‘O País é refém do cenário externo e dos especuladores internacionais’.

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Entrevista | Pedro Rossi

por Carlos Drummond — publicado 09/06/2018 09h46 – Revista Carta Capital.

O BC usa instrumentos “amigáveis ao mercado” limitados e não tem força para barrar uma fuga de capitais mais forte, alerta economista

A volatilidade da moeda brasileira tende a se agravar no período eleitoral, analisa Pedro Rossi

O real parou de desvalorizar após a ação do Banco Central na quinta feira 7, mas ninguém sabe como serão as próximas semanas, pois a adoção de uma política cambial mais passiva desde 2015 reforçou a vulnerabilidade do País, dispara o economista Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp e autor do livro Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil (Editora FGV).

Os instrumentos usuais de atuação no mercado de câmbio, diz, como as intervenções e os swaps, apesar de importantes, não são suficientes para mitigar a volatilidade e as tendências cambiais geradas pelo setor financeiro.

“Não é razoável o grau de volatilidade da moeda brasileira que tende a se agravar no período eleitoral, quando a fuga de capitais é instrumento de coação do mercado financeiro. Foi assim em 2002 e um pouco em 2014, deve ser assim em 2018. E o pior é que essa prática antidemocrática funciona: os candidatos favoritos se dobram às demandas do mercado com medo da instabilidade que ele pode gerar.” Rossi concedeu aCartaCapital a entrevista a seguir.

CartaCapital: É possível distinguir, no caso do Brasil, a responsabilidade específica da política cambial do Banco Central na desvalorização do real, semelhante à das moedas de outros emergentes como Argentina, Turquia e África do Sul e que tem a ver também com uma conjuntura de mudança na política monetária dos EUA e guerra comercial mundial iminente?
Pedro Rossi: O que dá a tendência do movimento cambial é principalmente o cenário externo. O Brasil é, entretanto, extremamente vulnerável e sensível aos humores dos investidores internacionais. O BC, ao adotar uma postura de política cambial mais passiva desde 2015, reforça essa vulnerabilidade. A leitura do mercado é que o BC não vai impor perdas para ele. Um dos motivos para a vulnerabilidade é um mercado de derivativos de câmbio muito líquido. Em maio o fluxo cambial foi positivo em 1,7 bilhão de reais, mas a desvalorização veio da pressão dos especuladores no mercado de derivativos.

CC: Como analisa a decisão do BC tomada na quinta-feira 8 de aumentar em 20 bilhões de dólares o volume de operações de swap e quais as consequências da medida para a população e a economia?
PR: É uma medida market friendly ou “amigável ao mercado”, pois oferece liquidez em dólar no mercado futuro. Ou seja, o governo vende dólar futuro para quem quer se proteger da desvalorização do dólar, mas também para quem especula contra o real. Essa operação tem um custo fiscal se o real continuar desvalorizando, mas se a moeda brasileira se valorizar há ganho fiscal que aparece na conta de juros, fora das limitações do superávit primário.

CC: Aparentemente funcionou, ao menos num primeiro momento, pois o dólar caiu. Qual a durabilidade e o custo disso?
PR: Funciona, o resultado de curto prazo é visível inclusive na taxa de câmbio hoje, mas nada garante que isso possa ser sustentado ao longo das próximas semanas. Porque no fundo o Banco Central usa mecanismos que são “amigáveis ao mercado”, mas ele não tem mecanismos estruturais para impedir especulação contra a moeda brasileira. Usa instrumentos, mas não tem força para barrar uma eventual fuga de capitais mais forte. Esse mecanismo de venda de swaps tem efeito limitado.

CC: Por que não tem força?
PR: Porque o mercado brasileiro é muito aberto, muito desregulamentado, principalmente o de derivativos e há uma quantidade muito grande de passivos de curto prazo e de participantes estrangeiros no mercado de derivativos. Quando o mercado atua contra a taxa de câmbio o BC não tem instrumentos estruturais para travar isso.

É diferente de 2012, quando o governo Dilma começou a aplicar uma série de medidas a partir de 2011, entre elas o controle de capitais sobre os fluxos, a administração do mercado interbancário de câmbio com oneração de posições dos bancos e também com o IOF sobre derivativos. Quando o governo fez isso, ele fechou uma estrutura e o mercado perdeu a força para atuar contra o governo. Isso até aumentou a eficiência dos swaps das intervenções, porque o mercado sabia que ele não tinha como enfrentá-lo pois estava mais amarrado, mais regulado. Hoje não tem mais esse controle, retirado ao longo de 2012 e 2013. Aí o mercado ganhou um protagonismo maior na determinação da taxa de câmbio.

CC: Os controles começaram a ser retirados portanto antes do golpe que removeu Dilma do governo.
PR: Sim. Foram substituídos por um programa de swap diário, mais “amigável ao mercado”, a partir de 2013 e 2014, e que deu lugar em 2015 a uma política mais passiva de intervenção no mercado de câmbio.

CC: Ainda mais amigável.
PR: Mais amigável ainda. Swaps e reservas são instrumentos que você oferece ao mercado, se ele quiser compra, se não quiser não compra. São diferentes do IOF, em que se joga o custo no mercado. Então se alguém quiser especular vai ter que incorrer naquele custo. Se quiser por exemplo entrar no País para permanecer por dois meses, terá um custo, pois é um capital de curto prazo que será taxado. Essas medidas não são amigáveis. São justamente as medidas que eu defendo para tornar o mercado de câmbio brasileiro mais resiliente a especulação e fuga de capitais.

CC: Qual a sua explicação para esse recuo ainda no governo anterior?
PR: Ocorre que foi criada toda uma regulação para a apreciação cambial. O câmbio estava valorizando demais, chegou a 1,50 real por dólar em meados de 2011 e aí se montou uma estrutura para conter a valorização. Depois o mercado internacional mudou de sentido e as pressões passaram a ser para desvalorização, mas o governo não montou uma estrutura no sentido inverso, ou seja, para impedir uma volatilidade excessiva do real no rumo oposto.

Substituiu o que existia pelo mecanismo do swap. Depois, em 2015, passa a predominar uma mentalidade que fez parte do governo como um todo, uma guinada completa na política econômica incluindo uma política de crédito mais liberal, redução do papel dos bancos públicos e das estatais, política monetária e fiscal contracionistas e uma política cambial mais liberal no sentido de que o mercado determina a taxa de câmbio e o governo intervém pouco. Uma política passiva portanto, a partir da dupla Joaquim Levy no ministério da Fazenda e Alexandre Tombini no Banco Central.

CC: Há encaminhamento alternativo? Qual seria?

PR: Sim. Os instrumentos usuais de atuação no mercado de câmbio, como as intervenções e os swaps, apesar de importantes, não são suficientes para mitigar a volatilidade e as tendências cambiais geradas pelo setor financeiro. O desafio da política cambial é mais complexo e exige um olhar transformador sobre a atual institucionalidade do mercado de câmbio. A política cambial tem a importante função de neutralizar distorções provocadas pelo setor financeiro, reduzir a volatilidade da taxa de câmbio e fazer com que esse preço estratégico acompanhe as necessidades da economia brasileira. Não é razoável o grau de volatilidade da moeda brasileira, e é preciso atuar em três frentes de política cambial: a regulação de fluxos de capital, do mercado interbancário e do mercado de derivativos.

CC: Segundo relatam os jornais, alguns participantes do mercado receiam uma alta dos juros de supetão, do mesmo modo como fez o BC da Turquia, embora o BC brasileiro negue sistematicamente mexer nas taxas. É mesmo inevitável esse aumento dos juros? Por quê?PR: O aumento de juros seria uma tentativa desesperada de conter a especulação contra o real às custas de mais recessão no Brasil. Essa discussão só mostra o quanto não temos autonomia de política econômica e o País é refém do cenário externo e dos especuladores internacionais.

CC: O Brasil está no primeiro pelotão dos países com moedas mais desvalorizadas o que seria uma decorrência, segundo vários economistas, de se aceitar nas últimas décadas déficits em transações correntes para viabilizar uma política econômica que visasse o controle da inflação e a atração de capital externo, em tese para financiar investimentos produtivos, mas na prática encaminhado em sua maior parte para a especulação. Concorda com essa visão? Por quê?

PR: Acho que essa explicação pode ser melhorada. O que fez o real valorizar demais tempos atrás, hoje faz o real depreciar demais. Desde 1999, quando adotamos o câmbio flutuante, o real tem sido uma das moedas mais voláteis do sistema internacional e sujeita a ciclos de forte valorização e desvalorização.

Essa volatilidade é decorrente de dois fatores (1) do alto patamar da taxa de juros que torna a moeda brasileira um alvo preferencial das operações especulativas e  (2) de um ambiente institucional atraente para fluxos de capitais de curto prazo e para apostas nos mercados de derivativos de câmbio, onde se forma a taxa de câmbio dada a sua maior liquidez.

Por isso somos muito vulneráveis ao ciclo de liquidez internacional: por um lado, quando o cenário internacional está positivo, recebemos muito passivos de curto prazo e entrada de estrangeiros nos mercados de derivativos e por outro lado, sofremos mais pressão vendedora quando o cenário se deteriora.

Essa volatilidade tende a se agravar no período eleitoral quando a fuga de capitais é instrumento de coação do mercado financeiro, foi assim em 2002 e um pouco em 2014, deve ser assim em 2018. E o pior é que essa prática antidemocrática funciona; os candidatos favoritos se dobram às demandas do mercado com medo da instabilidade que ele pode gerar. Mas, por enquanto, ainda é cedo para associar diretamente essa forte desvalorização ao processo eleitoral.

 

Chico Xavier E foi assim…

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Uma obra bastante polêmica de Carlos A. Baccelli, em muitos momentos me parece mais um grande desabafo, sua leitura é de suma importância para todos que buscam a compreensão de como funciona o Movimento Espírita, seus desafios e necessidades.

 

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Transição Planetária: um novo homem para um mundo novo

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A sociedade mundial se encontra em um momento de grande apreensão e instabilidade, momentos de medo e inseguranças gerados por grandes transformações em curso que ninguém sabe informar para onde vamos e quais os impactos destas mudanças para os seres humanos e para a sociedade em geral, mas todos sabemos que estas transformações são irreversíveis e inadiáveis.

