Alguns desafios do Capitalismo contemporâneo

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A sociedade mundial vem passando por grandes transformações nos últimos vinte anos, cujos impactos sociais são generalizados, impactando sobre todos os grupos sociais, indivíduos e coletividades, ninguém pode se dizer alheio a estas transformações, uns ganhando muito com todas estas alterações, enquanto outros se veem perdendo cada vez mais, para onde vai esta sociedade ainda é uma grande incógnita que incomoda e preocupa a todos os cidadãos.

Vivemos uma onda de incremento tecnológico crescente, os robôs, as máquinas e as tecnologias estão ganhando espaço em todas as áreas e setores, removendo custos de produção, ampliando a produtividade e incrementando os lucros dos grandes grupos econômicos, mas ao mesmo tempo, diminuindo o emprego, transformando a empregabilidade, aumentando a incerteza, criando mais medos, instabilidades e desesperanças.

O grande desafio desta sociedade dominada pelo capitalismo concorrencial está na essência do sistema do capital, que transforma tudo em mercadorias e tenta quantificar ações, gestos e políticas, criando um ambiente dominado pelas metas, pelas cobranças e pela concorrência avassaladora entre as pessoas, entre os Estados e entre as culturas, num ambiente caracterizado pela força, pela competição e pela desagregação dos laços sociais, numa sociedade onde o poder se concentra, cada vez mais, nas mãos dos mais ricos, fortes e poderosos.

Nesta sociedade contemporânea, centrada no poder do dinheiro e na força do capital tudo se compra, tudo está disponível desde que se tenha recursos monetários para adquirir, compra-se neste grande mercado desde o amor, o prazer, o sexo, a saúde, a educação, além de produtos e mercadorias das mais sofisticadas possíveis, etc… estamos numa sociedade onde compramos não apenas o prazer e o gozo sexual, mas compramos amor verdadeiro.

O aumento da tecnologia vem transformando a sociedade global, as máquinas e os equipamentos fazem, cada vez mais, parte da vida e do cotidiano de todos os indivíduos, auxiliando-os em suas decisões e gerando novos mercados, empregos e possibilidades e, ao mesmo tempo, destruindo antigas ocupações e serviços importantes, exigindo dos indivíduos uma maior flexibilidade e adaptabilidade para sobreviverem neste mundo cada vez mais concorrencial, inseguro e cheio de incertezas e desafios.

Muitas das tecnologias que estão ganhando espaço na vida das pessoas, começaram a ser construídas nos anos 70 do século passado, um período de grandes mudanças na estrutura produtiva internacional, neste momento percebemos a ascensão da chamada Terceira Revolução Industrial, marcadas pelo desenvolvimento da informática e das telecomunicações que culminaram na internet, que propiciaram ao mundo a ascensão de um novo modelo tecnológico, atualmente conhecido como a Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, com desafios cada vez maiores e mais complexos para os indivíduos.

O crescimento da tecnologia, poucas vezes estudadas pela sociedade, pode ser visto como uma parceria entre dois agentes centrais na sociedade, de um lado o capitalista, dotado de grandes somas financeiras e desejosos de aumentar seus ganhos e, de outro, dos cientistas, sempre dispostos a vender seus conhecimentos em troca de remuneração, visando melhores condições de trabalho e pesquisas científicas, a junção destes dois grupos impulsionou as grandes descobertas científicas e tecnológicas que mudaram a sociedade mundial, desde o surgimento de novos produtos, mercadorias, bens e serviços, que na atualidade estão disponíveis para todos os grupos e classes sociais.

Estas máquinas e tecnologias trouxeram grandes melhorias nos vários setores da sociedade, melhorou a produtividade da economia e gerou ganhos consideráveis para todos os grupos sociais e econômicos mas, ao mesmo tempo, passou a ditar as regras dentro da sociedade e a exigir de todos os setores uma busca constante por inovação, concorrência e produtividade e, ao mesmo tempo, uma transformação na ética que domina a sociedade, onde os valores passaram a ser dominados pelos interesses do capital e da acumulação, onde a ética do dinheiro passou a ser dominante e hegemônica, quem possui o capital domina a sociedade, cria as leis, usufrui dos benefícios e das descobertas mais modernas em detrimento daqueles que não o capital, servindo apenas para o trabalho desgastantes, degradante e com remuneração mais modestas.

O poder do capital é tão intenso nesta sociedade, que são eles os grandes donos do poder político e do poder eleitoral, são eles que criam as regras e as leis e dominam as agendas políticas, controlam o Estado e definem os grandes ganhadores das contendas do cotidiano da política, a ausência da população dos debates políticos, estimuladas por estes grupos, concede a estes grupos econômicos e financeiros um amplo poder de dominação na sociedade, garantindo-lhes uma forte capacidade de perpetuação nas entranhas do poder e uma manipulação dos interesses da coletividade, para isso se utilizam de seu controle das mídias tradicionais e do financiamento de campanhas eleitorais.

Esta sociedade percebe um enfraquecimento da democracia representativa, o modelo criado para garantir aos grupos sociais um maior controle sobre as discussões e debates sociais se perdem em proveito dos interesses do capital que, muitas vezes são vendidos para o grande público como o interesse de toda sociedade e na verdade se restringe aos interesses imediatistas dos donos do poder, mecanismo este muito bem retratados em obra clássica por Raimundo Faoro em Os donos do poder, uma leitura fundamental para todos que queiram pensar e refletir sobre muitos dos dilemas do Brasil, um país que, em pleno século XXI, ainda apresenta fortes traços de patrimonialismo, corporativismo e corrupção.

Os donos do poder no Brasil se apegam a estratégias de dominação antiga e ultrapassada, seus ganhos imediatos os impedem de pensar e refletir sobre o futuro, a população que durante muitos anos se viu deitada em berço esplêndido está dando mostras de crescente descontentamento com os rumos do país, de um lado percebemos as fortes manifestações nas redes sociais, marcadas por um clamor contra a impunidade e pela corrupção generalizada, além de uma forte percepção, por parte da população, de que suas vidas estão ficando piores do que eram em décadas anteriores, muitos filhos ao refletirem sobre seu futuro, acreditam que não devem conseguir os mesmos ganhos que seus pais criando, com isso, uma sensação de frustração e desesperança que, em muitos casos, levam os indivíduos a cometer suicídio ou a um mergulho sem volta no mundo das drogas e da depressão, males que assustam cada vez mais a sociedade capitalista.

A educação na contemporaneidade se transformou em uma das mercadorias mais importantes, antes vista como um direito dos indivíduos, na atualidade a educação é vendida como a panaceia do mundo, as escolas se transformaram em verdadeiras multinacionais do conhecimento, faturam bilhões e bilhões de dólares e entregam diplomas de péssima qualidade, para baratear sua mercadoria atuam em várias frentes, primeiramente se aliam a bancos de investimentos para aumentar seu capital financeiro e monetário, de outro restringem os ganhos dos professores ao mínimo permitido pela legislação, além de usar seus poderes políticos para reduzir as proteções e ganhos legais dos docentes visando um maior ganho financeiro imediato e vender ao público em geral uma mercadoria ao menor preço possível.

Outra estratégia clara para abarcar cada vez um público maior de alunos, está no crescimento do ensino a distância, uma estratégia imensamente rentável que garante aos grandes grupos condições de mercado que destroem os grupos menores e os levam a dominar o mercado educacional, perpetuando um modelo educacional que pouco se preocupa com a qualidade da educação, enxergando-a como uma verdadeira mercadoria que serve para garantir lucros exponenciais, neste ambiente percebemos uma fragilização dos instrumentos de regulação estatal, que ora fragilizado pouco consegue impor políticas e se comporta como um verdadeiro garantidor do interesse privado.

O mesmo ambiente encontramos nos mais variados setores da sociedade, a saúde vista como fundamental para todos, se transformou em um dos mercados mais rentáveis do grande capital, que controlam os grandes laboratórios, impondo valores, políticas e fazem com que os seus interesses se perpetuem para garantir lucros assustadores, neste ambiente os mais carentes se veem jogados como verdadeiros animais nos sistemas de saúde pública, cada vez menos aparelhados e seus serviços mais degradados.

As situações descritas acima não devem ser vistas como casos isolados, o sistema de segurança pública também se encontra nas mesmas situações, os interesses do grande capital está em forte crescimento e passam a dominar as agendas, atuando fortemente ao lado de empresas de armas e grupos detentores de interesses relacionados ao mercado bélico, este crescimento se dá justamente com a degradação dos serviços públicos na área de segurança, onde muitos estados não possuem o mínimo necessário para a proteção da sociedade, onde os presídios estão em péssimas condições e servem como verdadeiras fábricas de produção em massa de delinquentes e desocupados.

O capital domina todas as agendas e interesses da sociedade, transforma tudo em mercadorias, nesta sociedade compramos o prazer e os gozos mais intensos com direitos a repetições, desde que se tenha condições econômicas e financeiras para financiar seus prazeres, compramos os carros mais potentes que nos abrem portas em condomínios e residências de luxo para negócios altamente atraentes e rentáveis, nos garantem as fotos e as imagens mais belas nas colunas sociais, os flashes mais curtidos em todas as redes sociais e os prazeres mais intensos da gastronomia nacional e internacional.

Vivemos em uma sociedade em forte degradação, todas as estruturas da sociedade estão em crise, as famílias, as escolas, os poderes constituídos, os relacionamentos, os valores, os desejos, os sonhos, as vontades, dentre outros, mas o agente responsável por todas estas mudanças é o poder desmesurado do grande capital, este domina as mentes e transforma a sociedade de acordo com seus interesses mais imediatos.

Os relacionamentos são pautados pelos interesses monetários e se transformaram em um verdadeiro negócio, as pessoas buscam aqueles que possuem recursos econômicos para se relacionar, querem segurança em um mundo marcado pela insegurança e pelas incertezas, aqueles que possuem boa aparência e “parecem” ser bem sucedidos, ganham espaço e conseguem os “melhores relacionamentos enquanto, aqueles que não possuem recursos são deixados para trás, a lei do mercado funcionando bem em todas as áreas e setores.

O capital nos abre muitas portas e nos garante os mais interessantes programas mas, ao mesmo tempo, está gerando graves desajustes e desequilíbrios emocionais, psicológicos e espirituais para os indivíduos, criando verdadeiras compulsões e patologias contemporâneas, levando os psicólogos e as clínicas de psiquiatrias a aumentar seus faturamentos e os laboratórios a venderem mais e mais remédios para depressão, ansiedade e distúrbios variados.

Vivemos em um mundo doente, somos seres doentes emocionalmente, o capital foi criado como um instrumento de regulação de trocas e satisfação dos interesses primários, com o passar dos tempos acabou ganhando tanta força e poder, que na sociedade contemporânea somos tragados pela força do dinheiro e fazemos com que ele nos domine e nos controle, pensamos o mundo superficialmente e nos entregamos aos males do capital, estamos condenados a uma perpetuação de mediocridade e insignificância constantes. Vivemos numa contradição constante, se aderimos ao sistema nos desumanizamos e passamos a pensar sempre pela lógica dos interesses monetários e financeiros, se nos esquivamos deste sistema somos literalmente deixados de lado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eficiência e democracia na era digital

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 Ricardo Abramovay –  Publicado no Valor Econômico – 4 de fevereiro de 2019

E se não precisássemos mais de leis? Se a conduta a ser adotada pelos indivíduos, pelas empresas e pelos governos estivesse codificada em aplicativos em cujo funcionamento não podemos interferir? Quando o automóvel autônomo estiver em circulação, é bem provável que ele elimine a possibilidade de transgredirmos as leis de trânsito. Já há condomínios em que, ao passar o cartão de identificação na catraca de entrada, o elevador só autoriza que o indivíduo vá ao andar a que declarou destinar-se. Em alguns anos, ao encomendar uma pizza de calabresa, o robô que o atende poderá ponderar que seu colesterol está alto e que esta encomenda poderá lhe trazer problemas com seu plano de saúde…

Isso altera de forma substantiva nossa relação com as leis. Até aqui, a cidadania consiste no estabelecimento de regras, cuja desobediência implica punições. Naquilo que Karl Popper chamou de sociedades abertas, estas regras são estabelecidas com base no debate público, submetem-se a críticas vindas dos mais diversos setores e exigem uma instância que as legitime, para que sejam incorporadas aos costumes cotidianos. Mas mesmo normas não consolidadas em leis e que permitem nossa vida comum podem não ser cumpridas e serão objeto de punição a quem não as obedece.

A internet e sobretudo a Internet das Coisas estão abrindo caminho a um mundo em que, cada vez mais, as leis serão convertidas em códigos embutidos nos próprios objetos que usamos. Em alguns aspectos, isso pode até ser positivo para a ordem pública. O condomínio será mais seguro. Os acidentes de carro e os congestionamentos serão reduzidos. Se não paguei o aluguel, o cartão que abre a porta de minha casa não vai funcionar e assim não será necessário toda a parafernália jurídica hoje existente para lidar com a inadimplência.

Mas uma vez que nossa sociabilidade, nossa relação com os outros e com as coisas é crescentemente determinada pelos códigos inscritos nos objetos que compõem nosso cotidiano (e não só os celulares e os computadores), estes ganhos de eficiência correm fortemente o risco de sacrificar os valores centrais da vida democrática, a começar pelas liberdades e pela dignidade das pessoas. Em vez de o comportamento ser pautado por regras sociais estabelecidas pela comunidade ou pela exigência de respeito àquilo que o Estado legitimamente estabelece por meio de leis, são nossos aplicativos que dirão o que podemos fazer. A regulação será perfeita, matematicamente determinada e consolidada em algoritmos.

O WhatsApp, por exemplo, acaba de limitar o poder multiplicador daquele que se transformou num dos principais instrumentos de influência política em diversos países do hemisfério sul, reduzindo para cinco o número de mensagens que cada pessoa pode reenviar. Isso ocorreu na Índia, ano passado, primeiramente, em caráter experimental, após onda de linchamentos contra indivíduos acusados de abduzir crianças. Na Malásia, no Quênia e evidentemente, no Brasil, o WhatsApp tornou-se vetor de difusão de informações absurdas, mas verossímeis por serem mandadas por pessoas da confiança de quem as recebe. Na verdade, como mostram os trabalhos recentes do Tactical Technology Collective, o que foi criado como forma de comunicação entre pessoas converteu-se num dos principais mecanismos de influência sobre a opinião pública.

Esta influência mostrou-se tão perigosa que o próprio WhatsApp decidiu limitar o alcance de seu dispositivo. A limitação é certamente positiva. No entanto, o que chama a atenção é que a gestão de um tema tão crucial para o futuro da democracia (como se formam as opiniões das pessoas? Que curadoria existe para estimular o espírito crítico da população e sua capacidade de checar as informações que recebe?) vem de uma esfera estritamente privada. Pior: como o Facebook controla o WhatsApp e o Instagram, esta esfera privada funciona na prática como monopólio. E como mostra o excelente e recém publicado livro de Jamie Susskind (Future Politics) as tecnologias digitais tornaram-se hiperpolíticas por atingirem dois ingredientes fundamentais da vida pública, a informação e a comunicação.

As mensagens de ódio e a desinformação adquiriram tal dimensão que o Facebook contratou 15 mil pessoas para filtrá-las. O New York Times publicou em sua edição de 28/12/2018 o resumo de um relatório de 1.400 páginas (vazado por um funcionário da empresa sob condição de anonimato) mostrando um dos maiores paradoxos da vida política atual: com 510 mil posts em mais de cem idiomas e 136 mil fotos por minuto, postados por seus 2,3 bilhões de usuários ativos mensais, o Facebook teve que contratar pessoas que têm de cinco a dez segundos por post para determinar se mensagens suspeitas devem ou não ser transmitidas.

O contraste entre a sofisticação tecnológica da plataforma e o caráter rudimentar dos métodos de controle às mensagens de ódio mostra, na opinião de John Naughton, professor de Cambridge e articulista do diário britânico The Guardian, que o Facebook já não é capaz de gerir o sistema complexo cuja emergência ele propiciou. E a resposta a esta incapacidade é autoritária: o Facebook acabou convertendo-se em árbitro do que pode ou não passar pelo discurso da sociedade global. Automatizar esta arbitragem, incorporá-la a códigos de funcionamento dos aplicativos em que estamos imersos no cotidiano é tanto mais grave que os algoritmos a partir dos quais eles funcionam não são discutidos com a sociedade e são controlados de forma monopolista. Substituir as virtudes da cidadania pela eficiência dos algoritmos é bloquear o caminho pelo qual passa a democracia.

 

Otimismo econômico e incertezas políticas: uma análise do primeiro mês de governo

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Depois de uma eleição conturbada, marcada por facadas, acusações, discussões e confrontos generalizados, o governo Jair Messias Bolsonaro inicia seu mandato e, com ele, muitas esperanças, expectativas positivas, além de preocupações, medos e incertezas, começamos uma nova era para o Brasil ou vamos mergulhar no conhecido e rejeitado mais do mesmo?

Estamos começando o segundo mês do novo governo, sabemos que ainda é muito cedo para investigações mais aprofundadas e questionamentos mais elaborados, nesta data o novo Congresso Nacional está tomando posse e, com ele, aumentam as expectativas de toda a sociedade para que as reformas essenciais e urgentes que o país precisa, sejam iniciadas e encaminhadas, dentre elas destacamos a Reforma da Previdência, a Reforma Tributária e a Reforma do Estado, dentre outras importantes alterações que são fundamentais para que possamos viabilizar o Brasil, construir uma nação verdadeira, não apenas para os próximos quatro anos, mas para uma nova geração de brasileiros que quando nascem perderam a esperança de ascensão social e melhoria de vida, muitos migrando para outros países e para outras regiões do mundo, além de vermos tantos outros cidadãos se entregando para a bandidagem e para a desesperança, o desafio é enorme e o governo não pode abrir mão desta oportunidade histórica.

De um lado encontramos nomes de peso que foram escolhidos para a composição do novo ministério, como o ex-juiz Sérgio Moro, designado para o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e o economista Paulo Guedes, que comanda o Ministério da Economia, nomes de grande expressão profissional em escalas nacional e internacional, que deram ao governo Bolsonaro a envergadura que este precisava, ainda mais com tantas reformas e reestruturações que demandam o país para se reconstruir e se preparar para os novos ventos da sociedade internacional.

Ambos os nomes são cruciais para o sucesso do novo governo, do lado da justiça a agenda dominante gira em torno do combate a corrupção e da impunidade, demandas fortes da sociedade e que receberam grande atenção da população nesta última eleição, a incógnita e o desafio é saber como construir os consensos políticos para o combate a corrupção mesmo sabendo que para isto, faz-se necessário a aprovação de inúmeras propostas de alteração constitucional.

No campo econômico, percebemos grande euforia na Bolsa de Valores, cuja valorização bateu todos os recordes neste primeiro mês, os investidores estão adorando as propostas do economista Paulo Guedes que, dentre outras coisas, está propondo um amplo processo de desestatização, abertura econômica e desburocratização, estas medidas agradam ao grande capital nacional e internacional, o grande desafio está na questão fiscal, se o governo conseguir aprovar uma reforma ampla da previdência, que inclua todos os grupos e reduza os privilégios, os ganhos políticos devem impulsionar a economia para períodos de forte crescimento econômico, não teríamos receio de apostar em um crescimento rápido de uns 3% ao ano na próxima década, com ganhos de emprego, renda e melhorias sociais representativas.

Se estas medidas forem aprovadas pelo Congresso Nacional, os ganhos serão substanciais para toda a sociedade, mas não podemos deixar de refletir sobre as dificuldades e das possibilidades destas medidas não serem aprovadas, neste caso se abre uma grande incógnita para o governo federal e as perspectivas econômicas, principalmente no campo fiscal, serão bastante negativas, levando a economia a uma recessão e grande instabilidade, com incremento no desemprego e piora na renda agregada, além de um aumento no risco país e uma fuga de dólares, com desvalorização cambial, estouro da dívida empresarial e do déficit público.

Alguns analistas destacam o potencial econômico do país, os investidores internacionais veem o país como um grande investimento, se o governo conseguir aprovar as medidas liberalizantes o Brasil deve atrair um soma de mais de 100 bilhões de dólares, recursos estes para as mais variadas áreas e setores econômicos, com impactos bastante positivos para a economia do país, fazendo da próxima década um momento de forte crescimento econômico e ganhos de produtividade.

O sucesso do governo Bolsonaro passa pelo sucesso inicial destas duas grandes áreas e ministérios, Justiça e Economia, ambas necessitam de forte apoio parlamentar do Congresso Nacional para a aprovação de leis e alterações jurídicas e institucionais, se o governo conseguir esta costura os ganhos serão de todos, agora se o apoio político não se concretizar os riscos de fracasso são grandes.

De outro lado, encontramos um grande número de ministros sem expressão, tecnicamente medíocres e com pouco conhecimento da burocracia do Estado, como nas Relações Exteriores, na Educação, no Meio Ambiente e nos Direitos Humanos, com isso, percebemos fortes críticas das comunidades nacional e internacional com relação a estas escolhas que, muitas vezes são feitas para agradar interesses religiosos e corporativos em detrimento de profissionais capacitados, competentes e reconhecidos, tudo isso pode gerar retrocesso em programas exitosos e necessários e atrasos institucionais, com custos econômicos e financeiros elevados.

A composição do governo está dividida em dois grandes eixos, de um lado encontramos um grupo liberal, internacionalista e adepto da modernização do Estado e, de outro, um grupo mais conservador, evangélico, estatista e crítico do globalismo, a mediação deste conflito será fundamental para o sucesso deste novo governo, o papel exercido pelo presidente dará o rumo correto deste novo modelo que está se implantando na sociedade brasileira, se o primeiro tiver êxito os ganhos podem ser interessantes, agora, se o segundo for o vencedor estamos em um impasse e numa incerteza crescentes.

Algumas medidas tomadas pelo governo nestes trinta dias foram para agradar seu público cativo, onde destacamos as relacionadas a posse de armas, a publicação dos maiores empréstimos e devedores do BNDES e o apoio aos governo de Israel e dos Estados Unidos, buscando um alinhamento direto que pode nos gerar graves problemas nas negociações de comércio internacional com países árabes e com a China, atualmente o maior parceiro comercial do Brasil.

Alguns analistas políticos e intelectuais debatem se a democracia está em risco no Brasil na atualidade, argumentos temos para defender ou para rechaçar esta ideia, acredito que não temos elementos claros ainda para acreditar que caminhamos para um governo mais autoritário, vejo este momento com grande apreensão, a ascensão de um governo fortemente comprometido com as teses de direita no campo da economia é algo novo e desconhecido no país, mas devemos destacar, que este governo foi eleito democraticamente e chancelado por mais de 57 milhões de votos, o que dá ao presidente eleito uma grande legitimidade para governar e defender suas ideias, cabendo aos grupos que perderam o pleito, se organizarem como oposição propositiva, mas que pensem no país e não em seus interesses eleitorais, como vimos muitas vezes em momentos nada distantes.

