Carta Mensal – Maio 2023

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A sociedade vem vivendo momentos de grandes expectativas, embora um novo governo tenha tomado posse no primeiro dia de janeiro de 2023, percebemos que vivemos em períodos de grandes conflagrações, desequilíbrios políticos e conflitos desnecessários, que limitam a capacidade de organização e de gestão do Estado, além de dificultar a reconstrução da economia nacional, atuando diretamente nas questões urgentes e prementes para a sociedade.

Neste ambiente, percebemos inúmeros confrontos econômicos, políticos e ideológicos, onde os atritos ainda prosperam, limitando as políticas públicas e postergando um cenário mais positivo, depois de um período de forte degradações institucional, econômica e política.
O governo do presidente Lula adota como uma estratégia de governabilidade bastante arriscada, de um lado não entra em conflitos abertos com outros grupos antagônicos, evitando brigas abertas com os grupos de direita e de extrema direita, que dominaram o ambiente político no governo anterior e, ao mesmo tempo, costura avanços econômicos para ganhar musculatura e garantir apoios maciços para impor seus ideais e formas de gestão.

A estratégia passa por alavancar a economia, tão degradada neste período anterior, retomando os investimentos públicos como forma de aumentar os investimentos privados, aumentando a geração de emprego, melhorando a renda agregada, reduzindo as taxas de juros e trazendo alívio para o sistema produtivo, criando um clima mais ameno para atrair investidores externos, melhorando o cenário interno e retomando o crescimento econômico.

Neste mais de cinco meses de governo, os saldos são controversos, de um lado, percebemos que os indicadores macroeconômicos estão melhorando sensivelmente, as perspectivas de redução da inflação estão melhorando, embora os juros ainda estejam muito elevados, os níveis de desemprego estão melhorando lentamente, a moeda local está se valorizando, as Bolsas de Valores estão apresentando crescimentos robustos e os ventos externos estão muito positivos, afastando uma visão negativa do Brasil criada no governo anterior, que afastava investimentos produtivos e eram vistos como uma nação pária do sistema internacional.

O arcabouço fiscal enviado pelo governo federal para o Congresso Nacional está avançando, na Câmara dos Deputados as votações foram aprovadas e, atualmente, estão sendo discutidas no Senado Federal, gerando um clima positivo para que as questões sejam equacionadas, embora percebamos que esse novo regime fiscal exige um grande esforço do Estado para aumentar as receitas do governo Nacional para cumprir as regras definidas neste modelo, reduzindo os subsídios e aumentando a arrecadação, trazendo para o centro dos debates econômicos uma agenda tão aguardada e, ao mesmo tempo, postergada para a comunidade nacional, a Reforma Tributária.

É importante destacar ainda, nos últimos dias, um novo assunto está voltando para as discussões cotidianas, a reindustrialização da economia brasileira, um país que se desindustrializou rapidamente, perdendo espaço na indústria internacional, perdendo força na nova configuração econômica global, perdendo empregos mais qualificados e um perda de renda agregada, tudo isso, contribuiu para visualizar um empobrecimento da população nacional em detrimento de um forte crescimento do poderio econômico e financeiro de poucos grupos social, aumentando as desigualdades e fragilizando os desequilíbrios estruturais da sociedade.

O novo governo está trazendo novos ventos para os setores industriais, retomando o crescimento industrial e melhorando as condições de vida da população. No começo do século XX, os industrializantes acreditavam que a indústria traria um forte desenvolvimento econômico para o Brasil, aumentando a renda interna e transformando a estrutura nacional. Apesar da importância do setor industrial, o crescimento industrial foi central para o incremento do produto interno, aumentando as riquezas nacionais, mas ao mesmo tempo não conseguiu elevar a nação ao tão sonhado desenvolvimento econômico.

Nesta trajetória de crescimento industrial, é importante destacar que o desenvolvimento da indústria exige grandes esforços de inovação, de pesquisa científica e tecnologia, com dispêndios crescentes e constantes, afinal a indústria não é um monolito, exige alterações constantes e imediatas.

Outro assunto importante e central nas discussões no mês de maio, foi o papel da mídia comercial e corporativa, seu papel de desestabilização do governo é gigantesco, defendendo um liberalismo atrasado e ultrapassado que não existe em nenhum lugar do mundo, até mesmo os países descritos como liberais, como os Estados Unidos e Europa, abandonaram as defesas constantes de seus ideários, trazendo medidas protecionistas e intervencionistas como forma de fortalecer seu setor produtivo e se capacitar para a concorrência com os países asiáticos, principalmente a China, a Coréia de Sul e Taiwan, países que ganharam espaço e relevância na estrutura global nas últimas décadas, defendendo políticas protecionistas, maciços investimentos em educação, fortes subsídios internos e a busca crescente de novos mercados internacionais.

Neste ambiente, percebemos que o atraso da mídia corporativa e comercial está ligado aos grupos econômicos que os controlam, uma elite atrasada, subserviente e altamente dependente dos centros internacionais sediados nos Estados Unidos e na Europa, um verdadeiro colonialismo cultural, ideológico e financeiro.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Economia Solidária

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Estamos vivendo momentos de grandes apreensões, o aumento da concorrência está reformulando as estruturas econômicas e produtivas globais, exigindo movimentações crescentes, estratégias claras e visões sistêmicas para conseguir sobreviver. Nesta nova sociedade, percebemos o crescimento da tecnologia todos os dias, falamos cotidianamente na Inteligência Artificial, na robótica, na Impressão 3D, na Internet das Coisas, além da nanotecnologia, da biotecnologia, as ciências dos materiais, todas impulsionadas pela Indústria 4.0.

Neste cenário, as transformações econômicas estão fomentando novos modelos de negócios, novas formas de organização social e política, estamos percebendo o fortalecimento do conceito de Economia Solidária, que podemos definir como uma forma de produção, consumo e distribuição de riquezas na sociedade, centradas na valorização do ser humano, não apenas do capital, uma verdadeira revolução numa sociedade marcada pelo imediatismo, na concorrência crescente e no imediatismo.

Nesta sociedade, percebemos que a concorrência é sempre algo salutar e nos traz grandes avanços na comunidade, impulsionando novos modelos de negócios e estimulando a geração de riquezas e melhorias no bem-estar da sociedade, mas imprescindível destacar, que esta concorrência é totalmente desigual, de um lado percebemos atores altamente capitalizados e dotados de grande poder financeiro e forças políticas e, de outros, atores fragilizados e com grandes dificuldades de competição, num mercado desigual, centrado nos monopólios ou oligopolizados, centrados no imediatismo e no individualismo, gerando desigualdades crescentes e fortes degradações do meio ambiente.

A ascensão da economia solidária deveria ser vista como um avanço na comunidade internacional, seu modelo de negócio coloca os seres humanos no centro das visões econômicas e produtivas, vislumbrando uma sociedade mais cooperativa, mais solidária e fortemente centradas de convivência harmoniosa, remontando os melhores valores da história das civilizações.