A imprensa, os sites, a mídia e os jornais publicam informações variadas sobre as catástrofes que ocorrem no mundo contemporâneo, as fomes generalizadas, a violência crescente e descontrolada, o xenofobismo constante, as guerras fratricidas, os confrontos assustadores e os medos interiores, gerados pela depressão, pela ansiedade, pelos complexos, pela obesidade e, em último caso pelo suicídio crescente que atingem milhares de pessoas no mundo todo.

Diante desta realidade, muitos nos abordam para perguntar o que está acontecendo com o mundo em que vivemos, para onde vai toda esta sociedade e quais as perspectivas para as relações entre os seres humanos em um mundo marcado por tantos medos e inseguranças generalizadas.

A Doutrina Espírita nos traz grandes informações sobre o momento atual, seu estudo e reflexão críticas nos mostra que vivemos um momento único e especial na história da humanidade, um momento de mudanças e transformações, tudo isso geram medos e incertezas em todos os indivíduos e estes medos levam a população a se enveredar por caminhos pouco conhecidos, buscando soluções mágicas e respostas imediatas e encontram charlatanismo e explorações constantes, abrindo espaço para inescrupulosos e explorados que se apropriam dos medos para enriquecimentos ilícitos e comportamentos reprováveis.

A chamada transição planetária pode ser descrita como um momento novo da sociedade em que os Espíritos superiores estão impulsionando o progresso da humanidade, acreditamos que este impulso se dará com o expurgo de todos aqueles espíritos que não estão em condições de contribuir, no momento, com o progresso da humanidade e serão levado para outros planetas até que consigam uma evolução que os permita aqui regressar e participarem ativamente deste novo momento da humanidade terrestre. Esta experiência de expurgos não é nova na história do planeta Terra, Edgar Armond em Os exilados de Capela, nos detalha um momento em que um grupo de espíritos renitentes no mal foram retirados compulsoriamente da constelação de Castela e foram trazidos para o planeta Terra e, com isso, contribuíram decisivamente para o progresso terrestre, isto porque apesar de serem espíritos ainda atrasados nos valores morais eram bastante adiantados no conhecimento científico e tecnológico, sendo responsáveis por avanços e impulsos em regiões como o Egito e a Grécia antigos, países que os receberam e cresceram muito nos períodos onde estes capelinos ali estiveram e, com o retorno destes a seu planeta de origem, se viram mais atrasados e perderam o eixo do progresso, se transformando na atualidade em povos dotados de uma herança cultural e científica imensas e um atraso social considerável.

A Transição Planetária que vivemos na atualidade é um período parecido com o descrito por Armond, o mundo contemporâneo precisa progredir, a espiritualidade maior já deu ordens expressas de que precisamos sair da letargia e crescer de forma organizada e generalizada, para que isso aconteça, faz-se necessário, que todos aqueles espíritos que retardam o progresso sejam transferidos para outras paragens mais atrasadas que o Planeta Terra e fiquem aqui apenas aqueles que estão em consonância com os novos rumos que Jesus, o governador do Planeta Terra, quer implementar para nosso planeta. Faz-se necessário ainda, destacar, que muitos espíritos estão chegando ao planeta Terra compulsoriamente, irmãos renitentes no mal que lutaram com toda sua força para não voltar ao mundo da matéria e foram obrigados pela espiritualidade maior a regressar, estes irmãos estão muito vinculados ao mal, sentem prazer em ver o atraso da humanidade, se sintonizam com os sentimentos mais negativos e mesquinhos que conhecemos e, mesmo assim, foram convidados a reencarnar, como não quiseram e lutavam contra isso, pois sabiam que seus débitos eram imensos e não poderiam comandar seu processo reencarnatório, fugiram durante muitos séculos até que foram obrigados a voltar ao corpo material e estão ao nosso lado no planeta Terra, a grande maioria destes espíritos são altamente inteligentes e capacitados, mas se comprazem com os malfeitos e tentam impingir ao mundo contemporâneo seus valores e sentimentos negativos, é por isso que percebemos, no mundo contemporâneo, uma grande desordem e instabilidade, tudo isso em decorrência das energias emanadas por estes irmãos que estão tendo sua última chance na Terra, se não se utilizarem desta chance para sua melhoria íntima serão compulsoriamente expurgados para outras regiões do espaço que mais se afinizam com seus sentimentos e energias.

O século XXI é o momento exato destas grandes mudanças, percebemos todos os momentos que vivemos em um mundo diferente dos anteriores, de um lado encontramos muitas energias deletérias e negativas, marcadas por atrasos de espíritos que ainda se comprazem ao mal e, ao mesmo tempo, percebemos inúmeros avanços científicos e tecnológicos, doenças que até pouco tempo condenavam os indivíduos a morte ou a condições indignas de sobrevivência, na atualidade são curáveis e possuem tratamentos acessíveis a grande maioria da humanidade, trabalhos que anteriormente degradavam o corpo dos trabalhadores condenando-os a morte precocemente ou até gerando graves distúrbios emocionais e psicológicos na atualidade são realizados por máquinas e equipamentos baseados em tecnologia de ponta, tudo isso mostra que vivemos no mundo uma grande contradição, um período onde o bem e o mal se mostra cada vez mais intensamente dentro dos corações e espíritos de cada um dos indivíduos numa luta constante, preocupante e, muitas vezes, fratricida.

Segundo os relatos dos espíritos superiores, este momento demandará grandes esforços da humanidade, neste período muitos irmãos que ainda se comprazem com os malfeitos estarão “soltos” no mundo e suas energias e sentimentos deletérios podem gerar constrangimentos para aqueles que não se precaverem e se fortalecerem energeticamente, conseguindo, com isso, forças e antídotos para se livrarem da influência deste mal gerado por estes irmãos.

Entendemos como antídotos para nos proteger deste ambiente de medos e energias menores, os passes, as boas vibrações, a caridade e os trabalhos assistenciais, tudo isso contribui para que os indivíduos se fortaleçam neste mundo estranho e cheio de situações embaraçosas que nos afligem e causam preocupações, o trabalho no bem, a transformação íntima e a caridade, somados ao cultivo de bons pensamentos nos fortalecem de forma generalizada, nos auxilia na construção de uma grande redoma do bem que nos protege e nos abriga, abrindo-nos espaços sempre para mais trabalhos assistenciais e auxílios, pois sabemos que é muito melhor, para cada um de nós, auxiliar os irmão com dificuldades do que sermos auxiliados por outros irmãos.

A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec nos mostra inúmeros caminhos para vivermos este momento de instabilidade e incertezas, nos mostram como devemos trilhar nosso caminho, superar as dificuldades e improvisos e construir uma trajetória de sucesso e progresso, com isso, seremos impulsionados para frente e conduzidos para um mundo melhor, mais solidário e construtivo, devemos com esta doutrina nos preparar para este mundo novo que está se abrindo para todos nós, um mundo onde o mal, ou a ausência do bem, se reduzirá e as oportunidades serão cada vez maiores para todos mas, tenhamos calma, e confiemos em Deus, trabalhando, orando e buscando nossa melhoria íntima e pessoal, só assim perceberemos a importância de caminhar ao lado do bem em todos os momentos de nossa caminhada.

A mídia nos mostra muitas violências no cotidiano, muitas mortes, injustiças e medos, ao vermos tudo isso nos perguntamos o que está acontecendo com nosso planeta e qual será seu futuro imediato, suas chances de sobrevivência e suas oportunidades de progresso, nos esquecemos claramente que neste mesmo mundo, o governador espiritual é o nosso querido mestre Jesus, que está no leme desta embarcação e tem planos claros e ambiciosos para este planeta, chega de maldade e inverdades, o mundo em que vivemos é um mundo que se preparar para ser cada vez melhor para todos ou, pelo menos, para a grande maioria, desde que sigamos as pegadas do mestre Jesus.

Os crimes e as violências que percebemos na sociedade contemporânea está diretamente ligada aos sentimentos inferiores que ainda vivem e repousam dentro de cada um de nós, se cada um refletir sobre suas inclinações seremos bombardeados por sentimentos variados, somos seres em evolução, ainda imperfeitos, temos muitas negatividades dentro dos nossos corações, cultivamos o egoísmo e o orgulho, queremos crescer, nos melhorar e contribuir para a criação de um mundo melhor, mas para isso devemos nos utilizar desta reflexão para progredirmos e cultivar sentimentos melhores e mais saudáveis e não como forma de ficar reclamando e colocando a culpa de nossas dificuldades naqueles que estão ao nosso lado ou naqueles que nem conhecemos, mas já elegemos como os responsáveis por nossas desditas intimas.

A Transição Planetária escancará nossos males, mostra para todos nós que o mal do mundo é o mal dos seres humanos, os irmãos que comprazem com o mal são espíritos como nós, precisam ser amados e respeitados por todos, muitas vezes os vemos como seres abjetos e monstruosos, com isso, nos colocamos como superiores e esquecemos de que são nossos irmãos, merecem e precisam de nosso carinho e respeito, se não emitirmos sentimentos, pensamentos e energias salutares a estes irmãos estaremos os condenando a viverem no mal por muitos e muitos anos, migrando por inúmeros planetas e se posicionando em escalas inferiores durante muitos séculos.

O mundo material que vivemos está imerso em imediatismo, nossa sociedade se compraz com os prazeres da matéria, o mundo do sexo mostra claramente suas facilidades, o poder do dinheiro nos desnuda muitas oportunidades e possibilidades de acumulação, nossa ética e nossa consciência moral estão cada vez mais elástica, nos comportamos de acordo com nossos desejos imediatos e nos esquecemos de que a morte não existe da forma como acreditamos, muitos fazem desta vida um verdadeiro parque de diversão, acumulam e gozam a vida de forma desvairada e quando chegam no mundo espiritual se encontram em condições lamentáveis de indigências e deturpações emocionais e espirituais, neste instante percebem que a morte não existe, apenas saímos do mundo material e migramos para o mundo dos espíritos e nesta migração seremos cobrados por nossas ações, nossos pensamentos e realizações, não cabendo mais espaços para subterfúgios, é neste momento que percebemos que muitos figurões do mundo contemporâneo, que dedicaram seus dias para os acúmulos monetários e financeiros, chorarem e se debaterem feitos crianças de colo que choram desesperadamente implorando um pouco de leite para saciar sua fome e suas carências alimentares e, ao mesmo tempo, encontramos mendigos e pessoas humildes que passaram pela vida sem recursos e, mesmo assim, conseguiram, dividir o pouco que possuíam com os mais desvalidas e desprovidos, estes serão exaltados na hora da passagem e serão recompensados por suas atitudes e gestos caridosos e edificantes, cabe a nós escolhermos aonde queremos e vamos nos posicionar nesta equação que a todos envolve na vivência do cotidiano.

