As entranhas do capitalismo, por Ladislau Dowbor

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No controle da revolução digital, o capital avança à sua fase financista, em que concentra a riqueza em escala jamais vista – sem produzir nada. Para os 99%, trabalho precário e desalento. Governança segue analógica, de mãos atadas e local

Ladislau Dowbor – OUTRAS PALAVRAS – 18/04/2023

O Dicionário de Cambridge define a mais-valia como “a diferença entre o valor que um trabalhador recebe e o valor que o trabalhador acrescenta aos bens ou serviços produzidos”. Não é preciso ser marxista para entender que os altos lucros obtidos com baixos salários levam à exploração e ao crescimento desequilibrado. Essa ainda é uma questão crucial, pois o ciclo econômico exige não apenas produção, mas também poder de compra para que os bens e serviços possam ser vendidos. Na tradicional economia industrial do século 20, um equilíbrio razoável foi alcançado através do New Deal nos EUA e do Welfare State em alguns países, basicamente do Norte Global, com políticas públicas equilibrando interesses por meio de tributação progressiva e provisão de bens e serviços públicos. Esse equilíbrio foi derrubado pela extração de riqueza atualmente dominante por meio do rentismo, ou geração improdutiva de riqueza, acima e muito além da mais-valia tradicional. Chamamos isso de neoliberalismo, mas não há nada de liberal nessa história.

Um desafio importante é considerar até que ponto os novos mecanismos de apropriação de riqueza representam uma mudança sistêmica. A escravidão como sistema era caracterizada pela extração de riqueza por meio do controle brutal e da propriedade dos humanos, fazendo com que os escravos trabalhassem para seus donos. Lembremos que não é algo distante, no Brasil foi formalmente abolida no final do século XIX, e subsistiu como prática ilegal até o século XX, também nos EUA, já na era capitalista moderna. O capitalismo não se importa em usar o controle pré-capitalista da força de trabalho. O feudalismo também representou um sistema, consistindo basicamente em uma era de riqueza baseada na agricultura, controle da terra através de feudos e controle dos trabalhadores através da servidão. O apartheid na África do Sul também foi um sistema, com africanos confinados em territórios delimitados, autorizados a ganhar um salário se tivessem um “passe”, levando a uma curiosa mistura de mineração, indústria e serviços modernos e exclusão territorial. O mundo capitalista não se importou com esse sistema, que aliás ainda funciona na Palestina.

O atual capitalismo financeirizado representa um novo sistema, um “modo de produção” no sentido sistêmico? Marx estudou o mecanismo financeiro e o chamou de “capital fictício”, na medida em que seus ganhos dependiam de um segundo nível de extração, tirando parte dos lucros por meio de juros. Mas era um mero complemento da lógica industrial dominante. Na era atual do que se convencionou chamar de neoliberalismo, François Chesnais atualizou a discussão ao mostrar quão dominante o sistema de intermediação financeira havia se tornado, a ponto de mudar a lógica geral do capitalismo, o que ele chamou de “totalidade sistêmica”, baseada no rentismo e globalização financeira. O que vemos nos últimos anos é uma explosão de estudos sobre o funcionamento desse novo sistema, que, na verdade, pouco tem a ver com a tradicional acumulação de capital e apropriação de mais-valia que ainda ensinamos em nossas universidades. O que estamos enfrentando representa sim uma mudança sistêmica, um outro “modo de produção”, envolvendo a base tecnológica, as relações sociais de produção, a forma de apropriação da riqueza e o quadro institucional.

Robert Reich nos traz à realidade, sobre a origem dos grandes lucros: “Nas décadas de 1950 e 1960, quando a atividade bancária era uma coisa chata, o setor financeiro respondia por apenas 10 a 15% dos lucros corporativos dos Estados Unidos. Mas a desregulamentação tornou as finanças não só empolgantes como extremamente lucrativas. Em meados da década de 1980, o setor financeiro reivindicava 30% dos lucros corporativos e, em 2001 – época em que Wall Street havia se tornado uma gigantesca casa de apostas na qual a casa recebia uma grande parcela das apostas –, reivindicava impressionantes 40%. Isso foi mais de quatro vezes os lucros obtidos em toda a indústria dos EUA.”1. Não são lucros baseados na produção, mas na intermediação financeira e na especulação.

Enquanto Davos afirma que estamos na era da Indústria 4.0, na verdade, estamos na era do rentismo financeiro improdutivo, mas também de outras formas de apropriação improdutiva da riqueza social, inclusive dos bens comuns. Brett Christophers vai direto ao ponto essencial: “Os lucros têm assumido cada vez mais a forma de rentas econômicas – incluindo, entre outras, rentas financeiras – em vez de renda do comércio ou da produção de commodities.” Rentismo e lucro são radicalmente diferentes: “A definição de renta (rent) que uso aqui, então, é efetivamente um híbrido de heterodoxo e ortodoxo: renta derivada da propriedade, posse ou controle de ativos escassos em condições de concorrência limitada ou inexistente”.2 Se a forma dominante de apropriação da riqueza não é mais “comércio e produção de mercadorias”, isso é capitalismo? Com a revolução industrial, o setor agrícola continuou sendo importante para a economia, mas a reestruturação da sociedade como um todo atendeu aos interesses do desenvolvimento industrial e gerou um novo modo de produção. Como está a transformação atual?

A revolução digital é tão profunda em termos de transformação da nossa sociedade quanto foi a revolução industrial há dois séculos. Está transformando a principal forma de apropriação da riqueza por meio da renta de ativos improdutivos, em vez do lucro de atividades produtivas. E as relações trabalhistas estão migrando de sistemas regulares de salários e benefícios sociais seguros para numerosos contratos flexíveis, precariados e empregos informais. Quanto ao quadro institucional, estamos migrando de uma regulamentação de base nacional para uma tomada de poder corporativa global. O controle social, por sua vez, passa do trabalho organizado, com sindicatos e negociações, para um processo global de vigilância e manipulação por meio de algoritmos e de informações e marketing orientados pelo comportamento.

O mais alto poder emergente já não está nas mãos de empresas como a Ford ou a Toyota, mas de plataformas de comunicação e intermediação como Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft (GAFAM), ou plataformas de gestão de ativos financeiros como BlackRock, State Street, Vanguard ou Crédit Suisse/UBS, para citar apenas algumas. O papel do Estado não é mais garantir o equilíbrio geral, mas sim cavar um lugar melhor para o país, no jogo de interesses globais que ele não controla. Chamamos isso de “amigável ao mercado” (market-friendly), embora tenha pouco a ver com a tradicional competição de livre mercado. E temos plataformas globais, incluindo o mundo financeiro, mas nenhuma governança global.

