Um balanço da economia brasileira nos tempos de Bolsonaro

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Depois de quase 11 meses de governo Jair Messias Bolsonaro, muitos analistas se esforçam para fazer um balanço dos sucessos e dos fracassos deste governo na seara econômica. De um lado alguns comentaristas destacam as boas medidas econômicas, exaltando o governo e tentando mostrar que o país encontrou seu caminho e estamos iniciando um ciclo de forte crescimento econômico, para este grupo estamos iniciando num mini milagre na economia brasileira. De outro lado encontramos analistas detonando as medidas de cunho econômico, destacando a visão liberal deste governo e suas políticas a favor do mercado e contra a classe trabalhadora, num verdadeiro antagonismo cuja verdade nem sempre é apregoada como deveria, as crenças ideológicas, as vontades e os desejos se sobrepõem aos fatos na maioria das vezes.

Neste debate encontramos tantas rivalidades e intolerâncias que, muitas vezes, evitamos de participar mais ativamente em decorrência do fanatismo e da agressividade dos contendores, onde devemos destacar que esta intolerância não se restringe a um dos lados, ambos estão eivados de sentimentos de agressividade e buscam impor suas ideias e pensamentos, muitas vezes se utilizando de notícias falsas, as chamadas fake News, ou denegrindo aqueles que defendem teses e pensamentos diferentes, gerando confrontos que, em muitos momentos, descambam para violência física e agressividade verbal.

Analisando as ideias econômicos deste governo, podemos salientar que muitas delas são importantes e trarão benefícios para a sociedade, a desburocratização e a redução do papel do Estado na economia olham para o norte correto, estas medidas tendem a atacar alguns feudos que sempre se beneficiaram com a ineficiência do setor público, gerando dificuldades para vender facilidade, alimentando a corrupção e abrindo espaço para seus ganhos imediatos e elevados, extraindo da sociedade seus vultosos patrimônios financeiros e monetários.

O Estado tem um papel importante e fundamental na economia brasileira, muitas das conquistas só foram possíveis graças a atuação direta no planejamento, na regulação e nos investimentos em infraestrutura e no fomento industrial. Neste período nos tornamos uma das maiores economias do mundo, mas infelizmente nos fechamos e passamos a gerar graves constrangimentos internos, com benefícios a grupos organizados e pouca efetividade em políticas de inclusão, este Estado se tornou obeso, caro e ineficiente, mantê-lo assim importa pouco aos grupos mais fragilizados da sociedade.

Neste período algumas medidas foram propostas pelo atual governo, onde destacamos um amplo programa de desburocratização, onde foram reduzidos muitos processos e informatizados outros, dando maior celeridade as demandas da população e incrementando a produtividade do setor público e da economia de uma forma geral. As políticas desburocratizantes sempre estiveram na pauta dos governos anteriores, todos sabemos da necessidade desta desburocratização, a grande dificuldade da implementação destas medidas é a força política dos governos para aprovar estas propostas, sabendo que grupos que mais ganham são muito organizados e muito bem estruturados politicamente, num momento de perigo vão se unir para impugnar estas mudanças, pois sabem que serão fortemente afetados pelas medidas, como os funcionários públicos, os donos de cartórios, os advogados e escritórios que prestam estes tipos de serviços e ganham muito com esta burocracia exagerada que extrai recursos da população que busca estes serviços.

Nas discussões sobre desburocratização, que acreditamos ser bastante necessária, encontramos um viés muito voltado para os setores empresariais, muito para o mundo dos negócios e pouco para os trabalhadores, neste caso, percebemos um desequilíbrio em prol das forças do mercado que podem cobrar seu preço num dos momentos futuros. Os empresários acreditam que a liberalização beneficia os trabalhadores, que terão mais empregos, isto nem sempre acontecem e se acontecer, o que percebemos, é a criação de empregos degradados, com cargas de trabalho elevadas e ganhos reduzidos. Na medida provisória conhecida como Liberdade Econômica encontramos propostas de trabalho nos finais de semana e nos feriados, reduzindo com isso, o poder dos acordos coletivos e dos sindicatos, fragilizando os trabalhadores e aumentando a precarização no mercado de trabalho. Recentemente alguns tribunais chancelaram estas medidas criando uma jurisprudência perigosa para a sociedade. Reclamamos da fragilidade e da desagregação das famílias, mas adotamos e estimulamos a implementação de medidas que aumentam a carga horária de trabalho, degrada as condições dos trabalhadores e depois nos perguntamos: o que está acontecendo com as famílias brasileiras? Na verdade, foram degradadas pelas forças de um capitalismo selvagem, que mata o trabalhador e degrada seus rendimentos, mas ao mesmo tempo consegue produzir mais a preços reduzidos, gerando um desequilíbrio estrutural que já nos foi contado no século XIX, todos sabemos dele, mas continuamos a ignorar de forma veemente.

O viés pró mercado deste governo pode agradar a muitos empresários e banqueiros que querem extrair lucros e ganhos ascendentes na sociedade, mas estas medidas desequilibram as forças de poder e criam condições para problemas futuros, como estamos encontrando em outros locais da sociedade internacional, um exemplo mais próximo está em nosso vizinho, o Chile, mas outros países apresentam situação parecida, como Bolívia, Hong Kong, dentre outros. No momento em que escrevemos este texto, encontramos nos jornais informações de que as manifestações chegaram a Colômbia, onde a população se anima e sai as ruas com reivindicações variadas. O Chile sempre foi visto por muitos como um exemplo de políticas liberais, marcadas pela meritocracia e pelo reconhecimento dos esforços individuais, neste país encontramos todos os serviços públicos privatizados e transferidos para a iniciativa privada, famílias endividadas e jovens sem perspectivas, consequência de uma política que olha apenas para a oferta e deixa de lado a demanda, o poder aquisitivo e as perspectivas de trabalho dignos e decentes para seus trabalhadores, vistos como consumidores e não mais como cidadãos.

Uma proposta que surgiu recentemente e gerou grandes críticas foi a Medida Provisória do Contrato Verde e Amarelo, conhecida como uma mini reforma Trabalhista, nela o governo reduz a tributação para as empresas que contratarem jovens de 18 a 29 anos em primeiro emprego. A queda na arrecadação será bancada pela cobrança da contribuição previdenciária de quem recebe seguro desemprego, esta cobrança gerou graves constrangimentos para o governo, que sofreu duras críticas da oposição e dos especialistas.

As privatizações se transformaram em uma grande celeuma, sobre este tema encontramos divergências imensas, de um lado o governo propõe uma desestatização geral de empresas públicas, onde foram listadas mais de 600 empresas estatais ou com participação do Estado. Pelas propagandas do governo, a venda destas empresas liberaria bilhões de reais para a redução da dívida pública, com isso, as taxas de juros se reduziriam de forma mais consistente e sobrariam recursos para os investimentos em melhorias na infraestrutura física e em questões sociais, tais como educação, saúde e segurança pública, setores muito mal avaliados pelos governos brasileiros de uma forma geral. De outro lado encontramos grupos políticos que se opõem muito fortemente as privatizações, acreditam que muitas destas empresas são estratégicas para o país e sua venda só interessaria para os donos do capital e para os grandes oligopólios internacionais que, quando adquirirem estas empresas, terão papel significativo nas decisões estratégicas do país, que perderá a autonomia e a soberania sobre seu sistema produtivo.

Nesta discussão, percebemos um forte teor ideológico, vender empresas estatais e abrir espaço para o capital privado deve ser visto como uma estratégia de fortalecimento do capitalismo nacional, mas faz-se importante entendermos quais são as empresas que serão repassadas aos grupos privados e quanto será arrecadado com esta alienação? Outro ponto que deve ser pensado é como o Estado Nacional conseguirá regular estes setores que forem repassados a iniciativa privada, mantendo seu poder e ainda garantindo espaços de lucratividade e o interesse dos conglomerados estrangeiros.

Se temos mais de 600 empresas estatais ou participação em empresas estatais, precisamos analisar os ganhos que estas empresas estão trazendo ao setor público, será que a manutenção destes conglomerados está gerando os retornos necessários que a sociedade almeja? Para responder estas indagações, faz-se necessário aumentar as pesquisas científicas, feitas pelos institutos vinculados aos governos e órgãos privados e analisar os retornos que estas empresas estão trazendo para a coletividade. Se o saldo for positivo estas empresas devem ser fortalecidas e estruturadas para que se reduzam as influências políticas perniciosas que tantos constrangimentos trouxeram ao capitalismo nacional. Nesta discussão, os debates que estão sendo levantados pelo governo são saudáveis, pena que os grupos estão indo para o debate defendendo ideias e teorias antigas e ultrapassadas, as privatizações devem acontecer e não devem mais ser postergadas mas cabe a sociedade encontrar um caminho mais consistente para que consigamos encontrar os horizontes do progresso e do desenvolvimento inclusive que beneficie a todos e não um crescimento que gerava benesses para poucos grupos sociais organizados e estruturados.

O governo está propondo medidas liberais, muitas delas fazem sentido e visam dar uma maior eficiência para a estrutura produtiva, estas propostas movimentarão muito a sociedade e trarão impactos gigantescos, mas devem ser debatidos de forma democrática e inclusiva. O apoio incondicional as medidas privatizantes tiram o espaço para as discussões críticas e intensificam a intolerância, podendo levar os debates a confrontos mais do que verbais, podendo gerar conflitos físicos e intransigências. O modelo que embalou a sociedade brasileira nos últimos séculos está sendo reformado de uma forma bastante estrutural, de um modelo centrado nos recursos governamentais e na solidariedade entre classes e grupos sociais (embora controversos), está sendo todo transformado e o que está sendo colocado no lugar apresenta muitos pontos críticos que podem gerar graves desequilíbrios na sociedade brasileira, deixando grupos mais expostos e fragilizados socialmente.

Reduzir o tamanho e o papel do Estado na sociedade é algo difícil na sociedade brasileira, mas estamos num momento único para fazer esta redução, a crise econômica e as deficiências fiscais estão levando os governos a encampar propostas mais ousadas, muitas são necessários mas devemos ficar atentos, porque até o momento as medidas impactam muito mais rapidamente sobre os grupos mais vulneráveis da sociedade e, como estamos vendo, nada de medidas mais agressivas que impactem diretamente sobre os grandes grupos econômicos. A reforma mais importante aventada pelo governo é a reforma tributária, reverter o modelo injusto e concentrador de benesses para os grupos mais abastados deve ser um dos nortes mais importantes a serem adotados pelos governos, sem uma reforma tributária que deixe de lado os indicadores degradantes que sempre nos caracterizou, dificilmente vamos conseguir superar nosso subdesenvolvimento.

Com o pacote trazido a público recentemente, o governo traz uma discussão nova e bastante polêmica, envolvendo o chamado pacto federativo, com a proposta de acabar com cidades menores de cinco mil habitantes que geram menos de 10% dos recursos utilizados para cumprir com suas despesas. Por esta proposta, o governo angariou muitos desafetos, prefeitos e vereadores destes municípios, além de funcionários de órgãos públicos que viram nesta medida uma ameaça a seus empregos e a seus rendimentos futuros. No Brasil temos mais de 5,5 mil municípios, destes mais de 1,2 mil se encaixam na situação citada acima, com isso, correm sérios riscos de perder o status de municípios. Embora a medida possa ser vista como polêmica por muitos cidadãos, este assunto deve ser discutido mais intimamente pela sociedade, muitas destas cidades não conseguem sobreviver sem a ajuda dos governos estadual e federal, com isso, muitas delas deveriam voltar a condição de distritos e seus recursos deveriam ser investidos na melhora dos serviços públicos, na desburocratização e nas questões sociais, como educação, saúde e segurança pública.

A aprovação da reforma da previdência deve ser vista como algo positivo, a sociedade e os agentes econômicos comemoraram de forma efusiva, se adentrarmos numa discussão mais efetiva sobre o tema, devemos destacar que sua aprovação está mais relacionada aos esforços do poder legislativo do que ao empenho do Executivo, que ainda permanece muito frágil na composição e na articulação política, tendo grandes dificuldades para aprovar seus projetos, o que pode comprometer a governabilidade no médio prazo e enviar aos agentes econômicos uma péssima imagem do governo, comprometendo projetos importantes num futuro próximo. Os avanços desta reforma mostraram para a sociedade que estamos em condições de fazer uma discussão mais consistente sobre temas econômicos complexos, deixando de lado medidas salvacionistas e colocando discussões sérias na mesa de debate, convocando os grupos envolvidos e construindo consensos para a melhora dos indicadores econômicos.

Os grupos de esquerda atuam como atuaram no governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002), sendo implacáveis com as propostas trazidas pelo governante, se fossem propostas pelo presidente eram medidas neoliberais e que serviam apenas para beneficiar os banqueiros e os donos do dinheiro, prejudicando os trabalhadores e as classes menos abastadas. Mas para a alegria do governo Bolsonaro e seus apoiadores, neste momento as esquerdas não possuem o mesmo poder que já tiveram nos anos 90, com isso, o governo se mostra muito pouco eficiente e consegue bater cabeça todos os dias, sem articulação política e marcado por falas preconceituosas, postagens agressivas e comentários chulos e degradantes. As medidas liberais estão sendo propostas e sendo levadas a frente, alegrando os donos do dinheiro e gerando perspectivas incertas no futuro, neste momento, percebemos que a elite econômica brasileira deixou de lado valores mais civilizatórios para apoiar grupos políticos de direita que conseguissem entregar as reformas liberalizantes em curso. Na verdade, como dizia Nicolau Maquiavel, os fins justificam os meios.

Sem oposição organizada, os governistas conseguem, eles mesmos, dificultar a condução do governo, no meio ambiente encontramos medidas que aumentaram a devastação, os órgãos de pesquisas foram desacreditados pelo governo, as organizações não governamentais (ONGs) foram colocadas como responsáveis pelos nossos equívocos anteriores e vistas como inimigas e aproveitadoras. Com isso, mostramos ao mundo que não temos projeto algum para o meio ambiente, assim como para outras áreas, tais como a educação e os direitos humanos, estamos realmente numa nau sem rumo governada por lunáticos que se dizem conservadores nos costumes e liberais na economia.

Na Educação, percebemos um movimento preocupante, propostas oriundas do Ministério da Educação propõem que as faculdades privadas, elas mesmas se regulamentem, ou seja, o MEC deixa que as próprias faculdades criem instrumentos de regulação. Este movimento nos preocupa, se nossos indicadores estão defasados e as desigualdades crescem de forma acelerada, imaginem se, a partir de agora, as próprias instituições educacionais forem as responsáveis pelas regras e pelas regulações de seus mercados?

Um balanço do governo Bolsonaro me parece muito prematuro, muitas de suas políticas econômicas foram implementadas no governo anterior, de Michel Temer, e estão trazendo frutos no momento atual, dentre as propostas em curso, acreditamos que muitas delas são interessantes e só seriam implementadas por governos com perfis mais liberais, coisa não imaginada nos governos petistas, como as privatizações, concessões, redução do papel do Estado e desregulamentações. Neste balanço, o que mais me preocupa é que, quando os investidores apoiam e aplaudem com veemência, os resultados não demoram muito a chegar, num boom inicial de crescimento seguido por momentos de estagnação e crise econômica, onde reforçamos nossos mais tenebrosos estigmas de colônia dependente e periférica, que Deus tenha piedade deste país.

A imperfeição humana, a reencarnação e a evolução espiritual

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Na sociedade contemporânea, muitas são as dúvidas que surgem na cabeça das pessoas, muitos se indagam sobre os sentidos da existência, outros questionam da existência de Deus, muitas são as indagações e todas elas tem suas respostas, cabe ao ser humano buscar responder estas indagações, umas encontramos nas reflexões filosóficas, outras estão escondidas nos escaninhos das religiões, enquanto outras estão nos mananciais da ciência, o Espiritismo compila todas estas indagações e nos leva a viajar por mares, muitas vezes, antes navegados, desde que tenhamos curiosidade, dedicação e queiramos aprender.

A Doutrina Espírita destaca que como seres imperfeitos estamos sempre vivendo nos dois lados da vida, alterando vivências nos mundos material e imaterial, nestas excursões aprendemos e evoluímos para atingirmos um estágio maior de desenvolvimento espiritual, quando nossas viagens são reduzidas e passamos a vivenciar novas experiências ruma a um progresso cada vez maior, esta viagem depende de cada ser humano, uns a fazem de uma forma mais rápida enquanto outros demoram um bocado mais nestas andanças, mas todos vamos conseguir atravessar com êxito esta caminhada.

A descoberta da vida espiritual é uma contribuição imensa do Espiritismo, com ela nos foi dado a conhecer a existência de outros mundos, como nos mostrou a física quântica, com seus mundos convivendo simultaneamente, estamos muito próximos destes mundos, mas ao mesmo tempo estamos deverás distantes. Nestas andanças da ciência e do pensamento científico a Doutrina dos Espíritos nos descortina uma nova vida, onde os valores se transformam e passamos a acreditar na imortalidade da alma e nas vivências em outras épocas e lugares, com sensações, medos e percepções diferentes.

Somos seres imensamente imperfeitos e interesseiros, pensamos muito mais em nossos prazeres e em satisfazer nossas vontades do que no coletivo, invejamos outras pessoas que acreditamos ser profissional de sucesso ou exitosa no relacionamento, almejamos valores de terceiros e desejamos coisas que não são nossas, não que queiramos extrair diretamente de outrem, mas desejamos que este produto, esta mercadoria ou até mesmo esta pessoa, esteja ao nosso lado no cotidiano. Num mundo muito centrado no eu, estamos sempre desejando algo de alguém, observamos seu sucesso e não percebemos seus esforços, adoraríamos ter seus recursos financeiros e desdenhamos da grande carga de trabalho e dedicação, queremos o que vemos e nos é aparente, mas esquecemos daquilo que está escondido, seus esforços, estudos e dedicações, desta forma nos tornamos seres infelizes e cada vez mais interesseiros e imediatistas.

A Doutrina dos Espíritos nos concede um grande manancial para construir uma nova experiência no corpo material, não podemos mais alegar ignorância como fizemos durante muitos séculos, a literatura disponível é vasta e de grande valor espiritual, desde romances passando por dissertações, desde contos passando por biografias, o acervo é variado e de grande valor moral, cabe a cada indivíduo se debruçar nestes conhecimentos e utilizá-los para sedimentar nossa caminhada, afinal estamos cheios de caminhos pedregosos e esburacados, o espiritismo nos abre um novo mundo e uma nova realidade, dando-nos novas experiências e valores mais consistentes.

Através de nossas imperfeições atraímos obsessores constantemente ao nosso lado, através de nossas fragilidades morais atraímos energias deletérias a todos os momentos, nos esquecemos que podemos buscar o equilíbrio e compreender as razões dos progressos dos seres humanos, desde que entendamos que todas as grandes conquistas exigem esforços e dedicações intensas e entregas verdadeiras, sem elas nossas conquistas são cada vez mais temporárias, frágeis e centradas em um reduzido mérito.

Assistimos a televisão e vemos todos os dias nas mais variadas mídias digitais o crescimento acelerado da violência, da corrupção e de crimes dos mais violentos possíveis, nos assustamos com a sociedade e perdemos nossa confiança nos seres humanos e nos esquecemos que vivemos num mundo atrasado, marcado por provas e expiações, onde estamos aqui para sublimar todos os desajustes que acumulamos em vidas e em momentos anteriores, sem superar tais dificuldades não conseguiremos encontrar uma felicidade mais intensa e verdadeira que está reservada para cada indivíduo, desde que passemos a procurar nos locais corretos, não nos prazeres da matéria, mas nos valores do espírito.

As reencarnações anteriores nos servem de baliza para nosso crescimento atual, quando acumulamos valores mais consistentes, valores espirituais, marcados por bons sentimentos e atos mais consistentes, somos assistidos por espíritos mais evoluídos e nos aproximamos de energias mais salutares que nos ajudam em nosso progresso, somos inspirados e aceitamos a inspiração dos espíritos superiores e rumamos a um desenvolvimento espiritual. Quando acumulamos valores mais materializados e deixamos os valores do espírito de lado, atrasamos nosso progresso espiritual e não sentimos as inspirações dos bons espíritos, mas daqueles que vibram no mesmo diapasão, com isso, retardamos nosso progresso e acrescentamos mais equívocos para outras vivências no mundo material.

Somos o que nós nos deixamos fazer conosco nas mais variadas encarnações que vivenciamos, nesta viagem passamos pelas mais variadas experiências, encarnamos em corpos femininos e depois em corpos masculinos e vice-versa, fomos ricos e pobres, passamos por experiências variadas, sentimos as dores do abandono e do desajuste material, vivemos em culturas de opressão e experimentamos momentos de liberdade, deixamos de lado nossos valores éticos e exercitamos nossos valores morais, tudo isso nos auxiliou a moldar nossos valores mais íntimos, somos hoje um misto de todas estas experiências no mundo material, a reencarnação é uma grande dádiva de Deus e em ela temos muita dificuldade de compreender a justiça divina, sem a reencarnação construímos um mundo baseado numa falsa meritocracia.

A evolução humana é demorada e exige grande dedicação, a razão existe no mundo a uns quarenta mil anos, como nos mostrou o espírito André Luiz, neste período reencarnamos entre 800 e mil vezes, nestas experiências acumulamos progressos em várias áreas, passamos a dominar novos conhecimentos e novas culturas, línguas e vivências. Neste emaranhado de encarnações nos tornamos únicos e individuais, mas criados e mantidos por um Deus maior, de amor, de misericórdia e de solidariedade, nestas experiências percebemos que somos seres humanos e para evoluir precisamos estar sempre próximos, um auxiliando o outro, com isso progredimos e impulsionamos o progresso de nossos semelhantes.

O médium mineiro Francisco Cândido Xavier, analisando a chamada transição planetária, destacou que o Planeta Terra se tornará um mundo de regeneração somente a partir de 2057, ou seja, depois de duzentos anos da codificação espírita. Neste momento vivemos um período de grandes inquietações, as transformações são intensas, rápidas e aceleradas, gerando desesperança e muito medo, neste momento percebemos que nosso planeta está recebendo entidades inferiores, agressivas e que se comprazem com o mal, com a dor e com a violência. Estas entidades estão saindo das catacumbas do umbral, são espíritos que não mais queriam reencarnar, são entidades que viveram durante muitos séculos em condições de indignidade e foram, compulsoriamente, escaladas para retornar ao mundo material, estão tendo mais uma chance de se libertar destes sentimentos degradados e se resistirem e continuarem cultivando intimamente estes valores serão degradados para mundos inferiores, estão tendo suas últimas chances de se libertar deste mal e desta ignorância que cultivaram durante séculos, o mundo não mais pode esperar por estas entidades para continuar sua trajetória de progresso e de desenvolvimento.

Muitas doutrinas religiosas não acreditam na reencarnação, o próprio catolicismo a aboliu de suas fileiras no século V, algumas correntes passaram a acreditar no dia do juízo final, noutros no sono eterno, acreditam que a vida é única e não retornamos mais a este mundo, o espiritismo rechaça fortemente estes valores e destaca a reencarnação como o instrumento mais consistente para entendermos a justiça divina, sem a reencarnação não conseguiríamos compreender as dores do mundo, as desigualdades crescentes, as doenças em curso em crianças em tenra idade, os pecados originais e os assassinatos sanguinários e violentos, as propensões e as inspirações do bem e do mal, sem reencarnação não conseguiríamos compreender os verdadeiros significados da vida.

Evoluímos dos dois lados da vida, na obra Memórias de um suicida, de Yvonne do Amaral Pereira, nos deparamos com a história do grande escritor português Camilo Cândido Botelho, na obra percebemos como o escritor posterga o retorno ao mundo material, permanecendo no mundo espiritual, por mais de quarenta anos, neste período Camilo se dedicou imensamente ao estudo, lendo, fazendo cursos, conversando com os sábios da espiritualidade, aprendendo sempre e, com isso, angariou as forças necessárias para seu retorno ao mundo material. O escritor sabia que para progredir espiritualmente precisava retornar a matéria, seus equívocos foram inúmeros e apenas com a experiência de uma nova encarnação poderia começar a reconstruir seu equilíbrio, embora tenha aprendido que o equilíbrio para o suicida demora muitos anos, segundo lhe informaram mais de duzentos anos.

Noutra obra de relevo, também nos deparamos com experiências de crescimento do espírito no mundo espiritual, na obra Missionários da Luz, de Francisco Cândido Xavier ditado pelo espírito de André Luiz, nos deparamos com a história de Segismundo, nela percebemos como o trabalho consciente e responsável pode auxiliar no progresso e no desenvolvimento do espírito, embora marcado por graves desequilíbrios e desajustes, o melhoramento de Segismundo foi verdadeiro e suas obras foram tão grandiosas que atraiu auxílio de espíritos de escol, como Bezerra de Menezes e o instrutor Alexandre, somente o trabalho remove de nossos escombros os mais severos equívocos e dificuldades, fazendo com que consigamos evoluir e adotar a máxima atribuído a Chico Xavier: Embora nenhum de nós possamos refazer os erros do passado, todos podemos começar novamente e fazer um novo final.

Perseguições invisíveis, agressividades e inimigos espirituais

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Vivemos em uma sociedade de grandes extremos, num mundo materializado onde o dinheiro e a posição social são instrumentos de classificação dos seres humanos, todos vivem num constante embate para a sobrevivência. O ambiente descrito parece comum a muitas pessoas, o que muitos não sabem é que este confronto não se dá apenas no mundo material, os embates entre os dois polos da vida são constantes e motivam grandes reflexões entre os indivíduos, estamos sendo testados constantemente e devemos nos preparar para não sermos conduzidos pelos inimigos espirituais desencarnados, que são responsáveis por estimular muitos confrontos e impulsionar mágoas e ressentimentos dos dois lados da vida.

O trabalho no bem sempre nos equilibra e nos abre espaço para o crescimento e para o desenvolvimento espiritual, mesmo sendo algo que nos faz muito bem e nos conforta, os espíritos ora inferiores atuam no sentido de desequilibrar e gerar constrangimentos para estes colaboradores da Doutrina Espírita, buscando com isso desestabilizá-los e criar maiores desajustes e constrangimentos, afastando-os das obras edificantes e mantendo-os na escuridão da ignorância, por vingança de disputas anteriores ou por prazer em vê-los desequilibrados e constrangidos.

A Doutrina Espírita nos mostra que estamos sendo testados todos os momentos por irmãos desencarnados, alguns desafetos declarados estão motivando sentimentos menores como forma de incrementar confrontos e estimular uma violência gratuita, gerando constrangimentos e desequilíbrios que, em muitos casos, se perpetuam por muitos séculos, gerando rancores, ressentimentos e desafetos em todos os planos da vida, em algumas obras de vulto da Doutrina Espírita percebemos perseguições que duram mais de duzentos anos, criando um enorme rastro de violência, lágrimas e destruições.