 

Crise, caos e desgoverno no Brasil: uma visão perturbadora do futuro do país

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Nos últimos anos o Brasil vem passando por situação de grande instabilidade, incerteza e um caos generalizado, onde as discussões giram sempre em torno de questões irrelevantes e as soluções surgem como propostas demagogas e autoritárias, um verdadeiro desgoverno de fazer inveja aos tempos conturbados de Dilma Rousseff. Estamos mesmo regredindo ou estamos numa situação de reconstrução da realidade nacional? Uma resposta para esta pergunta só o tempo vai nos mostrar de forma mais clara, aguardemos então.

Nestes momentos de crises e caos estamos ouvindo de tudo, desde assobios autoritários de pessoas ignorantes e desqualificadas até tabelamentos de preços de fretes e a busca por socorro do velho Estado, passando por discursos exaltados de combate a violência urbana, intervenções generalizadas das Forças Armadas através de solicitações de governos civis, uma verdadeira pantomina, cujo final nada tem de positivo e de auspicioso, mas de medo, instabilidade e incertezas.

De um lado enxergamos muitos pontos positivos desta situação de caos generalizado, a sociedade passa a tomar consciência de que o Estado não tem mais brechas fiscais e financeiras para financiar novas demandas imediatas, os governos municipais, estaduais e federal não tem mais sobras para aumentar os gastos públicos, as grandes demandas construídas sob o suporte da Constituição Federal de 1988, que completa trinta anos, não mais podem ser atendidas pelo Estado, que se encontra em uma crise fiscal pouco vista em sua história e necessita de um novo pacto social ou entra em condição de insolvência e, com isso, caminhará, a passos largos, para a bancarrota.

Os inúmeros subsídios públicos precisam ser rediscutidos, as isenções fiscais e tributárias para muitas instituições sociais e políticas devem ser repensadas, os altos salários e benefícios dos servidores federais, principalmente judiciário e legislativo, devem ser revistos e as federações e sindicatos devem ser melhor investigadas pelos órgãos especializados, tudo isso deve ser feito para que o Estado Nacional recupera seu papel de protagonista na sociedade brasileira, sob pena de que, se não for feito, a sociedade civil tende a entrar em um clima de mais insatisfação, o que pode culminar em guerras, conflitos e insegurança generalizadas para todos os cidadãos brasileiros.

Ao analisarmos a situação fiscal do Estado brasileiro, percebemos que os desequilíbrios orçamentários sempre foram frequentes, inicialmente o governo se utilizava da inflação como instrumento de financiamento, o desequilíbrio nos preços aumentava os recursos que eram utilizados para financiar os gastos públicos, a partir de 1994, com o Plano Real e posterior queda da inflação, o governo passa a utilizar o aumento de impostos para financiar os desajustes do orçamento, no período 1995 a 2016 a carga tributária saltou de 24% do PIB para 34%, um incremento de dez pontos percentuais, atualmente, percebemos que a população não quer mais incremento tributário, com isso o Estado está buscando se financiar via venda de títulos públicos, esta política se encontra próximo do esgotamento, isto porque os agentes econômicos estão reticentes com relação a capacidade de pagamento do Estado, tudo isto leva o governo a buscar com urgência uma reforma fiscal verdadeira que abra novas possibilidades para o setor público, sem uma reforma consistente o Estado terá grandes dificuldades de financiamento, sendo obrigado a pagar taxas de juros cada vez maiores, o que inviabiliza o país no médio e longo prazo.

Num país como o Brasil, com as graves desigualdades que temos, numa sociedade que se diz civilizada, onde uma parcela substancial de seus cidadãos vivem em condições sociais bastante precárias e um pequeno grupo, menos de 1% da população, se compraz com altos salários e belas remunerações, muitas delas vindas do setor público, donos de aposentadorias milionárias e benefícios generosos que levam o Estado a condições de sangria constantes para financiar seus benesses mais íntimos, designar esta sociedade de civilizada é algo bastante equivocado e reducionista.

Precisamos rever estes benefícios exagerados que são concedidos a poucos funcionários e custam muito caro ao Estado, comprometendo sua capacidade fiscal e financeira e deixando o país próximo daqueles que, num futuro próximo, estarão condenados a uma situação de incerteza generalizada, de um lado um pequeno grupo formado por grandes salários e benefícios e de outro uma grande maioria que sobrevive com migalhas e indignidade.

Devemos destacar ainda, que muitos subsídios concedidos aos grupos financeiros e empresariais contribuem imensamente para que a situação fiscal do Estado se fragiliza mais rapidamente, políticas protecionistas de cotas, taxas e sobretaxas que inibem a concorrência e condenam o trabalhador brasileiro a ter que comprar produtos caros e ineficientes e a pagar preços extorsivos, gerando um círculo vicioso que perpetua a pobreza e a exploração dos cidadãos.

Muitas vezes ouvimos reclamações dos cidadãos sobre a classe política, seus privilégios e benefícios generalizados, seus grandes salários e vantagens adicionais, isto gera grande revolta nas pessoas, devemos deixar claro que o poder legislativo é o mais transparente para a população, basta buscarmos nos sites e nos jornais encontramos informações atualizadas deste poder, por mais que tenham grandes benefícios devemos destacar que cabe a todos nós cobrar de todos os nossos representantes atitudes políticas corretas e dignas para a adoção de uma postura ilibada e distantes de roubalheiras e conchavos políticos.

O Poder Judiciário é dono de uma aura que atrai os indivíduos, marcado pela pompa e pelos privilégios generalizados, mas cabe a todos perguntarmos, para que este poder presta contas na sociedade brasileira ou será que presta contas para alguém? Esta pergunta deve ser feita por todos que pensam o país e sonhem para que o nosso Brasil se transforme em um país desenvolvido, não apenas economicamente, mas desenvolvido e justo socialmente e não uma ilha onde um pequeno grupo vive cheio de privilégios generalizados e uma grande parte se afunda na pobreza, na indignidade e nas indiferenças dos governantes e das elites políticas e empresariais.

Se tivermos a oportunidade de entrar nos sites dos tribunais de justiça dos estados brasileiros, vamos nos deparar com uma situação de escárnio com a população, encontramos desembargadores ganhando salários de mais de quinhentos mil reais ao mês, isso mesmo, mais de quinhentos mil reais ao mês, enquanto de outro lado temos favelas crescendo em escala exponencial, violência generalizada, filas crescentes nos hospitais e educação de péssima qualidade, um paradoxo que só desnuda a incapacidade que temos de construir uma nação verdadeira.

Estamos próximos de uma eleição e convivemos com o governo fraco e com pouca legitimidade, um presidente que dificilmente seria eleito na próxima eleição a um cargo de vereador em uma cidade brasileira, um presidente que foi denunciado por corrupção pela Procuradoria Geral e só não foi retirado do cargo porque se utilizou de sua capacidade de atuar nos bastidores para se segurar na presidência mas, a que custo Michel Temer conseguiu se segurar no cargo de Presidente da República?

Embora tenhamos severas críticas a estrutura política e aos representantes eleitos na última eleição, acredito que cabe a sociedade fazer uma grande reflexão, isso porque a grande maioria da sociedade se estivesse em cargos eletivos utilizá-los-ia da mesma forma ou de forma parecida, usá-los ia para manter ou aumentar os seus benesses com os recursos da sociedade e pouco se importaria com o eleitor, acreditando na velha tese de que o eleitor esquece e na próxima eleição seria reconduzido ao posto com até mais votos e mais legitimidade eleitoral.

Vivemos em uma sociedade caracterizada pela concorrência e pela competição generalizadas, o estudo, o conhecimento e a informação são as molas para o século XXI, sem estes recursos e investimentos na estrutura social estamos condenados ao atraso e a indignidade, não estamos preparados para este novo momento histórico da sociedade capitalista mundial, precisamos eleger as principais bandeiras para este novo século e, de todas as bandeiras, a mais sólida e consistente é a bandeira da educação que deve se transformar em um mantra nacional, só ela pode resgatar a dignidade do povo brasileira e fazer com que consigamos construir uma sociedade onde a dívida social seja reduzida e a pobreza extrema seja dizimada por completo.

A atual crise nos leva a grandes reflexões, o brasileiro está desesperançado com o país, não acreditamos na política, nos partidos políticos e principalmente, não acreditamos nos políticos e homens públicos, esta história não é nova e sabemos o final, embora saibamos que a política no Brasil apresenta graves desajustes e desequilíbrios, precisamos compreender que a Política é uma ciência fundamental para que consigamos sair desta situação e construir novos espaços de esperança e de dignidade para este povo, demonizar a Política só serve para aqueles que se locupletam com a situação que vivenciamos na atualidade e nos condenemos a um futuro de desigualdade, de medo e de incertezas.

Recentemente o país mergulhou no caos completo, a greve dos caminhoneiros deixou claro a dependência do país ao transporte rodoviário, nenhum país com dimensões continentais apresenta tanta dependência deste setor como o Brasil, quando estes resolvem parar o caos é generalizado e o custo destes impropérios são sentidos por todos os grupos mas, os grandes perdedores, são os mais pobres, os trabalhadores mais humildes e desprovidos de recursos, estes sim são os mais atingidos e sentem na pele o desabastecimento e os aumentos generalizados que se espalham por toda a cadeia produtiva da economia brasileira.

A greve é um instrumento legítimo para todas as categorias, mas da forma como foi feita gerou graves constrangimentos para a economia, uma economia que começava muito lentamente sua recuperação que foi abortadas trazendo custos para todos os indivíduos, de uma perspectiva de crescimento de 3% no começo do ano, a nova perspectiva para o produto interno bruto não passa de 2%, alguns economistas e analistas acreditam em um número menor que este, recuperação mais lenta, menos investimentos, menos empregos, menos renda, menos produção, menos consumo e menos frete, ou seja, prejuízo para todos os trabalhadores.