Nestes trinta dias de governo pouco vimos de avanço em medidas econômicas, as propostas de desestatização são interessantes mas ainda precisam ser detalhadas, a abertura econômica deve ser feita com cautela numa economia internacional altamente competitiva, os acordos comerciais e de integração econômica devem ser revistos e, muitos deles, aprofundados e consolidados para estimular a inserção do Brasil na economia global, mas é importante destacar que os custos iniciais destas políticas liberalizantes podem não ser tão auspiciosos como muitos estão imaginando, para evitar constrangimentos maiores, é fundamental que o Estado esteja em condições de dar o apoio institucional para os grupos mais afetados, sob pena de uma piora nos indicadores macroeconômicos e uma maior degradação social.

Como as propostas econômicas estão sendo costuradas nos gabinetes dos ministérios e das secretarias especializadas, o que vimos neste período foi uma avalanche de denúncias contra o filho do presidente, estas denúncias devem ser investigadas e os responsáveis devem ser punidos se necessário, dentre elas uma das denúncias mais graves estão vinculando a família aos milicianos do Estado do Rio de Janeiro, esta denúncia é grave e deve ser investigada pelos órgãos competentes, afinal, ninguém esta acima da lei, todos somos cidadãos e devemos respeitar as diretrizes da Constituição Federal.

Um novo governo gera sempre novas expectativas na sociedade, depois de um período de forte desaceleração econômica, com o produto interno bruto caindo mais de 9%, todos almejamos um crescimento econômico mais sólido e uma melhora nas questões sociais, neste período de crise vimos o país mergulhar em grande desilusão e desesperança, o desemprego atingiu mais de 12 milhões de pessoas, a violência cresceu de forma acelerada, apenas em 2017 foram assassinados mais de 63 mil pessoas, todo este ambiente de caos e desesperança prescindem de uma agenda sólida de combate aos desperdícios econômicos e financeiros, mesmo neste ambiente de crise e instabilidade, o setor bancário apresentou ganhos crescentes, um sistema bancário sólido é fundamental para a economia de um país, mas esta solidez não pode se dar em detrimento dos desequilíbrios da população mais pobre e degradada, se estamos em uma situação negativa, todos os grupos devem dar seu quinhão de sacrifício para que o sociedade melhore para todos, o Estado precisa diminuir seus tentáculos, ganhar eficiência e aumentar a sua produtividade, visando uma sociedade onde os serviços públicos se tornem um motivo de orgulho e admiração, sabemos que isto não se constrói de um dia para o outro e nem mesmo de um governo para outro, mas devemos ambicionar esta melhora e trabalhar para sua efetivação afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Somos todos médiuns: uma reflexão sobre os (des)caminhos da mediunidade

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A Doutrina Espírita nos trouxe inúmeras informações relevantes para a compreensão  da sociedade, da vivência em comunidade e da relação existente entre os mais diversos mundos que nos cercam, mostrando-nos a existência do mundo imaterial ou espiritual, que está diretamente atrelado ao mundo físico e que nos influência muito mais do que nós imaginamos, muitas vezes nos conduzindo e nos influenciando muito mais do que queremos e percebemos.

A mediunidade não foi descortinada pela Doutrina dos Espíritos, desde os primórdios da humanidade se tem informações e registros de que a relação entre os mais diferentes mundos era uma constante, eram as bruxas, as pitonisas, as deusas e os magos que se diziam em contato com o mundo espiritual e detentores de poderes sobrenaturais, com força e disposição para atitudes que variavam no bem ou no mal, dependendo do caráter e da moral do indivíduo.

Quando o Espiritismo nos foi revelado por Allan Kardec, em 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, as antigas crenças em bruxos e bruxas perderam força e abriram espaço para uma nova matriz de conhecimento, nascia para o grande público uma nova forma de se pensar a relação entre os seres humanos e a imaterialidade, com respostas para todas as perguntas e indagações dos indivíduos, sem dogmas, adorações, cultos externos e uma grande dose de racionalidade, reflexão e conhecimento para levar os seres humanos a compreenderem as bases que sustentam a sociedade.

Nas revelações da Doutrina Espírita, a sociedade passou a compreender que somos todos médiuns, todos nós sentimos a influência, uns mais e outros menos, de entidades e espíritos desencarnados e que estes podem nos influenciar nas nossas decisões cotidianas, nos nossos sentimentos e até mesmo em nossos pensamentos, desde que estejamos abertos e sintonizados a estas entidades espirituais.

Na relação existente entre os dois planos da vida, somos todos os momentos bombardeados por sentimentos e pensamentos oriundos de amigos ou inimigos espirituais, se estamos sintonizados com os bons espíritos, sentimos as suas influências em nossas vidas, sentimo-nos mais calmos, mais equilibrados e serenos e, com isso, percebemos nossas vidas mais agradáveis e promissora.

Se abrimos espaço para os espíritos mais desequilibrados e momentaneamente dominados pelos vícios,  sentiremos sua completa influência, dominando-nos em nossos pensamentos e atraindo para nosso campo energético, energias mais pesadas, densas e desequilibradas e, com isso, perceberemos claramente nossos caminhos cotidianos mais desequilibrados e distante do progresso espiritual, ainda mais em uma sociedade marcada pela busca constante pelo hedonismo e pela acumulação material que muitas vezes cega as pessoas e atropelam os valores morais.

Encontramos neste embate um grande conflito entre o bem e o mal, um confronto existente dentro de todos os indivíduos, num momento cultivamos o bem e os bons pensamentos e colhemos equilíbrio e serenidade enquanto, em outros momentos, somos dominados por sentimentos menores, atraímos desequilíbrios generalizados e vivemos numa constante de desesperanças e desequilíbrios.

A Doutrina Espírita nos mostra que este embate existente entre o bem e o mal é algo individual e totalmente normal no atual estágio em que vivemos neste mundo físico e material, todos nós vivemos neste dualismo, não existe ninguém neste mundo que é somente bom e ninguém eminentemente mal, somos um misto de todos estes sentimentos difusos e generalizados, dominar os pensamentos negativos e cultivar os bons sentimentos é sinal do progresso e do crescimento espiritual.

Muitas pessoas criticam as teses da Doutrina dos Espíritos e acreditam que, como não conseguem enxergar e visualizar os espíritos no cotidiano, veem-na apenas como mais uma religião dogmática, castradora e conservadora, se não conseguem ver com seus próprios olhos desacreditam no potencial desta doutrina e a colocam no mesmo patamar de muitas outras correntes religiosas, denegrindo seus ensinamentos e contestando alguns de seus conceitos mais importantes, a mediunidade e a reencarnação.

A mediunidade nos foi trazida desde a antiguidade clássica, coube a revelação espírita desnudar o caráter dogmático deste conceito e nos trazer uma visão mais científica e filosófica, somos todos médiuns é uma das teses mais completas desnudada pelo Espiritismo, a mediunidade não se concentra apenas na visão, existem inúmeras mediunidades, desde a psicografia, a psicofonia, a oratória, dentre outras mais variadas formas de sentir a existência de um mundo novo e com potencial de grande explicação das estruturas que sustentam a sociedade.

Até meados do século passado, as comunicações dos espíritos eram mais intensas e ocorriam nos mais variados locais, com isso, era muito comum encontrarmos relatos de pessoas que viviam em sítios, fazendas e vilas rurais que viam e ouviam manifestações de espíritos, gerando medos e desequilíbrios generalizados, estes casos escassearam com o passar dos tempos por inúmeros motivos, dentre eles destacamos o crescimento da Doutrina Espírita e dos Centros Espíritas, nestes locais os bem feitores espirituais traziam espíritos para conversações variadas, além de instruções e conversas, desde as mais interessantes e empolgantes até as mais frívolas, fúteis e superficiais.

Destacamos ainda, uma mudança no perfil das comunicações entre o mundo material e o imaterial, depois de inúmeros fenômenos físicos, os espíritos superiores mudaram suas formas de comunicação, alteraram suas estratégias de trabalho, trazendo os espíritos para as conversas nas sessões mediúnicas, onde estes irmãos passavam a ter contato com médiuns psicofônicos, doutrinadores e passistas e, com isso, as conversas se davam de forma mais estruturada e produtiva, com auxílio e esclarecimento.

Muitas pessoas pedem para ver os fenômenos mediúnicos, dizem que podem até acreditar na existência desta comunicação entre os dois polos da vida, mas defendem que para acreditar e confiar nestes fenômenos do mundo espiritual, faz-se necessário fazer como Tomé, para estes indivíduos é necessário ver para crer, se não verem os fenômenos dificilmente estes irmãos irão acreditar nos fundamentos das conversas e das influências dos espíritos sobre os seres humanos.

Para estas indagações, os espíritos superiores dizem que todos terão os seus momentos íntimos de conversão, tudo tem seu tempo, defendem a tese de que cada pessoa terá seu momento de credulidade, como somos imortais e vivemos inúmeras vidas entre os dois mundos, no momento certo cada indivíduo vai perceber que, para compreender o mundo, faz-se necessário estudar Jesus Cristo e a Doutrina Espírita nos mostra os caminhos mais sólidos para compreender as mensagens e os ensinamentos deste grande exemplo para toda a humanidade.

Como somos todos médiuns, como nos mostra Allan Kardec, temos que ter consciência de que somos seres em constante influenciação tanto de espíritos bons como de irmãos que ora se comprazem com o mal, para que esta influência seja positiva e que nos traga progresso material e espiritual, temos que estar sempre vinculados ao bem e aos seres superiores criando, com isso, o mantra e a couraça necessárias para nos fortalecer e debelar os influências de espíritos.

Viver no bem, cultivar bons pensamentos e o hábito da oração são descritos como verdadeiros elixires contra irmãos negativos e que se comprazem com o mal e com a negatividade, esta fórmula é bem conhecida por todos os indivíduos e a sua execução se faz sempre difícil e exige das pessoas uma grande dose de perseverança, transformação e vivência cristã.

Outro ponto interessante a se destacar quando o assunto é mediunidade, muitas pessoas acreditam erroneamente que ser médium vidente, psicógrafo ou psicofônico é um grande dom, veem como se fossem escolhidos por Deus, muitos acreditam que, ao terem estas mediunidades, são pessoas diferenciadas e dotadas de grande poder espiritual. Todas estas mediunidades possibilitam auxiliar e contribuir para o crescimento individual e coletivo da coletividade, porém, faz-se necessário destacar que, sendo detentores destas mediunidades, todos estes indivíduos precisam se entregar ao trabalho como forma de reequilíbrio espiritual, pois se não o fizerem viverão perseguições espirituais cotidianas, muitos médiuns desinformados e desconhecedores destes “dons” mediúnicos vivem como verdadeiros párias de uma sociedade ignorante e  despreparada, onde muitos foram condenados a viver em manicômios e a serem cobaias de tratamentos violentos, como choques e descargas elétricas.

O médium é um verdadeiro para raio que atrai energias boas e ruins, ao adentrar em um local marcado por energias desequilibradas, atrai estas energias e, muitas vezes acaba gerando fortes constrangimentos físicos e emocionais, desajustes estes que na maioria das vezes reverbera para todos os seus familiares, gerando graves desequilíbrios em seus lares e em seus relacionamentos. Muitos querem ser médiuns para auxiliar os desvalidos e para trazer notícias boas e equilibradas, esquecem-se, de que, ao mesmo tempo que, como médiuns podem trazer mensagens boas e salutares podem, ser mensageiros de notícias negativas e desestruturantes.

A responsabilidade de ser médium é muito grande, embora todos tenhamos algum grau de mediunidade, o médium ostensivo tem grandes responsabilidades no cotidiano, sua conduta moral precisa estar sempre em evolução, os questionamentos existem e são salutares, mas estes não podem, em momento algum, levar aos questionamentos referentes ao trabalho e de sua crença na Doutrina e na vivência com Jesus.

Os inimigos espirituais estão presentes constantemente na vida das pessoas encarnadas, ao se aproximar ouvem nossos pensamentos e conhecem nossos comportamentos, com isso, conhecem nossas deficiências, nossas vontades e desejos mais íntimos e, quando se aproximam, podem ser descritos não como agressores, como muitas vezes o definimos, mas como convidados, afinal fomos nós que os chamamos e temos imenso prazer em tê-los ao nosso lado.

A mediunidade é uma grande benção de Deus para que consigamos vencer as nossas mais íntimas adversidades, somos dotados de grandes desequilíbrios acumulados em inúmeras encarnações, numas cometemos crimes indescritíveis e em outras fomos cruelmente massacrados por nossos irmãos de caminhada, carregamos todas estas experiências dentro de nossos perispíritos, muitas vezes nos acreditamos vítimas de injustiças e nos colocamos como injustiçados, na verdade não existem vítimas no mundo, o que existem são seres humanos imperfeitos e cheios de desequilíbrios que caminham lado a lado em busca de um lenitivo de amor e de esperança, demoramos muitos anos, séculos e milênios mas, em algum momento, vamos compreender que mesmo sendo longo o caminho e difícil a caminhada, esta é a única forma de nos melhorarmos e progredirmos em prol de uma sociedade melhor e mais harmoniosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alfabetização digital é antídoto contra ódio, diz socióloga

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Para Esther Solano, instrumentalização da educação brasileira gerou cidadãos com baixa capacidade de convívio

DÉBORA MIRANDA – Folha de São Paulo – Ilustríssima

[RESUMO] Socióloga afirma que instrumentalização da educação brasileira gerou cidadãos com baixa capacidade de convívio, o que abriu espaço para a intolerância — em alta na política e em redes sociais.

O antídoto contra o discurso de ódio é a alfabetização digital. Isso é o que sugere Esther Solano Gallego, socióloga, professora da Unifesp e organizadora do livro “O Ódio Como Política – A Reinvenção das Direitas no Brasil” (ed. Boitempo), lançado ainda na esteira das eleições brasileiras de 2018. Para Solano, a reprodução de falas discriminatórias está ligada à educação excessivamente instrumentalizada praticada no país.

“É uma educação muito focada na ideia de formar trabalhadores, que é técnica e esquece a política. Vemos pessoas com ensino superior completo que dizem barbaridades e podem ser muito intolerantes. Essa incapacidade de convívio existe porque muitos brasileiros não foram ensinados a lidar com o diferente. Nem todo mundo está preparado afetivamente e intelectualmente para isso”, afirma a doutora em ciências sociais pela Universidad Complutense de Madri.

Segundo a pesquisadora, “é importante ter uma educação política e crítica, que possa de fato formar cidadãos aptos para conviver com as diferenças e respeitá-las.”

A ruptura entre familiares, casais e amigos ocasionada pelo processo eleitoral do ano passado teve saldo negativo para todo o país, segundo ela. “Não se tratou apenas de ruptura institucional e política, mas de ruptura social. Era enxergar no outro um inimigo continuamente. E o outro podia ser meu filho homossexual, ou podia ser meu namorado petista. É uma ideia profundamente antidemocrática, de não tolerar o convívio com o outro.”

A saída, segundo a socióloga, é a alfabetização digital: educar o brasileiro para que ele saiba encontrar formas responsáveis de se informar por meio das redes sociais e também de se comportar dentro delas.

“No fundo, a gente volta à mesma ideia de um conhecimento politizado e crítico, mas ligado à utilização das redes sociais. O aluno precisa ser ensinado a se posicionar, a agir e reagir. É essencial um ensino que seja voltado também para essa mostra online, para a sociabilidade na internet. A pessoa precisa ter alfabetização digital para saber se a informação que está lendo é verídica, para ter um comportamento minimamente responsável. É importante levar esse tipo de conhecimento para a sala de aula.”

A ideia é que o discernimento individual possa regular o conteúdo a que cada um está exposto, sem interferências drásticas nem controle excessivo do Estado.

“Há, de fato, páginas que muito ostensivamente propagam fake news e aí, claro, elas devem ser retiradas do ar. Mas existe um limite tênue entre o que seria a fiscalização do conteúdo de ódio e de fake news e a censura. É delicado isso. E é um grande medo dos grupos progressistas, que lutaram pelo marco e pela liberdade da internet, que em nome de criar uma nova legislação muito dura contra esse tipo de informação falsa seja provocada uma censura na internet”, afirma ela, que também é a favor de responsabilizar grandes corporações, como Google e Facebook.

As redes sociais funcionam com algoritmos que selecionam o que cada um vai acessar, normalmente de acordo com o que o usuário mais vê, comenta e compartilha.

Assim, criam-se as bolhas, que favorecem o encontro de conceitos semelhantes —e os impulsionam. “Por isso o discurso de ódio encontra um campo bastante fértil nas redes sociais, além do fato de que as pessoas se sentem mais protegidas pela falta de fiscalização e pelo anonimato. Isso desenvolve uma polarização muito clara e uma lógica bélica, cria um muro virtual entre pensamentos distintos.”

A mesma agressividade vem se estabelecendo no Brasil em relação à imprensa. Donald Trump, nos EUA, estabeleceu uma cruzada contra a mídia, destratando jornalistas e desmentindo reportagens na internet.
Estratégia semelhante foi adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que passou a desqualificar o trabalho de jornais, a selecionar quem poderia participar de suas coletivas de imprensa e a usar intensamente as redes sociais para suas colocações.

“Quando a imprensa é atacada, a democracia também é atingida, porque não existe democracia sem acesso à informação. Ter uma imprensa realmente qualificada, que forneça informação de alto nível, significa que os cidadãos vão ter também uma formação política qualificada e de alto nível. Obviamente, um governo demagógico e populista não quer um cidadão que consiga criticar e questionar. Quer um cidadão infantilizado. E, portanto, é um governo que vai favorecer as fake news em detrimento da qualidade de imprensa.”

Segundo Gallego, a polarização vem sendo usada como estratégia política no mundo todo. “Se você vir detalhadamente os movimentos de extrema direita nos Estados Unidos e em países da Europa como Itália, Hungria e França, a retórica é sempre a mesma. Como esses grupos não têm normalmente propostas pragmáticas e são muito violentos no discurso, com frequência apostam nesse jogo de colocar o outro polo como inimigo, forçam o ódio político.”

O que chama a atenção é que muitos eleitores que apoiam esses discursos bélicos assumem uma postura defensiva ao dizer que não os compartilham, segundo a socióloga.

Aqueles que apoiam candidatos com falas machistas, racistas ou homofóbicas não se veem nesse papel. “É um discurso típico dessas figuras contemporâneas da extrema direita. São políticos que se mostram como falastrões, de forma meio folclórica, um pouco ridícula e até tosca. Aí as pessoas dizem ‘ele fala um pouco demais, exagera’ e acabam desculpando isso. Mas quando você desculpa um comentário desses, significa que você está sendo conivente com ele. Porque uma piada machista é isso: machista!”

A crise econômica é outro fator que impulsiona o discurso de ódio. No livro organizado por Gallego, o escritor e militante Ferréz discute a propagação de falas discriminatórias nas periferias. “A crise pegou todos, mas aqui é onde tem seu retrato mais cru. E por que não deixar sair esse ódio?, mas da forma de comprar um argumento também de ódio, de separatismo, de preconceito, de sexismo. Tudo isso se compra quando o viver com dignidade se vai”, afirma o texto.

De acordo com a socióloga, a perda do poder aquisitivo e do emprego e a consequente precarização naturalmente causam desespero e frustração. “No final, a pessoa se sente impelida a adotar esse tipo de fala. Os líderes da extrema direita têm discursos duros e se apresentam como os heróis que vão salvar o país. Então, alguém numa situação de desespero acredita no que é possível acreditar. É justamente nos momentos de crise política e econômica que o discurso de ódio ganha sua principal força, nos momentos de vulnerabilidade psicológica e social.”

A frustração com a política tradicional é mundial —em muitos países, especialmente voltada à esquerda— e abriu espaço para que líderes da direita conquistassem o eleitorado. No Brasil, isso ficou ainda mais explícito desde as manifestações de junho de 2013.

“Há um desgaste dos partidos tradicionais e, consequentemente, o fortalecimento de uma lógica antissistema muito forte. Em 2013, houve uma catarse coletiva. E, como o PT, que é um partido de esquerda, mas naquele momento também era o partido do sistema, não conseguiu dar nenhuma resposta à insatisfação popular, fortaleceu-se a direita —desde movimentos como MBL e Vem pra Rua até grupos mais clássicos, que conseguiram canalizar esse descontentamento. O problema é que há uma erosão no sistema como um todo e a percepção de que ele é fisiológico, de que atende apenas a seus próprios privilégios. Assim surgiram os ‘outsiders’ da política.”

Na mesma medida se fortaleceram os movimentos sociais brasileiros —ainda bastante desconectados da estrutura política formal. O #EleNão reuniu mulheres feministas contra a candidatura de Bolsonaro em manifestações por todo o país e em iniciativas que viralizaram na internet.

“É bem importante destacar que o discurso feminista no Brasil e na América Latina é fundamental, porque são países que estão entre os que mais matam mulheres no mundo. É um movimento de luta pela vida, literalmente. Mas há uma reação muito grande da direita com relação às pautas identitárias, que estão cada vez mais presentes na sociedade. Então, virou bacana falar que é racista, que é machista, sob o argumento de que não quer se submeter a essa ditadura do politicamente correto.”

A socióloga destaca também que, quando um líder político assume um discurso discriminatório, a situação se agrava. “As pessoas que já praticam esse tipo de violência cotidiana se sentem legitimadas. É um exemplo bastante negativo e de proliferação do ódio.”

 

 

 

A menina da montanha

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O livro conta a história de Tara Westover que saiu das montanhas de Idaho  para se tornar doutora em História pela Universidade de Cambridge, uma obra de superação e força de vontade, que destaca uma família Mórmon que não levava seus filhos para a escola com receio de os verem envolvidos com as supostas “ideias comunistas” do governo norte-americano, uma leitura fascinante e fundamental.

 

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Alberto Acosta: “Governos progressistas apostaram na expansão do extrativismo”

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Nessa entrevista, Acosta fala sobre os temas de seu último livro e como os governos da América do Sul, progressistas ou não, têm se utilizado das práticas extrativistas para criar um desenvolvimento econômico predatório.

*Raul Galhardi é jornalista – Le Monde Diplomatique.

Político, economista, ex-ministro, ex-presidente da Assembleia Constituinte do Equador, candidato à Presidência e autor de obras como “Pós-extrativismo e Decrescimento — saídas do labirinto capitalista” (Autonomia Literária e Elefante), seu livro mais recente. Pode-se dizer que Alberto Acosta se encaixa na definição de Gramsci de “intelectual orgânico”, para quem o trabalho intelectual deve estar diretamente ligado ao papel de organização e de condução do movimento político transformador.