Nos grupos mediúnicos encontramos um exemplo claro destes desafetos, irmãos desencarnados que, por ora, se comprazem com o bem, usam de todos os artifícios e artimanhas para impedir os médiuns, os passistas e os doutrinadores de participar dos trabalhos, isto porque sabem que o trabalho em curso tende a dificultar a atuação destes irmãos no desajuste de seus desafetos. Como conhecem o pensamento espírita ou suas ferramentas mais imediatas, usam seus conhecimentos para afastar os trabalhadores da jornada do bem, adotam posturas desprezíveis, se utilizam de atitudes e comportamentos mesquinhos e usam os piores recursos para evitar os medianeiros de trabalharem no bem e no auxílio daqueles irmãos que sofrem em desespero e em desalinho com os ideais superiores de amor, de paz e de solidariedade.

Estes irmãos que vibram num diapasão inferior, que se comprazem com o mal e se mobilizam para impedir o progresso, conhecem a força e os sentimentos superiores dos discípulos de Jesus, reconhecem na Doutrina Espírita conceitos consistentes para melhorar a conduta dos seres humanos e, com isso, usam de todos os instrumentos que possuem para impedir a adesão de seus perseguidos em suas fileiras, temendo que as portas abertas do desequilíbrio sejam fechadas e a influência espiritual que possuem seja encerrada por completo.

Muitas pessoas acreditam que ser médium é um privilégio concedido a poucas pessoas, o que a maioria desconhece é que todos somos médiuns, como nos diz Allan Kardec em O Livro dos Médiuns: “Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva”. A mediunidade é algo inerente a todos os seres humanos, a diferença é a intensidade e as características desta mediunidade, uns são psicofônicos, outros psicógrafos, outros doutrinadores, outros oradores, alguns de efeitos físicos, dentre outros tipos…

A mediunidade auxilia no progresso dos indivíduos, deve ser vista como um instrumento para o crescimento espiritual e coletivo da humanidade, os médiuns apresentam uma grande sensibilidade e, com isso, devem auxiliar aqueles que necessitam de uma orientação espiritual, motivando-os ao estudo e a reflexão sistemáticas como forma de compreender o verdadeiro e real significado da vida, estimulando os indivíduos a cultivarem mais valores espirituais e menos valores materiais, como estamos vendo na sociedade contemporânea, onde as pessoas estão se perdendo no materialismo e no imediatismo e deixando de lado valores morais e espirituais, estes sim os verdadeiros valores da vida e do ser humano.

O médium atrai muitas energias negativas e necessita de vigilância constante, isto porque em muitos momentos acaba atraindo espíritos desequilibrados e muitas entidades que desconhecem sua verdadeira situação, irmãos desencarnados que desconhecesse a existência de vida pós-morte e se encontram perdidos, algo muito mais comum do que as pessoas imaginam. A mediunidade para ser bem desenvolvida precisa de estudo, cabe as pessoas dotadas desta sensibilidade uma busca constante por conhecimento, a leitura da obra de Allan Kardec é imprescindível, o pentateuco espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno, A Gênese e O Evangelho segundo o Espiritismo) serve como uma bússola para a compreensão das realidades da vida.

Encontramos muitos espíritos que se comprazem com o mal, se desdobrando para evitar os trabalhos dos médiuns encarnados, entidades que sentem prazer no mal e no desequilíbrio se unem para gerar transtornos e constrangimentos para os médiuns que, segundo eles, ousam trabalhar para difundir os ideais trazidos para humanidade por Jesus Cristo. Estes irmãos se utilizam de sua invisibilidade para criar dificuldades e desviar estes trabalhos, estimulando caminhos alternativos e afastando-os das obras do bem, sentem prazer com as quedas e trabalham incessantemente para que as casas espíritas sejam fechadas e os ideais da Doutrina dos Espíritos sejam colocados de lado ou esquecidos.

Muitas pessoas sentem este ataque das entidades inferiores quando começam a frequentar a casa espírita, estes irmãos se organizam para que se atrasem aos trabalhos, estimulam seus melindres mais íntimos e buscam criar constrangimentos no cotidiano para que se afastem do trabalho, temem que as atividades no bem transformem estes irmãos e estes passem a ter controle e autonomia sobre suas vidas e suas escolhas mais íntimas e pessoais.

Os médiuns que se encorajam a trabalhar para o bem e para o crescimento do amor e da solidariedade, percebem que, com isso, se transformam em alvos dos irmãos que vibram no diapasão dos desajustes, sendo por eles perseguidos constantemente, onde são estudados intimamente para perceber seus desequilíbrios e, num segundo momento, atuar diretamente para inviabilizar seu trabalho, afastando-os das atividades do bem e transformando-os em motivos de escárnio e de desventuras. Na sociedade contemporânea encontramos inúmeros casos de médiuns dotados de grandes capacidades mediúnicas que se deixam levar por sentimentos menos dignos que trazem intimamente, estes sentimentos estão em suas entranhas mais íntimas e os espíritos inferiores buscam nestas entranhas estimular para que estes desequilíbrios gerem constrangimentos maiores para o médium e que, com isso, atinja a doutrina e fragilize seus ideais mais sinceros de amor e de solidariedade.

Nas reuniões mediúnicas encontramos espíritos inferiores agressivos, que ameaçam os trabalhadores da casa, se acreditam dotados de um poder sobrenatural, ofendendo e querendo agredir fisicamente, mas são contidos pelos mentores da casa, estes irmãos insatisfeitos com sua condição ameaçam até mesmo os familiares dos médiuns, seus filhos e parentes mais próximos, mostrando-nos, com isso, como a atuação do médium na casa espírita deve vir acompanhada de seus familiares, criando um conjunto de energias salutares para evitar a influência das entidades inferiores que se comprazem com o mal, o rancor e o ressentimento.

Neste embate constante entre forças dos dois lados da vida, é importante destacar, que os trabalhadores da seara do bem estão sempre muito bem protegidos pelos seus guias e simpatizantes, que se utilizam das forças do bem para proteger e perpetuar os trabalhos para que os valores do Cristo sejam eternos e sempre vencedores. Numa situação de embates constantes, cabem aos médiuns trabalhadores da seara do bem, a perseverança e o trabalho constante, além disso, um forte controle sobre seus pensamentos e o cultivo de hábitos simples e saudáveis, visando á fragilização dos irmãos que ora se comprazem com o mal e o fortalecimento dos ideais propostos e estimulados pelos prepostos do Cristo.

Quando estamos em momentos de invigilância, fragilizados e descuidados, abrimos nosso campo mental para a atração destas entidades inferiores, oferecendo campo as mentes desequilibradas que se acercarão de nós e, encontrando desguarnecidas as nossas defesas, terão possibilidades concretas de conseguir o nosso afastamento e de se regozijarem com a nossa queda. Como disse o espírito Emmanuel, mentor espiritual de Francisco Cândido Xavier, quando foram apresentados, e o primeiro lhe mostrou as credenciais necessárias para o trabalho sob as hostes de Jesus Cristo, enfatizando que para este trabalho eram necessários “Disciplina, disciplina e disciplina”.

            Os obsessores se utilizam de métodos conhecidos pelos espíritas, mas mesmo assim, muitos sucumbem a sua atuação e se rendem ao trabalho de desagregação do trabalho espiritual, dentre os métodos podemos destacar a ideia do comodismo para afastar as pessoas das reuniões, gerando argumentos tais como “as reuniões são boas, mas hoje não vou porque trabalhei muito”, “eu já produzi muito nas reuniões, por isso faltar hoje não faz mal” ou “eu sou muito assíduo, todo mundo falta menos eu”, todos estes argumentos são estimulados pelos espíritos inferiores para que os trabalhadores se afastem dos trabalhos, faltando numa semana e depois se ausentando na outra, quando vai ver o trabalhador acaba abandonando as atividades, alegrando os obsessores e deixando de trabalhar seu instrumento mediúnico, gerando constrangimentos individuais e coletivos.

Os perseguidores espirituais são astutos e inteligentes, se utilizam de sua capacidade reflexiva para fragilizar os trabalhadores do bem, estudam suas limitações e incutem em suas mentes pensamentos de perseguição, incrementando seus melindres e disseminando a desconfiança, com o intuito de fragilizar o trabalho e reverter uma luz que hora se acende para o esclarecimento, o equilíbrio e o fortalecimento dos ideais da espiritualidade maior.

Os espíritos esclarecidos não cansam de nos estimular para o bem, todos os momentos possíveis estão tentando nos alertar, reiterando a cada dia os apelos à nossa reforma íntima. Como nos diz Suely Caldas Schubert, na obra Obsessão e Desobsessão, “A maioria de nós ainda somos bastante teóricos, sabendo de cor e salteado páginas, citações, livros, mas pouco conseguindo vivenciar os ensinamentos adquiridos”.

O trabalho mediúnico desenvolvido com os verdadeiros ideais de Jesus Cristo nos auxilia no desenvolvimento e no crescimento espirituais, este instrumento não nos foi dado para que guardemos numa gaveta e olhemos para a janela e enxerguemos as dores alheias, na verdade são instrumentos de progresso e crescimento da humanidade, o amor e o saber devem andar juntos e de forma concomitante. Como nos disse o médium mineiro Francisco Cândido Xavier: “Quem sabe pode muito, mas quem ama pode mais”.

  As raízes do sofrimento humano

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Vivemos em uma sociedade marcada por muitos medos, dores e sofrimentos, os espíritos superiores nos mostram, constantemente, como estas dores estão crescendo e os seres humanos estão, cada vez mais, perdidos e atordoados, gerando um mundo marcado por ambiente degradantes, caracterizados por energias densas e desagradáveis, levando pessoas a cultivarem ideias de suicídio, incrementando a depressão, a ansiedade e a desesperança. Neste mundo de transformações aceleradas, o medo está dominando os corações e a esperança de um futuro melhor está diminuindo rapidamente.

Nesta sociedade centrada na concorrência e na competição, os indivíduos estão preocupados com sua sobrevivência cotidiana, se entregam ao trabalho e transformam suas vidas em uma constante busca por dinheiro e retornos monetários, mergulhando em um trabalho cada vez mais agressivo, que toma grande parte da vida das pessoas, restringindo os seres humanos a um verdadeiro sobreviver via trabalho, emprego, qualificação e capacitação constantes, deixando valores mais consistentes de lado, como família, amores e religião.

São inúmeras as preocupações para o indivíduo do século XXI, que o ser humano está deixando de lado seus valores mais consistentes, muitos destes valores vem sendo construídos pela coletividade a alguns séculos, datam do período conhecido como Iluminismo, como tolerância, liberdade, respeito e companheirismo, com isso, estamos vivendo uma sociedade onde as pessoas estão amedrontadas, o trabalho está gerando traumas intensos, os relacionamentos estão gerando frustrações e as famílias não mais conseguem suportar os dramas humanos, neste mundo de competição o dinheiro ganha relevância, promete satisfação, alegrias incomensuráveis e entrega desolação, solidão e frustrações.

Neste turbilhão de informações e tecnologias que surgem todos os dias, estamos ficando cada vez mais individualistas, estamos sempre nos deixando levar pelo imediatismo e pelos prazeres do agora, com isso, estamos perdendo a capacidade de colaborar e de cooperar, como nos diz o historiador israelense Yuval Harari: “Nós humanos somos os únicos mamíferos que conseguem cooperar em grandes quantidades. Coloque 10 mil chipanzés em um estádio e você tem o caos total”.

A Doutrina dos Espíritos nos mostra, que vivemos numa sociedade onde nos encontramos todos os momentos com entidades espirituais, irmãos que passaram do mundo material para o mundo espiritual, estes espíritos nos influenciam muito mais do que imaginamos, muitos pensamentos que cultivamos e acreditamos serem nossos, na verdade são inspirações que nos são trazidas por irmãos de outros planos da vida. Num momento como o que estamos vivendo, marcados por grandes inquietações, conflitos generalizados, medos e desesperanças, além de uma época de grande degradação do meio ambiente, as energias que circundam o Planeta Terra tendem a ser negativas e degradantes, com isso, cultivar bons pensamentos, boas leituras e estimular sentimentos saudáveis nos auxiliam e nos servem como uma vacina para os males da contemporaneidade.

Nesta atual situação da sociedade mundial, muitos irmãos do mundo espiritual, espíritos abnegados que se esforçam para que as ideias de Jesus Cristo sejam difundidas e possam contribuir para o crescimento espiritual da sociedade, estão preocupados e receosos do crescimento deste negativismo e desesperança. Estas entidades acreditam, que o mundo contemporâneo está passando por momentos de fortes transformações, mesmo percebendo o crescimento de constrangimentos na coletividade, estes acreditam que são momentos passageiros de uma mudança estrutural, onde os ganhos futuros serão maiores e mais consistentes para o planeta, mas para que isto se efetive, faz-se necessário que o ser humano compreenda a situação que passa a humanidade, um momento de transição e reequilíbrio, onde os valores devem passar por grandes transformações, a tecnologia está mudando o ser humano, mas os valores espirituais devem prevalecer, muitos dos desequilíbrios e dos sofrimentos humanos estão centrados na ausência de Deus, a tecnologia e os valores monetários e materiais estão levando os indivíduos a se afastarem do essencial, dos valores mais consistentes que nos foram dados pelo Criador.

Os sofrimentos estão atrelados aos excessos, tudo que é excessivo nos prende e nos limita em nossas potencialidades. Na sociedade contemporânea os prazeres materiais são dominantes, somos direcionados e estimulados por programas de computadores e algoritmos que nos conhecem muito mais das nossas vidas do que nós mesmos. Evitamos o famoso conheça-se a ti mesmo porque este conhecer nos leva a uma reflexão que pode nos assustar, neste autoconhecimento podemos nos preocupar com as descobertas, levando-nos a comportamentos assustadores que podem nos afastar dos padrões de normalidade de uma sociedade que atribui valores aos indivíduos que mais acumulam recursos financeiros.

Os sofrimentos humanos são fruto de nossas escolhas e de nossas trajetórias, antigamente podíamos alegar ignorância e desconhecimento, na atualidade este desconhecimento é algo que não podemos mais aceitar, os conhecimentos estão em todos os lugares, nas telas dos computadores, nas mais variadas mídias digitais e nos templos religiosos e nas casas espíritas, precisamos apenas aceitar nossas escolhas e entender que somos na atualidade aquilo que fizemos de nossa vida em momentos anteriores e que seremos no futuro aquilo que plantarmos no momento atual, quem planta degradação, orgulho e ressentimento, em momento algum colherá tolerância e solidariedade.

Nas reuniões mediúnicas, as entidades elevadas nos mostram os desajustes dos seres humanos, pedem oração e conduta serena, nos orientam em nossas escolhas e nos mostram as degradações do mundo, as lutas fratricidas e as ambições que cegam os seres humanos e os aproximam dos animais mais cruéis e desumanos da sociedade, estas imagens são reais e verdadeiras e nos influenciam muito mais do que imaginamos em nosso cotidiano.

Pesquisas recentes feitas no Brasil nos mostram que, para 78% da população, o trabalho ou a falta dele são responsáveis por doença e sofrimento, o trabalho que deveria ser fonte de regozijo e crescimento pessoal, passou a ser um grande gerador de desajuste e desequilíbrio, a carga excessiva, as cobranças crescentes, as metas impossíveis de atingir, os baixos salários, os medos de demissão e as grosserias dos gestores, todas estas questões somadas estão contribuindo para que o cenário profissional se transforme num grande gerador de mágoas e degradação.

Neste cenário de tantas transformações estruturais, os indivíduos estão esquecendo os ensinamentos deixados pelo Mestre de Nazaré, todas as suas mensagens estão sendo lidas e estão emocionando os indivíduos mas, ao mesmo tempo, não estão gerando as transformações que o mundo requer, as pessoas leem, mas não compreendem, as pessoas frequentam os cultos religiosos, mas não deixam seus ensinamentos adentrar seus corações, as pessoas conversam sobre assuntos engrandecedores, mas se negam a sua transformação pessoal, as resistências dos seres humanos são imensas e, com isso, perpetuam as lágrimas, muitas delas escondidas, e os rancores e ressentimentos, energias que corroem e maltratam as pessoas e geram sentimentos inferiores que se apoderam dos mais incautos e imediatistas.

Muitos indivíduos acreditam que suas dificuldades são oriundas de outras existências, aceitam seus equívocos e limitações e acreditam que não vão conseguir, pelo menos nesta encarnação, encontrar um outro caminho e deixar para trás os transtornos identificados. Alguns acreditam na reencarnação, se dizem adeptos da Doutrina dos Espíritos e acreditam que podem deixar seus dramas para uma outra oportunidade de retorno ao corpo físico, o grande problema deste raciocínio é que, com a redução das famílias no mundo contemporâneo, muitos espíritos teriam que aguardar uma nova oportunidade, coisa que nem sempre acontecerá facilmente, neste ínterim o espírito ao se conscientizar do equívoco cometido se arrependerá de não ter encarado seus problemas mais diretamente.

Seguindo este pensamento, muitas pessoas atribuem suas dificuldades a outras vidas e outras experiências físicas, acreditam que muitas de seus dramas, conflitos ou ressentimentos são originários de outras vivências, com isso se esquecem que a maior parte dos nossos desequilíbrios são construídos nesta vida material e devem ser resolvidos agora, evitando um retorno com as mesmas marcas que nos constrangem na atualidade. Muitos rancores acumulados em relacionamentos tóxicos, muitos conflitos familiares, muitos ressentimentos em amizades degradantes e muitos dramas pessoais são aumentados e acabam gerando problemas muito maiores, levando muitas pessoas a transtornos variados, atraindo uma gleba de entidades espirituais que vibram no mesmo diapasão, estes irmãos acabam aumentando os seus dramas e transformando pequenos contratempos em desequilíbrios acentuados que são levados por muitas encarnações, prendendo ambos os espíritos num espiral de desajustes e ressentimentos.

A preocupação dos espíritos superiores com o Planeta Terra é intensa e verdadeira, estas entidades percorrem todos os cantos do globo terrestre e percebem os dramas individuais e coletivos aumentarem de forma exponencial, países em crises constantes, irmãos se agredindo, famílias sendo destruídas com requintes de crueldade, governos conspirando contra sua população, indivíduos gananciosos planejando novos saques e pilhagens materiais, neste ambiente marcado por desequilíbrios individuais e coletivos, deslealdade e desavenças, onde as energias dominantes são deverás degradantes, os irmãos que ora se comprazem com o mal, o rancor e o ressentimento se locupletam fortemente e percebem que seus caminhos de degradação estão abertos, influenciando os irmãos mais incautos e desprotegidos, transformando-os em verdadeiras marionetes, seres humanos manipuláveis e controlados, cujas energias são fragilizadas e seus sentimentos ignorados, uma obsessão que se transforma rapidamente em possessão, aumentando os dramas pessoais e coletivos da humanidade.

Vivemos um momento de grandes inquietações, um momento de transição e grandes transformações, todas as estruturas estão sendo destruídas e reconstruídas, neste momento muitos dos dramas individuais e constrangimentos coletivos estão vindo a tona e perturbando os seres humanos, que num gesto tresloucado se afastam de Deus e das filosofias saudáveis e buscam crenças e religiões mais materializadas, muitas delas cheias de rituais, muitas destas buscas servem para uma convenção social e não se transformando em um espaço de reflexão e crescimento espirituais, com isso, percebemos um ser humano cada vez mais perdido e insatisfeito, com seus dramas íntimos aumentados e suas esperanças reduzidas, está na hora deste ser que se diz racional se voltar para suas origens espirituais, buscando Deus e construindo em locais sólidos e consistentes, deixando de lado valores transitórios e cultivando os verdadeiros valores espirituais, está na hora do reencontro do indivíduo com seu Deus, este sim tem potencial de elevação, equilíbrio e desenvolvimento moral e espiritual. Sem este reencontro, o ser humano continuará buscando as origens do seu sofrimento em outras pessoas e se desviará de compreender que a verdadeira origem de seus males e de seus sofrimentos estão em suas decisões equivocadas e em suas ambições desmesuradas e desequilibradas.

“O diagnóstico de Guedes sobre o Estado não se sustenta”, segundo Oreiro.

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IHU – 11/11/2019

 O Plano mais Brasil, um novo pacote econômico enviado pelo governo ao Congresso Nacional na semana passada, que inclui três Propostas de Emenda Constitucional – PECs – a PEC do Pacto Federativo, a PEC dos Fundos Públicos e a PEC Emergencial –, é fundamentado na ideia geral de que “para recuperar o crescimento da economia brasileira de forma mais sustentável, tem que diminuir o tamanho do Estado”, diz o economista José Luis Oreiro à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone. Segundo ele, com este pacote o governo diz à sociedade que “é possível reduzir o volume de serviços que o Estado brasileiro presta à população”.

Para o economista, um exemplo concreto de que o governo quer reduzir a participação do Estado nos investimentos sociais se manifesta nas propostas de desindexação, desvinculação e desobrigação dos gastos sociais. “No fundo, Guedes quer acabar com a distinção entre despesa obrigatória e despesa discricionária desindexar as despesas públicas, porque muitas delas são indexadas à avaliação da inflação, como era o caso do salário mínimo”, afirma. Com uma possível desindexação do salário mínimo à inflação, argumenta, “corre-se o risco de ter uma situação na qual uma parte significativa dos benefícios previdenciários e de assistência social no Brasil não seja corrigida nem mesmo pela inflação. Isso, obviamente, vai aumentar a desigualdade de renda e a pobreza”.

Apesar de o governo argumentar que a PEC do Pacto Federativo possibilitará maior flexibilização aos gestores dos entes federativos em como administrar os recursos com saúde e educação, o economista pontua que “deixar isso a critério do político de plantão” não é “correto”. De outro lado, ele admite a possibilidade de “discutir se as atuais alíquotas para saúde e educação são as adequadas. “O Brasil está passando por um processo de envelhecimento, e quando a população envelhece, a proporção de velhos aumenta e a proporção de jovens diminui. Desse modo, é razoável que em algum momento tenha que se ajustar a vinculação de gastos em saúde e educação a fim de reduzir a alíquota para a educação e aumentar para a saúde, porque basicamente quem tem problema de saúde são os velhos e quem precisa de educação são os jovens. Mas se, de fato, estamos vivendo uma transição demográfica em que o percentual de jovens vai diminuir nos próximos 20 anos, então é razoável que se ajustem os percentuais de receitas aplicados à saúde e à educação”, pondera.

Entre os poucos pontos positivos do pacote econômico, Oreiro cita a proposta da PEC dos Fundos Públicos de usar o dinheiro de alguns fundos para abater a dívida pública. “Existem 220 bilhões de reais parados em 281 fundos públicos no Brasil. Seria interessante fazer um mapeamento desses fundos e ver quantos de fato não têm razão de ser e podem ser extintos para usar o dinheiro para abater a dívida pública. Essa é uma ideia bastante razoável”, destaca.

José Luís Oreiro possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio e doutorado em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. Atualmente é professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O pacote econômico apresentado pelo ministro Paulo Guedes inclui três PECs – PEC do Pacto Federativo, PEC dos Fundos Públicos e PEC Emergencial – e é considerado a maior reforma dos últimos 30 anos. Quais são as diretrizes, linhas gerais, que fundamentam o pacote econômico do governo?

José Luis Oreiro – O fundamento, ou seja, o que está na cabeça do Paulo Guedes é que, para recuperar o crescimento da economia brasileira de forma mais sustentável, tem que diminuir o tamanho do Estado. Esse é o fundamento mais geral e ele já vinha falando isso há muitos anos em artigos que escrevia no jornal O Globo. Para ele, o modelo social-democrata adotado no Brasil durante os governos FHC e Lula havia levado o país a uma armadilha de baixo crescimento e, portanto, só seria possível voltar a ter um crescimento elevado se retirasse o Estado. Esse fundamento mais geral se desdobra em algumas outras hipóteses.

Na argumentação do Guedes está implícita uma visão muito antiga em economia, que foi descartada pelo Keynes em 1936, quando ele escreveu “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, que se chama a visão do Tesouro. Essa era a visão do Tesouro inglês no final da década de 1920 e início da década de 1930 sobre a possibilidade de usar o investimento público para tirar a economia britânica da grande depressão de 1929. Segundo a visão do Tesouro, toda vez que o governo aumentasse o seu investimento, isso iria reduzir na mesma magnitude e instantaneamente o investimento privado. Então, teria um efeito de deslocamento que faria com que, quando o governo aumentasse o investimento público, o investimento privado incidiria na mesma magnitude. Guedes tem este modelo na cabeça: ele acha que para aumentar o investimento privado, tem que reduzir o gasto público e é isso que está embasando, em termos mais gerais, a proposta dele.

IHU On-Line – O diagnóstico dele é correto ou não para enfrentar a atual situação econômica do país?

José Luis Oreiro – É completamente equivocado e ultrapassado. Primeiro, porque essa visão do Tesouro mostrou que, a não ser em casos excepcionais em que a economia está operando com pleno emprego da força de trabalho, o efeito de deslocamento, se ele existe, não é completo. O mesmo ocorre quando a economia está operando muito abaixo do pleno emprego, como é o caso da economia brasileira agora, que está operando com um hiato do produto de 5% – ou seja, o PIB está 5% abaixo do potencial. Temos um desemprego em sentido amplo, que envolve não só os que não estão trabalhando, mas aqueles que deixaram de procurar trabalho porque já desistiram e as pessoas que gostariam de trabalhar mais horas – isso representa aproximadamente 25% da força de trabalho. O Brasil está operando muito abaixo da força de trabalho e tem todo um espaço para estimular a economia por intermédio de investimento público. Esse diagnóstico de que o crescimento da economia é baixo porque o Estado está inchado, que é o argumento do Guedes, não se sustenta.

Numa das transparências (slides) da apresentação dele, que se chama “máquina que gasta muito”, ele fez uma conta de que em 2018 o governo brasileiro, nas suas três esferas, estaria gastando 49,2% do PIB. Mas essa conta está errada. O economista Sérgio Gobetti do Ipea, já mostrou que nessa conta existe um erro de dupla contagem por conta dos funcionários inativos da União, que são contabilizados duas vezes.

Outro erro é que adiciona os saques do FGTS como se fossem despesa pública e, além disso, considera os juros brutos e não os juros líquidos da dívida pública, pois o governo tem um determinado volume de dinheiro em caixa que também recebe juros. Então, ao serem feitas essas correções, a despesa cai para 41% do PIB, ou seja, um número muito menor do que aquele que o Paulo Guedes está mostrando. A justificativa que o Guedes apresenta para o seu plano emergencial é feita em cima de dados incorretos, ou seja, é aquilo que podemos chamar de contabilidade criativa.

IHU On-Line – As PECs propostas pelo governo indicam, de fato, uma redução da atuação do Estado? Pode nos dar alguns exemplos de como a proposta de redução do Estado se manifesta nessas propostas?

