Mediunidade e trabalho mediúnico: a atuação dos mentores espirituais

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A Doutrina Espírita nos mostra como os espíritos podem influenciar na vida das pessoas encarnadas, muitos desconhecem estas atuações, outros as minimizam, mas todos percebem que os mundos estão interligados e influenciam um ao outro, nestas atuações encontramos o trabalho de variados espíritos, desde os mais caridosos e protetores até aqueles que se comprazem com o mal e com a negatividade, a escolha destas entidades é uma opção de cada um de nós, cabe ao nosso pensamento e as nossas atitudes a atração de bons ou de maus espíritos.

Desde tempos imemoriais nos deparamos com lendas e histórias que falam da atuação de espíritos na vida das pessoas, influencias das mais variadas, uns inspirando-as ao bem, ao estudo e aos bons pensamentos, enquanto outros com tendências mais agressivas, buscando vinganças e revanches de problemas anteriores ou a desforra de desajustes pregressos, somos constantemente instigados por estes irmãos, que vibram de acordo com seu progresso evolutivo, neste assunto é importante destacar, que todos nós já passamos por momentos parecidos, todos já vivenciamos atitudes trevosas com relação a nossos semelhantes e, por isso, nenhum indivíduo deve criticar as atitudes dos outros, embora condenemos, devemos orar e trabalhar para que este irmão, que por hora vibra no diapasão da negatividade, possa acordar e se posicionar de forma diferente com relação a vida e seus sentimentos, transformando seus pensamentos e atraindo energias mais consistentes.

Muitas vezes encontramos pessoas fazendo o sinal da cruz como forma de proteção contra a presença de espíritos, acreditando que um mero gesto pode afastar algo que está inscrito em uma lei natural, todos estamos convivendo lado a lado, o mundo físico e o espiritual estão juntos, a própria física quântica tem nos mostrado a existência de vários mundos convivendo lado a lado, somos espíritos e ao nosso lado estamos cheio de entidades espirituais, em vez de nos benzer devemos nos melhorar para que aqueles que nos acompanharem sejam entidades boas e nos traga sentimentos melhores e mais edificantes, preparando-nos para os caminhos de progresso e desenvolvimento do mundo.

Nos trabalhos mediúnicos, encontramos uma atuação muito efetiva dos espíritos de luz, entidades que se comprazem com o bem e o auxílio, que despendem seu tempo e suas energias para ajudar todos aqueles irmãos que chegam no mundo espiritual sem compreender sua trajetória e marcados por muitas dúvidas, medos e grande desesperanças, são irmãos sofredores que se julgam esquecidos e sem perspectivas nenhuma com relação ao futuro. Neste momento, muitos destes irmãos que ainda acreditam em Deus se julgam totalmente esquecidos pelo plano maior, acreditando-se tratados e agredidos e desenvolvem um forte desejo de vingança, bradando contra a religião e se dizendo esquecidos por Deus ou por outras entidades superiores que outrora diziam acreditar, muitos destes irmãos se tornam perseguidores e atraem energias parecidas de rancor e de ressentimento.

Muitos desconhecem como são feitas as reuniões mediúnicas e como os espíritos superiores trabalham em benefício dos irmãos sofredores, nestes momentos são eles os responsáveis por trazer para as reuniões as entidades com maiores dificuldades, juntando-as de acordo com suas histórias, suas dores e dificuldades, ao juntar estes irmãos ambicionam atender o maior número possível de irmãos desencarnados que, nestas reuniões ouvem e assistem as conversações com o doutrinador servindo de amparo e auxílio imediato para todos que passam pelas mesmas dores e constrangimentos, servindo como um verdadeiro bálsamo de luz para que todos possam crescer e se desvincular de suas mais íntimas e secretas dificuldades momentâneas.

O trabalho destes espíritos se desenvolve em várias frentes, são eles que escolhem as entidades e as aproximam, são eles que pesquisam as histórias destes irmãos sofredores e necessitados, buscando na tela mental de cada um deles passagens, lembranças e experiências para auxiliar o doutrinador nestes eventos, munindo-os de informações para que estes possam auxiliar os irmãos desencarnados neste momento de dores e dificuldades intensas.

Muitas entidades que vão se manifestar no trabalho mediúnico estão na Casa Espírita recolhidas desde os trabalhos de dias anteriores, muitos destes espíritos acompanhavam encarnados que foram ao Centro Espírita sentindo a influência negativa dos irmãos . Neste momento os irmãos do plano espiritual são mantidos em isolamento na casa para que no próximo trabalho mediúnico possam se manifestar, conversar com as equipes encarnadas, contar suas experiências e angariar o amparo e o conforto necessário para a compreensão das dificuldades vividas, são entidades que mereceram o amparo e se prepararam para a intervenção espiritual, embora muitos ainda não acreditem no auxílio, as rogativas foram feitas por familiares, amigos e irmãos interessados em sua melhoria e equilíbrio espiritual.

Ainda no mundo espiritual, a casa espírita é higienizada, todos os locais são limpos e equilibrados, sendo retirado deste local energias menores, desajustes e desequilíbrios, objetivando o melhor auxílio possível para todos que serão atendidos no decorrer da assistência espiritual, embora não possamos ver o trabalho, tenhamos a certeza e a convicção de que, o mundo espiritual nos ampare e nos auxilia muito mais do que imaginamos, dando-nos o suporte necessário para que vençamos nossas mais íntimas dificuldades e limitações.

Outro ponto que devemos destacar neste trabalho, é como as conversações são encaminhadas para muitas entidades que estão em outros locais, sabemos que muitos são os necessitados, muitos deles não puderam ser trazidos para o trabalho assistencial, mas foram socorridos e levados indiretamente, todas as conversas entre os irmãos desencarnados e os doutrinadores são amplificadas para que todos os ausentes sejam premiados com a benção de poder ouvir e se conscientizar de suas dificuldades e necessidades de trabalho espiritual.

No mundo material os auxílios também se abundam, muitos são os médiuns que faltam de suas atividades na casa espiritual, alguns se deixam levar por intervenção de irmãos que buscam atrapalhar e esvaziar o trabalho assistencial, outros se ausentam por qualquer dor ou desconforto físico ou emocional, com isso, acabam fazendo os gostos dos espíritos inferiores, acabam deixando de participar dos trabalhos, deixando de atender aos necessitados e de contribuir para seu próprio reequilíbrio espiritual e emocional, neste momento percebemos como os espíritos superiores se desdobram para que todos os desencarnados que foram trazidos não deixem de ser atendidos, sobrecarregando fortemente alguns trabalhadores materiais.

Os médiuns de incorporação, os chamados médiuns psicofônicos nos relatam ainda, que durante dias percebem a presença de entidades que se manifestarão por intermédio deles nas reuniões mediúnicas, sentem suas energias, seus pensamentos e, em muitos casos, se sentem mal com a companhia destes irmãos, que neste momento se comprazem com sentimentos menores e atuam para que seus sentimentos e energias se propaguem em todo ambiente. Estes irmãos serão atendidos nas reuniões, esclarecidos e encaminhados para atendimento em local especializado e os médiuns serão fortalecidos e sairão do encontro mais tranquilos e equilibrados, não podendo sair do trabalho com estas energias negativas e estes constrangimentos oriundos dos irmãos desencarnados.

No livro Obsessão e Desobsessão, Suely Caldas Schubert nos mostra uma reunião mediúnica onde a espiritualidade reuniu inúmeros jovens que havia desencarnados de forma parecida, todos eles foram vitimados em acidentes de automóveis, neste instante um dos jovens que havia sido preparado para a conversa com o doutrinador recebe informações abençoadas que passam a ser ouvidas por todos aqueles jovens que lá estavam e ouviram a conversação, devida a grande quantidade de espíritos vitimados por acidentes automobilísticos os espíritos superiores reúnem todos num mesmo momento e todas as palavras emitidas pelo trabalhador encarnado serve como conforto para todos os jovens desencarnados, a grande maioria sem entender o que tinha acontecido com suas vidas, sendo instruídos através da comunicação e, posteriormente, em momento oportuno, em conversação mais íntima e pessoal, visando o esclarecimento do espírito.

O trabalho mediúnico é um verdadeiro intercâmbio entre os dois planos da vida, esta atividade nos mostra que a soma das forças e dos ideais auxiliam a todos, os encarnados devem se conscientizar de que são importantes e fundamentais neste momento, sua presença, sua assiduidade e dedicação constroem laços sólidos com as entidades do bem do mundo espiritual, criando vínculos de amor, confiança e solidariedade entre estes irmãos em locais e momentos diferentes, mas todos trabalhando em busca de um bem comum, o auxilio desinteressado centrado no amor, na comunhão e no respeito mútuo.

A Doutrina Espírita desde 1857, quando da publicação de O Livro dos Espíritos, obra de Allan Kardec, nos traz grandes informações sobre a vida, a existência humana, os sofrimentos e os medos que nos acometem no cotidiano, somos por esta esclarecidos e informados de que nossos comportamentos anteriores moldam nossa situação contemporânea e que nossas atitudes atuais servem para que construamos nossas experiências futuras. Nesta viagem somos auxiliados diuturnamente pelos bons espíritos, que nos inspiram em bons pensamentos e para que executemos boas obras, pois estas serão nossas maiores advogadas nos caminhos que trilhamos no mundo e nas experiências as quais abraçamos e cultivamos na intimidade.

Depois da codificação de O livro dos Espíritos não mais podemos alegar ignorância sobre as leis de Deus, somos espíritos encarnados e convivemos ao lado de entidades desencarnadas, os trabalhos mediúnicos nos auxiliam a compreender como somos pequenos e quase insignificantes, mas temos nossas responsabilidades perante as leis da vida, dentre elas trabalhar para nosso crescimento espiritual e desenvolvimento moral e auxiliar no máximo que pudermos na evolução de outros seres. A caminhada é imensa, as vantagens do mundo tentam nos tirar do caminho correto, mas devemos perseguir com afinco e perseverança nossos sonhos e ideais, deixando pelo caminho pegadas de amor e de solidariedade, trocando o julgamento fácil, os prazeres materiais e as falas desnecessárias e compreendendo que caminhar ao lado da espiritualidade é a única forma de construirmos um futuro de crescimento e evolução espiritual.

 

 

 

A Doutrina Espírita nos mostra como os espíritos podem influenciar na vida das pessoas encarnadas, muitos desconhecem estas atuações, outros as minimizam, mas todos percebem que os mundos estão interligados e influenciam um ao outro, nestas atuações encontramos o trabalho de variados espíritos, desde os mais caridosos e protetores até aqueles que se comprazem com o mal e com a negatividade, a escolha destas entidades é uma opção de cada um de nós, cabe ao nosso pensamento e as nossas atitudes a atração de bons ou de maus espíritos.

Desde tempos imemoriais nos deparamos com lendas e histórias que falam da atuação de espíritos na vida das pessoas, influencias das mais variadas, uns inspirando-as ao bem, ao estudo e aos bons pensamentos, enquanto outros com tendências mais agressivas, buscando vinganças e revanches de problemas anteriores ou a desforra de desajustes pregressos, somos constantemente instigados por estes irmãos, que vibram de acordo com seu progresso evolutivo, neste assunto é importante destacar, que todos nós já passamos por momentos parecidos, todos já vivenciamos atitudes trevosas com relação a nossos semelhantes e, por isso, nenhum indivíduo deve criticar as atitudes dos outros, embora condenemos, devemos orar e trabalhar para que este irmão, que por hora vibra no diapasão da negatividade, possa acordar e se posicionar de forma diferente com relação a vida e seus sentimentos, transformando seus pensamentos e atraindo energias mais consistentes.

Muitas vezes encontramos pessoas fazendo o sinal da cruz como forma de proteção contra a presença de espíritos, acreditando que um mero gesto pode afastar algo que está inscrito em uma lei natural, todos estamos convivendo lado a lado, o mundo físico e o espiritual estão juntos, a própria física quântica tem nos mostrado a existência de vários mundos convivendo lado a lado, somos espíritos e ao nosso lado estamos cheio de entidades espirituais, em vez de nos benzer devemos nos melhorar para que aqueles que nos acompanharem sejam entidades boas e nos traga sentimentos melhores e mais edificantes, preparando-nos para os caminhos de progresso e desenvolvimento do mundo.

Nos trabalhos mediúnicos, encontramos uma atuação muito efetiva dos espíritos de luz, entidades que se comprazem com o bem e o auxílio, que despendem seu tempo e suas energias para ajudar todos aqueles irmãos que chegam no mundo espiritual sem compreender sua trajetória e marcados por muitas dúvidas, medos e grande desesperanças, são irmãos sofredores que se julgam esquecidos e sem perspectivas nenhuma com relação ao futuro. Neste momento, muitos destes irmãos que ainda acreditam em Deus se julgam totalmente esquecidos pelo plano maior, acreditando-se tratados e agredidos e desenvolvem um forte desejo de vingança, bradando contra a religião e se dizendo esquecidos por Deus ou por outras entidades superiores que outrora diziam acreditar, muitos destes irmãos se tornam perseguidores e atraem energias parecidas de rancor e de ressentimento.

Muitos desconhecem como são feitas as reuniões mediúnicas e como os espíritos superiores trabalham em benefício dos irmãos sofredores, nestes momentos são eles os responsáveis por trazer para as reuniões as entidades com maiores dificuldades, juntando-as de acordo com suas histórias, suas dores e dificuldades, ao juntar estes irmãos ambicionam atender o maior número possível de irmãos desencarnados que, nestas reuniões ouvem e assistem as conversações com o doutrinador servindo de amparo e auxílio imediato para todos que passam pelas mesmas dores e constrangimentos, servindo como um verdadeiro bálsamo de luz para que todos possam crescer e se desvincular de suas mais íntimas e secretas dificuldades momentâneas.

O trabalho destes espíritos se desenvolve em várias frentes, são eles que escolhem as entidades e as aproximam, são eles que pesquisam as histórias destes irmãos sofredores e necessitados, buscando na tela mental de cada um deles passagens, lembranças e experiências para auxiliar o doutrinador nestes eventos, munindo-os de informações para que estes possam auxiliar os irmãos desencarnados neste momento de dores e dificuldades intensas.

Muitas entidades que vão se manifestar no trabalho mediúnico estão na Casa Espírita recolhidas desde os trabalhos de dias anteriores, muitos destes espíritos acompanhavam encarnados que foram ao Centro Espírita sentindo a influência negativa dos irmãos . Neste momento os irmãos do plano espiritual são mantidos em isolamento na casa para que no próximo trabalho mediúnico possam se manifestar, conversar com as equipes encarnadas, contar suas experiências e angariar o amparo e o conforto necessário para a compreensão das dificuldades vividas, são entidades que mereceram o amparo e se prepararam para a intervenção espiritual, embora muitos ainda não acreditem no auxílio, as rogativas foram feitas por familiares, amigos e irmãos interessados em sua melhoria e equilíbrio espiritual.