A sociedade internacional vem passado por grandes desafios no século XXI, depois de variadas crises financeiras e alimentares, além das alterações climáticas, percebemos o incremento da pobreza e da indigência, neste cenário, percebemos um profundo questionamento do modelo produtivo convencional em curso na sociedade e das estratégias de desenvolvimento econômico, que beneficia os ricos em detrimento dos grupos mais fragilizados. Há, cada vez mais, o reconhecimento de que o modelo de negócio adotado na economia internacional não pode resolver os principais desafios do desenvolvimento contemporâneo, sendo necessário construir modelos integrados e sustentáveis em todos os níveis, incorporando nestes cenários aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais, além de reconhecer as interligações entre os mais variados aspectos da sociedade.

A economia social e solidária tem como objetivo central a proteção do meio ambiente e o
fortalecimento econômico e político dos grupos sociais mais desfavorecidos e de outras pessoas e organizações que se preocupam com a justiça social e ambiental, trazendo para a sociedade instrumentos efetivos para as melhoras climáticas e de desenvolvimento sustentável. Neste ambiente, percebemos que a economia solidária deve ser vista como uma alternativa para o capitalismo contemporâneo, infelizmente centrados no imediatismo, na busca crescente dos lucros monetários e centrado no individualismo.

Destacamos ainda, que a economia solidária apresenta um papel diferenciado para as pessoas comuns, mais ativos e dinâmicos nas mais variadas dimensões da vida humana: econômico, social, cultural e ambiental. Neste novo modelo de negócio, a economia solidária existe em todos os setores da economia – produção, finanças, distribuição, câmbio, consumo e governança. Dessa forma, percebemos que a economia solidária está transformando estruturalmente a teoria econômica convencional.

Economia Solidária, Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente são desafios imensos para inaugurarmos um novo momento da sociedade internacional, para isso, precisamos de valores sólidos, ousadias, lideranças e solidariedades.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia do Setor Público, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 14/06/2023.

Junho de 2013 e a falência do sistema político, por Camila Rocha.

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Manifestantes protestavam, em sua larga maioria, por um aprofundamento de direitos previstos na Constituição

Camila Rocha, Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

Folha de São Paulo, 12/06/2023.

Ainda hoje, muita gente continua sem entender junho de 2013.
Na época, uma entrevista com o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, era anunciada com a seguinte manchete: “Ministro de Dilma diz que ainda não entendeu protestos pelo Brasil”.

Na entrevista, realizada no dia 18 de junho, quando teve lugar o sexto ato organizado pelo Movimento Passe Livre, Carvalho afirmava que os atos eram baseados em “novas formas de organização de mobilização que ainda não compreendemos”.

Acostumado a lidar com o que classificou como manifestações tradicionais, munidas de carros de som e lideranças claras, o ministro não conseguia entender como era possível que atos pudessem ocorrer de outra forma.

Apontou que todos no governo haviam sido pegos de surpresa e, ao procurar receber manifestantes que protestavam em Brasília, se deparou com a presença de apenas duas pessoas, uma estudante de 21 anos, que havia sido agredida por um policial, acompanhada pelo pai.

Para além da descentralização e da horizontalidade, a crescente ambiguidade ideológica dos manifestantes à medida que os protestos se alongaram no tempo dificultou ainda mais a tarefa de discernir o que se protestava afinal.

Os atos iniciados pelo Movimento Passe Livre no dia 6 de junho possuíam uma pauta bastante clara: tarifa zero no transporte público. No entanto, com o passar do tempo, demandas das mais diversas foram se avolumando nas ruas e nas redes digitais.

No dia 18, por exemplo, mesmo dia em que Carvalho concedeu sua entrevista, o grupo Anonymous Brasil divulgou nas redes sociais um vídeo intitulado “As cinco causas”.

O vídeo, que rapidamente alcançou 2 milhões de visualizações, demandava: “não à PEC 37”, “saída imediata de Renan Calheiros da presidência do Congresso Nacional”; “imediata investigação e punição de irregularidades nas obras da Copa, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal”, “por uma lei que faça da corrupção crime hediondo” e “fim do foro privilegiado para políticos”.

No dia 20 de junho, quando mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em 388 cidades brasileiras, uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Ibope procurou mapear, afinal, o que queriam os manifestantes.

A sondagem revelou que a motivação principal de 37,6% estava relacionada ao transporte público, dentre os quais 27,8% se posicionavam a favor da redução da tarifa.

Em seguida, 29,9% dos respondentes afirmaram que estavam nas ruas por conta de demandas relacionadas ao sistema político, sobretudo contra a corrupção (24,2%).

Os demais protestavam por melhorias na saúde (12%), educação (5,3%), contra a PEC 37 (5%), contra os gastos com a Copa (4,5%) e contra a violência policial (1,3%), entre outros motivos.

Assim é possível concluir que, independentemente da coloração ideológica, os manifestantes reunidos em junho de 2013 protestavam, em sua larga maioria, por um aprofundamento de direitos previstos na Constituição de 1988.

Contudo, como aponta Dilma Rousseff no livro “Junho de 2013: A Rebelião Fantasma”, se depararam com um sistema político falido, pouco democrático e que “serve de contenção à soberania popular”.

Chutando a escada da periferia novamente, por André Roncaglia.

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É hora de o ocidente rico difundir ao plano internacional a democracia que defendem em seus países

André Roncaglia, Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP

Folha de São Paulo, 09/06/2023

Há uma nova onda no ar: reabilitar o livre comércio como a escada para o desenvolvimento compartilhado das nações. Na semana passada, a diretora-executiva do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, criticou a formação de grupos regionais de comércio, baseados em proximidade geográfica (near-shoring), em valores comuns (friend-shoring) ou em políticas que internalizem setores que antes dependiam de importações (reshoring).

Georgieva foi cuidadosa em explicitar os benefícios do comércio, mas optou por ser telegráfica ao salientar seus limites. Defendeu “acordos sobre a redução de subsídios nocivos à pesca, remoção de barreiras à doação de alimentos e ao acesso à propriedade intelectual por trás das vacinas Covid”. Segundo ela, a oportunidade virá na próxima reunião ministerial da OMC em fevereiro de 2024.

O tom cuidadoso tem, pelo menos, três razões de ser. Primeira, a atual fragmentação geopolítica e comercial, bem como o bloqueio ao acesso às vacinas foram promovidos pelos maiores quotistas do FMI: EUA e Europa. O norte global também teve protagonismo nas sanções comerciais e tecnológicas contra a China, o avanço da Otan nas vizinhanças da Rússia e as tensões no estreito de Taiwan. Segunda, como relembrou o nobelista Joseph Stiglitz, é conversa para boi dormir o compromisso do governo Biden com os valores da OMC (Organização Mundial do Comércio) a saber: concorrência justa, abertura, transparência e o estado de direito. Afinal, desde os distópicos anos de Trump, os EUA ainda não permitiram a nomeação de novos juízes para a câmara de arbitragem da OMC. Segundo reportagem da Reuters, o órgão não poderá tomar medidas contra violações das regras do comércio internacional antes do final de 2024.