José Luis Oreiro – O primeiro exemplo são os “três Ds”: desindexaçãodesvinculação e desobrigação. No fundo, Guedes quer acabar com a distinção entre despesa obrigatória e despesa discricionária e desindexar as despesas públicas, porque muitas delas são indexadas à avaliação da inflação, como era o caso do salário mínimo – está na Constituição que ele tem que ser reajustado pelo menos pela inflação e existiu uma regra nos governos Lula e Dilma em que ele era reajustado segundo a inflação do ano anterior mais o crescimento do PIB de dois anos antes. O salário mínimo, por sua vez, indexa as despesas previdenciárias, ou seja, nenhum benefício previdenciário pode ser menor do que o salário mínimo. Então, ao desindexar o salário mínimo – e esse é um exemplo concreto do que pode acontecer caso a PEC seja aprovada, o que acho pouco provável –, corre-se o risco de ter uma situação na qual uma parte significativa dos benefícios previdenciários e de assistência social no Brasil não seja corrigida nem mesmo pela inflação. Isso, obviamente, vai aumentar a desigualdade de renda e a pobreza.

desvinculação é retirar a obrigatoriedade dos entes federativos de aplicarem até “x”% das suas receitas em saúde e educação. Isso também é algo que vai no sentido de reduzir o tamanho do Estado. No fundo, o que essas PECs estão querendo fazer é reduzir a dívida pública, dando calote não nos credores, mas em parte da sociedade, porque as PECs preveem, entre outras coisas, uma redução de até 25% do salário dos servidores públicos, permitem a desindexação de benefícios previdenciários e de assistência social à inflação. No fundo, é um pacote desenhado para atender aos interesses dos rentistas do Brasil. O governo vai sacrificar uma parte expressiva da população para garantir o pagamento de juros e das amortizações da dívida pública.

IHU On-Line – Especificamente sobre a fusão dos gastos obrigatórios com saúde e educação, tanto o governo quanto aqueles que são favoráveis à mudança afirmam que ela vai permitir uma maior flexibilidade para que os gestores possam utilizar esses recursos de acordo com as necessidades de cada estado ou município. Quais são suas ponderações sobre esse argumento?

José Luis Oreiro – Existe uma razão de ser dessas vinculações: por pior que sejam os serviços de educação e saúde no Brasil, eles são universais. Essa foi a maneira encontrada para transformar essas políticas em políticas de Estado e para não depender do político de plantão do momento. Até acho que é possível discutir se as alíquotas de saúde e educação são as adequadas. Dou um exemplo: o Brasil está passando por um processo de envelhecimento, e quando a população envelhece, a proporção de velhos aumenta e a proporção de jovens diminui. Desse modo, é razoável que em algum momento tenha que se ajustar a vinculação de gastos em saúde e educação a fim de reduzir a alíquota para a educação e aumentar para a saúde, porque basicamente quem tem problema de saúde são os velhos e quem precisa de educação são os jovens. Mas se, de fato, estamos vivendo uma transição demográfica em que o percentual de jovens vai diminuir nos próximos 20 anos, então é razoável que se ajustem os percentuais de receitas aplicados à saúde e à educação. Agora, deixar isso a critério do político de plantão, não acho correto.

IHU On-Line – Outro ponto que tem sido defendido pelo governo e por aqueles que são favoráveis ao pacote econômico é que ele permitirá o equilíbrio fiscal. Do ponto de vista fiscal, o pacote se sustenta ou não?

José Luis Oreiro – Do ponto de vista fiscal, estão adotando mais do mesmo. A ideia implícita de ajuste fiscal que vem desde o Joaquim Levy, passando pelo governo Temer e agora pelo governo Bolsonaro é que, para crescer, primeiro tem que cortar gastos. Primeiro, o Levy cortou pesadamente os gastos em investimentos e com isso aprofundou a recessão de 2014. Em 2016, o governo colocou o Teto dos Gastos que todo mundo sabia que era insustentável por conta dos gastos previdenciários que ainda vão crescer durante um tempo a 3% ao ano em termos reais. Em algum momento, isso levaria não só à necessidade da reforma da previdência, que acabou acontecendo, mas também à discussão sobre os gastos obrigatórios, particularmente os gastos com o funcionalismo público. Então, o que a PEC vai fazer é aprofundar esse modelo de ajuste fiscal, o qual vai aprofundar a crise, porque quando se cortam gastos se gera uma redução do PIB e isso ocasiona uma redução da arrecadação tributária. É como dar um tiro no próprio pé. Este modelo está equivocado.

Ajuste pela receita

Deveríamos pensar num ajuste fiscal que viesse pelo lado da receita: cobrar impostos dos mais ricos, particularmente, impostos de lucros e dividendos distribuídos, fazer uma reforma tributária que diminuísse o peso dos impostos indiretos e aumentasse o peso dos impostos diretos e sobre propriedade. No Brasil, os impostos sobre propriedade arrecadados pelos municípios são muito baixos. Em Brasília, onde estou morando, pago mais de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA do que de Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, o que é um absurdo, porque o imóvel vale seis, sete vezes mais do que o valor do automóvel. Então, tem um espaço para municípios arrecadarem mais, aumentando o IPTU e o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR. Essa é a discussão que está sendo feita na Europa. Enquanto lá se discutem políticas via reformas tributárias para diminuir a desigualdade por meio da distribuição de renda, aqui estamos querendo desvincular gastos com saúde e educação, cortar os salários do funcionalismo público, como se o percentual do PIB no Brasil gasto com funcionalismo público fosse muito alto; não é.

Chile, por exemplo, gasta como proporção do PIB mais do que o Brasil: 4,7% do PIB, enquanto no Brasil é 4,5%. Nos EUA são gastos 10% do PIB com funcionalismo público. Então, existe um mito de que há um descontrole das contas públicas porque se gasta com funcionalismo público. Isso não é verdade. O descontrole das contas públicas se deu basicamente por causa da queda de receita tributária decorrente da crise de 2014 e 2016 e das desonerações feitas pela dona Dilma em 2012 e 2013.

IHU On-Line – Algum ponto do pacote pode ser positivo para o país?

José Luis Oreiro – Talvez a proposta dos fundos seja interessante, porque tem muito dinheiro parado em fundos, que não estão sendo utilizados. Outra coisa que achei interessante no pacote é o controle das isenções fiscais e subsídios. Não sou contra a desoneração tributária, mas isso tem que ser feito de forma muito criteriosa com base na análise de custo benefício, coisa que não foi feita, diga-se de passagem.

Sobre a PEC dos fundos públicos, segundo a apresentação do ministro, existem 220 bilhões de reais parados em 281 fundos públicos no Brasil. Seria interessante fazer um mapeamento desses fundos e ver quantos de fato não têm razão de ser e podem ser extintos para usar o dinheiro para abater a dívida pública. Essa é uma ideia bastante razoável. Mas aí não se trata de passar a régua e acabar com todos os fundos; tem que olhar caso a caso.

IHU On-Line – Tem algum outro ponto das PECs que precisaria ser reconsiderado, na sua avaliação?

José Luis Oreiro – A ideia de fazer um ajuste emergencial cortando salário dos servidores e serviços é uma maluquice do ponto de vista econômico e social. Do ponto de vista econômico, porque torna a política fiscal ainda mais pró-cíclica. Uma política fiscal pró-cíclica é aquela que vai na mesma direção do ciclo econômico: quando a economia entra em recessão, o governo arrecada menos e então ele pode reduzir os gastos com o funcionalismo em até 25%, o que vai reforçar a queda do produto em função da queda de demanda. Esse é um argumento econômico.

O argumento social é que se o governo vai reduzir o salário do servidor público, reduzindo jornada de trabalho, então o que ele vai fazer, por exemplo, com os professores? Vai reduzir a jornada de trabalho dos professores e eles vão dar menos aulas? Se é assim, então vai ter que haver menos alunos. Vai reduzir a jornada de trabalho dos médicos? Se reduzir a jornada dos médicos, terá que haver menos atendimentos médicos para a população. Vai reduzir a jornada de trabalho dos militares? O que vai se fazer com o Exército? As Forças Armadas deveriam ser, em termos dos servidores da União, aproximadamente 40% dos servidores. O governo vai reduzir em até 25% os salários dos militares, juízes, promotores? No fundo, o governo está dizendo que pode reduzir os serviços que o Estado presta à população. É isto que está nesta PEC: a ideia de que é possível reduzir o volume de serviços que o Estado brasileiro presta à população. Isso não faz o menor sentido.

 

 

O fim do Neoliberalismo e o nascimento da História, por Joseph Stiglitz.

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O declínio simultâneo da confiança no neoliberalismo e na democracia não é coincidência ou uma mera correlação. O neoliberalismo prejudica a democracia há 40 anos.

Jornal GGN

NOVA IORQUE – No final da Guerra Fria, o cientista político Francis Fukuyama escreveu um famoso ensaio chamado “The End of History?”. Ele argumentou que a queda do comunismo eliminaria o último obstáculo que separava o mundo inteiro do seu destino de democracia liberal e economia de mercado. Muita gente concordou.

Hoje, à medida que enfrentamos uma retirada da ordem global liberal baseada em regras, com governantes autocráticos e demagogos à frente de países que contêm bem mais da metade da população do mundo, a ideia de Fukuyama parece peculiar e ingénua. Mas reforçou a doutrina económica neoliberal que prevaleceu nos últimos 40 anos.

A credibilidade da fé do neoliberalismo em mercados desenfreados como sendo o caminho mais seguro para a prosperidade partilhada está na unidade dos cuidados intensivos nos dias de hoje. E com razão. O declínio simultâneo da confiança no neoliberalismo e na democracia não é coincidência ou uma mera correlação. O neoliberalismo prejudica a democracia há 40 anos.

A forma de globalização prescrita pelo neoliberalismo deixou indivíduos e sociedades inteiras incapazes de controlar uma parte importante de seu próprio destino, tal como Dani Rodrik da Universidade de Harvard explicou de forma tão clara e tal como afirmo nos meus recentes livros Globalization and Its Discontents Revisited People, Power, and Profits. Os efeitos da liberalização do mercado de capitais foram particularmente odiosos: se o principal candidato à presidência num mercado emergente “perdesse a graça” em Wall Street, os bancos retirariam o seu dinheiro do país. Os eleitores enfrentavam então uma escolha dolorosa: ceder a Wall Street ou enfrentar uma grave crise financeira. Era como se Wall Street tivesse mais poder político do que os cidadãos do país.

Mesmo nos países ricos, era dito aos cidadãos comuns: “Vocês não podem defender as políticas que desejam” – fosse ela a proteção social adequada, os salários decentes, a tributação progressiva ou um sistema financeiro bem regulamentado – “porque o país perderá competitividade, os empregos desaparecerão e vocês sofrerão”.

Tanto nos países ricos como nos pobres, as elites prometeram que as políticas neoliberais levariam a um crescimento económico mais rápido e que os benefícios iriam ser repartidos para que todos, inclusive os mais pobres, ficassem em melhor situação. Para se chegar a esse patamar, os trabalhadores teriam, contudo, de aceitar salários mais baixos e todos os cidadãos teriam de aceitar cortes em importantes programas governamentais.

As elites alegaram que as suas promessas eram baseadas em modelos económicos científicos e na “investigação com base em provas”. Bem, após 40 anos, os números estão aí: o crescimento diminuiu e os frutos desse crescimento foram na sua esmagadora maioria para um punhado que está no topo. À medida que os salários estagnavam e o mercado de ações subia, o rendimento e a riqueza espalhavam-se para os mais ricos, em vez de se espalharem para os mais pobres.

Como é que a restrição salarial – para alcançar ou manter a competitividade – e a redução dos programas governamentais podem resultar em padrões de vida mais elevados? Os cidadãos comuns sentiram como se lhes tivessem vendido uma lista de artigos. Estavam certos em sentirem-se enganados.

Agora estamos a enfrentar as consequências políticas deste grande artifício: desconfiança das elites, da “ciência” económica em que se baseava o neoliberalismo e do sistema político corrompido pelo dinheiro que tornou tudo isso possível.

A verdade é que, apesar do nome, a era do neoliberalismo estava longe de ser liberal. Impôs uma ortodoxia intelectual cujos guardiães eram totalmente intolerantes à dissidência. Os economistas com perspetivas heterodoxas eram tratados como hereges a ser evitados ou, na melhor das hipóteses, desviados para algumas instituições isoladas. O neoliberalismo continha poucas semelhanças com a “sociedade aberta” que Karl Popper defendia. Tal como George Soros enfatizou, Popper reconheceu que a nossa sociedade é um sistema complexo e em constante evolução, no qual quanto mais aprendemos, mais o nosso conhecimento muda o comportamento do sistema.

Em nenhum lugar essa intolerância foi maior do que na macroeconomia, onde os modelos predominantes descartaram a possibilidade de uma crise como a que vivemos em 2008. Quando o impossível aconteceu, foi tratado como se fosse uma inundação em 500 anos – um fenómeno insólito que nenhum modelo poderia ter previsto. Ainda hoje, os defensores dessas teorias recusam-se a aceitar que a sua crença nos mercados autorregulados e a sua rejeição de externalidades como inexistentes ou sem importância levaram à desregulamentação que foi essencial para alimentar a crise. A teoria continua a sobreviver, com tentativas ptolomaicas de ajustá-las aos factos, o que atesta a realidade de que as más ideias, uma vez estabelecidas, geralmente têm uma morte lenta.

Se a crise financeira de 2008 não conseguiu fazer-nos perceber que os mercados sem restrições não funcionam, a crise climática certamente deveria conseguir: o neoliberalismo acabará literalmente com a nossa civilização. Mas também está claro que os demagogos que querem que viremos as costas à ciência e à tolerância só pioram as coisas.

O único caminho a seguir, o único para salvar o nosso planeta e a nossa civilização, é um renascimento da história. Temos de revitalizar o Século das Luzes e reafirmar o nosso compromisso de horar os seus valores de liberdade, respeito pelo conhecimento e democracia.

Joseph E. Stiglitz, University Professor at Columbia University.

Racionalidade econômica, Liberalismo e Reformas do Estado Nacional  

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Muito se discute na sociedade brasileira as medidas que estão sendo propostas pelo governo com o intuito de tirar a economia da letargia e iniciar um novo ciclo de crescimento econômico, deixando para trás um período de caos e degradação da estrutura produtiva, marcado pelo incremento do desemprego, redução na renda e no salário agregados e uma piora considerável nos indicadores macroeconômicos, como juros, inflação e investimentos.

Nesta discussão encontramos uma miríade imensa de visões e pensamentos econômicos se alternando com o intuito de defender ou de criticar as medidas e as propostas que embalam o atual governo, muitas opiniões estão baseadas em um achismo que nos parece estrutural, onde os liberais defendem uma redução sistemática do Estado como forma de encontrarmos o crescimento da economia e, de outro lado, os grupos de economistas e pensadores da heterodoxia, ou algo parecido com o pensamento descrito como de esquerda, onde este último detona as medidas e destaca sua ineficiência, um embate infantil e muito mais ideológico e partidário do que científico e racionalizado.

Neste debate marcado por muita desinformação e desconhecimento, encontramos equívocos de ambos os lados, uns acreditando que os grandes e estruturais problemas nacionais não serão resolvidos sem uma participação ativa do Estado Nacional, enquanto de outro lado, encontramos teóricos acreditando que o mercado será o grande condutor da economia, o responsável pelos investimentos e pela condução da sociedade, visões antagônicas baseadas em ideologias e pouco centrada em racionalidade econômica e em experiências práticas, isto porque ambos os modelos não passam de experiências teóricas e experimentais, nenhuma delas existe no mundo real, este sim baseado em grandes organizações que dominam o mercado e controlam os governos nacionais, muitas vezes fragilizando-os e colocando em xeque o sistema democrático.

Os grupos à esquerda querem nos fazer crer, que os desequilíbrios econômicos recentes foram inteiramente gerados pelos governos posteriores, julgam ser os donos da verdade, os grandes defensores da população brasileira mais humilde e terem as formas para melhorar as condições e os indicadores macroeconômicos e os desequilíbrios sociais e políticos, mais Estado e incremento nos investimentos governamentais, sem estas medidas o país tende a chafurdar na lama da degradação econômica.

Depois de um período de forte crescimento econômico e grandes investimentos nos chamados campeões nacionais, a herança deixada por governos descritos como de esquerda são bastante controversos em toda região, crescimento econômico acelerado num primeiro momento com fortes repasses para todos os grupos sociais, gerando um grande contingente de ganhadores, euforia e uma suposta exuberância, numa equação que, claramente, não se sustentaria num período de tempo maior, obrigando os governos a escolhas complexas que impactariam sobre a popularidade, levando muitos governantes a optarem por políticas populistas com repasses financeiros elevados e endividamento num futuro próximo. Os grupos de esquerda brasileiros se esquecem facilmente de que, na crise atual vivida pela sociedade brasileira o DNA esquerdista se faz presente de forma evidente, foram políticas públicas generalizadas para os grupos mais vulneráveis e políticas de isenção fiscal para os mais aquinhoados que levaram o país a esta degradação econômica, nos momentos de abundância os gastos foram excessivos e a prudência, fundamental na gestão pública e na iniciativa privada, foram deixadas de lado, com isso, o endividamento público cresceu e a atividade econômica se degradou, levando o país a uma recessão sem precedentes em décadas recentes, com mais de 28 milhões de trabalhadores desempregados, subempregados e na informalidade, além de uma quebradeira generalizada em empresas privadas, desde micro, pequenas, médias e grandes conglomerados.

De outro lado encontramos governos imbuídos de pensamentos descritos como liberais, defendem firmemente políticas de abertura econômica, menos intervencionismo estatal, privatização e uma forte desregulamentação do sistema produtivo, reduzindo benefícios trabalhistas e estimulando um empreendedorismo que nunca fez parte do ideário social brasileiro, nesta visão o Estado é o grande responsável pelo caos econômico e a suposta esquerda é comparada a um comunismo que nunca se instalou com ênfase da sociedade brasileira, discurso confuso, elitista e altamente ideologizado.

Neste embate poucos estão preocupados com os reais problemas da sociedade brasileira, restringem a discussão a questões apenas de ordem econômica, nos discursos defendem que primeiro precisamos arrumar os indicadores destruídos pelos governos de esquerda e depois vamos criar as bases para um crescimento sólido e consistente, elevando a economia brasileira a um novo patamar com investimentos externos crescentes e Bolsas de Valores batendo recordes de exuberância, enquanto isto o lado real da economia, o lado do emprego e da sobrevivência vai ficando para segundo plano, afinal a prioridade é a economia.

Reduzir o tamanho do Estado é uma necessidade urgente e imediata, olhar para os indicadores de solidez fiscal é fundamental, aumentar a produtividade da economia é condição sine qua non para alcançarmos um melhor patamar nesta economia globalizada, altamente oligopolizada, dominada pelas finanças e centrada em novas tecnologias disruptivas e revolucionárias, onde os menos adaptados tendem a se frustrar em um futuro imediato, sem emprego, sem Estado e sem perspectivas. Neste ambiente de conflitos econômicos e desafios crescentes, os grupos políticos precisam se conscientizar, que todos os países que conseguiram se tornar desenvolvidos e deixar para trás a armadilha da renda média o fizeram com uma forte e consistente parceria entre os governos de plantão e os setores empresariais e de mercado, o desenvolvimento é fruto desta união destes agentes econômicos e produtivos, superar esta dicotomia é urgente e extremamente necessário para retomarmos os rumos que perdemos desde as crises externas dos anos oitenta.

Neste momento estamos tomando contato com reformas importantes para a retomada do crescimento econômico, depois da exitosa Reforma da Previdência, outras medidas urgentes estão entrando na pauta do governo, dentre elas destacamos as reformas Tributária, Administrativa e do Estado Nacional, todas elas essenciais para reencontrarmos o crescimento econômico, sem elas a bancarrota total estará cada dia mais próxima e seus impactos serão mais ameaçadores, com fortes tendências de sublevação social, como estamos visualizando em várias regiões do mundo, desde os vizinhos Chile, Bolívia e Peru, até sociedades consideradas mais desenvolvidas, como Hong Kong e Barcelona.

Reformar o Estado Nacional é um dos maiores desafios dos governos, neste momento o Ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou para apreciação dos congressistas, algumas medidas que se forem adotadas tendem a revolucionar os órgão públicas, desde transformações efetivas no funcionalismo público, com flexibilização da estabilidade até redução de salário em momentos de crise econômica, além de medidas concretas para reduzir o número excessivo de municípios no país, muitos deles criados em momentos de euforia financeira, com pouco ou nenhuma sustentação econômica e produtiva, transformando-os em mais espaço para gastos públicos exagerados e poucos resultados efetivos para a população, degradando ainda mais os serviços prestados por este ente federativo.

Muitas destas propostas são vistas como importantes e imprescindíveis para estimular a solidez fiscal do Estado Brasileiro, embora muitas delas sejam vistas como ambiciosas, acreditamos que estas só seriam propostas por governos mais sintonizados com o pensamento da direita, isto porque afetam diretamente grupos políticos fortemente atrelados ao pensamento da esquerda, embora ambiciosas estas medidas são importantes e devem suscitar o debate sobre qual país queremos e imaginamos para um futuro imediato.

Em um ambiente de grandes instabilidades, fazem-se necessário a adoção de inúmeras medidas de impacto, dentre elas, destacamos uma forte reversão de muitas isenções fiscais e tributárias, calculadas em mais de 330 bilhões de reais, que beneficiam grandes grupos organizados que extraem do Estado Nacional altas somas de recursos públicos para suas próprias benesses, levando o governo a fortes desequilíbrios em suas contas, com isso, os serviços públicos se degradam rapidamente e os mais prejudicados são as classes menos favorecidas que mais utilizam os serviços públicos. Mudar esta equação insana não deve ser uma tarefa para um ou outro grupo político, mas para todos aqueles que pensam a sociedade brasileira e vislumbram um futuro mais consistente, com serviços públicos melhores, mais eficientes e contas públicas equilibradas.

Vivemos em um país dual, com realidades contraditórias e crescentes, de um lado estamos discutindo sobre os desafios da Quarta Revolução Industrial, estimulando as start-up, propondo práticas educativas empreendedoras e inovadoras, debatendo sobre desafios dos recursos humanos, da inteligência artificial, da internet das coisas e da qualificação para o século XXI e, ao mesmo tempo, nos encontramos um país marcado por um contingente de 100 milhões de casa sem saneamento básico, onde crianças e jovens crescem com esgoto a céu aberto, sujeito a doenças primárias e alimentação precária, vivemos em duas ou mais sociedade, uma no século atual enquanto outra se rasteja nas trevas da degradação, da marginalidade e na corrupção generalizadas.

As transformações da sociedade mundial estão num ritmo muito acelerado, os governos devem adotar políticas efetivas e atuam mais na regulação, consolidando as instituições e capacitando a mão de obra, fortalecendo as empresas nacionais e investindo recursos em pesquisa, ciência e tecnologia, todas estas ações devem ser concatenadas com a iniciativa privada visando uma melhora na produtividade da economia e uma maior empregabilidade dos trabalhadores nacionais, deixando de lado o Estado gigante, lento e ineficiente, marcado pelo excesso de atribuições econômicas e caracterizado por serviços públicos de péssima qualidade, a economia do século XXI se caracteriza pelo conhecimento e pela inovação, estamos muito atrasados mas temos, internamente, as energias necessárias para nos consolidarmos como um dos eixos deste sistema global de inovações e conhecimento, desde que nos libertemos de uma visão medíocre e patrimonialista que está na raiz da sociedade brasileira. A Reforma do Estado é fundamental e deve ser feita de uma forma efetiva e abrangente, mas não podemos deixar que os esforços destas reformas recaiam apenas sobre os trabalhadores das classes sociais mais aviltadas e degradadas, a reforma deve ser feita e todos os grupos sociais, tantos os mais aquinhoados e a classe média, devem dar seu quinhão de contribuição para a melhoria do Estado e para o desenvolvimento inclusivo e estruturado da sociedade brasileira.

Privacidade, Sigilo, Intimidade, Laços Humanos – e Outras Perdas Colaterais da Modernidade Líquida – Zygmunt Bauman

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Alain Ehrenberg, analista particularmente inspirado da ainda curta – mas já dramática – história do indivíduo moderno, tentou apontar a data de nascimento da revolução cultural do modernismo tardio (ao menos de sua ramificação francesa) que deu origem ao mundo da modernidade líquida que ainda habitamos, elaboramos e reformulamos dia após dia.

Ehrenberg escolheu uma tarde outonal de quarta-feira nos anos 1980, quando uma certa Vivienne, uma “mulher francesa comum”, declarou em um programa de entrevistas na televisão, diante de alguns milhões de espectadores, que seu marido Michel sofria de ejaculação precoce, razão pela qual ela jamais havia experimentado um orgasmo durante toda a sua vida de casada.

O que havia de tão revolucionário no pronunciamento de Vivienne que justificasse a escolha de Ehrenberg?

Dois aspectos reciprocamente interligados: primeiro, algo quintessencialmente, até etimologicamente privado era tornado público – ou seja, era dito diante de todos que desejassem ouvir, ou ouvissem por acaso.

Segundo, a arena pública, ou seja, um espaço aberto de acesso não controlado, foi utilizado para discutir e dar vazão a um assunto de relevância, pertinência e emoção inteiramente privadas.

Juntas, essas duas reviravoltas legitimaram o uso público de uma linguagem desenvolvida para conversas privadas e mantidas entre um número restrito de pessoas selecionadas.

Mais precisamente, essas duas novidades interconectadas deram início à mobilização em público – para o consumo e uso de audiências públicas – de um vocabulário desenvolvido a fim de narrar experiências subjetivas e vivenciadas em privado (Erlebnisse, em oposição a Erfahrungen).

Conforme os anos se passaram, no entanto, ficou claro que o verdadeiro significado daquele evento havia sido a obliteração dá até então sacramentada divisão entre as esferas “pública” e “privada” da vida humana corpórea e espiritual.

Ao observamos o episódio em retrospecto, com todas as vantagens que a perspectiva nos proporciona, é possível dizer que a aparição de Vivienne diante de milhões de homens e mulheres franceses colados às telas de suas televisões também introduziu aos espectadores – e, através deles, todos os seus entes queridos e estimados e, por fim, o resto de nós – em uma sociedade confessional.

Trata-se de um tipo de sociedade até então inaudito e inconcebível, em que microfones foram instalados dentro de confessionários, cofres eponímicos e depositários dos segredos mais secretos, do tipo de segredos que só seriam revelados a Deus ou a seus mensageiros terrenos e plenipotenciários.

É uma sociedade em que alto-falantes conectados a esses microfones foram colocados em praças públicas, locais antes voltados para a vazão e ostentação de questões do comum, de interesses, preocupações e urgências compartilhados.

E assim a origem da sociedade confessional foi o momento do triunfo final da privacidade, que havia sido a invenção primordial da modernidade – mas também o início de sua queda vertiginosa a partir do ápice de sua glória.

