Milton Santos, morto há 20 anos, nos convida a construir uma outra globalização, por Itamar Vieira Júnior.

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Geógrafo apontou caminhos para um projeto humanitário que se contraponha ao poder totalitário do dinheiro

Itamar Vieira Júnior, geógrafo e escritor, autor de “Torto Arado”

Folha de São Paulo, 25/06/2021.

Há 20 anos, Milton Santos, um dos maiores pensadores brasileiros do século 20, nos deixava.
Nascido em 1926 no município de Brotas de Macaúbas, região da Chapada Diamantina, Santos migrou com a família para Salvador ainda na infância, onde concluiu o ensino fundamental e ingressou no curso de direito da Universidade Federal da Bahia.

Embora tenha se tornado bacharel, Santos se sentia vocacionado mesmo para a pesquisa e o ensino da geografia, sua grande paixão, o que fez com que se tornasse professor do colégio municipal de Ilhéus. Lá, passou a colaborar como correspondente do jornal A Tarde, de Salvador, atividade da qual nunca se afastou em definitivo, tendo inclusive escrito regularmente para esta Folha.

De volta à capital, tornou-se professor da Universidade Católica e, pouco tempo depois, seguiu para seu doutoramento em Estrasburgo, na França, sob a orientação do geógrafo Jean Tricart.

De volta ao Brasil, fundou o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais. Continuou atuando como professor, pesquisador e jornalista. Perseguido após o golpe de 1964, Santos foi preso por subversão e logo depois se exilou na França, tornando-se professor de algumas universidades do país —Toulouse, Bordeaux, Sorbonne—, além de outras nas Américas e na África, como MIT, Toronto, Columbia, Stanford e Dar es Salaam.

Em Dar es Salaam, pôde estabelecer um contraponto à sua formação predominantemente europeia, deixando-se influenciar por grandes pensadores do pós-colonialismo e incorporando ao seu pensamento marxista perspectivas do socialismo africano, alicerçado em valores caros ao continente, como o coletivismo, o humanismo e a sociabilidade.

Essa influência surgiu com força em seus escritos que interpretavam os desafios da descolonização e do neocolonialismo.

Milton Santos foi um dos grandes expoentes da renovação da geografia no final da década de 1970. Seu livro “Por uma Geografia Nova” contribuiu de forma definitiva para as bases da renovação crítica metodológica e epistemológica da disciplina.

A partir de então, aprofundou ainda mais seus estudos epistêmicos em livros como “O Espaço do Cidadão”, “A Natureza do Espaço”, “Espaço e Método”, “Metamorfose do Espaço Habitado”, na mesma medida em que avançava em sua análise para a compreensão do Brasil e do mundo em desenvolvimento ante os processos de globalização cada vez mais radicais e que têm ampliado, sobretudo, as desigualdades de forma jamais vista na história. Em 1994, foi agraciado com o Prêmio Internacional Vautrin Lud, considerado o Nobel da geografia.

A obra de Milton Santos é o reflexo de seu pensamento humanístico, crítico, político e solidário. Em “Por uma Outra Globalização”, publicado um ano antes de sua morte, Santos ilumina com suas reflexões os fenômenos sociais e econômicos de nosso tempo. Com sua análise acurada, ele anteviu a possibilidade de uma outra globalização, quiçá solidária, nascida das camadas mais desfavorecidas da sociedade.

Nesse livro, ele se antecipa no tempo ao descrever o poder totalitário do dinheiro, da monetização dos afetos e de um mundo cada vez mais subjugado pelo imperativo da informação. Mas, além de refletir sobre a “globalização perversa” ou “globalitarismo” que nos é imposto, Santos nos convida a construir uma outra globalização, como projeto humanitário a se contrapor às normas hegemônicas e predatórias das grandes corporações e dos Estados nacionais.

Assim como Milton Santos, estudei na Universidade Federal da Bahia, onde segui da graduação à pós-graduação. Logo após sua morte, Maria Auxiliadora da Silva, professora da universidade, e a viúva de Santos, Marie-Hélène, resgataram um antigo desejo dele: subsidiar a formação de alunos carentes.

Com recursos próprios, a família Santos tornou real esse propósito e, desde então, tem colaborado com a formação de estudantes de baixa renda através de bolsas de iniciação científica que levam o seu nome, projeto já institucionalizado pela universidade e que em 2022 completa 20 anos.

Foi assim que me tornei o primeiro “bolsista Milton Santos”, fato fundamental para que pudesse prosseguir com meus estudos universitários e que contribuiu, sem nenhuma dúvida, para minha formação superior. Hoje, já são dezenas de alunos egressos do mesmo programa, e nesse gesto altruísta podemos entrever a práxis de uma cidadania solidária.

Em um país de pouca memória, haveremos sempre de contar e recontar as histórias dos nossos, daqueles que não apenas sonharam com um lugar mais justo e humano, mas também se dedicaram a apontar os caminhos para alcançá-lo.