Grupos que apoiaram a greve num primeiro momento, perceberam que os custos da paralisação deverá ser pago por alguém, e este alguém será ele mesmo, com as propostas atendidas pelo governo com custos estimados em mais de R$ 13,5 bilhões os exportadores já sentiram na pele os custos das concessões, além de cortes generalizados em políticas públicas de saúde e educação, ao menos aí a greve teve um impacto interessante, mostrou para a sociedade que não existe almoço grátis, como diria o economista norte americano, prêmio Nobel de Economia e um dos grandes baluartes do pensamento liberal contemporâneo.

A crise na sociedade brasileira é generalizada, do lado político não vislumbramos pessoas capacitadas para recuperar a economia do país, melhorar a auto estima do brasileiro, estamos próximos da Copa do Mundo da FIFA, um dos eventos esportivos mais celebrados no mundo e os brasileiros se encontram alheios ao evento, muito disso se explica pela situação de descrença com o país, a roubalheira generalizada que se descobriu nas federações internacional e brasileira, gatunagem esta que levou alguns dos presidentes da confederação brasileira de futebol a cadeia ou ao ostracismo, melhorar e recuperar este país nos parece uma situação difícil e bastante trabalhosa, por isso, fujamos dos demagogos, dos autoritários e dos populistas da política brasileira, fujamos daqueles que se dizem donos de ideias e pensamentos mirabolantes, fujam daqueles que divulgam melhorias imediatas e rápidas, será que se fizermos isso teremos em quem votar?

 

“Da favela para o mundo: Não importa de onde você vem, mas para onde você vai”.

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Uma obra interessante que conta a trajetória de Edu Lyra, um jovem empreendedor nascido nas favelas paulistanas que se tornou um dos jovens mais admirados no Brasil, leitura fácil e empolgante, vale a pena este investimento.

 

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“É legítimo o cidadão apoiar a greve. Mas deve saber que é ele quem vai pagar essa conta” – Gustavo Franco, Ex-presidente do Banco Central

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Revista Isto É Dinheiro – Machado da Costa – 31/05/2018

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco é um dos economistas mais influentes do Brasil. Ele foi um dos membros da equipe econômica responsável pela criação do Plano Real. Por outro lado, muitos o criticam pela crise cambial vivida pelo País na década de 1990, ao tentar, por tempo demasiado, manter a paridade entre o real e o dólar. O cargo no Banco Central se foi, mas o prestígio não. Agora, Franco encabeça a equipe econômica de João Amoêdo, pré-candidato à presidência pelo partido Novo. E uma crise, como a dos caminhoneiros, que parou o Brasil por mais de uma semana, é uma terra fértil para esse economista plantar a semente do liberalismo. Segundo ele, todas as dificuldades vividas pelo País desde que Michel Temer assumiu o Planalto, em maio de 2016, têm uma única origem: a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014. “Temos que lembrar que, até o fim deste ano, o que estamos vivendo é o mandato da Dilma. É o seu vice que está lá. É o seu Congresso que lá está”, afirma. A revolta dos caminhoneiros, para ele, é apenas um dos barris de pólvora que estão prontos para explodir. E a solução é a abertura do mercado. “Por que não discutir a privatização da Petrobras?”, questiona o economista, que defende a política de preços praticada por Pedro Parente, presidente da estatal. Leia a seguir a entrevista que Franco deu à DINHEIRO.

DINHEIRO – Por que o governo está sofrendo tanto com a rejeição da população?

GUSTAVO FRANCO – Nós estamos em um fim de governo muito difícil, por todos os déficits de popularidade e de legitimidade. Sua eficácia cai com o tempo e, a cada problema, a capacidade de resolver é menor. Esse assunto dos caminhoneiros não era para ter tido essa dimensão. A ineficácia junta-se à impopularidade, que nos faz lembrar muito de algo que aconteceu em 2013, as jornadas de junho.

DINHEIRO – O Datafolha mostra que 87% da população apoia a greve, mas que não querem pagar a conta. O que isso significa?

FRANCO – É legítimo o cidadão apoiar a greve. Mas deve saber que é ele quem vai pagar a conta desse arranjo que vai beneficiar os caminhoneiros. Todo mundo gosta de pensar que pode ter um almoço grátis. Mas isso não existe. Quem vai pagar os prejuízos causados a terceiros, causados pelo protesto? Quantos litros de leite foram desperdiçados e quantas aves morreram sem ração? Os prejuízos são imensos. Quem se responsabilizará por isso?

DINHEIRO – Com certeza não serão os grevistas…

FRANCO – Esse é um protesto amplo, com alguns elementos sindicais e outros patronais. Com esse tipo de movimento, espontâneo, não há característica negocial. Havia gente pedindo a cabeça de presidente da Petrobras, Pedro Parente, outros a intervenção militar. Em muitos momentos, o protesto perdeu relação com a realidade. Muitos pedidos não tinham cabimento. Infelizmente, o que deveria ter sido feito, era ter prevenido o protesto.

DINHEIRO – Era possível?

FRANCO – Isso tudo começou com um choque de petróleo. Quem se lembrar dos anos 1970, recorda que aconteceram coisas traumáticas. Aquele choque produziu recessão, inflação, problemas no balanço de pagamentos. Agora, não há nada parecido com isso. Existe apenas a irritação de quem foi afetado por uma mudança inevitável no custo do petróleo. Tivemos muitas experiências com a Petrobras que comprovam que o preço doméstico tem de ficar alinhado com os preços internacionais. Não podemos viver fora da realidade da vida econômica. A fórmula de preços a Petrobras está correta filosoficamente. Dá para se discutir se o repasse deve ser diário ou não. Vejo vários especialistas falando sobre a criação de um tributo regulatório, que desce quando o preço está alto e sobe quando está baixo. Isso serviria para suavizar preços mais sensíveis à população, não só o diesel ou a gasolina, mas o gás também. Uma lástima que isso não tenha sido feito antes deste barril de pólvora explodir. Agora, vai ter de ser feito às pressas.

DINHEIRO – A mudança de política de preços feita pela Petrobras está correta, então?

FRANCO – Esse era o caminho. Vivíamos em uma situação absurda de populismo tarifário extremo. Uma política que quase quebrou a Petrobras. É de responsabilidade de Dilma Rousseff a produção de um endividamento escandaloso da companhia. Sair dessa política era inevitável. E caminhamos para o que é muito próximo do correto. Particularmente, não simpatizo com o reajuste diário dos derivados. Outros mecanismos deveriam existir para suavizar as variações. Também devemos discutir o monopólio. Estamos descobrindo que temos dois problemas muito sérios no fornecimento do diesel. O primeiro que a Petrobras estabelece um monopólio e o segundo é que ela é estatal.

DINHEIRO – Isso é um único problema ou são dois?

FRANCO – Bem… se não fosse estatal, o monopólio poderia ser pior. Quando tínhamos monopólio nas telecomunicações, a solução foi quebrar e transformar em várias empresas, para gerar competitividade em várias etapas do serviço. O propósito era beneficiar o consumidor. Na Petrobras, quando se pensa no consumidor, o governo vai para o populismo. O que talvez tenha faltado, no pensamento dessa política, foi envolver mais o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a ANP (Agência Nacional do Petróleo), para que houvesse uma moderação na prática monopolista que a empresa se acostumou a ter. O próprio Cade publicou um documento com recomendações para aumentar a competição neste mercado. São várias propostas de bom senso de gente que entende de concorrência. No limite, uma das propostas é o autosserviço. Estamos pagando frentistas que não precisam existir. Todos pagamos por um interesse corporativista.

DINHEIRO – Isso resolveria a questão do monopólio. Mas o senhor disse que o fato dela ser estatal também é um problema.

FRANCO – Esse episódio e, antes dele, o Petrolão, serviram para tirar a Petrobras de um terreno do sagrado. Falar da privatização era um sacrilégio. Esses problemas a trouxeram para o terreno das empresas comuns. Ela é um monopólio e monopólios não são bons, sejam estatais ou privados. Quem sabe, faça sentido dividir. Mas, para que tenha competição, seria interessante privatizar um pedaço ou outro. Essa discussão agora começou e vamos demorar um tempo debruçado sobre o assunto para chegar a uma solução.

DINHEIRO – Acredita que esse tema será discutido no processo eleitoral?

FRANCO – Pode ser um tema prematuro para a eleição. As ideias ainda não estão muito disseminadas. Mas é papel dos economistas dos partidos falar sobre coisas que ainda estão verdes na cabeça dos eleitores. Não se paga nada para pensar e imaginar como poderia ser diferente. Nesse processo, é preciso levar uma consideração importante ao consumidor. A soberania nacional, a economia de divisas, a autossuficiência – tudo isso mudou no decorrer do tempo. Esse ideal de autossuficiência foi muito relativizado.

DINHEIRO – Entre as reivindicações, havia pedidos de intervenção militar. E regimes rígidos, por definição, são intervencionistas. Será que essa pauta cabe neste momento?

FRANCO – Eu vi essas manifestações, mas elas são pontuais, minoritárias, e o radicalismo existe para os dois lados. Cada um tem a liberdade de expressar sua irritação e, às vezes, ela se manifesta desse jeito. É uma forma de mostrar a insatisfação com a situação atual. O que isso mostra é somente a cabeça feita dos extremos. Três quartos do País não têm ainda uma opinião formada sobre os candidatos. O resto do país tem mais serenidade, equilíbrio, e não decidiu ainda. De algum jeito, é o centro moderado que vai decidir a eleição e torço para que escolhamos certo.

DINHEIRO – O PIB apontou um crescimento de 0,4% no primeiro trimestre, o que mostra que a recuperação ainda é lenta. O PIB baixo impulsiona esse extremismo?

FRANCO – A recuperação é lenta, mas foi o que deu para fazer nesse ambiente político muito difícil, de ausência de liderança política e incerteza eleitoral. Acho que a economia, personificada na dona de casa, está prendendo a respiração, esperando passar esse momento. A vida vai começar para valer em 2019, com uma liderança que traga algum alento econômico. Temos que lembrar que, até o fim deste ano, o que estamos vivendo é o mandato da Dilma. É o seu vice que está lá. É o seu Congresso que lá está. Foram eleitos baseados em uma aliança entre PT e PMDB. O impeachment deu um cavalo de pau na economia, mas é o mandato da Dilma que estamos terminando. Não daria para ser diferente. Já deixamos para trás parte do péssimo legado dela, mas temos que terminar esse mandato.

