Novo governo com velhos desafios

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Depois da batalha da reeleição, o governo tenta juntar os cacos para dar sequência às transformações dos anos anteriores e abrir novas oportunidades e perspectivas para o país, tendo que conviver com um país dividido, com grande desconfiança do capital nacional e internacional, além da desconfiança de muitos atores sociais, o trabalho de reconstrução pode ser muito mais complexo do que imaginam, transformando o segundo mandato em um grande martírio para a sociedade.

Depois de quatro anos de governo, os resultados foram contraditórios, avanços sociais em muitas áreas, desemprego baixo, crescimento do ensino superior, redução da exclusão social, são alguns dos pontos destacados como positivos e reconhecido pelos críticos menos ideológicos e mais racionais; de outro lado, encontramos, uma inflação no topo da meta, investimentos em queda, juros altos, desajuste fiscal, déficit externo e perspectivas futuras não muito animadoras, um quadro bastante peculiar para um país visto, anteriormente, como uma das grandes apostas dos investidores estrangeiros.

O Brasil teve, neste ano, uma campanha extremamente agressiva, marcada por acusações de todos os lados e uma grande desconstrução dos candidatos, onde os instrumentos utilizados nem sempre foram marcados pela ética e por valores republicanos, mas, na maioria das vezes, pelo jogo rasteiro da política, onde o mais importante era demonstrar a fragilidade do outro e não a sua superioridade, nesta estratégia a verdade é rifada em prol dos interesses imediatos do poder, a luta pelo poder dita as regras e os caminhos que devem ser seguidos, uma estratégia inspirada no grande intelectual florentino Nicolau Maquiavel.

Em pleno desenrolar das eleições, o atual governo, com sua candidata a reeleição fez duros ataques ao setor financeiro, isto porque, uma das candidatas defendeu a independência do Banco Central, para refutar tal ideia, propagandeou, no horário eleitoral, uma propaganda que relacionava a independência ao aumento da pobreza e do desemprego, gerando um clima pesado com os bancos, depois das eleições, cabe ao governo reconstruir pontes com os setores, sob pena de ver sua imagem afetada negativamente, com expectativas negativas e perspectivas nebulosas.

Segundo os governistas, os opositores eram representantes do mal, do atraso e dos interesses da burguesia e, como tal, o melhor era reeleger o governo, este sim, virtuoso, democrático e movido pelo interesse dos mais pobres, pois, nunca na história deste país, as classes mais necessitadas e desfavorecidas tiveram acesso aos bens de consumo como agora e isso era um mérito dos últimos dois governantes, neste momento cabe uma indagação: será que todos estes avanços são sustentáveis ou se perderão com os solavancos da economia atual?

Caso a oposição ganhasse a eleição, todas as melhoras acumuladas nestes doze anos estariam ameaçadas, os novos governantes adotariam medidas recessivas que mergulharia a economia em uma severa recessão, cujos impactos para os trabalhadores seriam bastante negativos, isso porque, um governo de oposição seria um governo para poucos, somente para os ricos e afortunados, enquanto o governo atual é um governo democrático e popular, diante deste argumento, os pobres e os menos favorecidos foram convencidos a votar no governo de plantão, sob pena de perder as benesses acumuladas nestes anos, tais como Bolsa Família, Prouni, Minha Casa Minha Vida, Fies, etc… só um governo popular traria tantos avanços para as camadas mais pobres da sociedade.

Promessas de mais avanços foram feitas para um possível segundo mandato, além do aumento dos gastos sociais, destacamos ainda, a promessa do governo de incrementar o crescimento econômico, que nestes últimos anos foi reduzido devido aos impactos da crise financeira internacional, sem a crise, o crescimento seria elevado e os benefícios seriam maiores para os mais pobres, a culpa do baixo crescimento é da crise externa, o governo não tem culpa nenhuma, pobre governo, sempre pensando nos pobres.

A inflação é culpa dos choques externos, aumentos gerados por quebras de safras e desequilíbrios nas cadeias globais, nada tem a ver, portanto, com as intervenções do governo, que investiu muito, mas todos os investimentos visavam uma melhoria das condições da economia, até desonerações foram estimuladas pelo governo, além de redução das tarifas de ônibus, dos combustíveis e da energia elétrica, sempre visando uma melhoria na renda dos trabalhadores, mesmo assim, a inflação teima em cair, a resistência está no setor de serviços, fruto dos avanços da classe média, diante disso, concluímos que a inflação é um mal necessário, o seu combate gera mais ônus para o setor produtivo do que bônus.

Outro ponto importante a se destacar, é a perda de confiança do mercado com relação ao país, de queridinho dos investidores no final do governo Lula a grande incógnita na atualidade, a busca pela credibilidade perdida é um dos grandes desafios do governo atual, sob pena de ver seu grau de investimento em risco, o que elevaria os custos de captação de recursos no mercado internacional, agravando os desequilíbrios fiscais e financeiros. Uma boa oportunidade para reverter esta situação é a definição do novo ministro da economia, se emplacar o virtuoso ortodoxo Henrique Meireles, o mercado vai adorar a escolha e os custos do ajuste serão menores agora, se o escolhido for o economista Nelson Barbosa, também respeitado pelos agentes econômico, mas com um perfil mais heterodoxo, o custo do ajuste será maior e as dificuldades serão mais intensas, obrigando o governo a adotar políticas mais rígidas com forte impacto sobre o emprego e a renda.

Os custos dos ajustes econômicos não podem ser negligenciados. O ano de 2015 será difícil para o país, colocar a economia nos trilhos vai exigir medidas nem sempre populares, o que percebemos é que, as dificuldades escondidas na campanha eleitoral existem e são imensas, negligenciar com esta situação pode aumentar a instabilidade e transformar um recessão inicial em algo muito mais agressivo, com resultados conhecidos por todos: desemprego em alta e renda em baixa. O momento é de incertezas e definições, pois somente agora, vamos perceber claramente quais serão as opções escolhidas por este governo, os dias de bonança terminaram, o dinheiro farto acabou, os recursos externos estão em baixa e o endividamento do Estado estão o limite, agora sim, podemos esperar para saber por quem os sinos tocam.

Pensando com Celso Furtado

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Série Realidade Brasileira O programa Realidade Brasileira consiste na apresentação de uma série de documentários sobre os grandes pensadores brasileiros, já mortos, que marcaram o século XX. O projeto é uma parceria da TV E-Paraná com a Escola Nacional Florestan Fernandes e a Fundação Darcy Ribeiro, com apoio do Ministério da Cultura. Entre os pensadores escolhidos para compor os próximos documentários estão Caio Prado Junior, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Madre Cristina, Paulo Freire entre outros.

Existe pouquíssimo material sobre esses pensadores, os documentos existentes, quando audiovisuais, são de cunho autoral ou referente a fatos pessoais e história de vida, pouco dedicado ao aprofundamento de seu pensamento e obras. Quando se trata de documentos impressos, normalmente são livros acessíveis a um público muito específico em conhecer um determinado pensador. Por isso, a série foi criada. E o diferencial é justamente a difusão massiva do conhecimento.

Os documentários foram produzidos a partir da experiência dos cursos realizados nos últimos oito anos com a participação de diversos atores sociais, estudantes e lideranças de diversos movimentos sociais. Cada documentário busca trabalhar de for ma lúdica, prazerosa e fomentar o debate e a pesquisa sobre a produção intelectual desses grandes pensadores.

Concentração de renda e desigualdade social: anotações sobre a obra Capital no século XXI, de Thomas Piketty

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Existe na sociedade contemporânea uma nova discussão no campo da política e da economia, que está provocando muitos confrontos intelectuais, tudo suscitado pela obra do economista francês Thomas Piketty, O Capital no século XXI, uma obra de fôlego que destaca o incremento na desigualdade social em muitos países importantes da sociedade mundial.

Segundo o autor, vivemos em uma sociedade que está gerando cada vez mais desigualdades, onde uma pequena parte da sociedade possui uma parcela considerável da renda, criando um embaraço muito grande para os agentes políticos, isto porque vivemos numa sociedade muito rica, onde a tecnologia avança de forma acelerada, gerando contrastes cada vez mais significativos entre os indivíduos, tudo isso fragiliza os laços entre os indivíduos e coloca em xeque a democracia.

Pelas pesquisas de Thomas Piketty, no período 1915 à 1970, a desigualdade social foi reduzida sensivelmente na sociedade mundial, isto esta diretamente ligado aos dois grandes conflitos que o mundo viveu no período, primeira e segunda guerras mundiais, somados à crise de 1929 e a reconstrução do pós guerra, onde a tributação foi aumentada diretamente, reduzindo os recursos de grupos mais bem aquinhoados. Dos anos 70 em diante, as curvas de desigualdade começaram a subir nos Estados Unidos e na Europa, em 2010, os 1% dos norte-americanos mais ricos detinham 20% da renda total, percentual equivalente ao da Europa em 1910. Se nenhuma medida for adotada pela sociedade, estima-se que, em poucas décadas, os 0,1% da população mundial vai absorver entre 40 e 60% da renda global, uma desigualdade jamais vista na sociedade capitalista, com forte impacto sobre a arena política e econômica.

Para visualizar melhor sua pesquisa, o autor analisa a remuneração dos grandes executivos mundiais que, em 1950, recebiam retornos financeiros compatíveis a 20 vezes os salários médios de mercado, enquanto, em 2014, os vencimentos chegam a duzentas vezes os salários médios de mercado, um incremento espetacular. Esta classe dos super salários é composta por operadores de fundos de investimentos, diretores de grandes empresas e outros trabalhadores super qualificados, tais como os empreendedores do Vale do Silício, região marcada pelas grandes startups mundiais, o berço das grandes empresas ponto.com.

A diferença de remuneração levou o economista francês a analisar a rentabilidade das empresas que pagam os super salários e percebeu que a diferença de retorno das ações de empresas que pagam mais de US$ 10 milhões para seus executivos e aquelas que pagam US$ 1 milhão era pouco significativa, destruindo a tese da meritocracia, vista por muitos como a explicação desta discrepância. O grande problema disso, segundo o autor, é que a democracia, visto como a melhor forma de organização política, esta se mostrando bastante fragilizada diante do poder dos grandes grupos econômicos, cujos recursos conseguem “comprar” as benesses do Estado Nacional, criando uma discrepância muito grande no modelo político e na organização econômica.

Os dados fornecidos pelo autor geram grande inquietação na sociedade, os 10% mais bem pagos na pirâmide de renda, abocanham hoje em dia algo entre 45% e 50% da massa salarial nos Estados Unidos, enquanto que, em 1950, este valor era de 35%, um crescimento bastante significativo que acaba criando um grande fosso entre ricos e pobres e que podem gerar graves distúrbios sociais.

O incremento da desigualdade leva o Estado a adotar políticas públicas direcionadas para atender este público em situação de risco, obrigando-o a uma postura firme e direta para evitar que esta desigualdade acabe gerando graves desajustes sociais que poderiam culminar em violência e desagregação social.