Nos EUA, nova maioria democrática precisa de uma nova economia, por Stepnhen Marglin

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Mesmo retirando as verrugas do capitalismo, você ainda terá um sistema que não possui mecanismos para produzir os empregos necessários

Stephen Marglin, Professor de economia da cadeira Walter S Barker da Universidade Harvard, é autor de “Raising Keynes: A Twenty-First-Century General Theory” (Ressuscitando Keynes: Uma Teoria Geral do Século 21, sem tradução para o português)

Não adianta procurar uma filosofia que oriente a economia do Partido Republicano além de “quero meu pedaço”. Mas qual é exatamente a filosofia dos democratas? É fácil deixar de perceber a divisão profunda entre a velha economia que guiou o Partido Democrata por uma geração e uma nova economia emergente.

A velha economia se baseia na crença de que a intervenção do governo, como o aborto, deve ser segura, legal e —acima de tudo— rara. O governo é necessário para lidar com verrugas periódicas que aparecem no corpo do capitalismo, mas tudo o que os curativos de curto prazo do governo podem fazer é acelerar o poder natural de cura inerente a uma economia de mercado.

Melhor ainda, são as medidas para remover as verrugas de uma vez por todas, para transformar a economia à imagem do modelo clássico de competição perfeita. Essa filosofia atingiu seu apogeu sob Clinton, culminando no seu caso de amor com a desregulamentação, particularmente do setor financeiro.

Sabemos como isso terminou. Alan Greenspan —discípulo de uma versão extrema dessa filosofia consagrada na ficção para jovens adultos de Ayn Rand— presidiu o Fed de 1987 a 2006, saindo logo antes da merda no ventilador, diante da qual declarou-se “chocado! chocado! chocado!” ao descobrir que a autorregulação do sistema financeiro não era tão confiável.

A crise de 2008 e a recessão que se seguiu foram um sinal de alerta, e Greenspan não foi o único que acordou —pelo menos momentaneamente. Pareceu por um tempo que a economia ortodoxa poderia estar aberta a novas ideias.

Infelizmente, a profissão rapidamente cerrou fileiras e vozes dissidentes foram, mais uma vez, marginalizadas.

A visão de que o problema são as verrugas, e não o próprio capitalismo, continua a dominar na academia. Mas a heterodoxia começa a fazer ondas. Economistas heterodoxos oferecem entendimentos alternativos de mudança climática, criação de dinheiro, banco central, desigualdade de renda e macroeconomia.

Ironicamente, a macroeconomia surgiu do trabalho do proeminente economista do século 20 John Maynard Keynes. Com o tempo, o radical e heterodoxo Keynes de “A Teoria Geral do Emprego, Juros e Dinheiro” foi transformado pela velha ortodoxia em um teórico supersofisticado das verrugas, especificamente, um teórico de como o capitalismo pode travar se os salários forem insuficientemente flexíveis.

A teoria das verrugas permitiu que os economistas aceitassem alguns dos insights de política de Keynes, em particular as limitações da política monetária e a necessidade de uma política fiscal anticíclica “in extremis”, enquanto rejeitava a ideia de que há alguma falha mais séria que as próprias verrugas. E, extremamente importante, restringir o papel do governo ao alívio das verrugas como esforço estritamente de curto prazo e limitado.

Minha própria contribuição para um crescente corpo de trabalhos heterodoxos, “Raising Keynes”, mostra como e por que a leitura ortodoxa de Keynes está errada e apresenta uma teoria que fundamenta o insight do economista de que, mesmo retirando as verrugas do capitalismo, você ainda terá um sistema que não possui mecanismos confiáveis para produzir os empregos necessários para os que desejam trabalhar.

Você precisa do governo, não de forma ocasional e intermitente, nas emergências, mas o tempo todo, tanto a longo prazo como nas emergências.

A seção de relevância mais imediata para a batalha pela alma econômica do Partido Democrata é a estrutura que apresento para compreender os meandros dos déficits e dívidas. Não só a política fiscal anticíclica mas também os déficits no contexto de uma economia com alto índice de empregos, quando não há mais o almoço grátis possibilitado pela simples combinação de homens e mulheres ociosos às máquinas ociosas. Em que medida a dívida pública deve restringir nossas escolhas?

Está começando a ser entendido que, além das áreas tradicionais de gastos do governo, a economia do século 21 deve incluir a provisão do governo para creches, para idosos e, talvez o mais importante, para uma transição para energias renováveis. Quanto desses bens é suficiente, e quanto devemos nos preocupar com qualquer dívida adicional que um governo robusto possa acarretar?

O governo Biden e a ala Sandres /Warren/ Ocasio-Cortez do Partido Democrata substituíram a abordagem apologética dos anos Obama por um compromisso ousado de mobilizar o governo para fazer o que for preciso para fornecer um futuro sustentável e equitativo. Tal como acontece com as iniciativas políticas de Franklin Roosevelt, a ação não esperou a teoria.