Ainda no mundo espiritual, a casa espírita é higienizada, todos os locais são limpos e equilibrados, sendo retirado deste local energias menores, desajustes e desequilíbrios, objetivando o melhor auxílio possível para todos que serão atendidos no decorrer da assistência espiritual, embora não possamos ver o trabalho, tenhamos a certeza e a convicção de que, o mundo espiritual nos ampare e nos auxilia muito mais do que imaginamos, dando-nos o suporte necessário para que vençamos nossas mais íntimas dificuldades e limitações.

Outro ponto que devemos destacar neste trabalho, é como as conversações são encaminhadas para muitas entidades que estão em outros locais, sabemos que muitos são os necessitados, muitos deles não puderam ser trazidos para o trabalho assistencial, mas foram socorridos e levados indiretamente, todas as conversas entre os irmãos desencarnados e os doutrinadores são amplificadas para que todos os ausentes sejam premiados com a benção de poder ouvir e se conscientizar de suas dificuldades e necessidades de trabalho espiritual.

No mundo material os auxílios também se abundam, muitos são os médiuns que faltam de suas atividades na casa espiritual, alguns se deixam levar por intervenção de irmãos que buscam atrapalhar e esvaziar o trabalho assistencial, outros se ausentam por qualquer dor ou desconforto físico ou emocional, com isso, acabam fazendo os gostos dos espíritos inferiores, acabam deixando de participar dos trabalhos, deixando de atender aos necessitados e de contribuir para seu próprio reequilíbrio espiritual e emocional, neste momento percebemos como os espíritos superiores se desdobram para que todos os desencarnados que foram trazidos não deixem de ser atendidos, sobrecarregando fortemente alguns trabalhadores materiais.

Os médiuns de incorporação, os chamados médiuns psicofônicos nos relatam ainda, que durante dias percebem a presença de entidades que se manifestarão por intermédio deles nas reuniões mediúnicas, sentem suas energias, seus pensamentos e, em muitos casos, se sentem mal com a companhia destes irmãos, que neste momento se comprazem com sentimentos menores e atuam para que seus sentimentos e energias se propaguem em todo ambiente. Estes irmãos serão atendidos nas reuniões, esclarecidos e encaminhados para atendimento em local especializado e os médiuns serão fortalecidos e sairão do encontro mais tranquilos e equilibrados, não podendo sair do trabalho com estas energias negativas e estes constrangimentos oriundos dos irmãos desencarnados.

No livro Obsessão e Desobsessão, Suely Caldas Schubert nos mostra uma reunião mediúnica onde a espiritualidade reuniu inúmeros jovens que havia desencarnados de forma parecida, todos eles foram vitimados em acidentes de automóveis, neste instante um dos jovens que havia sido preparado para a conversa com o doutrinador recebe informações abençoadas que passam a ser ouvidas por todos aqueles jovens que lá estavam e ouviram a conversação, devida a grande quantidade de espíritos vitimados por acidentes automobilísticos os espíritos superiores reúnem todos num mesmo momento e todas as palavras emitidas pelo trabalhador encarnado serve como conforto para todos os jovens desencarnados, a grande maioria sem entender o que tinha acontecido com suas vidas, sendo instruídos através da comunicação e, posteriormente, em momento oportuno, em conversação mais íntima e pessoal, visando o esclarecimento do espírito.

O trabalho mediúnico é um verdadeiro intercâmbio entre os dois planos da vida, esta atividade nos mostra que a soma das forças e dos ideais auxiliam a todos, os encarnados devem se conscientizar de que são importantes e fundamentais neste momento, sua presença, sua assiduidade e dedicação constroem laços sólidos com as entidades do bem do mundo espiritual, criando vínculos de amor, confiança e solidariedade entre estes irmãos em locais e momentos diferentes, mas todos trabalhando em busca de um bem comum, o auxilio desinteressado centrado no amor, na comunhão e no respeito mútuo.

A Doutrina Espírita desde 1857, quando da publicação de O Livro dos Espíritos, obra de Allan Kardec, nos traz grandes informações sobre a vida, a existência humana, os sofrimentos e os medos que nos acometem no cotidiano, somos por esta esclarecidos e informados de que nossos comportamentos anteriores moldam nossa situação contemporânea e que nossas atitudes atuais servem para que construamos nossas experiências futuras. Nesta viagem somos auxiliados diuturnamente pelos bons espíritos, que nos inspiram em bons pensamentos e para que executemos boas obras, pois estas serão nossas maiores advogadas nos caminhos que trilhamos no mundo e nas experiências as quais abraçamos e cultivamos na intimidade.

Depois da codificação de O livro dos Espíritos não mais podemos alegar ignorância sobre as leis de Deus, somos espíritos encarnados e convivemos ao lado de entidades desencarnadas, os trabalhos mediúnicos nos auxiliam a compreender como somos pequenos e quase insignificantes, mas temos nossas responsabilidades perante as leis da vida, dentre elas trabalhar para nosso crescimento espiritual e desenvolvimento moral e auxiliar no máximo que pudermos na evolução de outros seres. A caminhada é imensa, as vantagens do mundo tentam nos tirar do caminho correto, mas devemos perseguir com afinco e perseverança nossos sonhos e ideais, deixando pelo caminho pegadas de amor e de solidariedade, trocando o julgamento fácil, os prazeres materiais e as falas desnecessárias e compreendendo que caminhar ao lado da espiritualidade é a única forma de construirmos um futuro de crescimento e evolução espiritual.

 Pobreza, concentração de renda e desigualdade no Brasil do século XXI

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O mundo globalizado vem gerando grandes transformações na sociedade mundial, com impactos generalizados em todas as regiões e países, afetando empresas, organizações sociais e trabalhadores, criando constrangimentos e preocupações em todo o globo, o futuro nunca foi tão incerto e assustador para uma parcela substancial da população internacional, gerando novos medos, desesperanças e incremento na violência e no xenofobismo. Neste ambiente de novas discussões, encontramos visões diferentes e complementares, uns mais entusiasmados e otimistas, acreditando na panaceia da tecnologia e da inclusão digital como instrumento de inserção social e melhora na qualidade de vida da população, de outro lado, encontramos os mais céticos e pessimistas que veem este momento como mais um período de degradação social e desigualdade crescente, as promessas abundam, mas a realidade é sempre assustadora e imediata.

Os teóricos mais animados com as mudanças em curso acreditam que o mundo do trabalho está se transformando e seus impactos serão muito melhores para toda a coletividade, divulgam dados do incremento da produtividade do trabalho e do aumento da riqueza da sociedade que geram grandes comemorações, neste novo momento, o trabalho deve se transformar e novas ocupações estão ainda sendo construídas, para estes estudiosos, nos próximos anos mais de setenta por cento da população estará ocupada em atividades que ainda não foram criadas, profissões que estão sendo pensadas pela sociedade e pelo rápido crescimento da tecnologia e das novas formas de inovação.

Segundo estes teóricos, o momento ainda está fortemente caracterizado por incertezas e instabilidades, estas serão reduzidas com o passar dos tempos e a sociedade tende a iniciar um grande ciclo de prosperidade e progresso, onde a grande maioria poderá usufruir destas novas facilidades que estão sendo introduzidas em todas as áreas e locais, gerando mais riqueza e criando novas oportunidades para todos os grupos sociais, o mundo que estamos construindo nos trará grandes benefícios num futuro muito próximo.

Olhando para a sociedade brasileira, muitas são as dúvidas que surgem de nossas reflexões, em um país como o nosso o Estado tem uma grande relevância e sempre foi um dos atores mais importante para alavancar o crescimento econômico, com investimentos em várias áreas e setores, impactando a coletividade e criando bases concretas para promover novos investimentos e uma geração mais sólida e consistente no emprego e nas melhorias sociais.

Neste ambiente, ao nos depararmos com os dados das pesquisas que nos foram trazidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os sentimentos que nutrimos são de indignação, desesperança e medo. Por estes dados percebemos que mesmo sendo uma das economias mais ricas da sociedade mundial, mesmo sendo detentores de solos e terras altamente produtivas, somos uma sociedade marcada por uma alta concentração de renda com bolsões enormes de pobreza, exclusão e indignidade, com isso, estamos caminhando a passos largos a uma sociedade de fortes rupturas, cujos impactos podem ser assustadores e muito perigosos.

A sociedade brasileira apresenta, e todos temos consciência disso, uma alta concentração de renda, somos uma das economias que mais concentram renda da sociedade internacional, somos um país onde os mais ricos recebem 34 vezes o ganho dos mais pobres, um verdadeiro escárnio em pleno século XXI, uma vergonha que todos os brasileiros deveriam repudiar de uma forma mais enfática, nos manifestando diretamente contra esta barbárie e nos manifestando contra esta verdadeira incivilidade.

A sociedade brasileira apresenta um contingente de mais de 100 milhões de cidadãos que não possuem esgoto e saneamento básico em suas residências, com isso, percebemos gastos em saúde pública que poderiam ser evitados, levando aos cofres públicos mais de 1 bilhão de reais que poderiam ser utilizados para melhorar as condições de vida da população. Neste ambiente encontramos muitas discussões sobre tecnologia, máquinas de última geração, inteligência artificial, internet das coisas, indústria 4.0 e pouco nos importamos com esgoto e saneamento básico, condenando, com isso, uma grande quantidade de cidadãos a indignidade e a degradação, sendo que muitos deles estão desempregados, na informalidade, no subemprego ou até mesmo, estão desalentados.

A concentração excessiva da renda na sociedade brasileira é histórica, somos uma sociedade que se conhece excludente, desde tempos imemoriais nos destacamos como uma sociedade com marcas profundas de degradação, trazemos em nossas entranhas mais de 300 anos de escravidão, o patrimonialismo que se apodera de recursos estatais e empregos públicos, a marginalização e exclusão dos grupos mais vulneráveis. O incremento da concentração da renda, na contemporaneidade, tem outras raízes mais conjunturais, onde destacamos uma forte recessão econômica que nos acompanhou no período 2014/2017, cujos custos sociais e econômicos foram imensos, levando um grande contingente que tinham conseguido ascender socialmente em anos anteriores, a voltar para a pobreza e para a indignidade, avanços e retrocessos estão na raiz de nossos indicadores e, com isso, nossa concentração de renda se torna cada vez mais estrutural.

Depois deste baixo crescimento econômico do período citado acima, o país está tendo grandes dificuldades para recuperar uma melhora no cenário econômico, saímos da recessão, mas não conseguimos engatar um novo período de crescimento econômico, com isso, percebemos uma grande degradação no mercado de trabalho e perspectivas sombrias para inúmeros grupos sociais que prescindem dos gastos e dos investimentos estatais, que atualmente se encontram em forte retração.

Os dados da concentração de renda na sociedade brasileira nos mostram uma situação dramática e muito perigosa, nela vemos que os 10% da população com maiores ganhos detinham, no ano passado, 43,1% da massa de rendimentos, algo em torno de R$ 119,6 bilhões. Na outra ponta, os 10% da população mais pobres ficaram com apenas 0,8% dos rendimentos, algo em torno de R$ 2,2 bilhões. Com isso percebemos que a distância entre os grupos é muito elevada, gerando instabilidades e incertezas das mais graves, com possíveis impactos sociais e políticos severos, ameaçando as bases da democracia e colocando em xeque as instituições econômicas, políticas e judiciais.

Os dados disponibilizados pelo IBGE nos mostram que a concentração de renda tem forte conotação regional, o Sudeste, que concentra 40% da população, concentra uma massa de rendimento superior a de todas as outras regiões somadas. Nestes dados, descobrimos que a região Nordeste possui e menor média de salário, R$ 1497,00, enquanto a região sudeste, com R$ 2572,00 apresenta a maior média salarial.

Pelos dados levantados percebemos que o Índice de Gini, que mede a desigualdade em uma escala de 0 (perfeita igualdade) a 1 (máxima concentração) aumentou em todas as regiões do país e atingiu o maior patamar da série histórica, 0,509. Depois de um período de melhorias sociais e crescimento econômico, do período 2003/2013, o Brasil volta a ver seus indicadores de renda degradados, denotando que neste período recessivo, o Brasil passou a incrementar sua concentração de renda e sua população perdeu renda e piorou suas condições sociais, com desemprego crescente e degradação na renda.

Depois da publicação de O Capital no século XXI, (2014) Thomas Piketty ganhou importância na sociedade mundial, suas pesquisas estimularam novas discussões na seara dos economistas, que passaram a ver a alta desigualdade com mais atenção, percebendo ser ela um detonador de graves crises e desequilíbrios nas economias nacionais. Numa das pesquisas feitas pela Escola de Economia de Paris, o Relatório da Desigualdade Global, que congregam pesquisas domiciliares, contas nacionais e declarações de impostos de renda, sustentam uma conclusão ainda mais assustadora para a sociedade brasileira, que segunda a pesquisa os 0,1% mais ricos se apropriam de 28,3% dos rendimentos brutos totais, enquanto os 50% mais pobres ficam com apenas 13,9% do conjunto de todos os rendimentos. Os resultados destas duas pesquisas são todos estarrecedores para a sociedade brasileira, devendo servir como um alerta para os grupos dominantes, sem uma melhoria nestas condições estaremos condenados e muito próximos de uma situação simular a uma barbárie social.

As pesquisas econômicas com relação a pobreza passaram a ganhar relevância e levaram o americano nascido na Índia Abhijit Banerjee, a franco-americana Esther Duflo e Michael Kremer, também dos Estados Unidos, a ganhar o Nobel de Economia deste ano, por seus trabalhos no combate à pobreza, quem sabe com esta manifestação da Academia  Real de Ciência da Suécia a comunidade internacional passe a compreender que os lucros das empresas são fundamentais, mas que este não deve ser conquistado com a degradação das condições de vida da população, com mais concentração da renda e com mais indignidade social.

Neste ambiente de grandes riquezas no capitalismo internacional, onde a produção extrapole os 70 trilhões de dólares, recursos estes que poderiam garantir uma renda de uns US$ 10 mil para cada um dos 7 bilhões de cidadãos do mundo, percebemos uma pequena quantidade vivendo em condições de altíssimo luxo, ostentação e desperdício e uma grande parte vivendo na indigência, na pobreza e na falta de perspectivas, sem saneamento básico, sem alimentação e sem condições de sonhar com um futuro melhor, muitos se entregando a criminalidade, a violência e formas abjetas de sobrevivência.

Na realidade brasileira encontramos dados similares, o que nos mostra como estamos criando uma sociedade explosiva e extremamente excludente, onde as cadeias e as carceragens das delegacias estão abarrotadas de pessoas pobres, negras e excluídas de uma sociedade cuja marca mais evidente é a exclusão social, onde os assassinatos acontecem a céu aberto, onde os presídios estão dominados pelos marginais, onde a classe política fica discutindo assuntos sem interesse para a população, criando crises e desentendimentos para postergar os debates mais consistentes e imprescindíveis para reduzir o desemprego e melhorar as condições de vida da população. Neste ambiente, percebemos discussões para aumentar a impunidade daqueles que matam demais e oficializar uma situação onde os oprimidos armados matam seus semelhantes em nome de uma justiça de fachada, onde os verdadeiros marginais usam ternos e gravatas importadas e transferem para os pobres e marginalizados o pagamento de seu luxo e de sua inoperância.