O Brasil é um exemplo clássico destas políticas, nos últimos 20 anos, o país apresentou um resultado bastante satisfatório, em 1993, tinham 44% da população ou 62,5 milhões de pobres, enquanto que, em 2012, este número recuou para 29,4 milhões de pessoas ou 16% da população, colocando o Brasil no restrito clube dos poucos países que conseguiram reduzir a população pobre nos últimos 20 anos, mesmo assim, os dados ainda são bastante ruins, fruto de uma herança histórica bastante negativa, acumulada durante muitas décadas.

As novas descobertas de Thomas Piketty, colocaram em xeque as descobertas de Simon Kuznets, que nos anos 50 foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia, segundo o economista, a desigualdade acompanha o grau de desenvolvimento dos países, países desenvolvidos reduzem consideravelmente seus índices de pobreza, diante disso, muitos países empenharam grandes esforços para a industrialização, vista como uma forma de levar as economias ao desenvolvimento, o que se mostrou, posteriormente, insuficiente. Piketty descobriu que, dentro dos países desenvolvidos, encontramos ricos e pobres convivendo juntos e que o fosso entre eles está aumentando de forma acelerada e gerando graves desajustes no sistema democrático.

A meritocracia também é alvo do economista francês, segundo este, 60% dos bilionários da revista Forbes chegaram a esta soma devido a herança, ou seja, sua condição de bilionário se dá desde o nascimento, seu esforço e dedicação não foram condições indispensáveis para sua condição de vida atual, mas sim sua sorte no nascimento, nasceram ricos e estão “condenados” a riqueza até seus últimos dias.

A desigualdade deve ser vista com moderação, isto porque encontramos desigualdades boa e ruim, como o colesterol, a desigualdade boa é aquela que estimula os indivíduos a estudar com dedicação e buscar uma ascensão social e uma melhora em sua qualidade de vida. A desigualdade ruim é aquela que impede a mobilidade social e condena o indivíduo a viver na classe social de seus pais, impedindo-o de ascender na hierarquia social, gerando desesperança e insatisfação.

A pobreza e a exclusão social são duas condições da sociedade que chocam as pessoas e causam indignação entre os indivíduos mais sensíveis, como pode uma sociedade, marcado pelo grande avanço tecnológico, onde a ciência evolui rapidamente e a produção de alimentos cresce de forma acelerada, aceitar a morte de pessoas vítimas da fome? Que sociedade é essa, que aceita seus descendentes se digladiarem como animais em busca de um prato raso de comida? São questões fundamentais que os seres humanos precisam aprender para que possam ser considerados seres racionais, na atualidade, me parece que este aprendizado vai demorar muito tempo, ainda mais quando dados recentes nos mostram que os mais ricos ganharam, em 2012, dinheiro suficiente para acabar com a pobreza no mundo quatro vezes, e porque a pobreza insiste em continuar existindo? A resposta para isso é clara: existem muitos agentes que ganham com a pobreza do mundo, o negócio da pobreza enriquece muitas pessoas que, com isso, continuam usufruindo dos benesses do dinheiro e não se sensibilizam com as dores que envolvem outros seres humanos.

A meritocracia sempre foi um dos grandes legitimadores do sistema capitalista, uma forma clara de fazer com que as pessoas enxergassem a desigualdade por uma ótica menos negativa, uma forma de estimular os indivíduos a buscarem uma melhoria social e uma condição de vida mais digna e decente, deixando de lado uma trajetória de dificuldades crescentes e abrindo um novo horizonte para todos os indivíduos que se destacassem pelo esforço e dedicação, pena que, para Piketty, a meritocracia esta perdendo força com grande rapidez, as chances de indivíduos oriundos de classes sociais mais simples ascenderem socialmente esta em franca decadência, fruto da nova forma de acumulação do sistema capitalista, medidas urgentes devem ser tomadas para impedir que o capitalismo se destrua por si mesmo e os ganhos, inegáveis, do sistema sejam sobrepostos por tragédias e destruições iminentes.

O economista francês faz algumas sugestões interessantes, dentre elas destacamos uma forte tributação sobre o patrimônio, esta taxação deve ser feita em escala global para impedir que os atores econômicos saiam de seus países e busquem guarida em outras regiões, reduzindo a eficácia desta medida, o espaço certo para costurar estes acordos são os grandes tratados internacionais, como os que estão sendo discutido entre blocos econômicos, tais como o possível acordo entre Mercosul e União Européia.

As sugestões de Thomas Piketty foram recebidas de forma bastante diferentes, de um lado um grupo de economistas do mainstream viram-nas como uma crítica requentada das teorias de Karl Marx, coisa que o economista francês rechaçou com veemência, inclusive muitos criticaram os dados levantados e, principalmente, as conclusões que embasavam suas conclusões; de outro lado, um grupo de economistas heterodoxos aplaudiram suas ideias e o colocaram no bastião do novo pensamento progressista. Tirando os exageros dos críticos, as ideias de Thomas Piketty devem ser lidas com atenção e refletivas por todos os agentes sociais, visando responder como podemos, no século XXI, ainda encontrarmos uma sociedade tão desigual, e pior, como esta desigualdade está aumentando de forma acelerada e colocando milhões de pessoas na indigência e na marginalidade, abrindo novos mercados ilícitos que desvirtuam as condições de vida e de esperança de inúmeros grupos na sociedade.

Todas estas medidas devem ser adotadas visando a redução do fosso entre ricos e pobres e com o intuito de acabar com uma equação nefasta para a sociedade, nela encontramos uma situação, onde os mais ricos conseguem dar aos seus filhos melhores condições de educação e de conhecimento, abrindo-lhes novos horizontes intelectuais e culturais, capacitando-os para ocuparem os melhores empregos, perpetuando uma situação que lhe é dada logo em seu nascimento, de outro lado, os mais pobres se restringem a uma formação deficitária, marcada por pouco acesso ao conhecimento e, em contrapartida, ocupando, no mercado de trabalho os empregos mais vulneráveis as flutuações e instabilidades da economia.

 

 

 

Drogas: uma ameaça cada vez mais agressiva

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Uma das maiores angústias da sociedade contemporânea está relacionada às consequências do avanço desmesurado das drogas e do tráfico de entorpecentes sobre os indivíduos, gerando destruição em massa nas famílias e perturbações nos governos, além de gastos públicos cada vez maiores e preocupações mais frequentes com violência e a insegurança generalizada.

O mundo atual nos parece cada vez mais atônito com o crescimento dos mercados de entorpecentes, as drogas estão tomando uma proporção cada vez mais assustadora, neste ambiente encontramos profissionais liberais que se entregam ao vício acreditando que conseguem parar quando quiserem, pessoas, muitas vezes acima de qualquer suspeita, que usam drogas para continuar trabalhando e sobrevivendo, indivíduos que já não mais conseguem viver sem a cocaína e que, muitas vezes, perderam toda a dignidade, deixaram seus lares depois de brigas intensas e passaram a morar nas ruas, a fazer bicos como forma de sustentar seu vício, muitos agindo de forma agressiva, roubando e cometendo crimes de toda a natureza, elevando os índices de criminalidade e deixando a população amedrontada, clamando pela intervenção policial.

Dados recentes nos levam a aumentar nossa preocupação, somos o segundo maior mercado consumidor de drogas do mundo, com um exército estimado de 2,8 milhões de consumidores, perdendo apenas para os Estados Unidos, mesmo não produzindo esta mercadoria, somos grande importadores deste produto, que entra nas nossas fronteiras pelos mais diversos locais, por terra, pelo ar também pelos rios e mares, chegando aos morros e incrementando a violência, violência esta, que se espalha pelo país como uma praga das mais assustadoras, gerando caos e destruição por onde passa, tornando o país um dos mais violentos do mundo, com índices mais elevados de assassinatos do que países que vivem guerras civis e conflitos armados, que dissipam seu povo e corrói as estruturas da sociedade.

Um dos países mais importantes na geopolítica das drogas é o México, neste país que faz fronteiras com os Estados Unidos, encontramos o controle das rotas de venda de cocaína para o maior mercado do mundo. Na divisão desenvolvida até os anos 80, cabia aos colombianos o plantio e a produção da cocaína, que foram bastante afetadas pelas políticas adotadas nos anos 90, o chamado Plano Colômbia, que intensificou o ataque do exército colombiano, auxiliado pelo governo norte-americano, fragilizando os produtores colombianos e abrindo espaço para que os mexicanos se consolidassem como os grandes gestores desta multinacional das drogas, que, terceirizaram a produção do produto para vários países da América Central, hoje o país é o grande ator deste mercado, monopolizando milhares de rotas por ar, terra, água e subsolo, com o controle de milhares de redes de túneis ligando México aos Estados Unidos, garantindo, com isso, acesso ao maior mercado consumidor de cocaína do mundo, o que lhe concede lucros fantásticos e jamais vistos em outros negócios ao redor do mundo.

O México é um mercado dominado pelo tráfico de drogas, dentre os principais cartéis do país, destacamos os Caballeros Templarios, ultrareligiosos, disciplinados e influentes, dominam o Estado de Michoacán, onde o governo e as forças de segurança não conseguem atuar e estão se aliando a milícias civis para tentar controlar o poder, uma situação clara de desespero, que denota uma situação de desesperança, instabilidade e medo. Além deste grupo, destacamos os Zetas, mais agressivos e violentos, que degolam, mutilam e assassinam, filmam estas atrocidades e colocam nas redes sociais para intimidar e mostrar seu poder para a população, gerando mais medo e preocupações constantes. Outro grupo, o de Sinaloa, pode ser descrito como o mais profissional de todos, menos agressivo e diversificado, atua em várias frentes, distribuindo não só cocaína como metanfetamina, heroína e maconha, todas produzidas no México.

Muitos perguntam como funciona o mercado de drogas, será que este produto é tão rentável como dizem? Um dado interessante, extraído do novo livro de Roberto Saviano, nos dá esta resposta de forma primorosa: “Se neste momento eu investir US$ 1.000 em ações de petróleo e estiver indo bem, posso ganhar em um ano US$ 1.200, US$ 1.400. O mesmo se dá se eu investir em ações da Apple. Mas se investisse em cocaína, ganharia nada menos do que US$ 182 mil. A cocaína é um mercado imenso, que traz liquidez econômica, um mercado que não conhece crise”. Depois desta resposta tão clara e veemente, percebemos o poder deste mercado, será que existe algum produto com potencial tão grande como o da cocaína e de outros entorpecentes?

No mundo globalizado, marcado pela concorrência e pela competição aceleradas, as drogas muitas vezes são utilizadas para levar o indivíduo a uma fuga da realidade, para se concentrar nos afazeres do cotidiano, evitando que o indivíduo se encontre com sua realidade, num momento inicial a mercadoria tem esta utilidade mas, no médio prazo, levo o indivíduo a dependência, obrigando-o a buscar cegamente as drogas, perdendo a profissão, a família e os amigos, impedindo-o de enxergar a sua própria realidade, de dependência e de indignidade, poucos conseguem se recuperar desta doença social degradante e humilhante.