Mas as teorias econômicas e a prática política sobem e descem juntas. Keynes e a coalizão do New Deal nos EUA e a social-democracia na Europa apoiaram-se mutuamente; Milton Friedman e outros teóricos de direita e a política antigovernamental Reagan-Thatcher também.

Chegou a hora de uma simbiose de uma nova economia, em que a bideneconomia realmente faça sentido, com a política de uma nova maioria democrata.

Tradução de Joaquim Andrade

Concentração de renda

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A pandemia está desnudando inúmeras realidades em curso na sociedade brasileira. Com este momento de crise sanitária, somados as dificuldades econômicas e políticas, estamos percebendo algumas características que muitos indivíduos não querem acreditar. Precisamos refletir sobre nossas indignidades e nos prepararmos para os desafios contemporâneos, uma sociedade cada vez mais interconectada, marcada pelo crescimento da tecnologia e da automação, centrada na concorrência crescente, mais imediatista, mais caracterizada pelo pragmatismo e, na estrutura, uma sociedade mais desigual, centrada no racismo, nos preconceitos e na exclusão social.

Os dados recentes divulgados pelo Relatório de Riqueza Global do Banco Credit Suisse, mostram que 1% da população brasileira, algo em torno de 2 milhões de afortunados concentram mais de 49,6% da riqueza nacional. Estes números são vergonhosos e, mais ainda, quando analisamos os dados em retrospecto, percebemos que em 2010 os valores eram de 40,5%, quase dez pontos percentuais, um verdadeiro escândalo. Os dados apresentados pelo banco mostram que, na comparação entre dez países, apenas o topo da pirâmide da Rússia conseguiu concentrar mais riqueza do que a elite no Brasil.

Estas feridas foram desnudadas pela pandemia, deixando exposta a pobreza da sociedade brasileira, que sempre foi encoberta pelos grupos dominantes, que evitaram a construção de políticas efetivas para uma sociedade mais igualitária. Muitos grupos econômicos e políticos difundem conceitos de meritocracia e empreendedorismo como forma de acobertar as parcas possibilidades de ascensão social, criando expectativas positivas de melhorias de vida e progresso social e profissional.

Neste ambiente, percebemos que nos últimos quarenta anos a economia brasileira perdeu a capacidade de geração de riquezas para a grande parte da sociedade, perdemos dinamismo industrial e a capacidade produtiva inovadora e passamos a adorar os valores da especulação financeira, enriquecendo um pequeno grupo de sábios e financistas que vivem e, enriquecendo, gerindo fortunas em um ambiente marcados por taxas de juros escorchantes e taxas de câmbio valorizado, que garantem lucros extraordinários para um pequeno grupo sem preocupação com os rumos da sociedade brasileira. Vivemos numa sociedade marcada por tributação regressista, onde os que ganham mais pagam menos impostos, nossa estrutura tributária castiga o consumo e a produção e alivia a propriedade e isentam lucros e dividendos, um escárnio mundial, garantindo benefícios para os afortunados em detrimentos dos mais pobres e dos miseráveis, contribuindo para o quadro destacado pelo Banco Credit Suisse.

Neste momento, a FGV Social acaba de publicar o Atlas das Juventudes e de novos estudos, destacando a existência de 50 milhões de brasileiros entre 15 a 29 anos decepcionados, sem perspectivas de trabalho e insatisfeitos com a condução do país. Se pudessem, quase a metade (47%) dos jovens brasileiros deixariam o país. A pesquisa nos mostra, que se este quadro não for alterado, o cenário do mercado de trabalho para essa juventude configurará o desperdício do maior potencial histórico em termos de crescimento e produtividade brasileiros.

O mundo pós-pandemia vai exigir políticas mais efetivas dos Estados Nacionais, investimentos maciços em capital humano, em pesquisas científicas e mais consciência dos grupos dominantes e reflexões críticas pelas elites intelectuais. Estas medidas estão sendo construídas nos países desenvolvidos, vide o intervencionismo estatal no Plano Biden. Está na hora ou melhor, já passando da hora, de seguirmos os caminhos do desenvolvimento e do bem-estar da sociedade brasileira, abandonando os caminhos da insegurança jurídica, adotando políticas tributárias progressistas, melhorando as políticas públicas e ações que estimulem o desenvolvimento, deixando para trás os dados descritos pelo relatório do banco suíço.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 30/06/2021.

A desigualdade e o IR, por Folha de São Paulo.

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Busca por carga total mais justa deveria balizar a reforma do Imposto de Renda

EDITORIAL: Texto não assinado que expressa a opinião da Folha

23/06/2021

Os últimos anos foram de más notícias para o enfrentamento da infame desigualdade social brasileira. Na década passada, caiu por terra a convicção de que a distância entre ricos e pobres estava em retração; agora, teme-se que ela cresça com os impactos da pandemia.