“Neoliberalismo e Corrupção: ajustes neoliberais e aumento da corrupção”

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 “Neoliberalismo e Corrupção: ajustes neoliberais e aumento da corrupção – Análise dos ajustes neoliberais no Brasil de Fernando Collor (1990-1992) e no México de Carlos Salinas (1988-1992)” – Novas Edições Acadêmicas, 2019.

Por Ary Ramos da Silva Júnior

A presente obra editada pela Novas Edições Acadêmicas, faz parte da tese de doutorado defendida pelo autor em Sociologia, na Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, defendida em maio de 2006. O trabalho teve por objetivo comparar dois países latino-americanos que viviam momentos intensos de adoção de políticas neoliberais, naquele momento os ventos do chamado Consenso de Washington, reunião feita na capital norte-americana com a presença de economistas, cientistas políticos, intelectuais, presidentes, ministros de Estado e empresários, todos defensores das ideias e dos princípios neoliberais que clamavam por abertura econômica, desregulamentações, privatizações, desestatizações e redução sistemática do papel do Estado na sociedade latino-americana, estas políticas eram defendidas como a forma mais efetiva e imediata de levar estas economias para o tão almejado desenvolvimento econômico, ambicionado por todas as economias.

Nos anos 1980, as ideias neoliberais se espalharam pelo mundo de forma acelerada, levando para todos aos países em desenvolvimento, a adoção de políticas baseadas em redução do papel dos Estados na economia, sendo substituídos pelos mercados, vistos nesta ideologia como os grandes gestores do progresso e do crescimento dos países, a América Latina foi invadida por estas ideias, deste as iniciadas no Chile a partir de 1973, depois da queda do presidente eleito Salvador Allende e da ascensão de Augusto Pinochet, responsável pela adoção de políticas fortemente neoliberais, somadas a um governo autoritário e repressor, com milhares de mortos, desaparecidos, torturados e violentados.

Estas políticas se espalharam por toda a região e passaram a ser adotadas pela grande maioria dos países, desde a Argentina, Colômbia, Equador, Paraguai, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Peru, México em 1988 com Carlos Salinas de Gortari e, o Brasil, a partir de 1990 com a ascensão do presidente Fernando Collor de Mello, neste momento estes países passam sentir na pele a adoção de novas políticas e a construção de um novo modelo, baseado nos mercados, onde os Estados passavam a ocupar um papel secundário.

O livro faz uma reflexão sobre o pensamento neoliberal, destacando a força dos grandes agentes econômicos na difusão desta ideologia e na tentativa de impor aos países da região e países em desenvolvimento de outras regiões as ideias liberalizantes. Segundo este pensamento, o atraso econômico destes países estava atrelado ao crescimento excessivo do Estado, que inicialmente foi o grande fomentador dos investimentos que culminaram na construção de alguma estrutura industrial, sem esta atuação estatal, dificilmente estes países conseguiriam construir algum modelo industrial, isto porque a industrialização dos países periféricos era mal vista pelos países industrializados, que estavam receosos de que surgissem mais concorrentes para sua economia.

No México, os avanços neoliberais foram mais intensos do que no Brasil, embora ambos tivessem uma histórica econômica bastante parecida, o gigante do norte estava muito próximo dos Estados Unidos, e sofriam destes uma influencia bastante agressiva, ainda mais quando o país assinou a entrada no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), assinado em 1992.

O México adotou inúmeras medidas liberalizantes, abriu sua economia, privatizou empresas estatais, retirou muitas estruturas microeconômicas reguladoras e assinaram outros acordos comerciais relevantes com outros países e regiões, se transformando em uma economia fortemente dependente dos Estados Unidos, a relação comercial entre eles aumentou de forma acelerada, levando a uma intensa dependência de seu vizinho do norte, responsável pela importação de mais de 80% de suas vendas externas, com isso, toda crise que afetasse os norte-americanos afetariam diretamente os mexicanos.

Devemos destacar ainda, que neste momento a sociedade mexicana descobriu uma relação bastante incestuosa entre grupos econômicos e agentes políticos, uma situação existente á algum tempo, mas apenas desbaratada neste período. A relação entre as medidas liberalizantes e a corrupção se mostrou mais evidente neste momento, com a saída de cena do Estado através da venda de empresas para a iniciativa privada, os grupos privados deixaram á mostra as mazelas políticas e as relações incestuosas entre Estado e Mercado, a corrupção se mostrava presente na sociedade mexicana á muitos anos, com desperdício de bilhões de recursos, enriquecimento de grupos privados e degradação social e política.

A relação entre medidas neoliberais e a corrupção se mostrou mais evidente em toda a região, a compra de empresas estatais, os lobbies para a desregulação e a desregulamentação de alguns setores econômicos, o poder financeiro dos grandes conglomerados econômicos e monetários, todas estas medidas levaram estas instituições a corromper o Estado Nacional e seus representantes, em troca ganhavam licitação, leilões e adquiriam empresas públicas, muitas delas verdadeiros monopólios, transformando estes monopólios públicos em verdadeiros monopólios privados, dotados de grande poder e capacidade de controle e dominação na sociedade.

O governo Carlos Salinas de Gortari deu prosseguimento a um incremento da dependência dos Estados Unidos, consolidando um modelo econômico baseada nas chamadas maquiladoras que se transformaram num amplo instrumento de atração de empresas para produção e posterior venda aos parceiros do norte, nesta trajetória os mexicanos se consolidam como meros montadores de mercadorias, onde o incremento de valor agregado inexiste e os ganhos são reduzidos, se limitando a poucos empregos com salários reduzidos e baixa especialização.

O Brasil, também analisado na obra, também passou por situações semelhantes, as medidas liberalizantes adotadas internamente geraram graves constrangimentos para a estrutura industrial, aumentando a competição interna e levando muitos grupos econômicos e financeiros á bancarrota, inclusive setores tradicionais e importantes na história econômica nacional. O grande responsável por esta abertura foi o presidente eleito em 1990, Fernando Collor de Mello, responsável por uma abertura econômica extremamente agressiva, cujos impactos sociais foram desestabilizadores, com incremento da pobreza, da violência e da marginalidade.

Depois de décadas de proteção, a indústria nacional perde os subsídios e as medidas protecionistas são retiradas, como foram medidas adotadas muito rapidamente a liberalização teve impactos econômicos generalizados, aumentando as falências de negócios nacionais, muitas empresas nacionais foram vendidas para grupos estrangeiros, gerando uma forte e acelerada desnacionalização. Estas políticas transformaram o cenário nacional e abriram espaço para produtos mais eficientes e de qualidade superior, a entrada destes produtos levou muitas empresas privadas nacionais a falência, gerando uma forte desindustrialização e perda de relevância deste setor na economia nacional.

As políticas neoliberais serviam a grupos estrangeiros fortes e consolidados, que viam nesta política uma forma de entrar no mercado dos países latino-americano, aumentando sua presença na região, ganhando novos mercados e ganhando musculatura financeira para a concorrência, este movimento foi incentivado pelos países desenvolvidos, pelos grandes conglomerados internacionais e por muitos teóricos associados aos países desenvolvidos, que viam nesta política um estímulo aos investimentos internacionais.

O Brasil adotou muitas destas políticas, a abertura econômica estimulou a entrada de empresas estrangeiras, as privatizações trouxeram investimentos e reestruturação destas empresas, aumento do desemprego e uma contração da renda agregada. As medidas liberalizantes geraram alguns benefícios, mas aumentou a degradação social, o desemprego e a exclusão social, com isso, a sociedade passou a perceber as dificuldades e os entraves na construção de um país mais produtivo, eficiente e com melhores recursos humanos numa sociedade em constantes transformações.

Políticas neoliberais e corrupção apresentam grande correlação, analisando as bases do capitalismo brasileiro, percebemos que o Estado apresenta um poder fundamental na sociedade, as empresas estatais sempre foram responsáveis por investimentos centrais na sociedade, a desestatização fragilizaria os grupos políticos dependentes destas nomeações, que passaram a exigir contrapartidas em troca do apoio ás teses privatizantes, incrementando as negociatas, os compadrios e a corrupção, deixando a mostra como se organiza a sociedade brasileira em benefício daqueles que desperdiçam os recursos públicos, gastando-os de forma ineficiente e faturando com os superfaturamentos e com os aditivos.

No Brasil os casos de corrupção eram frequentes, o presidente Fernando Collor perdeu o cargo com suspeita de corrupção, a implantação de medidas liberalizantes mostrou como os agentes políticos negociavam o dinheiro público e transformavam as negociações políticas, que devem ser saudáveis e necessárias, em um verdadeiro balcão de negócios em prol de interesses especiais organizados e estruturados financeiro e politicamente.

Embora o período analisado no livro compreenda o governo Fernando Collor, os casos de corrupção e malversação dos recursos públicos estão sempre estampando capas de jornais e revistas, gerando apreensão da população e contribuindo para difundir a tese de que todos os políticos são iguais e que a política deve ser descrita como a ciência do roubar e do enganar a população, um engano clamoroso. A política é um instrumento de organização social e de melhoria nas condições de vida da população, os excessos acontecem e devem ser corrigidos e evitados.

A corrupção no período Fernando Collor cresceu de forma acelerada, gerando movimentos intensos na população, levando milhares de pessoas às ruas e criando um movimento intenso e bem-sucedido de repúdio a todas as denúncias de corrupção. Neste período acreditávamos que as manchetes de revistas e jornais não mais retratariam casos tão flagrantes de corrupção, lendo engano, vendo em perspectivas o país passou por mais dois grandes momentos de denúncias de corrupção, o primeiro em 2005/2006 com as investigações do chamado Mensalão e, mais recentemente, os movimentos iniciados com as investigações que ficaram conhecidas como Operação Lava Jato, deste momento percebemos que os movimentos de controle e governança devem ser perseguidos com afinco e determinação, pois estes marginais devem ser combatidos para que a sociedade encontre seu caminho de progresso e desenvolvimento, visando reverter toda esta dívida social criada e mantida desde tempos coloniais e que afeta uma parcela considerável da sociedade brasileira e mexicana.

Atualmente o mundo conta com algumas instituições que se debruçam sobre estudos e pesquisas para investigar o tamanho da corrupção global, os dados são assustadores e envolvem trilhões de dólares, das instituições destacamos a Transparência Internacional, cujas pesquisas são conduzidas em todas as regiões do mundo e suas conclusões nos levam a questionar muitos valores envoltos no chamado capitalismo internacional.

Ao estudar estes dois grandes países da região e perceber que, tanto Brasil quanto o México, apresentam histórico de forte intervenção do Estado na economia e uma cultura baseada em regimes autoritários, descobrimos que o atraso destas sociedades quando comparadas com outros países desenvolvidos está num crescente desperdício dos recursos públicos e no incremento da corrupção, ambas extraindo recursos volumosos destes países, algo em torno de 5% do produto interno bruto, recursos estes necessários e fundamentais para diminuir os abismos existentes entre os grupos sociais, onde uma parcela considerável desta população vive em condições deploráveis e degradantes.

Os espíritos, suas influências nas vivências cotidianas

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Muitos indivíduos acreditam que vivemos sozinhos nesta sociedade, não creem na existência de espíritos e atribuem estas crenças a pessoas ignorantes e fanáticas, outros acreditam que espíritos não existem e não fazem o menor sentido acreditar em sua existência, muitos o fazem para atribuir a outrem suas decisões equivocadas e suas atitudes desprovidas de sentido, neste caso a crença em sua existência serve como um verdadeiro instrumento para terceirizar decisões equivocadas que todos tomamos no cotidiano.

Os seres humanos sempre acreditaram na existência de uma força maior, ou pelo menos uma grande quantidade, um Deus ou uma divindade qualquer, este todo poderoso pode ser descrito como uma entidade onipresente, onisciente e onipotente, cabendo a cada indivíduo aceitar e louvar a sua existência e seus poderes, temendo-o para que não fosse vítima de sua ira ou de sua agressão, esta força era descrita como severa e todos deveriam temê-lo, sob pena de ser punido de forma exemplar e autoritária.

A Doutrina dos Espíritos, codificada em 1857, pelo pedagogo francês Hippollite Leon Denizard Rivail, nos mostra uma realidade bastante diferente, suas revelações nos mostraram a existência de mundos que se interligam diretamente, somos espíritos que nos revezamos em locais da existência humana, num momento estamos encarnados e “presos” a um corpo material ou estamos livres e vivendo como espíritos, todas estas vivências e experiências existem para que alcancemos o progresso e o desenvolvimento enquanto seres humanos.

Quando encarnados trazemos as limitações da matéria, estamos “presos” no mundo material e temos nossas potencialidades reduzidas, neste momento devemos nos asseverar de que estas limitações são provisórias e servem como instrumento de depuração e de reequilíbrio, para que construamos valores morais e espirituais emergenciais para nosso progresso e nosso desenvolvimento como espíritos eternos e imortais.

Nos escritos que nos foram enviados pelos espíritos, os indivíduos encarnados estão em convivência contínua com os irmãos desencarnados, estes últimos estão mais próximos dos encarnados do que imaginamos, somos por eles influenciados e muitas vezes somos por eles controlados e dominados, gerando verdadeiros desajustes e desequilíbrios espirituais, emocionais e psicológicos.

Os ensinamentos espíritas eram revolucionários e rompiam com tradições antigas e arraigadas na sociedade, às influências de seres desencarnados geravam grandes constrangimentos para movimentos religiosos tradicionais que, na maioria das vezes desacreditavam na existência de espíritos, muitas religiões importantes defendiam a tese de que ao morrer o indivíduo esperaria pelo grande tribunal, onde seríamos julgados pelos nossos gestos e nossos comportamentos, se condenados seríamos conduzidos para o exílio eterno e se absolvidos elevados nos padrões de desenvolvimento. Nesta concepção muitas perguntas ficavam sem respostas, o destino de todos ainda era uma grande incógnita e deveríamos acreditar no poder de Deus e na intervenção desta entidade na vida e nos rumos de cada um de nós. Indagar, perguntar e buscar respostas eram visto como atitudes de indivíduos de pouco fé, cujas indagações eram mal vistas pelas entidades superiores, deveríamos acreditar cegamente nos conhecimentos e crenças da religião.

Perseguições á nova Doutrina foram motivadas pelos ensinamentos trazidos, pelo estímulo ao conhecimento, ao estudo e a reflexão, o Espiritismo estava centrado na leitura, nas discussões salutares e na busca constante pela verdade e na defesa intransigente da ciência, que motivaram o codificador a defender a tese de que se a Doutrina defender ideias e a ciência mostrar que estas ideias são equivocadas, aceite as explicações da ciência.