DINHEIRO – O senhor está chefiando o plano econômico de João Amoêdo, pré-candidato do Partido Novo. Como prevê a participação dele na corrida ao Planalto?

FRANCO – Barulho, te-nha a certeza de que vamos fazer. Nós somos um partido jovem. É apenas a nossa segunda eleição e a primeira nacional. E achamos que podemos formar uma bancada. Não sabemos qual vai ser o tamanho. Mas, hoje, a bancada de deputados liberais é próxima de zero. Quem sabe, na próxima legislatura, poderá ter mais de 10, seja do Novo ou de outras legendas com essa mesma mentalidade. Isso vai fazer uma diferença importante no Parlamento. Lá, prevalece uma rotina modorrenta corporativista. Tivemos a experiência de eleger quatro vereadores, em quatro capitais. Sabemos a encrenca que essa voz do liberalismo pode gerar. Imagine se conseguirmos eleger 30 deputados. Isso seria magnífico. Os partidos do Centrão não têm nitidez ideológica, então a representação do Novo teria uma visibilidade desproporcional ao seu número.

 

‘Quem pede intervenção militar não sabe o que foi a ditadura’, diz sociólogo

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Ana Estela de Sousa Pinto – Folha de São Paulo – 04/06/2018

SÃO PAULO

“Há uns malucos querendo a ditadura. Eles não sabem o que querem. Nunca viram, não têm ideia do que foi a intervenção militar no país, porque não têm formação. Não sabem isso e também não sabem mais nada.”

Para o sociólogo Reginaldo Prandi, 72, esse é um dos reflexos do principal problema do país hoje, a frágil cidadania.

Outra consequência é a politização mal definida. “Até no PT, que já teve consistência ideológica, quando o Lula vai preso ninguém sabe o que fazer. Ainda estamos na era do culto à personalidade.”

Religião, trabalho e educação foram temas estudados por Prandi nos últimos 50 anos. O domínio em metodologia de pesquisa o levou a participar, no começo dos anos 1980, da criação do Datafolha, empreitada que atraiu críticas desde o início: de candidatos, institutos concorrentes e colegas marxistas.

Decidido a responder a elas com embasamento teórico, Prandi passou meses estudando a formação da opinião pública nos EUA. Numa época pré-informática, encheu as malas com cópias xerox dos textos que embasariam sua tese. A bagagem, no entanto, se perdeu na volta ao Brasil.

Docente da Universidade de São Paulo desde 1976, o sociólogo será nesta terça-feira (5) o 12º de seu departamento a se tornar professor emérito, homenagem já feita a Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, Azis Simão, Fernando Henrique Cardoso e Chico de Oliveira, entre outros.

 

O que seus predecessores indicam sobre as questões que têm ocupado os sociólogos?

O primeiro homenageado, Fernando de Azevedo, era envolvido com a transformação da sociedade a partir da educação. Já os seis seguintes estudaram a questão racial. Todos passaram por como a escravidão contribuiu na formação nacional economicamente, populacionalmente e culturalmente.

Depois, sob uma ótica marxista, aparecem estudos sobre o operariado e a classe empresarial.

Dentre os eméritos, o Azis Simão é muito especial. Formou-se em 1930 em farmácia, porque queria ser professor de ciência. Mas teve um descolamento de retina, que lhe tirou a visão.

Formado em farmácia e cego, como virou professor da USP?

Azis era amigo de Mário e Oswald de Andrade e da intelectualidade socialista e anarquista. Frequentava palestras de professores estrangeiros, promovidas pela Faculdade de Filosofia e foi incentivado a se matricular por Fernando de Azevedo.

Ele já não enxergava mais, mas sua irmã o ajudava lendo os livros em voz alta, e ele fez cursos de braile.

Quando se formou, Azevedo o convidou para assistente. Passou em todas as provas, mas seria barrado no exame médico, e foi preciso passar uma lei na Assembleia Legislativa para que ele pudesse ser efetivado.

Como professor e militante, ele fez o primeiro trabalho sobre o voto operário no Brasil.

A gente chama o Azis de “precursor do Datafolha”, porque, mesmo cego, trabalhava com tabelas e números.

São dois pontos em comum com o sr.: formação em biológicas e ligação com pesquisas eleitorais.

Há um terceiro. Assim que me formei, veio a cassação dos professores, e alguns fundaram o Cebrap [Centro Brasileiro de Análise e Planejamento], onde trabalhei de 1971 a 1976, enquanto fazia pós-graduação na USP. Em 1976, também entrei para o corpo docente da USP, mas meu contrato foi barrado.

Não no exame médico!?

Não. Pelo terceiro estágio, uma instituição ligada ao SNI [Serviço Nacional de Informações] que examinava toda contratação. Dependendo do que achavam, o processo nunca chegava à mão do reitor.

Passava um ano, dois, três, até que a pessoa desistia.

Trabalhei mais de um ano de graça, e começaram a falar “Ah, você caiu no terceiro terceiro estágio, pode desistir”. O Azis, que era coordenador da sociologia e muito destemido, resolveu verificar pessoalmente, e o contrato saiu.

Como surgiu sua ligação com pesquisas eleitorais?

Fui trabalhar com o professor Oracy Nogueira, nas matérias de metodologia de pesquisa. Tinha boa formação em estatística e computação, que nessa época estava apenas engatinhando.

Do estudo de veterinária?

Na veterinária, tive um professor maravilhoso, o Pimentel, que sabia tudo sobre modelos experimentais e desenho de amostragem. Na USP, estudei dinâmica populacional e fui orientado por grandes metodólogos.

Aí veio a redemocratização, fundaram-se novos partidos, e fui para o PT. Lula era candidato a governador em 1982, e o PT não tinha nem um tostão para contratar pesquisa eleitoral, e não confiava nas que havia. Bolei um modelo de amostragem que pudesse ser mais fácil, mais rápido e mais barato.

Por que não deu certo no PT?

Quando a gente mostrava os resultados, ninguém acreditava: “Como vamos ficar em quarto lugar? Impossível. Em toda parte a que a gente vai falam que vão votar no Lula!” [O PT terminou mesmo em 4º lugar, com 11% dos votos].

Acharam melhor gastar forças em conquistar votos em vez de levantar intenções, e deram por encerrado.

O seu Frias [Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), publisher da Folha] ficou sabendo dessa história e me chamou [leia texto abaixo]. Houve oposição dentro da universidade.

Qual era a crítica?

Que a gente influenciava a opinião pública. Colegas ligados ao departamento de filosofia eram contra a própria ideia de pesquisa, que “reduziria a classe social à massa”.

Passei a achar que tinha obrigação de dar respostas teóricas à altura, e resolvi fazer minha tese de livre docência sobre a formação da opinião pública.

Fui fazer um pós-doc nos EUA, levantei muita informação. Naquela época não tinha internet, tudo era preciso xerocar. A gente ia para Paris só para tirar xerox. E nos EUA não era só deixar o livro e vir buscar depois: você mesmo punha as moedas e tirava as cópias, folha por folha.

Vim embora pronto para fazer minha tese. Mas minha bagagem foi perdida pela Varig. As malas, com toda a pesquisa dentro, não chegaram.

Perdeu toda a pesquisa?

Eu tinha duas saídas: mudar de assunto ou fazer tudo de novo. Meus professores me aconselharam a retomar o tema do mestrado, e resolvi estudar os candomblés de São Paulo. Consegui financiamento, contratei gente. Quando estava tudo pronto chegaram as malas [risos].

Uns seis, sete meses depois.

Tinham sido achadas num depósito de malas perdidas no aeroporto de Tóquio. Nessa altura já havia escolas de marketing e comunicação, que passaram a tratar desse assunto.

E a própria pesquisa eleitoral foi se legitimando sozinha, independentemente do que achavam alguns colegas meus.

Mas há ainda tentativas de desqualificá-la, e na reforma política tentaram proibir a publicação na véspera do voto..

Isso desde sempre. A pesquisa é sempre usada politicamente. Há muita gente que se opõe, mas nunca é por razões científicas, e hoje ninguém mais passa sem elas.

Houve um ano em que foi proibido publicar uma semana antes. A Folha soltava notas na coluna Painel dizendo “A temperatura em São Paulo está mais para Mário Covas. Vai chegar a 34 graus nesta tarde” [risos].

Sempre houve em algum lugar da sociedade ou do governo ou do parlamento alguém interessado em castrar esse tipo de informação. O monopólio da informação sempre foi desejo de empresários, políticos, líderes e dirigentes.

Que questões são fundamentais hoje para a sociologia no Brasil?

Temos um problema muito sério, um velho problema. O Brasil evoluiu muito em termos tecnológicos em vários campos, mas falta muito ainda na formação humana.

Somos muito atrasados em questões de cidadania, de tolerância, de aceitação das diferenças. Nossa escola formadora é muito ruim.

Não há investimento, nenhuma preocupação em formação de gente.

Há uns malucos querendo a ditadura. Eles não sabem o que querem. Nunca viram, não têm ideia do que foi a intervenção militar no país, porque não tem formação. Não sabem isso e também não sabem mais nada.

A falta de formação é o maior problema do Brasil. Não há respeito às tradições e, muito pior, nem às pessoas.

Não há nem sequer uma formação ideológica consistente. As pessoas chutam para um lado hoje e amanhã chutam para o outro, como se fosse absolutamente normal.

Esses movimentos de rua, nada garante que amanhã eles não sejam completamente diferentes, sem consistência, sem continuidade, sem fundamentação ideológica ou científica.

Somos um país que lê pouquíssimo. Nossa cidadania é muito frágil.

Falta politização?

Exatamente por isso: a frágil cidadania leva a uma politização também fragilizada, mal definida, inconsistente. Até no PT, que já foi um partido com consistência ideológica maior, quando o Lula vai preso ninguém sabe o que fazer, porque o PT não existe sem o Lula.