A hora de sua vitória (pois é isso que foi) pírrica: a privacidade invadiu, conquistou e colonizou o âmbito público às custas da perda de sua autonomia – seu traço definidor, e também seu privilégio mais estimado e ferrenhamente defendido.

Mas, para melhor compreendermos as reviravoltas atuais desse enredo, vamos começar do começo.

O que é “privado”? Qualquer coisa que pertença ao âmbito da “privacidade”.

Para descobrir o que se entende por “privacidade” em nossos dias, contudo, vamos visitar a Wikipedia, site conhecido por buscar e registrar de forma ágil e diligente o que a sabedoria popular acredita/aceita que seja a verdade a respeito de uma questão, seja essa verdade qual for, e por atualizar suas descobertas dia sim, dia não, seguindo assim a uma curta distância seus alvos, conhecidos por correrem mais depressa até mesmo do que os seus perseguidores mais dedicados.

Como era possível ler na versão de língua inglesa da Wikipedia em 14 de julho de 2010, a privacidade é a capacidade de um indivíduo ou de um grupo de isolarem a si próprios ou informações a seu respeito e, assim, revelarem-se de forma seletiva… Às vezes, a privacidade é associada ao anonimato, o desejo de passar desapercebido ou sem ser identificado no âmbito público.

Quando algo é privado para uma pessoa, isso geralmente significa que há algo dentro delas considerado especial por natureza, ou sensível do ponto de vista pessoal… A privacidade pode ser vista como um aspecto da segurança, em que a interação entre os interesses de um grupo e de outro se tornam especialmente claros.

E o que é, por outro lado, a “arena pública”? Um espaço com acesso livre para qualquer um que nele deseje ingressar.

Tudo o que pode ser ouvido ou visto em uma “arena pública” pode, por princípio, ser ouvido ou visto por qualquer pessoa. Levando em conta que (para citarmos novamente a Wikipedia) “o grau em que se expõem informações privadas depende de como o público receberá essa informação, algo que varia conforme o local e ao longo do tempo”, manter um pensamento, um evento ou um ato privado ou torná-los público são, por óbvio, ações tão contraditórias quanto – em razão do limite móvel que os separa e conecta – interdependentes.

Os âmbitos do “público” e do “privado” tendem a estar sempre em pé de guerra, assim como as leis e normas de decência que se vinculam dentro desses âmbitos. Para cada um desses dois âmbitos, o ato de se autodefinir e autoafirmar é executado em oposição ao outro âmbito.

De regra, os campos semânticos dessas duas noções não estão separados por limites que permitam ou incentivem o tráfego de duas mãos, e sim por linhas de frente – de preferência, intransponíveis e fortificadas de ambos os lados da fronteira, a fim de deter os invasores e vira-casacas que costumam se instalar junto às barricadas, mas, sobretudo, os desertores que tentam fugir do seu próprio lado.

Mas, de regra, mesmo antes que seja declarada uma guerra e que ações belicosas tenham lugar (ou no caos em que há uma trégua), essas fronteiras toleram apenas um tráfego seletivo, pois o tráfego livre desafiaria a própria noção de linha divisória, assim tornada redundante.

O controle e o direito a decidir quem ou o que tem permissão para ultrapassar essa linha e de quem ou o que está destinado a ficar apenas de um lado, assim como o direito de decidir que itens de informação têm a prerrogativa de permanecerem privados e quais são autorizados, induzidos ou obrigados a se tornarem públicos é, de regra, alvo de disputa ferrenha.

Durante a maior parte da era moderna, temia-se e esperava-se que o ataque à atual fronteira entre público e privado e, ainda mais importante, a revogação unívoca e a mudança arbitrária das regras existentes para o trânsito na fronteira viessem exclusivamente do lado “público”.

Havia uma forte desconfiança de que as instituições públicas pretendiam invadir e conquistar a esfera do privado e subjugá-la, assim reduzindo severamente o âmbito do livre-arbítrio individual ou de grupo, privando indivíduos ou grupos humanos de abrigo e, por consequência, da segurança pessoal ou grupal.

Os demônios mais sinistros e atormentadores que assombraram a “modernidade sólida” foram retratados por George Orwell de forma sucinta, mas ainda assim vívida, através de sua imagem recorrente da bota que pisoteia um rosto humano.

De forma algo inconsistente, mas não infundada, suspeitava-se que as instituições públicas tinham propósitos insidiosos, ou que malignamente erguiam barricadas para impedir que muitas preocupações privadas tivessem acesso à ágora ou a outros locais de livre circulação de informações – locais onde era possível negociar a transplantação de problemas particulares ao nível das questões públicas.

Por óbvio, o histórico igualmente abominável de duas variações do totalitarismo típicas do século XX, semelhantes em sua ganância e crueldade (que, como se quisessem somar ao desespero a falta de perspectivas, pareciam ter exaurido entre elas todo o espectro das escolhas imagináveis.

Enquanto uma dessas variantes reivindicava o legado do Iluminismo e de seu projeto moderno, a outra vituperava esse ato fundacional da modernidade como um triste equívoco, ou mesmo um crime, rejeitando o projeto moderno por considerá-lo uma receita para o desastre), conferiram veracidade a essas suspeitas, e também uma justificativa para a ansiedade que delas emanava.

A esperança de satisfazer as demandas de autoafirmação individual e construção comunitária e, ao mesmo tempo, desarticular o conflito entre a autonomia e o pertencimento foi investida em tempos recentes nas tecnologias de ponta conhecidas por facilitarem de forma espantosa o contato e a comunicação entre humanos.

Por outro lado, a frustração da esperança investida nesse processo vem ganhando força e se difundindo.

Para terem uma chance de sequer serem notadas, as mensagens eletrônicas tendem a ser abreviadas e simplificadas de modo a entregar todo o seu conteúdo antes que a atenção seja interrompida e se desloque para outro lugar – necessidade que as torna completamente inadequadas para a transmissão de ideias profundas, que exigem reflexão e contemplação para que sejam absorvidas.

A tendência de abreviar e simplificar mensagens, de torná-las cada vez mais superficiais e, assim, ainda mais favoráveis à deriva, marcou desde o início a breve mas tempestuosa história da Rede Mundial de Computadores.

Partimos de cartas elaboradas e atenciosas para os e-mails, e deles às ainda mais abreviadas e simplificadas mensagens de celular, até enfim chegarmos aos “tweets” que não admitem mais que 140 caracteres [1].

Se aplicarmos o princípio darwinista de “sobrevivência do mais apto” ao mundo eletrônico, a informação com maior chance de capturar a atenção humana seria aquela mais breve, mais superficial e menos carregada de sentidos: frases ao invés de argumentos elaborados, palavras avulsas ao invés de frases, fragmentos de gravações sonoras ao invés de palavras.

O preço que todos pagamos por termos mais informação “disponível” é o encolhimento do significado de seu conteúdo; o preço de sua pronta-entrega é a redução radical de sua significância.

A outra ambivalência endêmica à nova tecnologia da informação, intimamente interligada à anterior, é a imensa facilidade de se construir comunidades, que vem em conjunto com a facilidade igualmente imensa de desmantelá-las.

Usuários do Facebook se gabam de estabelecerem quinhentas “novas amizades” em um dia – mais do que consegui ao longo de uma vida de oitenta e cinco anos. Mas isso não revela que, quando falamos de “amigos”, temos em mente tipos bem diferentes de relação?

Diferentemente da formação para o qual o termo “comunidade” (ou, se assim quisermos, qualquer outro conceito que se refira ao lado público da existência humana, a “totalidade” das associações humanas) foi originalmente cunhado, as “comunidades” da Internet não são pensadas para durar, e muito menos para se equipararem à sua duração no tempo.

É fácil se juntar a elas, mas também é fácil deixá-las ou abandoná-las no exato instante em que a atenção, as simpatias e antipatias e os humores e modismos se bandearem para outro lado, ou no momento em que o tédio gerado por “mais do mesmo, sempre o mesmo” vier à tona e fizer com que o estado atual das coisas pareça monótono e pouco apetitoso, como cedo ou tarde há de acontecer sempre em uma vida e em um mundo bombardeados o tempo todo por ofertas novas (e cada vez mais tentadoras e sedutoras).

As comunidades da Internet (recentemente denominadas de forma mais precisa como “redes de contato”) são construídas e dissolvidas, ampliadas ou reduzidas pelas ações múltiplas oriundas de decisões/impulsos individuais de “se conectar” e “se desconectar”.

Elas são, portanto, eminentemente intercambiáveis, frágeis e irremediavelmente meióticas. É por esse exato motivo que muitas pessoas criadas no cenário líquido-moderno atual comemoram sua chegada e preferem-nas às comunidades “à moda antiga”, lembradas por monitorarem a conduta diária de seus membros e mantê-los em rédeas curtas, combatendo qualquer sinal de deslealdade ou até mesmo contravenções ínfimas, e fazendo com que mudar de ideia ou deixar essa comunidade tivesse um custo exorbitante ou fosse mesmo impossível.

É justamente seu estado perpétuo de transitoriedade, sua assumida natureza temporária, porque sempre provisória, sua não exigência de qualquer compromisso de longo prazo (e muito menos de caráter incondicional) ou de lealdade única e disciplina rígida que as tornam tão atraentes para muitas pessoas.

Em resumo: podemos deduzir que, para fazer da liberdade individual algo genuíno, devemos fortalecer – e não enfraquecer – os laços de solidariedade inter-humana.

O comprometimento de longo prazo gerado por uma solidariedade sólida pode ser visto como uma espécie de bênção, mas o mesmo vale para a ausência de comprometimento que torna a solidariedade desinibida e pouco confiável.

A privacidade e o público coexistem em uma relação repleta de som e fúria.

Ainda assim, se os dois não estiverem presentes, a proximidade humana se torna tão inconcebível quanto a água sem a presença simultânea do hidrogênio e do oxigênio.

Cada um desses parceiros precisa do outro para atingir sua inteireza; nesse tipo de coexistência, os atritos de uma guerra seria o suicídio de ambos.

Hoje, como no passado e no futuro, o autocuidado e o cuidado pelo outro apontam para a mesma direção e recomendam a mesma estratégia e a mesma filosofia de vida. Por isso, é improvável que a busca por uma trégua – ou o som e a fúria – chegue ao fim.

[1] Hoje, diferentemente do que ocorria à época em que este artigo foi escrito, a rede social Twitter permite até 280 caracteres por mensagem. (N.T.)

“Há uma crise de confiança nos políticos e nas empresas” diz Eric Ries

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Revista Época Negócios – 31 de Outubro de 2019.

Para o criador da teoria da startup enxuta, quem vai mudar essa situação é uma nova geração de empreendedores que se preocupam com a inclusão, a sustentabilidade e o futuro da humanidade.

Considerado um dos maiores gurus do empreendedorismo, Eric Ries se tornou uma lenda ao criar a teoria da Lean Startup, ou Startup Enxuta, em 2011. É dele a regra sagrada seguida por 10 em cada 10 empreendedores: crie um produto minimamente viável, teste, mude, teste de novo, até chegar em um produto inovador e, ao mesmo tempo, capaz de conquistar o mercado. E, quando tiver conseguido, faça tudo de novo.

A metodologia foi explicada generosamente pelo autor no best-seller A Startup Enxuta, que vendeu mais de 1 milhão de cópias em todo o mundo. Mais recentemente, em 2017, Ries repetiu a dose com O Estilo Startup, onde defende que todas as empresas devem adotar a mentalidade de uma startup. “Pense como uma startup ou morra” é um de seus mantras – segundo ele, essa é a única maneira de sobreviver em um mundo cheio de incertezas.

De volta ao Brasil – ele esteve aqui pela primeira vez em 2015 – para uma palestra no HSM Expo 2019 (no dia 4 de novembro), Eric falou com exclusividade à Época NEGÓCIOS. “Minha lembrança mais marcante do Brasil é a energia dos empreendedores que conheci. Mais tarde, também me encontrei com vários brasileiros que moram no Vale do Silício. São sempre eles que mais me procuram depois dos eventos”, diz. Confira a seguir os principais trechos da conversa.

Faz dois anos que você lançou O Estilo Startup. Na época, dizia que, para sobreviver às incertezas, era preciso pensar como uma startup. Tenho a impressão de que o mundo ficou ainda mais maluco de lá para cá.
Sim, eu acho que você tem razão (risos). Com todos os conflitos políticos e comerciais acontecendo no mundo hoje, a incerteza nunca foi tão forte. O que eu percebo nesse momento é que existe uma enorme crise de confiança. As pessoas não confiam mais nos políticos, e boa parte delas desconfiam também das grandes empresas. Quer dizer, houve um tempo em que as pessoas colocavam suas esperanças nas grandes companhias de tecnologia. Acreditava-se que elas estavam fazendo coisas importantes, que iriam mudar o mundo. Mas essa sensação também já ficou para trás.

Apesar de tudo isso, estou otimista em relação ao futuro. Em meio ao caos, você vê dezenas de startups surgindo, e essas empresas têm um jeito diferente de pensar. Elas estão preocupadas com o longo prazo, com o futuro da humanidade, com o que é preciso fazer para deixar a sociedade mais inclusiva e sustentável. Seu propósito é muito forte, então não vão cometer os mesmos erros que seus antecessores. Então eu acredito que essa nova geração vai mudar esse cenário, e as pessoas vão voltar a acreditar nas empresas, e em seu poder para melhorar as coisas.

No cenário atual, você ainda defende que as grandes companhias pensem e ajam como uma startup?
Acho que nunca foi tão importante pensar como uma startup. Mas, desde que lancei o livro, vejo muitas companhias tentando fazer a mudança e fracassando. Algumas delas até acreditam que estão no caminho certo, mas não chegaram nem perto. Recentemente, conversei com o CEO de uma grande empresa, e ele estava orgulhoso, dizendo que havia ensinado a teoria da Startup Enxuta para 6 mil funcionários. Perguntei o quanto isso representava em termos de porcentagem, e ele respondeu que era 10% dos funcionários. Bom, isso é muito pouco. Eles nunca vão conseguir mudar desse jeito. Para grandes corporações, pode levar anos e anos até que realmente consigam fazer a transformação.

Já conversei com vários CEOs sobre as dificuldades em adotar novas metodologias, como lean startup ou agile. A maioria me diz que o mais difícil é transformar a cultura da empresa. Você concorda?
Essa também é a minha experiência. Mudar a cultura corporativa é sempre a parte mais difícil. Você não pode eliminar de uma hora para outra algo que vem sendo acumulado ao longo dos anos, e está gravado na mente de todos os funcionários. Não basta chegar para eles e dizer: “Agora, mude!”. Não funciona assim. É um processo longo, difícil e doloroso. E a maioria das companhias não está realmente disposta a passar por isso. E, mesmo quando estão dispostas, é realmente difícil. Mesmo que estejam fazendo tudo certo, pode levar alguns anos para chegar lá. Mas eu acredito que a nova geração de empreendedores vai fazer as coisas diferentes desde o começo. E é por isso que, no caso delas, vai dar certo.

Se você tivesse que dizer a um CEO qual a mudança mais importante para implantar na companhia, o que diria?
O mais importante é aprender a organizar em pequenos times autônomos. Comece com um time, que combine diferentes tipos de talentos e expertises. E daí deixe eles à vontade para experimentarem novas ideias, produtos ou serviços para a empresa. Juntos, eles chegarão a um protótipo que possa ser testado no mercado. E vão poder testar esse produto com muito mais rapidez do que a empresa faria. Nesse momento, você vai perceber como uma startup funciona, e como o processo é mais ágil e eficiente. Então esse é um bom começo.

Outro ponto importante é mudar a mentalidade da empresa. O problema é que são muitos participantes: você tem que transformar as mentes de funcionários, gerentes, fornecedores e investidores. No caso dos investidores, costuma ser muito difícil. Eles não entendem por que vão ter que esperar mais pelo retorno do seu investimento, que é o que acontece para quem adota o Estilo Startup. Eles não querem saber isso. Se a empresa tiver recursos próprios para inovar, pode tentar contornar esse problema. Mas, se quiser inovar continuamente, vai ter que trabalhar com investidores, não tem jeito.

Você já disse que o corporate venture mata as startups. Ainda acredita nisso? Ou há casos em que esse tipo de parceria funciona?
Eu acredito que o corporate venture é muito ruim para as startups, sim. É uma pena que tanta gente ainda insista nesse modelo. Eu diria para os CEOs que esse é o jeito mais preguiçoso de tentar inovar: pedindo a alguém de fora que tenha as ideias, ou então criando programas para encontrar quem já está inovando. Até que um CEO crie uma startup dentro da própria empresa, até que tenha essa referência, ele não vai entender como funciona uma startup. E, sem saber disso, não vai conseguir organizar um bom programa de startups. Não vai saber o que está procurando, nem como achar. A mudança tem que partir de dentro da empresa.

Seu empreendimento mais recente é a Long-Term Stock Exchange, uma nova bolsa de valores para o mercado americano. A proposta da LTSE foi aprovada em maio pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. Quais são os próximos passos?
Ainda há mais algumas fases a percorrer, mas queremos começar a atuar no final deste ano. Eu acredito que as pessoas estão subestimando o impacto que essa iniciativa pode ter. Nossa ideia é criar um novo tipo de bolsa de valores, uma plataforma que recompense investimentos e estratégias de negócios com foco no longo prazo [pelas regras do LTSE, quanto mais tempo ficar com suas ações, mais poder de voto os acionistas terão]. Dessa maneira, as empresas não precisaram buscar o retorno imediato, e terão mais incentivo para inovar.

 

O Brasil não tem pobres, apenas empreendedores que precisam de tempo

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Esther Solano – Carta Capital – Outubro 2019

No neoliberalismo, o sucesso e o fracasso são despolitizados. Tudo se resume ao mérito ou culpa do indivíduo

Saía de casa para visitar, com meus alunos, o Centro de Memória Sindical em São Paulo, quando se atravessou a vida com seus paradoxos. No primeiro semáforo depois de sair de casa, um homem vendia cinco panos por 10 reais, caminhando entre os carros. O vendedor devia ter uns 50 anos, visivelmente empobrecido, visivelmente cansado e visivelmente triste. Ainda mais triste que o olhar do homem que vendia panos eram as palavras escritas num cartaz que ele levantava com uma mão: “Sou empreendedor, só preciso de tempo”. Senti um nó na garganta e no estômago quando li essas palavras, por causa da violência tão monstruosa que elas escondiam. Ele, cujo negócio se resumia a cinco panos por 10 reais, não era pobre, era empreendedor.

O neoliberalismo, ainda mais em um país periférico como o Brasil, aniquila. Isso sabemos muito bem. Mas aniquila com maestria, com um virtuosismo de cair o queixo. A racionalidade neoliberal penetra as mentes, adentra-se pelos corações até invadir tudo. A racionalidade neoliberal constrói-se em uma lógica perversa do sujeito do desempenho, o empreendedor de si mesmo, o homem batalhador. Como consequência, a vida despolitiza-se. A conquista é produto unicamente de nosso trabalho e de nosso esforço. Ao longo destes anos, nas minhas entrevistas com conservadores brasileiros de classes populares ouvi coisas do tipo “eu ganhei Minha Casa Minha Vida, mas não que tenha casa agora pelo programa ou pelo PT. Eu teria conseguido do mesmo jeito, porque eu me esforço muito e eu merecia”. Ou “meu filho conseguiu entrar na universidade pelo Fies, mas isso não teve nada a ver com o Fies, realmente foi ele que trabalhou duro e estudou muito”. Eu mereci porque trabalhei.

Meu mérito, minha conquista. Meu fracasso, minha culpa. A culpa também é produto da lógica do neoliberalismo. O sucesso despolitiza-se, mas o fracasso também. Lembro-me da entrevista de uma mulher adolescente, digamos que de nome Bárbara, negra e periférica, que iria votar em Jair Bolsonaro e repetia, convicta, o discurso da meritocracia. Ela me disse “eu vou prestar o vestibular, e não tem essa de que eu tenho menos oportunidades que os jovens brancos de classe média. Isso é mimimi, racismo reverso. Vou estudar muito e se eu não conseguir será minha culpa, será porque eu não sou boa o suficiente para estudar”.

Bárbara, mulher negra periférica, me disse, com calma e contundência, que racismo, pobreza e machismo, no Brasil, são “vitimismo”. Penso com frequência nela. Não sei se ela entrou na faculdade. Se não, com certeza ela sente que o fracasso foi culpa dela, mas, calma, o neoliberalismo também tem resposta para isso, basta combater a dor com remédios. Você não é um vencedor, é um fracassado, sente culpa, mas, tranquilo, não pense demais, não se insubordine, não se inquiete, pelo amor de Deus não vá protestar na rua nem caia na loucura de arranjar um movimento social, sindicato ou partido, tome remédio. O adoecimento mental, resultado do modelo da sociabilidade meritocrática, resolve-se não com política ou luta, mas com pílula. “Patologizar” a vida é a saída.

João Doria soube muito bem jogar esse jogo na sua campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo, em 2016. Ele era o João Trabalhador, que acordava cedo e, suando a camisa, conseguiu se transformar no Doria empresário. Querer é poder. Você é foda, você é um vencedor, basta ter vontade e correr atrás. Todo mundo pode ser um empresário de sucesso. Do neoliberalismo ao coaching, outra ferramenta feroz de controle e violência. Entrem numa livraria e folheiem as obras de autoajuda e coaching nas prateleiras. Parece que você tem a obrigação de estar sempre feliz e de ser um campeão. Tristeza ou derrota não aparecem no vocabulário. Eu sinto arrepios com esses livros e sempre lembro da Bárbara. A partir de hoje lembrarei também do homem que vendia panos. Ele não era pobre, era empreendedor.

 

Sofrimentos cotidianos, provas e expiações na visão espírita

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O sofrimento acomete a sociedade mundial desde os primórdios da humanidade, somos sempre vitimados por dificuldades, dores e provações e estamos envoltos por problemas dos mais variados tipos, não importando a classe social, grau de instrução e o gênero, somos todos passíveis de sofrimentos, de quedas e de dificuldades, afinal estamos num mundo imperfeito, com pessoas imperfeitas e cheio de contradições.

A Doutrina Espírita nos traz uma visão nova sobre a questão do sofrimento humano, vivemos num mundo de provas e de expiações e neste mundo somos muito atraídos pelo sofrimento e pelas dores do cotidiano. Na questão 931 de O livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta ao Espírito da Verdade: Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes? E recebe a seguinte resposta: “Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre”.

A Doutrina Espírita nos mostra claramente que os momentos de alegrias e de dificuldades se alternam na vida dos seres humanos, nenhum destes são totalmente felizes, alternamos momentos de felicidades, de alegrias e sorrisos sinceros com momentos de decepções, dores e dificuldades. As alegrias eternas ainda não pertencem ao mundo atual, mas num futuro próximo poderemos vivenciá-la, desde que entendamos a realidade da vida e passemos a trabalhar intimamente visando um progresso e uma evolução constantes, para isso devemos viver em concomitância com as Leis divinas.

Num mundo marcado pelo crescimento das tecnologias, as redes sociais ganharam espaço e relevância nesta sociedade e passou a moldar comportamentos e atitudes, muitos indivíduos colocam fotos nas redes destacando sorrisos e alegrias, muitas delas artificiais e momentâneas, criando para outrem a ilusão de uma felicidade inexistente, atraem com isso olhares de inveja e de cobiça, em muitos casos, de rancor e de ressentimento de pessoas invejosas e infelizes, que ambicionam e invejam a felicidade alheia, incapazes de construir para si uma felicidade verdadeira, sólida e consistente.

Muitas pessoas ricas e profissionalmente de destaque, indivíduos que conseguiram acumular um patrimônio vultuoso, com recursos para viagens e passeios paradisíacos, detentoras de famílias estruturadas, muitas vezes se queixam de sofrimentos, de dores emocionais e de vazios espirituais e existenciais, são indivíduos que possuem tudo para serem considerados felizes, mas se declaram depressivos e excessivamente melancólicos, males modernos que acometem a sociedade mundial e vitima milhões de pessoas no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 350 milhões de indivíduos sofrem de depressão no mundo, a chamado moléstia da alma e, da forma como a sociedade global está caminhando, muitos outros serão afetados por esta doença, cujas dores são imensas e exigem tratamentos médicos e espirituais.

O sofrimento, como nos disse o Espírito da Verdade, está por todos os lados e afeta todas as pessoas, independe de classes sociais, etnias e preferências sexuais, isto acontece porque somos passageiros de uma sociedade caracterizada como de provas e de expiações, onde as felicidades são passageiras e os amores materiais são temporários e inconsistentes, numa sociedade marcada pelas contradições e os indivíduos pelas incertezas e instabilidades crescentes. O Espiritismo nos mostra ainda, que os sofrimentos humanos estão inscritos no subconsciente de cada indivíduo, todos sabemos os motivos de nossas infelicidades e de nossas dores, a explicação está dentro de cada pessoa, no interior de cada indivíduo, mas para podermos acessar estas dores necessitamos refletir sobre nossos comportamentos, refletir sobre nossas vidas e sentimentos mais íntimos e, numa sociedade como a nossa, termos tempos para nossas reflexões é um dos maiores desafios da sociedade e do cidadão da contemporaneidade.

Numa sociedade marcada pelas provas e pelas expiações, faz-se necessário que entendamos as raízes das dificuldades do mundo, mesmo vivendo neste momento histórico e caminhando para um mundo novo, como nos mostra os escritos de Transição Planetária, ainda chafurdamos na lama e na pobreza de um mundo onde os odores estão atrelados ao ressentimento, a inveja e ao egoísmo, sentimentos fortes e dominantes que ainda não nos conduz a um crescimento mais sólido e consistente, como o espiritismo nos mostra com clareza e maestria.

No mundo de provações, nos mostra Joanna D Angelis no livro Plenitude, psicografia de Divaldo Pereira Franco, os sofrimentos são vistos como instrumentos de educação e de progresso espiritual, quando conseguimos vencer as dificuldades damos um passo consistente para um progredir fundamental para nosso desenvolvimento espiritual, ambicionados por todos os espíritos encarnados no mundo material. As expiações servem para que nos reeduquemos enquanto espíritos, ao passar por estas experiências dolorosos conseguimos melhorar nossos comportamentos e, em muitos casos, voltamos para um momento anterior, quando cometemos equívocos e degradamos nossos passos para o progresso, como um suicida que ao se entregar aos deslizes do suicídio engendra dores imensas em seu caminhar, para estes, as expiações servem para reconstruir o caminho perdido anteriormente.

As dores das provações, segundo os bons espíritos são agressivas e violentas, mas são suportadas pelo indivíduo, são dores que lhe acometem o corpo físico ou os vazios do espírito, mas que, com força de vontade, perseverança e fé em Deus são suportados e superados. As expiações são mais severas e agressivas, muitas vezes aparecem como dores morais ou deficiências e limitações físicas que impõem aos indivíduos grandes dificuldades, obrigando-o a uma grande força de vontade para superar este momento de dores, lágrimas e intensas desesperanças.