Depois dos avanços e desafios trazidos pela Revolução Industrial, pela urbanização, pelo incremento da tecnologia e por muitas teorias que abarcavam várias áreas da ciência e do conhecimento humano, o mundo sentia a necessidade de um conjunto de ideias e pensamentos religiosos para poder estimular a compreensão da sociedade e da evolução dos seres humanos. Neste momento surge a chamada Terceira Revelação, a codificação do Espiritismo mostra para a sociedade que vivemos no mundo material, mas somos espíritos, estagiamos na matéria e voltaremos ao mundo espiritual e nesta alternância somos estimulados ao progresso intelectual, moral, espiritual e psicológico, sem estes avanços continuaremos fazendo estágios no mundo material, que deve ser vistos como uma verdadeira escola, cujos conhecimentos são fundamentais para nosso progresso e desenvolvimento.

O século XIX pode ser descrito como um período de grandes descobertas e conhecimentos, as novidades trazidas pelo mundo espiritual nos ajuda a compreender, que muitos dos nossos pensamentos, muito de nossas descobertas e muitas das nossas ideias não são verdadeiramente nossas, são inspirações que nos são trazidas por espíritos em condições mais avançadas no desenvolvimento, espíritos mais avançados no amor e na solidariedade, espíritos irmãos que nutrem empatia e nos auxiliam em nosso progresso, mesmo sabendo que muitos dos aplausos serão canalizados para os encarnados.

A atuação dos espíritos superiores está atrelada a uma boa conduta dos indivíduos, quando atraímos boas energias, quando oramos com fervor, quando fazemos o bem e desenvolvemos nossa empatia e solidariedade, quando fazemos caridade, quando emitimos bons pensamentos e cultivamos bons valores morais, sentimos a presença destes irmãos em nossa vida e em nosso cotidiano, estes irmãos nos inspiram, nos auxiliam e nos protegem, além de nos amparar em momentos de medos e incertezas, como nos momentos que vivemos na contemporaneidade.

A Doutrina dos Espíritos vem nos mostrar que nossas atitudes cotidianas vão definir os rumos e os caminhos que vamos seguir num futuro imediato, mostra-nos ainda, que muitas vezes somos conduzidos a novas encarnações com variados desajustes físicos, emocionais ou sensoriais, estes devem ser encarados não como uma punição de Deus, mas como um processo educativo. Muitos cidadãos teimam em acreditar que se trata de uma punição, com esta visão, acabam se descontentando com Deus, se afastando da religião e se transformando em pessoas descrentes, a Doutrina nos mostra que tudo deve ser visto como um processo de reeducação espiritual. Estas limitações tendem a auxiliar estes irmãos num processo de auto-reflexão, gerando uma depuração espiritual que abre espaço para um maior entendimento de como são regidas as leis de Deus, quando as afrontamos somos levados a uma reparação e quando as aceitamos e as desenvolvemos somos inspirados e conduzidos a novas experiências de progresso e desenvolvimento.

A Doutrina dos Espíritos assusta muitas pessoas e angaria inúmeros detratores e até inimigos declarados, muitas pessoas se esquivam das reflexões espíritas, pois se assustam com suas mazelas espirituais interiores, temem uma reflexão mais íntima porque não querem descobrir situações de desequilíbrios de vidas passadas, muitos querem se ver como heróis, mocinhos, príncipes ou rainhas, mas na verdade são indigentes espirituais, suas vivências anteriores de encarnações pregressas revelam situações degradantes de corrupção, de detrações, de atentados contra a honra alheia, de maldades verdadeiras, de violências e desrespeitos, estas experiências explicam as condições lastimáveis que vivem na contemporaneidade, suas dificuldades e medos cultivados intimamente.

Muitos acreditam que ao fugir desta situação pregressa degradante estão tomando as melhores atitudes e agindo de forma correta, neste momento é importante destacar que o passado de cada indivíduo é marcado por inúmeros equívocos e constrangimentos, todos somos verdugos de nós mesmos, cometemos erros, todos passamos por momentos de desajustes e desequilíbrios, todos cultivamos vícios variados, todos desejamos o mal alheio e trabalhamos para que este mal se efetivasse, esta história pregressa todos temos em comum e não devemos nos esconder desta realidade dolorosa e lastimável. Se tivemos um passado com tantos descaminhos, devemos compreender que todos estamos condenados a um futuro glorioso, desde que nos encaremos como seres humanos, deixemos de lado as atitudes mesquinhas e equivocadas e nos amparemos na convicção de temos todas as condições de construir um futuro promissor e centrado nos ideais e nos conhecimentos que nos são mostrados pelo Espiritismo.

Algumas obras nos mostram experiências assustadoras de espíritos que se compraziam no mal, na degradação e na violência cotidianas, espíritos ora atraídos pelos adornos do mal e do desajuste, entidades que vitimaram inúmeros indivíduos, geraram dores das mais violentas possíveis e que, depois de experiências reparadoras conseguiram se fortalecer e se transformaram em verdadeiros agentes do amor e da solidariedade, irmãos que aceitaram seu passado de dificuldades e desequilíbrios e compreenderam que não poderiam alterar o passado, mas que, com certeza, conseguiriam construir um novo futuro, como nos asseverou o médium mineiro Francisco Cândido Xavier.

No livro Sexo e Destino, psicografia de Chico Xavier e ditado pelo espírito André Luiz, acompanhamos a trajetória das famílias Torres e Nogueira, entrelaçadas em um novelo de degradação sexual, fragilidades morais e desequilíbrios emocionais, e percebemos o quanto espíritos desencarnados influenciam na vida das pessoas que se encontram no corpo material, nesta obra acompanhamos o irmão Moreira canalizando seu poder espiritual para comandar a vida de Cláudio Nogueira e influenciá-lo em decisões equivocadas, os espíritos estão presentes em nossas vidas muito mais do que imaginamos.

O esquecimento dos valores morais está gerando graves constrangimentos para o ser humano na sociedade contemporânea, a degradação do Meio Ambiente, o incremento do poder e da influência do dinheiro e dos valores materiais, o crescimento acelerado da desigualdade e da pobreza, o xenofobismo, as guerras e a violência entre países e dentro das próprias nações, todas estas situações estão conduzindo a coletividade a uma intensa destruição e a grandes extremos. A perda dos valores centrados na solidariedade, na ética e no amor podem conduzir a humanidade a situações de desesperança e sofrimentos, retomar os vínculos com a espiritualidade, ouvir as inspirações dos bons espíritos e se deixar conduzir por energias saudáveis e edificantes são medidas emergenciais que todos os indivíduos devem cultivar para que o mundo volte a ser um espaço de crescimento e desenvolvimento coletivo.

A Doutrina dos Espíritos foi trazida para a humanidade com este objetivo, sua missão é combater o materialismo que crassa a sociedade mundial, muitas vezes acreditamos que esta religião, filosofia ou ciência, como a conhecemos, não está tendo êxito em sua missão, mas na verdade a transformação é lenta e está em curso, muitos não conseguem enxergar os movimentos em curso, mas todos sabemos que o grande condutor do Planeta Terra é o Mestre Jesus, diante disso, percebemos que como o condutor é competente as coisas devem acontecer rapidamente e a melhora não tardará a chegar, como nos avisou Francisco Cândido Xavier, em 2057 a Terra será um mundo de regeneração, exatamente duzentos anos depois da codificação da Doutrina Espírita, o tempo está cada vez mais próximo e cabe a cada um de nós se preparar para esta nova empreitada, afinal, não temos mais tempo a perder com questões menores e inconsistentes.

 

 

 

 

 

Prevenção do Feudalismo digital, por Mariana Mazzucato

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Do Project Syndicate

Ao explorar tecnologias que foram originalmente desenvolvidas pelo setor público, empresas privadas de meios digitais adquiriram uma posição no mercado que lhes permite extrair lucros massivos de consumidores e trabalhadores. Reformar a economia digital de forma que sirva a fins coletivos é, portanto, o principal desafio econômico do nosso tempo.

LONDRES – A obtenção e o uso de dados pelo Facebook e por outras empresas de tecnologia estão finalmente conquistando a atenção que merecem. Considerando que os dados pessoais vêm se tornando o produto mais valioso do mundo, serão os usuários os donos ou os escravos da economia das redes?

As perspectivas de democratizar a economia das redes sociais permanecem pequenas. Os algoritmos estão se desenvolvendo de maneira a permitir que as empresas lucrem com nosso comportamento passado, presente e futuro – ou o que Shoshana Zuboff da Harvard Business School descreve como nosso “excedente comportamental”. Em muitos casos, as plataformas digitais já conhecem nossas preferências melhor do que nós, podendo nos levar a agir de forma a produzir ainda mais valor. Nós realmente queremos viver em uma sociedade onde nossos desejos e manifestações mais íntimos estão à venda?

O capitalismo sempre se destacou ao criar novos desejos e ânsias. Mas com o fenômeno big data e dos algoritmos, as empresas de tecnologia conseguiram agilizar e ao mesmo tempo inverter este processo. Em vez de apenas criar novos bens e serviços, antecipando o que as pessoas podem querer, elas já sabem o que queremos e estão vendendo nossos “eus futuros”. Pior ainda, os processos algorítmicos usados ​​frequentemente perpetuam os preconceitos raciais e de gênero e podem ser manipulados para obter lucro ou ganho político. Embora todos nos beneficiemos imensamente dos serviços digitais, como a pesquisa no Google, não nos registramos para que nosso comportamento fosse catalogado, modelado e vendido.

Para mudar isso, será necessário focar diretamente no modelo de negócios vigente e, especificamente, na fonte de rendas econômicas. Assim como os proprietários de terras, no século XVII, que calculavam os aluguéis sobre a inflação do preço da terra, e assim como os barões mercenários que lucraram com a escassez de petróleo, as empresas de plataformas digitais atuais estão extraindo valor através da monopolização de serviços de busca e comércio online.

Certamente, é claro que setores com alta externalidade de rede – quando os benefícios para cada usuário aumentam de acordo com o número total de usuários – irão produzir grandes companhias. É por isso que as empresas de telefonia cresceram tanto no passado. O problema não é o tamanho, mas como as empresas baseadas em rede exercem seu poder de mercado.

As empresas de tecnologia originalmente usavam suas amplas redes para atrair diversos fornecedores para o benefício dos consumidores. A Amazon permitiu que pequenas editoras de obras vendessem títulos (incluindo meu primeiro livro) que, de outra forma, não teriam chegado às prateleiras das livrarias locais. O mecanismo de busca do Google costumava devolver uma variedade diversificada de fornecedores, bens e serviços.

Entretanto, hoje ambas as empresas usam suas posições dominantes para reprimir a concorrência, controlando quais produtos os usuários veem e favorecendo suas próprias marcas (muitas das quais têm nomes aparentemente independentes). Enquanto isso, as empresas que não anunciam nessas plataformas encontram-se em séria desvantagem. Como Tim O’Reilly argumentou, com o tempo, essa busca de aluguel enfraquece o ecossistema de fornecedores aos quais as plataformas foram originalmente criadas para servir.

Em vez de simplesmente presumir que os recursos econômicos são iguais, os formuladores de políticas devem tentar entender como os algoritmos da plataforma digital alocam valor entre consumidores, fornecedores e a própria plataforma. Enquanto algumas delas podem refletir a concorrência real, outras estão sendo manuseadas pela retirada de valor, e não por agregar valor.

Portanto, precisamos desenvolver uma nova estrutura de governança que começa com a criação de um novo vocabulário. Por exemplo, chamar as empresas de plataforma digitais de “gigantes da tecnologia” implica que investiram nas tecnologias das quais lucram, quando foram realmente os contribuintes que financiaram as principais tecnologias subjacentes – da Internet ao GPS.

Além disso, o uso generalizado de direitos fiscais e contratações trabalhistas independentes (para evitar os custos de seguro de saúde e outros benefícios) vem corroendo os mercados e instituições que dependem da economia digital. Em vez de falar sobre regulamentação, precisamos ir além, abraçando conceitos como co-criação. Os governos podem e devem estar moldando os mercados para garantir que o valor criado coletivamente atenda a objetivos coletivos.

Da mesma forma, a política de concorrência não deve se concentrar apenas na questão do tamanho de uma empresa. A divisão de grandes empresas não resolveria os problemas de retirada de valor ou abusos dos direitos individuais. Não há razão para supor que muitos Googles ou Facebooks menores operariam de maneira diferente ou desenvolvessem novos algoritmos menos exploradores.

Criar um ambiente que recompense a criação de valor genuíno e puna a retirada de valor é o desafio econômico fundamental de nosso tempo. Felizmente, os governos também agora estão criando plataformas para identificar cidadãos, coletar impostos e fornecer serviços públicos. Devido a preocupações nos primeiros dias da internet sobre o uso indevido oficial de dados, grande parte da arquitetura de dados atual foi construída por empresas privadas. Mas, as plataformas governamentais, agora tem um enorme potencial para melhorar a eficiência do setor público e democratizar a economia digital.

Para realizar esse potencial, precisaremos repensar a governança de dados, desenvolver novas instituições e, dada a dinâmica da economia de plataforma, experimentar formas alternativas de propriedade. Para citar apenas um dos muitos exemplos, os dados gerados ao usar o Google Maps ou o Citymapper – ou qualquer outra plataforma que dependa de tecnologias financiadas pelos contribuintes – devem ser usados ​​para melhorar o transporte público e outros serviços, em vez de simplesmente se tornar lucros privados.

Certamente, alguns argumentam que a regulamentação da economia digital impedirá a criação de valor orientada pelo mercado. Mas eles deveriam voltar e ler seu Adam Smith, cujo ideal de “mercado livre” era livre de rendas, não do Estado.

Algoritmos e big data poderiam ser usados ​​para melhorar os serviços públicos, as condições de trabalho e o bem-estar de todas as pessoas. No entanto, essas tecnologias estão sendo usadas atualmente para minar os serviços públicos, promover contratos de zero hora, violar a privacidade individual e desestabilizar as democracias do mundo – tudo em prol do ganho pessoal.

A inovação não tem apenas uma taxa de progressão; também tem uma direção. A ameaça representada pela inteligência artificial e outras tecnologias não está no ritmo de seu desenvolvimento, mas em como elas estão sendo projetadas e implantadas. Nosso desafio é estabelecer um novo rumo.

 

 Financeirização, imediatismo e a lógica do lucro monetário

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Vivemos em tempos muitos curiosos, são momentos de grandes transformações, de medos e desesperanças coletivas convivendo lado a lado com euforias e entusiasmos pouco vistos na história da sociedade, momentos de tecnologias comandando as decisões, influenciando sobre as escolhas, definindo comportamentos, criando hábitos e costumes novos e revolucionários, vivemos tempos estranhos, mas ao mesmo tempo, interessantíssimos, sua superação nos levará a uma nova sociedade.

Desde a consolidação do sistema capitalista global, o dinheiro passou a dominar as relações sociais, o poder do capital passou a definir as regras de convivência social, a selecionar amizades, definir o comportamento humano e influenciar a cultura das nações, disseminando algumas tradições e enterrando outras, usando como instrumento de mensuração os interesses monetários e financeiros, deixando de lado as tradições e os costumes dos povos, o dinheiro passou a ditar as regras em todas as regiões da sociedade global.