Colocamos essa questão há dois anos, em um artigo chamado It is not a tiger anymore: capitalism woes [Não é mais um tigre: os problemas do capitalismo]. Em vez de apontar para as listras que mudam no tigre, devemos dar um passo atrás e considerar se ainda se trata de um tigre. Como na lógica tradicional, uma certa quantidade de mudanças quantitativas acaba levando a uma transformação qualitativa. Podemos usar o paralelo da Revolução Francesa: em 1789, a indústria, o comércio e os bancos já pressionavam por espaço político, enquanto os aristocratas dançavam em Versalhes. Em expressões atuais, a economia está na era digital, enquanto os fragmentados 193 governos nacionais ainda estão na era analógica. A nova economia não se encaixa no quadro institucional e o resultado é um caos global de alta tecnologia.3

Tantas instituições e pesquisadores preocupados têm gritado o mais alto que podem, apontando para os dramas resultantes. Um exemplo é o número trágico de meninas e mulheres adolescentes em idade reprodutiva: “Mais de 1 bilhão de meninas adolescentes e mulheres sofrem de desnutrição (incluindo baixo peso e baixa estatura), deficiências em micronutrientes essenciais e anemia, com consequências devastadoras para suas vidas e bem-estar.”4 Isso tem consequências catastróficas tanto para as mães quanto para as crianças. Como toleramos isso? Tomando apenas o exemplo da produção mundial de cereais, os 2.774 milhões de toneladas em 2022 significam que produzimos 1 kg por habitante por dia. Uma ração completa de consumo diário adulto de arroz, para dar uma referência, é de 180 gramas. Este é apenas um exemplo. Temos todos os números sobre as mudanças climáticas e podemos até assistir às catástrofes na TV. Os dramas da biodiversidade são apresentados em muitos relatórios. O plástico está em toda parte, e essa é apenas uma dimensão mais visível da poluição global: as corporações o produzem, embolsam os lucros, mas descartam qualquer responsabilidade pelo que acontece depois. Contaminação do solo, destruição de florestas originais no Brasil, Indonésia e Congo, a lista não termina. Olhamos para os dramas que se aprofundam e, caramba, já está na hora de levar as crianças para a escola… Dramas globais e desamparos individuais, o curto prazo se sobrepõe aos desafios estruturais, e vamos cuidar da vida.

A questão, obviamente, é que para além dos dramas temos que olhar para a governança, ou para a ausência de governança, que os gera e nos impede de revertê-los. Quer se chame de “novo contrato ecossocial” como nos relatórios da ONU, ou “green new deal” em tantas organizações sociais, ou “novas regras para o século XXI” nos escritos de Stiglitz, o fato é que o principal desafio está na criação das instituições que nos permitam enfrentar as tendências mais desastrosas.

A ideia é que devemos parar de nos agarrar a discussões ideológicas obsoletas sobre capitalismo/socialismo, ou estado/mercados, e levar a nossa construção de consensos aos meios práticos de enfrentar as questões-chave. Muitos deles são globais e não temos um processo de tomada de decisão global. Dani Rodrik, ao discutir a fratura tecnológica global, dimensão importante de nossos desafios, sugere que devemos usar os mecanismos de governança que temos, que são os governos nacionais e locais, para gerar os pactos regionais e globais necessários. “A cooperação regulatória transnacional e as políticas antitruste podem produzir novos padrões e mecanismos de aplicação. Mesmo onde uma abordagem verdadeiramente global não é possível – porque países autoritários e democráticos têm divergências profundas sobre privacidade, por exemplo – ainda é possível que as democracias cooperem entre si e desenvolvam regras conjuntas.”5 No Brasil, temos trabalhado em uma abordagem local de baixo para cima, propondo a descentralização, e ela é promissora. Mas nada disso atinge a escala da deformação sistêmica que estamos enfrentando.

Temos problemas globais, mas governos em nível nacional, finanças especulativas em vez de investimento produtivo, busca de renta em vez de lucros em insumos socialmente úteis, comunicação baseada em comportamento em vez de informações honestas, e narrativas em vez de transparência.

Mas, acima de tudo, temos sistemas de governança empacados no passado analógico, perdidos no turbilhão da nova revolução digital e no novo conjunto de desafios. Os conflitos estão aumentando em todos os lugares, mas as soluções não estão apenas no nível nacional. Este é um novo sistema, gerado pela revolução digital, e devemos nos concentrar nas questões de governança que a ele correspondem. A Economia guiada por missões, tal como Mazzucato apresenta a questão, parece uma abordagem razoável. Para o Brasil, sistematizei propostas no texto Resgate da função social da economia: uma questão de dignidade humana. Quão fundo devemos afundar no caos global antes que surja energia política suficiente para a mudança?

A saúde dos planos de saúde, por Drauzio Varella

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Se eles quebraram, prejuízo será nosso, de nossas famílias e do SUS

Drauzio Varella, Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

Folha de São Paulo, 20/04/2023

Há anos escrevo que o modelo seguido pela saúde suplementar é insustentável.

Você, prezado leitor, escolhe um plano que caiba em seu orçamento. A partir da assinatura, acha que sua família nunca mais colocará os pés no SUS. A pandemia demonstrou que esse sonho estava fora da realidade para um número grande de usuários, que tiveram seus acessos dificultados ou negados pelo plano.

A jornalista Beth Koike acaba de publicar no Valor Econômico uma análise muito objetiva da crise que a saúde suplementar atravessa. Ela escreve: “A dificuldade no setor é generalizada e passa por operadoras, hospitais e laboratórios. De janeiro a setembro de 2022, as operadoras tiveram um prejuízo líquido de quase R$ 3 bilhões”.

A ideia que a sociedade faz das operadoras dos planos vem dos tempos da inflação: um ramo altamente lucrativo, em que alguns empresários apareciam nas listas dos homens mais ricos do Brasil.

Naquele tempo os índices inflacionários chegaram a 80% ao mês. Aos gestores da saúde suplementar bastava retardar o pagamento dos serviços cobrados pelos hospitais, laboratórios e consultórios para que a dívida se tornasse irrisória. Uma conta de R$ 100, em um mês passava a valer R$ 56.

Com mais 80% de inflação, no mês seguinte o valor caía para R$ 31. As mensalidades, entretanto, eram reajustadas com correções monetárias mais realistas. Lembro de colegas que não se davam ao trabalho de ir ao escritório do plano para receber o pagamento de consultas realizadas 60 dias antes.

Era um negócio da China Antiga. Os custos da assistência médica não lhes traziam preocupação, os ganhos vinham da generosidade do mercado financeiro.

Com o fim da inflação galopante, houve necessidade de adaptações para reduzir gastos: recusa de planos individuais, fusão de operadoras, desaparecimento daquelas de pequeno porte, corte de serviços oferecidos, retardo nas autorizações para exames e cirurgias eletivas, descredenciamento de hospitais e laboratórios de melhor qualidade, entre outras. De 2019 a 2023, os índices de reclamações (que já eram altos) duplicaram.

Anos atrás, no livro “A Saúde dos Planos de Saúde”, o doutor Maurício Ceschin (ex-diretor da ANS) e eu antevíamos os problemas que agora se manifestam com tamanha gravidade.

Não era preciso ser vidente para prever as demandas de uma população que envelhece na velocidade da nossa. A faixa etária dos que têm mais de 60 anos é a que mais cresce; o que levou um século para ocorrer na Europa industrializada aconteceu aqui em menos de 50 anos.