Nessa entrevista, Acosta fala sobre os temas de seu último livro e como os governos da América do Sul, progressistas ou não, têm se utilizado das práticas extrativistas para criar um desenvolvimento econômico predatório. Ele também aborda o processo que elaborou a Constituição de Montecristi em 2008 e o que restou dela nos sucessivos governos equatorianos, atacando principalmente seu antigo aliado, o ex-presidente Rafael Correa, a quem denomina como “caudilho do século XXI”.

Por fim, faz comentários sobre as eleições brasileiras, que elegeram o representante da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), e diz o que esperar dessa conjuntura política mundial de radicalização do conservadorismo.

Como você explicaria, resumidamente, os conceitos de pós-extrativismo e decrescimento? Eles podem ser aplicados na vida cotidiana dos indivíduos sem a necessidade de políticas públicas governamentais?

O decrescimento e o pós-extrativismo poderiam ser vistos, em uma aproximação bastante simples, como dois lados da mesma moeda. São dois processos em andamento e que começam a convergir.

Especialmente no Norte global, há uma consciência crescente da necessidade de superar o vício do crescimento econômico, que está causando cada vez mais danos ambientais e sociais. No Sul global, a resistência contra o extrativismo aumenta à medida que as sociedades entendem que uma forma de acumulação baseada na exportação de produtos primários as mantém amarradas de maneira submissa ao mercado mundial, em estado de permanente prostração.

O decrescimento, entretanto, não pode ser confundido com uma crise econômica vulgar. Ele convida a construir economias e, sobretudo, sociedades que garantam uma vida digna a todos os seres, humanos ou não. Já o pós-extrativismo nos confronta com a necessidade de superar a dependência das exportações de bens primários, com todas as suas consequências de subdesenvolvimento, marginalização e das múltiplas violências.

Esses processos, para se transformarem em poderosas forças transformadoras, requerem políticas nacionais. No entanto, à medida que essas ideias ganham força, tanto no Norte como no Sul, multiplicam-se alternativas concretas que começam a caminhar nas direções propostas por esses horizontes transformadores.

Após um ciclo de direita neoliberal, na década de 90, e um ciclo de esquerda progressista nos anos 2000, a América do Sul está entrando num novo ciclo de direita liberal. Porém, todos esses ciclos, segundo seu livro, se baseiam nos ideais extrativistas. Como discutir ideias como decrescimento e pós-extrativismo em países que ainda não podem ser considerados desenvolvidos, como os países latino americanos?

O ponto de partida é reconhecer que os governos neoliberais e os governos progressistas colocaram suas expectativas de desenvolvimento em uma expansão acelerada do extrativismo. Em nenhum caso ocorreu a transformação da matriz produtiva. O Brasil é o melhor exemplo: o país se “reprimarizou” e se desindustrializou de maneira notável.

Países com governos progressistas sequer tentaram afetar a lógica de acumulação de capital. Trataram apenas de modernizar o capitalismo. É por isso que, embora tenham reduzido a pobreza, graças ao enorme rendimento das exportações de matérias-primas, os ricos enriqueceram ainda mais. Em suma, é preciso diferenciar governos progressistas do que poderiam ter sido governos de esquerda.

Para responder a pergunta, é preciso entender que o desenvolvimento é um fantasma. A questão de quantos países conseguiram se desenvolver nos últimos 70 anos (período decorrido desde o apelo global para superar o subdesenvolvimento, do discurso do presidente americano Harry Truman) se complica ao se descobrir que os chamados países desenvolvidos não o são. Na realidade, estes são países mal desenvolvidos.

Portanto, a discussão do pós-extrativismo e do decrescimento é importante para o Sul global a fim de encontrarmos nossas próprias alternativas que nos permitam simultaneamente reconciliar a justiça social com a justiça ecológica. Uma não é possível sem a outra, superando a armadilha do desenvolvimento e sua referência ideológica dominante: o progresso.

Você vê espaço para a difusão das ideias pós-extrativistas e de decrescimento no mundo diante da conjuntura política atual? Como você enxerga medidas adotadas por diversos governos no mundo que tem como objetivo aumentar os índices de felicidade das suas populações, como reduzir jornadas de trabalho e aumentar salários?

Se analisarmos o mundo a partir das grandes manchetes, das notícias da grande mídia, uma profunda depressão pode chegar até nós. Parece que marchamos no sentido contrário a uma história de emancipação humana, de construção de relações harmônicas com a natureza. Mas se prestamos atenção e silenciamos em termos metafóricos, podemos ouvir a respiração de um futuro de profundas e múltiplas transformações… em diferentes cantos do planeta, no Sul e no Norte, emergem alternativas muito concretas de todos os tipos e que vão muito além da redução da jornada de trabalho e do aumento de salários.

Deve-se notar que a redução das jornadas de trabalho deve vir de mãos dadas com outros padrões de consumo e outras maneiras de organizar a vida longe do individualismo, consumismo e produtivismo. É hora de ficar claro que precisamos recuperar e assumir o controle de nossas próprias vidas, do nosso trabalho e do nosso lazer.

Não se trata apenas de defender a força de trabalho e recuperar o tempo de trabalho excedente para os trabalhadores, mas opor-se à exploração da força de trabalho, recuperando o direito ao ócio como um direito humano. Em jogo está, além disso, a defesa da vida contra esquemas antropocêntricos de organização socioeconômica que destroem o planeta via degradação e depredação ambiental.

Você foi aliado de Rafael Correa e presidiu a Assembleia Constituinte do Equador, que incluiu conceitos inovadores como ter a Pacha Mama (“Mãe Terra”) como sujeito de direitos. No entanto, durante este processo da Constituinte, o senhor tornou-se crítico do governo Correa. O que motivou esta mudança de postura?

Quem mudou de postura foi Correa. Ao se tornar o caudilho do século XXI, ele enterrou as propostas iniciais de ceder a processos apoiados por uma democracia radical. Ao expandir o extrativismo, consolidou a economia primária de exportação, essencialmente subdesenvolvida e dependente. Ele fechou a porta para mudanças civilizacionais como a proposta pelo “Bem Viver” ou “sumak kawsay”. O fato de não dar lugar a uma mudança na matriz de acumulação de capital deu apenas alguns passos para modernizar o capitalismo.

Portanto, considerando todos os elementos — econômicos, políticos, constitucionais, internacionais — que ele tinha a seu favor, podemos dizer que sua gestão se tornou uma década desperdiçada. E o que é mais grave, ao enfraquecer sistematicamente os movimentos sociais e ao ter dado passos concretos para voltar ao neoliberalismo desde 2014, Correa deixou a mesa para o retorno da direita neoliberal e oligárquica.

Os ideais presentes na Constituição chegaram a serem implementados de fato? O que mudou nas políticas públicas do Equador após a homologação da Constituição?

A Constituição de Montecristi foi retardada em sua cristalização especialmente pela ação de Correa. Para o caudilho Correa, a Constituição tornou-se uma camisa de força e por isso foi o primeiro e principal violador da Constituição ao atropelar direitos e garantias. Por exemplo: ele impediu o Equador de ter uma justiça autônoma e independente pela primeira vez. Ele “meteu a mão na justiça”.

Correa, como modernizador do capitalismo, não entendeu a Constituição e, portanto, não fez nada para cristalizá-la. O caso dos Direitos da Natureza, entre muitos outros, é um forte exemplo.

A própria sociedade, especialmente os movimentos sociais que encorajaram as grandes mudanças constitucionais, não se empoderou da Carta Magna e não a transformou em uma ferramenta revolucionária. Essa é uma tarefa ainda pendente.

Em 2013, você candidatou-se à Presidência da República por uma coalizão de movimentos políticos, sociais e indígenas (Unidade Plurinacional das Esquerdas), mas obteve pouco apoio popular, acabando em sexto lugar nas eleições. A que atribui este resultado?


Isso é explicado por vários fatores. Além de saber se o candidato era adequado, não tínhamos a capacidade de nos sintonizar com as exigências de uma sociedade que vivia uma euforia consumista em meio a um regime cada vez mais autoritário. “A cenoura na vara” sustentava o poder do caudilho do século XXI (Rafael Correa).

Nosso esforço visava resgatar os elementos-chave da Constituição; incorporar novos tópicos na vida nacional, tais como os plenos direitos das mulheres e a liberdade das opções sexuais; e consolidar uma grande frente: a Unidade Plurinacional de Esquerda. Para além do fracasso eleitoral, a grande derrota política que encontro neste último ponto foi uma tentativa orientada para consolidar a unidade de uma nova esquerda que tem que ser simultaneamente socialista, feminista, ambientalista e anticolonial, como também portadora de transformações democráticas radical.

Como você enxerga o atual governo de Lenín Moreno? Pode-se afirmar que ele segue os princípios presentes na Constituição?

O governo de Moreno, que surgiu por desígnio de Correa, acelerou os passos neoliberais e extrativistas de seu antecessor e mentor. Enfatizo, porém, que com Moreno se recuperaram espaços de liberdade e tranquilidade política. Mas ele, como Correa, é outro tijolo na parede da dominação burguesa e transnacional no Equador.

Você assinou um manifesto internacional de intelectuais contra o agora presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Qual a sua opinião sobre a vitória e um futuro governo dele?

As ameaças que este político, de passado obscuro, representa para o Brasil e toda a região são enormes. Ele tem o apoio de enormes poderes, além de um segmento majoritário da sociedade brasileira. Porém, no Brasil, existe um arcabouço legal e institucional que estabelece alguns limites que podem impedir arroubos excessivos. Também entendo que nesse grande país existem setores da sociedade que estarão dispostos a defender a democracia. Tenho muita fé na força democrática do povo brasileiro.

Eu entendo de alguma forma as razões para o fracasso do PT e o triunfo de Bolsonaro. Sem ser a única explicação, fica claro que o fracasso dos progressistas, caracterizado por seu extrativismo exacerbado, cria as condições para o surgimento de governos ultraconservadores com traços fascistas. A esquerda é obrigada a aprender com o que aconteceu no Brasil. Ela tem que assumir um enorme desafio, porque para uma grande parte da sociedade o fracasso do progressismo — que sintetiza até mesmo uma derrota cultural e simbólica de muitas ilusões e promessas de mudança — é também uma frustração atribuível à esquerda.

Em toda a América Latina, os vários grupos políticos conservadores realizam uma interação ativa de eventos para desacreditar qualquer opção à esquerda, insistindo que elas são impossíveis, fatalmente tingidas de corrupção e até mesmo de sangue, e assim por diante. As graves crises democráticas — não apenas econômicas — da Venezuela e da Nicarágua se misturam com a crise do PT no Brasil.

Entretanto, a crise brasileira mostra a urgência de insistir nas diferenças entre progressistas e esquerdas. É que muitos dos problemas do Brasil — não todos — resultam da gestão confusa e contraditória do governo do PT e seus aliados que, pouco a pouco, se esqueceram de seus objetivos esquerdistas iniciais para se transformarem em progressistas. Eles nunca esconderam isso e fizeram disso um dos seus atributos. Portanto, uma primeira lição crucial é que esquerdas e progressistas não são a mesma coisa.

Você considera viável a eleição de mais representantes da extrema-direita em países da América do Sul ou considera que este é um fenômeno que ficará restrito ao Brasil?

O ambiente na América Latina e em outros lugares, como vemos na Europa, está repleto de elementos propícios ao surgimento e consolidação de governos de ultradireita. O mau exemplo que o Brasil dá nesse sentido alimenta ainda mais essas tendências. Porém, também confio no povo que, mais cedo ou mais tarde, encontrarão novos rumos de dignidade e democracia.

 

Luiz Gonzaga Pinheiro

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Escrito por Editora Eme 18/01/2019

LUIZ GONZAGA PINHEIRO é natural de Fortaleza (CE), onde é professor de Ciências e de Matemática na rede pública. Palestrante e doutrinador, conheceu o espiritismo na adolescência por pura curiosidade. Após avisos de seus amigos espirituais, escreveu seu primeiro livro. Hoje, possui mais de 20 obras publicadas.

Agora, o autor do best-seller O perispírito e suas modelações nos apresenta André Luiz e suas novas revelações, lançamento da Editora EME sobre o qual ele nos fala na entrevista abaixo:

 

O que o estimulou a escrever André Luiz e suas novas revelações?

A grande quantidade de informações valiosas e complementares à obra de Kardec, que ainda se encontra inacabada e em crescente evolução. Como os ensinamentos da codificação, notadamente os de cunho científico, necessitam de detalhamento, tarefa que tomou para si André Luiz, alguns temas expostos em sua obra, igualmente carecem de desdobramento para que cheguem ao entendimento do leitor sem muito tempo para pesquisa ou sem afinidade com a ciência. Essa tarefa me foi solicitada por meus instrutores espirituais para que fosse exercitada em nossos grupos de estudos, não apenas para este autor, mas para outros como Emmanuel, Yvonne Pereira e Philomeno de Miranda.

Qual seu objetivo com esta obra?

Em consonância com um dos lemas do espiritismo, talvez o mais belo, “amai-vos e instrui-vos”, o objetivo da obra é levar o conhecimento espírita aos grupos de estudos, pesquisadores, amantes de uma boa leitura, simpatizantes do Espiritismo, palestrantes e leigos, pois os ensinamentos primam pela simplicidade em sua linguagem e pela fidelidade doutrinária, mostrando os encaixes, a sintonia e a concordância do espiritismo com a ciência, sobretudo, em suas últimas descobertas.

O que os leitores encontrarão neste livro? Faça-nos uma resenha

Os leitores poderão encontrar uma variedade muito grande de temas abordados por André Luiz em todas as áreas do conhecimento humano. Assim, assuntos como o princípio inteligente, o perispírito, a volitação, a mediunidade, o corpo mental, a doutrinação, os desencarnes coletivos, os anticoncepcionais, a obsessão, a poligamia e outros que desfilam através da bibliografia do autor constam nesse volume, pois não me fixei em apenas um livro, mas em toda a obra.

Qual a importância das obras de André Luiz para o conhecimento de assuntos cotidianos importantes?

O conhecimento, ao ser adquirido, experiência realizada nos Estados Unidos e comprovada através de testes elaborados em pleno funcionamento do cérebro que o recebe, é motivo de alegria e contentamento para o espírito. Em verdade a causa da maior alegria que o espírito pode sentir é a sua aquisição. Só por esta importância já valeria a pena instruir-se. Mas visamos, também, ao editar o livro, a comprovação de teorias citadas antes das descobertas científicas, a beleza da obra divina que tudo encaminha para o bem e para o belo, a intimidade com a ciência espírita e o entendimento e a interpretação dos planos de Deus sempre misericordiosos e sábios em cada detalhe de nossa existência.

Você considera que os espíritas já aproveitaram todo o conhecimento das obras de André Luiz ou ele ainda é um grande desconhecido?

Estamos distantes do entendimento e da grandeza dessa obra. Geralmente limitamo-nos a ler quando estudar seria o verbo a ser utilizado. O estudo é metódico, perseverante, cheio de debates e descobertas emocionantes. O estudo é verticalizado, a leitura é superficial. Por trás da obra de André Luiz deve existir uma plêiade de sábios auxiliando-o na complementação da obra de Kardec, que continua inacabada. Ainda passará muito tempo para que esta obra seja convenientemente apreendida.

Na sua opinião, qual a maior contribuição de André Luiz ao espiritismo?

André trouxe uma riqueza enorme com suas obras subsidiárias à doutrina espírita. Kardec, devido ao tempo e as limitações da época, não conseguiu detalhar algumas sutilezas do Espiritismo limitando-se ao essencial, à base sólida onde outros poriam os andaimes. André avançou no estudo do perispírito revelando que este é presidido pelo corpo mental; enquanto Kardec optou por uma tríade para representar o ser (corpo físico, perispírito e espírito) André desdobrou o perispírito afastando a ideia de um cartucho fluídico único para apresenta-lo como uma cebola, com camadas que se descartam à proporção que o Espírito avança; nos livros “Evolução em dois mundos” e “Mecanismos da mediunidade”, ambos pouco lidos e entendidos, este autor traz à superfície explicações científicas e exemplos brilhantes na parte científica da doutrina, que enriquecem, facilitam e fortalecem o entendimento da codificação espírita.

Como você analisa a evolução do conhecimento espírita atualmente?

Estive recentemente (setembro de 2018) em um Fórum de debates espíritas em Blumenau e constatei com certa tristeza, que os pesquisadores espíritas estão voltando para casa. Meu velho amigo Saulo Gomes não compareceu, pois havia sido acometido por um acidente vascular cerebral. Voltaram para casa, Hermínio Miranda, Hernani Guimarães Andrade, Professor Herculano Pires, Chico Xavier, dentre outros cuja alegria, a razão maior de suas existências era a pesquisa e a divulgação. Acredito que surgirão outros, mas no momento, pela enxurrada de obras sem muita substância doutrinária, julgo que necessitamos de mais empenho na pesquisa e na divulgação do consolador prometido.

O livro espírita ainda é um fator relevante na divulgação doutrinária?

Sim, um dos maiores. O livro jamais perderá seu espaço para outros implementos tecnológicos. O livro tem um charme, um cheiro gostoso, espaço para anotações, é fácil de transportar, independe de fonte de energia para ser manuseado. Pode, a qualquer instante e facilmente transportar o leitor para revisão do que foi lido e permanece quietinho na cabeceira da mesa à espera de ser abraçado novamente. Dizem que o melhor amigo do homem é o cão, mas tenho minhas dúvidas, pois julgo que é o livro.

Por que o meio espírita tem tanta dificuldade para lidar com temas que não foram abordados diretamente por Allan Kardec, mas que são tratados por André Luiz?

Para muitos religiosos cristãos a Bíblia é a palavra de Deus e por isso não pode ser mudada, contestada, atualizada.  Para alguns espíritas O livro dos espíritos, por exemplo, é a bíblia do espiritismo, portanto tudo ali deve permanecer intocado. Este não é o pensamento de Kardec, que queria a doutrina atualizada e caminhando ao lado da ciência. Alguns espíritas se limitam ao que Kardec disse ou não disse. Se Kardec não citou, não é espiritismo. Daí a não importância dada às obras subsidiárias como se elas não fizessem parte de um plano superior de atualização doutrinária.

Lembro aqui meu velho amigo Hernani Guimarães Andrade que ao ler em primeira mão o livro de um neófito na literatura espírita intitulado O Perispírito e suas modelações disse: está maravilhoso! Mas mude o capítulo sobre o universo. Refaça-o baseado no Big Bang, pois esta é a teoria correta e ao tempo de Kardec ela ainda não tinha sido descoberta. A teoria do Big Bang foi anunciada em 1948 pelo cientista russo naturalizado estadunidense, George Gamow (1904-1968) e o padre e astrônomo belga Georges Lemaître (1894-1966). Segundo eles, o universo teria surgido após uma grande explosão cósmica, entre 10 e 20 bilhões de anos atrás. Esse é o trabalho de André: atualizar, detalhar, aprofundar, complementar e em alguns casos, corrigir.

André Luiz trouxe ao espiritismo o conceito de cidade/colônia espiritual, através da série Nosso Lar.Por que nas Obras Básicas espíritas não existem referências a estas cidades/colônias?

As obras básicas se limitam a descrever o essencial e o suportável pelo pensamento da época ditos com a ciência existente naquele contexto. Jesus, também omitiu muita coisa e de outras falou através de parábolas devido ao pensamento da época não comportar a grandeza dos ensinamentos. É necessário um amadurecimento para determinados conceitos. Todavia está implícito na obra de Kardec que os espíritos vivem em sociedade, com um sistema organizado e divisão de trabalho. Isso remete à uma colônia ou cidade, sem falar que Jesus deixou bem claro que existem muitas moradas na casa do Pai.

Ao final de André Luiz e suas novas revelaçõesvocê afirma que “devemos usar o conhecimento para mudar a nós mesmos”. Porém, apesar de sabermos como devemos agir, por que ainda assim permanecemos com um sentimento interior de sofrimento intenso?

Conhecemos o Evangelho há mais de dois mil anos, mas nossas conquistas nesse campo são milimétricas. A evolução moral é muita mais lenta que a intelectual. Há de se fazer um esforço, estabelecer prioridades, conscientizar-se de que somos espíritos momentaneamente em experiência carnal. Nosso lar não é aqui, nossos bens não são materiais, nossa felicidade não é construída de maneira isolada, mas em projetos coletivos. Enquanto não aprendermos a amar, estilo de vida dos espíritos mais conscientes, permaneceremos com este sentimento de vazio e de solidão.

Que mensagem deixaria aos nossos leitores?

Que estudem e se esforcem na aquisição de algumas virtudes, notadamente a paciência, para planejar e efetuar seus projetos de vida incluindo um pouco de amor, de poesia e de bom humor. Que trabalhem, pois o lugar mais apropriado para um encontro com os bons espíritos é no trabalho. Que amem, amem, devagar e urgentemente, pois sem amor continuaremos pobres em plena riqueza material.

 

Brasil nunca teve social-democracia que Paulo Guedes combate, diz autor

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 Economista retraça políticas desde governo FHC para mostrar que país passou longe da centro-esquerda

Benedito Rodrigues de Moraes Neto

[RESUMO] Economista retraça políticas aplicadas desde o governo FHC  para demonstrar que, ao contrário do que afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, o país esteve longe de ser aprisionado pela ideologia de centro-esquerda.

Em mais de uma ocasião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que, no período recente, o Brasil foi aprisionado pela social-democracia e que sua proposta objetivava libertar o país dessa prisão. Tentaremos verificar em que medida a avaliação de um excesso de social-democracia corresponderia à realidade histórica de nosso país.

Evidentemente, o ministro se referia ao período que vem desde o governo FHC, pois não haveria qualquer sentido em incluir as presidências de José Sarney e Fernando Collor, por motivos bastante claros: o primeiro esteve inteiramente às voltas com sucessivos fracassos na luta contra a inflação; o segundo levou essa luta ao paroxismo do voluntarismo inconsequente, além de pôr em prática, ainda que de forma incipiente, algumas das propostas mais caras à economia liberal.

Também o período do presidente de um partido que tem em seu nome a social-democracia, o PSDB, não se ajusta bem às críticas de Guedes. Isto porque a luta contra o monstro da inflação continuou dominando a cena, com o bem-sucedido Plano Real, que começou no governo Itamar Franco e se consolidou no governo FHC. Sem dúvida brilhante em sua concepção e implantação, o plano sofreu forte crítica dos partidos mais à esquerda.

Depois desse momento, houve a continuidade da preocupação com a gestão macroeconômica, com a criação do chamado tripé, constituído por meta de inflação, equilíbrio fiscal e flexibilidade cambial. Se juntarmos tudo isso ao grande esforço pelas privatizações, com destaque para a área das comunicações, fica a pergunta: onde está aí a “prisão social-democrata”?