Podemos compreender a financeirização da sociedade, como um novo momento do sistema econômico capitalista, nesta nova organização da sociedade os valores financeiros passam a dominar todas as estruturas econômicas, produtivas, sociais e políticas, transformando tudo em mercadorias e comercializando-as em um mercado em rápida expansão e amplo desenvolvimento, com valores próprios e recursos abundantes, as relações sociais e políticas sucumbem aos valores do imediatismo do dinheiro e do lucro material, transformando todas as relações entre os indivíduos em uma relação comercial ou financeira.

O marketing como ferramenta de gestão passou a ser utilizado por todos na convivência social, os indivíduos se esmeram para se mostrar cada vez mais em evidência, para isso se utilizam das redes sociais publicando fotos e comentários variados, sempre buscando seu melhor perfil, sua melhor companhia e seu melhor sorriso, afinal nesta nova sociedade precisamos nos mostrar sempre bem-sucedidos, felizes, eficientes e produtivos, as redes sociais para isso nos prestam um serviço valoroso.

Nesta nova sociedade, as tecnologias nos mostram caminhos alternativos, antigos empregos e ocupações estão sendo substituídas por outras profissões, com isso os trabalhadores se mostram preocupados e descrentes de melhores colocações no mercado de trabalho, suas perspectivas econômicas futuras são menores e os medos aumentam de forma acelerada, gerando novos medos e preocupações sociais, patologias emocionais e desequilíbrios espirituais, aumentando as depressões, as ansiedades, os transtornos e, em muitos casos, culminando num aumento brutal do suicídio.

As relações entre os indivíduos passam por mudanças aceleradas, de um lado encontramos pessoas dispostas a novos relacionamentos, abertas a novas experiências afetivas e sentimentais, mas ao mesmo tempo, encontramos um crescimento acelerado nas fragilidades emocionais, nos medos e nas dificuldades de entregas sentimentais, com isso percebemos desequilíbrios sentimentais intensos, carências afetivas e imaturidades emocionais, gerando novas patologias que aumentam as procuras por consultórios psiquiátricos e consultas com terapeutas e profissionais da psicologia.

Algumas pessoas buscam relacionamentos para suprir suas carências afetivas e sua imaturidade emocional, querem alguém ao seu lado, se cadastram em sites de relacionamentos, frequentam ambientes aconchegantes e buscam novas experiências sentimentais e sexuais, acreditando encontrarem nestes relacionamentos a felicidade tão almejada, os prazeres sonhados e a satisfação desejada. Nesta busca constante por novos amores e prazeres, estes indivíduos acabam se degradando sentimentalmente, aumentando seus desajustes, suas frustrações e seus desequilíbrios numa busca externa marcada pela ausência de valores consistentes e sentimentos íntimos e pessoais, nesta viagem acumulam desequilíbrios e medos generalizados que acabam levando estas a se fechar evitando novas experiências, acreditando que todos os relacionamentos são iguais, que todas as pessoas são interesseiras e mesquinhas e que seu destino é permanecer sozinho, acusando Deus e seus representantes pela solidão em que vivem.

Nesta sociedade, o dinheiro ganhou relevância exagerada, seus valores centrados no imediatismo, na competição e no lucro passaram a dominar a mente e os corações das pessoas, das empresas e dos governos, tudo passa pelos valores monetários, pelos ganhos financeiros e pelos prazeres do imediatismo, com isso, perdemos os momentos de planejamento da vida, da vivência em família e dos sentimentos de construção social, aqueles mais permanentes e cotidianos. Estamos afogados em números, metas e performance, com isso, estamos nos tornando seres frios e calculistas, queremos sempre as satisfações para o agora, para o imediato e se não a alcançarmos vamos buscar em outros relacionamentos, em outros empregos, em drogas legais ou ilegais, ou seja, estamos sempre buscando outras experiências que nos deem prazeres constantes para que não tenhamos que lidar com as frustrações do cotidiano, como se as frustrações não servissem como um instrumento de maturidade e de crescimento social.

Neste cenário percebemos o surgimento de indivíduos imaturos e inseguros que querem os prazeres a todos os momentos, por isso vivem vários relacionamentos em busca de gozos e satisfações constantes, com isso percebemos indivíduos trocando de emprego todos os meses, estão descontentes e frustrados com questões que os incomodam e se esquecem que estas frustrações fazem parte da vida de todos os indivíduos e são elas que nos dão a resiliência para construirmos nossas experiências afetivas e profissionais do cotidiano. Encontramos pessoas alternando variados relacionamentos, buscando em várias pessoas os prazeres e o autoconhecimento que só pode ser encontrado quando nos deparamos como nossas características mais íntimas e pessoais.

Esta imaturidade dos indivíduos está permeando a sociedade em todas as áreas e setores, empresas geridas por gestores impulsivos e pouco capacitados que veem seus lucros crescerem no curto prazo e se utilizam de estratégias inconsistentes para o longo prazo, esquecendo de que as empresas devem ser vistas como um agente social que tem no lucro seu instrumento central, mas que não pode deixar de lado valores morais e éticos mais sólidos e consistentes para sua perpetuação no tempo e sua respeitabilidade no mercado. Nesta sociedade competitiva, os gestores estão numa busca frenética por ganhos financeiros que estão levando a uma forte degradação do meio ambiente, incrementando o ambiente com mais dióxido de carbono, poluindo os rios e os lagos e fragilizando as fontes de água potável, com isso, estamos hipotecando nosso futuro e comprometendo a vida e os sonhos de uma nova geração, precisamos nos conscientizar que somos todos responsáveis pela situação do planeta Terra.

As escolas tradicionais foram repassadas para grandes grupos financeiros, verdadeiros fundos de investimentos recheados com muitos recursos monetários, estes fundos passam a administrar estas instituições como se fossem bancos e conglomerados financeiros, deixando de lado valores educacionais tradicionais e trazendo para a gestão técnicas de redução de custos e contabilização financeira, degradando valores e enriquecendo seus acionistas e investidores, estes mesmos investimentos estão tomando conta das universidades e transformando a educação em um grande negócio econômico, com alta lucratividade e forte potencial de valorização. O grande problema destes investimentos é que a educação deve ser vista em uma sociedade não apenas como um instrumento financeiro e de mercado, algo para se conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho e ganhos profissionais, mas deve ser vista como um dos projetos mais importante dos seres humanos, esclarecedor de suas dúvidas e instrumento de conscientização de seu papel social, como agente cultural e como entidade econômica, ao restringir a educação apenas como instrumento de construção de consumidores, estamos perpetuando uma grande injustiça social, deixando de formar cidadãos conscientes e capacitados intelecto e moralmente.

A financeirização do mundo deve ser fortemente rechaçada pela sociedade contemporânea, pois seu crescimento torna os indivíduos meros autômatos integrados sem capacidade de reflexão, sem vontades e desejos próprios, sendo conduzidos como meros robôs, como máquinas dotadas de atuação técnica e sem capacidade de reflexão crítica, sem organização política, sem sentimentos altruístas e sem capacidade de construção de valores sociais de tolerância, respeito e solidariedade.

Nesta sociedade financeirizada, os agentes sociais estão se corrompendo em troca de benesses financeiras e monetárias, os intelectuais se vendem no mercado em troca de recursos para uma vivência tranquila, com isso emitem opiniões na grande mídia e legitimam seus empregadores, os homens públicos que se deixam degradar em prol de vantagens materiais, autoridades religiosas que se vendem em um mercado que, com recursos monetários, os indivíduos conseguem comprar um terreno no céu até um perdão para comportamentos agressivos e desregrados, nesta sociedade o dinheiro é o grande agente social, comprando desde intelectuais, políticos e representantes das religiões tradicionais, o mercado compra tudo e paga bem, neste mundo estamos todos a venda, quer pagar quanto?

Nas igrejas tradicionais, a entrada do dinheiro e dos valores financeiros na estrutura hierárquica acabou gerando graves desequilíbrios morais e éticos, afastando a instituição de seus valores mais tradicionais, baseados no amor, no respeito e na solidariedade. Os recursos financeiros são fundamentais para todos os agentes sociais e políticos, mas não podemos deixar de compreender que o capital deve ser sempre visto como um meio e não como um fim, todas as vezes que o enxergamos como um fim para a solução de todos os males sociais e os indivíduos se deixam levar por sua alta capacidade de sedução, os seres humanos acabam se degradando e se deixando levar pela ganância, pela ambição e pelo sectarismo.

O pragmatismo dos valores financeiros está gerando uma sociedade desprovida de solidez moral, as tradições estão sendo redesenhadas e os indivíduos estão perdendo os referenciais que os conduziam anteriormente. As famílias, as escolas e as religiões sucumbiram aos valores do imediatismo da contemporaneidade e estão sendo reconstruídas pelos valores monetários e financeiros, nesta nova sociedade o trabalho alucinante e a busca pela sobrevivência afastam ao indivíduos de suas casas e residências, deixando-os cada vez mais distante de seus familiares e de seus amores mais intensos, o mundo do trabalho ganha força e se transforma no agente central, o capital passa a comandar tudo e transformar os indivíduos em números, deixando de lado a sua individualidade.

Neste novo modelo de sociedade os indivíduos podem comprar os prazeres do sexo e, mesmo muitos não acreditando, podem comprar amor verdadeiro, muitos relacionamentos se transformam em sentimentos mais sólidos devido a uma convivência mais próxima que inicialmente foi possibilitada pela atração do dinheiro e dos bens materiais, sem eles muitos olhares e sentimentos não seriam estimulados nos chamados flertes do cotidiano, impedindo proximidades e namoros de sucesso, o dinheiro pode ser o grande diferencial no mundo do sexo e no mundo dos amores sentimentais.

Vivemos em um mundo em ampla transformação, todas estas mudanças devem ser compreendidas como o surgimento de uma nova sociedade, mais dinâmica, mais flexível, mais integrada e mais interdependente, nesta sociedade os valores morais mais sólidos e consistentes devem ser estimulados para que o poder dos recursos financeiros não passem a dominar as estruturas sociais, um mundo marcado pela tecnologia e pelos interesses do dinheiro podem levar a coletividade ao autoritarismo e a dominação das mentes e dos corações, impedindo os indivíduos de refletir e de transformar a sociedade e de construir um futuro mais solidário e consistente.

“Quando a economia é vista como ciência exata, saídas são restritas a dados numéricos”.

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Esther Dweck não tem dúvidas: economia é ciência social aplicada. Para ela, pensar o contrário é restringir as possibilidades de análises e abrir espaços para lógicas financeiristas

Por estar alicerçada em dados matemáticos e indicadores numéricos, a economia que vivemos na atualidade parece elementarmente ser derivada das ditas ciências exatas. Por trás dessa lógica está a de que a saída é sempre pelos números, de que é sempre possível conceber uma equação que demonstre a solução para os problemas. Esta, para a professora

Esther Dweck, é uma visão estreita do campo e assumir isso é abrir espaço para um receituário neoliberal que busca curar as crises. “A economia é uma ciência social aplicada. Eu não tenho dúvidas quanto a isso”, dispara. “O objeto da teoria econômica é entender como a sociedade garante os meios materiais para sua sobrevivência e reprodução. Portanto, a economia aborda como as sociedades garantiram a produção e a distribuição desses meios materiais”, explica.

Entretanto, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, observa que desde o final do século XIX há essa tensão que puxa o campo da economia para as ciências exatas. “Naquela época, mudaram o nome da ciência de ‘Economia Política’, como era definida pelos economistas clássicos, para ‘Economics’ (em inglês) para tentar aproximar das ciências exatas. Uma das mudanças importantes desse período foi alterar a discussão de distribuição como um processo político, como visto por Smith, Ricardo e Marx, para um processo estritamente ‘econômico’”, detalha. E conclui: “a lógica passa a ser uma visão individualista, onde cada agente será remunerado de acordo com as suas capacidades”.

O que fica claro na abordagem de Dweck é que a assunção dessas perspectivas se torna terreno fértil para o emprego do que chama de “receituário neoliberal” que foi sendo imposto aos Estados. “Foram liberalização financeira, liberalização comercial, privatização, liberalização dos fluxos financeiros, desregulamentação dos mercados financeiros domésticos e uma mudança na lógica da política fiscal, que passou a ter como único objetivo, ou objetivo principal, a sustentabilidade da dívida pública”, destaca. E qual o objetivo? Para a professora, a meta é “garantir a estabilidade e o retorno esperado do capital, em consonância com abertura financeira”. Por isso, defende: “é preciso colocar no centro de um novo modelo de desenvolvimento a redução da desigualdade de renda e aumento do investimento social, ambos fundamentais para acelerar o crescimento econômico de forma mais inclusiva e ambientalmente sustentável”.

Esther Dweck é professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, possui doutorado em Economia pela UFRJ, com período-sanduíche no LEM da Scuola SantAnna, em Pisa, Itália. Entre 2011 e 2016, atuou no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no cargo de chefe da Assessoria Econômica e como secretária de Orçamento Federal.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Até que ponto a Economia opera como ciência social aplicada, portanto voltada ao bem-estar coletivo, e a partir de que ponto ela se converte em um sistema tecnocrático de financeirização da vida?
Esther Dweck – A economia é uma ciência social aplicada. Eu não tenho dúvidas quanto a isso. O objeto da teoria econômica é entender como a sociedade garante os meios materiais para sua sobrevivência e reprodução. Portanto, a economia aborda como as sociedades garantiram a produção e a distribuição desses meios materiais.

No entanto, desde o final do século XIX, há uma tentativa de equiparar a economia às ciências exatas. Naquela época, mudaram o nome da ciência de “Economia Política”, como era definida pelos economistas clássicos, para “Economics” (em inglês) para tentar aproximar das ciências exatas. Uma das mudanças importantes desse período foi alterar a discussão de distribuição como um processo político, como visto por Smith, Ricardo e Marx , para um processo estritamente “econômico”. Nesse sentido, a lógica passa a ser uma visão individualista, onde cada agente será remunerado de acordo com as suas capacidades.

IHU On-Line – Quais foram os caminhos que levaram o debate econômico e, em certo sentido, a teoria econômica à perspectiva utilitarista como saída única?
Esther Dweck – Essa visão do final do século XIX culminou com a definição estrita da ciência econômica, por Lionel Robbins, em 1932, como: “a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos”. No entanto, essa visão foi questionada a partir dos acontecimentos das décadas de 1930, devido à grande depressão e com o desfecho político trágico que levou à II Guerra Mundial.