O terceiro motivo é que a violação dos valores liberais está vindo exatamente dos EUA, o país que escreveu as regras do comércio internacional que delimitaram a ordem neoliberal por 40 anos.

Como salienta Stiglitz, ao adotar políticas industriais, os EUA e a Europa estão reconhecendo abertamente que estas regras envelheceram. Cui bono? Os países em desenvolvimento poderiam ter ignorado as regras de propriedade intelectual de maneira igualmente explícita, salvando dezenas de milhares de vidas durante a pandemia. Não o fizeram por que sabem como a banda toca no contexto internacional. Mas se você, leitora, não sabe, vou lhe dar uma ilustração.

O artigo de Douglas Irwin, também publicado pelo FMI, revela os “dois pesos, duas medidas” que marcam a dinâmica centro-periferia no capitalismo. Diz Irwin que o futuro da globalização está em jogo. Países ricos estão se voltando para dentro para proteger setores-chave com subsídios industriais, controles comerciais focados em punir rivais geopolíticos, em preocupações ambientais e em garantir o abastecimento doméstico e a segurança nacional.

Mas ao refletir sobre como os países emergentes podem se beneficiar desta mudança, Irwin é taxativo: “subsídios industriais em larga escala parecem ser um luxo ao qual os países ricos podem se dar. Só porque os EUA, a China e a UE podem pagar subsídios não significa que outros devam copiá-los”. Só o livre comércio pode salvá-los. Será?

Esta estratégia é antiga. Em meados do século 19, Friedrich List, economista alemão, revelou o “expediente muito comum e inteligente de quem chegou ao topo da magnitude chutar a escada pela qual subiu a fim de impedir os outros de fazerem o mesmo. Não é outro o segredo da doutrina cosmopolita de Adam Smith…”.

Neste processo de redefinição das regras do comércio global, é fundamental que os países da periferia tenham mais voz. É hora de o ocidente rico difundir ao plano internacional a democracia que defendem em seus países.

2013: levante de muitos ninguéns, por Pimenta & Flores.

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Por Alexandre Marinho Pimenta & Paulo Henrique Flores

A Terra é redonda, 08/06/2023

O legado e o significado principal de 2013 continuam em disputa.

No dia 20 de junho de 2013, logo após o anúncio de revogação do aumento da tarifa de transporte de São Paulo, pelos já então parceiros Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, uma charge de Angeli foi publicada no jornal Folha de S. Paulo. Da maneira que apenas a arte pode realizar, trata-se de uma síntese impressionante daquele momento. De um lado, três homens minúsculos, todos de terno, fazem uma pergunta: “afinal, quem vocês pensam que são?”. De outro, pessoas enormes, cujos sapatos surrados são do tamanho dos homens. Não há resposta. A grandeza diz por si só.

A charge não capta os rostos dos gigantes. Não são identificáveis. E, além de seus tamanhos desproporcionais, são muitos. Amotinados, formando uma turba. Se pudessem falar, como nos lembra Vladimir Safatle, responderiam como um manifestante a uma jornalista em 2013: “anota aí, eu sou ninguém!”.

Junho de 2013 completa dez anos. Como todo grande evento histórico, mesmo diante de inúmeros esforços de análise, Junho continua a ser, em vários aspectos, uma incógnita. Seus manifestantes, grandes esfinges. Diante das inúmeras e conflituosas interpretações que voltam a circular por conta do decênio, vê-se também que o legado e o significado principal de 2013 continuam em disputa.

A despeito de todas as minúcias históricas, não se pode negar que 2013 foi um levante popular. Uma onda de protestos surgida contra a carestia, depois em repúdio à violência policial, e alimentada pela insatisfação que se difundia junto à desaceleração econômica.

Enquanto levante popular, também não foi nenhuma jabuticaba brasileira: de certa forma, o 2013 brasileiro fecha um ciclo de lutas globais do início da década anterior. As massas em vários cantos do mundo já estavam reagindo contra os efeitos da crise de 2008 e a opressão governamental.

Esse levante de vários ninguéns, das classes dominadas em suas diversas gradações, não foi também um raio em céu azul por aqui. Em 2012 já se registrava um aumento no número de greves no país, desde as revoltas operárias nas construções de usinas hidrelétricas até a histórica greve da rede pública federal de ensino. Em 2013, as greves explodiram e, juntamente com os protestos de rua, continuaram nos anos seguintes em alto patamar.

No entanto, “Junho talvez seja a primeira grande revolta popular na história brasileira a ter sido demonizada pela esquerda —por parte dela, pelo menos” (Marcos Nobre, Folha de S. Paulo, 03.06.2023). Ora, o mais atingido com a revolta foi o governo central do país, à época do PT. E, como de 2013 para frente, o arranjo petista sofreu duros golpes e uma nova extrema-direita se apresentou no país, junto a uma profunda crise econômica e política, a defesa de 2013 enquanto um “ovo da serpente” se tornou comum nos meios desta esquerda.

Na realidade, tal tese diz mais desta dita esquerda do que de 2013. Ao acusarem a óbvia e esperada disputa e infiltração da direita ao longo do levante e seus desdobramentos, ou, ainda mais absurdo, traçarem uma linha reta entre junho de 2013 e a marcha fascista de 08 de janeiro, enquanto expressões da “anti-política”, só podem apontar, ao fim, para sua própria imagem refletida.

É, no mínimo, sintomática a acusação de que no então (e ainda) atual estado de coisas qualquer movimento anti-institucional fosse antidemocrático ou um embrião do autoritarismo. Fazer essa acusação é acusar, na verdade, sua própria posição nos acontecimentos, porque pressupõe que se afirme que o sistema institucional da República de 1988 é o de uma democracia a ser mantida e defendida.

Mas um dos problemas mais importantes que os eventos de junho de 2013 permitiu recolocar foi justamente este: a República de 1988 é uma forma política adequada para a expressão dos interesses e desejos das classes trabalhadoras ou uma República da Propriedade, antipopular e oligárquica? O fato de que a estrutura econômica capitalista neocolonial e o mesmo aparelho repressivo do Estado se mantêm desde a ditadura empresarial-militar de 1964 são índices suficientes para dar uma resposta concreta ao problema.

Acusar os eventos de 2013 de terem produzido a nova direita brasileira é, para bom entendedor, acusar o PT e seus satélites enquanto “partido da ordem”, a temer aqueles que, com sua insatisfação, naquele ciclo de lutas, não se enquadraram na teia da institucionalidade vigente.

É perfeitamente legítimo, então, entender que o verdadeiro nome desta esquerda é o de “esquerda da ordem”. Os acontecimentos demonstram que, ao se tornar “sistema”, gestor desse regime de exploração, esse campo político já não pode mais ser bandeira de nenhum levante dos ninguéns – e, como os conservadores de todos os tempos, oferecem apenas repressão e difamação em resposta.

Que se tire a prova real: afinal, onde estavam as forças da direita teológico-política nos dez anos de “calmaria” que precederam 2013? E o latifúndio? Quem afiançou as aventuras dos militares no Haiti, em que assumidamente começaram a programar sua volta à cena política? Questões incômodas, é certo, mas importantes para indicar qual foi a esquerda que de fato alimentou os embriões do fascismo.