Isso mostra que ainda estamos na era do culto à personalidade. Se você não tem um personagem para assumir uma liderança e resolver todos os problemas do país, ninguém sabe o que fazer.

Enxerga algum foco de mudança?

Sempre sou otimista, porque, quando você menos espera, há um avanço social. Um exemplo claro nesses dias é a Irlanda, que aprovou o aborto. Quando ninguém acreditava, aprovaram o divórcio, depois o casamento gay e agora o aborto.

Existe movimento.

Mas ele vem com muitos custos, é muito atrasado.

Há um problema sério de reconhecimento dos direitos da mulher, dos direitos dos negros. O fato de um negro ganhar a metade do que ganha um branco na mesma atividade e mesmo período é muito, muito sério no país.

Mas, apesar de tudo, sempre há forças sociais que vão para a frente.

O que vai para a frente no caso do Brasil?

Veja, tudo isso surgiu no curso da minha vida, o movimento feminista, o movimento negro. Quando entrei no Cebrap, não existia nem movimento social ainda, e isso faz menos de 50 anos.

Apesar de tudo, isso se constituiu e ganhou força.

É possível.

Plagiando Galileu Galilei e depois o Chico de Oliveira, “Eppur si muove” [“no entanto, se move”, frase que Galileu teria murmurado depois de negar diante da Inquisição sua convicção de que a Terra gira em torno do Sol].

Claro que Galileu pensava nos astros, e Chico, na sociedade e na economia, mas eles têm razão. Elas se movem. Mas como? E com que velocidade?

NO FIM DA DITADURA, SOCIÓLOGO AJUDOU A CRIAR O DATAFOLHA

Em 1982, ainda sob o governo militar no país, houve eleição direta para governadores. O PT, do qual Prandi fazia parte, não tinha dinheiro para pesquisas eleitorais. Especialista em desenho de amostras, o sociólogo esboçou um método mais barato para levantar a preferência dos eleitores: ouvi-los em pontos de fluxo, em vez de em suas residências.

A nova metodologia interessou o publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira, que nos anos 1970 já testara enquetes para levantar a opinião do público. Prandi foi apresentado ao empresário por um amigo em comum, o sociólogo Vilmar Faria.

Ele relata a conversa: “Seu Frias me chamou: ‘Vamos fazer aqui na Folha, Prandi! Você tem todo o meu apoio!’. Perguntei ‘Tenho carta branca para gastar dinheiro também?’. ‘Não, isso não! Só estou te convidando porque o Vilmar me disse que seu método é muito mais barato.’ [risos]”

RAIO X

Reginaldo Prandi, 72
Formado em sociologia na Fundação Santo André, fez mestrado e doutorado na FFLCH-USP, onde se tornou livre-docente. Aposentado em 2005, continua no departamento como orientador de pós-graduação. É autor de 37 livros, entre obras científicas, ficção policial e literatura infantojuvenil

O QUE LER

Mitologia dos Orixás
Companhia das Letras, 2001, 24ª reimpressão, 591 pgs.
A coleção de mitos iorubás, que começou como subproduto de sua pesquisa sobre candomblés em SP, é o livro mais vendido do sociólogo

Minha Querida Assombração
Companhia das Letrinhas, 2003, 23ª reimpressão, 138 pgs.
Em segundo lugar entre seus sucessos está o livro infantojuvenil em que o sociólogo reconta histórias de suspense que ouvia na infância em Potirendaba (SP)

 

Herdeiros da Imortalidade

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O livro Herdeiros da Imortalidade pode ser descrito como uma leitura de destaque com informações importantes que nos leva a uma intensa reflexão, nos auxiliando a compreender melhor as dificuldades e as oportunidades que a vida nos oferece todos os momentos.

 

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Universidades S.A: As companhias de capital aberto da Educação Superior do Brasil

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Uma obra bastante interessante que desvenda as grandes transformações em curso na educação brasileira, a ascensão dos grupos de capital aberto sobre as universidades brasileiras e os impactos da educação como negócio.

 

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O economista mais poderoso do Brasil

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Revista Isto é Dinheiro – 27/04/2018 – Luis Arthur Nogueira

Antônio Delfim Netto era chamado de o czar da economia brasileira. Participou diretamente e indiretamente de todos os governos desde o golpe militar de 1964. E, aos 90 anos, segue influenciando os rumos do País. Conheça a sua trajetória, suas histórias inéditas dos tempos da Ditadura e as suas relações com os presidentes do período democrático

Antônio Delfim Netto: “O Brasil não é um fracasso. O problema do País foi não entender que deveria ter preservado a sua indústria” (Crédito: Gabriel Reis)

Os militares e os civis. A esquerda e a direita. Desde 1964, não há um único presidente da República Federativa do Brasil que não tenha recebido a contribuição direta ou, ao menos, um conselho ao pé do ouvido do economista Antonio Delfim Netto.

Aos 90 anos de idade, comemorados em 1º de maio, o ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento durante a maior parte do governo militar continua influente, lúcido, bem-humorado e sarcástico. Em sua consultoria, a Ideias, fundada em 1974 e localizada num casarão em estilo normando ao lado do estádio do Pacaembu, em São Paulo, ocorrem reuniões políticas e econômicas com personagens de todos os espectros ideológicos.

A mais recente aconteceu na segunda-feira 23, com os pré-candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT). Há um ano, devido a restrições médicas, Delfim Netto mudou o seu escritório do 1º andar para o térreo, ao lado da sala de espera das visitas. No andar de cima, ficaram nas paredes as charges dos tempos em que a mídia o retratava como o homem forte da economia dos militares. Apesar da limitação física, ele anda sem a ajuda de acessórios, participa de eventos e mantém uma rotina intensa de trabalho. “Nascer no 1º de maio, dia do trabalhador, não é coincidência”, afirma Delfim Netto, que recebeu a DINHEIRO duas vezes em seu escritório nas últimas semanas. “É destino.”

Delfim Netto estará ao lado da família no feriado que marcará os seus 90 anos. Neto de imigrantes italianos e primogênito de um casal de classe média, José e Maria Delfim, o economista tem duas irmãs, Filomena e Terezinha, uma filha chamada Fabiana e um neto, o Rafael, cujas fotos dominam as prateleiras do seu escritório. Nascido no Cambuci, bairro industrial de São Paulo, o economista não gosta muito de falar sobre a sua infância – conta apenas que gostava de remar no rio Tietê. É como se a sua biografia começasse oficialmente aos 14 anos, quando arrumou o seu primeiro emprego de office boy na indústria de produtos de higiene pessoal Gessy, que seria comprada pela Unilever na década de 1960.

Naquele tempo, passou a colecionar livros, um hobby que seria levado muito a sério não apenas durante a sua vida acadêmica, mas também ao longo de sua atuação no serviço público. “Em viagens oficiais pelo mundo, o Delfim sempre arrumava um espaço na agenda para visitar sebos e encontrar relíquias”, diz Paulo Yokota, ex-aluno do professor Delfim Netto na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP) e sócio na Ideias Consultoria. Ele acompanhava o ministro em reuniões em Paris, Nova York e Tóquio.

Pelas mãos de Delfim Netto, Yokota entraria na vida pública como diretor do Banco Central e presidente do Incra. O mesmo roteiro foi seguido por outros ex-alunos, que seriam apelidados de “Delfim boys”. A maioria mantém até hoje a amizade com “o mestre”, como o chamam. A DINHEIRO entrevistou outros quatro “Delfim boys”: Akihiro Ikeda, que também é sócio na Ideias Consultoria; Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec); Luis Paulo Rosenberg, dono de uma consultoria que leva o seu sobrenome; e Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central. Apenas Pastore se afastou do Professor Emérito da FEA-USP.

Bom de garfo: chamado de gordo por seus amigos, Delfim Netto nunca escondeu o gosto por bons restaurantes. Na foto, come frutas de sobremesa no italiano Roma, em São Paulo

A mania por livros resultaria numa coleção de 250 mil exemplares, que foi integralmente doada à biblioteca da instituição, em 2014. “Apenas devolvi à faculdade um pedacinho do que ela me deu”, diz Delfim Netto, que se formou em 1951. “Eu dei muita sorte. Eu não escolhi a profissão. Foi a profissão que me escolheu”, afirma o economista que, com quatro troféus, é o recordista do prêmio entregue anualmente pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). “É, disparado, o maior economista vivo do Brasil”, afirma Manuel Enriquez Garcia, presidente da OEB.

Em paralelo à FEA-USP, Delfim Netto foi aprovado num concurso público do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), em São Paulo. Lá, aprendeu o lado real da economia ao calcular a depreciação das máquinas rodoviárias. Após a formatura, foi contratado como assistente do professor Luiz de Freitas Bueno, engenheiro que se tornou o primeiro docente de Estatística Geral e Econômica da faculdade. “Foi o grande inspirador disso tudo”, diz o discípulo. Na época de dedicação à academia, no início dos anos 1960, Delfim Netto organizava encontros às sextas-feiras para debater o marxismo. “Eram conhecidos como seminários do uísque, pois os participantes faziam uma ‘vaquinha’ e compravam uma garrafa”, diz Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec, que foi aluno de Delfim na FEA-USP.

Falar dos tempos da faculdade é prazeroso para Delfim Netto, que tem uma memória invejável. Sua tese de doutorado foi sobre o café, o principal produto brasileiro. “O café era sinônimo de câmbio e representava 70% das exportações”, diz. “O problema é que o bom desempenho do café valorizava o câmbio e prejudicava a indústria.” A conclusão foi a de que o Brasil precisava desenvolver outras áreas para reduzir a dependência do café. O economista levaria essa convicção para o governo militar.

Decretado o golpe, em 1964, Delfim Netto foi convidado pelo presidente Humberto Castelo Branco a participar do Conselho Consultivo de Planejamento (Consplan), que tinha a missão de opinar sobre o Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg). No biênio 1966-1967, foi secretário da Fazenda de São Paulo no governo Laudo Natel, levando os “Delfim boys” como assessores. “O Artur da Costa e Silva, que havia sido ministro da Guerra de Castelo Branco, pediu para o Rui Gomes de Almeida [empresário da Associação Comercial do Rio de Janeiro] escolher um economista que não fosse carioca para lhe dar um panorama do Brasil”, diz.