Os produtores de cocaína profissionalizaram o negócio, a logística foi toda reconstruída, no Brasil, recentemente, a Polícia Federal encontrou em uma de suas operações, indícios de que os traficantes estavam arquitetando a criação de uma empresa de aviação de fachada para transportar a droga, levando-a de região em região, ludibriando as autoridades e aumentando as suas, já gordas, fontes de lucro e de acumulação.

Analisando o potencial deste mercado, percebemos que muitos governos apresentam alto grau de comprometimento e de dependência, isto porque, não dá para acreditar que toda esta indústria de entorpecentes, que arregimenta bilhões de dólares no mundo todo, consegue se estruturar e se desenvolver, sem o auxílio oficial, dado por políticos e por autoridades que ocupam cargos altos nos Estados Nacionais e que se escondem, criminosamente, atrás de um negócio que destrói milhares de famílias e levam um grande número de pessoas a viverem de forma indigna, sem esperança e sem perspectivas de futuro, levando-os a uma depressão que o destrói lentamente.

As drogas são, realmente, um dos grandes problemas da sociedade mundial, não pode ser descrito apenas como um problema do Brasil, afeta todos os países e regiões que, com a globalização, deixa claro uma angústia global, que corrói e deixa um rastro de destruição e morte por onde passa, comprometendo os laços sociais que envolvem os seres humanos e levando-nos a uma situação de animalidade e irracionalidade, igualando-nos aos mais cruéis e violentos animais que vivem neste mundo.

 

Considerações sobre a eleição

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Em época de eleição, nos vemos inundados pelos mais exóticos candidatos a cargos eletivos, desde as figuras de sempre do jogo político, que vivem e fazem da política um meio de vida e forma de sobrevivência, até os mais engraçados, pitorescos e aproveitadores, que veem na eleição uma forma de aparecer e, quem sabe, conquistar o direito de ocupar um cargo público e, com isso, começar a usufruir das benesses do Estado brasileiro, muitas vezes sem nenhum compromisso com a ética e com a moral, apenas se preocupando com seus interesses particulares, mesquinhos e imediatos.

Na situação atual que vivemos, onde encontramos um país marcado por variados conflitos, ao vermos o discurso oficial, o que percebemos é um país em ótimo momento, inflação controlada, investimento em alta, desemprego em baixa e perspectivas positivas para o futuro, mas, na verdade, este é o quadro atual em que vivemos na atualidade? A inflação se encontra no teto da meta, controlada pela mão forte do Estado sobre setores centrais da sociedade, tais como energia e combustíveis, os investimentos estão em queda e os investidores acusam o governo de intervencionismo excessivo, o desemprego embora baixo sinaliza reversão e as perspectivas futuras não são muito positivas, os dados recentes divulgados pelo IBGE, queda de 0,6% do produto interno bruto no segundo semestre, mostram uma situação decepcionante.

Conversando com alunos, professores e pessoas comuns, o que encontro é uma verdadeira ojeriza com relação ao governo atual, críticas sistemáticas e agressivas, para não dizer mal educadas com relação à presidenta da República, no meu ver exagerada e excessiva, culpando-a por todos os desajustes existentes na atualidade, mais que exagero é uma mostra clara do pouco conhecimento que a população tem dos problemas nacionais.

Embora alguns problemas devam ser atribuídos ao seu governo, muitos deles estão relacionados a desafios históricos do país e perpassam os mais variados governos, sendo um problema nacional e que, a meu ver, não podem ser debitados na conta deste governo ou, pelo menos, não podem ser debitados completamente nas costas do governo atual.

A construção de uma terceira via se faz necessário, o dualismo PT X PSDB já cansou a sociedade, uma disputa infantil e grosseira que, nos últimos 12 anos, vem minando a lógica política e criando um verdadeiro Fla X Flu eleitoral, onde um rejeita os feitos do outro, agindo sempre como irmãos siameses que se odeiam mas que não conseguem viver um sem o outro, condenados como um castigo divino a conviverem grudados.

Ao analisar o país nos últimos vinte anos, enxergamos uma sociedade marcada por grandes avanços, desde a estabilização dos anos 90, protagonizadas pelo governo tucano de FHC, até as melhorias nos indicadores sociais do início do século, capitaneadas pelos petistas, ambas motivadas por políticos que deixaram sua marca na sociedade brasileira e serão lembrados nos anais da história brasileira como responsáveis por avanços notáveis na sociedade.

Este dualismo foi alimentado pelos dois lados nos últimos anos mas, principalmente pelo presidente Lula, que cunhou e difundiu a frase, nunca na história deste país, onde um partido se apropria dos feitos do outro, alterando nomes de programas e investindo maciçamente em propaganda, escondendo da sociedade que o mais importante para o país são os resultados destas políticas, se exitosas e meritórias devem ser seguidas, mantidas e aperfeiçoadas, mas sempre sabendo reconhecer os feitos e iniciativas de governos anteriores que, mesmo cometendo equívocos, foram os pioneiros na adoção de alguma destas políticas.

O dualismo PT X PSDB acabou contribuindo para minar a credibilidade da política brasileira, quem ouve a presidente da República fazendo discurso nos palanques da vida, se assusta, pois, de cada dez palavras, no mínimo duas fazem menção destrutiva ao governo tucano dos anos 90, esquecendo muito dos avanços obtidos neste período, avanços estes que possibilitaram outras melhoras obtidas na gestão petista, tais como a redução da inflação e o embrião das políticas sociais, tais como o Programa Bolsa Escola, embrião do atual Bolsa Família, lembrando, que a política social do Partido dos Trabalhadores (PT) era o Programa Fome Zero, que não empolgou nem mesmo os militantes do partido e foi substituído pelo atual programa.

Uma questão importante que precisamos discutir com mais atenção, é com relação aos avanços sociais obtidos pelo país nos últimos anos, todos percebemos uma melhora considerável na redução da pobreza, dados recentes divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) nos auxiliam nesta reflexão, pela pesquisa, neste século, 56 milhões de pessoas em todo o subcontinente foram retiradas da pobreza, onde Peru e Bolívia apresentaram os melhores e mais consistentes resultados.

No caso do Brasil, a pobreza foi reduzida de 43,1% da população em 2000, para 24,5% em 2012, estes dados são bastante animadores e motivo de grande comemoração, agora, o mais importante, é que estas pessoas saíram da pobreza e não foram alçadas diretamente para a tão sonhada classe média, infelizmente, sua nova denominação descrita na pesquisa é de vulneráveis, um conjunto de pessoas que podem ver sua situação evoluir para a classe média ou perceber sua situação retornando para a pobreza, tudo depende do crescimento da economia e o surgimento de novas oportunidades, são estes os responsáveis pelos pedidos de mudança que encontramos na atualidade, o baixo crescimento ameaça fortemente os avanços obtidos anteriormente.

O Brasil merece mais, depois de anos de melhorias, faz se necessário, voltarmos a crescer e melhorar nossa inserção internacional, em um mundo globalizado é fundamental a construção de uma sociedade mais homogênea, mais coesa e com uma desigualdade cadente, todos seremos beneficiados por esta nova sociedade, onde a classe política será cobrada fortemente e os avanços serão comemorados como fazemos quando a seleção brasileira consegue fazer um gol e ganha um jogo de copa do mundo.

Neste ambiente de incertezas, uma terceira via se faz necessário, quem sabe um novo candidato, num primeiro momento Eduardo Campos representou este novo, mas os infortúnios da vida fizeram com que a morte o levasse prematuramente, embaralhando a política e trazendo novos contornos para o mês de outubro, resta esperar para ver, será que diante de tantos desastres naturais da política brasileira, um novo desastre abra novas perspectivas para o país na pessoa da candidata do PSB Marina Silva? Acho difícil, mas nada é impossível neste mundo complexo e cheio de incertezas e instabilidades.

Só o tempo poderá nos mostrar o novo rumo da sociedade brasileira lembrando que, o mais importante nesta transformação é que cada cidadão assuma seu papel nesta sociedade para afugentar os fantasmas que insistem em comprometer nosso futuro e nos condenar a uma perspectiva de stop in go, onde os retrocessos são sempre maiores que os avanços, pelo menos quando nos referirmos ao mundo da política e do poder, as perspectivas para o futuro são inquietantes e preocupantes, mas como Deus é brasileiro, há sempre motivos para termos esperança num futuro melhor.

 

 

Embate de gigantes na era da tecnologia

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Nos últimos anos as empresas estão envoltas em grandes e complexos sistemas de produção, inovação e distribuição, onde os menos preparados perdem espaço e são relegados ao esquecimento dos livros de história ou aos museus da tecnologia, que abrigam mais do que empresas e históricos, abrigam a vida e o legado de muitas gerações de indivíduos e comunidades.

Recentemente, um dos mais fortes embates entre empresas de tecnologia se encontra no eixo Estados Unidos-Ásia, neste embate de gigantes, algumas empresas tradicionais perdem espaços e novos grupos, até então desconhecidos, passam a ocupar posições de destaque, conquistando mercados e o gosto dos clientes com produtos ágeis e diversificados, num mercado que se movimenta com uma rapidez inacreditável.

Nesta competição encontramos empresas como a Sony, um dos conglomerados mais admirados na sociedade mundial até o início do século atual, referência em produtos de alta complexidade, criada e conduzida ao topo pelo japonês Akio Morita, o homem por trás de um dos mais revolucionários produtos da indústria, o walkman. Depois de um crescimento extraordinário em vários produtos, dentre eles os notebooks, os televisores, máquinas fotográficas, câmeras de vídeos, tocadores de CDs, máquinas de fax, os smartphones, entre outros, a empresa se encontra em uma situação de grande inquietação, números negativos e poucas expectativas positivas, uma verdadeira revolução no universo da tecnologia, quem imaginaria, a dez anos atrás, que no começo deste século a gigante nipônica perderia força e, para sobreviver, teria que abrir mão de produtos antes considerados o carro chefe da empresa.

Os problemas encontrados pela Sony não se restringem a apenas esta empresa japonesa, outras gigantes deste país também estão envoltas em graves problemas, conglomerados como a Panasonic, a Hitachi e a Sharp, empresas que foram responsáveis pela popularização de produtos eletrônicos em muitos países, dentre eles o Brasil, passam por graves desajustes. Quem não se lembra de televisores destas empresas adornando a sala de suas casas ou de seus avós em décadas anteriores?