Dados que apontavam melhora a partir dos anos 2000, com base nos rendimentos do mercado de trabalho, foram posteriormente contestados por estudos mais amplos, amparados nas estatísticas do Imposto de Renda, que contemplavam também ganhos de capital como os oriundos de lucros, aluguéis e aplicações financeiras.

A Covid-19 agrava um quadro já dramático na América Latina, como aponta relatório recém-publicado pela ONU. Em particular, porque as medidas imperativas de restrição às atividades prejudicam mais os estudantes e trabalhadores dos estratos mais carentes.

Fenômeno complexo, a desigualdade se apresenta de múltiplas maneiras. Há discrepâncias salariais entre homens e mulheres; há discriminação de pessoas LGBT no mercado; negros têm muito menos acesso que os brancos às benesses do desenvolvimento, como mostra o índice de equilíbrio racial (Ifer) lançado por esta Folha.

Destaque no grupo de países mais desiguais do mundo, o Brasil tomou providências para lidar com essa chaga —a mais importante delas foi instituir um aparato de seguridade de dimensões raras no mundo emergente.

O vultoso gasto social tem sua eficácia comprometida, porém, quando o mesmo poder público falha em prover educação de qualidade e, mais ainda, insiste em conceder privilégios a setores influentes da burocracia e do empresariado.

O Estado brasileiro realimenta a desigualdade, ainda, ao tributar de modo iníquo, com muito mais ênfase na taxação do consumo, o que onera em excesso os mais pobres, que na da renda.

O tema volta à pauta com a proposta de reforma do IR mais uma vez ensaiada pelo governo Jair Bolsonaro —e mais uma vez motivo de resistências antecipadas e pressões de natureza política.

Há muito a fazer para tornar a carga de impostos mais progressiva, sem elevá-la além de seu patamar já exagerado. Rever subsídios, tributar dividendos (com ajuste no gravame dos lucros) e até majorar alíquotas sobre rendimentos altos se mostram caminhos viáveis.

Infelizmente, o debate corre o risco de ser contaminado pelo imediatismo eleitoral e pela promessa demagógica de Bolsonaro de ampliar a faixa de isenção. Mesmo forças à esquerda, aliás, relutam em abraçar propostas mais ambiciosas para o IR, dados os interesses dos sindicatos de categorias mais bem situadas na pirâmide social.

Recuperação econômica

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A economia brasileira está passando por momentos de incertezas, marcados pelos impactos crescentes da pandemia, que diminuiu o crescimento econômico, aumentou as instabilidades e gerou quebras nas cadeias produtivas e, para piorar, estamos percebendo os ecos do incremento dos preços, a tão preocupante inflação, cujos constrangimentos perduraram até os anos 90.

O crescimento dos preços é patente para todos os grupos sociais, cujos impactos são maiores sobre os setores de baixa renda, cujos rendimentos crescem menos do que os preços e aprofundam os indicadores negativos, contribuindo para piorar as condições sociais, aumentando a pobreza, a fome e a exclusão social.

O aumento dos preços é um fenômeno global. A recuperação das economias desenvolvidas, motivadas pelos auxílios governamentais, monetários e fiscais de seus respectivos governos, além da aceleração da vacinação, levando estes países a normalidade econômica, incrementando as compras externas e impulsionando os sistemas econômicos e produtivos, com fortes pressões dos preços relativos. Neste ambiente de recuperação econômica, as compras crescem e, impactam diretamente sobre as commodities, beneficiando os exportadores de produtos agrícolas e de extração mineral.

No caso brasileiro, percebemos outros fenômenos que estimulam as pressões dos preços, onde destacamos o incremento das vendas externas motivadas pelo câmbio favorável. A desvalorização cambial aumenta os produtos exportados e pressiona os preços dos produtos importados, impactando sobre a inflação e a renda da população.

Para combater o aumento dos preços o governo utiliza a política monetária para diminuir a quantidade de moedas em circulação, aumenta as taxas de juros e reduz o crédito, levando a economia a reduzir a atividade econômica, piorando o cenário dos setores produtivos e melhora os indicadores financeiros dos rentistas, elevando os ganhos das aplicações financeiras e atraindo uma grande quantidade de moedas estrangeiras, recursos que buscam ganhos rápidos e imediatos, sem compromissos maiores para a estabilidade do país, visando apenas os ganhos financeiros e monetários. Neste momento, os rendimentos financeiros dos pequenos grupos afortunados crescem de forma acelerada em detrimento de grande parte da sociedade, gerando empregos precarizados, insuficiência de investimentos produtivos, degradação do ambiente de negócios e retardando a recuperação mais efetiva da economia.

Alguns analistas financeiros acreditam que a recuperação da economia está em curso, as vendas externas estão crescendo, a situação fiscal está melhorando e as perspectivas de crescimento estão se elevando, criando perspectivas positivas. Para muitos, estamos num momento de boom de commodities, cujos impactos para o agronegócio nacional serão positivos, garantindo recuperação da economia.

