a parabenizar Joe Biden pela vitória.
Em 2021, cada aparição de Bolsonaro no noticiário internacional será um risco para a já combalida economia brasileira. O mesmo se estende ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e ao Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. No caso desses dois, sua mera permanência no cargo já contamina qualquer tentativa de apaziguar investidores europeus e americanos preocupados com o desmatamento.

Se em 2019 Hamilton Mourão e Tereza Cristina foram a Pequim tentando desfazer o mal-estar causado pela retórica anti-China, em 2021 já não existe campanha publicitária ou iniciativa de quadros mais moderados que possa consertar a imagem tóxica da ala radical do governo.

A substituição de Salles e Araújo reduziria o risco de boicotes, fugas de investidores estrangeiros e complicações na ratificação de acordos comerciais. O problema é que eles representam dois grupos-chave de sustentação do governo: ruralistas e antiglobalistas. Sobretudo no caso de Salles, a facilitação do desmatamento e o desmonte das estruturas de fiscalização estão no cerne do programa bolsonarista. Desistir disso complicaria as relações do governo com uma parte obtusa, porém importante, do setor ruralista.

Em meio a essa confusão, avanços diplomáticos como a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já são improváveis, e os riscos de reputação do País inevitavelmente entrarão na conta de qualquer investidor. O País está aprendendo de um jeito doloroso que a imagem externa é uma abstração com consequências bastante reais, e que doem no bolso.

* COORDENADOR DA PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA FGV-SP