Diante da crise, a Sony vendeu, recentemente, uma de suas mais importantes marcas, os computadores Vaio, referência no mercado da tecnologia, criado em 1996 e que inspirou ambições de desejos de, nada mais nada menos, que Steve Jobs, o homem por trás das grandes transformações da Apple, conhecido como um admirador da empresa japonesa em seus períodos de liderança e hegemonia. Nesta ambiente de crises e incertezas, a Sony vendeu sua marca Vaio, que foi adquirida por um grande fundo de investimento, uma tendência que parece clara em vários mercados, diante da crise, marcas e empresas se desvalorizam e são vendidas para fundos que as reestruturam e, posteriormente, vendem estes ativos e acumulam ganhos substanciais.

Empresas tradicionais perdem espaço para seus concorrentes e novos conglomerados econômicos surgem, quem fez uma leitura mais eficiente das mudanças e de seus desafios sobrevivem e crescer fortemente, são empresas mais ágeis e rápidas para compreender o mundo globalizado e as novas exigências de mercados, que exige um canal rápido e eficiente com os consumidores, um investimento maciço em inovação e na compreensão dos hábitos e costumes dos indivíduos, as que não conseguiram ver esta nova realidade se encontram em graves problemas de sobrevivência, muitas tendo que abandonar mercados deficitários e produtos tradicionais, uma decisão difícil, mas necessária, não importando sua história e suas conquistas, são excluídas do mercado ou são adquiridas por seus concorrentes e “esquecidas” pela sociedade.

No mundo atual, centrado nos smartphones, nos serviços e nos softwares (como o iTunes da Apple), as empresas japonesas se concentraram em decisões ultrapassadas e em produtos requintados, esta estratégia equivocada faz com que suas empresas amargassem resultados negativos em seus balanços e reduziram seus mercados abruptamente, e suas principais concorrentes ganharam musculatura, tais como a sul coreana Samsung e a norte-americana Apple, isto sem falar na chinesa Xiaomi, uma novata com apenas três anos de vida e um alto potencial de crescimento e inovação, mais uma empresa chinesa curgindo com força e potencial para transformar os mercados e abrir espaço para novos paradigmas produtivos e estratégicos.

Na busca pela sobrevivência, as empresas japonesas estão abandonando mercados tradicionais e se concentrando em novos espaços para acumulação, a Panasonic está se transferindo para a fabricação de equipamentos residenciais de consumo eficiente de energia; a Fujitsu, a Hitachi e a Sharp estão se concentrando na agricultura de alta tecnologia e a Sony, antes uma gigante invejada no mundo todo, busca inspiração estudando as medidas implantadas pela antiga concorrente, a holandesa Philips, que para sobreviver abandonou vários mercados de fraco desempenho, dentre eles, a fabricação de televisores, são decisões complexas e assustadoras que podem salvar a empresa ou encerrar um ciclo de décadas de liderança e inovação no mercado de eletrônicos.

As fragilidades das empresas japonesas nos levam a compreender algumas das limitações da economia do país, embora possuam um grande ativo caracterizado por patentes de alto valor e mão de obra altamente capacitada, seus executivos são, na sua grande maioria, profissionais com idade superior a 60 anos, marcados pela cautela e pela cultura japonesa do emprego vitalício, uma das grandes heranças da legislação trabalhista local, especialistas afirmam que mais de 30% dos trabalhadores empregados no setor são excedentes, mas que, pelas leis do país não podem ser desligados da empresa, tudo isso afugenta investimentos e restringem os lucros da empresa, além de reduzir o espírito empreendedor de seus novos dirigentes.

As empresas eletrônicas japonesas se encontram em um momento de grande reflexão, mudanças são necessárias e urgentes, sob pena de verem seus setores produtivos serem substituídos por produtos oriundos de outros países, principalmente de seus rivais e vizinhos, China e Coréia do Sul, mais uma batalha entre o tradicional e moderno, onde decisões dolorosas estão próximas de ser implantadas e os resultados serão amargos para o país num primeiro momento, mas fundamentais para redefinir o papel do país no mercado internacional de produtos eletrônicos.

 

 

 

 

 

Copa do mundo, eleições e interesses nacionais.

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Depois de termos sofrido com as derrotas da seleção brasileira, das preocupações com a infraestrutura e com os graves problemas de segurança pública, estamos no início de mais uma campanha eleitoral, onde nos próximos dias nossas casas serão invadidas por promessas das mais variadas, desde soluções para os problemas da saúde, da educação e da segurança, até soluções para melhorar as perspectivas econômicas do país, que nestes últimos três anos vêm amargando péssimos resultados negativos, como se resolver tudo isso fosse fácil e estivesse nas mãos de governantes bem intencionados e competentes para retirar o país de seu atraso histórico, uma blasfêmia das mais agressivas aos cidadãos brasileiros. Para colocarmos o país na rota do progresso faz se necessário um conjunto de políticas que passam por melhorar o ambiente de negócios, políticas baseadas na meritocracia e na competência moral de seus cidadãos. Diante disso tudo é importante que os eleitores se conscientizem de que votar é um ato complexo e com resultados difíceis de ser mensurados, ainda mais que, ao votar corretamente, estamos evitando problemas mais graves num futuro muito próximo.

Discussões Econômicas

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A economia brasileira apresenta espaço para grandes discussões sobre suas perspectivas para o ano de 2014, para muitos economistas o ano será bem melhor do que o ano que terminou, enquanto outros acreditam que os problemas se aprofundarão e as possibilidades de mudanças mais significativas só devem acontecer em 2015, mesmo se o atual governo conseguir ser reeleito, o que, neste momento, apresenta grandes possibilidades.

O ano passado foi marcado por uma queda de braço entre governo e mercado, principalmente o mercado financeiro, que viam o governo como intervencionista, protecionista, heterodoxo e pouco ousado nos fóruns internacionais, condenando o país a uma situação de isolamento nos acordos e nos compromissos externos que, numa economia marcada pela crescente interdependência entre os agentes econômicos, traria pouca possibilidade de inovação e melhoria de nossa capacidade produtiva.

O governo, em contrapartida, se mostrou muito confuso em suas decisões econômicas, adotando políticas para arbitrar os ganhos dos concessionários, interferindo em setores estratégicos de forma atabalhoada, criando, com isso, uma crescente instabilidade jurídica e afugentando os investidores internacionais, fundamentais para o aumento dos investimentos externos responsáveis pela geração de novos empregos e melhoria na renda agregada da sociedade.

Os últimos anos foram marcados por baixas taxas de crescimento econômico, entre 2% e 2,5%, com inflação crescente na faixa dos 5,5%, taxas de juros elevadas e déficits nas contas externas, o que, para muitos, pode sugerir graves desequilíbrios econômicos para os economistas vinculados ao mercado financeiro, embora os indicadores não sejam tão saudáveis estamos muito longe de situações negativas e perspectivas ruins como querem nos levar a acreditar estes economistas, não estamos como estávamos no período 2003-2010, mas estamos longe de situação de crise iminentes.

A política fiscal destes últimos três anos apresentou uma piora considerável, o que ficou caracterizado como “contabilidade criativa” pelos seus críticos, que viram nesta uma manobra do governo para esconder do mercado a degradação das condições fiscais do Estado, que vêm se deteriorando nos últimos anos com subsídios concedidos sem critérios claros, empréstimos e aumento de capitais para o BNDES financiar grupos econômicos com potencial de crescimento, política esta que ficou conhecida como campeões nacionais.

            Em ano de Copa do mundo da Fifa, o Brasil hoje está sendo observado em todos os cantos do mundo, as obras atrasadas geram preocupações, os gastos excessivos e pouco transparentes criam perspectivas, no mínimo, preocupantes para a sociedade, estamos num momento de grande apreensão, podemos ter um evento internacional de grande sucesso mas, podemos estar diante de um fiasco cuja repercussão se irradiará para todos os setores da sociedade e terá impactos fortes nas eleições, podendo interromper um ciclo de governo do Partido dos Trabalhadores e levar novos ventos à Brasília.

Neste ambiente de discussões e debates encontramos ideias sérias nos dois lados, percebemos na oposição uma crítica, muitas vezes vazia e pouco inteligente, enquanto do lado dos defensores governamentais uma defesa sistemática a um intervencionismo estatal cujos impactos negativos são significativos. A discussão clássica de mais ou menos Estado, mais ou menos Mercado, me parece uma discussão desnecessária e pouco construtiva, temos que discutir se o Estado é eficiente na alocação de seus recursos, se estamos diante de uma redução estrutural das desigualdades ou apenas próximos de uma política conjuntural que se apoia apenas em propostas eleitorais e eleitoreiras, cujos benefícios se limitam ao calendário político-eleitoral, tempo suficiente apenas para que o governo consiga se manter no poder.

Neste Brasil encontramos uma constante crítica do governo com relação a perseguições sistemáticas do mercado e da mídia, esta perseguição não acontece apenas neste governo, mas constantemente. O que devemos frisar com tranquilidade é que esta perseguição é legítima em uma sociedade democrática, hoje o partido da situação reclama da guerra psicológica orquestrada pelos oposicionistas, mas neste desabafo esquece que, vinte anos atrás, era seu partido e seus companheiros os responsáveis por esta mesma guerra psicológica, se concentrando num papel de quanto pior melhor para seus interesses eleitorais, lembremos sempre e tenhamos consciência de nossas críticas, pois quem sabe num momento próximo seremos nós os responsáveis pelos rumos da sociedade.

 

 

Elogio de Mandela

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MARIO VARGAS LLOSA

Nelson Mandela, o político mais admirável destes tempos tumultuados, segue em um hospital de Pretória, após completar 95 anos na quinta-feira. Poderemos ter a certeza de que todos os elogios feitos a ele são justos, pois o estadista sul-africano transformou a história do seu país de uma maneira que ninguém imaginava concebível, e demonstrou com sua inteligência, habilidade, honestidade e coragem que, no campo da política, às vezes, os milagres são possíveis.

Tudo isso foi sendo gestado, antes mesmo que na história, na solidão de uma consciência, na desolada prisão de Robben Island, onde Mandela ingressou, em 1964, para cumprir pena de prisão perpétua e trabalhos forçados. As condições em que o regime do apartheid mantinha seus presos políticos na ilha rodeada de um mar traiçoeiro e tubarões, em frente à Cidade do Cabo, eram atrozes. Uma cela tão minúscula que parecia um nicho ou o covil de uma fera, uma esteira de palha, uma sopa de milho três vezes ao dia, mudez obrigatória, visitas de meia hora de duração a cada seis meses, e o direito de receber e escrever somente duas cartas ao ano, nas quais jamais deveriam ser mencionados temas políticos nem da atualidade. Em tal isolamento, ascetismo e solidão transcorreram os primeiros nove anos dos 27 que Mandela passou na ilha.