Nas provações os espíritos que estão reencarnando podem participar dos planejamentos para a reencarnação ou são representados por espíritos amigos ou protetores espirituais que trabalham com o objetivo de auxiliar para que a reencarnação atinja seus mais auspiciosos êxitos e o irmão em prova consiga crescer espiritualmente e se desenvolver moralmente, angariando novos e consistentes valores. Nos sofrimentos de expiação percebemos uma outra realidade, estes irmãos são obrigados a aceitar o que lhe é imposto pelo plano superior, estes indivíduos ao reencarnar tendem a passar por uma situação que lhe é imposta pela espiritualidade como forma de se reeducar e construir novos espaços de consolidação espiritual.

As expiações são muito mais severas para o espírito, neste processo ele perde a condição de escolha e tudo lhe é imposto, obrigando-o a aceitar e buscar trabalhar para que seu espírito consiga se reeducar das agruras e dos desequilíbrios anteriores, fruto da imperícia do espírito que, mesmo cometendo equívocos severos não está sendo condenado ao degredo eterno, isto não existe nas Leis de Deus, mas o espírito precisa se reeducar para trilhar novos momentos de crescimento espiritual e de desenvolvimento moral.

No livro Memórias de um suicida, psicografia de Yvonne do Amaral Pereira, Camilo Cândido Botelho e seus amigos descobrem na vivência no Instituto Maria de Nazaré, que suas próximas encarnações seriam marcadas por dores acerbas, nesta situação muitos deles não poderiam escolher quais seriam suas limitações físicas ou emocionais, numa próxima vida. Todos sabiam das limitações que seriam obrigados a conviver, mas nenhum deles poderia influir nas escolhas e nas imposições da espiritualidade maior, imposições estas com um único objetivo, o de levar estes indivíduos novamente ao caminho do progresso, caminho este por eles abandonados no momento do suicídio.

No livro Ação e Reação, ditado pelo espírito de André Luiz e psicografado pelo médium mineiro Francisco Cândido Xavier, nos deparamos com as experiências de vida de Adelino Correia, hoje um espírita consciente e devotado ao estudo e as atividades doutrinárias, cuja história nos mostra equívocos e dificuldades em vidas anteriores quando como Martin mandou matar seu pai para casar com sua madrasta. O crime se efetivou, mas a perseguição sofrida foi tão intensa que Martin nunca conseguiu ser feliz no casamento, as lembranças do ato insano e a perseguição de seu pai desencarnado o levaram a loucura e, posteriormente, no mundo espiritual passou a sofrer as agruras de suas atividades na matéria, mas trabalhou incansavelmente para se melhorar e conseguir progressos e avanços espirituais. No retorno ao corpo físico Martin reencarna como Adelino Correa e traz no corpo físico as marcas de um eczema agressivo, como conseguiu algum avanço no mundo espiritual os espíritos superiores o auxiliam para que o eczema se concentrasse apenas em uma parte de seu corpo material, isto porque anteriormente esta doença cobriria todo seu corpo físico.

O livro nos mostra como muitas de nossas atitudes pode reduzir nossas dores, Adelino Correia como trabalhador dedicado e imensamente caridoso, onde auxiliou muitos enfermos e crianças abandonadas, dentre elas algumas que, em vidas anteriores os auxiliaram em seus desatinos e, principalmente, aquele que foi seu genitor, tendo com isso, méritos suficientes para ter suas dificuldades reduzidas e seu amparo cada vez maior e mais consistente. O livro Ação e Reação nos mostra que em todas as ações que engendramos na vida somos impactados por uma reação, quando nossas ações são positivas e edificantes recebemos da própria espiritualidade maior, reações saudáveis, equilibradas e positivas, com isso, a Doutrina dos Espíritos nos mostra que os chamados carmas são conceitos imprecisos, acreditar que estamos condenados numa encarnação nos parece muito equivocado, temos sim as dificuldades, mas se agirmos de forma concernente as Leis de Deus os nossos “carmas” serão, com certeza, reduzidos e minimizados pelos espíritos de luz.

No estudo dos sofrimentos humanos, encontramos na literatura espírita muitas obras de vulto, nelas descobrimos que nos momentos de dores e dificuldades, muitas pessoas se colocam como vítimas, bradam contra Deus e acreditam não ter escolhido passar por aquelas situações de sofrimentos. A Doutrina nos mostra que, se não escolhemos nos foi imposto, aí percebemos ser uma expiação, o que é muito pior e preocupante, agora, na imensa maioria dos casos, foram os encarnados que pediram, melhor, suplicaram por aquelas provações como forma de educação e posterior progresso espiritual.

Os sofrimentos e as dificuldades da vida sempre existiram e sempre existirão para os seres humanos, a forma como a encaramos estas dificuldades é de fundamental importância para que consigamos extrair delas, instrumentos de progresso e de aprendizado, para que construamos um mundo íntimo mais consistente e vinculado aos mais nobres sentimentos e valores emanados pelo Cristo, este sim os valores eternos da vida.

Mediunidade e trabalho mediúnico: a atuação dos mentores espirituais

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A Doutrina Espírita nos mostra como os espíritos podem influenciar na vida das pessoas encarnadas, muitos desconhecem estas atuações, outros as minimizam, mas todos percebem que os mundos estão interligados e influenciam um ao outro, nestas atuações encontramos o trabalho de variados espíritos, desde os mais caridosos e protetores até aqueles que se comprazem com o mal e com a negatividade, a escolha destas entidades é uma opção de cada um de nós, cabe ao nosso pensamento e as nossas atitudes a atração de bons ou de maus espíritos.

Desde tempos imemoriais nos deparamos com lendas e histórias que falam da atuação de espíritos na vida das pessoas, influencias das mais variadas, uns inspirando-as ao bem, ao estudo e aos bons pensamentos, enquanto outros com tendências mais agressivas, buscando vinganças e revanches de problemas anteriores ou a desforra de desajustes pregressos, somos constantemente instigados por estes irmãos, que vibram de acordo com seu progresso evolutivo, neste assunto é importante destacar, que todos nós já passamos por momentos parecidos, todos já vivenciamos atitudes trevosas com relação a nossos semelhantes e, por isso, nenhum indivíduo deve criticar as atitudes dos outros, embora condenemos, devemos orar e trabalhar para que este irmão, que por hora vibra no diapasão da negatividade, possa acordar e se posicionar de forma diferente com relação a vida e seus sentimentos, transformando seus pensamentos e atraindo energias mais consistentes.

Muitas vezes encontramos pessoas fazendo o sinal da cruz como forma de proteção contra a presença de espíritos, acreditando que um mero gesto pode afastar algo que está inscrito em uma lei natural, todos estamos convivendo lado a lado, o mundo físico e o espiritual estão juntos, a própria física quântica tem nos mostrado a existência de vários mundos convivendo lado a lado, somos espíritos e ao nosso lado estamos cheio de entidades espirituais, em vez de nos benzer devemos nos melhorar para que aqueles que nos acompanharem sejam entidades boas e nos traga sentimentos melhores e mais edificantes, preparando-nos para os caminhos de progresso e desenvolvimento do mundo.

Nos trabalhos mediúnicos, encontramos uma atuação muito efetiva dos espíritos de luz, entidades que se comprazem com o bem e o auxílio, que despendem seu tempo e suas energias para ajudar todos aqueles irmãos que chegam no mundo espiritual sem compreender sua trajetória e marcados por muitas dúvidas, medos e grande desesperanças, são irmãos sofredores que se julgam esquecidos e sem perspectivas nenhuma com relação ao futuro. Neste momento, muitos destes irmãos que ainda acreditam em Deus se julgam totalmente esquecidos pelo plano maior, acreditando-se tratados e agredidos e desenvolvem um forte desejo de vingança, bradando contra a religião e se dizendo esquecidos por Deus ou por outras entidades superiores que outrora diziam acreditar, muitos destes irmãos se tornam perseguidores e atraem energias parecidas de rancor e de ressentimento.

Muitos desconhecem como são feitas as reuniões mediúnicas e como os espíritos superiores trabalham em benefício dos irmãos sofredores, nestes momentos são eles os responsáveis por trazer para as reuniões as entidades com maiores dificuldades, juntando-as de acordo com suas histórias, suas dores e dificuldades, ao juntar estes irmãos ambicionam atender o maior número possível de irmãos desencarnados que, nestas reuniões ouvem e assistem as conversações com o doutrinador servindo de amparo e auxílio imediato para todos que passam pelas mesmas dores e constrangimentos, servindo como um verdadeiro bálsamo de luz para que todos possam crescer e se desvincular de suas mais íntimas e secretas dificuldades momentâneas.

O trabalho destes espíritos se desenvolve em várias frentes, são eles que escolhem as entidades e as aproximam, são eles que pesquisam as histórias destes irmãos sofredores e necessitados, buscando na tela mental de cada um deles passagens, lembranças e experiências para auxiliar o doutrinador nestes eventos, munindo-os de informações para que estes possam auxiliar os irmãos desencarnados neste momento de dores e dificuldades intensas.

Muitas entidades que vão se manifestar no trabalho mediúnico estão na Casa Espírita recolhidas desde os trabalhos de dias anteriores, muitos destes espíritos acompanhavam encarnados que foram ao Centro Espírita sentindo a influência negativa dos irmãos . Neste momento os irmãos do plano espiritual são mantidos em isolamento na casa para que no próximo trabalho mediúnico possam se manifestar, conversar com as equipes encarnadas, contar suas experiências e angariar o amparo e o conforto necessário para a compreensão das dificuldades vividas, são entidades que mereceram o amparo e se prepararam para a intervenção espiritual, embora muitos ainda não acreditem no auxílio, as rogativas foram feitas por familiares, amigos e irmãos interessados em sua melhoria e equilíbrio espiritual.

Ainda no mundo espiritual, a casa espírita é higienizada, todos os locais são limpos e equilibrados, sendo retirado deste local energias menores, desajustes e desequilíbrios, objetivando o melhor auxílio possível para todos que serão atendidos no decorrer da assistência espiritual, embora não possamos ver o trabalho, tenhamos a certeza e a convicção de que, o mundo espiritual nos ampare e nos auxilia muito mais do que imaginamos, dando-nos o suporte necessário para que vençamos nossas mais íntimas dificuldades e limitações.

Outro ponto que devemos destacar neste trabalho, é como as conversações são encaminhadas para muitas entidades que estão em outros locais, sabemos que muitos são os necessitados, muitos deles não puderam ser trazidos para o trabalho assistencial, mas foram socorridos e levados indiretamente, todas as conversas entre os irmãos desencarnados e os doutrinadores são amplificadas para que todos os ausentes sejam premiados com a benção de poder ouvir e se conscientizar de suas dificuldades e necessidades de trabalho espiritual.

No mundo material os auxílios também se abundam, muitos são os médiuns que faltam de suas atividades na casa espiritual, alguns se deixam levar por intervenção de irmãos que buscam atrapalhar e esvaziar o trabalho assistencial, outros se ausentam por qualquer dor ou desconforto físico ou emocional, com isso, acabam fazendo os gostos dos espíritos inferiores, acabam deixando de participar dos trabalhos, deixando de atender aos necessitados e de contribuir para seu próprio reequilíbrio espiritual e emocional, neste momento percebemos como os espíritos superiores se desdobram para que todos os desencarnados que foram trazidos não deixem de ser atendidos, sobrecarregando fortemente alguns trabalhadores materiais.

Os médiuns de incorporação, os chamados médiuns psicofônicos nos relatam ainda, que durante dias percebem a presença de entidades que se manifestarão por intermédio deles nas reuniões mediúnicas, sentem suas energias, seus pensamentos e, em muitos casos, se sentem mal com a companhia destes irmãos, que neste momento se comprazem com sentimentos menores e atuam para que seus sentimentos e energias se propaguem em todo ambiente. Estes irmãos serão atendidos nas reuniões, esclarecidos e encaminhados para atendimento em local especializado e os médiuns serão fortalecidos e sairão do encontro mais tranquilos e equilibrados, não podendo sair do trabalho com estas energias negativas e estes constrangimentos oriundos dos irmãos desencarnados.

No livro Obsessão e Desobsessão, Suely Caldas Schubert nos mostra uma reunião mediúnica onde a espiritualidade reuniu inúmeros jovens que havia desencarnados de forma parecida, todos eles foram vitimados em acidentes de automóveis, neste instante um dos jovens que havia sido preparado para a conversa com o doutrinador recebe informações abençoadas que passam a ser ouvidas por todos aqueles jovens que lá estavam e ouviram a conversação, devida a grande quantidade de espíritos vitimados por acidentes automobilísticos os espíritos superiores reúnem todos num mesmo momento e todas as palavras emitidas pelo trabalhador encarnado serve como conforto para todos os jovens desencarnados, a grande maioria sem entender o que tinha acontecido com suas vidas, sendo instruídos através da comunicação e, posteriormente, em momento oportuno, em conversação mais íntima e pessoal, visando o esclarecimento do espírito.

O trabalho mediúnico é um verdadeiro intercâmbio entre os dois planos da vida, esta atividade nos mostra que a soma das forças e dos ideais auxiliam a todos, os encarnados devem se conscientizar de que são importantes e fundamentais neste momento, sua presença, sua assiduidade e dedicação constroem laços sólidos com as entidades do bem do mundo espiritual, criando vínculos de amor, confiança e solidariedade entre estes irmãos em locais e momentos diferentes, mas todos trabalhando em busca de um bem comum, o auxilio desinteressado centrado no amor, na comunhão e no respeito mútuo.

A Doutrina Espírita desde 1857, quando da publicação de O Livro dos Espíritos, obra de Allan Kardec, nos traz grandes informações sobre a vida, a existência humana, os sofrimentos e os medos que nos acometem no cotidiano, somos por esta esclarecidos e informados de que nossos comportamentos anteriores moldam nossa situação contemporânea e que nossas atitudes atuais servem para que construamos nossas experiências futuras. Nesta viagem somos auxiliados diuturnamente pelos bons espíritos, que nos inspiram em bons pensamentos e para que executemos boas obras, pois estas serão nossas maiores advogadas nos caminhos que trilhamos no mundo e nas experiências as quais abraçamos e cultivamos na intimidade.

Depois da codificação de O livro dos Espíritos não mais podemos alegar ignorância sobre as leis de Deus, somos espíritos encarnados e convivemos ao lado de entidades desencarnadas, os trabalhos mediúnicos nos auxiliam a compreender como somos pequenos e quase insignificantes, mas temos nossas responsabilidades perante as leis da vida, dentre elas trabalhar para nosso crescimento espiritual e desenvolvimento moral e auxiliar no máximo que pudermos na evolução de outros seres. A caminhada é imensa, as vantagens do mundo tentam nos tirar do caminho correto, mas devemos perseguir com afinco e perseverança nossos sonhos e ideais, deixando pelo caminho pegadas de amor e de solidariedade, trocando o julgamento fácil, os prazeres materiais e as falas desnecessárias e compreendendo que caminhar ao lado da espiritualidade é a única forma de construirmos um futuro de crescimento e evolução espiritual.

 

 

 

A Doutrina Espírita nos mostra como os espíritos podem influenciar na vida das pessoas encarnadas, muitos desconhecem estas atuações, outros as minimizam, mas todos percebem que os mundos estão interligados e influenciam um ao outro, nestas atuações encontramos o trabalho de variados espíritos, desde os mais caridosos e protetores até aqueles que se comprazem com o mal e com a negatividade, a escolha destas entidades é uma opção de cada um de nós, cabe ao nosso pensamento e as nossas atitudes a atração de bons ou de maus espíritos.

Desde tempos imemoriais nos deparamos com lendas e histórias que falam da atuação de espíritos na vida das pessoas, influencias das mais variadas, uns inspirando-as ao bem, ao estudo e aos bons pensamentos, enquanto outros com tendências mais agressivas, buscando vinganças e revanches de problemas anteriores ou a desforra de desajustes pregressos, somos constantemente instigados por estes irmãos, que vibram de acordo com seu progresso evolutivo, neste assunto é importante destacar, que todos nós já passamos por momentos parecidos, todos já vivenciamos atitudes trevosas com relação a nossos semelhantes e, por isso, nenhum indivíduo deve criticar as atitudes dos outros, embora condenemos, devemos orar e trabalhar para que este irmão, que por hora vibra no diapasão da negatividade, possa acordar e se posicionar de forma diferente com relação a vida e seus sentimentos, transformando seus pensamentos e atraindo energias mais consistentes.

Muitas vezes encontramos pessoas fazendo o sinal da cruz como forma de proteção contra a presença de espíritos, acreditando que um mero gesto pode afastar algo que está inscrito em uma lei natural, todos estamos convivendo lado a lado, o mundo físico e o espiritual estão juntos, a própria física quântica tem nos mostrado a existência de vários mundos convivendo lado a lado, somos espíritos e ao nosso lado estamos cheio de entidades espirituais, em vez de nos benzer devemos nos melhorar para que aqueles que nos acompanharem sejam entidades boas e nos traga sentimentos melhores e mais edificantes, preparando-nos para os caminhos de progresso e desenvolvimento do mundo.

Nos trabalhos mediúnicos, encontramos uma atuação muito efetiva dos espíritos de luz, entidades que se comprazem com o bem e o auxílio, que despendem seu tempo e suas energias para ajudar todos aqueles irmãos que chegam no mundo espiritual sem compreender sua trajetória e marcados por muitas dúvidas, medos e grande desesperanças, são irmãos sofredores que se julgam esquecidos e sem perspectivas nenhuma com relação ao futuro. Neste momento, muitos destes irmãos que ainda acreditam em Deus se julgam totalmente esquecidos pelo plano maior, acreditando-se tratados e agredidos e desenvolvem um forte desejo de vingança, bradando contra a religião e se dizendo esquecidos por Deus ou por outras entidades superiores que outrora diziam acreditar, muitos destes irmãos se tornam perseguidores e atraem energias parecidas de rancor e de ressentimento.

Muitos desconhecem como são feitas as reuniões mediúnicas e como os espíritos superiores trabalham em benefício dos irmãos sofredores, nestes momentos são eles os responsáveis por trazer para as reuniões as entidades com maiores dificuldades, juntando-as de acordo com suas histórias, suas dores e dificuldades, ao juntar estes irmãos ambicionam atender o maior número possível de irmãos desencarnados que, nestas reuniões ouvem e assistem as conversações com o doutrinador servindo de amparo e auxílio imediato para todos que passam pelas mesmas dores e constrangimentos, servindo como um verdadeiro bálsamo de luz para que todos possam crescer e se desvincular de suas mais íntimas e secretas dificuldades momentâneas.

O trabalho destes espíritos se desenvolve em várias frentes, são eles que escolhem as entidades e as aproximam, são eles que pesquisam as histórias destes irmãos sofredores e necessitados, buscando na tela mental de cada um deles passagens, lembranças e experiências para auxiliar o doutrinador nestes eventos, munindo-os de informações para que estes possam auxiliar os irmãos desencarnados neste momento de dores e dificuldades intensas.

Muitas entidades que vão se manifestar no trabalho mediúnico estão na Casa Espírita recolhidas desde os trabalhos de dias anteriores, muitos destes espíritos acompanhavam encarnados que foram ao Centro Espírita sentindo a influência negativa dos irmãos . Neste momento os irmãos do plano espiritual são mantidos em isolamento na casa para que no próximo trabalho mediúnico possam se manifestar, conversar com as equipes encarnadas, contar suas experiências e angariar o amparo e o conforto necessário para a compreensão das dificuldades vividas, são entidades que mereceram o amparo e se prepararam para a intervenção espiritual, embora muitos ainda não acreditem no auxílio, as rogativas foram feitas por familiares, amigos e irmãos interessados em sua melhoria e equilíbrio espiritual.

Ainda no mundo espiritual, a casa espírita é higienizada, todos os locais são limpos e equilibrados, sendo retirado deste local energias menores, desajustes e desequilíbrios, objetivando o melhor auxílio possível para todos que serão atendidos no decorrer da assistência espiritual, embora não possamos ver o trabalho, tenhamos a certeza e a convicção de que, o mundo espiritual nos ampare e nos auxilia muito mais do que imaginamos, dando-nos o suporte necessário para que vençamos nossas mais íntimas dificuldades e limitações.

Outro ponto que devemos destacar neste trabalho, é como as conversações são encaminhadas para muitas entidades que estão em outros locais, sabemos que muitos são os necessitados, muitos deles não puderam ser trazidos para o trabalho assistencial, mas foram socorridos e levados indiretamente, todas as conversas entre os irmãos desencarnados e os doutrinadores são amplificadas para que todos os ausentes sejam premiados com a benção de poder ouvir e se conscientizar de suas dificuldades e necessidades de trabalho espiritual.

No mundo material os auxílios também se abundam, muitos são os médiuns que faltam de suas atividades na casa espiritual, alguns se deixam levar por intervenção de irmãos que buscam atrapalhar e esvaziar o trabalho assistencial, outros se ausentam por qualquer dor ou desconforto físico ou emocional, com isso, acabam fazendo os gostos dos espíritos inferiores, acabam deixando de participar dos trabalhos, deixando de atender aos necessitados e de contribuir para seu próprio reequilíbrio espiritual e emocional, neste momento percebemos como os espíritos superiores se desdobram para que todos os desencarnados que foram trazidos não deixem de ser atendidos, sobrecarregando fortemente alguns trabalhadores materiais.

Os médiuns de incorporação, os chamados médiuns psicofônicos nos relatam ainda, que durante dias percebem a presença de entidades que se manifestarão por intermédio deles nas reuniões mediúnicas, sentem suas energias, seus pensamentos e, em muitos casos, se sentem mal com a companhia destes irmãos, que neste momento se comprazem com sentimentos menores e atuam para que seus sentimentos e energias se propaguem em todo ambiente. Estes irmãos serão atendidos nas reuniões, esclarecidos e encaminhados para atendimento em local especializado e os médiuns serão fortalecidos e sairão do encontro mais tranquilos e equilibrados, não podendo sair do trabalho com estas energias negativas e estes constrangimentos oriundos dos irmãos desencarnados.

No livro Obsessão e Desobsessão, Suely Caldas Schubert nos mostra uma reunião mediúnica onde a espiritualidade reuniu inúmeros jovens que havia desencarnados de forma parecida, todos eles foram vitimados em acidentes de automóveis, neste instante um dos jovens que havia sido preparado para a conversa com o doutrinador recebe informações abençoadas que passam a ser ouvidas por todos aqueles jovens que lá estavam e ouviram a conversação, devida a grande quantidade de espíritos vitimados por acidentes automobilísticos os espíritos superiores reúnem todos num mesmo momento e todas as palavras emitidas pelo trabalhador encarnado serve como conforto para todos os jovens desencarnados, a grande maioria sem entender o que tinha acontecido com suas vidas, sendo instruídos através da comunicação e, posteriormente, em momento oportuno, em conversação mais íntima e pessoal, visando o esclarecimento do espírito.

O trabalho mediúnico é um verdadeiro intercâmbio entre os dois planos da vida, esta atividade nos mostra que a soma das forças e dos ideais auxiliam a todos, os encarnados devem se conscientizar de que são importantes e fundamentais neste momento, sua presença, sua assiduidade e dedicação constroem laços sólidos com as entidades do bem do mundo espiritual, criando vínculos de amor, confiança e solidariedade entre estes irmãos em locais e momentos diferentes, mas todos trabalhando em busca de um bem comum, o auxilio desinteressado centrado no amor, na comunhão e no respeito mútuo.

A Doutrina Espírita desde 1857, quando da publicação de O Livro dos Espíritos, obra de Allan Kardec, nos traz grandes informações sobre a vida, a existência humana, os sofrimentos e os medos que nos acometem no cotidiano, somos por esta esclarecidos e informados de que nossos comportamentos anteriores moldam nossa situação contemporânea e que nossas atitudes atuais servem para que construamos nossas experiências futuras. Nesta viagem somos auxiliados diuturnamente pelos bons espíritos, que nos inspiram em bons pensamentos e para que executemos boas obras, pois estas serão nossas maiores advogadas nos caminhos que trilhamos no mundo e nas experiências as quais abraçamos e cultivamos na intimidade.

Depois da codificação de O livro dos Espíritos não mais podemos alegar ignorância sobre as leis de Deus, somos espíritos encarnados e convivemos ao lado de entidades desencarnadas, os trabalhos mediúnicos nos auxiliam a compreender como somos pequenos e quase insignificantes, mas temos nossas responsabilidades perante as leis da vida, dentre elas trabalhar para nosso crescimento espiritual e desenvolvimento moral e auxiliar no máximo que pudermos na evolução de outros seres. A caminhada é imensa, as vantagens do mundo tentam nos tirar do caminho correto, mas devemos perseguir com afinco e perseverança nossos sonhos e ideais, deixando pelo caminho pegadas de amor e de solidariedade, trocando o julgamento fácil, os prazeres materiais e as falas desnecessárias e compreendendo que caminhar ao lado da espiritualidade é a única forma de construirmos um futuro de crescimento e evolução espiritual.

 Pobreza, concentração de renda e desigualdade no Brasil do século XXI

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O mundo globalizado vem gerando grandes transformações na sociedade mundial, com impactos generalizados em todas as regiões e países, afetando empresas, organizações sociais e trabalhadores, criando constrangimentos e preocupações em todo o globo, o futuro nunca foi tão incerto e assustador para uma parcela substancial da população internacional, gerando novos medos, desesperanças e incremento na violência e no xenofobismo. Neste ambiente de novas discussões, encontramos visões diferentes e complementares, uns mais entusiasmados e otimistas, acreditando na panaceia da tecnologia e da inclusão digital como instrumento de inserção social e melhora na qualidade de vida da população, de outro lado, encontramos os mais céticos e pessimistas que veem este momento como mais um período de degradação social e desigualdade crescente, as promessas abundam, mas a realidade é sempre assustadora e imediata.

Os teóricos mais animados com as mudanças em curso acreditam que o mundo do trabalho está se transformando e seus impactos serão muito melhores para toda a coletividade, divulgam dados do incremento da produtividade do trabalho e do aumento da riqueza da sociedade que geram grandes comemorações, neste novo momento, o trabalho deve se transformar e novas ocupações estão ainda sendo construídas, para estes estudiosos, nos próximos anos mais de setenta por cento da população estará ocupada em atividades que ainda não foram criadas, profissões que estão sendo pensadas pela sociedade e pelo rápido crescimento da tecnologia e das novas formas de inovação.

Segundo estes teóricos, o momento ainda está fortemente caracterizado por incertezas e instabilidades, estas serão reduzidas com o passar dos tempos e a sociedade tende a iniciar um grande ciclo de prosperidade e progresso, onde a grande maioria poderá usufruir destas novas facilidades que estão sendo introduzidas em todas as áreas e locais, gerando mais riqueza e criando novas oportunidades para todos os grupos sociais, o mundo que estamos construindo nos trará grandes benefícios num futuro muito próximo.