“O Rui indicou o meu nome e eu fui a um apartamento, em Copacabana, explicar ao Costa e Silva como reduzir a dependência do café.” Depois de cinco horas de exposição, Delfim Netto foi embora para São Paulo sem nenhum feedback. Um certo dia, entra um assessor na Secretaria da Fazenda de São Paulo e lhe entrega uma carta do presidente-marechal com um convite para ser ministro da Fazenda. “Eu podia escolher meus auxiliares livremente desde que obedecesse a um critério geográfico”, afirma. “No regime autoritário, tínhamos de pensar na integração nacional, ou seja, escolher representantes de cada uma das cinco regiões do País.” Era março de 1967, a economia estava em desaceleração, a inflação anual oscilava entre 30% e 40% e Delfim Netto, nomeado o salvador da pátria, tinha apenas 39 anos.

O CZAR DA ECONOMIA A sede do Ministério da Fazenda era no Rio de Janeiro, ex-capital da República. Para lá foram alguns “Delfim boys”, que causaram certa inveja aos economistas cariocas. Eram chamados de “paulistas caipiras”. A rotina de Delfim Netto se divida entre Brasília (às segundas), o Rio (terça a quinta) e São Paulo (às sextas). Sempre às quartas, o ministro da Fazenda se encontrava com assessores, empresários e jornalistas depois do expediente. O restaurante escolhido era o Le Bistrô, em Copacabana. Delfim Netto foi o primeiro ministro a se preocupar com a explicação dos conceitos econômicos aos profissionais da imprensa, influenciando toda uma geração. O jornalismo econômico, como conhecido atualmente, não existia.

Trabalho: criada na década de 1970, a ideias consultoria fica num casarão de estilo normando ao lado do estádio do Pacaembu, em São Paulo

Na capital paulista, ele mantinha estreita relação com os empresários ligados à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Até hoje, preside o Conselho Superior de Economia da entidade. Atendendo ao clamor do setor privado, em 1967, quintuplicou o prazo para o recolhimento de impostos, melhorando o fluxo de caixa das empresas.
Delfim herdou do seu antecessor, Otávio Gouveia de Bulhões, e do ministro do Planejamento, Roberto Campos, os benefícios de uma série de reformas no âmbito do Paeg, incluindo a criação do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional. Chamado de o czar da economia, ele aprendeu a usar o Banco do Brasil como “olhos e braços do governo”. “Se você tem um problema de camarão no Ceará, chame o gerente do BB de Fortaleza, que vai te explicar a situação e, provavelmente, vai te sugerir uma boa solução”, diz. É, por isso, que ele refuta qualquer sugestão de privatização do Banco do Brasil.

Ainda no governo Costa Silva, Delfim Netto passou por um dos momentos mais delicados de sua trajetória política. No dia 13 de dezembro de 1968, foi um dos signatários do Ato Constitucional Número Cinco (AI-5), o mais severo do período militar. Mandatos foram cassados e direitos políticos, suspensos.

Aos 90 anos, ele afirma não se incomodar com perguntas sobre aquele período. “Quando o futuro vira passado, você percebe as implicações”, diz. “Suspender o habeas corpus não significa dar licença para fazer tortura.” E arremata: “ter assinado o AI-5 não significa ter aprovado a tortura”. Delfim Netto jura que não sabia do que acontecia nos porões da ditadura. Dada a sua inteligência, é dificil de acreditar.

De sua convivência com o marechal Costa e Silva, Delfim Netto lembra-se de um episódio inusitado. Ele estava no gabinete presidencial quando o neto do marechal entrou com um semblante tristonho. Após colocar o garoto de 8 anos no colo, perguntou o que estava acontecendo. Tímido, o neto não quis contar. O avô, então, afirmou. “Já sei! Disseram que seu avô é burro, não é isso?” O garoto balançou a cabeça positivamente. Costa e Silva então arrematou: “amanhã, quando você for à escola, pergunta para os seus amigos onde estão os avôs deles. Pergunta o que eles tão fazendo pelo Brasil”.

Com estímulos fiscais e monetários, e minidesvalorizações cambiais que levavam em conta a inflação brasileira e a americana, a economia começaria a se recuperar no fim da década de 1960. Os motores eram grandes obras, consumo, ocupação da capacidade ociosa das indústrias e exportações. As vendas ao exterior triplicaram no período conhecido como “Milagre Econômico”, que duraria até 1973. Esses dólares abundantes serviram para financiar a compra de petróleo e de máquinas para estimular o setor industrial. “A indústria brasileira chegaria a ser, segundo o Banco Mundial, a mais sofisticada do mundo subdesenvolvido”, diz Delfim Netto. De 1968 a 1973, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu, em média, 11,2% ao ano. “Não teve milagre”, afirma. “Milagre é efeito sem causa. Os brasileiros trabalharam brutalmente.” A inflação, que chegara a 91,8% em 1964, estava em um processo lento de desaceleração, num patamar de 30% a 40%, piorando em 1973, ao atingir 77,2%. Com Delfim Netto na Fazenda, o Brasil cresceu muito. Mas não aconteceu a sonhada distribuição de renda.

Desse período, no Ministério da Fazenda, Delfim Netto se orgulha de duas crias. A Secretaria da Receita Federal, em 1968, que unificou diversos órgãos fiscais, e a Embrapa, em 1972, que continua sendo referência em inovação no campo. Delfim Netto rechaça as acusações de que o governo militar manipulava a inflação, apesar das divergências entre os índices do Dieese, ligado aos trabalhadores, e os da Fundação Getulio Vargas (FGV), que produzia os dados oficiais. “Eu não brigava com o Dieese. Eu corrigia o Dieese por causa das amostragens equivocadas”, afirma o ex-ministro. “A Fundação (FGV) era invulnerável.”

Provavelmente por causa da autonomia de que desfrutava na Fazenda, Delfim Netto não esconde o seu apreço pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, cujo mandato foi marcado por torturas. Ele conta um episódio em que o presidente-general não queria autorizar o descongelamento do preço das carnes, apesar dos seus argumentos de que não fazia mais sentido aquela medida adotada cinco meses antes. Pior: começava a ocorrer um desabastecimento. Quinze dias depois, de forma surpreendente, Médici mudou de opinião. Intrigado, Delfim Netto foi apurar o que havia acontecido e descobriu que o presidente tinha ordenado ao próprio filho que vendesse os bois da família. “Ele só autorizou a alta dos preços depois que ele não tinha mais nenhum boizinho para lucrar com a medida”, diz. “Ele era absolutamente íntegro.”

Em 1972, ocorreu um episódio que iria encerrar o período do Milagre Econômico. No gabinete do presidente Médici, houve uma reunião entre Delfim Netto, o ministro de Minas e Energia, Antônio Dias Leite, e o presidente da Petrobras, Ernesto Geisel, que viria a ser presidente da República dois anos depois. Em pauta, a baixa produção nacional de petróleo e o risco de alta no preço no mercado internacional. Naquela época, o Brasil comprava no exterior 80% de todo o petróleo que consumia. Para blindar o País, Delfim Netto e Dias Leite propuseram a criação de contratos de risco a companhias estrangeiras que quisessem explorar petróleo no Brasil. A equipe econômica tinha informações do FMI de que o cartel de petróleo iria tomar providências para pressionar a cotação do barril. Geisel discordou da ideia e convenceu o presidente Médici. “O Geisel atrapalhou tudo”, afirma Delfim Netto. No ano seguinte, o Brasil sofreria as consequências do primeiro choque do petróleo, que quadruplicou os preços do barril.

Ao lado do poder: Delfim Netto sempre participou de alguma forma de todos os governos desde o golpe de 1964. Na foto, o então Ministro da Fazenda ao lado do presidente Costa e Silva

Quarenta e seis anos depois, é possível constatar que Delfim Netto ainda não digeriu aquela rusga com o general Geisel, de quem foi abertamente opositor. “O presidente Geisel é um sujeito corretíssimo, decentíssimo, muito bem-intencionado, mas fez uma péssima administração. Tudo errado”, afirma (leia ao longo da reportagem os comentários de Delfim Netto sobre os doze presidentes da República, de 1964 a 2018). Não por coincidência, o economista foi despachado para Paris, numa espécie de exílio entre 1975 e 1978. “Passei a criticar duramente a nova política e o Geisel mandou me convidar a ser embaixador na França”, diz. “Eu entendi do que se tratava e fui. Nós nunca nos demos bem realmente.”

Rebelde, ele manteve na parede da Embaixada a foto do presidente Médici por um período. Indagado sobre esse episódio, ele negou. Diante do olhar incrédulo do repórter, ele finalmente admitiu. “Tá bom, tá bom. Foi só por um tempinho.” Durante a temporada francesa, surgiu o famoso “Relatório Saraiva”. Trata-se de um documento secreto redigido pelo coronel Raimundo Saraiva, então adido militar em Paris, que trazia denúncias de corrupção contra a embaixada chefiada por Delfim Netto. A acusação, rechaçada por ele, era de que seriam cobradas comissões de 10% sobre empréstimos de bancos franceses pela sua equipe. “Um bando de mentiras feitas pelos militares linha-dura”, afirma o economista.

Em 1978, já de volta ao Brasil, tudo indicava que Delfim Netto seria o governador de São Paulo. “Mas o Geisel vetou”, afirma. No ano seguinte, assumiu o Ministério da Agricultura no governo de João Figueiredo. Desta vez, o convite foi feito pessoalmente, e não por carta. Ficou apenas cinco meses no cargo, quando o governo foi surpreendido pelo pedido de demissão do então ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen. O economista carioca abandonou o posto durante a crise do segundo choque do petróleo. “O Simonsen foi embora porque quis. O Figueiredo tinha paixão por ele”, diz Delfim Netto. “O Figueiredo ficou bravo quando viu que o Simonsen foi embora sem avisar, sem fechar o orçamento.” Dois dias depois, uma foto antológica de Simonsen de calção de banho na praia de Copacabana estampou a capa dos jornais e levou o presidente-general à loucura.