Pode ser que o envolvimento com a questão macroeconômica tenha tolhido esse lado do PSDB, que talvez pudesse desabrochar em outro contexto. De qualquer forma, fica claro que a crítica de Guedes se refere mesmo aos quase 14 anos do PT na Presidência. Nossa questão se coloca, então, de modo mais específico: em que medida a crítica ao excesso de social-democracia se ajustaria às gestões petistas?

Comecemos com um aspecto absolutamente crucial para caracterizar uma gestão social-democrata, em contraposição a uma de matiz liberal: a política tributária. Talvez a mais característica propositura social-democrata seja a implementação de uma tributação bastante progressiva, ou seja, que cobre impostos proporcionalmente maiores dos que auferem renda maior.

Sabe-se que as alíquotas de imposto sobre a renda são extremamente elevadas para níveis elevados de rendimento nos países de presença mais forte da social-democracia, como os da península escandinava. Mesmo no caso dos Estados Unidos, país que apresenta distância bem grande em relação à social-democracia, essa questão da progressividade da tributação diferencia fortemente as gestões dos partidos Democrata e Republicano, algo reforçado nos anos recentes.

Uma gestão democrata se aproxima, nesse caso, respeitando os limites americanos, de uma proposta social-democrata, com elevação da progressividade dos impostos. Uma gestão republicana, inteiramente impregnada da concepção liberal, rapidamente trata de aumentar a regressividade tributária, sob o argumento de que a ideia social-democrata inibe o ímpeto das pessoas para o esforço produtivo.

Pois bem, isso tudo é bem conhecido. O interessante é observar o rebatimento por aqui dessa questão tributária. Ao ler a observação de Guedes, pode-se imaginar que a implantação de uma estrutura tributária extremamente progressiva pelos “social-democratas de centro-esquerda” no poder por 14 anos precisaria ser revertida com força pelos ultraliberais de direita.

Mas esse não é um tema por aqui, pois o PT não mexeu uma vírgula em nossa estrutura tributária regressiva, muito dependente dos socialmente injustos impostos indiretos e, no caso dos impostos diretos, muito branda com os que auferem rendimentos de propriedade e muito dura com os que obtêm rendimentos do trabalho.

Cada vez mais dura, aliás, na medida em que se deixou de corrigir as tabelas do Imposto de Renda de acordo com o ritmo de inflação. Os assalariados de todos os níveis de renda tiveram que pagar cada vez mais nesse período.

Considero que não seria fácil para um estrangeiro entender uma coisa dessas: como é possível que um dos países de maior desigualdade social do planeta, que possui uma tributação de rendimentos extremamente regressiva, não tenha apresentado uma vírgula de alteração em sua política tributária durante 14 anos de um partido “de centro-esquerda” (para muitos, “de esquerda”) no poder?

Mas nós, brasileiros, teríamos que nos associar à questão: como é possível? De qualquer forma, o que nos interessa aqui é marcar que, no item fundamental da política tributária, a social-democracia nem passou perto daqui.

Continuemos a perscrutar nossa “prisão à social-democracia”, agora caminhando em direção à política social. Nesse caso, ganha grande destaque o Bolsa Família, programa tornado bastante extenso pelo PT.
Não é nosso objetivo aqui discutir o programa, mas verificar seu ajuste à crítica de Guedes.

Sabe-se que esse tipo de política social, de focalização, foi gerado no interior do Banco Mundial por economistas de extração liberal. Contrapunha-se, enquanto proposta de ação pública, à proposta social-democrata de universalização da intervenção do Estado através da política educacional, de saúde etc.

Foi justamente na gestão do partido que tem a social-democracia no nome que a política de focalização teve seu início, ainda tímido, com a criação, por FHC, das Bolsas Escola e Alimentação e do auxílio-gás.

Inteiramente imbuído da crítica social-democrata, de centro-esquerda, a essa política de focalização, Lula chamou-as de “Bolsa Esmola”. Posteriormente, já na Presidência, depois do fracasso do seu primeiro programa, o Fome Zero, Lula fez a unificação das bolsas num programa único, batizou-o de Bolsa Família, e o incrementou de forma extremamente significativa.

Para nosso propósito aqui, cabe uma única pergunta: onde temos aqui a “prisão social-democrata”? Guedes terá que propor ao presidente Jair Bolsonaro que elimine imediatamente o Bolsa Família, por ser uma das faces dessa prisão? Pelo contrário, o presidente já propôs implementar o 13º salário para os que recebem esse tipo de rendimento.

Continuemos com a política social. Se não encontramos social-democracia no Bolsa Família, talvez a encontremos na política habitacional, com o Minha Casa Minha Vida. De novo, temos a crítica de Lula em sua fase pré-presidencial, quando afirmou, com acuidade, que o pobre, quando comprava casa própria, não podia beber uns goles a mais, pois havia o forte risco de entrar na casa do vizinho.

Pois bem, o Minha Casa Minha Vida levou essa triste característica arquitetônica de nossos programas de moradia popular ao paroxismo, adicionando uma outra triste característica, urbanística, sobretudo nas grandes cidades, ao situar os conjuntos habitacionais a grande distância dos locais de emprego de seus habitantes.

Se a proposta social-democrata implica generalizar qualidade de vida, não vejo como o Minha Casa Minha Vida possa se ajustar a isso. Aliás, nesse caso, é particularmente desanimador verificar como tantos anos de um governo “de centro-esquerda” (para muitos, “de esquerda”) foram inteiramente incapazes de utilizar a reconhecida competência e criatividade de nossa arquitetura.

Seguindo adiante, um dos traços mais fortes da social-democracia é resguardar para o Estado, protegendo-as da interferência mercantil, as esferas da educação e da saúde. É inclusive a generalização da qualidade da educação pública que tem dado grande destaque a alguns dos países mais fortemente social-democratas, com ênfase recente para a Finlândia.

Basta um olhar muito rápido ao que acontece no Brasil nessas duas áreas para constatar que estamos muito longe dessa matriz. Realmente, em saúde e educação, não há que se criticar excesso de social-democracia após 14 anos de PT —muito pelo contrário.

Finalizemos com uma estatística significativa, que recolhemos no jornal O Estado de São Paulo de 9 de dezembro de 2018. Segundo pesquisa realizada pela consultoria Mercer em 601 empresas de 130 países, a diferença de rendimento entre executivos e operários é, em média, de 34 vezes no Brasil. Na Alemanha, país com relevante presença social-democrata, essa diferença é de cinco vezes.

Depois desse dado, somos forçados a concluir que o problema do Brasil não é, como afirma Paulo Guedes, de excesso de social-democracia, mas sim de excesso de falta de social-democracia. Conforme afirmou a escritora argentina Beatriz Sarlo, o que a América Latina necessita é de uma social-democracia séria.

Benedito Rodrigues de Moraes Neto é professor aposentado do Departamento de Economia da Unesp.

 

Não será em 2012 Chico Xavier revela a data-limite do velho mundo

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O livro, escrito por Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto, conta as profecias do médium Francisco Cândido Xavier sobre as transformações em curso no Planeta Terra que, segundo o médium ocorrerá em 2019 e não em 2012 como muitos acreditam.

 

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Um crime de solidão: reflexões sobre o suicídio

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Uma obra interessante que reflete sobre questões referentes ao suicídio e a depressão, um depoimento vivo e intenso de um autor de grande destaque da literatura contemporânea.

 

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Anotações sobre a Reencarnação de Segismundo

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A obra de André Luiz, designada a vida no mundo espiritual, é um grande bálsamo para estudarmos e refletirmos sobre como se dá a vida depois da morte do corpo físico, os livros nos auxiliam na compreensão de onde vamos quando morrermos, quem encontraremos e o que faremos neste novo mundo, indagações que o ser humano sempre se fez e muito poucas respostas sensatas e coerentes conseguiu encontrar. A obra do médico carioca retrata as suas experiências individuais depois que partiu para o mundo espiritual, seus dramas, traumas, medos, constrangimentos, surpresas e as muitas alegrias, uma obra de fôlego que desnuda com detalhes como se dá a vida depois da morte física, a vida no mundo espiritual.

Os relatos contidos nas experiências do espírito André Luiz foram estruturados em treze livros, sendo que nestas obras o autor disseca questões de grande relevância para que os indivíduos possam entender que a morte é, na verdade, algo normal e corriqueiro na vida de cada pessoa, somos espíritos em evolução, para o autor a razão existe no mundo a mais ou menos 40 mil anos, diante disso, podemos imaginar que cada pessoa encarnada ou desencarnada, já encarnou e depois desencarnou mais de mil vezes, ou seja, estamos em uma viagem de muitas paradas rumando a um progresso inexorável.

A morte sempre foi um dos maiores medos dos seres humanos, todos sabemos que um dia vamos morrer, mas ninguém gosta de conversar sobre este tema tão indigesto, o Espiritismo trouxe importantes informações referentes a este momento tão relevante e difícil para o indivíduo, mostrou-nos que a morte não existe, o que morre é o corpo físico, a matéria, o espírito se liberta e vai, paulatinamente, se lembrando da existência, a vida verdadeira se dá no mundo imaterial ou, se preferirem, no mundo espiritual.

Somos fruto de inúmeras encarnações, vivemos muitas vidas em corpos diferentes e por períodos diferentes, nascemos como homens e como mulheres e, em muitas vidas, passamos pela prova da homossexualidade, ou seja, vivemos variadas experiências com o intuito de compreender as dificuldades de todos os indivíduos, julgar menos, auxiliar mais e desenvolvermos a chamada empatia, desta forma teremos certeza de que estamos na marcha do progresso e do crescimento do nosso espírito.

As reencarnações se sucedem várias vezes, este processo difere de pessoa para pessoa, as encarnações são diferentes pois estão atreladas a momentos diferentes de cada indivíduo e, principalmente, estão relacionadas ao merecimento de cada pessoa, alguns reencarnes são amplamente planejados e estruturados pelo mundo maior, nestes casos percebemos o engajamento de espíritos de alto valor moral, agora, nem todos os reencarnes ocorrem desta forma, uma parcela grande das pessoas que chegam no mundo material são indivíduos cujo reencarne se deu de forma desorganizada e desestruturada, muitas vezes em decorrência do desequilíbrio e do baixo merecimento do indivíduo que reencarna, com isso, percebemos que o merecimento das pessoas é fundamental para que nosso retorno ao mundo físico seja planejado.

Na Doutrina Espírita encontramos inúmeros exemplos de reencarnações, dentre elas, destacamos a reencarnação de Segismundo, descrita no livro Missionários da Luz, uma das obras ditadas pelo espírito André Luiz na coleção A vida no mundo espiritual. No livro, o escritor destaca um modelo de reencarnação planejada, onde o merecimento de Segismundo fez com que inúmeros espíritos dotados de grande bagagem espiritual auxiliasse, unindo desafetos, estimulando uniões e contribuindo para que os irmãos em desajuste conseguissem construir uma nova história de vida e de progresso.

Na obra percebemos que Segismundo assassinou Adelino com o intuito de se casar com Raquel, a quem se interessou mesmo sabendo que ela era esposa de Adelino, o crime gerou graves desequilíbrios em todos os envolvidos no caso, a morte do marido levou Raquel ao desequilíbrio e este para as drogas e para a prostituição, levando-a ao suicídio, o mesmo aconteceu que Segismundo que ao ver seus planos dando errado acabou dando cabo para sua vida, retornando ao mundo espiritual em situação abjeta, marcados por grandes desequilíbrios, desajustes e intensa degradação.

Depois de se conscientizar de todos os crimes cometidos nesta encarnação, Segismundo sente seu coração em grave desequilíbrio, suas dores são intensas, a conscientização de todos o seu drama particular o fere intensamente, gerando dores e desgastes intensos, o momento da tomada de consciência do espírito é sempre doloroso e marcada por lágrimas e tristezas generalizadas mas, mesmo sendo algo tão assustador, este momento é fundamental e de grande importância para o espírito, é como se ele estivesse se dando conta de todas as atrocidades cometidas e se preparando para iniciar um novo período em sua existência, um recomeço de sua história.

No mundo espiritual, depois de sua conscientização, Segismundo começa a reconstrução de sua história, inicia uma grande transformação em suas atitudes, se abre frontalmente para o trabalho assistencial, despende suas mais intensas energias com os semelhantes, atende carentes de todas as naturezas, ampara os caídos e os sofredores, pouco descansa, pois sabe que esta oportunidade é fundamental para que se reconcilie com as leis de Deus e, principalmente, com a sua consciência e com o seu íntimo.

Nestas andanças de dedicação e constantes trabalhos e missões, Segismundo passa a ser adorado pelas pessoas, os caídos e degradados veem nele um santo ou um enviado de Deus, todos passam a orar e a pedir auxilio para este espírito, mal sabiam que, por trás deste grande missionário, responsável por grandes auxílios e intensa dedicação, estava um irmão que na encarnação anterior cometeu um dos mais perversos crimes, assassinou um pai de família ambicionando se unir com sua esposa, gerando dores físicas, emocionais, morais e espirituais.

Graças ao merecimento acumulado por anos de dedicação aos amigos sofredores do mundo espiritual, Segismundo acumulou muitos méritos e agradecimentos daqueles que foram por ele auxiliados, diante destes méritos, espíritos de alto escalão moral e, principalmente, espiritual, vieram em seu auxílio e proteção, anunciando que sua próxima encarnação estava se materializando proximamente, onde viria em um lar estruturado e teria como pais, justamente Raquel e Adelino, tendo a oportunidade de se reconciliar com aqueles que, em vidas anteriores, contribuiu decisivamente para seu desequilíbrio e desestruturação.

A missão dos espíritos de luz era convencer o casal a receber Segismundo como seu filho proximamente, para Raquel o aceite foi imediato e mais rápido enquanto Adelino relutava em tê-lo como filho, vendo nele o algoz responsável por seus graves desequilíbrios de vidas anteriores, aceitar como filho aquele que o assassinou em sua vida anterior era uma das maiores dificuldades de Adelino que, embora estivesse chateado com Segismundo era uma pessoa de bem, honesto, trabalhador e dotado de valores nobres.

Depois de várias excursões ao mundo físico e encontro com a família de Raquel e Adelino, os espíritos conseguiram mostrar ao casal de como seria importante para todos os envolvidos um aceite verdadeiro e sem mágoas, tudo isto contribuiria para o crescimento de todos, o reequilíbrio individual e a construção de um forte vínculo entre estes irmãos que, em vidas anteriores, se entregaram a desequilíbrios dos mais perversos possíveis.

O livro nos mostra que, mesmo ao cometermos as maiores atrocidades, se tivermos interesse em se melhorar e se transformar, seremos fortemente auxiliados pelo mundo espiritual, nossos desajustes não serão esquecidos, mas teremos auxílio para recomeçar e reconstruir nossas experiências, assim aconteceu com Segismundo, ao tomar consciência de todas as atrocidades cometidas, ao se deparar com seu lado sombra e perceber a importância do trabalho como forma de reequilíbrio, se entregou intensamente ao próximo, muitas vezes se esquecendo dele mesmo, auxiliou, confortou, amparou e, principalmente, se renovou intimamente para conseguir uma nova experiência no corpo físico, veio a reencarnação e com ela uma nova oportunidade de progresso.

O exemplo acima é de uma reencarnação planejada, Segismundo, Raquel e Adelino, os envolvidos nesta experiência de reencarnação foram arregimentados e estavam conscientes de que estariam próximos na nova encarnação, o envolvimento foi costurado pelos espíritos do bem que trabalham intensamente para a promoção das leis de Deus no mundo material, tudo só foi possível devido ao merecimento de cada um dos envolvidos, sem merecimento é impossível o planejamento dos espíritos da luz.

A reencarnação nos auxilia a compreender a justiça divina, sem ela dificilmente conseguiríamos compreender como funciona os mecanismos de Deus, como compreender que em um mundo tão maravilhoso, rico e abundante, dotado de inúmeros recursos naturais,  tenhamos pessoas passando por privações das mais primárias e severas, pessoas sem alimentos de um lado e fartura e desperdício de outro, como entender a justiça sem colocarmos nesta equação os conceitos de reencarnação.

Muitos não acreditam e não querem acreditar na existência da reencarnação, este é um direito de cada indivíduo, o espiritismo nos mostra que muitas pessoas mesmo estando no mundo espiritual ainda não acreditam na vida pós morte, acham que estão vivos no mundo material, estas pessoas serão atendidas e são amadas, são irmãos e merecem o respeito eterno, um dia conseguirão enxergar as bases que sustentam a vida, um dia perceberão a grandeza dos ensinamentos divinos e se empolgarão com os conceitos que nos foram trazidos pela doutrina dos espíritos, todos nós um dia acordaremos para esta realidade do mundo, pois como nos disse Jesus, nenhuma das ovelhas que me foram confiadas por meu pai, se perderá.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antes consideradas inviáveis, ideias liberais agora são aceitas, diz presidente do Instituto Mises

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Investidor Helio Beltrão avalia que vitória de Jair Bolsonaro sinaliza uma mudança de rumo no país.

FSP, 31 de dezembro de 2018 – Marco Rodrigo Almeida

Antes consideradas inviáveis no país, as ideias liberais são agora tidas como aceitáveis, diz o investidor Helio Beltrão. “Já é um avanço. Daqui a pouco serão vistas como bastante razoáveis”, comenta ele, aos risos.

Presidente do Instituto Mises Brasil, Beltrão avalia que a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) sinaliza o início de um processo de mudança de rumo no país. Bolsonaro, afirma, foi genial ao identificar, de forma mais acurada que os demais candidatos, o sentimento de revolta da população e o desejo de retorno aos valores conservadores.

Definindo-se como um ultraliberal, Beltrão fundou há 11 anos seu instituto, dedicado à produção e à disseminação de estudos que promovam princípios básicos do liberalismo, como livre sociedade e economia de mercado.

A inspiração teórica veio de Ludwig von Mises (1881-1973), um dos principais economistas do século 20, expoente da Escola Austríaca, conjunto de pensadores que possui como fundamentos o individualismo metodológico, a propriedade privada e o livre mercado.

Antes do Mises, Beltrão participou da fundação do Instituto Millenium, também de perfil liberal, ao lado de, entre outros, Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. Também é próximo de nomes que comporão a equipe de Guedes, como Salim Mattar e o colunista da Folha Marcos Troyjo. “Estou muito otimista. Desde que me entendo por gente, é a melhor equipe que o Brasil já teve”, afirma.

Que papel tiveram as ideias liberais na vitória de Bolsonaro? 
Foram um fator importante. Talvez seja exagero dizer que foram preponderantes. Houve também a questão da segurança pública, do saneamento, da saúde. De toda forma, tiveram um papel substancial. Bolsonaro capturou e representou bem a revolta do brasileiro. Ele percebeu melhor que ninguém essa demanda popular. Todo político genial vê antes dos outros.

Bolsonaro foi genial nesse sentido? 
Julgo que ele foi genial ao perceber e unir em sua campanha esses dois pontos: a revolta em relação ao legado de Dilma Rousseff (PT) e o desejo de resgatar os valores conservadores. Ele percebeu que essa demanda vinha muito forte. Embora não seja um liberal de carteirinha ou de estudo, teve uma intuição de que o liberalismo é positivo e abraçou essa causa.

Que Bolsonaro veremos na Presidência: o parlamentar que quase sempre esteve associado a pautas protecionistas e corporativistas ou o candidato que se apresentou como defensor do livre mercado? 
Acho que ele assumirá o papel que apresentou durante a campanha. Será julgado por isso. Antes vinha como um deputado defendendo alguns setores. Uma vez presidente, tenho a impressão de que governará para todos os brasileiros. Não acho que colocará seu peso político para defender um segmento específico em detrimento de outro.

Que avaliação faz da equipe econômica do futuro governo? 
Pessoalmente, estou muito otimista. São pessoas de peso, como Paulo Guedes, com um histórico de execução muito bom. Eles conhecem as ideias corretas. Pelo menos na parte econômica, creio que o novo governo estará na direção correta. Desde que me entendo por gente, será a melhor equipe que o Brasil já teve. Precisamos reduzir a intrusão do governo na sociedade e no mercado.

Acha que grande parte da população também defende uma menor intervenção do Estado?

Um velho ditado diz que o brasileiro odeia os políticos, mas adora o Estado. Esse, inclusive, é o título do livro do Bruno Garschagen, autor dos podcasts do site do Mises [“Pare de Acreditar no Governo: Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado”].

O Estado como solução dos problemas está se demonstrando, na verdade, um grande problema. O governo não entrega o que promete. Nossa responsabilidade cidadã é agir diretamente, não esperar o governo. A população está se dando conta disso.

Paulo Guedes defende um programa radical de privatização. O governo não enfrentaria muita resistência para isso?

Acho que essa deve ser a meta, uma privatização radical na medida do possível. O governo não deve gerir nada. Gestão pelo governo não funciona. O papel do Estado, se há algum, não é gerir. O que o governo faz é socializar prejuízos. A empresa dá prejuízo e todos nós pagamos por isso.

Para gerir uma empresa, é preciso ter responsabilidade. E para uma empresa ter responsabilidade, não pode estar na mão do governo, pois não é ele que paga a conta no final.

Mas acha que haveria apoio popular para privatizar Petrobras e Banco do Brasil, por exemplo? Infelizmente, parte da população ainda acredita que é um bom negócio o governo gerir a Petrobras. Isso é um erro de julgamento. De toda forma, nunca houve um momento tão bom para discutir isso no país.

Muitos dizem que a intervenção do Estado é fundamental em países desiguais como o Brasil.
Discordo totalmente. O Estado não cria dinheiro, tira da população. Vai tirar também do pobre. É uma falácia achar que o governo é a solução. Ele é o problema. Isso ocorre por conta da própria estrutura do Estado. Ele não precisa prestar contas de suas atividades.

Eu vejo muito brasileiro pobre com celular, TV, geladeira. Ele só não tem o que o governo promete: saneamento, saúde, educação de qualidade, segurança. Fica condenado a uma vida de desigualdade de oportunidades.

Como resolver esses problemas sociais, por exemplo, sem a participação do Estado? 
Eu acho, por exemplo, que o governo não deveria gerir as escolas. Poderia alocar as crianças da rede municipal que não podem pagar mensalidade em escolas comunitárias geridas por ONGs. As escolas que prestarem um bom serviço receberiam esses alunos e seriam pagas pelo Estado.

Já no caso de um diretor de uma escola pública, quanto pior for o trabalho dele, mais verba receberá do governo. Vão achar que ele precisa de mais verba para melhorar. É o contrário do que ocorre no setor privado.

Parte da população teme que o governo Bolsonaro tenha um tom autoritário e represente um risco para as instituições. O que o senhor acha? 
Não vejo qualquer possibilidade de uma guinada autoritária no governo dele. Uma coisa é retórica de campanha, outra é o governo. O vejo falar sempre em respeito às regras, em seguir a Constituição. Não vejo risco nenhum à democracia.