2013 marcou, a seu modo, como não poderia deixar de ser, a longa história das rebeliões do país. Àqueles que se colocam do lado dos dominados, cabe, é claro, fazer suas críticas às organizações, forças e movimentos que atravessaram o levante, mas visando sempre o avanço daquela resistência e em nome do direito de viver dignamente para a imensa maioria.

2013 demonstrou que quando os sem nome e sem rosto se levantam, desorganizam o jogo dos homens de terno. Que eles não são tão intocáveis quanto parecem, atrás de seus caveirões e escudos da tropa de choque. Que, como diz Paulo Arantes, podemos revidar.

Porém, sem dúvida, o levante encontrou falhas e foi derrotado. Não porque se ousou lutar mesmo contra aqueles que dizem ser nossos representantes e se perturbou o frágil equilíbrio que permitia uma democracia racionada – sendo o reforço da direita uma espécie de castigo divino por tamanho pecado. Mas porque não se encontrou à época as formas de manter o levante de pé, resistindo aos ataques cada vez mais duros dos homens de terno. E, como consequência de tal fracasso, nossa vida piorou desde então, sem conseguirmos reagir à altura.

Fomos incapazes de gerar saldos políticos e organizativos daquele levante e é exatamente isso o que nos falta ainda hoje. Organização: é o que faz toda diferença em enfrentar altas e baixas, avanços e reveses comuns a toda luta. Nos faltou e ainda nos falta uma institucionalidade outra, sob outra diretriz política – que não esteja amarrada nas mil armadilhas dos aparelhos estatais e privados dos dominantes, nem na fluidez cada vez mais manipulável das redes. Eis uma questão que merece o melhor de nossos esforços teóricos e práticos. A destituição dos dominantes e a constituição autônoma do poder dos dominados impõe a resolução deste problema que 2013 abriu, mas que ainda não resolvemos.

Diferente daqueles que gostariam que 2013 nunca tivesse existido, é preciso dizer, por fim, que não há ilusão mais perigosa do que o desejo por um tempo histórico enquanto uma passagem indolor, gradativa. Esse sim é um ovo que gera muitos monstros. Os acontecimentos de 2013 traçaram, entre nós à esquerda, uma verdadeira linha de demarcação, que a ascensão do fascismo só tornou mais grave. Trabalhar na resolução dos problemas que temos, dos problemas que são nossos, tem como pressuposto analisar e entender essa demarcação. Essa é, talvez, a condição de encontrarmos o fio que nos leva para a saída do labirinto infernal em que estamos.

*Alexandre Marinho Pimenta é doutorando em educação na UnB.
*Paulo Henrique Flores é doutor em filosofia pela PUC-Rio.

Brics: Assim o Sul global desafia o Ocidente, por Pablo Bustinduy.

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Bloco aposta em aliança com o Sul e visa forjar um mundo de poderes regionais autônomos, sem a tirania do dólar, do FMI e do Pentágono. A ordem hegemônica de EUA e Europa está em xeque. Uma nova poderá ser forjada, sob outros valores?

Pablo Bustinduy, Deputado do partido Podemos por Madri, Espanha, foi porta-voz do Grupo Parlamentar Unidos Podemos na Comissão de Relações Exteriores do Congresso dos Deputados.

Outras Palavras, 06/06/2023

Um sentimento de estranheza se espalha pela política euro-atlântica. Em um artigo publicado recentemente em El País, o historiador Luuk van Middelaar resumiu isso como um sinal dos tempos: a Europa e os Estados Unidos se sentem sozinhos em um mundo cada vez menos alinhado com seus interesses. É fato que vários parceiros estratégicos do bloco operam com crescente autonomia em relação às suas prioridades. Há meses esse sentimento se reflete no mapa das sanções contra a Rússia: os 45 países que as assinaram equivalem a 61% do PIB mundial, mas apenas 36% da população. A guerra na Ucrânia aprofundou ainda mais as fronteiras entre o Norte e o Sul globais. A recente viagem diplomática de Lula transformou esse distanciamento em uma ameaça potencial: uma vontade própria dos países do Sul, desvinculada de interesses atlânticos, como disposição para deslocar o eixo da resolução do conflito para fora do continente europeu.

No entanto, o que mais preocupava Van Middelaar (que não é um formador de opinião qualquer: Perry Anderson apresentou-o neste retrato ácido como um símbolo do poder político e intelectual de Bruxelas) não era essa proposta de mediação, mas um comentário informal no qual Lula se questionou por que “todos os países têm que fazer suas transações em dólares”. Ainda mais do que a ideia de uma solução para a guerra desalinhada com os tempos e a linguagem do eixo transatlântico, este questionamento do dólar como moeda global foi lido como um verdadeiro desafio. É o espírito que inspirou a construção dos BRICS – a ideia de um contrapoder ao domínio atlântico sobre a globalização, a ideia de um mundo em que os poderes regionais se organizam autonomamente – revivido no pior momento possível para esse domínio, já que se encontra sob pressão de várias frentes e carece de uma estratégia clara de médio prazo.

Em um artigo de grande lucidez, o jornalista Wolfgang Münchau explica em que consiste exatamente essa ameaça. Não é simplesmente uma questão de os países do Sul substituírem uma moeda operacional por outra; nem mesmo que avancem na construção de suas próprias instituições financeiras. Este é um processo muito mais longo e complexo que afeta as estruturas produtivas desses países, suas cadeias de valor e suprimentos e os fluxos comerciais entre eles, que devem ser reorganizados para orbitar em torno de um novo centro. E para isso, a primeira economia que deve ser profundamente transformada é a da China, que também deve desenvolver uma enorme capacidade de coordenação e gestão regional, tanto econômica quanto politicamente. Essa é a outra perspectiva dos debates sobre o reordenamento da globalização. É a visão do outro lado.

Estamos realmente caminhando para essa situação? Existem análises conflitantes sobre quais seriam as intenções da China a esse respeito. Por um lado, proliferam as tentativas de lançar uma sombra antagônica sobre a sua posição no conflito europeu: a China estaria pagando a sua aliança com a Rússia e a atitude cada vez mais agressiva dos seus parceiros, o que significa que cada aproximação a Pequim significa aumentar o risco de um confronto indireto com os Estados Unidos. Por sua vez, as ambições chinesas teriam desencadeado reações defensivas em toda a região do Pacífico, e o fortalecimento da aliança Quad (EUA, Índia, Japão, Austrália) como contrapeso regional a essas ambições. Os que apostam em Washington na estratégia aceleracionista se apoiam nesta leitura: o objetivo é deter a China antes que seja tarde demais.