Olhando para a sociedade brasileira, muitas são as dúvidas que surgem de nossas reflexões, em um país como o nosso o Estado tem uma grande relevância e sempre foi um dos atores mais importante para alavancar o crescimento econômico, com investimentos em várias áreas e setores, impactando a coletividade e criando bases concretas para promover novos investimentos e uma geração mais sólida e consistente no emprego e nas melhorias sociais.

Neste ambiente, ao nos depararmos com os dados das pesquisas que nos foram trazidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os sentimentos que nutrimos são de indignação, desesperança e medo. Por estes dados percebemos que mesmo sendo uma das economias mais ricas da sociedade mundial, mesmo sendo detentores de solos e terras altamente produtivas, somos uma sociedade marcada por uma alta concentração de renda com bolsões enormes de pobreza, exclusão e indignidade, com isso, estamos caminhando a passos largos a uma sociedade de fortes rupturas, cujos impactos podem ser assustadores e muito perigosos.

A sociedade brasileira apresenta, e todos temos consciência disso, uma alta concentração de renda, somos uma das economias que mais concentram renda da sociedade internacional, somos um país onde os mais ricos recebem 34 vezes o ganho dos mais pobres, um verdadeiro escárnio em pleno século XXI, uma vergonha que todos os brasileiros deveriam repudiar de uma forma mais enfática, nos manifestando diretamente contra esta barbárie e nos manifestando contra esta verdadeira incivilidade.

A sociedade brasileira apresenta um contingente de mais de 100 milhões de cidadãos que não possuem esgoto e saneamento básico em suas residências, com isso, percebemos gastos em saúde pública que poderiam ser evitados, levando aos cofres públicos mais de 1 bilhão de reais que poderiam ser utilizados para melhorar as condições de vida da população. Neste ambiente encontramos muitas discussões sobre tecnologia, máquinas de última geração, inteligência artificial, internet das coisas, indústria 4.0 e pouco nos importamos com esgoto e saneamento básico, condenando, com isso, uma grande quantidade de cidadãos a indignidade e a degradação, sendo que muitos deles estão desempregados, na informalidade, no subemprego ou até mesmo, estão desalentados.

A concentração excessiva da renda na sociedade brasileira é histórica, somos uma sociedade que se conhece excludente, desde tempos imemoriais nos destacamos como uma sociedade com marcas profundas de degradação, trazemos em nossas entranhas mais de 300 anos de escravidão, o patrimonialismo que se apodera de recursos estatais e empregos públicos, a marginalização e exclusão dos grupos mais vulneráveis. O incremento da concentração da renda, na contemporaneidade, tem outras raízes mais conjunturais, onde destacamos uma forte recessão econômica que nos acompanhou no período 2014/2017, cujos custos sociais e econômicos foram imensos, levando um grande contingente que tinham conseguido ascender socialmente em anos anteriores, a voltar para a pobreza e para a indignidade, avanços e retrocessos estão na raiz de nossos indicadores e, com isso, nossa concentração de renda se torna cada vez mais estrutural.

Depois deste baixo crescimento econômico do período citado acima, o país está tendo grandes dificuldades para recuperar uma melhora no cenário econômico, saímos da recessão, mas não conseguimos engatar um novo período de crescimento econômico, com isso, percebemos uma grande degradação no mercado de trabalho e perspectivas sombrias para inúmeros grupos sociais que prescindem dos gastos e dos investimentos estatais, que atualmente se encontram em forte retração.

Os dados da concentração de renda na sociedade brasileira nos mostram uma situação dramática e muito perigosa, nela vemos que os 10% da população com maiores ganhos detinham, no ano passado, 43,1% da massa de rendimentos, algo em torno de R$ 119,6 bilhões. Na outra ponta, os 10% da população mais pobres ficaram com apenas 0,8% dos rendimentos, algo em torno de R$ 2,2 bilhões. Com isso percebemos que a distância entre os grupos é muito elevada, gerando instabilidades e incertezas das mais graves, com possíveis impactos sociais e políticos severos, ameaçando as bases da democracia e colocando em xeque as instituições econômicas, políticas e judiciais.

Os dados disponibilizados pelo IBGE nos mostram que a concentração de renda tem forte conotação regional, o Sudeste, que concentra 40% da população, concentra uma massa de rendimento superior a de todas as outras regiões somadas. Nestes dados, descobrimos que a região Nordeste possui e menor média de salário, R$ 1497,00, enquanto a região sudeste, com R$ 2572,00 apresenta a maior média salarial.

Pelos dados levantados percebemos que o Índice de Gini, que mede a desigualdade em uma escala de 0 (perfeita igualdade) a 1 (máxima concentração) aumentou em todas as regiões do país e atingiu o maior patamar da série histórica, 0,509. Depois de um período de melhorias sociais e crescimento econômico, do período 2003/2013, o Brasil volta a ver seus indicadores de renda degradados, denotando que neste período recessivo, o Brasil passou a incrementar sua concentração de renda e sua população perdeu renda e piorou suas condições sociais, com desemprego crescente e degradação na renda.

Depois da publicação de O Capital no século XXI, (2014) Thomas Piketty ganhou importância na sociedade mundial, suas pesquisas estimularam novas discussões na seara dos economistas, que passaram a ver a alta desigualdade com mais atenção, percebendo ser ela um detonador de graves crises e desequilíbrios nas economias nacionais. Numa das pesquisas feitas pela Escola de Economia de Paris, o Relatório da Desigualdade Global, que congregam pesquisas domiciliares, contas nacionais e declarações de impostos de renda, sustentam uma conclusão ainda mais assustadora para a sociedade brasileira, que segunda a pesquisa os 0,1% mais ricos se apropriam de 28,3% dos rendimentos brutos totais, enquanto os 50% mais pobres ficam com apenas 13,9% do conjunto de todos os rendimentos. Os resultados destas duas pesquisas são todos estarrecedores para a sociedade brasileira, devendo servir como um alerta para os grupos dominantes, sem uma melhoria nestas condições estaremos condenados e muito próximos de uma situação simular a uma barbárie social.

As pesquisas econômicas com relação a pobreza passaram a ganhar relevância e levaram o americano nascido na Índia Abhijit Banerjee, a franco-americana Esther Duflo e Michael Kremer, também dos Estados Unidos, a ganhar o Nobel de Economia deste ano, por seus trabalhos no combate à pobreza, quem sabe com esta manifestação da Academia  Real de Ciência da Suécia a comunidade internacional passe a compreender que os lucros das empresas são fundamentais, mas que este não deve ser conquistado com a degradação das condições de vida da população, com mais concentração da renda e com mais indignidade social.

Neste ambiente de grandes riquezas no capitalismo internacional, onde a produção extrapole os 70 trilhões de dólares, recursos estes que poderiam garantir uma renda de uns US$ 10 mil para cada um dos 7 bilhões de cidadãos do mundo, percebemos uma pequena quantidade vivendo em condições de altíssimo luxo, ostentação e desperdício e uma grande parte vivendo na indigência, na pobreza e na falta de perspectivas, sem saneamento básico, sem alimentação e sem condições de sonhar com um futuro melhor, muitos se entregando a criminalidade, a violência e formas abjetas de sobrevivência.

Na realidade brasileira encontramos dados similares, o que nos mostra como estamos criando uma sociedade explosiva e extremamente excludente, onde as cadeias e as carceragens das delegacias estão abarrotadas de pessoas pobres, negras e excluídas de uma sociedade cuja marca mais evidente é a exclusão social, onde os assassinatos acontecem a céu aberto, onde os presídios estão dominados pelos marginais, onde a classe política fica discutindo assuntos sem interesse para a população, criando crises e desentendimentos para postergar os debates mais consistentes e imprescindíveis para reduzir o desemprego e melhorar as condições de vida da população. Neste ambiente, percebemos discussões para aumentar a impunidade daqueles que matam demais e oficializar uma situação onde os oprimidos armados matam seus semelhantes em nome de uma justiça de fachada, onde os verdadeiros marginais usam ternos e gravatas importadas e transferem para os pobres e marginalizados o pagamento de seu luxo e de sua inoperância.

“Neoliberalismo e Corrupção: ajustes neoliberais e aumento da corrupção”

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 “Neoliberalismo e Corrupção: ajustes neoliberais e aumento da corrupção – Análise dos ajustes neoliberais no Brasil de Fernando Collor (1990-1992) e no México de Carlos Salinas (1988-1992)” – Novas Edições Acadêmicas, 2019.

Por Ary Ramos da Silva Júnior

A presente obra editada pela Novas Edições Acadêmicas, faz parte da tese de doutorado defendida pelo autor em Sociologia, na Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, defendida em maio de 2006. O trabalho teve por objetivo comparar dois países latino-americanos que viviam momentos intensos de adoção de políticas neoliberais, naquele momento os ventos do chamado Consenso de Washington, reunião feita na capital norte-americana com a presença de economistas, cientistas políticos, intelectuais, presidentes, ministros de Estado e empresários, todos defensores das ideias e dos princípios neoliberais que clamavam por abertura econômica, desregulamentações, privatizações, desestatizações e redução sistemática do papel do Estado na sociedade latino-americana, estas políticas eram defendidas como a forma mais efetiva e imediata de levar estas economias para o tão almejado desenvolvimento econômico, ambicionado por todas as economias.

Nos anos 1980, as ideias neoliberais se espalharam pelo mundo de forma acelerada, levando para todos aos países em desenvolvimento, a adoção de políticas baseadas em redução do papel dos Estados na economia, sendo substituídos pelos mercados, vistos nesta ideologia como os grandes gestores do progresso e do crescimento dos países, a América Latina foi invadida por estas ideias, deste as iniciadas no Chile a partir de 1973, depois da queda do presidente eleito Salvador Allende e da ascensão de Augusto Pinochet, responsável pela adoção de políticas fortemente neoliberais, somadas a um governo autoritário e repressor, com milhares de mortos, desaparecidos, torturados e violentados.

Estas políticas se espalharam por toda a região e passaram a ser adotadas pela grande maioria dos países, desde a Argentina, Colômbia, Equador, Paraguai, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Peru, México em 1988 com Carlos Salinas de Gortari e, o Brasil, a partir de 1990 com a ascensão do presidente Fernando Collor de Mello, neste momento estes países passam sentir na pele a adoção de novas políticas e a construção de um novo modelo, baseado nos mercados, onde os Estados passavam a ocupar um papel secundário.

O livro faz uma reflexão sobre o pensamento neoliberal, destacando a força dos grandes agentes econômicos na difusão desta ideologia e na tentativa de impor aos países da região e países em desenvolvimento de outras regiões as ideias liberalizantes. Segundo este pensamento, o atraso econômico destes países estava atrelado ao crescimento excessivo do Estado, que inicialmente foi o grande fomentador dos investimentos que culminaram na construção de alguma estrutura industrial, sem esta atuação estatal, dificilmente estes países conseguiriam construir algum modelo industrial, isto porque a industrialização dos países periféricos era mal vista pelos países industrializados, que estavam receosos de que surgissem mais concorrentes para sua economia.

No México, os avanços neoliberais foram mais intensos do que no Brasil, embora ambos tivessem uma histórica econômica bastante parecida, o gigante do norte estava muito próximo dos Estados Unidos, e sofriam destes uma influencia bastante agressiva, ainda mais quando o país assinou a entrada no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), assinado em 1992.

O México adotou inúmeras medidas liberalizantes, abriu sua economia, privatizou empresas estatais, retirou muitas estruturas microeconômicas reguladoras e assinaram outros acordos comerciais relevantes com outros países e regiões, se transformando em uma economia fortemente dependente dos Estados Unidos, a relação comercial entre eles aumentou de forma acelerada, levando a uma intensa dependência de seu vizinho do norte, responsável pela importação de mais de 80% de suas vendas externas, com isso, toda crise que afetasse os norte-americanos afetariam diretamente os mexicanos.

Devemos destacar ainda, que neste momento a sociedade mexicana descobriu uma relação bastante incestuosa entre grupos econômicos e agentes políticos, uma situação existente á algum tempo, mas apenas desbaratada neste período. A relação entre as medidas liberalizantes e a corrupção se mostrou mais evidente neste momento, com a saída de cena do Estado através da venda de empresas para a iniciativa privada, os grupos privados deixaram á mostra as mazelas políticas e as relações incestuosas entre Estado e Mercado, a corrupção se mostrava presente na sociedade mexicana á muitos anos, com desperdício de bilhões de recursos, enriquecimento de grupos privados e degradação social e política.

A relação entre medidas neoliberais e a corrupção se mostrou mais evidente em toda a região, a compra de empresas estatais, os lobbies para a desregulação e a desregulamentação de alguns setores econômicos, o poder financeiro dos grandes conglomerados econômicos e monetários, todas estas medidas levaram estas instituições a corromper o Estado Nacional e seus representantes, em troca ganhavam licitação, leilões e adquiriam empresas públicas, muitas delas verdadeiros monopólios, transformando estes monopólios públicos em verdadeiros monopólios privados, dotados de grande poder e capacidade de controle e dominação na sociedade.

O governo Carlos Salinas de Gortari deu prosseguimento a um incremento da dependência dos Estados Unidos, consolidando um modelo econômico baseada nas chamadas maquiladoras que se transformaram num amplo instrumento de atração de empresas para produção e posterior venda aos parceiros do norte, nesta trajetória os mexicanos se consolidam como meros montadores de mercadorias, onde o incremento de valor agregado inexiste e os ganhos são reduzidos, se limitando a poucos empregos com salários reduzidos e baixa especialização.

O Brasil, também analisado na obra, também passou por situações semelhantes, as medidas liberalizantes adotadas internamente geraram graves constrangimentos para a estrutura industrial, aumentando a competição interna e levando muitos grupos econômicos e financeiros á bancarrota, inclusive setores tradicionais e importantes na história econômica nacional. O grande responsável por esta abertura foi o presidente eleito em 1990, Fernando Collor de Mello, responsável por uma abertura econômica extremamente agressiva, cujos impactos sociais foram desestabilizadores, com incremento da pobreza, da violência e da marginalidade.

Depois de décadas de proteção, a indústria nacional perde os subsídios e as medidas protecionistas são retiradas, como foram medidas adotadas muito rapidamente a liberalização teve impactos econômicos generalizados, aumentando as falências de negócios nacionais, muitas empresas nacionais foram vendidas para grupos estrangeiros, gerando uma forte e acelerada desnacionalização. Estas políticas transformaram o cenário nacional e abriram espaço para produtos mais eficientes e de qualidade superior, a entrada destes produtos levou muitas empresas privadas nacionais a falência, gerando uma forte desindustrialização e perda de relevância deste setor na economia nacional.

As políticas neoliberais serviam a grupos estrangeiros fortes e consolidados, que viam nesta política uma forma de entrar no mercado dos países latino-americano, aumentando sua presença na região, ganhando novos mercados e ganhando musculatura financeira para a concorrência, este movimento foi incentivado pelos países desenvolvidos, pelos grandes conglomerados internacionais e por muitos teóricos associados aos países desenvolvidos, que viam nesta política um estímulo aos investimentos internacionais.

O Brasil adotou muitas destas políticas, a abertura econômica estimulou a entrada de empresas estrangeiras, as privatizações trouxeram investimentos e reestruturação destas empresas, aumento do desemprego e uma contração da renda agregada. As medidas liberalizantes geraram alguns benefícios, mas aumentou a degradação social, o desemprego e a exclusão social, com isso, a sociedade passou a perceber as dificuldades e os entraves na construção de um país mais produtivo, eficiente e com melhores recursos humanos numa sociedade em constantes transformações.

Políticas neoliberais e corrupção apresentam grande correlação, analisando as bases do capitalismo brasileiro, percebemos que o Estado apresenta um poder fundamental na sociedade, as empresas estatais sempre foram responsáveis por investimentos centrais na sociedade, a desestatização fragilizaria os grupos políticos dependentes destas nomeações, que passaram a exigir contrapartidas em troca do apoio ás teses privatizantes, incrementando as negociatas, os compadrios e a corrupção, deixando a mostra como se organiza a sociedade brasileira em benefício daqueles que desperdiçam os recursos públicos, gastando-os de forma ineficiente e faturando com os superfaturamentos e com os aditivos.

No Brasil os casos de corrupção eram frequentes, o presidente Fernando Collor perdeu o cargo com suspeita de corrupção, a implantação de medidas liberalizantes mostrou como os agentes políticos negociavam o dinheiro público e transformavam as negociações políticas, que devem ser saudáveis e necessárias, em um verdadeiro balcão de negócios em prol de interesses especiais organizados e estruturados financeiro e politicamente.

Embora o período analisado no livro compreenda o governo Fernando Collor, os casos de corrupção e malversação dos recursos públicos estão sempre estampando capas de jornais e revistas, gerando apreensão da população e contribuindo para difundir a tese de que todos os políticos são iguais e que a política deve ser descrita como a ciência do roubar e do enganar a população, um engano clamoroso. A política é um instrumento de organização social e de melhoria nas condições de vida da população, os excessos acontecem e devem ser corrigidos e evitados.

A corrupção no período Fernando Collor cresceu de forma acelerada, gerando movimentos intensos na população, levando milhares de pessoas às ruas e criando um movimento intenso e bem-sucedido de repúdio a todas as denúncias de corrupção. Neste período acreditávamos que as manchetes de revistas e jornais não mais retratariam casos tão flagrantes de corrupção, lendo engano, vendo em perspectivas o país passou por mais dois grandes momentos de denúncias de corrupção, o primeiro em 2005/2006 com as investigações do chamado Mensalão e, mais recentemente, os movimentos iniciados com as investigações que ficaram conhecidas como Operação Lava Jato, deste momento percebemos que os movimentos de controle e governança devem ser perseguidos com afinco e determinação, pois estes marginais devem ser combatidos para que a sociedade encontre seu caminho de progresso e desenvolvimento, visando reverter toda esta dívida social criada e mantida desde tempos coloniais e que afeta uma parcela considerável da sociedade brasileira e mexicana.

Atualmente o mundo conta com algumas instituições que se debruçam sobre estudos e pesquisas para investigar o tamanho da corrupção global, os dados são assustadores e envolvem trilhões de dólares, das instituições destacamos a Transparência Internacional, cujas pesquisas são conduzidas em todas as regiões do mundo e suas conclusões nos levam a questionar muitos valores envoltos no chamado capitalismo internacional.

Ao estudar estes dois grandes países da região e perceber que, tanto Brasil quanto o México, apresentam histórico de forte intervenção do Estado na economia e uma cultura baseada em regimes autoritários, descobrimos que o atraso destas sociedades quando comparadas com outros países desenvolvidos está num crescente desperdício dos recursos públicos e no incremento da corrupção, ambas extraindo recursos volumosos destes países, algo em torno de 5% do produto interno bruto, recursos estes necessários e fundamentais para diminuir os abismos existentes entre os grupos sociais, onde uma parcela considerável desta população vive em condições deploráveis e degradantes.

Os espíritos, suas influências nas vivências cotidianas

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Muitos indivíduos acreditam que vivemos sozinhos nesta sociedade, não creem na existência de espíritos e atribuem estas crenças a pessoas ignorantes e fanáticas, outros acreditam que espíritos não existem e não fazem o menor sentido acreditar em sua existência, muitos o fazem para atribuir a outrem suas decisões equivocadas e suas atitudes desprovidas de sentido, neste caso a crença em sua existência serve como um verdadeiro instrumento para terceirizar decisões equivocadas que todos tomamos no cotidiano.

Os seres humanos sempre acreditaram na existência de uma força maior, ou pelo menos uma grande quantidade, um Deus ou uma divindade qualquer, este todo poderoso pode ser descrito como uma entidade onipresente, onisciente e onipotente, cabendo a cada indivíduo aceitar e louvar a sua existência e seus poderes, temendo-o para que não fosse vítima de sua ira ou de sua agressão, esta força era descrita como severa e todos deveriam temê-lo, sob pena de ser punido de forma exemplar e autoritária.

A Doutrina dos Espíritos, codificada em 1857, pelo pedagogo francês Hippollite Leon Denizard Rivail, nos mostra uma realidade bastante diferente, suas revelações nos mostraram a existência de mundos que se interligam diretamente, somos espíritos que nos revezamos em locais da existência humana, num momento estamos encarnados e “presos” a um corpo material ou estamos livres e vivendo como espíritos, todas estas vivências e experiências existem para que alcancemos o progresso e o desenvolvimento enquanto seres humanos.

Quando encarnados trazemos as limitações da matéria, estamos “presos” no mundo material e temos nossas potencialidades reduzidas, neste momento devemos nos asseverar de que estas limitações são provisórias e servem como instrumento de depuração e de reequilíbrio, para que construamos valores morais e espirituais emergenciais para nosso progresso e nosso desenvolvimento como espíritos eternos e imortais.

Nos escritos que nos foram enviados pelos espíritos, os indivíduos encarnados estão em convivência contínua com os irmãos desencarnados, estes últimos estão mais próximos dos encarnados do que imaginamos, somos por eles influenciados e muitas vezes somos por eles controlados e dominados, gerando verdadeiros desajustes e desequilíbrios espirituais, emocionais e psicológicos.

Os ensinamentos espíritas eram revolucionários e rompiam com tradições antigas e arraigadas na sociedade, às influências de seres desencarnados geravam grandes constrangimentos para movimentos religiosos tradicionais que, na maioria das vezes desacreditavam na existência de espíritos, muitas religiões importantes defendiam a tese de que ao morrer o indivíduo esperaria pelo grande tribunal, onde seríamos julgados pelos nossos gestos e nossos comportamentos, se condenados seríamos conduzidos para o exílio eterno e se absolvidos elevados nos padrões de desenvolvimento. Nesta concepção muitas perguntas ficavam sem respostas, o destino de todos ainda era uma grande incógnita e deveríamos acreditar no poder de Deus e na intervenção desta entidade na vida e nos rumos de cada um de nós. Indagar, perguntar e buscar respostas eram visto como atitudes de indivíduos de pouco fé, cujas indagações eram mal vistas pelas entidades superiores, deveríamos acreditar cegamente nos conhecimentos e crenças da religião.

Perseguições á nova Doutrina foram motivadas pelos ensinamentos trazidos, pelo estímulo ao conhecimento, ao estudo e a reflexão, o Espiritismo estava centrado na leitura, nas discussões salutares e na busca constante pela verdade e na defesa intransigente da ciência, que motivaram o codificador a defender a tese de que se a Doutrina defender ideias e a ciência mostrar que estas ideias são equivocadas, aceite as explicações da ciência.

Depois dos avanços e desafios trazidos pela Revolução Industrial, pela urbanização, pelo incremento da tecnologia e por muitas teorias que abarcavam várias áreas da ciência e do conhecimento humano, o mundo sentia a necessidade de um conjunto de ideias e pensamentos religiosos para poder estimular a compreensão da sociedade e da evolução dos seres humanos. Neste momento surge a chamada Terceira Revelação, a codificação do Espiritismo mostra para a sociedade que vivemos no mundo material, mas somos espíritos, estagiamos na matéria e voltaremos ao mundo espiritual e nesta alternância somos estimulados ao progresso intelectual, moral, espiritual e psicológico, sem estes avanços continuaremos fazendo estágios no mundo material, que deve ser vistos como uma verdadeira escola, cujos conhecimentos são fundamentais para nosso progresso e desenvolvimento.

O século XIX pode ser descrito como um período de grandes descobertas e conhecimentos, as novidades trazidas pelo mundo espiritual nos ajuda a compreender, que muitos dos nossos pensamentos, muito de nossas descobertas e muitas das nossas ideias não são verdadeiramente nossas, são inspirações que nos são trazidas por espíritos em condições mais avançadas no desenvolvimento, espíritos mais avançados no amor e na solidariedade, espíritos irmãos que nutrem empatia e nos auxiliam em nosso progresso, mesmo sabendo que muitos dos aplausos serão canalizados para os encarnados.

A atuação dos espíritos superiores está atrelada a uma boa conduta dos indivíduos, quando atraímos boas energias, quando oramos com fervor, quando fazemos o bem e desenvolvemos nossa empatia e solidariedade, quando fazemos caridade, quando emitimos bons pensamentos e cultivamos bons valores morais, sentimos a presença destes irmãos em nossa vida e em nosso cotidiano, estes irmãos nos inspiram, nos auxiliam e nos protegem, além de nos amparar em momentos de medos e incertezas, como nos momentos que vivemos na contemporaneidade.

A Doutrina dos Espíritos vem nos mostrar que nossas atitudes cotidianas vão definir os rumos e os caminhos que vamos seguir num futuro imediato, mostra-nos ainda, que muitas vezes somos conduzidos a novas encarnações com variados desajustes físicos, emocionais ou sensoriais, estes devem ser encarados não como uma punição de Deus, mas como um processo educativo. Muitos cidadãos teimam em acreditar que se trata de uma punição, com esta visão, acabam se descontentando com Deus, se afastando da religião e se transformando em pessoas descrentes, a Doutrina nos mostra que tudo deve ser visto como um processo de reeducação espiritual. Estas limitações tendem a auxiliar estes irmãos num processo de auto-reflexão, gerando uma depuração espiritual que abre espaço para um maior entendimento de como são regidas as leis de Deus, quando as afrontamos somos levados a uma reparação e quando as aceitamos e as desenvolvemos somos inspirados e conduzidos a novas experiências de progresso e desenvolvimento.

A Doutrina dos Espíritos assusta muitas pessoas e angaria inúmeros detratores e até inimigos declarados, muitas pessoas se esquivam das reflexões espíritas, pois se assustam com suas mazelas espirituais interiores, temem uma reflexão mais íntima porque não querem descobrir situações de desequilíbrios de vidas passadas, muitos querem se ver como heróis, mocinhos, príncipes ou rainhas, mas na verdade são indigentes espirituais, suas vivências anteriores de encarnações pregressas revelam situações degradantes de corrupção, de detrações, de atentados contra a honra alheia, de maldades verdadeiras, de violências e desrespeitos, estas experiências explicam as condições lastimáveis que vivem na contemporaneidade, suas dificuldades e medos cultivados intimamente.

Muitos acreditam que ao fugir desta situação pregressa degradante estão tomando as melhores atitudes e agindo de forma correta, neste momento é importante destacar que o passado de cada indivíduo é marcado por inúmeros equívocos e constrangimentos, todos somos verdugos de nós mesmos, cometemos erros, todos passamos por momentos de desajustes e desequilíbrios, todos cultivamos vícios variados, todos desejamos o mal alheio e trabalhamos para que este mal se efetivasse, esta história pregressa todos temos em comum e não devemos nos esconder desta realidade dolorosa e lastimável. Se tivemos um passado com tantos descaminhos, devemos compreender que todos estamos condenados a um futuro glorioso, desde que nos encaremos como seres humanos, deixemos de lado as atitudes mesquinhas e equivocadas e nos amparemos na convicção de temos todas as condições de construir um futuro promissor e centrado nos ideais e nos conhecimentos que nos são mostrados pelo Espiritismo.