Risco, sim, haveria na vitória de Fernando Haddad (PT), que falava em controlar a mídia e outras coisas do tipo.

As declarações de Bolsonaro de que não houve ditadura no país não causam apreensão sobre a real adesão dele aos valores democráticos? 
Teria que ver as declarações dele em detalhe. Acho que ele muitas vezes se refere ao que aconteceu em 1964, e menos ao que aconteceu depois. Esses períodos devem ser analisados separadamente.

Em 1964 havia uma confusão dos diabos. O nome mais certo do que ocorreu ali é contragolpe. Havia uma disputa de golpes, e os militares fizeram um golpe antes que a esquerda o fizesse. Mas depois houve uma série de problemas, coisas que qualquer liberal abomina.

Acha que Bolsonaro também abomina? 
Não sei a opinião de Bolsonaro, mas a doutrina liberal é muita clara nesse sentido. Somos contra o autoritarismo, defendemos o devido processo legal. Nunca pode haver tortura, agressão do Estado.

Somos contra esses excessos, contra qualquer arbitrariedade. Mas não vejo nenhum risco de Bolsonaro implementar qualquer coisa nesta direção.

Tive uma discussão recente nas redes sociais sobre essa questão de que uma pessoa portando um fuzil, uma arma de fogo, poderia ser morta pela polícia mesmo que não haja situação de confronto. É a proposta do governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC). Eu sou contra, como qualquer liberal deveria ser contra. Se não há ameaça, passa a ser um assassinato.

Teremos um governo de direita no próximo ano. Mas temos um partido de direita no país? 
Não está muito claro ainda isso. O processo está em curso. Temos o Novo, um partido liberal, que vem crescendo. O PSL fez grande bancada no Congresso Nacional, mas mal começou de verdade. A força dele veio toda de Bolsonaro.

Este é o melhor momento para a propagação das ideias liberais no país? 
Em termos de vontade de fazer, não há dúvida. A segunda variável é a vontade política de isso ser efetivado. Não depende só da equipe econômica.

Em termos sociais, de fato o marxismo cultural venceu, está na mente das pessoas. Mas estamos avançando porque fazemos uma batalha de ideias que nunca houve no país. Olavo de Carvalho e o Instituto Mises foram os primeiros a confrontar o marxismo cultural aqui.

Nossas ideias antes eram consideradas inviáveis. Agora passaram a ser até aceitáveis para a população. Daqui a pouco vão ficar bastante razoáveis [risos]. Fico feliz. São mais de dez anos de batalha. O resultado começa a emergir —e o que vemos é apenas a ponta do iceberg.

O que o pensamento de Ludwig von Mises, homenageado por seu instituto, tem a contribuir para o Brasil?

Estudá-lo é importante para entender o governo, a ação humana. Entender que apenas a livre associação das pessoas funciona. Não há nada mais eficiente do que a livre iniciativa das pessoas em busca de seus ideais de autorrealização. Isso gera prosperidade, emprego, felicidade. Essa é a lição fundamental para o Brasil de hoje.

 

RAIO-X
Helio Beltrão, 51, é graduado em finanças com MBA pela  Universidade de Columbia, em Nova York. É fundador-presidente do Instituto Mises Brasil, voltado aos princípios de  livre mercado e de uma sociedade livre. Seu pai, Hélio Marcos Penna Beltrão, foi ministro do Planejamento (governo Costa e Silva) e da Desburocratização (João Figueiredo)

ESCOLA AUSTRÍACA

O economista Ludwig von Mises, homenageado pelo instituto criado por Helio Beltrão, foi o principal expoente da Escola Austríaca. Confira os fundamentos dessa escola de pensamento econômico:

Individualismo metodológico 
Cada pessoa tem sua ação pessoal, sua mentalidade. Devemos olhar as partes constituintes do todo e a partir delas chegar a conclusões

Propriedade privada
Condição necessária para o pensamento econômico racional

Livre Mercado
O mercado é um processo de descoberta empreendedora e de avanço social

Ordem espontânea
Instituições sociais relevantes muitas vezes resultam de ações humanas, não do planejamento humano. A ordem espontânea é o melhor arranjo para a liberdade, a prosperidade e a coesão social

 

 

Perspectivas para a sociedade Brasileira em 2019

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Depois de um ano de grandes dificuldades econômicas, sociais e políticas, marcados por baixo crescimento econômico, dificuldades políticas generalizadas, piora dos indicadores sociais, eleições conturbadas, desemprego e renda cadentes e violências crescentes, com aumento da instabilidade e das incertezas, além de uma grande dose de desesperança, medo e depressão, os auspícios de um novo ano nos trazem perspectivas positivas, embora moderadas, perigosas e cheias de incertezas.

Depois das eleições presidenciais e da eleição de Jair Bolsonaro, um capitão reformado do Exército para a Presidência da República, todos esperamos que o país possa se voltar para o crescimento econômico e para as questões sociais, neste período de forte recessão, alto desemprego e uma piora considerável da renda e dos salários agregados, grande parte dos ganhos acumulados no começo do século foram perdidos, gerando impactos negativos sobre toda comunidade.

Os desafios para o próximo governo são imensos, o déficit público cresceu de forma acelerada, a situação fiscal se deteriorou e as incertezas quanto a solvência do setor público aumentaram, recuperar as condições fiscais e financeiras do Estado e garantir um incremento das expectativas são medidas fundamentais para que o país se volte para o crescimento econômico.

A sociedade está confiante e cheia de esperanças com o novo governo, legitimado nas urnas com mais de 56% dos votos válidos, o presidente eleito se encontra em uma situação bastante interessante, onde percebemos um conjunto de propostas vagas e confusas sobre variados temas, desde as questões econômicas até as ligadas ao tema da segurança pública, uma das grandes temáticas da campanha presidencial.

Os dias que antecedem a posse do novo governo estão sendo marcados por grandes expectativas positivas por parte da população, o presidente eleito destaca nas redes sociais que em seu governo não serão mais aceitos os velhos conchavos políticos e o modelo descrito como presidencialismo de coalizão, onde os grupos políticos vendiam apoio aos interesses do governo e apoiavam medidas através de acertos de cargos e benesses generalizadas, uma prática antiga e consolidada na política brasileira. Se o novo governo conseguir um apoio consistente no campo do legislativo e, com isso, conseguir aprovar medidas importantes para a sociedade, sem o uso destas práticas nefastas e negativas, grandes avanços institucionais serão inaugurados para o país.

Se o governo conseguir aprovar as medidas econômicas liberalizantes nos primeiros meses do governo, principalmente a Reforma da Previdência, a tendência é de um forte crescimento econômico nos anos posteriores, para a comunidade financeira internacional o ajuste das contas da previdência nos abrirá novas oportunidades de crescimento econômico, com atração de novos investimentos e, com isso, geração futura de novos empregos, novas tecnologias  e melhorias substanciais na renda da população, garantindo ao país a entrada em um novo ciclo de crescimento econômico, mais consistente e de melhorias sociais intensas e necessárias. Agora, se não conseguirmos a aprovação destas medidas, provavelmente permaneceremos na lanterna dos investimentos e da atração de recursos internacionais com piora nos, já negativos, indicadores sociais.  Diante disso, as medidas não são mais propostas de governo, mas propostas e políticas de Estado, a não aprovação nos condenará a uma insignificante condição de subalternidade e irrelevância na comunidade internacional.

No campo econômico percebemos um discurso que nos agrada, pelos diagnósticos dos integrantes do  novo governo, as propostas são liberalizantes, privatização, desburocratização abertura econômica e redução do papel do Estado são medidas urgentes e necessárias, pesquisas recentes destacam que existem mais de quatrocentos empresas estatais, desde empresas do governo federal, quanto empresas dos governos estaduais e dos municípios, onde o Estado é proprietário direto ou indireto de inúmeras empresas, o mais assustador disso tudo é que empregamos mais de 12,5 milhões de funcionários públicos, um contingente elevado e dispendioso para os cofres públicos com resultados bastante contestados para sociedade e pelo contribuinte de uma forma geral.

Reduzir o papel do Estado é condição fundamental para reencontrarmos o caminho para o crescimento econômico, neste ambiente externo de maior concorrência e competitividade, cabe ao Estado um papel mais ativo na construção de vantagens competitivas, com investimentos maiores na capacitação e na qualificação da população, além de contribuir com investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia, estes são os insumos da economia do século XXI, a economia da Quarta Revolução Industrial ou a Economia do Conhecimento.

Adotar medidas de desburocratização são centrais, em uma sociedade onde os contribuintes pagam mais de 34% do produto interno bruto de carga tributária, uma reforma tributária se faz necessária e urgente, aumentar o contingente de brasileiros que pagam seus impostos, simplificar os tributos, reduzir alíquotas, diminuir as isenções, tributar os ganhos financeiros e investir fortemente na redução da sonegação, podem auxiliar o país em duas frentes fundamentais: de um lado aumentar a arrecadação de impostos e de outro dar um caráter mais equilibrado para o sistema tributário, reduzindo os tributos do consumo e tributando mais a renda da população, com isso, aqueles que ganham mais devem pagar mais enquanto os que ganham menos devem recolher menos tributos.

Todas estas medidas liberalizantes são importantes e urgentes, o mundo globalizado prescinde de uma sociedade mais ágil e flexível, o Estado precisa acompanhar estas modificações, se modernizar e se capacitar para as mudanças da sociedade global, no caso brasileiro percebemos um Estado muito grande para a resolução dos pequenos problemas e muito pequeno para a resolução dos grandes problemas, neste cenário percebemos um Estado obeso, lento e dominado por interesses corporativos.

Outro ponto importante, os integrantes do novo governo estão destacando a necessidade de rever antigos benefícios de grupos organizados da sociedade, onde destacamos os funcionários públicos, na sua grande maioria federais, cujos recebimentos são elevados e muito dos benefícios acumulados são isentos de tributação, garantindo vantagens excessivas, cabe ao novo governo uma revisão generalizada dos recursos humanos do Estado, garantindo condições estruturais para que os agentes públicos possam cumprir com suas responsabilidades perante a sociedade, da forma atual, percebemos que, grande parte dos recursos públicos estão comprometidos antecipadamente, impossibilitando o remanejamento para outras áreas e setores, desta forma os gestores públicos acabam atuando como administradores de uma grande massa falida.

Devemos destacar as questões referentes ao Sistema S, cujos benefícios custam valores próximos de R$ 16 bilhões e são financiados pela sociedade, estes recursos são utilizados para a construção e manutenção de inúmeras empresas que prestam serviços importantes para a sociedade, mas são dispendiosos e pouco transparentes, desde Sesi, Senai, Sesc, Senac… são financiados por estes recursos, faz-se fundamental que este montante seja fiscalizado e auditado por agentes governamentais, além disso, faz-se fundamental que estas empresas atuem com transparência e exerçam seu papel social de forma límpida e eficiente, garantindo ao cidadão serviços de qualidade e a preços condizentes.

Outro ponto importante que deve ser destacados, muitos setores conseguiram isenções fiscais e tributárias que não se sustentam, segundo dados da Receita Federal, os entes federativos concedem mais de R$ 400 bilhões de isenções, muitas delas sem critérios econômicos e são garantidas por interesses políticos e eleitoreiros, estas isenções devem ser repensadas e inseridas em uma estratégia política baseada em critérios de desempenho e eficiência, cujos custos devem ser transparentes e abertos a toda comunidade.

A medida mais importante no campo econômico, sem sombra de dúvidas é a Reforma da Previdência, desde 1991, os gastos com aposentadoria crescem de forma acelerada, obrigando os Estados, municípios e o governo federal a manobras fiscais como forma de cumprir com seus compromissos previdenciários, estas manobras e instrumentos financeiros chegaram ao fim, a recessão dos últimos anos com impactos generalizados no mundo do trabalho, o incremento do desemprego e da informalidade reduziram os repasses para a Previdência Social, obrigando os entes federativos a retirar recursos de outras áreas para cumprir com os pagamentos das aposentadorias, diante do exposto acima, percebemos que a Previdência é, na atualidade, o mais importante gargalo econômico mundial, não apenas brasileiro, muitos países fizeram reforma no seu setor de previdência neste ano, alguns deles por não fazer a reforma e postergar os ajustes, as mudanças tiveram que ser feitas de forma mais emergencial, com significativa redução nos pagamentos de aposentados, alguns aposentados tiveram seus rendimentos reduzidos em mais de 50%, vide o caso da Grécia.

Negociar com os entes federativos a reforma previdenciária é fundamental, o problema não se restringe apenas ao governo federal, mas é um problema dos governos estaduais e municipais, a união de todos os representantes eleitos e a divisão de responsabilidade em prol desta reforma é crucial, os ganhos não serão imediatos mas trará benefícios para todos no médio e no longo prazo, postergar a reforma não é um bom negócio, como no caso grego.

Na segurança pública o presidente eleito foi bastante ousado, a nomeação do ex-juiz federal Sérgio Moro como Ministro da Justiça e da Segurança Pública trouxe ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, um rubrica de credibilidade e firmeza no combate a corrupção, depois de uma campanha marcada por poucos debates, percebemos que nesta área serão muitos os desafios, desde o combate a corrupção e da evasão de recursos, até as reformas dos órgãos de repressão e prevenção da criminalidade, onde destacamos o combate aos milicianos, as facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), e da criminalidade rasteira, cujos impactos no cotidiano dos cidadãos são cada vez maiores e geram constrangimentos generalizados para todos.

Com a crise econômica, percebemos um incremento na violência urbana, somente em 2017 foram assassinados mais de 63 mil pessoas, o sucateamento das polícias e dos presídios exigem respostas rápidas e eficientes do governo federal, o aumento da violência contra as mulheres e o crescimento do crime organizado exigem medidas que perpassam os entes de repressão, exigem uma forte estruturação de setores, como o Ministério Público, a Polícia Federal, a Receita Federal, o COAF, as polícias estaduais (Civil e Militar), dentre outros agentes cuja atuação são imprescindíveis para que a segurança, tão apregoada em períodos eleitorais, seja realmente uma prioridade dos governos.

Numa sociedade que está, literalmente, cansada dos avanços da criminalidade, se o novo governo conseguir sucesso nesta agenda, grandes benefícios trará para a população e para o governo, mas para que este sucesso seja efetivo, é fundamental que o novo governo invista efetivamente em novas tecnologias, o foco na repressão será insuficiente para melhorar a segurança pública, investimentos em treinamento, em tecnologias modernas, em inteligência e em lavagem de dinheiro são os caminhos mais consistentes para garantir melhorias em um setor que sempre se mostrou frágil e cercado de interesses políticos e medidas eleitorais.

No campo externo, percebemos uma maior proximidade com os Estados Unidos, este alinhamento excessivo com o presidente Donald Trump pode nos trazer variados problemas num futuro muito próximo, embora saibamos da importância do comércio com os norte-americanos, faz-se fundamental construirmos um ambiente multilateral de cooperação e comércio com as várias regiões do globo, deixando de lado conflitos com outras nações e nos integrando mais ao comércio internacional, diversificando nossa pauta de comércio e abrindo nossa economia para nos tornarmos uma nação mais aberta e competitiva, sem isso, nos afastaremos dos grandes eixos da economia internacional.

A nossa relação com a China deve ser calcada no fortalecimento dos laços comerciais e estratégicos, o país asiático é, na atualidade, a segunda maior economia do mundo e o maior exportador, nossos laços comerciais vem crescendo de forma acelerada desde o início do século e deve ser consolidado, o conflito entre China e Estados Unidos deve ser visto como uma oportunidade de novos negócios e empreendimentos, para isso, devemos cultivar com os dois gigantes comerciais uma excelente relação de cooperação e de comércio, garantindo ao país um mercado diversificado e consolidado para nossos produtos, principalmente os ligados ao agronegócio.

Nos preocupa as falas excessivas de alinhamento automático com o governo norte-americano e, principalmente com seu presidente, Donald Trump, a escolha do novo chanceler, Ernesto Araújo, um aficionado do presidente norte-americano, as críticas constantes aos governos de Cuba e da Venezuela e, muitas vezes, da China, tudo isto pode nos trazer consequências negativas num futuro próximo. Outra questão que deve ser revista e repensada é a retirada do Brasil dos acordos referentes ao clima e às propostas multilateral de regulamentação de imigração, além disso, destacamos como perigosa a alteração da embaixada do Brasil em Israel para a cidade de Jerusalém, o que pode criar graves constrangimentos com a comunidade palestina, responsável por parte considerável de nossas vendas externas.

Quando analisamos outras áreas e setores da sociedade brasileira, percebemos um vazio de propostas consideráveis, setores como saúde e educação, devem ser vistos como setores estratégicos e suas propostas ainda não foram colocadas pelo novo governo, encontramos apenas críticas a propostas anteriores e uma discussão muito ideologizada, principalmente com relação aos médicos cubanos, ou quando percebemos as referências aos projetos de Escola Sem Partido ou a crítica a ideologia de gênero, medidas que nos parecem muito mais cosméticas e feitas muito mais para agradar seu próprio público do que medidas consistentes de um programa de governo estruturado para um país marcado por dramas imediatos, crises constantes e que prescinde de pessoas competentes e projetos sólidos e consistentes afinal, depois de um período de forte recessão e piora dos indicadores sociais, ninguém mais aguenta uma nova experiência marcada por incompetência, arrogância e retrocessos.

Acredito que, diante do exposto acima, a melhor forma de encarar o Brasil em 2019 é com um otimismo moderado, acreditamos no poder da democracia e não a vemos em perigo ou próxima de retrocessos como nos diz os partidos e os intelectuais de esquerda, mas não posso deixar de dizer que o ambiente para o ano vindouro ainda é pouco visível e marcado, ainda, por muitas dúvidas e incertezas, queremos acreditar na mudança e sonhamos com ela,  mas quando olhamos para as forças contrárias a muitas destas medidas revolucionárias, somos inundamos por preocupações e medos, isto para não dizer por uma forte desesperança, reduzir o tamanho do Estado é algo fundamental, reduzir a burocracia e os encargos que carregamos com dificuldades no cotidiano nos auxiliaria em novos projetos de vida e de sobrevivência, quem sabe tiramos dos escaninhos da mente aquela ideia de empreendedorismo que tanto nos encanta.

Os novos rumos da sociedade brasileira vão depender de cada um de nós, ficar esperando dos governos medidas consistentes, serenas, estratégicas e que nos tragam ganhos imediatos é algo muito parecido com a ideia de acreditar em papai Noel, cujos presentes nos são trazidos no período de Natal, somos crescidinhos para acreditar nestes sonhos mas, devemos agir da melhor maneira possível para que, se cada um fizer a sua parte, o resultado será algo grandioso e positivo para toda a sociedade, que comecemos esta nova jornada acreditando que a verdadeira mudança está dentro de cada um de nós, que sejamos o agente da mudança que queremos do mundo.

A recuperação da economia já começou, depois de três anos de recessão e baixo crescimento, as perspectivas para o ano de 2019 são positivas, se as mudanças econômicas forem implementadas os resultados podem surpreender e um novo ciclo de crescimento pode ser inaugurado, os desafios são grandes, privatizar é algo positivo e deve ser estimulado, os grupos contrários que, até aqui, conseguiram inviabilizar as privatizações, devem se unir e podem ter sucesso, o que inviabilizaria os esforços do governo para a modernização da economia. Outro ponto que deve ser visto com precaução, a força de um novo governo foi legitimada pelas urnas e este poder deve ser utilizado rapidamente, todos somos a favor de medidas que endurecem contra os corruptos e os delinquentes que inviabilizam e inviabilizaram o país a muitos anos, para não dizer décadas, mas quando as mudanças envolverem esforços pessoais e intransferíveis, a conversa pode ser diferente, muitos que apoiam as medidas anticorrupção podem não apoiar as medidas de Reforma da Previdência, cabe ao governo a flexibilidade de negociar com a classe política e com a população, de uma forma geral, não utilizando-se da força e da repressão, mas do diálogo e do convencimento sinceros, só assim este governo terá o êxito necessário para inaugurar momentos mais saudáveis para a economia e para a sociedade.

As promessas foram muitas, as críticas aos governos anteriores foram frequentes, a péssima situação econômica, o desemprego elevado e um forte descontentamento com a classe política contribuíram para a ascensão do novo governo, as promessas podem ser cumpridas, as expectativas positivas podem ser alcançadas, a grande pergunta é se a sociedade, que depositou tanta confiança neste grupo político, terá condições de esperar que as melhoras se tornem efetivas e que as condições de vida da população inicie um circulo de melhorias e de bem-estar, se esta paciência existir as chances de sucesso e de esperança serão renovadas e aumentadas, garantindo apoio e representatividade social.

Os desafios para o país neste momento histórico são hercúleos, embora acredite que o presidente eleito não esteja a altura da missão que as urnas lhe concederam, acredito também  e quero acreditar, que este governo possa nos surpreender positivamente, afinal, depois de sobrevivermos a uma longa recessão, onde a economia regrediu mais de 9%, precisamos mostrar para nós mesmos e para a comunidade internacional, que o Cristo Redentor pode, novamente, decolar para a construção de um novo país, centrado no progresso econômico e na justiça social, onde todos estejamos orgulhosos e em condições de nos definirmos como brasileiros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reencarnação e inimigos desencarnados: uma visão espírita

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A reencarnação é um dos mais importantes passaportes para a compreensão da existência e da justiça de Deus, sem conhecer, estudar e compreender a amplitude do conceito da reencarnação, o homem vai continuar batendo cabeça e acreditando existir seres inocentes nos momentos de dificuldades e de desesperanças, momentos estes cada vez maiores na vida de todas as pessoas, períodos de medos e desesperanças que as aflições nos maltratam intimamente e nos levam, muitas vezes, a atitudes equivocadas cujos transtornos nos perseguem por muitos anos.

O conceito de reencarnação não foi trazido para a sociedade internacional pelo Espiritismo, muito antes da doutrina codificada por Allan Kardec, no século XIX, outras doutrinas orientais já destacavam as existências sucessivas, onde os indivíduos viviam várias vidas, o Espiritismo trouxe uma roupagem mais rebuscada, mostrou que o mundo se subdivide, vivemos na matéria mas somos na realidade espíritos, a verdadeira pátria da vida acontece no mundo espiritual, na matéria estagiamos em busca de uma perfeição relativa, somos espíritos milenares e alternamos o mundo físico e, posteriormente, o imaterial, buscando um progresso que nos auxiliará na melhoria de nossos sentimentos e de nossas atitudes.