Em vez de suicidar-se ou enlouquecer, como muitos companheiros de prisão, nos nove anos Mandela meditou, reviu suas próprias ideias e ideais, fez uma autocrítica radical de suas convicções e atingiu aquela serenidade e sabedoria que a partir de então guiariam todas as suas iniciativas políticas. Embora nunca tenha compartilhado das teses dos resistentes que propunham uma ‘África para os africanos’ e queriam atirar ao mar todos os brancos da União Sul Africana, em seu partido, o Congresso Nacional Africano, Mandela, assim como Sisulu e Tambo, os dirigentes mais moderados, estavam convencidos de que o regime racista e totalitário só seria derrotado mediante ações armadas, sabotagens e outras formas de violência, e para tanto formou um grupo de comandos ativistas chamado Umkhonto we Sizwe, que enviava para Cuba, à China Popular, à Coreia do Norte e à Alemanha Oriental jovens militantes para que se adestrassem.

Deve ter levado muito tempo – meses, anos – para convencer-se de que toda essa concepção da luta contra a opressão e o racismo na África do Sul era equivocada e ineficaz, e era preciso renunciar à violência e optar por métodos pacíficos, ou seja, buscar uma negociação com os dirigentes da minoria branca – equivalente a cerca de 12% do país, que explorava e discriminava de maneira iníqua os 88% restantes – e convencê-la de que permanecera no país porque a convivência entre as duas comunidades era possível e necessária, quando a África do Sul fosse uma democracia governada pela maioria negra.

Naquela época, final dos anos 60 e início dos 70, pensar semelhante coisa era um exercício mental distante da realidade. A brutalidade irracional com que a maioria negra era reprimida e os esporádicos atos terroristas com que os resistentes respondiam à violência do Estado haviam criado um clima de rancor e ódio que fazia prever, mais cedo ou mais tarde, um desenlace de dimensões cataclísmicas no país.

A liberdade só poderia significar o desaparecimento ou o exílio para a minoria branca, particularmente para os africâners, os verdadeiros donos do poder. É espantoso pensar que Mandela, perfeitamente consciente das vertiginosas dificuldades que encontraria no caminho que traçara para si, decidiria empreendê-lo, e, mais ainda, que perseveraria nele sem sucumbir ao desalento um só instante, e, 27 anos mais tarde, concretizaria aquele sonho impossível: uma transição pacífica do apartheid para a liberdade, enquanto a maior parte da comunidade branca permanecia no país ao lado dos milhões de negros e mulatos sul-africanos que, convencidos por seu exemplo e suas razões, haviam esquecido os insultos e os crimes do passado, e perdoado.

Seria preciso recorrer à Bíblia, àquelas histórias exemplares do catecismo que nos contavam quando éramos crianças, para tentar entender o poder de convicção, a paciência, a vontade inquebrantável e o heroísmo que Nelson Mandela deve ter demonstrado durante todos aqueles anos para persuadir, primeiramente seus próprios companheiros de Robben Island, depois seus correligionários do Congresso Nacional Africano e, por último, os próprios governantes e a minoria branca, de que não era impossível que a razão substituísse o medo e o preconceito, que uma transição sem violência era igualmente factível e ela assentaria as bases de uma convivência humana em lugar do sistema cruel e discriminatório imposto à África do Sul por séculos. Creio que Nelson Mandela é ainda mais digno de reconhecimento por esse trabalho extremamente lento, hercúleo, interminável, graças ao qual suas ideias e convicções foram contagiando os seus compatriotas como um todo, do que pelos extraordinários serviços que prestaria depois, já no governo, aos seus concidadãos e à cultura democrática.

É preciso lembrar que o homem que assumiu essa admirável tarefa era um prisioneiro político, o qual, até o ano de 1973, quando foram abrandadas as condições carcerárias em Robben Island, vivia praticamente confinado numa minúscula cela e com apenas uns poucos minutos diários para trocar algumas palavras com os outros presos, quase privado de toda comunicação com o mundo exterior. Contudo, sua tenacidade e sua paciência tornaram possível o impossível. Enquanto na prisão já menos inflexível dos anos 70, pôde estudar e formar-se em Direito, suas ideias foram rompendo pouco a pouco os preconceitos totalmente legítimos que existiam entre os negros e mulatos sul-africanos e começou a ser aceita sua tese de que a luta pacífica na busca de uma negociação seria mais eficaz e permitiria alcançar a liberdade mais rapidamente.

Mas foi ainda mais difícil convencer de tudo isso a minoria que detinha o poder e julgava ter o direito divino de exercê-lo com exclusividade e para sempre. Esses eram os pressupostos da filosofia do apartheid proclamada por seu mentor intelectual, o sociólogo Hendrik Verwoerd, na Universidade de Stellenbosch, em 1948, e adotada de modo quase unânime pelos brancos nas eleições daquele mesmo ano. Como convencê-los de que estavam equivocados, de que deviam renunciar não apenas a semelhantes ideias, mas também ao poder, e resignar-se a viver numa sociedade governada pela maioria negra?

O esforço durou muitos anos, mas, no final, como a gota persistente que fura a pedra, Mandela foi abrindo portas na cidadela de desconfiança e temor, e, um dia, o mundo inteiro descobriu estupefato que o líder do Congresso Nacional Africano saía às vezes de sua prisão para ir tomar civilizadamente o chá das cinco com os que seriam os dois últimos mandatários do apartheid, Botha e de Klerk.

Quando Mandela subiu ao poder, sua popularidade na África do Sul havia se tornado indescritível, tanto na comunidade negra quanto na branca (lembro ter visto, em janeiro de 1998, na Universidade de Stellenbosch, o berço do apartheid, uma parede coberta de fotos de alunos e professores recebendo a visita de Mandela com entusiasmo delirante).

Esse tipo de devoção popular mitológica costuma atordoar quem a recebe e fazer dele – como no caso de Hitler, Stalin, Mao, Fidel Castro – um demagogo e um tirano. Mas Mandela não se deixou envaidecer; continuou sendo o homem simples, austero e honesto que sempre foi e, para surpresa do mundo todo, negou-se a permanecer no poder, como seus compatriotas pediam. Aposentou-se e foi passar os seus últimos anos na aldeia indígena de onde se originara sua família.

Mandela é o melhor exemplo que temos – aliás muito raro nos nossos dias – de que a política não é apenas a tarefa suja e medíocre que tantos imaginam, da qual os malandros se valem para enriquecer e os vagabundos para sobreviver sem fazer nada, mas uma atividade que pode também melhorar a vida, substituir o fanatismo pela tolerância, o ódio pela solidariedade, a injustiça pela justiça, o egoísmo pelo bem comum, e que alguns políticos, como o estadista sul-africano, tornam o seu país, e o mundo, muito melhor do que com

Abdicar de pensar

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Autor: Frei Betto – – Brasil de Fato

Está em cartaz, em alguns cinemas do Brasil, o filme “Hannah Arendt”, direção de Margarethe Von Trotta. Por ser uma obra de arte que faz pensar não atrai muitos espectadores. A maioria prefere os enlatados de entretenimento que entopem a programação televisiva.

Hannah Arendt (1906-1975) era uma filósofa alemã, judia, aluna e amante de Heidegger, um dos mais importantes filósofos do século XX, que cometeu o grave deslize de filiar-se ao Partido Nazista e aceitar que Hitler o nomeasse reitor da Universidade de Freiburg. O que não tira o valor de sua obra, que exerceu grande influência sobre Sartre. Hannah Arendt refugiou-se do nazismo nos EUA.

O filme de Von Trotta retrata a filósofa no julgamento de Adolf Eichmann, em 1961, em Jerusalém, enviada pela revista “The New Yorker”. Cenas reais do julgamento foram enxertadas no filme.

De volta a Nova York, Hannah escreveu uma série de cinco ensaios, hoje reunidos no livro “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal” (Companhia das Letras, 1999). Sua ótica sobre o réu nazista chocou muitos leitores, em especial da comunidade judaica.

Hannah escreveu que esperava encontrar um homem monstruoso, responsável por crimes monstruosos: o embarque de vítimas do nazismo em trens rumo à morte nos campos de concentração. No entanto, ela se deparou com um ser humano medíocre, mero burocrata da máquina genocida comandada por Hitler. A grande culpa de Eichmann, segundo ela, foi demitir-se do direito de pensar.

Hannah pôs o dedo na ferida. Muitos de nós julgamos que são pessoas sem coração, frias, incapazes de um gesto de generosidade os corruptos que embolsam recursos públicos, os carcereiros que torturam presos em delegacias e presídios, os policiais que primeiro espancam e depois perguntam, os médicos que deixam morrer um paciente sem dinheiro para custear o tratamento. É o que mostram os filmes cujos personagens são “do mal”.

Na realidade, o mal é também cometido por pessoas que não fariam feio se convidadas para jantar com a rainha Elizabeth II, como Raskólnikov, personagem de Doistoiévski em “Crime e castigo”. Gente que, no exercício de suas funções, se demite do direito de pensar, como fez Eichmann.

Elas não vestem apenas a camisa do serviço público, da empresa, da corporação (Igreja, clube, associação etc.) no qual trabalham ou frequentam. Vestem também a pele. São incapazes de juízo crítico frente a seus superiores, de discernimento nas ordens que recebem, de dizer “não” a quem estão hierarquicamente submetidas.

Lembro de “Pudim”, um dos mais notórios torturadores do DEOPS de São Paulo, vinculado ao Esquadrão da Morte chefiado pelo delegado Fleury. Ele foi incumbido de transportar o principal assessor de Dom Helder Camara, monsenhor Marcelo Carvalheira (que mais tarde viria a ser arcebispo de João Pessoa), do cárcere de São Paulo ao DOPS de Porto Alegre, onde seria solto.

Antes de pegar a estrada, a viatura parou à porta de uma casa de classe média baixa, em um bairro da capital paulista. Marcelo temeu por sua vida, julgou funcionar ali um centro clandestino de tortura e extermínio. Surpreendeu-se ao se deparar com uma cena bizarra: a mulher e os filhos pequenos de “Pudim” em torno da mesa preparada para o lanche. O preso ficou estarrecido ao ver o torturador como afetuoso pai e esposo…

Uma das áreas em que as pessoas mais se demitem do direito de pensar é a política. Em nome da ambição de galgar os degraus do poder, de manter uma função pública, de usufruir da amizade de poderosos, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem a seco abusos de seus superiores, fazem vista grossa à corrupção, se abrem em sorrisos para quem, no íntimo, desprezam.

Essa a banalidade do mal. Muitas vezes ele resulta da omissão, não da transgressão. Quem cala consente. Ou do rigoroso cumprimento de ordens que, em última instância, violam a ética e os direitos humanos.

Assim, o mal viceja graças ao caráter invertebrado de subalternos que, como Eichmann, julgam que não podem ser punidos pelo genocídio de 6 milhões de pessoas, pois apenas cuidavam de embarcá-las nos trens, sem que elas tivessem noção de que seriam levadas como gado ao matadouro das câmaras de gás.

Dois exemplos da grandiosidade do bem temos, hoje, em Edward Snowden, o jovem estadunidense de 29 anos que ousou denunciar a assombrosa máquina de espionagem do governo dos EUA, capaz de violar a privacidade de qualquer usuário da internet, e no soldado Bradley Manning, de 25, que divulgou para o WikiLeaks 700 mil documentos sigilosos sobre a atuação criminosa da Casa Branca nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

Complicações: Luiz Carlos Bresser-Pereira

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O ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, fala sobre a inflação brasileira e suas consequências na economia. Segundo o economista, este é um problema macroeconômico fundamental, que resulta, principalmente, do excesso de demanda.