Por outro lado, não há dúvida de que o salto diplomático de Xi Jinping acumulou importantes sucessos nos últimos meses. A influência da China como potência mediadora é crescente e já se estende ao Oriente Médio e à Europa, como atesta o histórico acordo entre o Irã e a Arábia Saudita e o lançamento de seu plano de paz para a Ucrânia, ignorado por Washington e pela União Europeia, mas não é assim para Zelensky. Nos últimos meses, até 19 novos países se inscreveram para ingressar no BRICS: uma lista que inclui Egito, Argélia ou Argentina, além dos governos de Riad e Teerã. Na confusão da globalização, à medida que a arquitetura de comércio e segurança que governava o mundo está enfraquecendo em vários aspectos, a perspectiva de uma aliança de potências regionais não alinhadas parece mais promissora do que o alinhamento com os mandatos do FMI e do Pentágono.

Qual é a posição da Europa em relação a esses processos? Nas últimas semanas, a política externa europeia deu origem a um verdadeiro caos. O presidente francês, Emmanuel Macron, deslocou-se a Pequim e saudou a iniciativa chinesa para a Ucrânia, numa viagem acompanhada por Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que manifestou uma posição muito diferente em nome das instituições europeias. A Alemanha, por sua vez, continua fazendo malabarismos para manter o mercado chinês aberto para suas exportações, enquanto tenta liderar o esforço de guerra europeu e a futura reconstrução da Ucrânia. Enquanto isso, a atlantista Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, ameaça tirar seu país da Rota da Seda e, ao mesmo tempo, se envolve em uma disputa diplomática com a França sobre as políticas de imigração de seu governo. O sociólogo Wolfgang Streeck leu nesta algaravia uma profunda divergência de interesses entre a França, inclinada a uma cessação das hostilidades que permita a reintegração da Rússia num espaço econômico e de segurança comum, e a posição alemã, ancorada num atlantismo que procura conter a ascensão política dos países do Leste, mas ao mesmo tempo temerosa de que Washington esteja preparando um salto para o Pacífico que acirraria ainda mais o conflito ucraniano e teria consequências gravíssimas para sua economia.

A essas diferenças internas somam-se as fissuras cada vez maiores na estratégia externa da coalizão transatlântica. A próxima cúpula do G7 nasce dividida, mais uma vez, por divergências sobre a estratégia a seguir com Moscou (desta vez é o Japão que se opõe a um bloqueio total das exportações para a Rússia). Mas também pela falta de solução para os conflitos regulatórios que o IRA trouxe: cada um se prepara por conta própria para uma grande reorganização tecnológica, industrial e comercial sem saber em que princípios assentam esses esforços nem para qual horizonte geral deveriam apontar. As gravíssimas emergências que hoje se acumulam não têm diagnóstico nem proposta conjunta de solução. A posição atlântica suspeita de um mundo dividido, cada vez mais distante de si e mais antagônico, mas sua principal fraqueza não vem de seus adversários, nem mesmo de sua falta de unidade interna: vem da ausência de uma visão geral do mundo por vir, e um projeto que ofereça segurança suficiente para poder ser compartilhado.

Cães de guarda da ordem social, por Luiz Marques.

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Luiz Marques, é professor de ciência política na UFRGS. Foi secretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul no governo Olívio Dutra.

A Terra é Redonda – 06/06/2023.

As crises políticas nascem e crescem na medida em que se esfarela a credibilidade dos valores de um dos polos da disputa, na opinião pública

A mídia corporativa, que não aceita posições dissonantes entre “colaboradores”, defende a liberdade de expressão somente fora de sua jurisdição. Era postiça a indignação manifesta com a recepção oficial ao presidente da Venezuela, vindo a Brasília para o encontro de lideranças das nações latino-americanas, no Itamaraty. Mandatários de esquerda e direita estiveram presentes, à exceção do Peru que destituiu o governante. O objetivo foi fortalecer o continente em um mundo hegemonizado pelo Consenso de Washington (1989), que não trouxe o prometido crescimento econômico sustentável, com geração de empregos e distribuição de renda.

Para não fugir à regra lesa-pátria, remanescente do período colonial-escravista, os “caranguejos” do jornalismo nacional preferiram agourar o evento, em vez de divulgar a articulação pluralista para o reerguimento da Unasul. A alegação beirou o cinismo: “Cada corrente tem seus ditadores de estimação”. Como se a formação de um bloco político regional tivesse por critério, para recordar as categorias deontológicas de Max Weber, a identidade fundada em uma “ética da convicção”, e não na “ética da responsabilidade” ao lidar com a globalização.

Beirou a hipocrisia, idem, pelo negacionismo sobre a condição de chefe de Estado de Nicolás Maduro: “A decisão de estender o tapete vermelho poderá trazer mais prejuízos do que lucro”. Aos Estados Unidos? Aos promotores da agenda neoliberal? À direita neofascista? Desnecessário catar pelo em ovo. Tratou-se simplesmente de buscar a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina – sem o complexo de vira-lata.

Para uma noção do inescrupuloso jornalismo no Rio Grande do Sul, recomendo a leitura do relato de Carlos Águedo Paiva “A contribuição da mídia gaúcha para a decadência do RS”, publicado na Rede Estação Democrática (31/05/2023). Uma ótima reflexão sobre a escalada neoliberal em terras sulinas, e a intervenção da imprensa na arquitetura desse processo político-ideológico. No redemoinho, a crítica afundou no fosso entre o povo e a nação, sem forjar a contra-hegemonia.

A contrarrevolução

Falta à mídia e setores da vanguarda do atraso um programa de empoderamento transnacional em um contexto histórico multipolar, para inserir as demandas dos plebeus (nosotros). Prevalece o olhar hipostasiado e submisso frente ao erodido imperialismo estadunidense. Não se faz o balanço do neoliberalismo pelas más consequências. A gramática do Homo economicus registra o lucro, o rendimento e a acumulação, não o sofrimento social. A distopia da rápida evolução conservadora contra as funções estatais é encoberta por salamaleques.

A opinião pública é manipulada. A mídia substituiu o uso público da razão pela expressão pública de sentimentos. “Os assuntos se equivalem, se reduzem à banalidade do ‘gosto’ ou ‘não gosto’, do ‘achei ótimo’ ou ‘achei horrível’”, denuncia a análise midiática de Marilena Chaui, no livro Poder e simulacro. Infantiliza-se os receptores, feitos de idiotas.

O neoliberalismo é o princípio teórico e a doxa de uma nova forma de ação do Estado, orientada para a manutenção da ordem pública, a unificação do mercado nacional, a consolidação do mercado mundial e a concorrência que aquele impõe. O fenômeno acenou para uma dominação inusitada na história contemporânea, ao penetrar a subjetividade dos seres humanos pelas ondas de rádio, pela televisão e pelas big techs. Um mesmo mundo é possível.

“Modernização” então tornou-se sinônimo de “realismo”, de “equilíbrio fiscal” e de um “sentido de decoro”. Think tanks propagaram a mitologia, num ritmo alucinado. Contabilizavam 5.465 núcleos, em 2008. Em 2019, eram 8.248. No Brasil, no mesmo intervalo, saltaram de 30 para 103 nas pegadas do livre comércio. Coube ao Instituto Mises Brasil (IMB) influenciar a famiglia Bolsonaro nas áreas de educação, saúde, economia, relações exteriores, etc. Por trás da sabotagem do Estado havia, na surdina, a opção da trupe pelo anarcoliberalismo.