As visões alternativas sobre economia, que sempre caminharam em paralelo à teoria mais convencional, ainda que marginalizadas, ganharam espaço e contribuíram para uma mudança quanto à formulação do objeto da economia. O colapso social das décadas de 1930 e 1940 levou a um consenso dentro da economia de que o sistema capitalista não era capaz de garantir a distribuição equitativa da riqueza, nem mesmo garantir a produção de forma sustentada. Mesmo dentro de uma perspectiva mais convencional, os problemas apontados por Keynes ao final da Teoria Geral – incapacidade de garantir o pleno emprego e a tendência à concentração de renda – ganharam destaque nas proposições de política econômica depois da II Guerra Mundial.

A constituição de Estados de Bem-Estar Social e outras políticas ativas de redução das flutuações econômicas passaram a fazer parte das recomendações de muitos economistas como forma de enfrentar esses problemas. Sabemos que, enquanto essas políticas foram adotadas, o mundo passou pela chamada “Era de Ouro do Capitalismo”, com crescimento econômico e redução das desigualdades.

Rompimento

No entanto, esse consenso teórico e político foi rompido a partir da década de 1970. Como ressaltam Dardot e Laval , a partir dos governos conservadores de Reagan e Thatcher houve um questionamento sobre a regulação keynesiana macroeconômica, a propriedade pública das empresas, o sistema fiscal progressivo, a proteção social, o enquadramento do setor privado por regulamentações estritas, especialmente em matéria de direito trabalhista e representação dos assalariados – embora a primeira experiência mundial dessa nova visão tenha sido o Chile, no governo Pinochet , ainda no início dos anos 1970.

IHU On-Line – De que forma o neoliberalismo e a financeirização transformaram, ao mesmo tempo, a economia em uma ciência mais complexa – no sentido de que ninguém entende bem seus mecanismos de funcionamento – e a teoria econômica em uma ciência mais vulgar, pobre intelectualmente – no sentido de que há cada vez menos senso crítico?
Esther Dweck – As políticas que foram sendo impostas aos países a partir desse receituário neoliberal foram liberalização financeira, liberalização comercial, privatização, liberalização dos fluxos financeiros, desregulamentação dos mercados financeiros domésticos e uma mudança na lógica da política fiscal, que passou a ter como único objetivo, ou objetivo principal, a sustentabilidade da dívida pública, de forma a garantir a estabilidade e o retorno esperado do capital, em consonância com abertura financeira. Assim, a política fiscal deixa de ter como objetivo a estabilidade do crescimento e a distribuição da renda e passa a ser a fiadora do espaço de valorização do capital.

Nesse sentido, há uma mudança na correlação de forças internas a cada país, os Estados vão aos poucos perdendo a capacidade de coordenar os investimentos públicos e privados, perdem capacidade de fomentar o crescimento e a geração de emprego e há uma maior suscetibilidade das economias nacionais a crises internas e externas. A consequência, por um lado, é de uma perda de autonomia nas políticas econômicas, as economias nacionais ficam mais sujeitas às flutuações nos mercados internacionais e aumenta a complexidade na administração das economias nacionais, dos países emergentes.

Por outro lado, desde o governo Thatcher, procura-se passar a ideia de que não há alternativa econômica a essa visão, o que ficou conhecido como TINA (There is no alternative). No entanto, países como China, e mesmo outros asiáticos, demonstraram que esse caminho proposto nas décadas de 1980 e 1990 não era o único. Depois da crise asiática, em 1997, houve alguma reversão dos processos de abertura dos países asiáticos, que passaram a se proteger mais. Aqui no Brasil, a partir de 2003, aproveitamos o período de forte liquidez internacional para acumular reservas e paramos o caminho de maior abertura e integração aos países centrais. Adotamos uma estratégia mais centrada no mercado interno, por meio de políticas de redistribuição de renda, e demos um forte impulso aos investimentos públicos e à coordenação dos investimentos pelo Estado. Infelizmente, depois de 2016, mesmo com os resultados positivos dessa estratégia, voltamos a uma total submissão aos preceitos neoliberais.

IHU On-Line – De que forma a Emenda Constitucional 95, que restringe os recursos orçamentários, a reforma trabalhista e a proposta de reforma da Previdência impactam e geram restrições às políticas econômicas de Estado em diferentes níveis?
Esther Dweck – Essas três grandes reformas são um exemplo dessa nova submissão. Na realidade, são uma destruição do que ainda tínhamos de uma estrutura institucional que permitia pensar em um projeto mais inclusivo para o Brasil. Vejamos, como apresentamos no livro Economia para Poucos: Impactos Sociais da Austeridade e Alternativas para o Brasil, que organizei em conjunto com Pedro Rossi e Ana Luiza Matos de Oliveira , a EC 95/2016 é uma destruição da Constituição de 1988. A EC 95/2016 institui uma política de austeridade permanente. Ao impedir um crescimento real dos gastos primários (aqueles que incluem benefícios sociais, saúde, educação, justiça, cultura, segurança pública, entre outros), ela impõe um corte permanente em termos dos gastos por cidadão e como proporção do PIB. Além disso, é uma política recessiva, que acentua o quadro de estagnação econômica por que estamos passando.

A emenda retira o poder do congresso e da sociedade de moldar o tamanho do orçamento público e provoca um acirramento do conflito distributivo dentro do orçamento. Assim, impõe outro projeto de país, incompatível com aquele almejado pela Constituição de 1988. Da forma como está, será muito difícil cumprir o limite de gastos estipulado pela EC, mas vai permitir um projeto permanente de ajuste liberal, pois exige diversas outras reformas. Na própria emenda, já foram reduzidos os mínimos constitucionais de saúde e educação. Isso já está causando uma redução do financiamento da atenção básica, com consequências trágicas, como o aumento da mortalidade infantil e materna.

No livro, os diversos artigos apresentam os resultados desastrosos que já estão ocorrendo e os que ainda vão acontecer nas mais diversas áreas. Dentre as reformas impostas pela EC 95, a reforma da Previdência foi a que veio na sequência. A proposta de reforma apresentada pelo governo Bolsonaro, assim como a de Temer, com o discurso falacioso de corte dos privilégios, na verdade é um ataque ao regime solidário e de repartição atual brasileiro. O Regime de Previdência Social brasileiro é um dos importantes instrumentos de transferências sociais e quase 70% dos benefícios se concentram em um salário mínimo. Ao aumentar o tempo mínimo de contribuição, alterar as regras da aposentadoria rural e mudar o critério para o direito Benefício de Prestação Continuada – BPC, a proposta atinge os mais pobres e desmonta um importante colchão de prevenção de crise social no Brasil.

Finalmente, a reforma trabalhista procura retirar todo o poder de barganha dos trabalhadores, ao procurar igualar o mercado formal ao informal. Isso acaba desprotegendo os trabalhadores e beneficiando os patrões.

IHU On-Line – Quais são as consequências sociais do aprofundamento das políticas neoliberais? O que a experiência em outros países tem a nos ensinar?
Esther Dweck – O resultado é muito claro e já estamos vendo no Brasil. Assim como ocorreu em outras partes do mundo, principalmente após 2010, essas políticas levam à recessão econômica e ao caos social. Na Europa e nos Estados Unidos, depois do retorno às políticas de austeridade em 2010, diversos trabalhos têm apontado como isso gerou três resultados claros: 1) a recuperação mais lenta de uma crise econômica na história; 2) um forte aumento da desigualdade com piora de diversos indicadores sociais; 3) piora nos resultados fiscais, o que vem sendo chamado de ajuste fiscal autodestrutivo, ou seja, o ajuste fiscal acaba contribuindo para uma recuperação lenta ou para uma acentuação da crise e isso reduz ainda mais a arrecadação tributária. Como sabemos, esses resultados estão presentes no Brasil, portanto essas políticas trazem impactos negativos nas três esferas: econômica, social e fiscal.

IHU On-Line – Como superar a recessão econômica sem cair em um desenvolvimentismo, não raro assassino e ambientalmente devastador? Qual nossa perspectiva de futuro?
Esther Dweck – Na conclusão do livro que mencionei acima, apresentamos um esboço de um projeto social de desenvolvimento econômico sustentável. Em um livro lançado recentemente pela Cepal , Alternativas para o desenvolvimento brasileiro: Novos horizontes para a mudança estrutural com igualdade , há um conjunto de textos que apontam nessa direção. O meu texto com o Pedro Rossi nesse livro, “Políticas sociais, distribuição, crescimento e mudança estrutural”, avança na ideia que desenvolvemos antes. Nesse texto apontamos que é preciso colocar no centro de um novo modelo de desenvolvimento a redução da desigualdade de renda e aumento do investimento social, ambos fundamentais para acelerar o crescimento econômico de forma mais inclusiva e ambientalmente sustentável.

A lógica que queremos demonstrar é que esse é um projeto que não apenas garante maior justiça social e reparação histórica à enorme desigualdade brasileira, como também tem enorme potencial de dinamizar a economia dada a enorme concentração de renda e a carência de infraestrutura social. Nesse sentido, há um potencial de décadas de investimentos sociais a serem executados para que possamos atingir níveis adequados, e há um longo caminho redistributivo para que os níveis de desigualdade sejam aceitáveis.

Enfim, é cada vez mais importante repensar o modelo de desenvolvimento e deixar de lado a falsa dicotomia entre a questão social e ambiental e a questão econômica se quisermos garantir de fato uma mudança estrutural com igualdade. Nesse livro também tem um texto da Camila Gramkow muito interessante sobre a questão ambiental: “De obstáculo a motor do desenvolvimento econômico: o papel da agenda climática no desenvolvimento”, que eu acho que vale a pena como forma de repensar o papel da agenda ambiental no Brasil.

IHU On-Line – O papa Francisco vem defendendo a constituição de uma nova lógica econômica, concebendo uma “economia que não mata”. Como a senhora apreende essas críticas de Bergoglio ao atual sistema econômico? E qual a viabilidade, do ponto de vista do campo econômico, da implementação de uma economia eticamente responsável, como proposto por ele nos debates que devem ocorrer em Assis no ano que vem? 
Esther Dweck – Acho que há diversos economistas dispostos a se engajar nessa agenda de “estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda”. Infelizmente, não é por onde têm caminhado as políticas econômicas adotadas pelos dirigentes das principais economias mundiais, mas há sim diversos economistas dispostos a repensar a economia. Acho que a iniciativa do Institute for New Economic Thinking – INET é uma dessas aberturas para tentarmos repensar a forma de ensinar e praticar economia.

Caso contrário, continuaremos nessa trajetória de um mundo cada vez mais polarizado, com as desigualdades crescentes e incapaz de garantir o mínimo para sobrevivência para grande parte da população. A consequência desse descaso por parte das autoridades, como podemos ver no Brasil, é um aumento da violência e o fim de qualquer empatia entre as pessoas. O fato de que muitos acham normal o Estado estar autorizado a fazer uma verdadeira guerra aos jovens negros e pobres brasileiros é um sintoma de que a nossa sociedade está doente.

IHU On-Line – Quais são os desafios para construir uma economia eticamente responsável, capaz de defender de forma irrestrita as vidas humana, animal e do meio ambiente?
Esther Dweck – Existem muitos grupos interessados no avanço do projeto neoliberal Brasil, um projeto que acaba com os mecanismos de proteção social e de redistribuição de renda. Não é à toa que as elites brasileiras se uniram em torno de um projeto de destruição do tecido social, de venda dos ativos nacionais, perda de soberania e ambientalmente irresponsável. Infelizmente, ainda não há uma consciência por grande parte da população dos efeitos dessa política sobre a vida da grande maioria da população e esses grupos estão conseguindo garantir o seu projeto de uma economia para poucos, para muito poucos.

 

 

“Bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida”

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Historiadora Armelle Enders comenta os ataques de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa e descontrói FHC

A historiadora francesa Armelle Enders é apaixonada pelo Brasil, país que visita e estuda há mais de 30 anos. Nesta entrevista a Carta Capital, ela comenta o episódio dos ataques grosseiros desferidos por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. “O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é uma coisa que instiga a homofobia deles. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual”.

A historiadora desconstrói ainda a personagem de Fernando Henrique Cardoso, “que goza de uma reputação de esquerda esclarecida entre franceses de sua geração, mas é, na realidade, um coronel da política brasileira que faz em Paris análises totalmente equivocadas sobre a realidade do País”.

Professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris 8 e pesquisadora do Institut d’Histoire du Temps Présent, Armelle Enders publicou, entre outros livros, A História do Rio de Janeiro (Editora Gryphus) e Histoire du Brésil (Chandeigne), que acaba de ganhar a terceira edição, atualizada com a eleição de Bolsonaro.

Carta Capital: Em janeiro deste ano, em Paris, FHC disse que não houve golpe de Estado, as instituições no Brasil funcionavam normalmente e a eleição de Bolsonaro foi a expressão da rejeição da corrupção e da violência.

Armelle Enders: Acho que há um divórcio entre a imagem que o FHC tem na França, por causa das relações que ele tem de amizade com uma certa inteligência francesa da geração dele, e a realidade. Ele tem uma imagem de esquerda esclarecida, esquerda moderna, e na realidade é um coronel da política brasileira. Como historiadora, vejo como uma coisa típica que havia na Primeira República: políticos que tinham posições públicas progressistas e, na verdade, no reduto eleitoral de poder deles, eram muito atrasados, oligarcas tradicionais. A análise dele é equivocada. É a versão do PSDB, surgida antes da campanha de 2014, de que o “lulopetismo era um sistema para se perpetuar no poder”. A propaganda foi massiva e espalhou-se. Pode-se contestar o PT, num contexto democrático isso faz parte da luta política. Mas, com o golpe, a situação política no País virou uma construção diabólica, de destruição do Estado.

CC: Uma construção diabólica?

AE: O PT foi acusado de se corromper para manter um projeto autoritário de poder. Foi isso o que os brasileiros teriam rejeitado. A afirmação de FHC é a consagração dessa lógica, que se desenvolveu num contexto de eleições, mas virou verdade para muita gente. Acabou por abalar as consciências. Outro argumento foi usado no pleito de 2018: o PT e Bolsonaro são dois extremos. Então, ambos devem ser rejeitados. Esses dois temas são desdobramento do contexto eleitoral, mas totalmente equivocados.

CC: O escritor chileno Ariel Dorfman afirmou recentemente: “O Brasil continua de costas para seu passado. A impunidade das Forças Armadas brasileiras abriu o caminho para Bolsonaro ser presidente e dizer as barbaridades que pronuncia diariamente”. Concorda?

AE: Na verdade, esse conflito nasce da correlação de forças no final da ditadura. A extrema-direita militar e civil negociou uma transição pretensamente democrática feita por cima, um acordão. O poder estava do lado dos militares, o que estava em jogo era a anistia. Foi preciso escolher: ou a ditadura persiste ou se processa os militares. O preço foi uma anistia negociada, sem punição. O problema sempre surge em função dos militares.

CC: Por que não se revogou a Lei da Anistia, como Néstor Kirchner fez na Argentina?

AE: Essa correlação de poder se manteve. A Comissão Nacional da Verdade desfez o pacto da Anistia, mas sem julgar os torturadores e responsáveis por crimes contra a humanidade.