Para agravar, envelhecemos mal: metade das mulheres e dos homens chega aos 60 anos com hipertensão arterial; o número dos que convivem com diabetes do tipo 2 anda perto dos 20 milhões e cresce ano a ano; a obesidade é uma epidemia; o alcoolismo e o fumo minam o organismo de milhões. Essas condições estão associadas a complicações que exigem tratamentos complexos e dispendiosos: infarto do miocárdio, derrame cerebral, câncer, obstruções arteriais, enfisema, problemas ortopédicos e neurológicos.

Pior, a maior parte desses agravos são crônicos, isto é, incuráveis. Nesses casos, o objetivo da assistência médica é o controle pelo resto da vida, seja hipertensão, diabetes, osteoartrite ou demência.

Em linhas gerais, 30% dessas doenças dependem de causas sociais: moradias precárias, salários baixos, ausência de saneamento etc. O estilo de vida é responsável por 50%: fumo, sedentarismo, obesidade etc. Portanto, se a assistência médica resolvesse todos os casos a seu alcance, o impacto seria de apenas 20%.

Os planos enfrentam esses desafios com um modelo antiquado: o “free for service”, que estimula a realização de exames laboratoriais, radiografias e tomografias sem utilidade prática. Nós, médicos, temos grande responsabilidade nesse desperdício nababesco, pois saímos da faculdade sem noções elementares dos custos dos procedimentos que vamos indicar.

Esse modelo é insustentável. A única saída é investirmos na prevenção. Veja os americanos: gastam com saúde mais de US$ 3 trilhões anuais, para uma expectativa média de vida de 78 anos, igual à de Cuba. A saúde dos planos interessa a todo usuário. Se eles quebrarem, talvez os acionistas percam algum dinheiro, mas quem vai ficar no prejuízo seremos nós, as nossas famílias e o SUS.

Smartphones e redes sociais estão destruindo a saúde mental das crianças, por John Murdoch

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Evidência dos efeitos catastróficos do aumento do tempo de tela é esmagadora

John Burn-Murdoch, Repórter de dados do Financial Times

Folha de São Paulo, 20/04/2023

Há algo muito errado com os adolescentes. Entre 1994 e 2010, a proporção de adolescentes britânicos que não se consideravam simpáticos caiu ligeiramente, de 6% para 4%; desde 2010, ela mais do que dobrou. A parcela que se considera um fracasso, que se preocupa muito e que está insatisfeita com a vida também aumentou acentuadamente.

As mesmas tendências são visíveis nos Estados Unidos. O número de estudantes do ensino médio que dizem que sua vida muitas vezes parece sem sentido disparou nos últimos 12 anos. E não é apenas na esfera da língua inglesa. Na França, as taxas de depressão entre jovens de 15 a 24 anos quadruplicaram na última década.

Para onde quer que você olhe, a saúde mental dos jovens está entrando em colapso, e o ponto de inflexão é ameaçadoramente consistente: 2010, mais ou menos um ou dois anos –quando os smartphones passaram do luxo à onipresença.

A teoria de que ter as redes sociais e outras delícias digitais ao alcance da mão 24 horas por dia, sete dias por semana, podem ter um efeito prejudicial na saúde mental não é nova. Sua principal defensora é Jean Twenge, professora de psicologia na Universidade Estadual de San Diego e autora de dezenas de estudos pioneiros sobre o assunto.

Mas ainda está longe de ser universalmente aceita. O trabalho de Twenge e seu coautor habitual, Jonathan Haidt, foi às vezes criticado por simplesmente surfar na onda de oposição popular à grande tecnologia. No entanto, à medida que aumentam as evidências de seus argumentos, muitos se perguntam por que demoramos tanto para aceitar o que estava bem na nossa frente.

Os sinais estão por toda parte. Primeiro, a socialização digital deslocou as reuniões pessoais. A porcentagem de adolescentes americanos que se encontram pessoalmente com amigos menos de uma vez por mês era de 3% entre 1990 e 2010, mas chegou a 10% em 2019, enquanto a parcela que diz estar “constantemente online” agora atingiu 46%.

Alguns respondem que não pode ser apenas que os aplicativos estejam atrapalhando a vida real –afinal, as pessoas que estão mais ocupadas no Instagram também costumam ser as mais ocupadas no mundo real. Mas isso deixa de lado uma dinâmica fundamental: essas tendências operam no nível geracional, não no individual. Como o tempo de tela aumentou, todo mundo sai menos para encontrar amigos.

Mas a dinâmica no nível individual também é impressionante. Estudos mostram que quanto mais tempo os adolescentes passam nas redes sociais pior é sua saúde mental. O gradiente é mais acentuado para as meninas, que também passam muito mais tempo nas redes sociais do que os meninos, explicando a deterioração mais acentuada da saúde mental entre garotas.

É uma história semelhante com as taxas mais altas de depressão entre os adolescentes liberais do que entre os conservadores. Se você suspeita que crianças liberais estão mais deprimidas por terem crescido em uma cultura que valoriza a preocupação com a injustiça, aconselho cautela.

Primeiro, a pesquisa de Twenge aponta uma explicação mais provável: os jovens liberais simplesmente passam mais tempo online do que os conservadores. Em segundo lugar, vemos a mesma tendência crescer entre os conservadores –só está atrasada.

Alguns sugerem que a sociedade moderna é mais aberta à discussão sobre saúde mental, então o que estamos vendo é apenas um aumento dos relatos, não da prevalência. Mas os adolescentes britânicos que passam cinco ou mais horas por dia nas redes sociais correm um risco duas a três vezes maior de autoagressão do que seus colegas menos conectados. É uma história semelhante nos Estados Unidos com ideação suicida. O mais sombrio de tudo é que agora a tendência de rápida ascensão também é clara nas taxas de mortes por suicídio entre adolescentes britânicos e americanos.

Outros apontam que correlação não é causalidade. De fato. Mas hoje temos um corpo crescente de pesquisas mostrando que reduzir o tempo nas redes sociais melhora a saúde mental.

Então o que podemos fazer? A resposta mais comum é “educar as crianças e os pais”. Mas, como mostram os casos de obesidade e tabagismo, as campanhas de informação pública são notoriamente ineficazes diante do vício.

Outra opção seria basear-se na evidência de que, quando as pessoas são incentivadas a fazer uma pausa prolongada nas redes sociais, algumas se desconectam para sempre. E depois há a regulamentação –por que não aumentar o limite de idade para aplicativos sociais e punir as empresas que não o aplicarem?

Em última análise, porém, não sou otimista. Combater a obesidade tem sido tão difícil porque você não pode impedir as pessoas de comer. E lutar contra o vício em rede social é difícil porque você não pode impedir as pessoas de usar smartphones e aplicativos. Até que alguém invente o equivalente a uma droga para emagrecer aplicada ao Instagram, o futuro parece sombrio.

Oportunidades asiáticas

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Constantemente estamos refletindo sobre as grandes dificuldades da sociedade global, conflitos crescentes, aumento da desigualdade, degradação do meio ambiente, desemprego em ascensão, crescimento da tecnologia, dentre outros, que exigem uma participação mais efetivas dos governos nacionais, com políticas públicas mais estruturadas e consistentes, investimentos em infraestrutura, financiamento de pesquisa científica e geração de empregos, além de uma estratégia de reindustrialização da economia, diminuindo a dependência de produtos industrializados importados e uma autonomia política para defender seus interesses nacionais.