A recuperação econômica é incerta e prematura, de um lado percebemos as melhoras fiscais, mas ao mesmo tempo percebemos que a melhora está diretamente ligada ao crescimento da inflação, que turbina as receitas do Estado. De outro lado, percebemos que os indicadores sociais de emprego e renda são negativos e sem perspectivas de melhoras, o desemprego está em ascensão, rendas em queda, falência crescentes de micros e pequenas empresas, sem estas melhoras a recuperação, se vier, será passageira e limitada para poucos setores, com pouco potencial de geração de empregos.

A economia prescinde de credibilidade e de confiança. A recuperação econômica exige ambientes consistentes e investimentos produtivos, precisamos incrementar a vacinação, reduzir a transmissão do vírus, proteção financeira para os mais fragilizados e uma ampla discussão social para o período pós pandemia. Sem atuação do Estado Nacional, sem investimento público, sem planejamento econômico, sem investimento em capital humano, sem investimentos em pesquisa e sem reconstrução dos setores produtivos, estaremos condenados a sonhar que somos eternamente o país do futuro.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 23/06/2021.

Onde estão os negros?, por Ana Cristina Rosa

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Como bem observou a escritora Chimamanda Ngozi, se há no país grupo de pessoas que não possui as mesmas oportunidades que outros, existe um problema

Ana Cristina Jornalista especializada em comunicação pública e coordenadora da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPÚBLICA) – Seção Distrito Federal.

Folha de São Paulo, 21/06/2021

A recente entrevista da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie ao programa Roda Viva acabou se revelando uma breve, porém precisa, análise sobre os padrões das relações e interações sociais e culturais brasileiras sob o prisma do racismo institucionalizado no país.

O papo fluía sobre família, luto, feminismo… até que a jornalista Adriana Silva rememorou o interesse confesso da entrevistada pelo Brasil. Quando esteve no país em 2008, Chimamanda se disse impressionada com a relutância que percebeu nas pessoas em reconhecer que existe racismo nestas terras. Na semana passada, ela foi indagada sobre o que motivou tal percepção.

“Várias coisas. A primeira foi: onde estão os negros?”, perguntou a africana. “Estive num festival literário, foi ótimo, mas não havia negros. Em bons restaurantes, eu olhava ao redor e não havia nenhum negro”, observou. “Também percebi que perguntar sobre o assunto incomodava. As pessoas pareciam não querer reconhecer que havia um problema.”
Chimamanda gostaria de ver os negros do Brasil. “Quando vou a um país onde sei que há uma população negra, quero ver o que chamo de ‘minha gente’, pessoas que se parecem comigo.” Mas não viu.

Não viu porque frequentou os lugares errados, ou melhor, esteve em espaços aos quais em geral pessoas negras não têm acesso, salvo na condição de serviçais. Não viu porque na nossa estratificação social, o conceito de minoria tem mais a ver com ausência de poder do que com quantitativo populacional.

A intelectual também se disse surpresa e curiosa com a capacidade do brasileiro de afirmar com orgulho que, por aqui “somos todos misturados” e, ao mesmo tempo, valorizar padrões de beleza que nem de longe são africanos ou negros.

Como bem observou Chimamanda, se há no país um grupo de pessoas que não possui as mesmas oportunidades que outros, existe um problema. E o resultado decorrente dessa desigualdade é de responsabilidade da sociedade que os excluiu.

O bicho-papão do comunismo, por Sérgio Fausto.

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Hoje é a extrema direita paranoica e obscurantista que representa perigo real

Sérgio Fausto – Estado de São Paulo, 19/06/2021

Trinta anos atrás, em agosto de 1991, o comunismo recebeu seu atestado de óbito, com a dissolução da União Soviética. Morreu de morte morrida, provocada pela esclerose múltipla de um sistema político e econômico dirigido por uma burocracia hipertrofiada a serviço de si mesma.

Quando a Cortina de Ferro começou a se entreabrir, o bloco soviético não resistiu à comparação com o nível de bem-estar alcançado pelos países da Europa Ocidental, onde havia mais liberdade e melhores condições materiais de vida. Gorbachev bem que tentou reformar o sistema para evitar a dissolução da União Soviética, mas já era tarde demais. Ela ruiu, assim como havia ruído o Muro de Berlim dois anos antes, marcando o fim do domínio soviético sobre o Leste Europeu.

Mesmo antes de morrer, o comunismo já não representava ameaça ao Ocidente. Com a ascensão de Gorbachev à Secretaria-Geral do Partido Comunista da União Soviética, em 1985, as relações entre a pátria do socialismo e as potências capitalistas mudou definitivamente de natureza. “I like Mr. Gorbachev. We can do business together” (eu gosto do sr. Gorbachev. Nós podemos trabalhar juntos), disse ninguém menos que a conservadora primeira-ministra do Reino Unido Margareth Thatcher, depois de se encontrar em Londres com uma delegação de representantes soviéticos chefiada por Gorbachev, então estrela ascendente no Politburo. Era dezembro de 1984. Bom lembrar que a outra pátria do comunismo, a China, já havia normalizado desde a década anterior as suas relações com os Estados Unidos.