CC: E essa série de incidentes degradantes e ridículos protagonizada por Bolsonaro, Guedes e outros em relação à França? Houve ofensas à mulher do presidente Macron que envergonham qualquer brasileiro decente.

AE: Analiso em dois níveis. Primeiro, o nível político, da relação do Brasil de Bolsonaro com o governo americano e Trump. Houve atritos entre Trump e o presidente Macron. Logo em seguida, começaram os atritos do Bolsonaro com Macron, o alinhamento era evidente. Foi também uma maneira de Bolsonaro agitar a bandeira da soberania diante das velhas potências europeias. Há ainda um componente cultural. A representação da Europa, e particularmente da França, é o contrário da ideologia dos bolsonaristas. A França é representada pela cultura, sofisticação de uma certa elite brasileira tradicional. O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é algo que instiga a homofobia. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual. Macron valoriza a cultura, não é o estilo varonil do russo Vladimir Putin. O casal que ele forma com Brigitte, uma mulher culta e mais velha, representa tudo o que eles odeiam.

CC: Bolsonaro não esconde o interesse de se apropriar das terras indígenas para favorecer o agronegócio e explorar as riquezas do subsolo. Como a comunidade internacional pode ajudar a proteger a biodiversidade da Amazônia, mas também a proteger essas populações?

AE: Políticos populistas, como Trump, Netanyahu ou Putin, desrespeitam totalmente as instituições internacionais. Imagino que Bolsonaro fará a mesma coisa. As ONGs sofrem perseguição do governo brasileiro, e há ainda os consumidores do mundo. O que pode alterar a situação do Brasil da era Bolsonaro são os interesses econômicos. Mas não é fácil, porque muitas empresas multinacionais lucram com o bolsonarismo.

CC: Em artigo publicado no Le Monde, o filósofo Alain Badiou sustentou que o capitalismo é o responsável pela destruição do planeta. E propôs: “Que não exista propriedade privada do que deve ser comum, a saber a produção de tudo o que é necessário à vida”.

AE: Na verdade, a única alternativa que tivemos ao capitalismo foi a União Soviética, que em relação ao meio ambiente também não foi exemplar. É uma crise não só do capitalismo, mas da civilização, do que era a social-democracia. Não acredito também na economia administrada ou num Estado todo-poderoso, que pode acabar sendo predador.

CC: Qual seria a solução?

AE: É uma questão de consentimento das populações. Uma grande parcela apoia a predação. É difícil resolver.

CC: Será resolvido somente quando todos perceberem que estamos à beira do precipício?

AE: Já estamos. Aparentemente, há uma consciência mais nítida do que muitos anos atrás. O Brasil tem uma coisa mais forte, uma tradição escravocrata, que vem da época colonial. E o Bolsonaro refere-se a isso no imaginário da conquista do Oeste. Existe a ideia de que o território do Brasil é infinito. Pode-se explorar as terras à vontade, com permissividade absoluta.

 

Literatura Espírita e as memórias dos mundos espirituais

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Uma das obras mais interessantes da Doutrina dos Espíritos, escrita pela médium carioca Yvonne do Amaral Pereira Memórias de um suicida, nos traz inúmeros elementos para reflexão e compreensão da alma humana, um livro magistral que acredito deva estar em um lugar de destaque na literatura espírita, uma obra memorável, sem dúvida um dos dez melhores livros desta corrente que une filosofia, religião e ciência.

O livro nos mostra como os seres humanos que tiraram suas vidas passam por dificuldades das mais severas possíveis quando chegam ao mundo dos espíritos, mostra-nos em detalhes o sofrimento humano, as dores e os medos que acompanham estes irmãos desencarnados, suas trajetórias e comportamentos, suas dúvidas e remorsos, seus questionamentos e o reconhecimento de quanto se esquivaram dos conhecimentos íntimos e pessoais, embora a obra retrate a experiência de um grupo de cinco pessoas que fizeram da adversidade um elemento de união e de aproximação, unindo tramas e enxugando, uns dos outros, as lágrimas que teimavam em inundar suas faces assustadas e conscientes dos erros cometidos.

Na obra percebemos que nos unimos de acordo com nossos sentimentos e energias, quando pensamos, quando vibramos e quando falamos, atraímos as energias que dialogam com nossos pensamentos e vibrações, estas energias nos acompanham enquanto nossos pensamentos estiverem vinculados mais intimamente. Os personagens do livro se encontraram em momentos de adversidades e medos, todos assustados e buscando respostas para tudo que sentiam, as dores eram imensas, o cheiro era tenebroso e as vibrações eram agressivas e violentas, o ambiente era de grande apreensão, mas só poderiam sair deste local se conseguissem vencer seus medos e orassem, deixassem de lado o orgulho e a arrogância, pedindo auxílio e proteção, ao fazê-los seriam atendidos por grupos socorristas do mundo espiritual que atuavam nestas imediações.

A obra nos leva a conhecer o Instituto Maria de Nazaré, instituição criada e mantida pela mãe de Jesus Cristo, esta casa poderia ser descrita como um espaço de recolhimento e auxílio para todos os indivíduos que tivessem atentado contra suas próprias vidas, espíritos desesperados e pobres de sentimentos edificantes, espíritos doentes e necessitados de um intenso apoio e compreensão. A administração da casa era altamente capacitada tanto intelectualmente quanto moralmente, com espíritos dotados de grande sensibilidade e carisma, cujos conhecimentos eram de grande valia para os atendimentos a irmãos em situação degradante e vexatória.

O Memórias de um suicida nos mostra como somos observados pelos irmãos de planos superiores, num determinado momento do relato, um dos personagens da obra pergunta aos gestores do Instituto, por que deles terem ficado tanto tempo nos pântanos do mundo espiritual?  Na resposta o amigo espiritual destaca que estes irmãos sempre estiveram sendo observados pelos trabalhadores do Instituto, estes apenas não receberam permissão para socorrê-los já que para isso estes irmãos em desespero precisariam vencer suas vaidades pessoais e buscar o auxílio de Deus e dos amigos espirituais.

Um dos maiores dramas que acometem estes irmãos suicidas é o remorso, a atitude insana destes indivíduos causou graves constrangimentos para seus familiares e amigos mais próximos, todos são afetados por este gesto agressivo e violento cometido num instante de irracionalidade que vai impactar em suas trajetórias durante muitos anos, séculos ou milênios. As lembranças dos familiares, suas dificuldades materiais e seus desequilíbrios emocionais e espirituais causam graves dores aos irmãos suicidas, que constantemente se veem chorando com lembranças amargas e desagradáveis, o remorso os corrói intimamente, uma dor insana que aumenta o arrependimento e os vincula cada vez mais aos rumos daqueles que permaneceram encarnados no mundo material.

Na obra percebemos o quanto a junção do conhecimento com os valores morais e religiosos transformam os seres humanos, nas reflexões todos os internados percebem quanto perderam tempo com mediocridades e coisas secundárias, deixando de lado valores mais sólidos e consistentes. Os personagens do livro são todos descritos como homens inteligentes e dotados de amplos conhecimentos científicos, todos viveram em condições de grandes prazeres materiais, acumularam recursos financeiros e se deixaram levar pelo personalismo, pela vaidade e pelo orgulho, energias e sentimentos que nos acompanham e nos trazem constrangimentos dos mais severos e imediatos.

Embora inteligentes e conhecedores das mais variadas ciências do mundo, cada um retornou ao mundo espiritual vitimado por suas fraquezas mais intensas, um escritor reconhecido mundialmente sucumbiu à cegueira, um professor respeitado se suicidou em decorrência de uma moléstia física, um comerciante tirou sua vida depois de se ver na miséria e na falência material, outro personagem se deixou levar pelo ciúmes da esposa, matando-a e depois se suicidando, cada um vitimado por dores intensas que acometiam suas almas, orgulhos generalizados e uma ausência dos valores espirituais mais verdadeiros.

O livro nos mostra que todos os personagens tomaram a triste decisão de suicídio porque acreditavam que conseguiriam, com este ato, fugir de seus dramas pessoais, o medo e o orgulho superaram todos as outras dificuldades e os levaram a acreditar que a morte era o verdadeiro fim. Quando acordaram em regiões tenebrosas (umbral) e perceberam que a morte não existe e os dramas que viviam eram verdadeiros e intensos, se desesperaram e viram seus desequilíbrios e suas dificuldades aumentarem de forma exponencial.

Os seres humanos muitas vezes se entregam aos conhecimentos, estudam e aprendem sobre várias ciências, absorvem conhecimentos científicos e tecnológicos de suma importância e passam a acreditar que, com estes conhecimentos, estão em condições melhores e superiores aos outros indivíduos, constroem intimamente ideias e teorias de que estes conhecimentos os tornam melhores e mais importantes, são irmãos doentes que se esquecem que os conhecimentos sem os valores morais os indivíduos regridem e perdem oportunidades sublimes para seu crescimento e desenvolvimento espiritual.

Os personagens retratados na obra são indivíduos inteligentes e dotados de grandes conhecimentos científicos, são intelectuais que não deixaram o conhecimento os transformarem enquanto seres humanos, se deixaram levar pela arrogância e pelo orgulho e se esqueceram dos verdadeiros valores que nos foram trazidos pelo mestre de Nazaré. Camilo Cândido Botelho e Belarmino de Queiroz eram os mais capacitados intelectualmente, o primeiro um dos mais importantes escritores lusitanos de todos os tempos enquanto o outro era um renomado professor de Ética, de Dialética e de Matemática, ambos geniais nos conhecimentos materiais, mas verdadeiros leigos e ignorantes quando o assunto era o espírito, a imortalidade da alma e a inexistência da morte.

Nos momentos que passaram no Instituto Maria de Nazaré, assistiram palestras, fizeram visitas a enfermos, participaram de missões e tiveram a oportunidade de aprender lições das mais valiosas, conseguindo visualizar seus equívocos, conheceram os conhecimentos da terceira revelação, assistiram suas vidas anteriores e seus mais severos desatinos e puderam escolher os momentos para seus retornos ao mundo material, tendo a consciência de que seus gestos tresloucados os fariam passar por privações física ou emocional que contribuiriam para seus resgates e crescimento moral. Em todos estes momentos de lembranças, as emoções os dominavam de forma acelerada, as imagens pregressas eram agressivas, os medos vinham à tona e geravam grandes desatinos, todos passaram a conhecer suas desditas e percebiam, com isso, que a única forma de se libertar dos desajustes cometidos em vidas anteriores eram o retorno ao mundo material, a reencarnação era o remédio indicado para todos os irmãos, mas a forma como reencarnariam assustava a todos indistintamente.

A literatura espírita nos mostra que a vida verdadeira se dá no mundo espiritual, quando a ele retornamos somos energeticamente atraídos pelas energias que mais se sintonizam com nossos valores, comportamentos e sentimentos, se nos utilizamos mal dos recursos que nos foram dados pela espiritualidade maior somos atraídos a locais semelhantes e permaneceremos ali o tempo necessário para que consigamos vencer nossas dificuldades e limitações, agora se nos comportamos melhor e acordarmos em locais de assistência e tratamento espirituais, devemos nos recuperar e iniciar tratativas para novos trabalhos, estudos e reflexões, conversas edificantes com mentores espirituais, aprendizados com experiências pregressas de outros irmãos espirituais, sempre buscando a evolução, sempre aprendendo, sempre nos aperfeiçoando e estudando as leis que regem a sociedade e a vida, tudo isto contribui para nosso progresso espiritual.

Muitos irmãos acreditam que quando morrerem vão poder descansar ou que ao morrer passam desta para uma melhor, afirmam isto com uma naturalidade e muitas vezes não refletem para perceber o significado de suas palavras e expressões. A vida no mundo espiritual pulsa com grande impulso, somos trabalhadores e devemos trabalhar intensamente enquanto Deus nos conceder a oportunidade do labor, este sim nos auxilia e nos leva a auxiliar todos os indivíduos que sofrem e mourejam em lágrimas de tristezas e dores alucinantes, são irmãos que necessitam deste abraço amigo, do consolo desinteressado e de valores morais sólidos e estruturados, o trabalho é fonte de progresso e de maturidade espiritual.

O Instituto Maria de Nazaré nos mostra como a organização é fundamental, como o respeito e o trabalho digno nos sinaliza os passos do progresso, encontramos neste instituto trabalhadores devotados nas mais variadas áreas e setores, desde os responsáveis pela vigilância, os lanceiros, os enfermeiros, os médicos, os assistentes, os diretores, dentre outros, todos seguindo as regras e os ensinamentos da grande educadora Maria de Nazaré. Da leitura de Memórias de um suicida, percebemos o quanto a ciência terrena ainda se encontra distante da ciência do mundo espiritual, carros velozes e máquinas sofisticadas são apresentadas e nos mostram o poder do conhecimento sendo utilizado para o bem comum e para o progresso de todos, desde os mais sábios até os mais ignorantes.

A obra quando de seu lançamento foi considerada muito agressiva pelos leitores, assim como o livro Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito de André Luiz, ambos abordavam o mundo espiritual e analisavam de forma direta ou indireta os sofrimentos e as dores de cada um dos irmãos que se deixaram levar pelo suicídio, direto ou indireto, um gesto tresloucado e agressivo que o indivíduo comete contra as Leis de Deus, estas são obras essenciais e de grande relevância que nos auxiliam na compreensão das dores que acometem os seres humanos.

A literatura espírita é muito rica em obras que analisam o mundo espiritual, a imortalidade da alma, a reencarnação, as dores e os sentimentos, as energias e as vibrações, a leitura destas obras nos auxilia e nos prepara para a compreensão das Leis de Deus, estes livros são estudados tanto no mundo material quanto no espiritual, são conhecimentos que nos aproximam dos valores universais mais edificantes, num momento de grandes inquietações, transformações radicais e medos generalizados nada melhor que nos prepararmos para o um futuro mais promissor e verdadeiro, seguindo a máxima estude Kardec para entender Jesus.

‘É mentira que o Brasil vai quebrar se não fizer as reformas”, afirma Pedro Rossi

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Em entrevista ao Brasil de Fato, economista disse que o país precisa é de reformas na institucionalidade macroeconômica

“Nenhum economista deveria falar algo tão absurdo, porque o Brasil é um país soberano, emite a sua própria moeda, ele tem dívidas na sua própria moeda, e o país não vai quebrar. O Estado administra os recursos da sociedade e pode organizar esses recursos da maneira que ele quer, assim como o Estado pode se endividar muito mais que uma família”. Esse foi o eixo central da fala do economista e professor da

Unicamp Pedro Rossi no Seminário As reformas DESestruturantes do Estado de Bem-Estar Social, realizado pelo Instituto Justiça Fiscal (IJF), com apoio da Anfip e Fenafisco, dias 15 e 16 de agosto, em Porto Alegre.

Nesta entrevista exclusiva para o Brasil de Fato, Pedro Rossi fala sobre o seu estudo que aponta que o diagnóstico sobre a crise brasileira está errado e o remédio inadequado. Ele defende que o desequilíbrio fiscal não é culpa do gasto público, e sim do tripé macroeconômico dos últimos 20 anos que fracassou. “O que o Brasil precisa é de reformas na institucionalidade macroeconômica.”

