Estamos caminhando para um período de grandes conflitos geopolíticos entre as grandes potências internacionais, muitos especialistas em política internacional acreditam que estamos numa Guerra Fria 2.0, que está gerando e intensificando os desequilíbrios da economia global, incrementando incertezas, aumentando as volatilidades financeiras e em contrapartida, destruições generalizadas, crescimento das desigualdades, aumento da violência e a redução dos investimentos produtivos.
Nas últimas décadas, estamos observando rapidamente a ascensão da China, que nos últimos quarenta anos construiu um novo modelo de desenvolvimento, centrado no Estado, com fortes investimentos governamentais, altos dispêndios em ciência e tecnologia, reconfigurando a sociedade internacional, ameaçando o predomínio norte-americano e fragilizando fortemente a economia europeia, gerando novos desafios para as nações, exigindo fortes investimentos em capital humano e gerando conflitos geopolíticos com todo ocidente, lembrando-os que este último dominou concretamente a sociedade mundial desde a consolidação da Revolução Industrial.
A ascensão chinesa está gerando novos modelos econômicos e produtivos, uma verdadeira revolução no pensamento econômico, levando novos eixos de análise e reflexão da economia, colocando em xeque os modelos de equilíbrio geral do sistema econômico, questionando a existência do homem econômico, rechaçando a chamada “mão invisível” conceito criado pelo economista escocês Adam Smith. Neste cenário, destacando a importância dos investimentos governamentais, políticas industriais ativas, modelo exaustivamente utilizado no fortalecimento das nações orientais, contribuindo diretamente para que essas nações saíssem de posições intermediárias e se transformassem em países desenvolvidos, relevantes e fortemente industrializados.
O mundo contemporâneo prescinde de pragmatismo, as nações precisam de fortes atuações conjuntas de todos os setores da comunidade, num momento de fragilização e questionamento da democracia, como estamos percebendo em todas as regiões do mundo, a sociedade global precisa aprofundar os ideários da verdadeira democracia, incentivando a participação social de todos os setores, abrindo espaços para grupos marginalizados e que aceitem a diversidade social que vem ganhando espaço na sociedade globalizada.
Nesta sociedade, percebemos que a ascensão asiática abre novos canais de negociação, buscando novos investimentos, novas parcerias estratégicas, trazendo novas tecnologias, consolidando nosso mercado interno que pode ser utilizado como um ativo fundamental para angariar novas perspectivas econômicas, revertendo as tendências negativas de um futuro sombrio da sociedade brasileira, fortemente polarizada, marcadamente imediatista, cada vez mais individualista, que degrada rapidamente o meio ambiente, destruindo a sociabilidade, nos levando a uma comunidade violenta, centrada na desigualdade e fortemente concentrada.
Nesta sociedade globalizada, marcada por conflitos militares, hostilidades crescentes, crises financeiras, crescimento de tecnologias disruptivas, onde os trabalhadores perdem renda e carecem de perspectivas futuras, marcados por desequilíbrios emocionais e afetivos, o discurso do empreendedorismo é muito limitado para compreendermos os desafios da sociedade do conhecimento. Neste cenário, as nações que conseguiram alcançar desenvolvimento econômico e diminuição das desigualdades sociais foram aquelas que conseguiram uma solidariedade entre todos os atores sociais, investiram fortemente em educação, melhorando a formação dos professores, aumentando os dispêndios em tecnologia, estimulando a capacidade inovadora, desenvolvendo pesquisa científica, incrementando projetos que incentivem a participação social e olhando sempre para o médio e longo prazo, deixando de lado uma visão imediatista, vislumbrando a construção de uma sociedade menos desigual, mais plural e desenvolvida.
A ascensão chinesa nos traz grandes ensinamentos para a construção de um desenvolvimento econômica e redução da pobreza, nos trazendo elementos para utilizarmos o mercado interno como alavanca de negociação internacional, atraindo empresas e transferência de tecnologias, investindo fortemente em infraestrutura urbana, cujos impactos são imediatos, impulsionando novos empregos, melhorando a renda, mas para isso, precisamos abandonar o complexo de vira lata que vigora no país.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 29/03/2023.