Para quem conhece a História é espantoso que o comunismo tenha sido ressuscitado como arma política 30 anos após a sua morte. Como disse o velho Marx, em adendo a Hegel, a História acontece duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. A ameaça comunista hoje só existe no discurso farsesco de uma extrema direita que faz da fabricação do pânico um componente central da sua estratégia política. No passado, a ideia da ameaça comunista era plausível, embora inflada para justificar golpes de Estado e regimes autoritários, em especial na América Latina.

Salvo no Chile, os partidos comunistas nunca alcançaram grande expressão político-eleitoral. Pequenos grupos mais radicais, que optaram pela via armada para combater ditaduras, foram logo massacrados. Cuba foi um caso singular.

Quem representaria hoje o bicho-papão do comunismo? Faz quase 50 anos, a China deixou de exportar revolução para exportar produtos manufaturados, cada vez com maior conteúdo tecnológico. Mais confiante que nunca na sua capacidade de superar os Estados Unidos como potência econômica, busca também expandir seu poder e influência a outras partes do mundo. Sua estratégia, porém, não passa por mudar regimes políticos, muito menos por criar uma alternativa ao capitalismo, no qual aprendeu a nadar de braçada, com estilo próprio. Ela representa um desafio às democracias liberais, não uma ameaça ao capitalismo, como no passado representou a União Soviética.

Teria a Rússia assumido esse papel? Nada disso. Ex-agente da KGB, Putin é hoje um autocrata que apela à tradição
cultural e religiosa da Rússia czarista e empresta apoio à ultradireita nacionalista europeia. Venezuela, um Estado falido, Cuba, que mal se aguenta nas próprias pernas? Ora, tenhamos senso do ridículo.

Diante do evidente despautério, o bolsonarismo se apropriou da ideia de que o comunismo teria reencarnado sob novas vestes: o marxismo cultural. Essa categoria está para a compreensão do mundo como a hidroxicloroquina está para a cura da covid. Serve como droga política para arregimentar fanáticos e disseminar teorias conspiratórias. Faz crer que existe uma ideologia que articula e impulsiona toda e qualquer manifestação cultural e política de questionamento a visões ultraconservadoras sobre a religião, a pátria, o Estado e a família. Junta no mesmo saco de inimigos a combater o liberal que defende a liberdade de expressão e a laicidade do Estado, as feministas que lutam pelos direitos das mulheres, o ativista do movimento LGBT, o dirigente da ONG ambiental, o intelectual “progressista”, o artista “devasso”, o libertário “maconheiro”, o jornalista da “mídia lixo” e até mesmo militares ditos “bundas-moles”.

O velho anticomunismo tinha um pé na realidade. É fato que o Komintern (a 3.ª Internacional) existiu de 1919 a 1945 e que o movimento comunista internacional continuou a ter vida nas décadas posteriores, com centro União Soviética e partidos comunistas em diversos países. É fato que Cuba treinou guerrilheiros e financiou a luta armada. Já o bicho-papão do marxismo cultural é pura fabricação mental. O que existe é uma extrema direita paranoica e obscurantista. Os sinais dela estão por toda parte: na negação da ciência, no uso da religião para fins políticos, na indiferença à morte, no desrespeito à liberdade de expressão do pensamento, do afeto e da sexualidade, no estímulo ao ódio, na linguagem chula. Ela representa o perigo real. O comunismo é um inimigo imaginário, a seu serviço.

DIRETOR-GERAL DA FUNDAÇÃO FHC, É MEMBRO DO GACINT-USP

Guedes e o ódio aos pobres, por Cristina Serra.

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As políticas excludentes e de base eugenista da dupla Bolsonaro-Guedes também compõem a causa mortis desses brasileiros

Cristina Serra – Folha de São Paulo, 18/06/2021

Paulo Guedes não falha. Sempre oferece variações sobre o mesmo tema, qual seja, sua aversão às pessoas pobres. Mas, agora, ele se superou. Disse que as sobras e os excessos dos almoços da classe média e dos restaurantes podem ser utilizados para alimentar mendigos e desamparados.

Ele enunciou tamanho absurdo sem corar, muito à vontade, sabendo que expressa ponto de vista de setor bastante representativo da sociedade brasileira, do qual é porta-voz. É a mesma visão de mundo por trás da famigerada “farinata”, ração feita com produtos próximos da data de vencimento e que o então prefeito João Doria tentou oferecer a famílias carentes.

É isso também que explica as pedras pontiagudas sob viadutos para afastar pessoas sem teto para bem longe da vista, medida revista pela prefeitura paulistana. O incômodo com o pagamento de direitos trabalhistas às empregadas domésticas, o desgosto de ver pobres viajando de avião, expresso em redes sociais, tudo isso é ódio de classe. E encontra sua síntese em Paulo Guedes.