Pedro Rossi é professor do Instituto de Economia da Unicamp, trabalha com os aspectos macroeconômicos do desenvolvimento brasileiro, com os impactos sociais da política fiscal e com o tema da taxa de câmbio e da política cambial. Formado em economia na UFRJ, com mestrado e doutorado na Unicamp, é pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON) da Unicamp e coordenador do conselho editorial do Brasil Debate. É autor do livro “Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil” e co-organizador do livro “Economia para poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil”.

Brasil de Fato RS – Em palestra recente em Porto Alegre falastes que o problema do Estado e da crise fiscal não seria o gasto público, mas que vem de uma política macroeconômica, como tu explica isso?

Pedro Rossi – Justamente, o problema fiscal brasileiro não vem do gasto público, não vem da previdência social, ele vem de outros determinantes. Isso é importante por quê? Porque essas reformas propostas usam como base um diagnóstico de que o problema brasileiro fiscal vem do gasto público, vem da previdência social que tem um espaço grande dentro do gasto público. Eu estou querendo mostrar com esse trabalho que há outros determinantes para evolução da dívida pública que não o gasto público, em particular o arranjo macroeconômico, ou seja, o chamado tripé macroeconômico.

BdFRS: O que é o tripé macroeconômico?

Pedro – O tripé macroeconômico está completando 20 anos. Ele foi instituído em 1999, depois da primeira fase do Plano Real que instituiu um regime de câmbio rígido no Brasil. O Plano Real controlou a inflação, teve esse êxito, esse mérito. Em 1999 tivemos uma crise cambial e a gente migrou para um regime macroeconômico que tem três partes, chamado de tripé: que é um regime de metas de inflação, um regime fiscal de metas de superávit primário, que recentemente foi agregada a meta do teto de gastos, e o regime de câmbio flutuante. Esses três regimes são geralmente muito comemorados no sentido de que eles dão estabilidade para o Brasil, mas eles não dão estabilidade ao Brasil.

E se a gente olhar para o resto do mundo, ou seja, fazer uma análise internacional, a gente vai ver que no Brasil nesses últimos 20 anos nós estamos na liderança de taxas de juros reais. Nós temos um patamar de inflação que não explica a nossa taxa de juros alta perto de outros países. Então nós fizemos um estudo e pegamos mais de 80 países, comparamos nos últimos 20 anos para verificar que o Brasil é fora da curva, a taxa de juros brasileira é fora da curva e não é a dívida pública que explica a taxa de juros. Se a gente pegar o serviço da dívida sobre e comparar com países que tem dívida pública mais ou menos igual a nossa, vemos que esses países pagam um serviço muito menor que o nosso. Ou seja, tem alguma coisa errada com o regime macroeconômico. Um patamar com a taxa de juros e também com a taxa de câmbio brasileira que é muito volátil, o real está sempre flutuando muito em relação ao dólar, muito mais que outras moedas. Nós também fizemos combinações internacionais e verificamos que sim, o real é campeão de volatilidade, isso dá problema, isso rebate no problema fiscal. Uma taxa de juros alta faz o Estado pagar muito pela sua dívida – problema fiscal, uma taxa de câmbio muito volátil faz o Estado usar a sua política cambial para tentar atenuar essa volatilidade, reservas cambiais que refletem com o pagamento de juros, que por sua vez são altos no Brasil.

Ou seja, as outras pernas do tripé contaminam o equilíbrio fiscal, e aí faz com que não conseguimos estabilizar a dívida pública. E por fim, nós fizemos um estudo e mostramos que os condicionantes da evolução da dívida pública no Brasil não são aqueles que geralmente são apontados, não é o gasto público. O que determina a evolução da dívida pública? É o crescimento econômico, se o crescimento for baixo a dívida tende a subir porque a relação dívida/PIB que é o determinante nesse indicador, e a taxa de juros, que geralmente puxa a dívida pública para cima.

O que aconteceu no Brasil recentemente? A gente vem pagando, principalmente em 2015/2016 um serviço da dívida maior e o crescimento tem contribuído muito menos para redução da dívida pública.

A dívida pública cresceu no Brasil recentemente não foi por causa do excesso de gastos sociais ou aposentadorias, foi principalmente por causa da queda do crescimento econômico e por causa de altos pagamentos de juros, em particular nos anos 2015/2016. Essa história que a culpa de tudo é do excesso de gastos é uma história falsa, para vender uma solução, que é uma solução que interessa a poucos. A história que o Brasil quebrou, que o Brasil vai quebrar, é mentira. Nenhum economista deveria falar algo tão absurdo, porque o Brasil é um país soberano, emite a sua própria moeda, ele tem dívidas na sua própria moeda, e o país não vai quebrar. O Estado administra os recursos da sociedade e pode organizar esses recursos da maneira que ele quer, assim como o Estado pode se endividar muito mais que uma família.

O Brasil quebrou na década de 1980 porque a gente devia em uma moeda estrangeira, a gente não emite dólar, o Estado brasileiro não organiza os recursos em dólar porque a sociedade brasileira trabalha com recursos na sua própria moeda. Então na década de 1980 nós quebramos porque a gente devida em moeda estrangeira. Fomos até o Fundo Monetário Internacional (FMI), pedimos dinheiro emprestado, o FMI veio, emprestou o dinheiro, isso no final da ditadura militar, fizemos uma moratória, nós atendemos as condicionalidades do FMI, fizemos o que eles queriam, preparamos nossa economia para conseguir dólar para poder pagar a dívida.

Cadê o FMI nesse momento? Não tem, porque a gente não precisa de empréstimos do FMI. Somos credores em dólar, nossa dívida não é em dólar, portanto nós não vamos quebrar, nossa dívida é em moeda nacional. Então é mentira a afirmação que diz que acabou o dinheiro, ou que o país vai quebrar. O governo tem dinheiro, ele organiza os recursos da sociedade, e o governo pode muito bem sim, fazer valer as aposentadorias, fazer valer o gasto social, o gasto com as universidades e organizando os recursos da sociedade. Taxando os mais ricos, eventualmente emitindo mais títulos nos momentos difíceis de crise. Ao recuperar o crescimento econômico ele pode estabilizar a sua dívida.

Então, essa retórica de que a culpa de tudo é do gasto público é uma retórica falsa. No fundo o Brasil tem problemas estruturais que estão por trás do sistema, que esses sim, são os verdadeiros problemas, por exemplo, uma taxa de juros estruturalmente alta, uma taxa de câmbio muito volátil, toda articulação que está por trás do tripé macroeconômico. Nós precisamos resolver esses problemas, são reformas realmente necessárias, porque o tamanho do Estado é a sociedade que define de acordo com os serviços que ela quer, e com os serviços que ela quer financiar coletivamente. Então é uma decisão da sociedade se organizar coletivamente e dizer: eu quero financiar saúde para todos, quero financiar educação para todos, eventualmente tem mais coisas, eu quero cultura, eu quero passe livre, e a sociedade discute democraticamente. Agora, dizer que o Estado não tem dinheiro é negar o processo democrático, porque o Estado tem dinheiro, o Estado organiza o dinheiro da sociedade.

A culpa não é do gasto público, ele está sendo demonizado para servir a interesses, se servir de diagnóstico para essas reformas que estão sendo implementadas, que cortam os gastos sociais e que cortam as aposentadorias.

BdFRS: E a que interesses servem essas versões mentirosas?

Pedro – Toda política fiscal influencia no processo distributivo e nas classes sociai. A política fiscal é de quem eu vou taxar, para quem eu vou gastar. Então se o Estado faz um gasto social ele está atendendo a demanda de uma parte da sociedade não de outra. Quando eu gasto com saúde no SUS eu estou atendendo a milhões de brasileiros de uma classe mais baixa; quando eu gasto com educação superior, são outros brasileiros que estão sendo atendidos. Assim que como eu tributo, estou tributando de um mais do que de outro. Então há interesses na sociedade brasileira que querem reduzir o papel do Estado no sentido do gasto público e no sentido, também, da sua tributação, no seu financiamento. São interesses que eu diria mesquinhos, de pessoas que não querem financiar o bem estar do outro, mesmo que esse outro seja um pobre, mesmo que esse outro seja um miserável, mesmo que esse outro não tenha acesso aos serviços básicos, e interesses maiores de setores econômicos que querem ocupar espaços que hoje o Estado ocupa. Hoje o Estado tem um papel fundamental no ensino superior, mas existem empresas privadas do ensino superior que querem ocupar esse espaço. A mesma coisa no sistema de saúde, existem planos de saúde que querem ocupar esse espaço, mesma coisa no sistema de educação básica, e por aí vai.

De certa maneira os serviços públicos concorrem com os serviços privados. Então esses serviços públicos estão interferindo em esferas de lucratividade do setor privado. Então há sim interesses maiores no sentido da redução do tamanho do Estado, da privatização dos seus serviços, que são interesses empresariais de grandes grupos econômicos.

BdFRS – E quais seriam, na tua opinião, as reformas estruturantes para garantir um Estado de bem-estar social? 

Pedro – Na minha opinião, primeiro, a gente precisa de planos emergências de emprego e renda para recuperar o emprego no Brasil e recuperar renda, e isso implica em gastos públicos, isso implica em acabar com o teto de gastos (a Emenda Constitucional 95 que congela o gasto público por 20 anos). Então a gente precisa reformar o regime fiscal para retomar a liberdade do Estado em influenciar no ciclo econômico, precisamos mexer nisso.

E a gente precisa regulamentar o setor financeiro, reduzir a volatilidade cambial, isso vai exigir menos da política monetária no sentido de juros altos, porque hoje, se o Banco Central baixa muito os juros, o capital estrangeiro vai para fora, a taxa de câmbio se desvaloriza e isso gera inflação, o que é ruim para todo mundo, inclusive para o próprio governo.

Agora, a gente precisa regulamentar o sistema para ter menos especulação no país. O Brasil virou um lugar onde os rentistas e os especuladores têm grandes ganhos. E um mundo onde as taxas de juros estão rastejando próximas de zero. O Brasil é um país extremamente aberto ao rentismo internacional e à especulação. Então nós precisamos reformar sim a conta financeira, aplicar controles de capital, regulamentar o mercado derivativo, que é um locus dessa especulação, e precisamos de um Banco Central que não atue somente na relação com os bancos, mas que melhore a qualidade da dívida pública brasileira, a qualidade da dívida pública é muito ruim. Além dos juros ser altos, o Banco Central oferece títulos com alta liquidez e pós-fixado, ou seja, são títulos sem riscos de preço. Isso é uma característica específica do Brasil, a maioria dos países tem um percentual muito menor dos chamados títulos pós-fixados. No Brasil não, uma grande parte da dívida pública é pós-fixado, ou seja, é imune aos riscos de flutuação de preços.

As reformas que a gente precisa é para evitar que a economia brasileira sofra choques cambiais para desmobilizar aquilo que vai gerando inflação no Brasil, por exemplo, a indexação da economia, os contratos de aluguéis, outros contratos que pegam a inflação passada, jogam para o futuro. Aí sim a gente vai conseguir jogar nossas taxas de juros mais para baixo. Isso abre espaço fiscal e também uma discussão que precisávamos ter, e que o Instituto Justiça Fiscal faz muito bem, é pensar o que nós queremos financiar para o nosso estado de bem-estar social e de que maneira vamos financiar, com uma carga tributária, solidária, mais justa, porque o país hoje não tem justiça fiscal.

BdFRS – Esse é outro mito, que se paga muito imposto no Brasil. Quem paga muito imposto no Brasil?

Pedro – Tem um dado que mostra que os 10% mais pobres pagam em torno de metade de sua renda de imposto, os 10% mais ricos pagam em torno de 26%. Por que isso? Porque boa parte da carga tributária está sobre bens e serviços. Então as pessoas mais pobres pagam sobre esses bens o mesmo preço que uma pessoa mais rica, e proporcionalmente a sua renda é muito mais. O imposto de renda e de propriedade e o imposto sobre a riqueza é muito baixo no Brasil, e sobre a distribuição dos lucros do capital, dos lucros do dividendo, ou seja, a rentabilidade do capital é pouco taxada. O Brasil aproveita pouco o mecanismo distributivo que a carga tributária oferece, diferente de outros países. Então o Brasil é um país que distribui com gasto público, gasto social, principalmente, que está sendo atacado nesse momento, e concentra com uma carga tributária. E o que está sendo discutido hoje não vai no sentido de melhorar essa distribuição, pelo contrário, com a mão que o Estado dá, eu vou diminuir o gasto social, e a mão que o Estado tira vai se manter a mesma, ou com uma reforma tributária como a que está sendo apontada, que não mexe na tributação de renda e patrimônio no Brasil.

BdFRS – Como fazer esse debate sobre a reforma tributária com a população que não entende o economês? 

Pedro – Eu acho que tem uma discussão que é relativamente simples. O que é justiça fiscal? A justiça fiscal ou a justiça tributária, por exemplo, a justiça tributária é, você tem que pagar proporcional ao quanto você ganha. Então se você ganha muito você tem que pagar muito, se você ganha pouco, você tem que pagar pouco. Isso é justo na nossa concepção. As pessoas com um mínimo de senso de solidariedade concordam com isso. Se eu ganho pouco eu tenho que pagar pouco, um cara que ganha muito tem que ganhar muito, e o que acontece no país não é isso, as pessoas que ganham muito, que estão lá no topo da distribuição de renda, pagam muito pouco.

A nossa carga tributária é injusta, ou seja, quem está financiando os gastos com saúde, educação, etc., não são os mais ricos, eles não estão financiando. Isso é um problema em termos de justiça fiscal e algo a ser corrigido. Então as pessoas têm que apontar o dedo e falar que está errado porque essas pessoas não estão pagando uma parte da conta. Porque a política fiscal é isso, nós temos educação e saúde básica é um acordo coletivo, que nós juntos, enquanto sociedade decidimos vamos todos nós financiar a educação da população brasileira, das crianças brasileiras, que esse é um princípio universal, que todos têm direito ao acesso à saúde e à educação.

Agora como a gente financia isso? Tem gente que não quer financiar, os mais ricos estão dizendo isso: eu não quero financiar. Aí se misturam todos os argumentos (que o Estado é corrupto, então o dinheiro vai para corrupção, os serviços públicos não funcionam…) para justificar uma redução do gasto social que no fundo prejudica os mais pobres. Quem é prejudicado com a redução do SUS? Quem é prejudicado com os cortes de recursos para educação? Mesmo no ensino superior que já se democratizou muito. Quem é prejudicado com a redução da assistência social, previdência? São os mais pobres, são os negros, são as mulheres. Então, nesse sentido é muito cruel essa face da política econômica que no fundo quer ajustar o Estado e promete crescer e gerar emprego, mas no fundo está reformando o Estado para atender a determinados interesses.

Edição: Marcelo Ferreira

*Publicado originalmente no Brasil de Fato