Complicações é um programa de entrevistas com apresentação da jornalista Mônica Teixeira. Trata de problemas difíceis da atualidade por meio de entrevistas com pessoas que conhecem em detalhes temas importantes e controversos, sem soluções simples. Um espaço para o debate dos problemas que o mundo ainda não sabe como resolver.

Mercados reemergentes

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Autor: Marcos Troyjo – FSP – TENDÊNCIAS/DEBATES

Emergente ou desenvolvido, ganhará o país que abandonar a certeza do “automatismo inevitável” de sua ascensão e incrementar a inovação.

O conceito de “mercados emergentes” surgiu nos últimos anos como ideia associada ao desenho do futuro.

Demografia, escala territorial, baixos custos de produção, acesso privilegiado a commodities –vetores de uma mudança no eixo da geoeconomia.

Nações como os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) alcançaram status de “usinas de crescimento”. Expansão liderada por exportações na China; “economia em transição” para o mercado na Rússia; “outsourcing” e empreendedorismo tecnológico na Índia, e “substituição de importações 2.0” no Brasil mantiveram a economia aquecida –e tensões sociais arrefecidas.

Adaptaram-se com sucesso à “globalização profunda” radicalizada pelo fim da Guerra Fria, ou à “desglobalização” –lógica do cada um por si que influencia o comportamento internacional desde a crise de 2008.

Esse contexto levou a uma ingênua projeção. Os Brics estariam fadados a, inercialmente, liderar um processo de convergência dos emergentes rumo aos padrões de desenvolvimento das economias mais maduras. No advento de crises, observaríamos um desejado “decoupling” –o descolamento entre o imobilismo dos desenvolvidos e o dinamismo dos emergentes.

Nos últimos meses, no entanto, a lua de mel com os emergentes se desgastou. Suas economias desaceleraram. Em contraste, Estados Unidos e Japão se recuperam. A Europa, ainda que lentamente, está saindo da recessão. Alterou-se o panorama dos fluxos internacionais de liquidez.
Isso tem levado a um novo e apressado prognóstico. Nada mais de convergência ou “decoupling”. Estaríamos de regresso à engessada hierarquia Norte-Sul.

Na realidade, o desempenho ao longo dos próximos anos estará menos relacionado ao que hoje se rotulam economias avançadas ou emergentes e mais à capacidade de se moldarem competitivamente à “reglobalização” em curso.

Ao contrário de um novo “mundo plano”, a reglobalização não trará uma verticalização aguda das dinâmicas supranacionais de integração regional, política e jurídica.

Não ambicionará a comunhão de visões de mundo. Não florescerá de um grande pacto global costurado por todas as nações num palco como a ONU (Organização das Nações Unidas) ou a OMC (Organização Mundial do Comércio).

A reglobalização será mais “superficial” –concentrada em comércio, investimento e fortalecimento de redes produtivas. E “seletiva” –resultará de acordos envolvendo, por um lado, EUA e Europa, e, por outro, EUA e países banhados pelo Pacífico nas Américas, Ásia e Oceania.
Será ainda modelada pelo sucesso ou fracasso da China em converter-se numa economia de consumo e elevado valor agregado.

Nela, terá pouco espaço o neomercantilismo asiático, como o praticado pela China desde que Deng Xiaoping estipulou não importar a cor do gato, mas apanhar o rato. Tampouco impressionará a envergadura de projetos de associação regional-ideológica ou de neodesenvolvimentismo autárquico de países como o Brasil.

Assim, os que hoje classificamos como emergentes podem estagnar-se. Porém, o mesmo também é verdade em relação a economias maduras que deixaram de lado os imperativos do trabalho duro e da constante reinvenção.

Escassearão as chances de nações que, por integrarem um quadro comunitário, deram-se ao luxo da irresponsabilidade fiscal e da concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários não sustentados pela produtividade de suas economias. É bem o caso da Europa mediterrânea e o severo ajuste a que tem de submeter-se.

A reglobalização pertencerá àquelas nações que privilegiarem ambientes amigáveis aos negócios, regras do jogo bem estabelecidas e integração a cadeias produtivas transnacionais.

Entre os atuais emergentes ou desenvolvidos, ganharão os que abandonarem a certeza do “automatismo inevitável” de sua ascensão e redirecionarem excedentes para o incremento da inovação.

Esses países, ainda que pertençam originalmente a um ou outro polo da antiga geografia Norte-Sul, serão os verdadeiros “mercados reemergentes”.

MARCOS TROYJO, 46, economista e cientista social, é professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e diretor do BRICLab na Universidade Columbia

Wallerstein: Levantes aqui, ali e em toda parte

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Autor: Immanuel Wallerstein

O levante, agora persistente, na Turquia foi seguido por uma revolta ainda maior no Brasil, que por sua vez foi acompanhada por manifestações menos noticiadas, mas não menos reais, na Bulgária. Obviamente, esses protestos não foram os primeiros, e muito menos os últimos de uma série realmente mundial de revoltas nos últimos anos. Há muitas maneiras de analisar este fenômeno. Eu o vejo como um processo contínuo de algo que começou com a revolução mundial de 1968.

É claro que todas as revoltas são particulares em seus detalhes e na correlação de forças interna em cada país. Mas existem certas similaridades que devem ser notadas, se quisermos dar sentido ao que está acontecendo e decidir o que todos nós, como indivíduos e como grupos, deveríamos fazer.

A primeira característica em comum é que todas as revoltas tendem a começar muito pequenas — um punhado de pessoas corajosas manifestando-se sobre algo. E então, se elas “pegam”, coisa que é muito imprevisível, tornam-se maciças. De repente, não apenas o governo está sob ataque, mas, em alguma extensão, o Estado enquanto tal. Esses levantes reúnem tanto aqueles que querem a substituição do governo por outro melhor quanto os que questionam a própria legitimidade do Estado. Ambos grupos invocam o tema da democracia e dos direitos humanos, embora sejam variadas as definições que dão a esses dois termos. No conjunto, o tom dessas manifestações começa do lado esquerdo do espectro político.

O governo no poder reage, obviamente. Ou ele tenta reprimir as revoltas; ou tenta abrandá-las com algumas concessões; ou faz ambas as coisas. A repressão normalmente funciona, mas algumas vezes é contraproducente para o governo no poder, trazendo ainda mais pessoas às ruas. Concessões geralmente funcionam, mas algumas vezes podem ser ruins para o governo, levando as pessoas a ampliar suas demandas. De modo geral, os governos recorrem à repressão com mais frequência que às concessões. E, também grosso modo, a repressão tende a funcionar em um relativo curto prazo.

A segunda característica comum dessas revoltas é que nenhuma delas continua na velocidade máxima por muito tempo. Muitos manifestantes dão-se por vencidos após medidas repressivas. Ou são de alguma maneira cooptados pelo governo. Ou ficam cansados por causa do enorme esforço que as manifestações frequentes requerem. Essa diminuição da intensidade dos protestos é absolutamente normal. Ela não indica uma derrota.

Esse é o terceiro fator em comum, nos levantes. Embora terminem, deixam um legado. Mudam algo na política de seus países, e quase sempre para melhor. Forçam a entrada de alguma questão principal — por exemplo, as desigualdades — na agenda pública. Ou fazem crescer o senso de dignidade entre os extratos inferiores da população. Ou ampliam o ceticismo diante da retórica com a qual os governos tendem a encobrir suas políticas.

A quarta característica em comum é que, em cada onda de protestos, muitos que se unem ao movimento (especialmente os mais tardios) não chegam para reforçar os objetivos iniciais, mas para pervertê-los — ou para tentar conduzir ao poder político grupos de direita que são distintos daqueles que estão atualmente no poder, mas de maneira alguma mais democráticos ou preocupados com os direitos humanos.

O quinto traço em comum é que todos eles acabam envolvidos no jogo geopolítico. Governos poderosos, de fora do país nos quais os tumultos estão ocorrendo, trabalham intensamente (embora nem sempre com sucesso), para ajudar grupos aliados a seus interesses a alcançar o poder. Isso acontece tão frequentemente que uma das questões imediatas sobre cada movimento específico é sempre — ou deveria ser — saber quais suas consequências, em termos do sistema mundial como um todo. Isso é muito difícil, já que os desdobramentos geopolíticos potenciais podem levar alguns a desejar rumos opostos às intenções antiautoritárias originais do movimento.

Finalmente, devemos lembrar a respeito deste tema, e de tudo que está acontecendo agora, que estamos no meio de uma transição estrutural: de uma economia mundial capitalista que está se esgotando para um novo tipo de sistema. Mas ele pode ser melhor ou pior. Essa é a batalha real dos próximos vinte a quarenta anos. E a posição a assumir aqui, ali e em qualquer lugar deve ser decidida em função desta grande batalha política mundial.

*Publicado originalmente em iwallerstein.com, em 1 de julho de 2013. A tradução é de Gabriela Leite para o OutrasPalavras.

Desenvolvimento e ciências humanas

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Autor: Gustavo Lins Ribeiro | Valor Econômico – 28/06/2013

A exclusão das ciências sociais e humanas do programa Ciência sem Fronteiras torna necessário explicitar sua importância estratégica. Desenvolvimento é promessa de bem-estar e corrida competitiva. Claro que para estarmos bem necessitamos de condições materiais adequadas. Talvez por isso sempre que se fale de desenvolvimento se pense, primeiro, em condições materiais e, depois, em saúde. Mas, como o desenvolvimento sempre se dá de forma desigual e combinada, é comum existirem lugares que proveem melhor bem-estar material e saúde do que outros. Dessa forma, se deseja aquilo que foi feito em algum outro local para que possamos igualar-nos em uma competição que parece não ter fim. As engenharias, com seu interesse imediato voltado ao tecnológico e ao mundo das coisas e seu funcionamento, assim como as ciências da vida e da terra, estão diretamente relacionadas a tais desideratos.

Mas de que valem saúde e infraestrutura invejáveis se as pessoas não se localizarem no mundo em que vivem, se não souberem o que fazer de suas condições imediatas? Pior ainda, como chegar a esse mundo supostamente aconchegante e perfeito se não tivermos pessoas que consigam operá-lo, criticá-lo e contribuir para o seu aperfeiçoamento? Afinal, “desenvolvimento” ocorre em situações específicas, em lugares com pessoas, histórias e culturas concretas. Operar (n)esse mundo, vivê-lo, imaginá-lo para aperfeiçoá-lo, não são tarefas redutíveis às técnicas e aos laboratórios. Inovação e criação implicam condições sociais e subjetivas incapazes de ser determinadas por fórmulas ou por tabelas de elementos químicos.