O protesto na Gare

Em 12 de dezembro de 1995, Pierre Bourdieu proferiu um célebre discurso na Gare de Lyon, em apoio à greve do funcionalismo público francês contrariamente às reformas neoliberalizantes do governo: “A nobreza de Estado que prega a extinção do Estado e o reinado absoluto do mercado e do consumidor, substituto comercial do cidadão, assaltou o Estado: fez do bem público um bem privado, da coisa pública uma coisa sua. O que está em jogo é a reconquista da democracia contra a tecnocracia. É preciso acabar com a tirania dos ‘especialistas’, estilo Banco Mundial ou FMI, que impõem os vereditos do novo Leviatã, os ‘mercados financeiros’, e que não querem negociar mas ‘explicar’. É preciso romper com a fé na inevitabilidade histórica”.

Entre nós, a reconquista da democracia contra a tecnocracia refere-se aos valetes do Banco Central e aos juros estratosféricos a serviço da ciranda financeira (um assalto à luz do sol). Os próceres do Parlamento se incluem entre os pseudopatriotas ao avalizar o extermínio das etnias indígenas e da devastação da Amazônia. É o que significa o “marco temporal” aprovado na Câmara dos Deputados – triste representação. Se ratificado no Senado, calcula-se que os indígenas estejam em risco em 871 das 1.393 reservas do país, estipula o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Motivos sobram para barrar o criminoso genocídio dos habitantes originários.

Urge um “novo internacionalismo” para reatualizar o engajamento político e intelectual no combate ao status quo. Com ousadia pode-se galvanizar a sociedade civil e despertar a cidadania para agir na esfera pública, e modificar a ordem social. Há que enfrentar a hecatombe climática, a ameaça de uma guerra nuclear, a crise da democracia (o ovo da serpente do totalitarismo) e o capitalismo de vigilância, com tentáculos na Inteligência artificial (IA).

Não é fácil. Implica derrotar a lógica comunicativa e dissimuladora que obscurece e sufoca o bom senso, ao abrir as portas à ignorância que se autoproclama em patamar igual ao do conhecimento e da ciência. Na contramão dos filósofos iluministas que desconstruíam as crendices do povaréu, os tradicionalistas ressuscitam o pai do conservadorismo, Edmund Burke, para quem os preconceitos são úteis para organizar uma sociedade temente a Deus.

Cinismo e hipocrisia

Vale lembrar que a Inteligência Artificial é apenas uma extensão do sistema, com grande impacto no PIB mundial. A pergunta é: a solução reside na regulamentação do capitalismo (indômito, por natureza) ou em entregar os recursos, as pessoas e o trabalho para fomentar a economia no rumo do desequilíbrio ecológico, do irracionalismo bélico, dos suspiros da democracia politicista desvinculada do social e dos mecanismos controladores da vontade dos indivíduos. O capitalismo neoliberal é o gravíssimo problema a ser enfrentado, em tempos tão dramáticos.

Na derradeira fase do combo de opressão e exploração, a tarefa dos cães de guarda é faire l’opinion em favor das abissais desigualdades entre as classes sociais. Daí canalizarem a insatisfação contra os movimentos antissistêmicos, como o MST, ocultando o rentismo financeiro ao confundir a percepção das massas sobre o capitalismo realmente existente.

Para os bolsominions, a tragédia nacional se localiza com exclusividade na “superestrutura” – Superior Tribunal Federal/STF, Tribunal Superior Eleitoral/TSE, Congresso da República, Igreja Católica, Direitos Humanos, Universidades. Ligeiro cancelam as acusações que responsabilizam a “infraestrutura” econômica pelas mazelas que sacrificam o povo brasileiro, exemplificadas pelas commodities do agronegócio que não agregam valor e pela desindustrialização, que gera multidões de excluídos. O erro metodológico compromete o diagnóstico.

Não espanta a dependência de notícias falsas para minar a democracia e a verdade. As crises políticas nascem e crescem na medida em que se esfarela a credibilidade dos valores de um dos polos da disputa, na opinião pública. É o que os cães de guarda pretendem ao tatuar em Lula e, por extensão, na esquerda em geral a cumplicidade com “ditaduras”, deslocando as atitudes de cinismo e hipocrisia da burguesia para o espectro democrático-popular. Como no verso do poeta trotskista, Paulo Leminski: “nada como um dia indo atrás do outro vindo”.

Austeridade para quem? por Paulo Kliass

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Gasto com juros, que só alimenta o rentismo, nunca teve teto. É a segunda maior despesa do Estado, atrás apenas da Previdência, e só neste ano cresceu 50%. Insistir no arcabouço fiscal não nos livrará dessa herança maldita de Bolsonaro e Guedes

Paulo Kliass, Doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal.

Outras Palavras, 06/06/2023.

Desde que foram anunciados os resultados das eleições presidenciais em outubro passado, as elites vinculadas ao financismo em nossas terras passaram a colocar em movimento uma estratégia de sequestrar o terceiro mandato do presidente Lula. Uma vez derrotado o candidato que eles também haviam apoiado de forma quase unânime em 2018, esse pessoal põe em marcha seu plano B para minimizar a derrota e impedir que as ideias do programa econômico apresentado pelo candidato vencedor à sociedade permanecessem fora de qualquer possibilidade de implementação pelo futuro governo.

Entre a oficialização da vitória de Lula e a data de sua posse, os representantes da oligarquia financeira e os grandes meios de comunicação buscaram indicar nomes para compor a área econômica, com o intuito declarado de evitar uma descontinuidade em relação à gestão de Paulo Guedes e também de Henrique Meirelles. Assim foram meses de balões de ensaio semanais, apresentando e sugerindo figuras com perfil conservador, alinhados à ortodoxia e ao neoliberalismo. Tendo em vista a resistência do futuro presidente em aceitar tais ofertas, surge em cena um plano C. Como não conseguiram emplacar nomes, voltaram-se à tentativa de assegurar um programa que não significasse nenhuma ruptura com os anos de austeridade fiscal e arrocho monetário.

Uma parte dessa tarefa já havia sido cumprida em 2021, quando Paulo Guedes conseguiu convencer seu chefe a apoiar a proposta de conferir independência ao Banco Central (BC). Assim, por meio dos dispositivos da Lei Complementar 179, o presidente e demais diretores do BC passaram a contar com mandato fixo. Por meio de tal artimanha, Lula só poderá indicar o novo presidente da instituição e contar com maioria no colegiado de nove membros a partir de 2024. Em razão de tal golpe perpetrado contra nossa democracia, o novo governo não consegue ter a seu dispor ferramentas essenciais da política econômica, a saber, a política monetária e a política cambial.