Incapaz de formular uma política pública de combate à fome e à insegurança alimentar de milhões de brasileiros, limita-se a oferecer-lhes migalhas. Para o ministro, quem sobrevive nas bordas da sociedade tem é que comer o resto da mesa abastada. Viajar para o exterior? Sonhar com filho na universidade? Viver “100 anos”? Ora, onde já se viu.
Guedes achava que um auxílio de R$ 200,00 por mês seria suficiente para as famílias enfrentarem a pandemia e não podia ser por muito tempo, “aí, ninguém trabalha (…) e o isolamento [social] vai ser de oito anos porque a vida está boa”. A imunidade de rebanho que fizesse o resto. E fez. Neste fim de semana, chegamos aos 500 mil mortos.

Essa marca inimaginável não é obra exclusiva do vírus. As políticas excludentes e de base eugenista da dupla Bolsonaro-Guedes também compõem a causa mortis desses brasileiros. Presidente e ministro assinam os atestados de óbito.

Cristina Serra é paraense, jornalista e escritora. É autora dos livros “Tragédia em Mariana – a história do maior desastre ambiental do Brasil” e “A Mata Atlântica e o Mico-Leão-Dourado – uma história de conservação”.

Abandono escolar e motivação para aprender, por Claudia Costin

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Precisamos evitar que os estudantes considerem a escola desconectada de seus sonhos de futuro e dela desistam

Cláudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Folha de São Paulo, 18/06/2021.

Acompanhei, com grande preocupação, a pesquisa realizada pelo Conselho Nacional da Juventude em 2020, em meio à pandemia, que mostrava que 28% dos jovens pensavam em desistir de estudar. Pois bem, um ano depois, já são 43%.

As razões são as esperadas: a crise econômica que resultou do prolongamento da Covid e as dificuldades de acesso ao ensino remoto, que tanto prejudicaram a aprendizagem. O vínculo se rompeu e os jovens se desconectaram não só das aulas mas da própria escola.

Não que não houvesse abandono escolar antes da pandemia, mas o crescimento dos que afirmam não pretender voltar é assustador em tempos de automação acelerada e poucas chances de trabalho digno para quem não concluiu o ensino médio. Isso deveria ser visto como emergência que se soma à das aprendizagens perdidas pelos que prosseguirão seus estudos.

Vários estados começaram a fazer a busca ativa de alunos que não voltaram ou se desligaram do processo de aprendizagem remota. O Unicef tem desempenhado importante papel em incentivar e orientar tecnicamente este esforço.

Mas a intenção de abandonar os bancos escolares não está ligada só à necessidade de complementar o orçamento familiar em meio à crise, ou à falta de conectividade. Há, além disso, um problema de motivação para aprender.

Tanto tempo longe das escolas e a inadequação dos métodos assíncronos de ensino, representados por roteiros escritos a serem preenchidos e programas de rádio e televisão, certamente trouxeram um desengajamento dos jovens.

Daí o acerto do tema escolhido pelo Instituto Ayrton Senna para seu Seminário Internacional realizado nesta semana: motivação em educação.

Discutir com especialistas e gestores educacionais como se assegura motivação em crianças e jovens para uma boa gestão da aprendizagem e ouvir pessoas que se motivaram, ao longo de sua vida para realizar projetos transformadores, foi uma estratégia bem adequada ao momento em que vivemos. Tive, neste sentido, a incrível oportunidade de entrevistar, no seminário, a dra. Jane Goodall, primatóloga reconhecida mundialmente, a partir do seu trabalho pioneiro com chimpanzés na Tanzânia.

Desenvolver nos alunos habilidades de autorregulação e incentivá-los a se conhecer melhor e a pensar em seu projeto de vida, são estratégias associadas, de acordo com as pesquisas, a maior motivação, bem-estar e sucesso acadêmico.

Tenderão também, com certeza, a favorecer a permanência dos jovens na escola.

Mais do que buscar os adolescentes que abandonaram a escola, precisamos evitar que eles a considerem desconectada de seus sonhos de futuro e dela desistam!

Morte e vida da pequena empresa no pós-pandemia

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Gigantes do varejo monopolizam como nunca as vendas e arruinam milhões de empreendedores. Mas cresce tendência oposta: o consumo consciente e local, oportunidade para recuperar economia, caso haja políticas públicas robustas…

Outras Palavras

Miriam Duailibi e Sérgio Miletto – 16/06/2021.

Não há mais dúvida que o mundo mudou radicalmente nos últimos dois anos.

A pandemia, o medo do contágio e a consequente necessidade de distanciamento social aceleraram dramaticamente os processos de automação que estavam em curso inicial ou em gestação.
Pequenas indústrias, empresas de serviço e comércio tiveram que rapidamente se adaptar para não fechar as portas.