Percebemos que os ventos internacionais estão soprando a favor da sociedade nacional, levando-
nos a reconfigurar seu papel global e construindo novos espaços geopolíticos, neste cenário estamos observando uma nova consciência sobre as relações internacionais e a importância de reconstruirmos nossa estrutura econômica, buscando novos espaços de atuação, como a economia da saúde, a economia verde, a bioeconomia e as energias limpas, dentre outros setores econômicos e estratégicos que podem impulsionar a sociedade e fortalecer a economia local.

O mundo contemporâneo é marcado por grandes desafios e oportunidades, a concorrência cresce e colocam as nações em constantes confrontos econômicos e geopolíticos, exigindo uma unicidade interna dos agentes políticos e produtivos. Nestes cenários de incertezas e instabilidades, as empresas buscam apoios internos, recursos financeiros subsidiados e proteção externa como forma de sobrevivência e angariar espaços em mercados internacionais. As nações que não compreenderem as novas regras do cenário global e continuarem defendendo ideias ultrapassadas serão destruídas no cenário de competição exacerbada.

A ascensão asiática nos traz grandes ensinamentos para economias como a brasileira. Como compreender as grandes transformações de nações que eram marcadas por uma economia de sobrevivência, centradas em produtos de baixo valor agregado e população pouco qualificada e que, num período de menos de quarenta anos, conseguiram revolucionar sua estrutura produtiva, investindo fortemente em educação de qualidade, incentivos monetários para seus atores internos, com crédito farto e taxas de juros reduzidas e cobranças crescentes para angariar espaços econômicos internacionais e ainda, devemos destacar as pressões feitas pelos governos nacionais para que empresas estrangeiras, ao se instalassem, transferissem tecnologias avançadas.

Sem essas políticas públicas, dificilmente essas nações conseguiriam ostentar dados econômicos surpreendentes, com taxas elevadas de industrialização, com forte capacidade de produção de produtos de alto valor agregado, com forte valorização da ciência e da tecnologia, com desemprego baixo e renda per capita em ascensão.

Na contemporaneidade, as políticas adotadas anteriormente pelos países asiáticos se tornariam mais difíceis, as instituições globais restringem essas políticas e impõem limitações, com isso, as nações devem utilizar políticas ousadas para auxiliar na reconstrução das economias. No caso brasileiro, precisamos utilizar um ativo fundamental para o desenvolvimento econômico, precisamos fomentar o mercado interno, fortalecendo um universo de mais de duzentos milhões de pessoas sedentos de consumo e fonte de grandes lucros para atores externos e internos.

Neste momento, é fundamental uma política externa soberana, sólida e centrada em valores democráticos, assertivos e de inclusão social, negociando com outras nações a transferência de tecnologias, aprendendo com países que estão mais avançados, barganhando conhecimentos, recrutando profissionais altamente qualificados que fugiram do Brasil, valorizando a ciência e reestruturando as políticas de estímulo ao desenvolvimento tecnológico, transformando-as em políticas de Estado, garantindo recursos sólidos e consistentes, utilizando a Amazônia como um espaço de fortalecimento da ciência nacional e deixando de lado uma visão ultrapassada de pilhagem, de exploração e de destruição.

Neste momento, percebemos que as mudanças geopolíticas são imensas, novas lideranças, novos projetos e novos horizontes, precisamos de novas experiências, novos valores e precisamos renovar nossas esperanças.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 19/04/2023;

Crise de dívida anunciada, por Marcos de Vasconcellos

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Com juros em alta, 15% dos países de baixa renda já entraram em crise de dívida, segundo FMI

Marcos de Vasconcellos, Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado.

Folha de São Paulo, 17/04/2023

A diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, fez um alerta, nesta semana, para um dos problemas dos juros altos generalizados (que não são exclusividade nossa): os países pobres estão entrando em crise de dívida.

Não é dívida qualquer, é com o FMI. Coisa de 20 anos atrás, a negociação das dívidas do Brasil e tantos outros países com o órgão internacional eram notícia de destaque.

Kristalina falou que, com os aumentos locais de juros, 15% dos países de baixa renda já entraram em crise de dívida — ou seja, não vão conseguir pagar como planejado. E o número pode aumentar para 45% dessas nações, afirmou. Estaremos entre elas? Não se sabe ainda, mas o aviso está dado.

Apesar da dificuldade em equalizar os juros, a diretora do FMI acredita que eles ainda são necessários, em uma visão global, para o controle da inflação. Sua principal sugestão é renegociar.

As tentativas de calibrar “o preço do dinheiro” tem trazido algumas boas oportunidades para investidores. Explico a seguir.

O aviso do FMI é mais lenha para o embate sobre a possível redução da nossa taxa básica de juros (Selic). A desaceleração da inflação oficial (IPCA) de março deu mais um empurrãozinho. Como já disse aqui, os números e projeções precisam chegar na burocracia do Banco Central. Não adianta só vontade.

A pressão para baixar está aumentando no setor privado. Na visão de um megaempresário, controlador de algumas companhias mais do que conhecidas dos investidores, com quem conversei recentemente, as taxas de juros estão erradas, sufocando o crescimento em nome de uma meta de inflação irreal para nossos padrões.

O bilionário, que conhece por dentro diferentes setores e operações de multinacionais, faz uma provocação interessante: “Alguém fala da meta da inflação da China?”

É verdade que, quando se fala de China, o número que vem à roda é o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Oficialmente, aliás, a inflação de lá em 2022 foi de 2%. A meta é cerca de 3%.

Estar abaixo dela acende uma luz amarela, porque significa que a demanda está em baixa. A taxa básica de juros lá está em 3,65% para empréstimos de um ano e em 4,3% para os de cinco anos.

Ainda assim, o governo chinês definiu uma meta de crescimento para o PIB de 5% neste ano.

Economistas esperam até um pouco mais que isso. Já o nosso, deve subir 0,91% até o fim de 2023, de acordo com as previsões mais recentes reunidas pelo Banco Central, no Boletim Focus.

Com os juros nas alturas e pouca perspectiva de crescimento, emprestar dinheiro continua um bom negócio. Não só para bancos, mas para gente como a gente. Falo dos chamados títulos de renda fixa.

O JP Morgan anunciou que espera retornos de dois dígitos ainda neste ano, com títulos de dívidas nos países emergentes.

Mais especificamente, títulos do Brasil, da Indonésia e do México estão na mira do banco, de acordo com a Bloomberg. São lugares onde os bancos centrais “têm atuado de forma decisiva e oferecem taxas de juros reais positivas”.

Além dos títulos públicos, há boas oportunidades naqueles emitidos por empresas. A alta dos juros já havia tornado mais difícil para as empresas conseguir crédito. O caso
das Americanas trouxe ainda mais dificuldades na negociação com os bancos. Com isso, os prêmios para quem topa emprestar ficaram mais altos.

Três gigantes da Bolsa estão com ofertas chamativas de títulos de renda fixa, oferecendo como retorno a variação do IPCA no período mais taxas que vão de 6,2% a 6,7%: o mega frigorífico Minerva, a petroleira Prio (ex-PetroRio), e a segunda maior distribuidora de combustíveis do país, Raízen.