A doutrina dos espíritos descortinou um mundo novo para a sociedade mundial, com ela, todos passamos a compreender que a vida não se encerra no túmulo, este último pode ser descrito como o suspiro final do espírito em uma vida material mas, a vida do espírito, a vida imaterial pode estar apenas começando, com isso, transformar a nossa existência na carne no momento único de nossas existências pode nos trazer amargas experiências e nos condenar a dores acerbas, quantos irmãos acordam no mundo dos espíritos e se sentem órfãos de compreensão espiritual, eram religiosos, estudavam doutrinas estanques, acreditavam que ao morrer esperariam pelo final dos tempos e o juízo final, aí sim seriam admitidos nas fileiras do Cristo, afinal eram pessoas boas, honradas e caridosas, ledo engano, a vida é muito mais complexa e dinâmica do que estas religiões ensinam, no mundo o sono é um momento importante de refazimento para trabalhar mais e sempre mais, visando sempre o crescimento e o aperfeiçoamento do espírito.

Quantas pessoas acreditam, a vida física inteira, que a morte é o fim da existência humana, diante desta tese, passa a agir como se o momento atual é o derradeiro e transformam suas vidas em uma busca constante por prazer, sexo, gozos, hedonismo e experiências transcendentais e quando caem em si, choram como crianças que perderam o brinquedo, quantos espíritos se manifestam em reuniões mediúnicas chorando e decepcionados com tudo que aprenderam, lágrimas e lamentos escorrem de seus rostos em desespero pela descoberta de que, a realidade da vida que os apresentaram, estava equivocada.

Muitas pessoas passam a vida toda buscando saber o que foram em existências anteriores, gastam fortunas com médiuns e consultas em espaços pouco respeitosos para saberem quem foram em outras vidas, muitos ficam felizes e cheios de orgulho quando descobrem que, na vida passada, foram reis ou rainhas, dotados de grande poder e riquezas imensuráveis, tudo isso é uma grande ilusão afinal, a grande maioria foi, em existências pregressas, camponeses e servos honrados e respeitados, mas estes não possuem o glamour e o brilho dos indivíduos de sangue azul mas, na maioria das vezes, são mais iluminados do que os membros da realeza. Para sabermos o que fomos em vidas anteriores, o melhor é olhar para dentro de nós mesmos e auscultar nossas tendências, quando percebemos neste ato sentimentos bons e fraternos conseguimos compreender que, em outras existências, fomos seres humanos bons e promissores agora, se ao olharmos para dentro de nossos sentimentos encontrarmos mágoas, rancores e ressentimentos, é hora de buscarmos auxílio para que nesta nova existência consigamos crescer e nos fortalecer como seres humanos, nos livrando destes sentimentos menores que tanto nos incomodam e nos levam a uma estagnação em nossas existências.

A morte não é o fim como muitos acreditam, muitos se deparam com perseguidores ou inimigos espirituais durante toda vida, são pessoas que se julgam inocentes, pessoas que agora são boas de coração e dotadas de sentimentos nobres que, por um motivo desconhecido, estão passando por obsessão e perseguição espiritual, diante disso, nos momentos de dores e desesperanças, buscam ajuda espiritual e se apresentam como seres que passam por perseguições de espíritos malignos, acreditam que seus perseguidores são espíritos inferiores e cruéis, quanto engano cometem pensando desta forma, como Deus admitiria que fossemos perseguidos e mal tratados por espíritos inferiores se nada tivéssemos feito para este irmão espiritual? Onde estaria a justiça divina em permitir esta perseguição? Se existem irmãos desencarnados que nos perseguem é porque, em algum momento de nossas existências cometemos erros ou equívocos contra estes irmãos, como não nos perdoaram estão a nos perseguir, para que não soframos tanto é imprescindível que entendamos que não existem inocentes.

A Doutrina nos mostra, que todos os débitos que possuímos com nossos semelhantes é fundamental que reparemos em vida, muitos se dizem vítimas de conchavos e se refugiam nos rancores e nos ressentimentos e mais, acreditam que agem corretamente e não querem nem ouvir falar no companheiro que julga ser seu algoz. Muitos esquecem que se não nos reajustarmos com nosso semelhante enquanto estamos encarnados e vivendo ao seu lado, em um outro momento seremos escalados para este reajuste e este, nem sempre ocorre de forma amistosa, muitos irmãos que carregam rancores e ressentimentos são escalados a reencarnar ao lado de nosso algoz de vidas anteriores, muito de nós nascemos em lares onde o irmão ou um parente próximo fez parte de nossas desditas em momentos anteriores, diante desta situação, faz-se necessário recolher nossos orgulhos e nos entregarmos a um reequilíbrio espiritual nesta vida, não devemos ser chamados para a prestação de contas mas sim nos anteciparmos com os corações conscientes e serenos.

Destacamos ainda, que ninguém consegue crescer espiritualmente carregando mágoas, rancores ou ressentimentos no coração, a melhoria do espírito prescinde perdoar os erros cometidos e uma reconciliação com todos aqueles que nos causaram constrangimentos, muitas vezes esquecemos quando ofendemos alguém, muitas vezes agimos de forma equivocada com nossos semelhantes e não nos importamos com palavras ou atitudes agressivas ou exageradas mas, aqueles que foram ofendidos ou se sentiram maltratados não se esquecem, muitos deles podem acumular mágoas que se não forem bem tratadas podem se transformar em ressentimentos futuros, é importante para alcançarmos nosso progresso que deixemos de lado estas picuinhas e nos melhoremos como seres humanos, somente neste momento nos sentiremos melhores e mais preparados para as benesses da vida.

Outros descobrem a existência de inimigos desencarnados e atribuem a estes os males que assolam as suas vidas, suas dificuldades e desequilíbrios são fruto de ressentimentos de irmãos que, em vidas anteriores, acumularam dissabores e voltam, neste momento, para cobrar a fatura, esta situação existe e pode ser descrita como algo natural, existem muitos espíritos que nos são trazidos nas sessões mediúnicas que se dizem perseguidores de irmãos encarnados, contam suas histórias e relatam que só terão paz e tranquilidade, quando conseguirem se vingar daqueles que os prejudicaram em momentos anteriores, sua descrição é tão sincera e seus argumentos são tão fortes, que passamos a acreditar que se trata de um irmão vítima de uma situação desconfortável, gerando solidariedade e empatia. O grande equívoco desta análise é que, muitos perseguidores espirituais se aproveitam de sua situação de invisibilidade para maltratar e levar irmãos encarnados ao desajuste ou ao desequilíbrio, estas atitudes os levam a momentos de prazer, mal sabem eles é que, num outro momento quem estará encarnado será ele mesmo e seu algoz estará no mundo espiritual, a situação se inverterá e agora o perseguido será o perseguidor atual. Somente o perdão e a solidariedade conseguirão acabar com este circulo vicioso entre estes espíritos e contribuir para a construção de um verdadeiro e natural circulo virtuoso, onde os equívocos serão superados e os laços de ódios, rancores e ressentimentos serão substituídos por laços de amor e de solidariedade.

A existência de inimigos desencarnados é uma constante na vida da grande maioria dos seres encarnados, todos nós em algum momento de nossa caminhada já nos indispomos com algum amigo ou conhecido, muitos nos perdoaram enquanto outros nunca o fizeram, deixaram que as mágoas fossem cultivadas e os ressentimentos foram transformados em ódios, estes irmãos precisam de ajuda, precisam de oração e de compreensão, são irmãos nossos que necessitam de nosso apoio e de nosso auxílio, é claro que quando percebemos a presença de entidades que querem o nosso mal, nosso comportamento é agredir ou maltratar este irmão, este sentimento instantâneo que nos invade não é o nosso melhor conselheiro e deve ser, rapidamente, substituído por outro, mais humano e fraterno, onde devemos compreender, que este espírito precisa de nossa ajuda, neste momento devemos orar e lutar para que as energias que enviamos a este amigo sejam energias de paz e de solidariedade, sempre visando o bem, a libertação e o crescimento desta entidade, a melhora de nosso “inimigo” é, na verdade, uma melhora nossa como ser humano.

Ao analisar a situação de uma forma mais fria e pormenorizada, percebemos que este irmão, em vidas anteriores, prejudicou e gerou graves constrangimentos ao irmão ora encarnado, esta situação não nos é contada pelo atual algoz mas está presença em seu perispírito e ao analisarmos conseguimos perceber claramente que ambas se atraem mutuamente, ambos vivem uma obsessão conjunta, ambos mantem fortes vínculos emocionais e espirituais entre si, com isso, a atração os aproxima e ao mesmo tempo os repele, uma situação mais comum do que imaginamos e está presente na vida de muitas irmãos encarnados e desencarnados, desfazer estes laços de ressentimentos e transformá-los em laços de amor e de solidariedade nos auxilia claramente em nosso progresso e crescimento espiritual e moral.

A Doutrina Espírita nos mostra a importância da oração, muitos acreditam que não existe a necessidade de orar e advogam que, se Deus sabe de nossas dificuldades, qual a necessidade de orar e solicitar amparo e proteção? A oração nos liga a Deus e aos amigos espirituais, acalentam nossos corações e nos fortalecem para os embates da existência, orar é uma forma clara de admitir que somos necessitados do auxílio divino e um instrumento de equilíbrio, ainda mais quando nos encontramos em uma sociedade marcada por tantos desequilíbrios físicos e morais, além de desajustes, psicológicos e espirituais.

O espiritismo nos leva a refletir sobre estes irmãos que se tornaram inimigos desencarnados, muitos de nós repelimos estes irmãos e os queremos longe e bem distantes, mas sabemos que, durante muitos anos de nossa existência, nós fomos os inimigos desencarnados de outros irmãos, fomos nós que, em momentos anteriores, deixamos nos inundar de mágoas, ódios e ressentimentos e fomos cegamente buscar satisfazer nossos sentimentos mais inferiores e mesquinhos, fomos nós os perseguidores que buscamos a vingança e a maldade daqueles que julgávamos nossos algozes, hoje sabemos quanto estávamos errados e o quanto Deus foi misericordioso conosco, erramos e hoje estamos construindo a nossa redenção.

Os inimigos desencarnados podem nos gerar graves constrangimentos, como vivem em esferas espirituais diferentes, podem nos induzir a atitudes constrangedoras e equivocadas, inúmeras pessoas cometem os maiores desatinos quando se encontram em momentos de influência espiritual mas, é importante destacar, que toda esta influência só é possível e permitida, quando deixamos brechas em nossos comportamentos, quando deixamos de nos manter equilibrados espiritualmente, quando nos distanciamos de Deus e dos compromissos morais mais saudáveis e quando nos deixamos ser levado pelos prazeres hedonistas irresponsáveis, somente assim abriremos espaços em nossas vidas para a influência negativa que cultivamos.

A Doutrina Espírita nos mostra que somos seres em constante evolução, o trabalho reto, marcado pelo equilíbrio e pelos sentimentos morais mais sólidos nos auxilia no crescimento e no progresso espiritual, este nos fortalece e nos protege de irmãos que, momentaneamente, se comprazem no mal e nos sentimentos de inveja, rancores e ressentimentos. O melhor antídoto para nos livrarmos destes irmãos indesejados é construir em volta de cada um de nós uma fortaleza de equilíbrio e trabalho no bem, frequentar um trabalho espiritual, ler livros edificantes que nos auxiliam na compreensão das dificuldades da vida, auxiliar nossos irmão necessitados, dispender um tempo para ouvir as dores de outros seres humanos e cultivar o hábito da oração, estas são algumas das receitas que nos levam a afastar irmãos sofredores mas, ao mesmo tempo um instrumento de elevação que nos levará a compreender, que estes irmãos são, na verdade, instrumentos que Deus nos envia para que possamos nos melhorar e nos construir espiritualmente.

A vida física é tão rápida e passageira que, na maioria das vezes imploramos o retorno a este mundo material, estar aqui é algo complexo e difícil, nos deparamos com nossas imperfeições é sempre penoso e dolorido, a vergonha é uma companheira constante e as cobranças nos perseguem cotidianamente, estar aqui é nos abrir para uma nova oportunidade de soerguimento espiritual, reconstruir nossas famílias e construir vínculos sólidos de amor e de solidariedade, é sempre fundamental deixar para trás todos os desajustes e desequilíbrios que fizemos e ainda fazemos em nossas existências enquanto espíritos, somos seres imperfeitos e buscamos a perfeição, a oração e o trabalho no bem nos ajudam em nossa trajetória mas, a verdadeira transformação começa na alma e se espalha para todo corpo físico afinal, somos Deuses e como tais podemos muito mais do que imaginamos, basta ter fé e se entregar aos desígnios do verdadeiro amor e da verdadeira caridade, a Doutrina Espírita pode nos auxiliar nesta transformação, desde que estejamos preparados para encarar de frente nossas limitações, desde que estejamos dispostos a nos perdoar de nossos erros e equívocos, desde que nós abracemos a Deus e nos comportemos como bons cristãos, a religião espírita pode nos auxiliar nesta caminhada mas somente nós, seres humanos, poderemos dar os primeiros passos desta transformação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mundo ainda não se recuperou de 2008, afirma economista

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Para professor da Universidade de Columbia, a próxima bolha pode estourar na China

Danielle Brant – Folha de São Paulo, 16 de dezembro de 2018.

A próxima crise econômica global pode ser mais devastadora que a anterior, porque os países ainda não se recuperaram da recessão de 2008. A avaliação é de Adam Tooze, professor de história da Universidade Columbia e autor do livro “Crashed: How a Decade of Financial Crisis Changed the World” (Quebrados: como uma década de crises financeiras mudou o mundo, em tradução livre).

Segundo ele, houve uma recuperação desigual da crise. “Você poderia citar a experiência americana, em que a recuperação econômica da crise foi vigorosa”, diz. Na Europa, muitos países ainda estão em situação frágil, e os emergentes ainda lidam com os efeitos colaterais das medidas que os bancos centrais tomaram para conter a recessão, continua.

Tooze relaciona ainda a crise com a ascensão de uma onda conservadora que teve reflexos inclusive no Brasil.

“Não há uma fórmula simples que traduza crise econômica em resultado político”, diz. “O Brasil é um exemplo extraordinário disso. Ninguém diria 12 meses atrás que o Brasil estaria onde está hoje.”

O senhor está no grupo dos que previram a crise? Eu não diria que previ a crise. Como muitas pessoas, eu achava que havia desequilíbrios na economia americana, déficit dos EUA, da China também, mas eu não antecipei a crise. Eu estava escrevendo um livro sobre Primeira Guerra Mundial e não estava pensando na tecnicidade do sistema bancário. Não foi uma crise como a que temos, cíclica, nunca vimos na história do capitalismo.

É possível comparar com a Grande Depressão de 1929? O resultado da crise de 1929, que terminou em 1933, foi muito pior em termos de desemprego, em colapso dos preços de commodities. Mas, em parte, foi porque não foi administrada, não foi contida. Foi uma doença, como a gripe, que seguiu seu curso sem intervenção médica.

A crise de 2008, a maioria vai concordar, pareceu pior que a de 1929. Em setembro e no início de outubro de 2008, parecia que estávamos vendo o fim do mundo, nunca tantos bancos ficaram em risco ao mesmo tempo, nos dois lados do Atlântico. Todos os bancos europeus e os grandes bancos americanos estavam em risco. Porque parecia tão terrível e porque tínhamos a experiencia da Grande Depressão, medidas foram tomadas quase que imediatamente. Significa que tinha o potencial de ser maior, de ser um desastre maior que a de 1929. Mas não acabou do mesmo jeito. Essa foi a diferença.

A crise de 2008 foi um ataque cardíaco, uma doença pior que a de 1929, mas, dessa vez, tivemos intervenção, o que fez toda a diferença.

Então a intervenção impediu o pior? Sim no que diz respeito a Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, o coração do sistema bancário de 2008. O choque que o Brasil sofreu em 2014 foi muito grave, o choque que Espanha, Grécia, Itália sofreram em 2008 foi extraordinariamente grave. A terapia e a intervenção de que estou falando se aplicam ao centro do sistema financeiro. Na periferia, foi muito menos bem-sucedido.

Sobre o papel dos bancos centrais, você tem alguma crítica à atuação deles? Os bancos centrais fizeram, na crise de 2008, o que era necessário para impedir os bancos de falirem. Houve duas coisas que você podia fazer. Se você tem uma crise de liquidez e o banco não tem dinheiro, o que você tem que fazer é pegar os ativos de longo prazo e dar dinheiro líquido a eles em troca. E eles fizeram isso nos EUA e na Europa. Todos estavam corretos.

E, se você tem um problema de solvência em que o capital do banco não é suficiente, então você tem que fazer recapitalização e oferecer garantia a esses bancos, e os bancos centrais e Tesouros fizeram isso também. No começo da crise, houve uma diferença, o BCE (Banco Central Europeu) reagiu mais devagar que o Fed (o banco central dos EUA), e os bancos e o Fed ofereceram dólares em grandes quantidades para bancos europeus e asiáticos por linhas de swap. Foi um sucesso dos bancos centrais para conter o dano.

Ainda assim, no seu livro, o senhor diz que a gente não se recuperou da crise. Depende de para onde você olha. Você poderia citar a experiência americana, onde a recuperação econômica da crise foi vigorosa, mas não se estende a todas as pessoas na sociedade. As minorias sofreram perdas em sua riqueza que não vão ser recuperadas em décadas. Mas o mercado de trabalho está forte, o desemprego caiu dramaticamente.

Na Europa, a crise, em muitas partes, continuou. A Grécia ainda está numa situação econômica desafiadora, está crescendo agora, a partir de um nível muito baixo. O desemprego na Itália e na Espanha permanece extremamente elevado, especialmente entre jovens. Se olhar no mundo, para os emergentes, nós ainda estamos lidando com os efeitos colaterais das medidas que os bancos centrais tomaram. O Brasil é um dos clássicos. Quando o Fed expandiu a liquidez em dólar, houve uma busca por juros, dinheiro estrangeiro do mundo todo foi injetado no país, parecia um investimento lucrativo. Quando o Fed voltou a elevar os juros, o dinheiro voltou a sair dos emergentes. Essa dinâmica em desdobramento ainda está em processo o tempo todo.

O senhor enxerga uma relação entre a crise e a ascensão do populismo no mundo? Varia enormemente de país para país. Uma forma de pensar é em uma imagem metafórica, você pensa na crise financeira como um terremoto. O impacto que tem nos sistemas políticos ao redor do mundo depende do quão perto eles estão do epicentro do terremoto, de quão sólida sua arquitetura é e depende de como os sistemas políticos foram bem mantidos.

Se olhar no mundo, alguns sistemas políticos estavam com uma grande pressão fiscal, só esperando explodir. Ucrânia e Hungria são países assim, você tem um profundo nacionalismo ressentido, tradições fortes. No caso húngaro, nacionalismo, traços de antissemitismo, ressentimento histórico. O choque de 2008 libera isso em um país como a Noruega.

O efeito na Alemanha é muito mais complexo. O AfD, o partido populista de direita, é produto direto da crise financeira, no sentido de que é uma reação ao esforço de Mario Draghi de estabilizar a zona do euro. Não é sobre a política de refugiados de Angela Merkel, mas sim à aceitação de Merkel da política de fornecimento de dinheiro do BCE. Aí você pega a crise de refugiados para impulsionar o AfD, fica mais complicado.

Se você olha na Espanha ou na Grécia, você não tem a ascensão da direita, mas o que a crise fez foi destruir a credibilidade de partidos de centro-esquerda, como o PSOE, na Espanha, e o Pasok, na Grécia.

Nos EUA, não há dúvida de que o Partido Republicano começou a perder sua coerência no verão [hemisfério Norte] de 2008. Você tem a Presidência Bush apelando ao Congresso por votos que não conseguia receber, John McCain se lançando como candidato a presidente e se recusando a endossar políticas da administração Bush e escolhendo Sarah Palin como sua vice, que é literalmente a antecessora de Donald Trump, como a xerife lunática que representa a política de direita americana.

Em cada país, depende da arquitetura, de como os atores no sistema político escolhem explorar as oportunidades. E de tensões preexistentes.

Não há uniformidade. Não mais do que teve nos anos 1930. Se você pensar na Grande Depressão, você teve o Peronismo na Argentina, o New Deal nos EUA e Adolf Hitler na Alemanha. Todos eles são produto da Grande Depressão.

Não há uma fórmula simples que traduza crise econômica em resultado político. É sempre uma equação complexa, em que tomadas de decisão e iniciativas são adotadas. O Brasil é um exemplo extraordinário disso. Ninguém diria que o Brasil estaria onde está hoje 12 meses atrás.

Uma próxima crise poderia vir dos empréstimos estudantis? Os empréstimos estudantis não são tanto um risco, mas as dívidas de empresas são um risco sério. Os títulos emitidos por empresas americanas com ratings de grau de investimento são elegíveis para compras por fundos de pensão, considerados ativos de alta qualidade. Há um grande problema, com ativos de baixa qualidade sendo considerados como de grau de investimento.

E só o que precisa acontecer é que eles sofram um rebaixamento para não serem mais elegíveis para compra pelos fundos. Aí você vai ter ondas de venda, o que levaria ao problema de queda de preços.

Esse é um cenário perigoso. A pergunta sobre a possibilidade de causar uma repetição da crise de 2008 requer que se questione quem sofreria as perdas. Se forem investidores comuns ou famílias que sofrerem as perdas, poderia causar a gripe econômica, a recessão, levaria as pessoas a poupar mais e investir menos. Mas não causariam uma crise financeira, porque, para ter uma crise financeira, você precisa que as perdas estejam no balanço de pagamentos de entidades que se alavancaram, que tomaram muito dinheiro para investir. E, no curto prazo, que estivessem sujeitos a uma situação em que as pessoas retirariam seu dinheiro.

Eu não vi dados até agora que mostrem um risco muito grande dos títulos corporativos nos balanços de empresas com financiamento de curto prazo. Sem isso, você pode ter uma recessão, mas não uma crise financeira.

Considerando que muitos países não se recuperaram da última crise, uma nova crise seria mais devastadora? Absolutamente, e os bancos centrais já gastaram muita de sua munição. Não é óbvio qual outra munição eles teriam para usar. Eles poderiam achar mais maneiras de deixar os juros em terreno negativo, devolver a zero, mas essa medida de emergência já foi tomada dez anos atrás. E não está claro de onde viria a próxima ação.

O senhor diria que o mundo aprendeu alguma coisa com a última crise? Eu acho que sim, nós temos uma ideia mais clara dos riscos. Eu acho que houve mudanças que tornaram o sistema financeiro mais seguro, não tão seguro quanto gostaríamos, mas certamente mais seguro do que o que havia em 2008.

Também sabemos agora o que fazer quando as economias estão tendo um ataque cardíaco.

O processo de globalização é contínuo. Precisamos reconhecer quão recente a história dos mercados emergentes é, e ainda estamos no processo de entender a implicação da governança global e econômica. Fizemos um experimento ao vivo para saber o que acontece quando, depois de dez anos de uma taxa de juros muito baixa, você sobe os juros americanos. Todo economista do mundo está focando essa questão.