A explosão dos Market Places

Grandes marcas do varejo como o Magazine Luiza e as Americanas além de investirem fortemente em plataformas de internet para escoar seus produtos, se transformaram, a exemplo da Amazon e Mercado Livre, em Market Places, ou seja, enormes mercados virtuais onde pequenos produtores, distribuidores e comerciantes expõe e vendem seus produtos.

Grupos de investidores criaram plataformas como a Enjoei.com onde os próprios consumidores criam suas vitrines de roupas de marcas caras e objetos preciosos seminovos que são oferecidos aos clientes de todo o país.

Muitas são as vantagens que este novo tipo de comércio pode oferecer aos pequenos e micros: a possibilidade de uso de plataformas já existentes, a garantia de recebimento do valor de venda, a divulgação de sua marca, o sistema de entrega rápida, entre outros.

No entanto, o custo para usufruir deste espaço e suas vantagens pode ser muito alto e até mesmo impeditivo. A comissão cobrada a cada venda, a necessidade de manter estoque, a obrigatoriedade da entrega no prazo, os preços que devem ser baixos para serem competitivos exigem altos investimentos e capital de giro, ativos que quase nunca a pequena e a microempresa possuem.

As vendas online

As redes de supermercados, farmácias, material de construção, até mesmo hortifrúti e panificadoras sofisticaram seus produtos, aceleraram suas vendas online, entrega rápida sem custo e ofertas imbatíveis.

Este novo jeito de comprar e vender fez do comércio local sua maior vítima. Com apenas um celular ligado à internet, consumidores dos mais longínquos cantos do Brasil podem comprar diretamente dos distantes Market Places e das grandes redes sem sair de sua casa.

Se antes a proximidade impelia a escolha, especialmente nos grandes centros urbanos onde a locomoção é demorada e cara, com a popularização da internet este fator não importa mais.

O pequeno produtor, a papelaria da esquina, o mercadinho, a confecção, a pequena quitanda, a lanchonete, o distribuidor de bebidas do bairro, o restaurante de comida caseira da quadra, nenhum deles consegue competir em preço, estética, prazo de entrega e divulgação com os grandes.

Às dificuldades financeiras se sobrepõe a falta de conhecimento tecnológico para lidar com este novo mundo que chegou tão rapidamente.

Sem contar com nenhuma reserva de mercado, como em outros países que delimitam áreas onde as grandes redes não podem entrar para preservar as micro e pequenas empresas; sem acesso ao crédito e ao financiamento; sem familiaridade com a automação, milhares de micro e pequenas empresas fecham as portas diariamente.

O papel do Estado

O papel do Estado no fortalecimento das micro e pequenas empresas como grande gerador de emprego e renda é de extrema importância. Entre as medidas mais efetivas estão as Compras Públicas. Embora exista legislação garantindo o acesso do setor aos editais públicos nem sempre isto se dá, seja por desconhecimento da Lei, por inoperância ou despreparo da área técnica e jurídica ou ainda por preconceito dos entes públicos.

Enquanto os governos e o parlamento se mantêm alheios ou pouco operantes quanto à questão, o desalento e até mesmo a fome atingem as famílias brasileiras.

Os números

Segundo o relatório da Global Entrepreneurship Monitor 2020 – pesquisa realizada no país pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ) – 10 milhões de empreendedores, em sua maioria mulheres, fecharam suas empresas durante a pandemia.

Apenas o chamado empreendedorismo por necessidade, como citamos em artigo anterior em Outras Palavras, continua crescendo alavancado pelo desemprego e pela precarização do trabalho.
Novas oportunidades

É preciso ressaltar que existe um rol de oportunidades para pequenos e micros na chamada economia circular, de baixo carbono, sustentável, comércio justo, que se apresentam como um novo paradigma global.

Trata-se da tendência mundial de reforçar os pequenos negócios que respeitam as relações justas de trabalho, utilizam matérias-primas de baixo impacto, reduzam o consumo de água, energia e materiais, minimizam a geração de resíduos e reciclam os que foram produzidos, que se associam em redes, consórcios, sociedades de propósito específico – SPE – para comprar, vender, divulgar.

Produzir e consumir localmente é um mote que deve se firmar também em nosso país devido à extrema necessidade de enfrentar a crise climática, o desemprego e a desigualdade social.

As micro e pequenas empresas sempre se destacaram como grandes geradoras de emprego, em tempos de automação este papel se torna ainda mais importante. Pelo seu porte são ágeis e capazes de efetuar as adequações necessárias em sua operação de forma rápida e segura.

Para que elas possam fazer parte e até protagonizar a nova economia, as diferentes esferas governamentais e as instituições de apoio ao setor precisam elaborar massivos programas de capacitação dos micros e pequenos empreendedores

Por outro lado, o setor necessita compreender a importância de se organizar, se associar, se mobilizar e ter representatividade forte para exigir políticas públicas de incentivo, capacitação, disponibilização de tecnologia e recursos para que possam sustentar suas famílias com dignidade, gerar trabalho qualificado e contribuir com o desenvolvimento sustentável, justo e equitativo do país.