As três estão no topo dos rankings de agências de avaliação de riscos, como S&P e Fitch, com notas AAA ou AA.

São apostas interessantes, pensando inclusive na possibilidade de redução de taxa de juros. Se eles realmente caírem, esse tipo de papel passa a valer mais no chamado mercado secundário e dá para fazer um bom dinheiro sem esperar o vencimento previsto, que vai de 2029 a 2037, nos exemplos que citei.

Redes sociais são feitas para favorecer radicalismo de Bolsonaro, diz pesquisador

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Autor de ‘A Máquina do Caos’ aponta que regulação de big techs deve focar mais promoção de discurso de ódio que a moderação

Walter Porto, Editor de Livros da Folha.

Folha de São Paulo, 16/04/2023.

Resumo – O americano Max Fisher transforma anos de investigação jornalística sobre empresas do Vale do Silício em um robusto livro-reportagem que conta como as big techs passaram de grande descoberta a grande problema. Nesta entrevista, ele diz que a extrema direita se beneficia da lógica dos algoritmos e discute os limites dos controles nacionais e da moderação interna à promoção de conteúdos condenáveis. Fisher também vê exagero na reação à nova inteligência artificial, que não deverá levar à extinção humana

Enquanto trabalhava como jornalista para publicações como The New York Times e The Atlantic, Max Fisher pôde escarafunchar documentos, ouvir fontes anônimas e entrevistar bambambãs da tecnologia para delinear aos poucos uma história de medo e delírio no Vale de Silício.

Num investimento de anos agora sedimentado no robusto livro “A Máquina do Caos”, ele explica com didática exemplar como empresas de mídia social, antes voltadas a conectar amigos de faculdade e distribuir vídeos engraçados de animais, se impregnaram de ingredientes viciantes e potencialmente corrosivos surgidos em fóruns como 4chan e se tornaram assunto incontornável no debate sobre o futuro da democracia no mundo.

Nesta entrevista, ele discute por que a extrema direita é beneficiária natural dos algoritmos dessas plataformas, como os legisladores devem encarar sua regulação e porque as reações escandalizadas à inteligência artificial têm cheiro de jogada de marketing.

Parece que estamos num momento em que se cimentou uma percepção de que as redes sociais podem ter efeito deletério sobre seus usuários. Houve um ponto de virada nesse sentido? 

Quando eu comecei a trabalhar nas histórias que compõem o livro, era controverso sugerir que as redes sociais não só continham desinformação e discurso de ódio, mas de fato podiam mudar a maneira como as pessoas pensavam, em uma escala suficiente até para distorcer a política.

Mas histórias que encontrei no Brasil, por exemplo, eram especialmente fortes —você via conspirações que haviam começado nas redes sociais chegarem até o topo da política. Isso tornou as coisas inegáveis e gerou uma forte reação pública contra empresas que antes eram respeitadas.

Por que a extrema direita é tão eficaz em usar redes sociais a seu favor e a esquerda é tão ineficaz?  

A resposta curta é que não temos certeza, mas isso realmente é detectado em diversos estudos em diversos países. Em todos eles, o sistema de todas as grandes plataformas promove a extrema direita muito mais do que qualquer outra coisa. É algo inerente a como essas plataformas operam.

Não acho que seja um esforço deliberado no Vale do Silício, mas ao desenhar sistemas que buscam o que mais engaja a atenção das pessoas, o mais efetivo é o ódio, o nós versus eles, as conspirações paranoicas. É o pensamento que diz que o meu grupo está sendo ameaçado por outro grupo assustador que precisamos enfrentar. E isso se alinha a políticas de extrema direita.

Durante a última eleição no Brasil, a esquerda discutiu muito como melhorar a comunicação nas redes de maneira a ser tão boa nesse campo quanto a direita. Pelo que você está dizendo, é uma causa perdida. 

É verdade. No começo, parecia que a extrema direita era muito boa em usar as redes sociais. Mas quanto mais aprendemos, mais vemos que não é o caso.

Bolsonaro e seu grupo usam a mesma tática nas redes há muito tempo, desde 2013. No começo, não tinham muito sucesso. Lá para 2016, o Facebook, o Youtube e o Twitter mudaram seu funcionamento e tornaram seu algoritmo mais sofisticado, cumprindo um papel bem mais direto na maneira como você experimentava essas redes. Imediatamente, o público dos bolsonaristas ficou muito maior.

E isso foi antes de pesquisas mostrarem o aumento de popularidade de Bolsonaro entre os brasileiros. Essa mudança nas plataformas os empurrou para cima.

Claro, havia outros aspectos da política brasileira em curso, mas Bolsonaro e políticos similares foram, em grande parte, beneficiários passivos.

É curioso que você argumente que os donos das plataformas não promovem essa vertente política deliberadamente. 

É interessante entrar nessas empresas e conversar com as pessoas que desenham esses sistemas. São sempre pessoas de esquerda —não muito, mas tendendo à esquerda.

Eles realmente não gostam de Donald Trump, de Bolsonaro, mas a maioria deles são incapazes de admitir para si mesmos que a maneira como arquitetaram seus sistemas favorece a direita. E não é porque são burros, mas porque todo seu incentivo financeiro e cultural diz que, quanto mais gente usa redes sociais, melhor é para o mundo.

Eles realmente acreditam que devem construir o sistema de um jeito que incentive as pessoas a ficar ali pelo máximo de tempo. E, claro, há muita gente cínica que só quer ganhar dinheiro. Dá para entender. É muito dinheiro.

Parece que essas empresas ganharam tamanha proporção que se tornaram grandes demais para serem confrontadas por governos. Joe Biden já disse não ser muito fã de Mark Zuckerberg, mas fico pensando o que ele pode fazer a essa altura. 

É difícil para governos como o brasileiro, porque a vantagem de governos fora dos Estados Unidos sobre essas empresas é limitada. Veja a União Europeia, que é um mercado enorme e poderoso. Eles estão fartos das empresas de tecnologia, impuseram multas gigantescas e ameaçaram com regulação severa. E isso não mudou muito as plataformas.

Para o bem ou para o mal, a pressão significativa só pode vir do governo americano. No passado, eu era mais pessimista quanto à possibilidade de regular companhias de tecnologia. Hoje sou menos.

Antes os congressistas não entendiam como as plataformas operavam, agora boa parte deles têm uma visão sofisticada sobre o que exatamente torna esses sistemas perigosos.

O nosso sistema político está hoje num momento complicado, mas agora em Washington há ímpeto real para uma regulamentação poderosa e direcionada de forma precisa às empresas de mídia social.

Há um caso na Suprema Corte que, se os juízes decidirem favoravelmente, considerará essas empresas responsáveis pelo dano no mundo real de qualquer coisa que seus sistemas tenham promovido. É uma maneira nova de encarar a questão, potencialmente efetiva para mudar de fato os incentivos das empresas.

No debate sobre esse tipo de regulamentação, um grande tema é como conter a desinformação ao mesmo tempo que se permite a liberdade de expressão. Qual seu ponto de vista? 

Houve uma mudança na maneira de pensar esse assunto. Nós costumávamos enxergar como um problema de moderação, ou seja, as plataformas têm que ser responsáveis por encontrar a desinformação e removê-la. Não é mais assim que estudiosos pensam, porque é impossível moderar tudo e a melhora na moderação não fez muito efeito.