E de onde vem a próxima crise? Se perguntar de onde vem a próxima recessão, e eu vou diferenciar de novo entre gripe e ataque cardíaco. Se você pergunta de onde vem a próxima gripe, está muito claro. Os EUA vão desacelerar, nessa mesma etapa do próximo ano. Isso não é difícil de ver.

O próximo ataque cardíaco é muito mais difícil, porque é algo que, por definição, você não consegue saber de onde vem, pega de surpresa.

A maioria das pessoas deve concordar que é improvável que venha do Ocidente. A crise de 2008 foi uma bolha conjunta entre EUA e Europa, não vemos esse fenômeno de bolha agora. Se houver evidência de um fenômeno de bolha, o risco é na Ásia e, acima de tudo, na China. Não está óbvio se o governo chinês está cogitando isso.

Adam Tooze, 51

Formado em economia pelo King’s College Cambridge, fez doutorado na London School of Economics. É professor de história na Universidade Cambridge e autor do livro “Crashed: How a Decade of Financial Crisis Changed the World”.

 

Sem partidos, Bolsonaro minaria governabilidade, diz Maílson da Nóbrega

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Para economista, recusa do eleito em fazer coalizão pode dificultar a aprovação de reformas – Folha de São Paulo – Ilustríssima, 16 de dezembro de 2018.

Maílson da Nóbrega

Autor avalia que a recusa do presidente eleito em buscar uma coalizão formal com partidos pode dificultar a aprovação de reformas necessárias e, assim, provocar exaustão de sua governabilidade.

A expressiva renovação no Congresso permitiria, na visão otimista de muitos, uma nova forma de relacionamento com o executivo, eliminando o toma-lá-dá-cá de outros tempos. Ocorre que a renovação privou o governo de parlamentares experientes na coordenação de votações relevantes.

Dos novos deputados, 141 deles (27,5% do total) jamais exerceram um cargo público. No partido do novo presidente, o PSL, 45 dos 52 deputados eleitos (87%) são novatos na cena política. O novo paradigma tem muitos riscos.

O presidente eleito tem cumprido a promessa de não negociar cargos, o que agrada muitos segmentos da sociedade. Sua equipe tem sido constituída sem as habituais barganhas políticas, indicando que ele não buscará uma coalizão formal com partidos, que pressupõe o compartilhamento do poder via distribuição de cargos.

Mesmo tendo iniciado encontros com legendas nas últimas semanas, Jair Bolsonaro tem se limitado a pedir apoio para as reformas. Não se fala em cargos.

Dificilmente, contudo, seu programa de governo será aprovado sem uma coalizão, o que pressupõe o compartilhamento do poder e, portanto, de cargos. Seu PSL elegeu pouco mais de 10% da Câmara, mas será preciso obter pelo menos 60% dos votos para aprovar reformas que dependem de emendas constitucionais.

Diz-se que a coalizão será feita com frentes parlamentares como a ruralista, a dos evangélicos e a da segurança, que têm entre 250 e 280 deputados, mas reformas constitucionais exigem o mínimo de 308 votos na Câmara. No Senado, onde necessitará de 49 votos, seus apoiadores serão apenas 15. Além disso, as frentes se unem em torno de temas corporativistas, não necessariamente para apoiar reformas polêmicas.

Coalizões partidárias têm eficácia muito superior. Os partidos têm prerrogativas inexistentes nas frentes. Seus líderes detêm poder de indicar parlamentares para relatar projetos e compor comissões. Eles integram o Colégio de Líderes, que define a pauta de votações de projetos relevantes. São o elo entre os parlamentares e o Executivo, tanto na liberação de emendas orçamentárias quanto em outros assuntos. Exercem função de coordenação ao encaminhar votações.

Negociar com frentes implica o risco de fracasso, embora seja possível aprovar a reforma da Previdência na chamada lua de mel, o início do mandato. O capital político obtido na eleição costuma viabilizar mudanças nos seis primeiros meses após a posse, mas a lista de reformas não se esgotaria.

A reforma tributária, que envolverá difíceis negociações com estados e municípios, demandará emenda constitucional. Outras, como aquelas relacionadas com costumes, podem enfrentar resistências.

Sistemas políticos multipartidários como o brasileiro criaram regras para lidar com processos de decisão coletiva, de modo a assegurar a fidelidade e a coesão da base parlamentar, reduzindo o custo de transação do processo legislativo. Por exemplo, no Reino Unido há o cargo de “whip” (“chicote”, em tradução literal), o parlamentar incumbido da disciplina partidária.

O “chief whip” do partido do governo coordena as votações, tem status de ministro e residência oficial na Downing Street, onde mora o primeiro-ministro. O status e as prerrogativas dessa posição mostram sua relevância para a governabilidade.

Nos dias de votação, o “chief whip” distribui uma lista com os projetos, seguida de símbolos ao lado de cada um deles. Uma linha indica desnecessidade de presença e de voto. Duas linhas significam comparecer e votar com o governo, mas uma justificativa pode dispensar a presença. Três linhas obrigam presença e voto favorável. A desobediência é punida com expulsão do partido. Não é incomum ver parlamentares comparecerem de maca a Westminster nessas ocasiões.

John D. Huber mostrou que a instabilidade da Quarta República Francesa decorreu da deficiente coordenação nas votações parlamentares. Houve 29 governos entre 1946 e 1958, o que levou a Assembleia Nacional a aprovar uma nova Constituição, a da atual Quinta República.

Surgiram arranjos institucionais para assegurar a coesão, a estabilidade e a capacidade decisória do Parlamento, o que decorre de uma Presidência forte e do chamado “parlementarisme rationalisé”. Eleições parlamentares após o pleito presidencial favorecem a escolha de maiorias alinhadas com o governo.

No Brasil, presidentes nunca se elegem com maioria no Congresso.  Para o cientista político Sérgio Abranches, criador da expressão “presidencialismo de coalizão”, “a coalizão é uma espécie de acordo prévio pelo qual os partidos se dispõem a apoiar projetos do Executivo, sob determinadas condições, a serem negociadas no momento da discussão e votação de cada um. Nunca é uma delegação de poderes”.

Da  capacidade do presidente de gerir a coalizão depende o apoio para aprovar o programa de governo. Ademais, acentua Abranches, “a reeleição dos parlamentares depende fortemente da influência sobre a execução orçamentária e da ocupação de cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões do Executivo”. Sem essas condições, a governabilidade se exaure rapidamente.

A dificuldade de aprovar reformas inibe o cumprimento de promessas de campanha. A consequente queda de popularidade provoca fugas da coalizão, a debandada dos aliados e, no limite, a perda do mandato. O presidencialismo de coalizão é, assim, o arranjo para garantir a coesão e a estabilidade da base parlamentar. Sem isso, a governabilidade pode cair drasticamente.

Bolsonaro parece se imaginar capaz de mudar de maneira radical a forma de negociação política do presidencialismo brasileiro. Governaria com a “força do povo”, o que poderia constranger o Congresso. Abriria mão, assim, da coordenação dos líderes de uma coalizão partidária. Trata-se de estratégia muito arriscada.

O mercado financeiro repousa seu otimismo na expectativa de aprovação de ampla reforma da Previdência e na ortodoxia do superministro da Economia. Empresários e grande parte da classe média apoiam a rejeição do toma-lá-dá-cá, influenciados pela degradada negociação da era petista, que cooptava apoio via corrupção. Imagina-se que negociar cargos seja sinônimo de fisiologismo e corrupção —o que não é necessariamente verdadeiro. Pode haver muitas decepções.

O senso comum diz que as reformas não avançam por “falta de vontade política”, o que abre espaço para figuras enérgicas como Bolsonaro, vistas como dispostas a arrostar e a vencer desafios. Acontece que as reformas dependem da capacidade de articulação política e de gestão de uma coalizão partidária majoritária e coesa.

A negociação com frentes parlamentares, como sinaliza o novo presidente, pode esgarçar as relações com o Congresso e acarretar altos custos de transação. Sem coordenação, será difícil aprovar reformas além da Previdência, impedindo a concretização da esperada recuperação do potencial de crescimento da economia e o cumprimento das promessas de campanha.

A consequência seria a perda gradativa de popularidade e de legitimidade, reduzindo as condições de governabilidade. Esse é o grande risco que correrá o novo presidente caso persista na ideia de desprezar o valor de uma coalizão partidária.

Maílson da Nóbrega, economista, foi ministro da Fazenda (1988-1990) no governo Sarney.

 

Uma visão espírita sobre as dores da alma

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Vivemos em uma sociedade marcada por grandes mudanças e transformações constantes, num mundo onde as frustrações caminham lado a lado com as vitórias, tanto profissionais quanto sentimentais, vivemos em um mundo doente, onde as dores da alma crescem de forma exponencial, seu incremento está diretamente atrelado aos avanços na ciência e nas tecnologias, avanços estes que levam os seres humanos a se isolarem rapidamente de si próprios e se encastelar nos escaninhos das redes sociais, vivemos em um mundo de transições, onde uns se adaptam mais rapidamente enquanto outros se fragilizam e veem suas energias sendo, todos os momentos, serem reduzidas a uma chama cada vez menor e mais insignificante.

Nesta sociedade, os avanços tecnológicos nos levam a gozar a vida intensamente, os prazeres materiais nos empolgam e nos tornam cada vez mais poderosos, adoramos a ciência, cultivamos o conhecimento e as descobertas científicas e passamos a acreditar que Deus não existe e que somos todos frutos de uma grande explosão.

A Doutrina dos Espíritos nos foi trazida como forma de compreendermos melhor as bases que sustentam a vida, o Espiritismo destaca que somos seres em constante evolução, desde nossa criação como seres simples e ignorantes até o porvir de uma perfeição relativa, onde nos encontrarem em um estágio evolutivo onde a guerra, a destruição e os sentimentos mais perversos não mais existirão, algo difícil de imaginar quando olhamos para a sociedade atual, mas que todos vislumbramos como um verdadeiro ideal de realidade futura, afinal somos todos imortais.

O Espiritismo nos mostra que estagiamos no mundo material, para isso, recebemos um corpo físico e somos responsáveis por este corpo, devemos entrega-lo, nas melhores condições, no melhor estado de conservação e seremos cobrados por isso. Um exemplo interessante a destacar, na obra Nosso Lar, livro psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier e ditado pelo médico André Luiz, recebemos inúmeras informações novas e inesperadas, como a de que o médico desencarnado, nesta vida tenha sido considerado um suicida indireto, ou seja, embora não tenha sido o responsável direto por seu desencarne, suas atitudes no corpo físico contribuíram para encurtar sua passagem pelo mundo material, desde os excessos com o sexo até os prazeres sempre difíceis de controlar, que nos atraem e nos dá prazer, e qual de nós não gostamos do prazer?

Se considerarmos o descrito no parágrafo acima, a grande maioria da humanidade pode ser descrita como suicidas indiretos, não buscamos a morte material e gostamos demasiadamente dos gozos terrestres, mas nos empanturramos de comida das mais diferentes possíveis, adoramos novos experimentos gastronômicos e não economizamos neste prazer tão “inofensivo”. Outro ponto que nos excedemos é nos gozos sexuais, pensamos em sexo muitas vezes do dia e praticamos mais do que deveríamos, se temos parceiros fixos exigimos constantemente este prazer intenso agora, se não temos parceiros próximos, nos entregamos as mais intensas extravagâncias, nos enchemos de prazer e nos esquecemos que na vida, parafraseando o grande economista liberal norte-americano, Milton Friedman, não existe almoço grátis.

Vivemos uma sociedade onde estão encarnados indivíduos das mais variadas condições espirituais, desde aqueles que já atingiram um grau de desenvolvimento e poderiam se dedicar a outros trabalhos no mundo espiritual mas que, por amor a humanidade, aceitam retornar para contribuir para o progresso do orbe terrestre, até aqueles que se recusaram a retornar e só o fizemos porque foram obrigados pela Justiça Divina, espíritos que se comprazem no mal e possuem, em seus corações, sentimentos maus, de ódio, de vingança e de ressentimento, querem destruir e se comprazem com esta destruição.

Neste ambiente percebemos que os seres humanos estão atolados nas mais variadas dores e angústias, trazem em seus corações dúvidas cruéis, sentimentos dúbios, mágoas generalizadas e sentimentos dos mais desequilibrados, nesta sociedade os suicídios crescem de forma acelerada, apenas no ano passado mais de 1 milhão de pessoas se suicidaram no mundo, além da depressão que afeta mais de 5% da população mundial, algo em torno de 350 milhões de pessoas, um contingente de doentes crônicos que carregam em seus corações dores e desequilíbrios desconhecidos e incompreendidos.

A Doutrina Espírita nos mostra que somos seres humanos que estamos, por hora, vestindo a roupa de carne mas, na verdade, somos espíritos imortais e tudo que temos em nossa mente é fruto de milhares de encarnações que se sucederam em nossas experiências anteriores, todas as dificuldades com sentimentos difusos e complexos podem ser compreendidos como vivências de outras encarnações que vivemos e não nos lembramos, dores com amores mal correspondidos, crimes que cometemos ou fomos as vítimas momentâneas, todas estas experiências estão inscritas em nossa consciência e, como as esquecemos ao encarnarmos, sentimos os ruídos destes desequilíbrios inscritos em nossa alma, cultivando as chamadas dores da alma.

Alguns advogam a tese de que deveríamos nos lembrar destas experiências anteriores, defendem que ao se lembrar destas experiências conseguiríamos contornar estes desajustes que, em muitos casos estão vivos, e construir uma nova consciência, mais justa e conscientes de que não existem vítimas, somos todos culpados e, devido a providência divina, conseguimos sempre nos levantar e angariar as forças necessárias para seguir em frente.

O Espiritismo acredita que o esquecer de experiências anteriores é um antídoto para que o palco da reencarnação não se transforme em um local de lutas e confrontos variados, esquecemos porque, muitas vezes, se lembrássemos de que este que agora está ao nosso lado foi nosso algoz em momentos anteriores, se lembrássemos destes episódios, seríamos impelidos a buscar uma revanche imediata, afinal para muitos o que vale é a lei de olho por olho e dente por dente, mesmo sabendo que estamos no século XXI, marcados pela civilização e pela institucionalidade social e política da contemporaneidade.

Depois de construirmos tantas riquezas, tecnologias e conhecimentos que transformaram a história da civilização, a sociedade caminha a passos largos para um ambiente de destruição generalizada, muitos acreditam que esta destruição é algo inimaginável, se conseguimos desvendar tantos segredos da natureza, com certeza, conseguiremos reverter os impactos negativos destas revoluções sobre a sociedade mundial, podemos acreditar nisso mas, mesmo assim devemos compreender que todas as destruições que os seres humanos impingirem ao planeta Terra, a Justiça Divina vai agir no sentido de cobrar de todos os envolvidos, todas as faturas e pagamentos futuros, senão neste mundo, mas em algum local e momento todos seremos chamados para prestarmos contas desta destruição que condena as futuras gerações a privações e degradações.

Na sociedade em que vivemos os consultórios de psiquiatria estão abarrotados, as clínicas de psicólogos e de terapeutas holísticos estão todas abarrotadas, o exército de desequilibrados aumenta de forma exponencial enquanto o mundo globalizado cria loucos e desajustados em escala, neste mundo a reflexão é deixada de lado, as disciplinas baseadas na Filosofia, na Antropologia, na Sociologia e na Política são vistas como desnecessárias, uma verdadeira perda de tempo mas, ao mesmo tempo, alguns intelectuais ganham fortunas discutindo questões que os seres humanos se fazem todos os dias e não se entregam a reflexão, as leituras e as discussões são deixadas de lado, o que está em alta é a busca generalizada pelo prazer, pelo gozo e pelos ideais hedonistas, afinal, nesta sociedade o que vale não é ser inteligente, mas parecer inteligente, com isso, perdemos nosso tempo com postagens de momentos felizes e nos colocamos na vitrine da vida como seres de sucesso e bem sucedidos deste mundo altamente competitivo e desequilibrado, marcados por medos, instabilidades e incertezas generalizadas.

Os desequilíbrios de cada ser humano está dentro de seu íntimo, olhar para dentro de cada pessoa é a verdadeira chave para seu autoconhecimento, todas as vezes que deixamos de reflexionar sobre nossas emoções, sentimentos e desejos, adiamos a descoberta do que fomos em vidas anteriores e, se não nos encararmos de frente, perpetuaremos em nosso interior os nossos desajustes mais íntimos durante muitas vidas, afinal somos seres imortais, estamos num traslado constante entre dois mundos, o material e o imaterial.

A Doutrina Espírita nos auxilia nesta caminhada e nesta descoberta constante, se nos entregarmos nesta aventura de auto conhecimento, viveremos melhor e de forma mais equilibrada e tranquila agora, se não nos conscientizarmos de que precisamos mergulhar dentro de nossas entranhas, continuaremos vivendo em mundos paralelos, incutindo em nossas mentes que os verdadeiros culpados de nossas desditas são outras pessoas, com isso, estamos terceirizando nossas responsabilidades e evitando encarar de frente todos os nossos percalços desta existência e de existências anteriores.

Normalmente encontramos pessoas que nos abordam e dizem com grande satisfação que, mesmo tentando serem melhores todos os dias, mesmo buscando ajudar as pessoas e contribuindo para diminuir as desigualdades do cotidiano, vivem com inúmeras dores na alma, como pode encontrarmos pessoas boas e dedicadas que estão sempre com problemas variados? Dificuldades crescentes nos relacionamentos, problemas financeiros e perturbações espirituais, como podem apresentar tais sintomas se estão buscando a palavra de Deus e tentando ser melhores todos os dias? Todos devemos compreender que as dificuldades são questões que envolvem a todos, somos seres devedores, nascemos com muitas dívidas e, conforme agimos, temos nosso débito reduzido ou aumentado, tudo vai depender de nossa construção diária.

Outro ponto a se destacar é que hoje somos melhores, hoje compreendemos mais, hoje auxiliamos mais, anteriormente nada fazíamos para o auxílio, não estudávamos e estávamos em lamúrias constantes, hoje somos bons, mas e ontem, como éramos? Se ainda colhemos frutos ruins mesmo com trabalho e dedicação, o que colheríamos se continuássemos vivendo de forma agressiva e violenta? O mundo não acaba no túmulo, em nossas trajetórias já morremos e renascemos milhares de vezes e, em todas elas, trazemos em nosso íntimo novas experiências, hoje somos o que acumulamos em nossas variadas experiências anteriores na matéria, sendo melhores na atualidade, com certeza, em outros momentos colheremos os melhores frutos de sabedoria, de alegrias, de felicidades e de progressos, afinal estamos sempre em constantes evoluções.

Na Doutrina Espírita aprendemos que todos somos algozes uns dos outros, se todos cometemos ilícitos dos mais variados possíveis nesta e em outras encarnações, como podemos apontar para os equívocos e desequilíbrios de nossos semelhantes, como nos disse Jesus de Nazaré quando percebeu o tratamento das pessoas para com a mulher adúltera: atire a primeira pedra aqueles que não pecaram. Neste exato momento todos os concidadãos saíram do local calados e desconsertados, afinal todos pecamos e ninguém esta em condição de julgar e muito menos de condenar outro semelhante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para Ricardo Paes de Barros, país chegou ao limite de fazer política social sem economia saudável por trás

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Érica Fraga FSP – 10 de dezembro de 2018.

Diante da severidade da recessão dos últimos anos, o aumento da pobreza ocorrido no Brasil em 2017 foi, surpreendentemente, pequeno, um fato que precisa ser celebrado.

A opinião é do pesquisador Ricardo Paes de Barros, conhecido como PB, que se tornou referência por seus estudos sobre desigualdade de renda e educação no país.

“Diante de uma crise dessa magnitude, você ter menos de um ponto percentual de aumento da pobreza é algo para um país celebrar”, disse ele, que é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.

A análise se referia a dados divulgados na semana passada pelo IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o órgão, o contingente de pobres no país aumentou de 25,7% para 26,5% da população entre 2016 e 2017. No mesmo período, a extrema pobreza, que afetava 6,6% dos brasileiros, passou a atingir 7,4% do total.

Pela linha definida pelo Banco Mundial —métrica adotada pelo IBGE—, são classificados como pobres os que vivem com até US$ 5,50 (o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado) por dia. Os de extrema pobreza têm renda diária inferior a US$ 1,90 —R$ 140 por mês.

“Foi um pequeno aumento, mas muito concentrado naqueles que são muito pobres.”

Para PB, se, por um lado, os dados revelam que o impacto da crise sobre os extremamente pobres foi dramático, por outro, indicam que o progresso anterior do país no combate à pobreza tem sido resiliente.

Ambos os resultados têm de ser mais bem estudados e compreendidos, diz. Mas, olhando para a frente, PB ressalta que o Brasil chegou ao limite da possibilidade do combate à pobreza apenas com política social, sem uma economia saudável —que gere emprego para todos e inclua os extremamente pobres— por trás.

“Então, economia, por favor, cresça aí!”

O que o aumento da pobreza revelado pelo IBGE representa em termos de retrocesso para o país?

Não olhei os dados com cuidado. Mas isso já era, mais ou menos, conhecido. Uma das preocupações é se isso reverte os ganhos do passado. Precisamos ter em mente que a redução que fizemos na extrema pobreza foi astronômica. A pobreza em 2014 era menos de um terço do nível de 2003, uma queda gigantesca.

Então, o aumento agora, menor que um ponto percentual, não chega a 10% do que a gente reduziu de pobreza nos últimos tempos. Ele é bem problemático, mas de forma nenhuma representa reversão.

Obviamente, a gente gostaria de ver a extrema pobreza continuando a cair e espera que ela volte a cair, mas, em certo sentido, dada a magnitude da recessão e do desequilíbrio fiscal do país, ela subir menos de um ponto percentual mostra uma certa resiliência, porque ela tinha caído 10 ou 11 pontos percentuais, dependendo de como se mede.

Agora, 2017 foi muito ruim para os muito pobres. Esse período foi dramático para esse grupo, cuja renda caiu mais de 10% em termos reais. Ou seja, foi um pequeno aumento da pobreza, mas muito concentrado nos que são muito pobres.

Isso não seria um retrocesso?

Para um país que tinha mais de 10% da população na extrema pobreza, eu não chamaria isso de reversão de maneira nenhuma. A grande conquista da nossa redução da extrema pobreza no passado foi que, embora em parte ela tenha sido explicada pelo Bolsa Família, em larga medida, se deu por inclusão produtiva, pelo trabalho das pessoas.

Mas esse processo, que foi muito legal, não conseguiu chegar, em toda a era Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma [Rousseff], aos 5% mais pobres. E eles foram os que mais sofreram agora.

O IBGE atribui o aumento da pobreza ao maior desemprego. Se os extremamente pobres não tinham sido incluídos produtivamente, por que foram os mais afetados? Faltou proteção social? 