Desenvolvimento é um objetivo mundial. Mas, pela via pacífica e democrática, como alcançá-lo sem conhecer a cultura, as relações sociais, econômicas, a política e a história do povo que deve abraçá-lo? Aqui, não adianta chamar engenheiros, biólogos, matemáticos, químicos ou físicos. É óbvio que a vida social, cultural, política e psíquica, com sua imensa complexidade, não se reduz a átomos, a estradas, portos, hidrelétricas ou estádios. O desenvolvimento de um país, de suas diferentes regiões ou de uma localidade não pode ser pensado apenas como um problema de engenharia, de biologia ou de agronomia. Se assim o fosse, ao lado de cada grande projeto de desenvolvimento ou de cada grande plantação de soja engenheirada haveria um paraíso.

Momentos de crises políticas como o que atravessamos tornam óbvia a necessidade por pensadores do social
As ciências sociais e humanas – e também as artes – são fundamentais para o desenvolvimento, porque ele envolve múltiplas dimensões do humano, da nossa experiência com os outros, do nosso entendimento do que é a boa vida, do que é o certo e errado no coletivo político e social, das normas que implementamos para lidar com as nossas diferenças e com os conflitos internos e externos ao país. Um país sem história, sem memória, sem literatura, sem arte, sem intérpretes de suas características culturais, sociais, econômicas, jurídicas, psicológicas, seria apenas uma colônia dos pensamentos de outrem. Em tal cenário, não pode haver inovação, porque aqueles que não pensam coletiva e diferenciadamente por si mesmos nada criarão.

Na verdade, “desenvolvimento” enquanto categoria fundamental da vida política situa-se plenamente no reino das humanidades. Quando se trata de transformar e aperfeiçoar o conteúdo da ideia de desenvolvimento enquanto discurso programático a ser implementado por todos, Estado e sociedade civil, a capacidade de inovação vem das ciências sociais e humanas, com seus compromissos com a igualdade e o bem-estar coletivo, como provam reiteradamente os debates sobre inclusão social que terminam por se concretizar em experiências como o Bolsa Família ou em posicionamentos sobre a necessidade de distribuição de renda, de respeito à diferença e defesa do ambiente.

Como “desenvolvimento” não paira acima da vida social, é afetado profundamente pelas ideologias e utopias do seu tempo e, aqui, de novo, as humanidades cristalizam e operacionalizam novas formulações, como ilustram as concepções de desenvolvimento humano, de desenvolvimento como liberdade e as lutas por direitos humanos.

Não resta dúvida de que desenvolvimento implica transformações e aperfeiçoamentos materiais e que o país precisa de mais cientistas e engenheiros. Mas mudanças nas subjetividades, nos contextos e relações sociais; aperfeiçoamentos institucionais, normativos; o aumento do entendimento da complexidade lógica, estética, cultural, econômica e política do mundo contemporâneo são tão importantes quanto transformações materiais.

O que seria de um país “desenvolvido” sem antropólogos e sociólogos para compreender suas desigualdades, suas diferenças, seus contrastes, formular imagens, narrativas e soluções para nós mesmos? Sem cientistas políticos que discutam a vida política e institucional? Sem pesquisadores de relações internacionais que debatam as novas inserções no mundo globalizado? Imaginem se não houvesse advogados para manter e aperfeiçoar o estado de direito, economistas e administradores para compreender e gerir a vida econômica e institucional, historiadores que perscrutassem nosso passado, psicólogos que se dedicassem à nossa saúde mental, estudiosos da literatura, jornalistas, geógrafos, linguistas, músicos, pintores, atores.

A lista é extensa e poderia em muito ser ampliada. Ao mesmo tempo, é preciso rever a concepção de inovação como um fenômeno exclusivamente restrito ao laboratório. Inovação depende de uma economia criativa, na qual a intelectualidade e os artistas, os especialistas do humano e da imaginação, têm papel central.

O Brasil certamente seria um país menor, menos imaginativo, sem Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Josué de Castro, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Jorge Amado, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Cora Coralina, Celso Furtado, Sobral Pinto, Nise da Silveira, Florestan Fernandes, Milton Santos, para mencionar uns poucos entre os nossos mais brilhantes intelectuais já mortos.

Momentos de crises políticas como o que atravessamos tornam óbvia a necessidade por pensadores do social. Um país sem inteligência nas áreas de humanas se reduz a uma visão material que, ainda que necessária, sozinha é pobre e está longe de esgotar qualquer concepção de bem-estar social e felicidade que inclua as pessoas e a vida social como totalidades complexas.

Gustavo Lins Ribeiro é presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs)

Tentativa de compreensão

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Autor: Ferreira Gular

Talvez que, para melhor entender o atual neopopulismo que chegou ao governo de alguns países latino-americanos, convenha lembrar o que ocorreu antes, logo após a Revolução Cubana, de 1959.

A tomada do poder pelos guerrilheiros de Fidel Castro levou alguns setores da esquerda latino-americana a embarcar na aventura da luta armada, de desastrosas consequências. Os Estados Unidos, que haviam aprendido a lição cubana, trataram de induzir os militares da região a substituir governos eleitos por ditaduras militares.

Nesse quadro, a exceção foi a chegada ao poder, pelo voto, de um partido de esquerda, elegendo Salvador Allende, no Chile, com o apoio da Democracia Cristã, que dele se afastou quando o viu refém da extrema esquerda.

O resultado disso foi o que se conhece: Allende foi deposto e morto, dando lugar à ditadura de Augusto Pinochet. Todos os movimentos guerrilheiros foram sistematicamente dizimados nos diversos países onde surgiram, e com eles a esquerda moderada.

As ditaduras militares, durante décadas, lançando mão da tortura e eliminação física dos adversários, tornaram inviável a vida democrática nesses países. Mas se desgastaram e tiveram que, finalmente, devolver o poder aos civis.

Em cada país isso ocorreu em momentos diversos e com características próprias. No Brasil, por exemplo, essa passagem se fez mediante um acordo que resultou em anistia geral e irrestrita, o que, sem dúvida, facilitou a reimplantação do regime democrático.

Não obstante, aqui como noutros países, esse retorno à democracia não significou o abandono, por todos, dos propósitos revolucionários.

Em alguns deles, os antigos guerrilheiros se reorganizaram em partidos que, implícita ou explicitamente, ainda que disputando eleições, visavam a implantação do regime socialista a que, antes, tentaram alcançar pelas armas.
Esse é um fenômeno curioso, especialmente porque se manteve mesmo após a derrocada do sistema socialista mundial e quando, com o fim da União Soviética, o regime cubano entrou em visível decadência e passou a fazer concessões ao capital norte-americano, que, então, voltou a explorar a hotelaria e o turismo, o que, para os revolucionários de 59, havia transformado Cuba num prostíbulo.

Mas esse revolucionarismo retardado, na maioria dos países, foi uma fantasia passageira, uma vez que, na disputa eleitoral, ficou provado que a maioria da opinião pública rejeitava as palavras de ordem radicais.

No Brasil, após várias derrotas, Lula exigiu que o PT abrisse mão do radicalismo, ou ele não se candidataria mais. Sem outra alternativa, o partido o atendeu e publicou uma Carta ao Povo Brasileiro, em que abria mão do revolucionarismo de palavra e, graças a isso, conseguiu ganhar as eleições de 2002.

Mas não parou aí, pois, para governar, Lula teve que aliar-se até com os evangélicos, numa total negação de seus princípios ideológicos. Claro que, para aparentar fidelidade a suas origens e satisfazer discordâncias internas, estatizou tudo o que pode, enquanto usava o dinheiro público, por meio do BNDES, para financiar grandes empresas privadas.

Esse é o dilema dos neopopulistas latino-americanos: usam discurso de esquerda e governam fazendo acordos e concessões que sempre condenaram. No discurso de Hugo Chávez, por exemplo, os Estados Unidos apareciam como o capeta, mas é para eles que a Venezuela vende quase todo o seu petróleo.

Sei que é impossível fazer política sem fazer concessões. Não é isso que critico, portanto. O que pretendo mostrar é como a esquerda, que se dizia radicalmente comprometida com os princípios anticapitalistas, ao perceber a inviabilidade de seu projeto ideológico, converteu-se, na prática, em seu contrário, mantendo, não obstante, o mesmo discurso de antes.

O mais patético exemplo disso é mesmo o chavismo, que, agora sem o Chávez, deve tomar um rumo imprevisível.

É certo, também, que o neopopulismo, valendo-se do assistencialismo e do discurso esquerdista, inviabilizou a esquerda moderada, que ficou sem discurso. O Brasil é exemplo disso. Lula se apropriou dos programas sociais e econômicos do governo anterior, contra os quais lutara ferozmente, e ainda os qualificou de herança maldita.

Bento XVI: Crise e exaustão conservadora

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Autor: Saul Leblon

Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.

A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.

Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o ‘habemus papam’ refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica.

Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira.

A verdade é que a direita formada pelos grupos ‘Opus Dei’ (de forte presença em fileiras do tucanato paulista; veja obs. ao final dessa nota), ‘Legionários’ e ‘Comunhão e Libertação’ (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.

Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha.

Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições.

Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori, nesta pág.), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano.

Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.

Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.

Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação.

O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas.

Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa.

Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger ‘entregou o serviço’ cobrado pelo conservadorismo.

Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros.

Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.

Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo.

As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda ‘profana’. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.

Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

Durou pouco.

Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).

Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer.

Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora.

O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.

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Obs.

Simpatizantes do PSDB, como o jurista Ives Gandra, e militantes, como o jornalista Carlos Alberto di Franco,entre outros, são reconhecidos como membros da Opus Dei no Brasil. Di Franco teria sido o mentor do governador Geraldo Alckmin na organização. O falecido bispo de Guarulhos, D Luiz Bergonzini, que serviu como cabeça-de -turco de Serra na campanha de 2010, acusando Dilma de ‘aborteira’ em planfletos com assinatura falsa da CNBB, era igualmente vinculado à extrema direita católica. O ex- chefe da Casa Civil do governo de SP, Sidney Beraldo,agora no TCE, foi apontado então como um tucano com fortes vínculos junto a D Bergonzini; ambos eram conterrâneos de São João da Boa Vista, onde Beraldo foi prefeito e Bergonzini nasceu e atuou. A revista ‘Época’, pertencente às Organizações Globo, documentou em reportagem intitulada ‘O governador e a Obra’, o ‘noviciato’ do tucano Geraldo Alckmin na Opus Dei. A revista ‘IstoÉ’ fez um pedagógico mapeamento dos vínculos entre tucanos e os responsáveis pelo panfleto anti-aborto da extrema direita religiosa, em 2010.