Como a diretoria do BC são os próprios integrantes do Comitê de Política Monetária (COPOM), os indicados por Bolsonaro mantêm uma política de sabotagem das intenções desenvolvimentistas do novo governo. Ao longo das 4 reuniões do colegiado responsável pela definição da taxa oficial de juros realizadas desde que foi reconhecido o nome do futuro Chefe do Executivo, a Selic foi mantida nos estratosféricos níveis de 13,75% ao ano. O Brasil permanece como o país de maior taxa real de juros do mundo e esse patamar do custo financeiro inviabiliza a retomada dos investimentos necessários na economia, além de provocar um impacto significativo nas despesas financeiras do governo.

Em outra esfera de atuação, os representantes do financismo metralharam de forma incessante qualquer tipo de proposta de flexibilização mais efetiva da política fiscal. Ainda que Lula tivesse anunciado inúmeras vezes durante a campanha eleitoral o seu desejo e a necessidade de o Brasil revogar a regra do teto de gastos, a pressão vinha no sentido de colocar alguma outra medida de austeridade fiscal no seu lugar. Infelizmente, esse movimento acabou conquistando alguns corações e mentes no interior da própria equipe econômica. Assim o desenho da PEC da Transição, promulgada sob a forma da atual Emenda Constitucional nº 126, incluiu a necessidade de aprovação de uma lei complementar com um novo regime fiscal para que o teto de gastos seja efetivamente revogado.

Fernando Haddad priorizou a negociação e a interlocução com o presidente do BC e com representantes do sistema financeiro para a elaboração de tal medida. O relator Cláudio Cajado (PP/BA), colega de confiança do presidente da Câmara dos Deputados Artur Lira (PP/AL), conseguiu tornar a proposta ainda mais distante das necessidades de um programa nacional de desenvolvimento. Se a proposta enviada pelo Executivo já mantinha a essência de controlar elevação de despesas em relação ao crescimento das receitas e insistia na lógica de obtenção de superávit primário, as alterações aprovadas pela Câmara aprofundaram ainda mais o caráter pró-cíclico da medida e retiraram as possibilidades de o Estado atuar como protagonista na busca do crescimento e do desenvolvimento.

Arcabouço fiscal: austeridade remaquiada

Assim, corre-se o risco de o Congresso Nacional aprovar um texto que signifique a manutenção da estratégia de redução do peso do setor governamental na economia. A grande imprensa se encarrega de torpedear as propostas de flexibilização das regras da austeridade fiscal, ignorando que tal estratégia há anos já vem sendo implementado nos países do próprio centro do capitalismo, a exemplo dos Estados Unidos e da União Europeia. Como o arcabouço fiscal em tramitação determina que as despesas orçamentárias só poderão crescer a um ritmo de 70% do aumento observado nas despesas, a médio prazo isso terá o significado de um encolhimento relativo do Estado.

Além disso, a malandragem toda reside na manutenção do conceito de superávit primário como métrica de avaliação do sucesso da austeridade. Ao apelar para o economês, o povo da finança esconde sua verdadeira intenção. Trata-se de continuar oferecendo um tratamento VIP às despesas financeiras – leia-se, gastos com juros sobre a dívida pública. Sim, pois estas rubricas não são consideradas “primárias” na terminologia adotada. Isso significa que o modelo pressupõe um enorme esforço para comprimir as despesas como assistência social, saúde, educação, previdência social, salários e outros, para que haja um resultado positivo nas contas públicas não financeiras. E esse saldo credor vai se transformar automaticamente no volume de juros a serem pagos aos detentores dos títulos da dívida pública.

Esse tipo de despesa não era submetido a nenhum limite na política do teto de gastos e vai continuar assim no novo modelo a ser adotado após a aprovação da referida lei complementar. Assim, o que se depreende é que as regras de austeridade fiscal não valem para todos. Os números apresentados oficialmente há poucos dias pelo BC confirmam essa hipótese. Já são conhecidos os valores despendidos pelo governo federal a título de juros ao longo do primeiro quadrimestre do presente ano.

Entre janeiro e abril de 2023 o governo federal gastou R$ 228 bilhões para pagamento de juros da dívida pública. O valor é 48% mais alto do que o a soma relativa ao primeiro quadrimestre do ano passado, que havia registrado R$ 154 bi. Esse total, por sua vez, representou uma elevação de 36% em relação aos R$ 113 bi de 2021. Ora, esses números evidenciam que a herança maldita do governo Bolsonaro & Guedes foi mantida e aprofundada durante os primeiros meses do novo mandato de Lula. A austeridade fiscal não se aplica aos gastos com juros.

Caso o enfoque seja direcionado sobre os valores pagos a título de juros ao longo do ano todo, o cenário se mantém o mesmo, ainda que com índices de crescimento mais atenuados de um período para outro. Os últimos 12 meses encerrados em abril de 2023 indicam um total de R$ 660 bi na conta financeira. Trata-se da segunda maior despesa do governo federal, atrás apenas dos gastos com previdência social. No entanto, como a rubrica é classificada como “não primária”, sobre ela não cabe a imposição de nenhum teto e nem de limite algum.

Esse montante corresponde a um aumento de 13% sobre os R$ 586 bi gastos observados entre janeiro e dezembro de 2022 a título de pagamento de juros. Além disso, a comparação de 2022 com os R$ 448 bi relativos a 2021 representou um crescimento de 31%.

Esses números refletem de forma bastante cristalina a verdadeira natureza do chamado “esforço fiscal”, elemento tão divulgado e idolatrado pelos defensores do financismo e do ajuste conservador. A austeridade tão proclamada como suposta condição para garantia de estabilidade macroeconômica não se aplica de forma isonômica sobre todos os setores da sociedade. À medida em que se introduz de forma sorrateira a separação entre as despesas financeiras e todas as demais não-financeiras, a busca da tão venerada responsabilidade fiscal deixa explícita a característica intrínseca à austeridade: reprodução das desigualdades sociais e econômicas.
Teto do Temer e subteto do Haddad

Partindo de um modelo conceitualmente viesado em prol do capital financeiro, o equilíbrio fiscal não pode ser considerado como “neutro” ou “técnico”, como costumam qualificá-lo os defensores do regime. A austeridade tem rosto e endereço conhecidos. A exemplo de outros aspectos da política econômica, pouca coisa muda em termos essenciais na comparação entre o teto de gastos da herança Temer & Bolsonaro e o subteto proposto por Haddad. Trata-se de buscar o ajuste em cima de redução dos direitos dos setores de base da nossa pirâmide da desigualdade, ao mesmo tempo em que preserva e até amplia os benefícios concedidos às elites e ao capital, quer sejam os 1% ou os 0,1% do topo da nossa vergonhosa figura geométrica da concentração.

Nova industrialização

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As transformações recentes na sociedade internacional estão exigindo o retorno do planejamento e a reconstrução de um novo projeto nacional. Esses desafios estão envoltos em todas as nações, motivados pela pandemia que assolou a sociedade internacional matando mais de seis milhões de pessoas, pela guerra em curso entre Rússia e Ucrânia, impactando sobre as estruturas produtivas globais, pelos grandes desafios gerados pelo incremento tecnológico, onde a inteligência artificial está contribuindo para o aumento das preocupações e das ansiedades dos indivíduos, além das questões referentes ao meio ambiente, natureza e da sustentabilidade, onde muitos desafios prescindem de um grande esforço e participação da comunidade internacional.