Acho um pouco inesperado porque eu imaginaria que esses 5% que, tradicionalmente, estão mais desconectados do setor formal sofreriam menos com uma crise que atingiu tantos setores formais da economia.

É curioso que, no meio da distribuição, as pessoas se mantiveram mais ou menos com a mesma renda.

Já entre os 5%, a renda cai bastante. Precisaríamos de um estudo mais detalhado porque na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio, do IBGE) os 5% mais pobres de 2016 não são necessariamente os 5% mais pobres de 2017.

Se um monte de gente do mercado formal fica desempregada e com renda muito baixa, eles passam a integrar os 5% mais pobres. Pode ter ocorrido uma mexida em quem são os 5% mais pobres do Brasil.

Em termos relativos, esses desempregados podem ter se tornado mais pobres do que os do grupo que vive do Bolsa Família?

Exatamente. Pode ter aparecido um novo extremamente pobre no Brasil. Se bem que os antigos 5% mais pobres não podem ter melhorado tanto de vida, e, portanto, a pobreza teria de ter subido muito mais. Precisamos olhar com mais cuidado os dados. É uma especulação.

É relativamente surpreende que o aumento da pobreza tenha sido tão pouco porque a crise no mercado de trabalho foi muito maior. Aí entra a questão da resiliência.

E o que explica essa resiliência? O Bolsa Família?

O fato de você ter uma rede de proteção como o Bolsa Família ajuda. Mas, olhando para os dados, ninguém diria que o Brasil passou pela recessão que passou. Dado o aumento na taxa de desemprego, era de esperar que a pobreza aumentasse muito mais. O fato de ter aumentado muito pouco é surpreendente.

Com outra metodologia de mensuração o resultado poderia ser diferente?

Não, o dado é esse. Um relatório do Banco Mundial já antecipava um aumento pequeno da pobreza, e eu tinha pensado que não era possível. Mas acabou sendo mesmo.

Eu celebraria esse aumento da pobreza. Só isso para uma recessão desse tamanho? Agora, por que foi só isso com tanto desemprego? Como mais desempregados não entraram na extrema pobreza, como eles não entraram nem na pobreza?

Talvez porque esse desemprego esteja muito concentrado entre os jovens, e não tanto entre os chefes de família. Precisamos de um estudo mais profundo para entender.

Então, a boa notícia é que não afetou tanto a extrema pobreza. A má notícia é que, entre os pobres, pegou o muito, muito pobre.

Olhando para a frente, o que o Brasil deveria estar pensando em termos de política pública de combate à pobreza? 

Em primeiro lugar, diante de uma crise dessa magnitude, você ter menos de um ponto percentual de aumento da pobreza é algo para um país celebrar. Nenhum país do mundo consegue isso.

Precisamos entender como conseguimos isso. Ainda nem conseguimos entender direito como fizemos a extrema pobreza cair tanto, porque não foi simplesmente o Bolsa Família.

A outra coisa é que, para a gente andar para a frente agora, só com uma economia saudável. Acho que todo o mundo que estuda pobreza está convencido de que chegamos mais ou menos ao limite de fazer política social remendando em cima de uma economia frágil, num país que não cresce.

É claro que dá para fazer muita coisa ainda, mas, vamos combinar, estamos chegando ao limite. Então, economia, por favor, cresça aí!

O sonho da política social, o sonho de Osmar Terra [ex-ministro de Michel Temer, que voltará a comandar a área social na gestão de JairBolsonaro] deve ser que os economistas façam nossa economia andar para a frente.

Quando a economia deslanchar, não poderemos fazer como no passado. Temos de ter política social, que vai garantir que os mais pobres se enganchem no mercado produtivo. Isso não é automático, requer uma política social de inclusão produtiva que nosso ministro Osmar Terra tentou fazer na última administração dele pós-Dilma, mas que ainda está devendo um pouco.

Ele fez algo maravilhoso com o Criança Feliz [focado na primeira infância], aumentou o valor real do Bolsa Família, acho que melhorou bastante sua fiscalização e acabou com a fila do programa.

Foi uma boa decisão chamá-lo de volta?

Sem dúvida, foi uma excelente escolha. Mas a questão da inclusão produtiva no Brasil, para mim, é um grande mistério porque a presidente Dilma, ao lado da ex-ministra Tereza Campello[Desenvolvimento Social e Combate à Fome], desenvolveu um programa fantástico de inclusão produtiva, que é o Brasil sem Miséria. Eu estava no governo na época e dei uns palpites, deveria ter participado mais. Mas, até onde vi, a implementação dele foi muito sólida, feita por equipe supercompetente.

E acho que esse programa foi descontinuado ainda na gestão Dilma e eu não entendo o porquê. Eu me lembro do Osmar Terra chegando, perguntando pelo programa e descobrindo que ele não existia mais.
Acho que ele tinha um erro. Era muito bem integrado em Brasília. Mas um programa de inclusão produtiva precisa ser muito bem integrado lá na ponta. Se você não der ao agricultor familiar assistência técnica, crédito, apoio à comercialização, ele não vai sair da pobreza.

Acho que precisamos fazer de novo um Brasil sem Miséria com um atendimento lá na ponta mais integrado, mais customizado, parecido com o Chile Solidário.

A assistente social precisa ir a cada família e conversar para entender como ela pode ser incluída produtivamente. Se for um empreendedor, é preciso uma política. Se for um pequeno produtor, outra política.

almirante Bento Costa Lima de Albuquerque Junior, futuro ministro de Minas e Energia de Jair Bolsonaro, é seu irmão?

Sim. Ele é filho da segunda esposa do meu pai. O pai dele morreu quando ele tinha uns dois anos e a mãe dele se casou com meu pai quando ele tinha uns quatro anos. Ele é quatro anos mais novo que eu. Meu pai botava nós dois de castigo e me colocava para dar aula de física e de energia para ele nas férias [risos].

 

RAIO-X

Ricardo Paes de Barros, 64
Formação: engenharia eletrônica pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), mestrado em estatística pelo Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), doutorado em economia pela Universidade de Chicago, pós-doutorado pelas universidades Yale e de Chicago.

Cargos atuais: economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper

Carreira: pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) por mais de 30 anos, professor visitante da Universidade Yale e subsecretário de Ações Estratégicas da Presidência da República (2011-2015, governo Dilma)

Áreas de estudo: desigualdade, pobreza, mercado de trabalho, produtividade do trabalho, educação, primeira infância, juventude, demografia e imigração

 

 

 

Autor de ‘Homo Deus’ mapeia as graves implicações da tecnologia

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Merece respeito um jovem historiador israelense que se põe a escrever uma “breve história da humanidade”, dá ao livro o título de “Sapiens” e vende mais de 2 milhões de cópias dele.

Dois anos depois, Yuval Noah Harari, 40, lança “Homo Deus – Uma Breve História do Amanhã”, obra que chega às livrarias do país na próxima semana. Nela, ele se propõe a mapear as tendências das tecnologias e suas graves implicações para a humanidade nos próximos 200 anos.

Alguns dirão que o sucesso lhe subiu à cabeça. Neste caso, contudo, o dito não deve ser tomado como reprimenda, porque o livro consegue provocar reflexões avançadas sobre as consequências dos poderes “divinos” que a biotecnologia e a inteligência artificial vão conferindo aos homens e mulheres do século 21.

Fã da série de TV “Black Mirror”, que trata de distopias propiciadas pela tecnologia da informação, Harari acha um desatino que as pessoas abram mão tão facilmente de seus dados e privacidade para os aplicativos monopolísticos de relacionamento, vendas ou busca. Diz que só mantém uma página em rede social por razões comerciais, não para angariar “amigos”.

Para ele, a idolatria da informação, ou Big Data, pode substituir o humanismo liberal e tornar-se a “religião” do século 21, com grave ameaça para aquilo que a ciência não consegue explicar com seus algoritmos: a consciência. Mas ressalta que “Homo Deus” não faz profecias pessimistas sobre o mundo.

Ele prefere que o livro seja visto como uma convocação às armas da filosofia: “Se você não gosta dessas possibilidades, então faça algo a respeito”. Por exemplo, escrever um livro – ou dois.

Folha – Começando pela pergunta final de seu livro: será que todos os organismos são algoritmos e a vida não passa de processamento de dados?

Yuval Noah Harari – Segundo o que sei sobre o establishment científico hoje, a resposta é “sim”. Se você perguntar aos biólogos, eles podem dizer que, num nível pessoal, acreditam em Deus e que existem almas, coisas assim. Mas quando vão ao laboratório ou escrevem para um periódico científico, a vida é mesmo apenas processamento de dados e todos os organismos são só algoritmos.
Creio que hoje essa é a ortodoxia científica. Eu não necessariamente acho que isso seja verdade, ou que todos os cientistas, como indivíduos, pensem assim, mas no establishment esse é o dogma.

Mas qual é a sua própria opinião a respeito?

Minha opinião é que a ideia de organismos como simples algoritmos tem sido bem-sucedida, especialmente na biotecnologia. Mas acho que existe aí uma grande lacuna nessa visão: a consciência, as experiências subjetivas.
Não temos nenhum modelo científico bom para explicá-las, e é por isso que sou cético quanto a essa visão da vida ser realmente verdadeira. Pode ser que em 20 ou 30 anos tenhamos um modelo da consciência em termos de processamento de dados.
Penso que podemos estar na posição em que a física estava no final do século 19, os físicos estavam convencidos de que realmente entendiam a realidade física e de que só restavam algumas coisas pequenas para resolver. Mas aí vieram revoluções tremendas com a teoria da relatividade e a mecânica quântica.
Acho que o mesmo pode acontecer com a biologia no século 21. Só existem algumas coisinhas como a consciência que não podemos explicar e, bum, uma revolução acontece nas próximas décadas.

Se eu tivesse de indicar a ideia central de seu livro “Homo Deus”, eu diria que a tecnologia está ganhando poderes para transformar crenças em realidades, portanto há que ter cuidado com aquilo em que se acredita. É isso mesmo?

É um excelente resumo do livro. Vai contra a ideia muito comum no século 21 de que a ascensão da tecnologia e da ciência tornaram menos importantes coisas como ideologia, religião, mitologia e ficção. Uma das ideias centrais do livro é que não, é exatamente o oposto.
Essas novas tecnologias dão poderes às ideologias e ficções humanas, coisas que as pessoas podiam imaginar, mas não tornar realidade.
As pessoas vêm sonhando com a imortalidade por milhares de anos, mas sempre foi só uma história religiosa, mitológica. Com o advento da biotecnologia, mais e mais gente está pensando que de fato podemos tornar essa fantasia mitológica uma realidade na Terra, primeiro para prolongar a vida e, eventualmente, superar a velhice e a morte.
Acho que as pessoas estão um pouco precipitadas, e otimistas, nas suas estimativas. Pensadores como Ray Kurzweil estão dizendo que em 30 anos pelo menos as pessoas ricas poderiam prolongar a vida indefinidamente e que hoje alguns de nós fazem parte do grupo de pessoas imortais.
Acho que 2050 é cedo demais. Mas, no longo prazo, digamos dois séculos, não creio que isso esteja além dos poderes humanos.

O sr. se refere ao prolongamento da vida fisiológica, ou pensa nalgum tipo de upload da mente humana em máquinas?

Essas são as duas grandes opções. Há a opção de usar engenharia biotecnológica e talvez conectar corpos e computadores diretamente para prolongar a existência física do corpo humano e do cérebro para além dos 150 anos.
A outra opção é preservar apenas a consciência, de alguma forma fazer seu upload em um computador. Gente muito séria nesses dois campos está dizendo que isso pode ser feito.
Minha grande dúvida é nosso entendimento do que seja mente ou consciência. Sem entender isso não se pode alcançar a imortalidade. E até aqui houve exatamente zero de progresso na tentativa de desenvolver consciência em computadores. Confunde-se inteligência com consciência.
Um de meus receios é que, antes, os humanos adquiriram controle sobre o mundo exterior. Aprendemos a reformatar a realidade física e ecológica fora de nós, mas não entendemos bem como o sistema ecológico funciona. Isso resultou na ruptura dele.
Receio que o mesmo possa acontecer no século 21, mas com o mundo interno. Ganharemos mais poderes para manipular o interior de nossos corpos, de nossos cérebros, mas, por não entendermos o ecossistema mental interno, o resultado será um desastre.

A biotecnologia e a inteligência artificial prometem dar poderes divinos à humanidade. O normal é se referir a isso como “brincar de Deus”, mas o sr. prefere falar em “tornar-se Deus”, daí “Homo Deus”. Deve-se entender que sua argumentação seria como que uma bioética turbinada?

Falo de tornar-se Deus e não de brincar de Deus porque não se trata de brincadeira, é para valer. É preciso lembrar o que os deuses eram nas mitologias tradicionais: não ideias abstratas, e sim seres com capacidades muito concretas. Se fizermos uma lista, os humanos já possuem muitas dessas capacidades e estão desenvolvendo mais e mais delas.
Se você ler o Velho Testamento, verá que muito do que o Deus dos hebreus deveria realizar era zelar pela produção agrícola, garantir que os campos fossem férteis. Os cientistas, hoje, estão se saindo muito melhor do que o Deus do Velho Testamento.
Outra capacidade que o Deus da Bíblia tinha era a de criar vida de acordo com seus desejos. Neste século nós já estamos no ramo de modificar vida e mesmo de criar formas de vida que o próprio Deus nunca conseguiu criar.

O livro adverte que os desenvolvimentos delineados pelo sr. não devem ser tomados como profecias, mas sim como cenários. Várias passagens, no entanto, dão a entender que esses cenários vão necessariamente acontecer. Críticas como as suas à biotecnologia e à inteligência artificial poderiam impedir a humanidade de tomar esse rumo?

Há alguns desenvolvimentos que são inevitáveis. Quando se considera o progresso da biotecnologia, acho inevitável que no século 21 isso vá continuar e que a humanidade ganhe imensos novos poderes para remodelar a vida.
Isso no nível mais fundamental. Além dele, começam a aparecer opções e escolhas. A tecnologia não é determinista. Pode-se usar biotecnologia para propósitos diferentes.
Para dar um exemplo do passado: há muitas décadas temos a capacidade de transplantar órgãos, e as pessoas imaginavam que o resultado seria um mercado livre para órgãos humanos.
Embora a gente veja alguns desses fenômenos perturbadores, em lugares como a China e a Coreia do Norte, no geral se pode dizer que isso não aconteceu, embora a tecnologia e fortíssimos incentivos de mercado estivessem presentes. Os humanos ainda têm a capacidade ética e política de impedir o que consideram os piores usos da tecnologia.

“Novas tecnologias matam deuses antigos e dão origem a deuses novos”, diz o livro. Por que é que necessitamos substituir a religião do humanismo, como o sr. diz, por uma nova religião, e não por uma ética secular, baseada em evidências, de baixo para cima?

Quando falo em dar vida a novos deuses não penso em reviver algum tipo de politeísmo antigo, ou hinduísmo.
De meu ponto de vista, o próprio humanismo não está baseado em evidências, também é um tipo de religião, de história de ficção. As ideias centrais do humanismo são apenas invenções humanas, basta pensar na ideia de que todos têm direitos iguais à vida e à liberdade, e assim por diante –são histórias que inventamos, não está nas leis da natureza ou no DNA.
Não me inclino a dizer que isso seja ruim. Histórias são essenciais para unificar as pessoas e tornar uma sociedade funcional.
Algumas histórias são melhores que as outras. Digo que se pode medir o valor de uma história por quanto sofrimento ela causa ou alivia. No século 20, se compararmos as histórias do liberalismo e do humanismo com as do nazismo e do comunismo, veremos que, de longe, as primeiras são muito melhores.
Só não acho que sejam histórias relevantes no século 21, por causa das imensas mudanças na tecnologia que trarão mudanças na sociedade e na economia. Vamos precisar de uma nova história, de uma nova ideologia ou uma nova religião, se quiser, muito mais bem adaptada para a sociedade do século 21.

Há uma seção no livro dedicada a desmontar a noção de livre arbítrio, mas daí o sr. afirma que a maior ameaça ao liberalismo e ao humanismo não é essa ideia filosófica de que não existe livre-arbítrio, e sim as tecnologias que vão aboli-lo. O sr. está de luto pelo liberalismo?

De certo modo, sim. O liberalismo está como a história dominante por dois ou três séculos, e em vários sentidos foi uma história muito melhor do que qualquer outra que a humanidade tenha inventado. Não acho que devamos ficar contentes com o fato de que o humanismo liberal esteja mais difícil de se manter.
Devemos ser realistas, porém. Com a ascensão de novas tecnologias, agarrar-se a noções do século 18, como a de livre-arbítrio, não vai nos ajudar muito. Nenhum sistema, nem mesmo a Igreja ou a KGB, ainda que coletando e analisando informação sobre você, podia entender o que se passa dentro de você.
Estamos chegando em um ponto em que teremos conhecimento biológico e capacidade de computação para criar algoritmos para entender os humanos melhor que eles podem entender a si próprios.
O algoritmo vai levar em conta seu DNA, sua pressão arterial, sua função cerebral, tudo, para entender seus sentimentos e escolhas muito melhor do que você. Ele poderá dizer: você quer isso e eu posso dizer por quê.
Isso é diferente dos grandes cenários tipo Big Brother do século 20. O medo do liberalismo era que algum sistema exterior, algum ditador, fosse esmagar sua individualidade. Agora o grande perigo é o oposto, que o indivíduo vá se desintegrar a partir de dentro.
Do ponto de vista científico, não há indivíduo. O ser humano é uma coleção de subsistemas biológicos. Vai desintegrar-se e ser substituído por essa coleção de subsistemas, que poderia ser compreendida e manipulada de fora.
Se isso soa muito abstrato ou teórico, eis um exemplo: os aparelhos Kindle. Antes, quando se queria escolher um livro para ler, ia-se à livraria. Ninguém sabia quem você era nem lhe recomendava nada.
Agora a Amazon faz isso por você, e vai se tornar cada vez melhor nisso. Se você conectar um Kindle a software de reconhecimento facial ou a sensores biométricos no seu corpo, estaremos muito perto do ponto em que a Amazon poderia saber o impacto emocional exato de cada sentença que você ler no livro.
Com esse conhecimento, ela será capaz de dizer não apenas o que fazer na vida, mas também pressionar seus botões emocionais e manipulá-lo numa extensão muito maior que qualquer ditador com que pudéssemos sonhar.

No final do livro o sr. lança outra questão –se a inteligência é mesmo mais valiosa que a consciência. Minha conclusão é que ele foi escrito com consciência e a favor da consciência. Na superfície parece um livro muito pessimista, mas também pode ser visto como uma convocação às armas –as armas da filosofia.

Eu enfatizo repetidamente que não se trata de um livro de profecias, porque ninguém sabe com que o mundo se parecerá em um século. Ele traça diferentes possibilidades.
Num certo sentido, é mesmo uma convocação às armas: se você não gosta dessas possibilidades, então faça algo a respeito. Ainda há tempo para pensar sobre essas questões e moldar nosso futuro.
É responsabilidade de historiadores, filósofos e pensadores pensar nas possibilidades mais negativas e assustadoras. Se você questionar o povo do Vale do Silício sobre como será o futuro, eles vão pintar esse lindo quadro de como a vida será boa com todas essas tecnologias. Eles têm um poder tremendo e um monte de dinheiro para pôr nesses sonhos.

O livro aponta a mudança do clima causada pelo homem como possível barreira para a conversão desenfreada da vida econômica e social em algoritmos, mas só de passagem. Por que chamar a atenção aos poderes criados pela tecnologia humana e não tanto para suas limitações?

Para muitas pessoas a mudança do clima pode ser a maior ameaça no século 21, e certamente não estamos fazendo o bastante a respeito disso. Isso porque hoje o único meio de parar a mudança do clima é frear o crescimento econômico, e não há governo na Terra disposto ou capaz de fazer isso.
Qualquer governo que fizer, no Brasil, na China, na Índia, cairá do poder em alguns poucos dias ou meses. Haverá uma revolução ou cairá pelo voto. No momento não há como parar a mudança do clima, e as repercussões para a maior parte das pessoas poderiam ser horrendas.
Não pus foco nisso como tópico principal do livro porque acredito que no longo prazo, no prazo realmente longo, mesmo que a maioria das pessoas sofram com a mudança do clima, ela não destruirá a humanidade nem impedirá o progresso de tecnologias como inteligência artificial e bioengenharia.
Na realidade, só vai acelerá-las, da mesma maneira que em tempo de guerra muitas restrições são deixadas de lado. A época da Segunda Grande Guerra foi um tempo de grande inovação tecnológica. Pense no Projeto Manhattan. Quando a sobrevivência está em causa, faz-se tudo o que for necessário para sobreviver.
Creio que a mudança do clima terá um efeito similar. No momento em que se atingir o ponto de ebulição, quando se tornar uma verdadeira crise, ela dará um incentivo ainda mais forte para explorar novas tecnologias, na esperança de que isso nos ajudará a superar a crise.
Quanto maior for a crise, mais os seres humanos estarão dispostos a deixar de lado restrições éticas e políticas e a seguir em direções extremas. Suspeito que o resultado será que a maioria das pessoas no mundo sofrerá enormemente, mas que pelo menos uma pequena elite será capaz de sobreviver e terá sob seu comando fantásticas novas tecnologias, muito além de tudo que conhecemos hoje.
Para a evolução de longo prazo da vida, na Terra e mesmo além dela, a coisa realmente mais importante serão as novas tecnologias e não a mudança do clima. Nesse sentido será parecido com Segunda Guerra Mundial que causou enorme sofrimento, mas no final a humanidade conseguiu atravessá-la, e o que herdamos de verdade dela são todas essas novas tecnologias que remodelaram o mundo, como aviões a jato, armas nucleares, radares etc.
“Homo Deus” é na verdade um livro sobre o longo prazo, o futuro da vida, e não sobre o futuro de médio prazo das sociedades humanas. Se eu fosse escrever um livro sobre como o mundo estaria em, digamos, 2050, aí daria muito mais atenção para a mudança do clima do que dei para a inteligência artificial.

Pretende escrever um livro desses?

Primeiro, ainda não tenho planos concretos para um próximo livro. Tento deixar que meus livros se escrevam a si próprios, não começo com uma ideia definida, vou escrever uma história do mundo. Escrevo coisas, dou conferências, aí as coisas começam a se acumular e, ei, isso pode já ser um livro em gestação.
Além disso, acho muito mais difícil falar do médio prazo, num sentido paradoxal. Se você tentar prever desenvolvimentos e eventos particulares, é quase impossível. Qual será a potência política dominante em 20 anos? EUA, China? Não sei, há tantas coisas que podem mudar e acontecer.
Já se você perguntar, num nível mais fundamental, o que vai influenciar o mercado de trabalho, aí posso ter mais confiança para dizer que a inteligência artificial o transformará inteiramente. As coisas mais fundamentais são na realidade mais fáceis de prever.