Agora vemos isso como um problema de promoção. O perigo das redes é promover artificialmente o alcance de desinformação e conteúdo danoso. A mudança precisa se voltar a impedir essa promoção.

As empresas odeiam essa abordagem. Preferem falar de moderação, porque podem dizer que o governo só precisa oferecer a eles novas regras, contratam mais moderadores e continuam a construir plataformas que produzem quantidades enormes de desinformação. Essa mudança os assusta porque vai ao coração de seu modelo de negócios.

Tivemos recentemente a carta de intelectuais e empresários pedindo a suspensão do desenvolvimento de inteligência artificial. Como isso se relaciona aos temas que discute no livro? 

Às vezes o hype em torno da inteligência artificial fica grande demais. No livro eu falo da invenção do “machine learning” [aprendizado por máquinas], algo que antes chamávamos de inteligência artificial. Hoje chamamos de inteligência artificial os programas de linguagem.

Quando o “deep learning” foi inventado, há 15 anos, também houve reação similar. As coisas que se faziam ali pareciam muito impressionantes, e as pessoas surtaram. “Vão conquistar a humanidade, a Skynet veio nos buscar.”

Mas o que surgiu da era do “deep learning” foram coisas como a reprodução automática do Spotify, o tradutor do Google e as plataformas de mídia social. A próxima era de inteligência artificial também vai ser assim. A aplicação dessa tecnologia vai beneficiar o interesse comercial das corporações do Vale do Silício, que vão tornar seus produtos mais eficientes. Pode ser uma coisa ruim ou boa, mas não vai levar à extinção humana.

Você diria então que a carta aberta é uma reação exagerada? 

Ou isso ou uma jogada publicitária. Um jeito de ler essa carta é que a inteligência artificial é uma tecnologia tão poderosa, tão assombrosa que você não vai acreditar. Todo esse pânico vindo do Vale do Silício me cheira a uma tentativa de aumentar o hype.

Por que atacar escolas, por Muniz Sodré.

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Jogos e anarquia informativa confirmam a crise disciplinar e exacerbam a hostilidade à educação moral

Muniz Sodré, Sociólogo, professor emérito da UFRJ, autor, entre outras obras, de “Pensar Nagô” e “Fascismo

Folha de São Paulo, 16/04/2023

Na crônica sombria dos serial killers americanos existe a figura do “copycat”, aquele que imita criminosos precedentes. Noutro plano, mas na mesma esfera do crime, também se reproduzem em diferentes regiões os massacres aleatórios, com escolas como alvos preferenciais. Nos EUA são quase semanais, já alarmantes entre nós. Foi traumatizante o assassinato de crianças numa creche.

Ainda não se deu resposta satisfatória à escolha desse alvo. Escola, uma das matrizes da modernidade, é a forma, ao lado de outras (como nação, mercado), pela qual se incorporam saberes e se orientam cívica e profissionalmente os indivíduos. Com esta capa institucional, serve também de adaptação cognitiva ao modo de produção dominante. É dispositivo que metaboliza os parâmetros sociais de reprodução do sistema.

Mas escolarização é o processo interativo acionado pela forma cultural. Isso não se faz sem disciplina, o verdadeiro lastro ideológico da escola. O sociólogo e educador Émile Durkheim sustentava a ideia liberal de uma “autoridade regular” a quem caberia exercer a disciplina indispensável à moral, entendida como um sistema de hábitos e preceitos. Este princípio é indissociável da educação formal.

A isso se contrapõe a mídia contemporânea, cuja forma ideológica, essencialmente neoliberal, pauta-se por persuasão. Por mais que seus conteúdos editem apoios à educação e à ciência, ela é estruturalmente avessa à autoridade escolar. Evidencia-se na lógica do espetáculo e nas redes, onde jogos e anarquia informativa confirmam a crise disciplinar e exacerbam a hostilidade à educação moral.

Árdua é a competição junto aos jovens entre as formas disciplinares e as persuasivas. Estas últimas, com vantagem, guiam-se pelo individualismo neoliberal, cujos parâmetros concorrenciais do salve-se-quem-puder geram ansiedade, depressão e automutilação. Por outro lado, a escola, modelada no século 19 ao modo do controle disciplinar e do púlpito, é tanto objeto de afetos positivos como potencialmente virulentos, movidos pelo rancor.

Nos EUA e no Brasil, a organização carcerária cresce na gestão de corpos educacionalmente desamparados, mas fracassa em termos de reeducação e reintegração social. Nos dois países, cresce também a construção de realidades paralelas pelos sistemas de mídia. A ponte entre elas é o ódio, normalizado nos últimos quatro anos pelo discurso do bestialismo antiescola e anticultura: rastilho de contágio para massacres, já aceso por parte da sociedade eleitoral com o voto extremista. As redes sociais, onde ignorância empodera, são o novo espaço de desinvestimento das forças educativas. A mão que empunha a machadinha tem partido e plataforma digital.

As causas reais do declínio do Ocidente, por Owen Jones

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Discurso conservador aponta “falência moral”. Mas em nome da liberdade, Estado Social foi destroçado e as condições de vida caem em 90% dos países. Novos modelos de celular não mascaram o desespero, nem o colapso da democracia

Owen Jones, Colunista, escritor, comentarista e ativista político britânico, ligado à ala esquerda do Partido Trabalhista. Colunista do “Guardian” e do “New Statasman” –

OUTRAS PALAVRAS – 12/04/2023

Se existe algo como uma marcha avante do progresso humano, ela não apenas parou, como está dando marcha à ré. No outono passado, um relatório da ONU, que foi pouco discutido, observou que o índice de desenvolvimento humano havia diminuído em 90% dos países por dois anos consecutivos, uma queda sem precedentes por mais de três décadas. A pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia tiveram um papel, mas a queda também foi consequência de “grandes mudanças sociais e econômicas, mudanças planetárias perigosas e avultamentos maciços na polarização política e social”.

Talvez você esteja familiarizado com essa conversa de “declínio do Ocidente”: tende a ser uma pauta da direita reacionária, que culpa, de várias maneiras, a decadência moral, o multiculturalismo e uma reavaliação da história da Europa por nossa queda. Mas certamente a culpa nessa história não é dos direitos das minorias, da diversidade ou do reconhecimento dos crimes do Ocidente. Nossa sorte coletiva virou dramaticamente. E esta virada foi produzida por um sistema econômico que prometeu liberdade pessoal, mas em vez disso trouxe insegurança em larga escala, e que nos prejudicou de todas as formas concebíveis, desde nosso bem-estar emocional e físico até as circunstâncias materiais em que vivemos.

Tome uma medida básica: vida e morte. O governo do Reino Unido foi forçado a atrasar o aumento da idade da aposentadoria pelo Estado após uma queda na expectativa de vida sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial. Embora certamente o índice tenha piorado com a pandemia, a expectativa de vida já vinha decaindo em muitas comunidades inglesas anos antes da covid chegar às nossas costas. Nos EUA, a expectativa de vida diminuiu de quase 79 anos, em 2019, para 76 dois anos depois, a maior queda em um século.