Neste momento, nações como o Brasil estão costurando e estruturando um conjunto de políticas para reconstrução industrial, motivando os setores econômicos e produtivos para um desafio de grande relevância, ainda mais, numa sociedade marcada por forte desindustrialização, onde os setores industriais perderam relevância na economia nacional, com repercussões negativas para a estrutura produtiva, redução de empregos industriais e uma forte degradação da renda dos trabalhadores, que culminaram sobre uma fragilização do mercado interno, perda de dinamismo econômico e desagregação dos termos de troca no comércio internacional.

Recentemente, as nações desenvolvidas estão retomando seus projetos de reindustrialização, canalizando recursos para a pesquisa e para a inovação, aumentando a busca por maior autonomia econômica, evitando os efeitos geradas pela pandemia, que demonstraram claramente que muitas economias desenvolvidas perderam espaço na estrutura econômica industrial, se transformando em nações dependentes de outras regiões, neste percurso, os grandes ganhadores foram as economias asiáticas, notadamente a China, Coréia do Sul, Taiwan, dentre outras.

Internamente, os desafios são sempre muito custosos, os recursos dispendidos nesta estratégia devem ser investidos pelo governo nacional, visando uma reconstrução industrial no longo prazo, com recursos subsidiados e taxas de juros condizentes, evitando projetos megalomaníacos e buscando vantagens comparativas que nos dão condições de competir num cenário altamente concorrencial e marcado por grandes conglomerados produtivos, dotados de grandes somas de recursos materiais e forte acesso aos mercados de capital global, cujos custos monetários são reduzidos e seus investidores vislumbram o longo prazo.

Outro grande desafio para a nova industrialização brasileira está na mentalidade de muitos agentes econômicos e produtivos, setores que, muitas vezes, se acostumaram com seus lucros elevados, gerados nos mercados financeiros, remunerados por taxas de juros escorchantes e proibitivas, que contribuíram para pavimentar o crescimento da desigualdade da renda e das oportunidades, que caracterizam a sociedade brasileira e contribuíram para perpetuar as exclusões sociais e as violências generalizadas, características visíveis da sociedade brasileiras.

Neste desafio de reindustrialização da economia brasileira, faz-se necessário elencar setores estratégicos, onde destacamos o complexo econômico da saúde, cujo potencial de crescimento é gigantesco, ladeando outros setores produtivos que poderiam reduzir as importações da área da saúde, complementando as compras governamentais, impulsionado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo potencial de emprego, de renda e de salário são elevados, gerando fortes impactos na economia nacional. Destacamos ainda, nos esforços da nova industrialização, setores como a indústria da Defesa, além dos setores de máquinas e equipamentos, que possuem, historicamente, capacidade interna instalada, dessa forma, possuem mais capacidade de absorver e internalizar tecnologias.

Vivemos num momento de grandes transformações digitais e de transição energética, todos os esforços da nova industrialização prescindem de estratégias de inclusão social, fortes investimentos em ciência e tecnologia, fomento da pesquisa científica e estímulos crescentes de concorrência internacional. O momento é de decisões estratégicas, combatendo visões entreguistas e subservientes que contribuem para perpetuar nosso atraso civilizacional.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Circular, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 06/06/2023.

O marco temporal é letal, por Márcia Castro

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Aprovação da medida no Senado seria duro golpe para a Amazônia e um vexame para o país que vai sediar a COP em 2025

Márcia Castro, Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

Folha de São Paulo, 05/06/2023.

No último dia 30, o projeto de lei que cria o marco temporal foi aprovado pela Câmara dos Deputados e agora depende de aprovação no Senado. O projeto propõe que a demarcação de terras indígenas se restrinja àquelas ocupadas à época da promulgação da Constituição Federal (5/11/1988).

Além disso, impossibilita a ampliação de áreas já demarcadas e propõe que estas possam ser retomadas pela União caso traços culturais do povo indígena tenham se alterado. Propõe, ainda, que projetos de infraestrutura (tais como estradas e hidrelétricas) possam ser implementados em áreas demarcadas sem consulta às comunidades indígenas que ali habitam.
Essa proposta é letal em várias dimensões.

É letal aos povos indígenas. É um absurdo usar a data da Constituição, ou qualquer outra data, para definir direito de posse de uma terra que sempre foi dos indígenas. Ao longo de séculos, povos indígenas sofreram com doenças trazidas pelos colonizadores, invasões e exploração predatória de recursos naturais, trabalho escravo e massacres cruéis como o ocorrido em 1963, em que cerca de 3.500 membros do povo indígena Cinta Larga foram assassinados e suas aldeias queimadas.

Se mesmo em áreas demarcadas, como a do povo Yanomami e dos povos isolados no Vale do Javari, as invasões ilegais, exploração, conflitos e violência se intensificaram durante o último governo, imagine nas áreas não demarcadas. Isso se agrava com a medida provisória (MP dos Ministérios) aprovada pelo Senado no último dia 1 que transferiu a atribuição de demarcar áreas indígenas do Ministério dos Povos Indígenas para o Ministério da Justiça.

O marco temporal é letal ao meio ambiente. Dados de desmatamento mostram que a demarcação de terras indígenas é um fator determinante para preservação da floresta, contribuindo para a manutenção da biodiversidade e a regulação do clima. Áreas mais desmatadas ao sul da Amazônia já recebem menos chuva.

O marco temporal é letal ao agronegócio. A ideia de que a mudança traria segurança jurídica aos proprietários rurais é enviesada e não considera as consequências de longo prazo, já que a redução das chuvas em áreas desmatadas afeta o agronegócio.

Uma análise de 2021 estimou que a produção de soja e gado pode ter uma perda de cerca de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,9 bilhões) anualmente devido ao desmatamento acelerado no sul da Amazônia.

Um relatório recente do Banco Mundial estima que o valor da Amazônia preservada, mais de US$ 317 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhões) ao ano, é cerca de sete vezes maior do que o valor estimado de exploração ligada à agricultura extensiva, madeira ou mineração.

O marco temporal é letal à visão do Brasil como um país que respeita os direitos humanos, comprometido com a preservação ambiental e dos povos originários. Depois do enfraquecimento dos Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas (MP dos Ministérios), a aprovação do marco temporal seria um golpe letal para o futuro da Amazônia e do Brasil e um vexame para o país que vai sediar a Conferência do Clima em 2025.

Hoje, um ano após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips, cruelmente assassinados por protegerem a floresta amazônica, o Brasil sofre um retrocesso na causa ambiental e indígena com a aprovação da MP dos Ministérios, que pode se agravar ainda mais caso o marco temporal seja aprovado.

A boiada continua passando, conduzida por parlamentares que ao invés de representar a vontade do povo brasileiro e prezar pelo futuro da nação, priorizam interesses gananciosos e predatórios.

Que os senadores tenham o bom senso e a sabedoria de vetar o marco temporal.