Algumas obras nos mostram experiências assustadoras de espíritos que se compraziam no mal, na degradação e na violência cotidianas, espíritos ora atraídos pelos adornos do mal e do desajuste, entidades que vitimaram inúmeros indivíduos, geraram dores das mais violentas possíveis e que, depois de experiências reparadoras conseguiram se fortalecer e se transformaram em verdadeiros agentes do amor e da solidariedade, irmãos que aceitaram seu passado de dificuldades e desequilíbrios e compreenderam que não poderiam alterar o passado, mas que, com certeza, conseguiriam construir um novo futuro, como nos asseverou o médium mineiro Francisco Cândido Xavier.

No livro Sexo e Destino, psicografia de Chico Xavier e ditado pelo espírito André Luiz, acompanhamos a trajetória das famílias Torres e Nogueira, entrelaçadas em um novelo de degradação sexual, fragilidades morais e desequilíbrios emocionais, e percebemos o quanto espíritos desencarnados influenciam na vida das pessoas que se encontram no corpo material, nesta obra acompanhamos o irmão Moreira canalizando seu poder espiritual para comandar a vida de Cláudio Nogueira e influenciá-lo em decisões equivocadas, os espíritos estão presentes em nossas vidas muito mais do que imaginamos.

O esquecimento dos valores morais está gerando graves constrangimentos para o ser humano na sociedade contemporânea, a degradação do Meio Ambiente, o incremento do poder e da influência do dinheiro e dos valores materiais, o crescimento acelerado da desigualdade e da pobreza, o xenofobismo, as guerras e a violência entre países e dentro das próprias nações, todas estas situações estão conduzindo a coletividade a uma intensa destruição e a grandes extremos. A perda dos valores centrados na solidariedade, na ética e no amor podem conduzir a humanidade a situações de desesperança e sofrimentos, retomar os vínculos com a espiritualidade, ouvir as inspirações dos bons espíritos e se deixar conduzir por energias saudáveis e edificantes são medidas emergenciais que todos os indivíduos devem cultivar para que o mundo volte a ser um espaço de crescimento e desenvolvimento coletivo.

A Doutrina dos Espíritos foi trazida para a humanidade com este objetivo, sua missão é combater o materialismo que crassa a sociedade mundial, muitas vezes acreditamos que esta religião, filosofia ou ciência, como a conhecemos, não está tendo êxito em sua missão, mas na verdade a transformação é lenta e está em curso, muitos não conseguem enxergar os movimentos em curso, mas todos sabemos que o grande condutor do Planeta Terra é o Mestre Jesus, diante disso, percebemos que como o condutor é competente as coisas devem acontecer rapidamente e a melhora não tardará a chegar, como nos avisou Francisco Cândido Xavier, em 2057 a Terra será um mundo de regeneração, exatamente duzentos anos depois da codificação da Doutrina Espírita, o tempo está cada vez mais próximo e cabe a cada um de nós se preparar para esta nova empreitada, afinal, não temos mais tempo a perder com questões menores e inconsistentes.

 

 

 

 

 

Prevenção do Feudalismo digital, por Mariana Mazzucato

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Do Project Syndicate

Ao explorar tecnologias que foram originalmente desenvolvidas pelo setor público, empresas privadas de meios digitais adquiriram uma posição no mercado que lhes permite extrair lucros massivos de consumidores e trabalhadores. Reformar a economia digital de forma que sirva a fins coletivos é, portanto, o principal desafio econômico do nosso tempo.

LONDRES – A obtenção e o uso de dados pelo Facebook e por outras empresas de tecnologia estão finalmente conquistando a atenção que merecem. Considerando que os dados pessoais vêm se tornando o produto mais valioso do mundo, serão os usuários os donos ou os escravos da economia das redes?

As perspectivas de democratizar a economia das redes sociais permanecem pequenas. Os algoritmos estão se desenvolvendo de maneira a permitir que as empresas lucrem com nosso comportamento passado, presente e futuro – ou o que Shoshana Zuboff da Harvard Business School descreve como nosso “excedente comportamental”. Em muitos casos, as plataformas digitais já conhecem nossas preferências melhor do que nós, podendo nos levar a agir de forma a produzir ainda mais valor. Nós realmente queremos viver em uma sociedade onde nossos desejos e manifestações mais íntimos estão à venda?

O capitalismo sempre se destacou ao criar novos desejos e ânsias. Mas com o fenômeno big data e dos algoritmos, as empresas de tecnologia conseguiram agilizar e ao mesmo tempo inverter este processo. Em vez de apenas criar novos bens e serviços, antecipando o que as pessoas podem querer, elas já sabem o que queremos e estão vendendo nossos “eus futuros”. Pior ainda, os processos algorítmicos usados ​​frequentemente perpetuam os preconceitos raciais e de gênero e podem ser manipulados para obter lucro ou ganho político. Embora todos nos beneficiemos imensamente dos serviços digitais, como a pesquisa no Google, não nos registramos para que nosso comportamento fosse catalogado, modelado e vendido.

Para mudar isso, será necessário focar diretamente no modelo de negócios vigente e, especificamente, na fonte de rendas econômicas. Assim como os proprietários de terras, no século XVII, que calculavam os aluguéis sobre a inflação do preço da terra, e assim como os barões mercenários que lucraram com a escassez de petróleo, as empresas de plataformas digitais atuais estão extraindo valor através da monopolização de serviços de busca e comércio online.

Certamente, é claro que setores com alta externalidade de rede – quando os benefícios para cada usuário aumentam de acordo com o número total de usuários – irão produzir grandes companhias. É por isso que as empresas de telefonia cresceram tanto no passado. O problema não é o tamanho, mas como as empresas baseadas em rede exercem seu poder de mercado.

As empresas de tecnologia originalmente usavam suas amplas redes para atrair diversos fornecedores para o benefício dos consumidores. A Amazon permitiu que pequenas editoras de obras vendessem títulos (incluindo meu primeiro livro) que, de outra forma, não teriam chegado às prateleiras das livrarias locais. O mecanismo de busca do Google costumava devolver uma variedade diversificada de fornecedores, bens e serviços.

Entretanto, hoje ambas as empresas usam suas posições dominantes para reprimir a concorrência, controlando quais produtos os usuários veem e favorecendo suas próprias marcas (muitas das quais têm nomes aparentemente independentes). Enquanto isso, as empresas que não anunciam nessas plataformas encontram-se em séria desvantagem. Como Tim O’Reilly argumentou, com o tempo, essa busca de aluguel enfraquece o ecossistema de fornecedores aos quais as plataformas foram originalmente criadas para servir.

Em vez de simplesmente presumir que os recursos econômicos são iguais, os formuladores de políticas devem tentar entender como os algoritmos da plataforma digital alocam valor entre consumidores, fornecedores e a própria plataforma. Enquanto algumas delas podem refletir a concorrência real, outras estão sendo manuseadas pela retirada de valor, e não por agregar valor.

Portanto, precisamos desenvolver uma nova estrutura de governança que começa com a criação de um novo vocabulário. Por exemplo, chamar as empresas de plataforma digitais de “gigantes da tecnologia” implica que investiram nas tecnologias das quais lucram, quando foram realmente os contribuintes que financiaram as principais tecnologias subjacentes – da Internet ao GPS.

Além disso, o uso generalizado de direitos fiscais e contratações trabalhistas independentes (para evitar os custos de seguro de saúde e outros benefícios) vem corroendo os mercados e instituições que dependem da economia digital. Em vez de falar sobre regulamentação, precisamos ir além, abraçando conceitos como co-criação. Os governos podem e devem estar moldando os mercados para garantir que o valor criado coletivamente atenda a objetivos coletivos.

Da mesma forma, a política de concorrência não deve se concentrar apenas na questão do tamanho de uma empresa. A divisão de grandes empresas não resolveria os problemas de retirada de valor ou abusos dos direitos individuais. Não há razão para supor que muitos Googles ou Facebooks menores operariam de maneira diferente ou desenvolvessem novos algoritmos menos exploradores.

Criar um ambiente que recompense a criação de valor genuíno e puna a retirada de valor é o desafio econômico fundamental de nosso tempo. Felizmente, os governos também agora estão criando plataformas para identificar cidadãos, coletar impostos e fornecer serviços públicos. Devido a preocupações nos primeiros dias da internet sobre o uso indevido oficial de dados, grande parte da arquitetura de dados atual foi construída por empresas privadas. Mas, as plataformas governamentais, agora tem um enorme potencial para melhorar a eficiência do setor público e democratizar a economia digital.

Para realizar esse potencial, precisaremos repensar a governança de dados, desenvolver novas instituições e, dada a dinâmica da economia de plataforma, experimentar formas alternativas de propriedade. Para citar apenas um dos muitos exemplos, os dados gerados ao usar o Google Maps ou o Citymapper – ou qualquer outra plataforma que dependa de tecnologias financiadas pelos contribuintes – devem ser usados ​​para melhorar o transporte público e outros serviços, em vez de simplesmente se tornar lucros privados.

Certamente, alguns argumentam que a regulamentação da economia digital impedirá a criação de valor orientada pelo mercado. Mas eles deveriam voltar e ler seu Adam Smith, cujo ideal de “mercado livre” era livre de rendas, não do Estado.

Algoritmos e big data poderiam ser usados ​​para melhorar os serviços públicos, as condições de trabalho e o bem-estar de todas as pessoas. No entanto, essas tecnologias estão sendo usadas atualmente para minar os serviços públicos, promover contratos de zero hora, violar a privacidade individual e desestabilizar as democracias do mundo – tudo em prol do ganho pessoal.

A inovação não tem apenas uma taxa de progressão; também tem uma direção. A ameaça representada pela inteligência artificial e outras tecnologias não está no ritmo de seu desenvolvimento, mas em como elas estão sendo projetadas e implantadas. Nosso desafio é estabelecer um novo rumo.

 

 Financeirização, imediatismo e a lógica do lucro monetário

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Vivemos em tempos muitos curiosos, são momentos de grandes transformações, de medos e desesperanças coletivas convivendo lado a lado com euforias e entusiasmos pouco vistos na história da sociedade, momentos de tecnologias comandando as decisões, influenciando sobre as escolhas, definindo comportamentos, criando hábitos e costumes novos e revolucionários, vivemos tempos estranhos, mas ao mesmo tempo, interessantíssimos, sua superação nos levará a uma nova sociedade.

Desde a consolidação do sistema capitalista global, o dinheiro passou a dominar as relações sociais, o poder do capital passou a definir as regras de convivência social, a selecionar amizades, definir o comportamento humano e influenciar a cultura das nações, disseminando algumas tradições e enterrando outras, usando como instrumento de mensuração os interesses monetários e financeiros, deixando de lado as tradições e os costumes dos povos, o dinheiro passou a ditar as regras em todas as regiões da sociedade global.

Podemos compreender a financeirização da sociedade, como um novo momento do sistema econômico capitalista, nesta nova organização da sociedade os valores financeiros passam a dominar todas as estruturas econômicas, produtivas, sociais e políticas, transformando tudo em mercadorias e comercializando-as em um mercado em rápida expansão e amplo desenvolvimento, com valores próprios e recursos abundantes, as relações sociais e políticas sucumbem aos valores do imediatismo do dinheiro e do lucro material, transformando todas as relações entre os indivíduos em uma relação comercial ou financeira.

O marketing como ferramenta de gestão passou a ser utilizado por todos na convivência social, os indivíduos se esmeram para se mostrar cada vez mais em evidência, para isso se utilizam das redes sociais publicando fotos e comentários variados, sempre buscando seu melhor perfil, sua melhor companhia e seu melhor sorriso, afinal nesta nova sociedade precisamos nos mostrar sempre bem-sucedidos, felizes, eficientes e produtivos, as redes sociais para isso nos prestam um serviço valoroso.

Nesta nova sociedade, as tecnologias nos mostram caminhos alternativos, antigos empregos e ocupações estão sendo substituídas por outras profissões, com isso os trabalhadores se mostram preocupados e descrentes de melhores colocações no mercado de trabalho, suas perspectivas econômicas futuras são menores e os medos aumentam de forma acelerada, gerando novos medos e preocupações sociais, patologias emocionais e desequilíbrios espirituais, aumentando as depressões, as ansiedades, os transtornos e, em muitos casos, culminando num aumento brutal do suicídio.

As relações entre os indivíduos passam por mudanças aceleradas, de um lado encontramos pessoas dispostas a novos relacionamentos, abertas a novas experiências afetivas e sentimentais, mas ao mesmo tempo, encontramos um crescimento acelerado nas fragilidades emocionais, nos medos e nas dificuldades de entregas sentimentais, com isso percebemos desequilíbrios sentimentais intensos, carências afetivas e imaturidades emocionais, gerando novas patologias que aumentam as procuras por consultórios psiquiátricos e consultas com terapeutas e profissionais da psicologia.

Algumas pessoas buscam relacionamentos para suprir suas carências afetivas e sua imaturidade emocional, querem alguém ao seu lado, se cadastram em sites de relacionamentos, frequentam ambientes aconchegantes e buscam novas experiências sentimentais e sexuais, acreditando encontrarem nestes relacionamentos a felicidade tão almejada, os prazeres sonhados e a satisfação desejada. Nesta busca constante por novos amores e prazeres, estes indivíduos acabam se degradando sentimentalmente, aumentando seus desajustes, suas frustrações e seus desequilíbrios numa busca externa marcada pela ausência de valores consistentes e sentimentos íntimos e pessoais, nesta viagem acumulam desequilíbrios e medos generalizados que acabam levando estas a se fechar evitando novas experiências, acreditando que todos os relacionamentos são iguais, que todas as pessoas são interesseiras e mesquinhas e que seu destino é permanecer sozinho, acusando Deus e seus representantes pela solidão em que vivem.

Nesta sociedade, o dinheiro ganhou relevância exagerada, seus valores centrados no imediatismo, na competição e no lucro passaram a dominar a mente e os corações das pessoas, das empresas e dos governos, tudo passa pelos valores monetários, pelos ganhos financeiros e pelos prazeres do imediatismo, com isso, perdemos os momentos de planejamento da vida, da vivência em família e dos sentimentos de construção social, aqueles mais permanentes e cotidianos. Estamos afogados em números, metas e performance, com isso, estamos nos tornando seres frios e calculistas, queremos sempre as satisfações para o agora, para o imediato e se não a alcançarmos vamos buscar em outros relacionamentos, em outros empregos, em drogas legais ou ilegais, ou seja, estamos sempre buscando outras experiências que nos deem prazeres constantes para que não tenhamos que lidar com as frustrações do cotidiano, como se as frustrações não servissem como um instrumento de maturidade e de crescimento social.

Neste cenário percebemos o surgimento de indivíduos imaturos e inseguros que querem os prazeres a todos os momentos, por isso vivem vários relacionamentos em busca de gozos e satisfações constantes, com isso percebemos indivíduos trocando de emprego todos os meses, estão descontentes e frustrados com questões que os incomodam e se esquecem que estas frustrações fazem parte da vida de todos os indivíduos e são elas que nos dão a resiliência para construirmos nossas experiências afetivas e profissionais do cotidiano. Encontramos pessoas alternando variados relacionamentos, buscando em várias pessoas os prazeres e o autoconhecimento que só pode ser encontrado quando nos deparamos como nossas características mais íntimas e pessoais.

Esta imaturidade dos indivíduos está permeando a sociedade em todas as áreas e setores, empresas geridas por gestores impulsivos e pouco capacitados que veem seus lucros crescerem no curto prazo e se utilizam de estratégias inconsistentes para o longo prazo, esquecendo de que as empresas devem ser vistas como um agente social que tem no lucro seu instrumento central, mas que não pode deixar de lado valores morais e éticos mais sólidos e consistentes para sua perpetuação no tempo e sua respeitabilidade no mercado. Nesta sociedade competitiva, os gestores estão numa busca frenética por ganhos financeiros que estão levando a uma forte degradação do meio ambiente, incrementando o ambiente com mais dióxido de carbono, poluindo os rios e os lagos e fragilizando as fontes de água potável, com isso, estamos hipotecando nosso futuro e comprometendo a vida e os sonhos de uma nova geração, precisamos nos conscientizar que somos todos responsáveis pela situação do planeta Terra.

As escolas tradicionais foram repassadas para grandes grupos financeiros, verdadeiros fundos de investimentos recheados com muitos recursos monetários, estes fundos passam a administrar estas instituições como se fossem bancos e conglomerados financeiros, deixando de lado valores educacionais tradicionais e trazendo para a gestão técnicas de redução de custos e contabilização financeira, degradando valores e enriquecendo seus acionistas e investidores, estes mesmos investimentos estão tomando conta das universidades e transformando a educação em um grande negócio econômico, com alta lucratividade e forte potencial de valorização. O grande problema destes investimentos é que a educação deve ser vista em uma sociedade não apenas como um instrumento financeiro e de mercado, algo para se conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho e ganhos profissionais, mas deve ser vista como um dos projetos mais importante dos seres humanos, esclarecedor de suas dúvidas e instrumento de conscientização de seu papel social, como agente cultural e como entidade econômica, ao restringir a educação apenas como instrumento de construção de consumidores, estamos perpetuando uma grande injustiça social, deixando de formar cidadãos conscientes e capacitados intelecto e moralmente.

A financeirização do mundo deve ser fortemente rechaçada pela sociedade contemporânea, pois seu crescimento torna os indivíduos meros autômatos integrados sem capacidade de reflexão, sem vontades e desejos próprios, sendo conduzidos como meros robôs, como máquinas dotadas de atuação técnica e sem capacidade de reflexão crítica, sem organização política, sem sentimentos altruístas e sem capacidade de construção de valores sociais de tolerância, respeito e solidariedade.

Nesta sociedade financeirizada, os agentes sociais estão se corrompendo em troca de benesses financeiras e monetárias, os intelectuais se vendem no mercado em troca de recursos para uma vivência tranquila, com isso emitem opiniões na grande mídia e legitimam seus empregadores, os homens públicos que se deixam degradar em prol de vantagens materiais, autoridades religiosas que se vendem em um mercado que, com recursos monetários, os indivíduos conseguem comprar um terreno no céu até um perdão para comportamentos agressivos e desregrados, nesta sociedade o dinheiro é o grande agente social, comprando desde intelectuais, políticos e representantes das religiões tradicionais, o mercado compra tudo e paga bem, neste mundo estamos todos a venda, quer pagar quanto?

Nas igrejas tradicionais, a entrada do dinheiro e dos valores financeiros na estrutura hierárquica acabou gerando graves desequilíbrios morais e éticos, afastando a instituição de seus valores mais tradicionais, baseados no amor, no respeito e na solidariedade. Os recursos financeiros são fundamentais para todos os agentes sociais e políticos, mas não podemos deixar de compreender que o capital deve ser sempre visto como um meio e não como um fim, todas as vezes que o enxergamos como um fim para a solução de todos os males sociais e os indivíduos se deixam levar por sua alta capacidade de sedução, os seres humanos acabam se degradando e se deixando levar pela ganância, pela ambição e pelo sectarismo.

O pragmatismo dos valores financeiros está gerando uma sociedade desprovida de solidez moral, as tradições estão sendo redesenhadas e os indivíduos estão perdendo os referenciais que os conduziam anteriormente. As famílias, as escolas e as religiões sucumbiram aos valores do imediatismo da contemporaneidade e estão sendo reconstruídas pelos valores monetários e financeiros, nesta nova sociedade o trabalho alucinante e a busca pela sobrevivência afastam ao indivíduos de suas casas e residências, deixando-os cada vez mais distante de seus familiares e de seus amores mais intensos, o mundo do trabalho ganha força e se transforma no agente central, o capital passa a comandar tudo e transformar os indivíduos em números, deixando de lado a sua individualidade.

Neste novo modelo de sociedade os indivíduos podem comprar os prazeres do sexo e, mesmo muitos não acreditando, podem comprar amor verdadeiro, muitos relacionamentos se transformam em sentimentos mais sólidos devido a uma convivência mais próxima que inicialmente foi possibilitada pela atração do dinheiro e dos bens materiais, sem eles muitos olhares e sentimentos não seriam estimulados nos chamados flertes do cotidiano, impedindo proximidades e namoros de sucesso, o dinheiro pode ser o grande diferencial no mundo do sexo e no mundo dos amores sentimentais.

Vivemos em um mundo em ampla transformação, todas estas mudanças devem ser compreendidas como o surgimento de uma nova sociedade, mais dinâmica, mais flexível, mais integrada e mais interdependente, nesta sociedade os valores morais mais sólidos e consistentes devem ser estimulados para que o poder dos recursos financeiros não passem a dominar as estruturas sociais, um mundo marcado pela tecnologia e pelos interesses do dinheiro podem levar a coletividade ao autoritarismo e a dominação das mentes e dos corações, impedindo os indivíduos de refletir e de transformar a sociedade e de construir um futuro mais solidário e consistente.

“Quando a economia é vista como ciência exata, saídas são restritas a dados numéricos”.

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Esther Dweck não tem dúvidas: economia é ciência social aplicada. Para ela, pensar o contrário é restringir as possibilidades de análises e abrir espaços para lógicas financeiristas

Por estar alicerçada em dados matemáticos e indicadores numéricos, a economia que vivemos na atualidade parece elementarmente ser derivada das ditas ciências exatas. Por trás dessa lógica está a de que a saída é sempre pelos números, de que é sempre possível conceber uma equação que demonstre a solução para os problemas. Esta, para a professora

Esther Dweck, é uma visão estreita do campo e assumir isso é abrir espaço para um receituário neoliberal que busca curar as crises. “A economia é uma ciência social aplicada. Eu não tenho dúvidas quanto a isso”, dispara. “O objeto da teoria econômica é entender como a sociedade garante os meios materiais para sua sobrevivência e reprodução. Portanto, a economia aborda como as sociedades garantiram a produção e a distribuição desses meios materiais”, explica.

Entretanto, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, observa que desde o final do século XIX há essa tensão que puxa o campo da economia para as ciências exatas. “Naquela época, mudaram o nome da ciência de ‘Economia Política’, como era definida pelos economistas clássicos, para ‘Economics’ (em inglês) para tentar aproximar das ciências exatas. Uma das mudanças importantes desse período foi alterar a discussão de distribuição como um processo político, como visto por Smith, Ricardo e Marx, para um processo estritamente ‘econômico’”, detalha. E conclui: “a lógica passa a ser uma visão individualista, onde cada agente será remunerado de acordo com as suas capacidades”.

O que fica claro na abordagem de Dweck é que a assunção dessas perspectivas se torna terreno fértil para o emprego do que chama de “receituário neoliberal” que foi sendo imposto aos Estados. “Foram liberalização financeira, liberalização comercial, privatização, liberalização dos fluxos financeiros, desregulamentação dos mercados financeiros domésticos e uma mudança na lógica da política fiscal, que passou a ter como único objetivo, ou objetivo principal, a sustentabilidade da dívida pública”, destaca. E qual o objetivo? Para a professora, a meta é “garantir a estabilidade e o retorno esperado do capital, em consonância com abertura financeira”. Por isso, defende: “é preciso colocar no centro de um novo modelo de desenvolvimento a redução da desigualdade de renda e aumento do investimento social, ambos fundamentais para acelerar o crescimento econômico de forma mais inclusiva e ambientalmente sustentável”.

Esther Dweck é professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, possui doutorado em Economia pela UFRJ, com período-sanduíche no LEM da Scuola SantAnna, em Pisa, Itália. Entre 2011 e 2016, atuou no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no cargo de chefe da Assessoria Econômica e como secretária de Orçamento Federal.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Até que ponto a Economia opera como ciência social aplicada, portanto voltada ao bem-estar coletivo, e a partir de que ponto ela se converte em um sistema tecnocrático de financeirização da vida?
Esther Dweck – A economia é uma ciência social aplicada. Eu não tenho dúvidas quanto a isso. O objeto da teoria econômica é entender como a sociedade garante os meios materiais para sua sobrevivência e reprodução. Portanto, a economia aborda como as sociedades garantiram a produção e a distribuição desses meios materiais.

No entanto, desde o final do século XIX, há uma tentativa de equiparar a economia às ciências exatas. Naquela época, mudaram o nome da ciência de “Economia Política”, como era definida pelos economistas clássicos, para “Economics” (em inglês) para tentar aproximar das ciências exatas. Uma das mudanças importantes desse período foi alterar a discussão de distribuição como um processo político, como visto por Smith, Ricardo e Marx , para um processo estritamente “econômico”. Nesse sentido, a lógica passa a ser uma visão individualista, onde cada agente será remunerado de acordo com as suas capacidades.

IHU On-Line – Quais foram os caminhos que levaram o debate econômico e, em certo sentido, a teoria econômica à perspectiva utilitarista como saída única?
Esther Dweck – Essa visão do final do século XIX culminou com a definição estrita da ciência econômica, por Lionel Robbins, em 1932, como: “a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos”. No entanto, essa visão foi questionada a partir dos acontecimentos das décadas de 1930, devido à grande depressão e com o desfecho político trágico que levou à II Guerra Mundial.

As visões alternativas sobre economia, que sempre caminharam em paralelo à teoria mais convencional, ainda que marginalizadas, ganharam espaço e contribuíram para uma mudança quanto à formulação do objeto da economia. O colapso social das décadas de 1930 e 1940 levou a um consenso dentro da economia de que o sistema capitalista não era capaz de garantir a distribuição equitativa da riqueza, nem mesmo garantir a produção de forma sustentada. Mesmo dentro de uma perspectiva mais convencional, os problemas apontados por Keynes ao final da Teoria Geral – incapacidade de garantir o pleno emprego e a tendência à concentração de renda – ganharam destaque nas proposições de política econômica depois da II Guerra Mundial.

A constituição de Estados de Bem-Estar Social e outras políticas ativas de redução das flutuações econômicas passaram a fazer parte das recomendações de muitos economistas como forma de enfrentar esses problemas. Sabemos que, enquanto essas políticas foram adotadas, o mundo passou pela chamada “Era de Ouro do Capitalismo”, com crescimento econômico e redução das desigualdades.

Rompimento

No entanto, esse consenso teórico e político foi rompido a partir da década de 1970. Como ressaltam Dardot e Laval , a partir dos governos conservadores de Reagan e Thatcher houve um questionamento sobre a regulação keynesiana macroeconômica, a propriedade pública das empresas, o sistema fiscal progressivo, a proteção social, o enquadramento do setor privado por regulamentações estritas, especialmente em matéria de direito trabalhista e representação dos assalariados – embora a primeira experiência mundial dessa nova visão tenha sido o Chile, no governo Pinochet , ainda no início dos anos 1970.