Bônus e Remuneração no mundo espiritual

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É sabido por todos que o processo de remuneração é bastante diferente quando comparamos o mundo material com o mundo espiritual, ambos apresentam instrumentos bastante diferentes e conflitantes, que mostram como as sociedades se apresentam em graus e estágios de evolução diferentes, uns primando pelos valores do imediatismo e do material, enquanto outros se mostram mais atrelados a valores sublimes e espiritualizados, uma boa forma de identificarmos o quanto temos que evoluir é que, todos que nos encontramos no meio físico, estamos muito calcados nos valores da aparência e nas convenções sociais, deixando, de lado, sentimentos e emoções mais sublimes e espiritualizadas.

No mundo material os indivíduos recebem de acordo com sua produtividade, somos impulsionados ao cumprimento de metas cada vez mais irreais que nos obrigam a mergulharmos no trabalho remunerado, ganhamos e somos vistos nesta sociedade por tudo que temos, ou melhor, como vivemos em uma sociedade marcada pela aparência, somos visto como aparentamos ser, por isso estamos constantemente querendo mostrar que somos o que, na verdade, não somos, é o mundo da aparência, do imediatismo e dos prazeres da sensualidade e do dinheiro, que nos prendem a uma sociedade marcada pela ilusão e pela imagem do belo e do novo, mesmo que estes sejam cada vez mais transitórios.

O mundo da matéria nos obriga a estarmos em constante atualização, se não o fizermos estamos condenados ao ostracismo social, ser bem sucedido nesta sociedade é termos um emprego bem remunerado, marcado pelo status e pelo acúmulo de bens materiais, nesta sociedade deixamos de lado aqueles que se entregam aos trabalhos mais simples e pouco remunerados, vendo-os como seres humanos menores, sem glamour e sem condições de inserção neste mundo marcado pelo poder de compra, onde a acumulação do poderio financeiro se transformou no objetivo de vida de muitos indivíduos, que se entregam ao trabalho remunerado como se este fosse seu único intuito na vida, deixando de lado outros setores e atividades tão importantes quanto o trabalho material, onde podemos destacar o trabalho espiritual e dos momentos sublimes de convivência com os familiares e com os grupos de amigos, numa troca constante de experiências e valores, fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento do espírito.

O bônus-hora nos foi revelado por André Luiz, quando da publicação da obra Nosso Lar, um dos mais importantes livros publicados pela lavra de Francisco Cândido Xavier, por este instrumento passamos a compreender como se remunera os trabalhos na colônia espiritual, onde cada pessoa recebe de acordo com os trabalhos desempenhados, uns acumulam com as visitas assistenciais, outros se destacam na limpeza, alguns espíritos são responsáveis por questões burocráticas, escolas, hospitais, etc. O trabalho como lei universal existe para todos os indivíduos, querendo trabalhar todos encontram trabalho, recebendo recursos, os chamados bônus-hora, que podemos descrever como um determinado crédito que cada indivíduo tem depois de desempenhar atividades edificantes no plano espiritual, que podem ser utilizados para adquirir uma casa, mas cada pessoa só pode adquirir uma única residência, neste local não é possível comprar mais de uma residência como se faz aqui, quando encontramos pessoas que adquirem várias casas e utilizam-na como instrumento de especulação e acumulação de recursos financeiros e monetários.

Se analisarmos com calma e refletirmos intensamente sobre os dois mundos percebemos que nós, hoje vivendo no mundo material, estamos muito longe dos ensinamentos do mestre Jesus, o dinheiro é utilizado muito mais para satisfazer nossos desejos imediatos, utilizando-o para nossos gozos tresloucados e interesses vis do que para melhorar as condições de vida da população mundial, atualmente encontramos metade da população do globo vivendo com uma renda diária de até US$ 2,00, um mundo onde, segundo a revista Forbes, as quatrocentas famílias mais ricas do mundo possuem um patrimônio de US$ 1,8 trilhão, um número estarrecedor quando visto em perspectiva histórica, ha trinta anos quando a mesma revista começou a mensurar as riquezas das famílias a situação era outra, bem diferente, as mesmas quatrocentas famílias detinham uma renda de US$ 90 bilhões.

O dinheiro tem um papel central na sociedade, nasceu para circular, dinheiro parado causa constrangimentos para todos os setores sociais, em tempos de degradação do meio ambiente, onde o mundo se encontra bastante maltratado por desmandos constantes dos setores mais aquinhoados financeiramente, é impossível dar a cada cidadão mundial uma renda igual a dos Estados Unidos, US$ 50 mil, para que isso acontecesse teríamos que ter outro planeta Terra, agora, é neste momento que precisamos encontrar uma fórmula ética e moralmente aceitável para que todos os cidadãos do mundo tenham uma renda média de US$ 10 mil, atendendo, com isso, suas necessidades básicas de alimentação, educação, saúde, vestuário e acesso aos bens culturais, tão importantes para o desenvolvimento intelectivo dos seres humanos e que, durante tantos séculos, foram omitidos de grande parte da sociedade mundial, deixando-os marginalizados e presos a um universo materializado e centrado nos interesses financeiros mesquinhos.

A relação do ser humano com o dinheiro é sempre algo perturbador e constrangedor, causa de vícios e quedas de muitos espíritos, uma parcela considerável dos espíritos que ora encontramos no orbe terrestre teve sua queda atrelada a questões financeiras ou a sedução da sensualidade, quedas que deixaram rastros terríveis para o ser humano, desastres morais que perturbam suas mentes e sentimentos, tudo isso, obrigando as pessoas a buscarem uma relação nova e diferente com o dinheiro, evitando, com isso, novos desequilíbrios no campo da moral.

A colônia Nosso Lar nos mostra novas formas de remuneração pelo trabalho, este paradigma do mundo dos espíritos pode nos ser muito útil como forma de transformar a relação capital trabalho reinante no mundo material, servindo como um grande desafio para todos os homens e mulheres de bem que buscam o aperfeiçoamento coletivo de nosso planeta, o trabalho é árduo e cheio de entraves, são muitos os indivíduos e instituições que se comprazem com o modelo atual, que ganham com esta forma de remuneração, estes grupos, muito bem organizados e estruturados, vão se utilizar de seus poderes para impedir toda e qualquer mudança que venha, pensam eles, os prejudicar, mas sabemos todos, que quando chega a hora e o momento exato, quando as transformações precisam acontecer, as forças da mudanças passam a ser guiadas por uma mão invisível, que a conduzem para a renovação e para o surgimento de um novo mundo, marcado por uma solidariedade maior e um progresso centrado nos ideais e sentimentos sublimes do Cristo, distante, pode ser, mas o começo desta mudança já teve início, e tomara que nós nos organizemos para fazermos parte desta mudança sob pena de vivermos anos de expurgos, medos e desesperanças.

Sarney e Collor: o velho Brasil

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No mês de fevereiro de 2009, o Congresso Nacional Brasileiro elegeu para sua presidência o Senador José Sarney, homem público por mais de 50 anos, ex-Presidente da República, Senador por várias legislaturas Sarneu representa forças das mais atrasadas que este país conhece, caudilho maranhense e um dos responsáveis pelo atraso deste estado, um dos mais precários socialmente e culturalmente, sua eleição representa uma grande derrota para todoue sonham com um país melhor e com maior desenvolvimento e inclusão social. E para piorar a calamitosa situação política do país, mais recentemente elegeram o ex-Presidente Fernando Collor como gerente do PAC, o senador alagoano vai fiscalizar a Comissão de Infra-estrutura do Congresso, uma pena, politicamente estamos indo para o lugar contrário, o que será do país? Para piorar, um dos responsáveis foi o atual Presidente Lula, que articulou as eleições como forma de barganha para a próxima eleição presidencial, estamos mesmo em péssima condição política…

O verdadeiro comércio com a China

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Autor: IVAN RAMALHO – FSP

O comércio exterior brasileiro apresentou grande crescimento nos últimos dez anos. A corrente de comércio, que em 2000 havia somado US$ 110 bilhões, alcançou US$ 383 bilhões em 2010. No presente ano, vai se aproximar de meio trilhão de dólares. Muitas foram as razões para esse crescimento. Mas não há dúvida de que uma das principais foi a aproximação do Brasil com a China. No período de uma década, o comércio com a China saltou de US$ 2 bilhões (2000) para US$ 56 bilhões (2010).

Somente no primeiro semestre deste ano, o comércio com a China chegou a US$ 34,7 bilhões, com exportações de US$ 20 bilhões e importações de US$ 14,7 bilhões -saldo favorável de US$ 5,3 bilhões para o Brasil.
Como o atual crescimento, da ordem de 40%, deverá ser mantido neste ano, é certo que o comércio bilateral ao fim de 2011 terá sido da ordem de US$ 80 bilhões.

Apesar do forte crescimento, as relações comerciais do Brasil com a China constituem alvo de constantes críticas, em especial daqueles que representam a indústria brasileira. É natural que elas ocorram, já que as exportações para o país asiático estão concentradas em produtos básicos: dos US$ 20 bilhões vendidos no primeiro semestre deste ano, US$ 17,7 bilhões foram de básicos, especialmente minério de ferro e soja. A participação da indústria foi de apenas US$ 2,3 bilhões.

Essa pequena presença mostra que existe ainda longo caminho a percorrer visando diversificar as vendas para o mercado chinês. Um passo bastante importante foi dado quando a Apex Brasil inaugurou um moderno escritório em Pequim para a promoção de produtos brasileiros.
São enormes as possibilidades de ampliação de nossas exportações de manufaturados ao país oriental. A China é uma das maiores importadoras mundiais, com compras anuais na faixa de US$ 1 trilhão. E suas importações não se limitam a produtos básicos. Pelo contrário, no mercado interno chinês, há ampla oferta de manufaturados de alto valor agregado de diferentes origens. O crescimento das importações contribui para a diversificação e para o incremento das vendas a novos fornecedores.

Não há outro caminho que não o do aumento das iniciativas de promoção comercial e do número de missões à China, com estímulo aos fabricantes de manufaturados. O produto brasileiro tem qualidade que permite a penetração em muitos países, mesmo com a sobrevalorização do real. Com a redução da carga tributária prevista no plano Brasil Maior, melhores condições ao financiamento da produção e ação mais robusta de promoção comercial, é possível atingir de forma mais agressiva o mercado chinês.

O Brasil compra da China majoritariamente produtos complementares à nossa produção. Na pauta de importação brasileira daquele país, prevalecem partes, peças, componentes, circuitos e produtos que se destinam a linhas de manufaturados daqui. Na relação dos 51 principais produtos chineses importados pelo Brasil no primeiro semestre, apenas nove são bens de consumo. A ampla maioria (42, ou cerca de 80%) é formada por variada gama de produtos destinados às nossas fábricas.

Dada a escala de produção chinesa, a maioria dessas importa- ções contribui para que o produto final montado no Brasil se mantenha competitivo. Há muitos pontos positivos no intercâmbio com a China. Com os resultados deste ano, a posição da China como maior parceira comercial brasileira parece definitivamente consolidada, e serão cada vez maiores as oportunidades para as empresas que iniciem ou ampliem seus negócios com aquele país.

IVAN RAMALHO é economista, ex-secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (Abece).