E os sintomas mórbidos de uma crise de bem-estar estão por toda parte. Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, a taxa de suicídio aumentou 30% nos primeiros 20 anos do século XXI. No mesmo passo em que a “guerra às drogas” recrudesceu, também aumentaram as mortes por abuso de substâncias: nos EUA, elas cresceram exponencialmente desde a década de 1970, ajudando a impulsionar a queda na expectativa de vida, enquanto no Reino Unido atingiram seu nível mais alto desde que os registros começaram. Karl Marx certa vez descreveu a religião como o “suspiro da criatura oprimida”: hoje essa é uma descrição mais adequada para a dependência em drogas, impulsionada pela automedicação dos aflitos por traumas e miséria. De fato, é difícil atravessar ileso o salto global na incidência de depressão, cujos números aumentaram em quase um quinto entre 2005 e 2015, e também aumentaram entre os adolescentes dos EUA.

Observando os escombros deixados pela guerra mais sangrenta da humanidade há quase um século, um cidadão da Europa Ocidental em 1945 teria ficado agradavelmente surpreso ao descobrir que os anos mais prósperos da história os aguardavam. Tal foi o aumento sem precedentes nos padrões de vida no Ocidente nas três décadas após a guerra, que foram batizadas de “Anos dourados”; para os franceses foram os “30 anos gloriosos”. No Reino Unido, houve uma queda particularmente acentuada nos salários na década de 2010, e em todo o mundo ocidental houve estagnação. Antes da pandemia, o poder de compra dos trabalhadores estadunidenses havia quase não tinha mudado por quatro décadas.

É fácil se deixar levar pela ilusão de que o dramático progresso ainda está acontecendo. Os chips de computador ficam cada vez menores; processadores de computador cada vez mais rápidos; os celulares cada vez mais dinâmicos. Mas o avanço tecnológico não se traduz automaticamente em melhorias na condição humana. Em grande parte do Ocidente, a estagnação e o declínio se tornaram a característica definidora de nossa era. Se você quer entender por que a política ficou mais raivosa e polarizada, não procure explicações fáceis, como o comportamento argumentativo fomentado pelas mídias sociais. Um grande experimento está em andamento há mais de uma geração: e se você cortar o otimismo das sociedades ricas que antes consideravam que a chegada de padrões de vida cada vez maiores era algo garantido?

A ascensão do “livre mercado”, tal como nos foi prometido, deveria desencadear prosperidade sem fim. Mas enquanto a tão demonizada era de sindicatos fortes, nacionalização e Estados de bem-estar social em expansão trouxe a maior melhora nos padrões de vida da história, nosso modelo econômico atual está se decompondo ao nosso redor: o fedor está se tornando mais difícil de ignorar. Em ambos os lados do Atlântico, o crescimento econômico caiu desde que se recuaram as fronteiras do Estado, e esse crescimento mais limitado tem maior probabilidade de ser tragado para as contas bancárias dos ricos dourados.

Como isso explica, digamos, a queda na expectativa de vida causada pelo aumento do uso de opiáceos nos Estados Unidos? Sabemos que o desaparecimento de empregos seguros e bem pagos criou as condições de miséria em que a dependência química prospera. A crescente desigualdade ajudou a estimular a deterioração da saúde mental: taxas de depressão estão correlacionadas com baixa renda, por exemplo. Desde o colapso geracional na construção moradias públicas até a dizimação da assistência social, a segurança que sustenta uma existência humana confortável foi eliminada.

E, no entanto, essa interrupção no progresso humano quase não é mencionada, muito menos debatida. No momento em que nossa civilização enfrenta múltiplos desafios existenciais, com que rapidez a estagnação e o declínio podem se tornar uma queda livre. Você não precisa de uma imaginação hiperativa para ponderar as possíveis consequências brutais, especialmente se os políticos progressistas não oferecerem respostas convincentes. Nossas vidas estão encurtando, nosso bem-estar está diminuindo, nossa segurança sendo desmantelada. Estas são as condições de desespero… e uma amarga colheita desponta no horizonte.

Carta Mensal – Março 2023

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O noticiário brasileiro se caracteriza por discussões constantes sobre as políticas adotadas pelo novo governo. No mês de março percebemos uma verdadeira obsessão pela mídia corporativa para criar fortes constrangimentos para o governo eleito, distribuindo fofocas, divulgando fake News e o estímulo de discussões desnecessárias, questões irrelevantes e preocupantes que incrementam a nossa incivilidade, depois reclamamos dos resultados destrutivos.

Infelizmente, percebemos que muitos grupos de mídia estão se comportando como um verdadeiro partido político, defendendo bandeiras, criando e estimulando picuinhas e estimulando a divisão do pais, gerando fortes constrangimentos políticos, conflitos econômicos e divulgando sentimentos de ódios e ressentimentos, contribuindo, indiretamente, para aumentar os lucros e elevando suas cifras monetárias.

O mês de março foi marcado pelas discussões fiscais do governo brasileiro, onde os economistas liberais, sempre eles, aparecem para propagar suas ideias e seus interesses, defendendo a autonomia da Autoridade Monetária, que passaram a ser visto como um verdadeiro mantra, algo que não e possível se rever e sem alterar, como muitos defendem que, se alterar, geraria fortes constrangimentos econômicos e geraria abalos da credibilidade e da confiabilidade do Mercado.

As críticas feitas pelo Presidente da República são vistas como um comportamento populista e defenestrados pelos profissionais da mídia corporativa e pelos detentores do dinheiro grosso da economia nacional. As críticas fazem parte da democracia, um Presidente recentemente eleito possui toda a legitimidade para fazer essas críticas, além de que, com essa política monetária restritiva tende a inviabilizar seu governo e os efeitos negativos para a economia são elevadas, gerando mais constrangimentos econômicos, mas falência de organizações e mais desemprego, vide o caso das Lojas Americanas, além de aumentar o endividamento do Estado e piorar as condições fiscais e financeiras do Estado Nacional, aumentando a dívida interna.

Embora saibamos que todos os governos são passíveis de críticas, acredito que todas as pessoas precisam dar mais tempo para que este novo governo está se instalando e, nestas críticas é fundamentais que as críticas sejam embasadas e feitas em todos os governos com as mesmas metodologias, nada vale se criticar com comparações irreais e tolerância com um em detrimento de outros grupos políticos.

A economia brasileira vem passando por momentos de grandes incertezas, desde os meados da década de 1980, com baixo crescimento econômico, diminuição da renda dos trabalhadores e aumento do desemprego, cujos impactos são generalizados para toda a comunidade, com aumento do endividamento das famílias, incremento da inadimplência de empresas e seus impactos negativos devem aumentar, dificultando a recuperação da estrutura econômica e produtiva e postergando medidas fundamentais para que a sociedade faça as pazes com o crescimento econômico

No mês de março o ambiente econômico brasileiro dominou as discussões sobre a sociedade brasileira, muitos grupos acreditavam que, a eleição presidencial, traria novos espaços de crescimento da economia e recuperação imediata dos indicadores econômicos e produtivos. Essas perspectivas não se mostraram verdadeiras, na verdade as expectativas foram e são inalcançáveis no curto prazo, levando a sociedade a se cansar e aumentar as críticas sobre o governo, aumentando os ressentimentos que se repercute com as avaliações do governo. Outro ponto muito batido neste mês, foi a autonomia do Banco Central e a manutenção das taxas de juros elevadas, que impedem a melhoria da economia e o ambiente de negócios.