IHU On-Line – De que forma o neoliberalismo e a financeirização transformaram, ao mesmo tempo, a economia em uma ciência mais complexa – no sentido de que ninguém entende bem seus mecanismos de funcionamento – e a teoria econômica em uma ciência mais vulgar, pobre intelectualmente – no sentido de que há cada vez menos senso crítico?
Esther Dweck – As políticas que foram sendo impostas aos países a partir desse receituário neoliberal foram liberalização financeira, liberalização comercial, privatização, liberalização dos fluxos financeiros, desregulamentação dos mercados financeiros domésticos e uma mudança na lógica da política fiscal, que passou a ter como único objetivo, ou objetivo principal, a sustentabilidade da dívida pública, de forma a garantir a estabilidade e o retorno esperado do capital, em consonância com abertura financeira. Assim, a política fiscal deixa de ter como objetivo a estabilidade do crescimento e a distribuição da renda e passa a ser a fiadora do espaço de valorização do capital.

Nesse sentido, há uma mudança na correlação de forças internas a cada país, os Estados vão aos poucos perdendo a capacidade de coordenar os investimentos públicos e privados, perdem capacidade de fomentar o crescimento e a geração de emprego e há uma maior suscetibilidade das economias nacionais a crises internas e externas. A consequência, por um lado, é de uma perda de autonomia nas políticas econômicas, as economias nacionais ficam mais sujeitas às flutuações nos mercados internacionais e aumenta a complexidade na administração das economias nacionais, dos países emergentes.

Por outro lado, desde o governo Thatcher, procura-se passar a ideia de que não há alternativa econômica a essa visão, o que ficou conhecido como TINA (There is no alternative). No entanto, países como China, e mesmo outros asiáticos, demonstraram que esse caminho proposto nas décadas de 1980 e 1990 não era o único. Depois da crise asiática, em 1997, houve alguma reversão dos processos de abertura dos países asiáticos, que passaram a se proteger mais. Aqui no Brasil, a partir de 2003, aproveitamos o período de forte liquidez internacional para acumular reservas e paramos o caminho de maior abertura e integração aos países centrais. Adotamos uma estratégia mais centrada no mercado interno, por meio de políticas de redistribuição de renda, e demos um forte impulso aos investimentos públicos e à coordenação dos investimentos pelo Estado. Infelizmente, depois de 2016, mesmo com os resultados positivos dessa estratégia, voltamos a uma total submissão aos preceitos neoliberais.

IHU On-Line – De que forma a Emenda Constitucional 95, que restringe os recursos orçamentários, a reforma trabalhista e a proposta de reforma da Previdência impactam e geram restrições às políticas econômicas de Estado em diferentes níveis?
Esther Dweck – Essas três grandes reformas são um exemplo dessa nova submissão. Na realidade, são uma destruição do que ainda tínhamos de uma estrutura institucional que permitia pensar em um projeto mais inclusivo para o Brasil. Vejamos, como apresentamos no livro Economia para Poucos: Impactos Sociais da Austeridade e Alternativas para o Brasil, que organizei em conjunto com Pedro Rossi e Ana Luiza Matos de Oliveira , a EC 95/2016 é uma destruição da Constituição de 1988. A EC 95/2016 institui uma política de austeridade permanente. Ao impedir um crescimento real dos gastos primários (aqueles que incluem benefícios sociais, saúde, educação, justiça, cultura, segurança pública, entre outros), ela impõe um corte permanente em termos dos gastos por cidadão e como proporção do PIB. Além disso, é uma política recessiva, que acentua o quadro de estagnação econômica por que estamos passando.

A emenda retira o poder do congresso e da sociedade de moldar o tamanho do orçamento público e provoca um acirramento do conflito distributivo dentro do orçamento. Assim, impõe outro projeto de país, incompatível com aquele almejado pela Constituição de 1988. Da forma como está, será muito difícil cumprir o limite de gastos estipulado pela EC, mas vai permitir um projeto permanente de ajuste liberal, pois exige diversas outras reformas. Na própria emenda, já foram reduzidos os mínimos constitucionais de saúde e educação. Isso já está causando uma redução do financiamento da atenção básica, com consequências trágicas, como o aumento da mortalidade infantil e materna.

No livro, os diversos artigos apresentam os resultados desastrosos que já estão ocorrendo e os que ainda vão acontecer nas mais diversas áreas. Dentre as reformas impostas pela EC 95, a reforma da Previdência foi a que veio na sequência. A proposta de reforma apresentada pelo governo Bolsonaro, assim como a de Temer, com o discurso falacioso de corte dos privilégios, na verdade é um ataque ao regime solidário e de repartição atual brasileiro. O Regime de Previdência Social brasileiro é um dos importantes instrumentos de transferências sociais e quase 70% dos benefícios se concentram em um salário mínimo. Ao aumentar o tempo mínimo de contribuição, alterar as regras da aposentadoria rural e mudar o critério para o direito Benefício de Prestação Continuada – BPC, a proposta atinge os mais pobres e desmonta um importante colchão de prevenção de crise social no Brasil.

Finalmente, a reforma trabalhista procura retirar todo o poder de barganha dos trabalhadores, ao procurar igualar o mercado formal ao informal. Isso acaba desprotegendo os trabalhadores e beneficiando os patrões.

IHU On-Line – Quais são as consequências sociais do aprofundamento das políticas neoliberais? O que a experiência em outros países tem a nos ensinar?
Esther Dweck – O resultado é muito claro e já estamos vendo no Brasil. Assim como ocorreu em outras partes do mundo, principalmente após 2010, essas políticas levam à recessão econômica e ao caos social. Na Europa e nos Estados Unidos, depois do retorno às políticas de austeridade em 2010, diversos trabalhos têm apontado como isso gerou três resultados claros: 1) a recuperação mais lenta de uma crise econômica na história; 2) um forte aumento da desigualdade com piora de diversos indicadores sociais; 3) piora nos resultados fiscais, o que vem sendo chamado de ajuste fiscal autodestrutivo, ou seja, o ajuste fiscal acaba contribuindo para uma recuperação lenta ou para uma acentuação da crise e isso reduz ainda mais a arrecadação tributária. Como sabemos, esses resultados estão presentes no Brasil, portanto essas políticas trazem impactos negativos nas três esferas: econômica, social e fiscal.

IHU On-Line – Como superar a recessão econômica sem cair em um desenvolvimentismo, não raro assassino e ambientalmente devastador? Qual nossa perspectiva de futuro?
Esther Dweck – Na conclusão do livro que mencionei acima, apresentamos um esboço de um projeto social de desenvolvimento econômico sustentável. Em um livro lançado recentemente pela Cepal , Alternativas para o desenvolvimento brasileiro: Novos horizontes para a mudança estrutural com igualdade , há um conjunto de textos que apontam nessa direção. O meu texto com o Pedro Rossi nesse livro, “Políticas sociais, distribuição, crescimento e mudança estrutural”, avança na ideia que desenvolvemos antes. Nesse texto apontamos que é preciso colocar no centro de um novo modelo de desenvolvimento a redução da desigualdade de renda e aumento do investimento social, ambos fundamentais para acelerar o crescimento econômico de forma mais inclusiva e ambientalmente sustentável.

A lógica que queremos demonstrar é que esse é um projeto que não apenas garante maior justiça social e reparação histórica à enorme desigualdade brasileira, como também tem enorme potencial de dinamizar a economia dada a enorme concentração de renda e a carência de infraestrutura social. Nesse sentido, há um potencial de décadas de investimentos sociais a serem executados para que possamos atingir níveis adequados, e há um longo caminho redistributivo para que os níveis de desigualdade sejam aceitáveis.

Enfim, é cada vez mais importante repensar o modelo de desenvolvimento e deixar de lado a falsa dicotomia entre a questão social e ambiental e a questão econômica se quisermos garantir de fato uma mudança estrutural com igualdade. Nesse livro também tem um texto da Camila Gramkow muito interessante sobre a questão ambiental: “De obstáculo a motor do desenvolvimento econômico: o papel da agenda climática no desenvolvimento”, que eu acho que vale a pena como forma de repensar o papel da agenda ambiental no Brasil.

IHU On-Line – O papa Francisco vem defendendo a constituição de uma nova lógica econômica, concebendo uma “economia que não mata”. Como a senhora apreende essas críticas de Bergoglio ao atual sistema econômico? E qual a viabilidade, do ponto de vista do campo econômico, da implementação de uma economia eticamente responsável, como proposto por ele nos debates que devem ocorrer em Assis no ano que vem? 
Esther Dweck – Acho que há diversos economistas dispostos a se engajar nessa agenda de “estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda”. Infelizmente, não é por onde têm caminhado as políticas econômicas adotadas pelos dirigentes das principais economias mundiais, mas há sim diversos economistas dispostos a repensar a economia. Acho que a iniciativa do Institute for New Economic Thinking – INET é uma dessas aberturas para tentarmos repensar a forma de ensinar e praticar economia.

Caso contrário, continuaremos nessa trajetória de um mundo cada vez mais polarizado, com as desigualdades crescentes e incapaz de garantir o mínimo para sobrevivência para grande parte da população. A consequência desse descaso por parte das autoridades, como podemos ver no Brasil, é um aumento da violência e o fim de qualquer empatia entre as pessoas. O fato de que muitos acham normal o Estado estar autorizado a fazer uma verdadeira guerra aos jovens negros e pobres brasileiros é um sintoma de que a nossa sociedade está doente.

IHU On-Line – Quais são os desafios para construir uma economia eticamente responsável, capaz de defender de forma irrestrita as vidas humana, animal e do meio ambiente?
Esther Dweck – Existem muitos grupos interessados no avanço do projeto neoliberal Brasil, um projeto que acaba com os mecanismos de proteção social e de redistribuição de renda. Não é à toa que as elites brasileiras se uniram em torno de um projeto de destruição do tecido social, de venda dos ativos nacionais, perda de soberania e ambientalmente irresponsável. Infelizmente, ainda não há uma consciência por grande parte da população dos efeitos dessa política sobre a vida da grande maioria da população e esses grupos estão conseguindo garantir o seu projeto de uma economia para poucos, para muito poucos.

 

 

“Bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida”

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Historiadora Armelle Enders comenta os ataques de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa e descontrói FHC

A historiadora francesa Armelle Enders é apaixonada pelo Brasil, país que visita e estuda há mais de 30 anos. Nesta entrevista a Carta Capital, ela comenta o episódio dos ataques grosseiros desferidos por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. “O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é uma coisa que instiga a homofobia deles. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual”.

A historiadora desconstrói ainda a personagem de Fernando Henrique Cardoso, “que goza de uma reputação de esquerda esclarecida entre franceses de sua geração, mas é, na realidade, um coronel da política brasileira que faz em Paris análises totalmente equivocadas sobre a realidade do País”.

Professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris 8 e pesquisadora do Institut d’Histoire du Temps Présent, Armelle Enders publicou, entre outros livros, A História do Rio de Janeiro (Editora Gryphus) e Histoire du Brésil (Chandeigne), que acaba de ganhar a terceira edição, atualizada com a eleição de Bolsonaro.

Carta Capital: Em janeiro deste ano, em Paris, FHC disse que não houve golpe de Estado, as instituições no Brasil funcionavam normalmente e a eleição de Bolsonaro foi a expressão da rejeição da corrupção e da violência.

Armelle Enders: Acho que há um divórcio entre a imagem que o FHC tem na França, por causa das relações que ele tem de amizade com uma certa inteligência francesa da geração dele, e a realidade. Ele tem uma imagem de esquerda esclarecida, esquerda moderna, e na realidade é um coronel da política brasileira. Como historiadora, vejo como uma coisa típica que havia na Primeira República: políticos que tinham posições públicas progressistas e, na verdade, no reduto eleitoral de poder deles, eram muito atrasados, oligarcas tradicionais. A análise dele é equivocada. É a versão do PSDB, surgida antes da campanha de 2014, de que o “lulopetismo era um sistema para se perpetuar no poder”. A propaganda foi massiva e espalhou-se. Pode-se contestar o PT, num contexto democrático isso faz parte da luta política. Mas, com o golpe, a situação política no País virou uma construção diabólica, de destruição do Estado.

CC: Uma construção diabólica?

AE: O PT foi acusado de se corromper para manter um projeto autoritário de poder. Foi isso o que os brasileiros teriam rejeitado. A afirmação de FHC é a consagração dessa lógica, que se desenvolveu num contexto de eleições, mas virou verdade para muita gente. Acabou por abalar as consciências. Outro argumento foi usado no pleito de 2018: o PT e Bolsonaro são dois extremos. Então, ambos devem ser rejeitados. Esses dois temas são desdobramento do contexto eleitoral, mas totalmente equivocados.

CC: O escritor chileno Ariel Dorfman afirmou recentemente: “O Brasil continua de costas para seu passado. A impunidade das Forças Armadas brasileiras abriu o caminho para Bolsonaro ser presidente e dizer as barbaridades que pronuncia diariamente”. Concorda?

AE: Na verdade, esse conflito nasce da correlação de forças no final da ditadura. A extrema-direita militar e civil negociou uma transição pretensamente democrática feita por cima, um acordão. O poder estava do lado dos militares, o que estava em jogo era a anistia. Foi preciso escolher: ou a ditadura persiste ou se processa os militares. O preço foi uma anistia negociada, sem punição. O problema sempre surge em função dos militares.

CC: Por que não se revogou a Lei da Anistia, como Néstor Kirchner fez na Argentina?

AE: Essa correlação de poder se manteve. A Comissão Nacional da Verdade desfez o pacto da Anistia, mas sem julgar os torturadores e responsáveis por crimes contra a humanidade.

CC: E essa série de incidentes degradantes e ridículos protagonizada por Bolsonaro, Guedes e outros em relação à França? Houve ofensas à mulher do presidente Macron que envergonham qualquer brasileiro decente.

AE: Analiso em dois níveis. Primeiro, o nível político, da relação do Brasil de Bolsonaro com o governo americano e Trump. Houve atritos entre Trump e o presidente Macron. Logo em seguida, começaram os atritos do Bolsonaro com Macron, o alinhamento era evidente. Foi também uma maneira de Bolsonaro agitar a bandeira da soberania diante das velhas potências europeias. Há ainda um componente cultural. A representação da Europa, e particularmente da França, é o contrário da ideologia dos bolsonaristas. A França é representada pela cultura, sofisticação de uma certa elite brasileira tradicional. O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é algo que instiga a homofobia. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual. Macron valoriza a cultura, não é o estilo varonil do russo Vladimir Putin. O casal que ele forma com Brigitte, uma mulher culta e mais velha, representa tudo o que eles odeiam.

CC: Bolsonaro não esconde o interesse de se apropriar das terras indígenas para favorecer o agronegócio e explorar as riquezas do subsolo. Como a comunidade internacional pode ajudar a proteger a biodiversidade da Amazônia, mas também a proteger essas populações?

AE: Políticos populistas, como Trump, Netanyahu ou Putin, desrespeitam totalmente as instituições internacionais. Imagino que Bolsonaro fará a mesma coisa. As ONGs sofrem perseguição do governo brasileiro, e há ainda os consumidores do mundo. O que pode alterar a situação do Brasil da era Bolsonaro são os interesses econômicos. Mas não é fácil, porque muitas empresas multinacionais lucram com o bolsonarismo.

CC: Em artigo publicado no Le Monde, o filósofo Alain Badiou sustentou que o capitalismo é o responsável pela destruição do planeta. E propôs: “Que não exista propriedade privada do que deve ser comum, a saber a produção de tudo o que é necessário à vida”.

AE: Na verdade, a única alternativa que tivemos ao capitalismo foi a União Soviética, que em relação ao meio ambiente também não foi exemplar. É uma crise não só do capitalismo, mas da civilização, do que era a social-democracia. Não acredito também na economia administrada ou num Estado todo-poderoso, que pode acabar sendo predador.

CC: Qual seria a solução?

AE: É uma questão de consentimento das populações. Uma grande parcela apoia a predação. É difícil resolver.

CC: Será resolvido somente quando todos perceberem que estamos à beira do precipício?

AE: Já estamos. Aparentemente, há uma consciência mais nítida do que muitos anos atrás. O Brasil tem uma coisa mais forte, uma tradição escravocrata, que vem da época colonial. E o Bolsonaro refere-se a isso no imaginário da conquista do Oeste. Existe a ideia de que o território do Brasil é infinito. Pode-se explorar as terras à vontade, com permissividade absoluta.

 

Literatura Espírita e as memórias dos mundos espirituais

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Uma das obras mais interessantes da Doutrina dos Espíritos, escrita pela médium carioca Yvonne do Amaral Pereira Memórias de um suicida, nos traz inúmeros elementos para reflexão e compreensão da alma humana, um livro magistral que acredito deva estar em um lugar de destaque na literatura espírita, uma obra memorável, sem dúvida um dos dez melhores livros desta corrente que une filosofia, religião e ciência.

O livro nos mostra como os seres humanos que tiraram suas vidas passam por dificuldades das mais severas possíveis quando chegam ao mundo dos espíritos, mostra-nos em detalhes o sofrimento humano, as dores e os medos que acompanham estes irmãos desencarnados, suas trajetórias e comportamentos, suas dúvidas e remorsos, seus questionamentos e o reconhecimento de quanto se esquivaram dos conhecimentos íntimos e pessoais, embora a obra retrate a experiência de um grupo de cinco pessoas que fizeram da adversidade um elemento de união e de aproximação, unindo tramas e enxugando, uns dos outros, as lágrimas que teimavam em inundar suas faces assustadas e conscientes dos erros cometidos.

Na obra percebemos que nos unimos de acordo com nossos sentimentos e energias, quando pensamos, quando vibramos e quando falamos, atraímos as energias que dialogam com nossos pensamentos e vibrações, estas energias nos acompanham enquanto nossos pensamentos estiverem vinculados mais intimamente. Os personagens do livro se encontraram em momentos de adversidades e medos, todos assustados e buscando respostas para tudo que sentiam, as dores eram imensas, o cheiro era tenebroso e as vibrações eram agressivas e violentas, o ambiente era de grande apreensão, mas só poderiam sair deste local se conseguissem vencer seus medos e orassem, deixassem de lado o orgulho e a arrogância, pedindo auxílio e proteção, ao fazê-los seriam atendidos por grupos socorristas do mundo espiritual que atuavam nestas imediações.

A obra nos leva a conhecer o Instituto Maria de Nazaré, instituição criada e mantida pela mãe de Jesus Cristo, esta casa poderia ser descrita como um espaço de recolhimento e auxílio para todos os indivíduos que tivessem atentado contra suas próprias vidas, espíritos desesperados e pobres de sentimentos edificantes, espíritos doentes e necessitados de um intenso apoio e compreensão. A administração da casa era altamente capacitada tanto intelectualmente quanto moralmente, com espíritos dotados de grande sensibilidade e carisma, cujos conhecimentos eram de grande valia para os atendimentos a irmãos em situação degradante e vexatória.

O Memórias de um suicida nos mostra como somos observados pelos irmãos de planos superiores, num determinado momento do relato, um dos personagens da obra pergunta aos gestores do Instituto, por que deles terem ficado tanto tempo nos pântanos do mundo espiritual?  Na resposta o amigo espiritual destaca que estes irmãos sempre estiveram sendo observados pelos trabalhadores do Instituto, estes apenas não receberam permissão para socorrê-los já que para isso estes irmãos em desespero precisariam vencer suas vaidades pessoais e buscar o auxílio de Deus e dos amigos espirituais.

Um dos maiores dramas que acometem estes irmãos suicidas é o remorso, a atitude insana destes indivíduos causou graves constrangimentos para seus familiares e amigos mais próximos, todos são afetados por este gesto agressivo e violento cometido num instante de irracionalidade que vai impactar em suas trajetórias durante muitos anos, séculos ou milênios. As lembranças dos familiares, suas dificuldades materiais e seus desequilíbrios emocionais e espirituais causam graves dores aos irmãos suicidas, que constantemente se veem chorando com lembranças amargas e desagradáveis, o remorso os corrói intimamente, uma dor insana que aumenta o arrependimento e os vincula cada vez mais aos rumos daqueles que permaneceram encarnados no mundo material.

Na obra percebemos o quanto a junção do conhecimento com os valores morais e religiosos transformam os seres humanos, nas reflexões todos os internados percebem quanto perderam tempo com mediocridades e coisas secundárias, deixando de lado valores mais sólidos e consistentes. Os personagens do livro são todos descritos como homens inteligentes e dotados de amplos conhecimentos científicos, todos viveram em condições de grandes prazeres materiais, acumularam recursos financeiros e se deixaram levar pelo personalismo, pela vaidade e pelo orgulho, energias e sentimentos que nos acompanham e nos trazem constrangimentos dos mais severos e imediatos.

Embora inteligentes e conhecedores das mais variadas ciências do mundo, cada um retornou ao mundo espiritual vitimado por suas fraquezas mais intensas, um escritor reconhecido mundialmente sucumbiu à cegueira, um professor respeitado se suicidou em decorrência de uma moléstia física, um comerciante tirou sua vida depois de se ver na miséria e na falência material, outro personagem se deixou levar pelo ciúmes da esposa, matando-a e depois se suicidando, cada um vitimado por dores intensas que acometiam suas almas, orgulhos generalizados e uma ausência dos valores espirituais mais verdadeiros.

O livro nos mostra que todos os personagens tomaram a triste decisão de suicídio porque acreditavam que conseguiriam, com este ato, fugir de seus dramas pessoais, o medo e o orgulho superaram todos as outras dificuldades e os levaram a acreditar que a morte era o verdadeiro fim. Quando acordaram em regiões tenebrosas (umbral) e perceberam que a morte não existe e os dramas que viviam eram verdadeiros e intensos, se desesperaram e viram seus desequilíbrios e suas dificuldades aumentarem de forma exponencial.

Os seres humanos muitas vezes se entregam aos conhecimentos, estudam e aprendem sobre várias ciências, absorvem conhecimentos científicos e tecnológicos de suma importância e passam a acreditar que, com estes conhecimentos, estão em condições melhores e superiores aos outros indivíduos, constroem intimamente ideias e teorias de que estes conhecimentos os tornam melhores e mais importantes, são irmãos doentes que se esquecem que os conhecimentos sem os valores morais os indivíduos regridem e perdem oportunidades sublimes para seu crescimento e desenvolvimento espiritual.

Os personagens retratados na obra são indivíduos inteligentes e dotados de grandes conhecimentos científicos, são intelectuais que não deixaram o conhecimento os transformarem enquanto seres humanos, se deixaram levar pela arrogância e pelo orgulho e se esqueceram dos verdadeiros valores que nos foram trazidos pelo mestre de Nazaré. Camilo Cândido Botelho e Belarmino de Queiroz eram os mais capacitados intelectualmente, o primeiro um dos mais importantes escritores lusitanos de todos os tempos enquanto o outro era um renomado professor de Ética, de Dialética e de Matemática, ambos geniais nos conhecimentos materiais, mas verdadeiros leigos e ignorantes quando o assunto era o espírito, a imortalidade da alma e a inexistência da morte.

Nos momentos que passaram no Instituto Maria de Nazaré, assistiram palestras, fizeram visitas a enfermos, participaram de missões e tiveram a oportunidade de aprender lições das mais valiosas, conseguindo visualizar seus equívocos, conheceram os conhecimentos da terceira revelação, assistiram suas vidas anteriores e seus mais severos desatinos e puderam escolher os momentos para seus retornos ao mundo material, tendo a consciência de que seus gestos tresloucados os fariam passar por privações física ou emocional que contribuiriam para seus resgates e crescimento moral. Em todos estes momentos de lembranças, as emoções os dominavam de forma acelerada, as imagens pregressas eram agressivas, os medos vinham à tona e geravam grandes desatinos, todos passaram a conhecer suas desditas e percebiam, com isso, que a única forma de se libertar dos desajustes cometidos em vidas anteriores eram o retorno ao mundo material, a reencarnação era o remédio indicado para todos os irmãos, mas a forma como reencarnariam assustava a todos indistintamente.

A literatura espírita nos mostra que a vida verdadeira se dá no mundo espiritual, quando a ele retornamos somos energeticamente atraídos pelas energias que mais se sintonizam com nossos valores, comportamentos e sentimentos, se nos utilizamos mal dos recursos que nos foram dados pela espiritualidade maior somos atraídos a locais semelhantes e permaneceremos ali o tempo necessário para que consigamos vencer nossas dificuldades e limitações, agora se nos comportamos melhor e acordarmos em locais de assistência e tratamento espirituais, devemos nos recuperar e iniciar tratativas para novos trabalhos, estudos e reflexões, conversas edificantes com mentores espirituais, aprendizados com experiências pregressas de outros irmãos espirituais, sempre buscando a evolução, sempre aprendendo, sempre nos aperfeiçoando e estudando as leis que regem a sociedade e a vida, tudo isto contribui para nosso progresso espiritual.

Muitos irmãos acreditam que quando morrerem vão poder descansar ou que ao morrer passam desta para uma melhor, afirmam isto com uma naturalidade e muitas vezes não refletem para perceber o significado de suas palavras e expressões. A vida no mundo espiritual pulsa com grande impulso, somos trabalhadores e devemos trabalhar intensamente enquanto Deus nos conceder a oportunidade do labor, este sim nos auxilia e nos leva a auxiliar todos os indivíduos que sofrem e mourejam em lágrimas de tristezas e dores alucinantes, são irmãos que necessitam deste abraço amigo, do consolo desinteressado e de valores morais sólidos e estruturados, o trabalho é fonte de progresso e de maturidade espiritual.

O Instituto Maria de Nazaré nos mostra como a organização é fundamental, como o respeito e o trabalho digno nos sinaliza os passos do progresso, encontramos neste instituto trabalhadores devotados nas mais variadas áreas e setores, desde os responsáveis pela vigilância, os lanceiros, os enfermeiros, os médicos, os assistentes, os diretores, dentre outros, todos seguindo as regras e os ensinamentos da grande educadora Maria de Nazaré. Da leitura de Memórias de um suicida, percebemos o quanto a ciência terrena ainda se encontra distante da ciência do mundo espiritual, carros velozes e máquinas sofisticadas são apresentadas e nos mostram o poder do conhecimento sendo utilizado para o bem comum e para o progresso de todos, desde os mais sábios até os mais ignorantes.

A obra quando de seu lançamento foi considerada muito agressiva pelos leitores, assim como o livro Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito de André Luiz, ambos abordavam o mundo espiritual e analisavam de forma direta ou indireta os sofrimentos e as dores de cada um dos irmãos que se deixaram levar pelo suicídio, direto ou indireto, um gesto tresloucado e agressivo que o indivíduo comete contra as Leis de Deus, estas são obras essenciais e de grande relevância que nos auxiliam na compreensão das dores que acometem os seres humanos.

A literatura espírita é muito rica em obras que analisam o mundo espiritual, a imortalidade da alma, a reencarnação, as dores e os sentimentos, as energias e as vibrações, a leitura destas obras nos auxilia e nos prepara para a compreensão das Leis de Deus, estes livros são estudados tanto no mundo material quanto no espiritual, são conhecimentos que nos aproximam dos valores universais mais edificantes, num momento de grandes inquietações, transformações radicais e medos generalizados nada melhor que nos prepararmos para o um futuro mais promissor e verdadeiro, seguindo a máxima estude Kardec para entender Jesus.