Delfim Netto foi imediatamente nomeado ministro do Planejamento. Antes de assumir o cargo, alertou o presidente de que “o Brasil havia quebrado”. “O Simonsen foi embora porque tinha consciência de que o Brasil tinha quebrado com a alta dos juros nos Estados Unidos.” Em reação ao segundo choque do petróleo, em 1979, o presidente do Banco Central americano (Fed), Paul Volcker, elevou os juros para o patamar de 20% ao ano, fazendo explodir o custo da dívida externa brasileira. “É importante compreender que foi o Geisel que endividou o Brasil para importar petróleo”, diz. “Quando o Médici saiu, não havia dívida externa.” Nas palavras de Delfim Netto, “o destino puniu Geisel”, que se recusou a fazer os contratos de riscos anos antes, quando era presidente da Petrobras. Delfim Netto salienta, no entanto, que o Brasil não quebrou sozinho. A União Soviética começou a se esfarelar no período do segundo choque do petróleo. Diante do diagnóstico tétrico sobre a situação, Figueiredo respondeu: “É isso mesmo, Delfim. O Brasil é um pinto, mas o Geisel fez ele botar um ovo de avestruz. Vai lá agora e costura o rabo do pinto.”

Generosidade: em 2014, Delfim Netto doou sua coleção de 250 mil livros para a biblioteca da FEA-USP. “Apenas devolvi à faculdade um pouquinho do que ela me deu”.Embora o Planejamento tivesse, naquela época, uma caneta poderosíssima, Delfim Netto faz questão de enaltecer o papel do ministro da Fazenda, o capixaba Ernane Galvêas, “um dos quadros mais competentes da administração pública”. Foi Galvêas que chamou o “Delfim boy” Affonso Celso Pastore para ser presidente do Banco Central, entre 1983 e 1985. Pastore estava dando aula de econometria em São Paulo quando recebeu um telefonema do próprio Delfim avisando que haveria o convite. “Eu aceitei, fui a Brasília e encontrei um País quebrado”, diz Pastore. “Era crise o tempo todo, pois o Brasil tinha reservas internacionais negativas.” Enquanto Delfim e Galvêas negociavam com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Pastore articulava pagamentos com os bancos. O clima era estressante e a recessão foi quase tão grande quanto a registrada no biênio 2015-2016, no governo Dilma Rousseff. “A correção monetária com o Delfim e o Galvêas foi um desastre”, diz Pastore.

De fato, o desempenho econômico do último governo militar foi muito ruim. O PIB encolheu 6% entre 1980 e 1983 e a inflação disparou para o patamar de 200% ao ano. O Brasil viveria a chama década perdida.

Delfim Netto não é do tipo de economista que transparece irritação com as críticas. No entanto, ele acha injusto comparar a gestão dele na Fazenda entre 1967 e 1974, período do Milagre Econômico, com a sua gestão no Planejamento, entre 1979 a 1984.

“Esses dois ministros são a mesma pessoa”, diz. “As decisões são datadas. É fácil ser inteligente depois que o futuro virou passado.” De uma coisa o ex-ministro não pode reclamar, ele mandava e desmandava no orçamento federal, num período em que o Congresso não tinha direito a opinar. Com a aprovação da Lei da Anistia, em 1979, Delfim Netto conseguiu levar para Brasília um dos seus “Delfim boys” mais rebeldes. Luis Paulo Rosenberg, corintiano fanático e filho de um comunista cassado em 1964. “Eu me sentia um intruso na Ditadura e ainda sofria críticas de amigos e familiares”, diz Rosenberg, que trabalhava de camiseta numa sala no gabinete do ministro. “Eu era da ala acadêmica, que não usava terno e gravata.” Todas as pessoas que trabalharam com Delfim Netto durante os Anos de Chumbo garantem que ele nunca perdia o bom humor.

Eterno conselheiro: com a chegada à presidência do amigo Michel Temer, o economista Delfim Netto voltou a ter forte influência na agenda econômicaSua principal arma para se manter como o civil mais poderoso entre os militares sempre foi a informação, e, para isso, era estratégico ter pessoas de confiança espalhadas por toda a máquina pública. “Almoçávamos todos os dias e cada um da equipe contava sobre os problemas”, diz Rosenberg. “Com isso, o gordo sabia de tudo o que estava acontecendo”. Gordo era um dos apelidos de Delfim Netto, que nunca escondeu o gosto por bons restaurantes nem se preocupou com regime. Atualmente, em São Paulo, seus prediletos são os italianos Roma, no bairro de Higienópolis, e Gero, do Grupo Fasano, nos Jardins.

DEMOCRACIA Encerrada a ditadura, Delfim Netto foi eleito deputado federal – seriam cinco mandatos consecutivos até 2006. Ainda com o País abalado pela morte de Tancredo, o presidente José Sarney assume e começa a montar sua equipe. Ele precisava de um assessor econômico e o nome escolhido foi o de Rosenberg. Em um jantar com Sarney, em Brasília, Rosenberg recusou o convite. Ele voltou a São Paulo e recebeu um telefonema às 6 da manhã. Do outro lado da linha, a voz inconfundível do seu ex-chefe Delfim. “Você é um filho de uma p… Quem você pensa que é para dizer não a um presidente da República?”, indagou. “Prometa para mim que se isso acontecer de novo, você fala comigo antes.” Rosenberg prometeu. Dois minutos depois, toca o telefone. “Era da Presidência me convidando de novo para o cargo”, diz Rosenberg. “Não tive escolha. Aceitei por causa do gordo.”

Delfim Netto garante que não foi consultado sobre o Plano Cruzado, “o maior estelionato eleitoral de que se tem notícia”, que congelou preços para angariar popularidade. Na eleição de 1989, votou em Fernando Collor de Mello, alinhado com a Fiesp, cujo presidente Mario Amato dizia que 800 mil empresários deixariam o País em caso de vitória do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Sobre o fracasso do Plano Collor, que confiscou a caderneta de poupança dos brasileiros, Delfim Netto disse que aquilo “só dava certo no quadro negro”. “Fui consultado pelo Collor somente depois que a coisa tinha acontecido.” Com o impeachment de Collor, assumiu Itamar Franco, “o melhor presidente”, na sua opinião. “Com todas as suas idiossincrasias, sem o Itamar, jamais teria havido o Plano Real”, afirma.

Milagre econômico: a gestão de Delfim Netto no Ministério da Fazenda gerou crescimento acima de 10% ao ano. Na foto, o ministro ao lado do presidente médici (ao centro)Curiosamente, foi durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso que Delfim Netto se manteve mais distante do Palácio do Planalto. Os dois se conheciam desde os tempos da universidade. Suas críticas e seus conselhos chegavam a FHC através de interlocutores ou da imprensa. O ex-ministro, por exemplo, não concordava com a sobrevalorização do câmbio entre 1995 e 1998, que “matou a indústria brasileira”. “Em 1999, vem o Armínio Fraga, presidente do Banco Central, desvaloriza o câmbio e passam a fazer a coisa corretamente”, diz.

Mais curioso ainda foi que a sua reaproximação com o Poder se deu num governo de esquerda. Em 2002, quando Lula despontava na liderança da corrida eleitoral, Delfim Netto ficou amigo do petista.

Os dois se conheciam desde a década de 1970. Após o primeiro choque do petróleo, em 1973, o então ministro da Fazenda foi conversar com o líder do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para explicar que a situação econômica iria piorar. “O Lula sempre foi um grande negociador”, diz. Essa admiração não é extensiva à ex-presidente Dilma Rousseff. Embora evite criticá-la publicamente – “ela é uma pessoa honesta” –, ele nunca aceitou o fato de que a petista não seguia os seus conselhos. Delfim Netto salienta, no entanto, que a sociedade aplaudiu as intervenções populistas no setor elétrico e na taxa de juros. “A Dilma não errou sozinha.” O seu rompimento oficial se deu após o escândalo das pedaladas fiscais. “Daí eu achei que tinha passado dos limites”, afirma.

Com o impeachment de Dilma, chega à Presidência o seu amigo e colega de partido (MDB), Michel Temer. Delfim Netto voltou a ter protagonismo, colaborando com o documento “Uma Ponte para o Futuro”, que propõe reformas para recolocar o Brasil nos trilhos. “Ninguém tem a vivência de política econômica que ele possui”, diz Ikeda, sócio e ex-aluno do mestre. “Todo mundo quer ouvi-lo.” Delfim Netto avalia que o presidente Temer é um exímio articulador político, que só não aprovou a reforma da Previdência por culpa das gravações do dono da JBS, Joesley Batista, em 2017. “Mesmo assim, nenhum governo fez em 20 meses o que o Temer fez”, afirma.

Sobre as eleições deste ano, não arrisca palpite, mas salienta que Ciro Gomes, Joaquim Barbosa e Geraldo Alckmin não podem ser menosprezados. Do AI-5 à Lava Jato, nenhuma pergunta o deixa irritado. Indignado, sim, com a operação da Polícia Federal no âmbito da Lava Jato, em sua residência, no dia 9 de março. Ele explica que prestou consultoria para montar um consórcio no leilão da Usina de Belo Monte. “Recebi R$ 3 milhões como honorários, em parcelas e de várias fontes. Tudo declarado.”

Aos 90 anos, Delfim Netto é o último de uma geração de pensadores que olhavam o País no longo prazo, como Simonsen, Campos e Bulhões. Ele esbanja saúde e lucidez ao relembrar dos fatos históricos, mas, nos últimos dez anos, pregou dois sustos em seus amigos e familiares. Em 2009, ficou internado por dois meses no Incor (SP), dos quais 18 dias em coma. No ano passado, passou mal em sua consultoria e foi socorrido pela sua secretária, Beti Czarny Kogan, que trabalha ao seu lado há 32 anos. Não existe reunião ou contratação de palestras – chegou a fazer 60 por ano – que não passe pela agenda da Beti. Além dos políticos, grandes empresários sempre ouviram os seus conselhos.

“Na época da ditadura, era impossível entrar no Brasil sem o aval dele”, diz um executivo de multinacional. O mestre ainda datilografa seus artigos em uma máquina de escrever Olympia, que possui há quase 50 anos. Continua um leitor voraz de jornais, revistas e livros – lê em inglês, francês, espanhol e italiano. Após a pausa para celebrar seu 90º aniversário, o economista voltará ao batente. Parar de trabalhar? Jamais. “Eu tive muita sorte. Nunca me senti trabalhando. Apenas vivi”, diz o mais poderoso economista do Brasil.