Depois de grandes discussões, no final do mês o governo apresentou um esboço de um novo arcabouço fiscal para substituir o desastrado Teto de Gastos, neste modelo percebemos avaliações positivas e negativas. Os que defenderam o arcabouço fiscal destacamos os economistas liberais, na maioria e, como críticos, destacamos grupos atrelados pelos setores mais a esquerda, pessoas e grupos que defenderam a eleição do Presidente Lula, mas esperavam uma ação mais consistente para construir uma recuperação econômica mais sólida e imediata, gerando falas agressivas e críticas estridentes.

O novo arcabouço fiscal deve ser visto como um instrumento mais suave, menos agressivos e marcado por eixos sólidos de flexibilidade, uma forma de angariar defensores dos setores adversários, uma medida mais negociada e pacificadora. Alguns criticam a suavidade em excesso da medida e, para muitos, algo que se pode fazer neste momento, num país polarizado, com Câmara dominada por uma direita radical, ou seja, vivemos momentos de grandes embates políticos e conflitos elevados. Vivemos um momento de grandes desafios, o próprio governo não consegue mensurar seu poder no Legislativo, desde a posse, nada foi enviado para apreciação do Congresso Nacional;

Outro assunto que chamou a atenção na sociedade foi o Novo Ensino Médio, que levou alunos, diretores e professores a se movimentaram para revogar essa medida costurada no governo Temer, gerando críticas e discussões generalizadas. Neste embate, percebemos que o governo esteve sempre na dúvida, o Ministro da Educação, Camilo Santana postergou medidas e evitou posicionamentos, mas foi levado a rever seu comportamento e abriu espaço espaço para a discussão com a comunidade, iniciando uma conversação construtiva para a comunidade e o debate, postergando em alguns meses o Novo Ensino Médio, gerando aplausos e preocupações.

Outro ponto que gerou graves constrangimentos para a comunidade foi o aumento dos ataques as escolas e creches, esses episódios cresceram fortemente nos últimos anos, alguns defendendo que as raízes destes ataques foram os discursos de ódios e ressentimentos, estimulados pelas redes sociais que divulgam essas barbaridades, além de especialistas que culpam ainda o crescimento de vendas de armas e artefatos de defesa que tiveram crescimento assustador nos anos recentes.

Outros acreditam que as raízes são mais estruturais, destacando a degradação das famílias, as dificuldades econômicas, o baixo crescimento econômico, o incremento do desemprego e a diminuição das oportunidades das pessoas, dos jovens e das crianças, com isso, estamos criando uma sociedade cada vez mais violenta, mais agressiva e fortemente destrutiva.

O Brasil vive momentos de grandes transformações, precisamos pensar nas questões fiscais e financeiras, a educação é fundamental e, principalmente, precisamos reconstruir os nossos espaços de sociabilidade, sem isso, não conseguiremos construir uma nação.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Circular (Unyleya), Mestre, Doutor em Sociologia (Unesp) e professor universitário.

Mundo Multipolar

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Vivemos momentos de grandes alterações nas estruturas econômicas e produtivas, com impactos generalizados por todas as regiões, um ambiente centrado numa crescente concorrência, novos modelos de negócios, predominância da internet e da economia digital, além de fortes transformações no mundo do trabalho. Anteriormente, as discussões sobre a tecnologia e o emprego preocupavam os trabalhadores pouco qualificados, na contemporaneidade os trabalhadores mais qualificados sentem na pele a substituição pela inteligência artificial, pelos universos criados pelo ChapGPT, uma verdadeira revolução nos costumes, comportamentos, hábitos, gerando medos, receios, reações agressivas e preocupantes.

Neste cenário de fortes transformações geopolíticas, percebemos o surgimento e a consolidação de um mundo multipolar, novos atores globais estão ganhando poder econômico e força política, levando as nações hegemônicas a terem que repensar seus comportamentos, seus valores e suas formas de atuação nos cenários internacionais. Desde o desaparecimento da União Soviética, os Estados Unidos passaram a dominar todos os eixos da economia internacional, domínio tecnológico, controle militar, avançado poder científico, além do controle da moeda internacional, sólida estrutura econômica e forte influência cultural sobre todas as regiões do mundo.

Na contemporaneidade, percebemos movimentos internacionais interessantes, surgem novas lideranças globais, novos polos tecnológicos, novos modelos de negócios e, com isso, percebemos os conflitos geopolíticos em franco crescimento. Os Estados Unidos não conseguem controlar as outras nações, tendo dificuldade de impor seus ganhos econômicos, seus valores e interesses políticos, desta forma, percebemos os conflitos com outros países, estimulando confrontos bélicos e militares, espaço que domina com maestria, lembrando-os que seus gastos militares são os mais elevados do mundo, sendo que seu orçamento ultrapassa mais 900 bilhões de dólares, quase metade do PIB brasileiro.

Neste novo momento, estamos vivenciando o surgimento da ascensão chinesa, uma economia que ganhou relevância no cenário internacional desde 1980, saindo de uma economia intermediária para se colocar como a segunda maior economia global, responsável por quase 34% da estrutura industrial mundial, dono de grande desenvolvimento tecnológico, fortes incentivos em ciência e pesquisa científica, onde encontramos muitos setores mais avançados que os norte-americanos, além de fortes superávits comerciais e acúmulos de trilhões de dólares de reservas monetárias internacionais, com isso, percebemos um forte constrangimento para as nações ocidentais, países que controlaram a economia internacional desde o século XVIII, e que passam a retomar o controle dos rumos da quarta revolução industrial.

Desde os anos 1990, os Estados Unidos dominam a sociedade internacional, impondo seus interesses, provocando conflitos militares e estimulando movimentos de outras nações, buscando impor seus valores, seus comportamentos e interesses monetários, usando seu poder monetário, sua moeda e seu sistema financeiro como forma de manter sua hegemonia, impondo suas teses econômicas, incentivando seu liberalismo, estimulando as privatizações e a redução do Estado na economia, teses que, na maioria da vezes, não eram seguidas como eram preconizadas, escondendo medidas protecionistas, intervencionistas para enganar os incautos.

O surgimento de um mundo multipolar, como o que estamos percebendo, exige forte atuação dos governos nos cenários internacionais, novas negociações globais, estimulando discussões geopolíticas, a construção de estratégias mais elaboradas e que vislumbrem o médio e o longo prazo das sociedades, além de reflexões nacionais, estimulando as universidades e os centros de pesquisas para construírem um novo cenário, mais sólido e consistente, deixando de lado uma visão imediatista, individualista e centrada nos interesses coletivos, retomando valores de civilidade, valorizando o meio ambiente, a sustentabilidade e buscando a construção de novas esperanças, sem isso, novamente continuaremos nos vendendo para os poderes dominantes que vibram e estimulam uma visão subdesenvolvida, atrasada, dependente e subalterna.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 12/04/2023.